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O ensino coletivo de música: reflexões acerca


da aplicação metodológica na formação de um
conjunto musical litúrgico

Jasson André Ferreira SOBRINHO1

Resumo: O presente trabalho apresenta um relato de experiência com


resultados parciais obtidos através da aplicação da metodologia de ensino
coletivo musical em um conjunto musical heterogêneo pertencente a uma igreja
batista da cidade de Cuiabá – Mato Grosso. São relatadas as características do
procedimento metodológico do ensino coletivo, bem como a discussão acerca da
sua aplicabilidade. São apresentadas características do grupo-alvo, bem como
seu objetivo dentro da proposta trabalhada, e como foram desenvolvidas as
atividades até o presente momento da elaboração deste trabalho. Ao final, são
apresentados os resultados parciais obtidos nas aulas.

Palavras-chave: Ensino Coletivo de Música. Educação Musical. Conjunto


Musical.

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The collective teaching of music: reflections


on the methodological application in the
formation of a liturgical musical ensemble

Jasson André Ferreira SOBRINHO

Abstract: This paper presents an experience report with partial results obtained
through the application of the collective music teaching methodology in a
heterogeneous musical ensemble belonging to a Baptist Church in the city
of Cuiabá - MT. The characteristics of the methodological procedure of
collective teaching are reported, as well as the discussion about its applicability.
Characteristics of the target group are presented as well as their objective within
the proposed work, and how the activities were developed until the present
moment of the elaboration of this work. At the end are presented the partial
results obtained in class.

Keywords: Collective Music Teaching. Musical Education. Music Group.

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1.  INTRODUÇÃO

Neste trabalho, apresentaremos um pequeno relato de


experiência de aplicação de um processo metodológico no ensino
de música voltado para o ensino coletivo de canto e instrumentos
musicais heterogêneos com o enfoque, prioritariamente, na
performance. Processo este que consiste na formação coletiva de
um grupo musical voltado para a execução de músicas ligadas ao
segmento religioso no qual o grupo se insere.
Com uma ambientação específica e grupo-alvo característico,
foi trabalhada uma metodologia baseada nas reflexões acerca do
ensino coletivo, tanto para instrumentos musicais quanto para o
vocal. O grupo-alvo possuía também um objetivo: a formação de
músicos para tocar nas cerimônias litúrgicas da igreja. Assim, por
conta deste e outros fatores, os processos metodológicos de como
seriam ministradas as aulas foram adequados à realidade em que
foram aplicados.
Com isso, temos um relato de experiência, bem como dos
resultados alcançados até o momento em que este trabalho foi
escrito, a respeito das aulas de música aplicadas a um grupo musical
composto de pessoas de diversas idades, contando com diversos
instrumentos musicais.
Nos últimos tempos, muitas metodologias e possibilidades
de desenvolvimento de ensino musical têm sido apresentadas
aos que buscam conhecimento na didática musical. Dentro dessa
perspectiva de traçar discussões acerca da maneira como proceder
ao ensino de música, acreditamos que toda discussão que se propõe
a compartilhar, seja qual for a forma, informações relacionadas
aos processos metodológicos de ensino musical que possuem
importância na grande rede de ideias que são usadas como material
inspirador, orientador ou mesmo regulador, são instrumentos
motivadores e importantes para os que buscam discussões e
comentários sobre o assunto.

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2.  METODOLOGIA

A metodologia adotada para este trabalho foi o relato de


experiência, no qual os fatos são descritos a fim de informar o leitor
sobre algo que ocorreu em determinado tempo ou mesmo informar
o que aconteceu com base em uma proposta. O autor também é
o professor regente e, por esse motivo, tornam-se fidedignas suas
palavras no que se refere tanto ao relato, quanto aos comentários.

3.  DISCUSSÃO

Ensino coletivo instrumental

O ensino coletivo na música é um processo metodológico


focado na formação musical em grupo. Pode parecer estranha
essa colocação, pois, na educação básica e superior, ou mesmo na
formação musical de pessoas, o processo de ensino e aprendizagem
de música ocorre de maneira coletiva, traduzida nas turmas em sala
de aula. Porém, o que caracteriza a nomeação desse tipo de ensino
é o fato de esse processo grupal acontecer na formação de músicos
instrumentistas e cantores. Ou seja, o ensino coletivo em questão
é aplicado à formação de músicos que irão executar instrumentos
e que também serão capazes de cantar com uma técnica básica
esperada.
Ainda sobre o ensino coletivo, podemos aqui colocar a
reflexão que nos foi apresentada por Souza (2014), que traz a
informação de que a nomeação desse tipo de ensino pode ser
adequada de acordo com a concepção do educador, pois, para esse
autor, não há um consenso sobre qual é a expressão correta a ser
usada para descrever o processo, se ensino coletivo ou ensino em
grupo. Para o autor:
Ainda não foi possível encontrar definições mais
específicas da diferença entre as duas abordagens de
ensino, ficando a cargo de cada educador considerar a sua

