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CONSTRUÇÃO DE ARRANJOS PARA O GRUPO DE TECLADO DA E.E.E.

P
GOVERNADOR VIRGÍLIO TÁVORA.

OLIVEIRA, Lucas Flaviano da Silva

UFCA

lucas.flaviano@ufca.edu.com.br

Financiamento: PIBID

RESUMO

O seguinte artigo tem como finalidade principal expor uma experiência prática na construção
de arranjos para um grupo musical composto por seis teclados sendo cada teclado tocado a
quatro mãos. A experiência foi realizada com alunos do curso técnico em regência da Escola
Estadual de Educação Profissional Governador Virgílio Távora, que abriga quatro cursos de
formação técnica, a saber; Redes de computadores, Informática, enfermagem e Regência/Música.
Este último foi implementado no ano de 2011, sendo também o primeiro em toda rede estadual de
ensino. O que justificou a sua implantação além da necessidade de ofertar uma educação de qualidade
voltada às artes, foi também a vocação artístico-musical predominante na região do Cariri, que em
seu território abriga manifestações culturas diversas dialogando entre o erudito e a cultura de tradição
popular. Neste universo cultural, o curso de Regência/Música atua há mais de uma década e neste
percurso têm sido excepcionalmente fundamental, e revolucionário no campo da Educação musical
na escola pública no interior do Ceará. O curso tem como componente curricular variadas disciplinas
de caráter formativo e prático, dentre elas; a prática coletiva e individual de teclado, que tem como
característica unir alunos/as que nunca tiveram experiências musicais passadas, e outros/as que já
possuem uma determinada trajetória musical ou em outras artes. Com isso, o ensino musical coletivo
se torna bastante importante nesse processo de aprendizagem, possibilitando inúmeras maneiras do
fazer musical e também trabalhando aspectos sociais entre todos os indivíduos ali presentes, afim de
se tornarem pessoas melhores na sociedade.

Palavras-chave: Música. Teclado. Educação Musical. Escola.


INTRODUÇÃO

A prática de ensino musical é algo especialmente imprescindível em qualquer


instituição de aprendizagem seja ela pública ou privada. Visando uma melhor experiência
nas conduções de suas aulas, muitos professores são adeptos ao ensino coletivo de
instrumentos musicais, por proporcionar um crescimento muitas vezes uniforme entre todas
as pessoas daquele grupo, sempre respeitando as individualidades e as características
musicais e históricas de cada indivíduo. Com base nisso, CRUNIVEL defende que:

“O Ensino Coletivo é uma importante ferramenta para o processo de


democratização do ensino musical, contribuindo de forma bastante
significativa neste processo. A musicalização através do ensino
coletivo, pode dar acesso a um maior número de pessoas à Educação