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prática de acordo as suas convicções ou ao termo mais


utilizado no seu instrumento (SOUZA, 2014, p. 1).
Utilizaremos aqui o termo ensino coletivo para nomear a aula
de música voltada para a formação de cantores e instrumentistas
feitas em grupo. A proposta não visa à aula individual em grupo,
mas o trabalho coletivo em que todos aprendem e desenvolvem as
atividades juntos. Cada um com seu instrumento/voz, mas todos
compartilhando os mesmos exercícios.
Nessa perspectiva, o processo metodológico de ensino
coletivo tem como base as reflexões feitas por inúmeros autores ao
longo dos anos. Podemos remontar o ensino coletivo de música a
partir das metodologias apresentadas por Dalcroze, Kodály, Suzuki,
Villa-Lobos, Orff, entre outros. Porém, os pontos em comum entre
esses autores geram o que podemos chamar de princípios do ensino
coletivo.
Segundo o que nos apresenta Freire, Freire e Jardim (2010,
p. 4-5), temos:
a) Articular alunos de diferentes níveis de conhecimento
e prática musical; b) Desenvolver dinâmica de aula que
não parta do individual para o coletivo; c) Inserir a técnica
instrumental no cotidiano da prática musical; d) Introduzir
a leitura musical após a prática musical; e) Sistematizar
informações relativas a elementos estruturantes da música
(harmonia e outros), a partir da prática; f) Selecionar
repertório a partir das sugestões dos alunos; g) Criar
arranjos musicais que propiciem a prática musical coletiva;
h) Aproveitar o potencial de cada aluno, articulando-o ao
grupo.
Ainda em relação à metodologia do ensino coletivo de
instrumentos musicais e vocal, Oliveira (1998 apud CRUVINEL,
2005, p. 69) “[...] acredita que a metodologia coletiva tem sido de
fundamental importância em muitos aspectos”. Para Cruvinel (2005,
p. 69), “a prática do ensino coletivo de instrumentos musicais é
recomenda para turmas iniciantes”. Com base nessa declaração que
nos foi apresentada, podemos destacar alguns pontos interessantes.
A autora considera que tal processo metodológico possui grande
importância para o desenvolvimento da educação musical, pois,

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em seu trabalho, são apresentados muitos aspectos que revelam os


resultados satisfatórios a serem obtidos com o ensino da música.
Ela acrescenta ainda que os resultados são mais bem atingidos em
turmas de nível iniciante. Isso se dá pelo fato de que nesse nível os
alunos estão com um nivelamento musical menos discrepante do
que em uma turma avançada, e ao mesmo tempo estão mais abertos
a um processo novo de crescimento musical compartilhado.
Encontramos base para essa reflexão nas falas das autoras
Braga e Tourinho (2013), as quais colocam que a essência do ensino
coletivo:
acontece quando existe um professor que trabalha com
diversos indivíduos no mesmo espaço físico, horário, e que
várias pessoas aprendem conjuntamente a tocar a mesma
peça, na maioria das vezes, repertório solo (BRAGA;
TOURINHO, 2013, p. 148).
Para as autoras esse processo de crescimento musical
compartilhado, em que o aprendizado acontece de forma conjunta,
caracteriza a essência do ensino coletivo, que basicamente faz com
que os alunos cresçam de forma mais nivelada.
Uma das características de vantagem que o ensino coletivo
pode trazer para alcançar resultados interessantes com o ensino
musical está descrita pelas autoras Braga e Tourinho (2013), que,
em seu trabalho de ensino coletivo de violão, apresentaram um
ponto interessante de reflexão. Para as autoras, a motivação em
relação ao repertório é uma das vantagens para o ensino coletivo
de violão e tem influência na avaliação e no resultado dos alunos
iniciantes.
Ainda gostaríamos de acrescentar algumas características
metodológicas e motivacionais que devem ser trabalhadas no
ensino coletivo. Tais características são apresentadas por Tourinho
(2007), que afirma que, com base nos princípios do ensino coletivo,
podemos obter alguns pontos de caracterização das aulas. Estes
pontos podem ser sintetizados em princípios que se expressam na
visão de que: todos são capazes de aprender a tocar um instrumento;
os alunos aprendem com eles mesmos; a aula é planejada para o
grupo pensando nas especificidades de cada um; os alunos possuem

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autonomia; o processo em conjunto de ensino elimina possíveis


lacunas temporais e ociosidade durante a aula, além de administrar
os efeitos casuísticos dos alunos faltosos.
Silva Sá (2016, p. 25) acrescenta a informação de que o
ensino coletivo tem como objetivo “[...] levar o ensino da música
a uma maior quantidade de alunos; isso ocorre principalmente em
projetos sociais, cursos de extensão e escolas de educação básica”.
E é nesse ponto que gostaríamos de frisar o enfoque do relato de
experiência.
As aulas coletivas de música de que trataremos aqui, voltadas
para o ensino de instrumentos e formação vocal, foram aplicadas a
um projeto social dentro de uma igreja batista. Tendo como reflexão
todos os elementos citados em relação às características do ensino
coletivo, optou-se por essa modalidade uma vez que era a escolha
que melhor atendia as necessidades e características do grupo-alvo
e do propósito esperado com a formação musical em questão.

Grupo-alvo

A motivação das aulas de música surgiu a partir da necessidade


da própria liturgia da igreja, que tem como característica a presença
de um grupo específico de pessoas que são responsáveis pela parte
musical do culto. Tal grupo realiza a execução de músicas dentro
da proposta do culto em um determinado horário com objetivos
específicos da congregação. A igreja em si possui um grupo de
pessoas que se dispuseram a formar o conjunto musical para cumprir
o objetivo da liturgia musical da igreja. Porém, tal grupo não foi
oriundo de uma formação musical destinada a esse propósito; mas é
formado por pessoas que tiveram alguma experiência ou formação
musical. Todas as pessoas envolvidas se motivaram a querer
compor o grupo musical, e com isso moveram-se para realizar uma
formação orientada e pautada em um processo metodológico que
tivesse como foco a formação de um grupo musical misto (vocal e
instrumental) para a execução do repertório nos cultos. E é nesse
ponto que adentramos com o projeto de formação musical do grupo
aplicando a metodologia do ensino coletivo musical.

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O grupo-alvo em questão pertence a uma igreja batista


de Cuiabá – MT situada em um bairro central da região. É uma
turma formada por adultos entre 24 e 42 anos, homens e mulheres,
casados e solteiros, com e sem filhos. Todos trabalham durante o
dia e possuem apenas a noite como horário livre para se dedicarem
às aulas, aos estudos e aos trabalhos musicais da igreja.
O grupo é formado por: pessoas que já fizeram aula de música,
mesmo que de maneira informal, há muito tempo; e pessoas que
nunca fizeram aula de música e que possuem alguma experiência
tocando ou mesmo que nunca tiveram uma experiência musical de
performance na frente de outras pessoas.
Essa descrição do perfil se faz importante para se entender e
conhecer o perfil dos alunos envolvidos nesse processo de formação
musical, pois, mesmo que minimamente, tais características refletem
a maneira como os alunos se relacionam com a proposta e com as
aulas. Acreditamos que conhecer o perfil dos alunos nos ajuda a
entender e planejar melhor as aulas e naturalmente o processo de
avaliação que será aplicado.
A turma é composta por oito alunos divididos nos seguintes
instrumentos/vozes: um teclado, um violão, uma bateria, um
contrabaixo elétrico e quatro vozes divididas em duas masculinas
e duas femininas.
O objetivo das aulas era a formação do grupo musical destinado
a executar e cantar as músicas que fazem parte do repertório
litúrgico da igreja. O grupo deveria ser instruído na música com
enfoque na formação musical básica, no que tange a conhecimento
estético, perceptivo, técnico e teórico da música, porém deveria ser
dada ênfase à preparação para execução do repertório musical, a
ponto de que esse deveria ser sempre o objetivo de todas as aulas:
preparação do grupo para a execução de uma determinada música.
Isso naturalmente se refletiu no planejamento e na adequação das
aulas para atender à necessidade e aos objetivos do projeto.

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Aplicação da metodologia

Como pensamento de ponto de partida para a elaboração das


aulas em conjunto, tivemos as palavras do autor Keith Swanwick
(1994) a respeito das características do ensino de instrumento em
grupo:
O trabalho em grupo é uma excelente forma de enriquecer e
ampliar o ensino de um instrumento. Não estou defendendo
a exclusividade do ensino em grupo, e muito menos
denegrindo as aulas individuais. Simplesmente quero
chamar a atenção para alguns benefícios em potencial
do ensino em grupo enquanto uma estratégia valiosa no
ensino de instrumentos. Para começar, fazer música em
grupo nos dá infinitas possibilidades para aumentar nosso
leque de experiências, incluindo aí o julgamento crítico
da execução dos outros e a sensação de se apresentar
em público. A música não é somente executada em um
contexto social, mas é também aprendida e compreendida
no mesmo contexto. A aprendizagem em música envolve
imitação e comparação com outras pessoas. Somos
fortemente motivados a observar os outros, e tendemos
a “competir” com nossos colegas, o que tem um efeito
mais direto do que quando instruídos apenas por aquelas
pessoas as quais chamamos “professores” (SWANWICK,
1994, p. 3, aspas do autor).
Com essas fundamentações introdutórias, gostaria de
compartilhar como aconteceram as aulas de música de forma
coletiva até o presente momento, 30 de outubro de 2019.
As aulas foram organizadas de forma a acontecer uma vez
na semana no período noturno, com duração de duas horas e meia.
Como estímulo ao estudo a ser realizado fora do período de aula,
foram elaboradas atividades que motivassem os alunos a estar
envolvidos com o processo de aprendizagem nos demais dias em
que não há o encontro para as aulas.
As aulas foram organizadas em três blocos basilares. Essas
divisões servem como base para a elaboração das aulas de forma a
serem realizadas num prazo de duas semanas. Os blocos se dividem
da seguinte forma:

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• Bloco 1: prática vocal; percepção musical rítmica, melódica


e harmônica; prática instrumental; reflexões sobre a prática
em conjunto e ensaio do repertório proposto.
• Bloco 2: exercícios rítmicos com execução percussiva;
solfejo rítmico e melódico; apreciação musical; reflexões
sobre a prática em conjunto e ensaio do repertório proposto.
• Bloco 3: elementos teóricos referentes à leitura alternativa
de notação musical, cifragem e execução em grupo; técnica
instrumental e vocal; ensaio do repertório proposto.
Todos os blocos são divididos em grupos de atividades
desenvolvidas em aulas em que todos os alunos participam. Ou
seja, o aluno de bateria, além de trabalhar elementos diretamente
ligados à sua performance rítmica e ao seu instrumento, também
estuda elementos indiretamente ligados ao seu instrumento, tais
como: prática vocal, exercícios harmônicos, cifragem etc. Busca-
se com isso a formação integral de todos os alunos envolvidos no
processo, para que o desenvolvimento do conjunto ocorra de forma
que todos os elementos humanos tenham conhecimento do todo da
música, e não apenas do seu papel ou parte.
Sendo assim, com exceção do momento da aula destinado
ao ensaio do repertório proposto, todos os alunos desenvolvem
atividades coletivamente dos tópicos abordados na aula. E, no
momento destinado ao ensaio, cada um assume seu instrumento/voz
e coletivamente se trabalha a aplicação dos elementos estudados
dentro do repertório.
Isso naturalmente implica a elaboração de um planejamento
didático em que todas as atividades tenham como perspectiva
trabalhar algum elemento presente no repertório escolhido para ser
tocado. Ou seja, o foco principal não é desenvolver uma técnica
específica pela técnica, mas sim desenvolver uma técnica que será
utilizada naquela música específica escolhida para ser trabalhada.
Com isso, os alunos, desde o primeiro momento, começam a
trabalhar a música que será tocada, porém com ênfase nos elementos
e detalhes que serão responsáveis pela construção da performance
por ela exigida.

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Naturalmente, a escolha do repertório está liga ao fato de


as músicas pertencerem à liturgia da igreja, o que faz com que os
alunos já tenham tais músicas como algo presente em seu cotidiano.
Como eles já as cantam em casa e no culto, conhecem a letra e
também, de forma subliminar, a estrutura das músicas, mesmo não
sendo capazes ainda de, até certo ponto, reconhecer os elementos
musicais que são realizados por cada um de seus instrumentos/
vozes.
Outro fator determinante na escolha do repertório, além
da questão técnica, que envolve o nível da música em relação
ao nível dos alunos, é o fato de os próprios alunos escolherem
as músicas. Nesse ponto, o professor entra como mediador para
verificar a compatibilidade do repertório escolhido com o nível e a
possibilidade de realização dos alunos com o passar das aulas.
As aulas ocorrem de forma expositiva e com os alunos
realizando as atividades práticas de execução, solfejo e percepção
de vários elementos musicais. Os alunos que conseguem realizar
determinado exercício com mais facilidade são encorajados
a orientar os alunos com mais dificuldade. Assim, em alguns
momentos os alunos são divididos em grupos, nos quais os que
alcançaram a realização da atividade com mais facilidade auxiliam
os que estão com dificuldade, já os demais ficam com o professor
realizando atividades complementares. Em outros momentos,
esse papel se inverte. O professor fica com os alunos com maior
dificuldade, enquanto os alunos que já alcançaram o objetivo de
determinada atividade realizam atividades complementares.
O objetivo desse procedimento é primeiramente o nivelamento
dos alunos nos exercícios e nos elementos musicais. E, em segundo
momento, visa-se à interação entre os alunos, fomentando a
interação em grupo no procedimento didático, desenvolvendo a
motivação dos alunos nas aulas e a objetividade de cada um em
realizar a atividade e melhorar de nível. Tem-se observado que o
processo de ensinar tem melhorado a capacidade de aprendizado
dos alunos.
Em cada aula, os alunos são motivados com atividades que
podem ser realizadas fora dos horários das aulas. Isso busca fazer com

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que os alunos estejam constantemente envolvidos com o processo


de aprendizagem das músicas e dos seus respectivos instrumentos.
Partimos do pressuposto de que não basta apenas passar uma
atividade para ser realizada em casa, mas sim de que tal atividade
tenha algum sentido motivador, desafiador e que induza os alunos a
realizá-la, mesmo achando que não se trata de uma atividade. Assim,
em muitos momentos, os alunos foram, por exemplo, desafiados a
preparar o solfejo melódico de uma parte de uma música. Cada aluno
ficou com um trecho e deveria apresentá-lo aos colegas, e nessa
apresentação os demais iriam elaborar acompanhamentos rítmicos
e harmônicos vocais ou instrumentais. Isso naturalmente induzia
os alunos a praticar solfejo e percepção, junto com apreciação, e,
logo depois em aula, realizar a performance, além de, em um outro
momento, realizar o acompanhamento coletivo da atividade feita
pelo colega. Foi percebido que os alunos que não se propuseram a
tentar essa atividade eram cobrados pelos demais, e eles mesmos
se sentiam faltosos com seu papel. Isso também foi trabalhado nos
momentos da aula nos quais foi destinado um tempo para reflexão
sobre o papel do conjunto musical, qual o posicionamento de
cada integrante do grupo, como isso afeta o processo de execução
musical e o objetivo que eles querem alcançar dentro da liturgia da
igreja.

4.  CONSIDERAÇÕES FINAIS

Até o momento em que este trabalho foi escrito, os alunos


estavam na 9ª semana de aula. Sendo assim, os resultados aqui
apresentados são considerados parciais e ainda precoces, porém
os considero importantes não só para o processo avaliativo do
trabalho em si, como também para o objetivo deste trabalho, que é o
compartilhamento de informações e discussões, independentemente
do nível em que estejam.
Inicialmente os alunos, em sua grande maioria, já tinham um
contato com a música, porém de maneira informal. Muitos tocavam
na igreja, mas nunca frequentaram uma aula de música formal. Eles
aprenderam por conta própria, buscando informações e dicas na
internet ou com pessoas que sabiam um pouco mais.

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Como a turma é bem heterogênea em termos de nível, e


levando-se em consideração o objetivo do grupo, a metodologia de
ensino coletivo se mostrou a mais adequada. Claro que o fator tempo
disponível para as aulas foi um elemento determinante, mas o mais
importante foi a possibilidade de se trabalhar coletivamente, de modo
que todos os envolvidos aprendessem juntos e compartilhassem a
mesma atividade, cada um com seu instrumento, mas aprendendo
elementos que cabiam a cada um de todos os envolvidos.
Dessa forma, até o presente momento, conseguimos alcançar
uma elevação de nível e maturidade musical bem satisfatória. Os
alunos já estão conseguindo compreender elementos musicais que
antes não conseguiam entender, a sintonia em conjunto melhorou
muito e, ao mesmo tempo, tem se construído um repertório com
elaborações mais sólidas, de modo que as execuções futuras estarão
mais fiéis às propostas elaboradas nos ensaios.
Em outras palavras, tem se observado um crescimento
satisfatório do grupo, e os resultados obtidos com a implementação
da metodologia de ensino coletiva têm se mostrado eficientes.
Espera-se ainda que o grupo cresça, em nível musical, ainda
mais dentro da aplicação dos três blocos basilares. Naturalmente
também se espera que a metodologia coletiva de ensino musical
seja trabalhada constantemente com os alunos, mesmo que o
docente seja outro, pois acreditamos na ideia de que determinada
metodologia seja compreendida por outros colegas, para que aquilo
que esteja dando bons resultados seja perpetuado dentro do mesmo
grupo.

REFERÊNCIAS

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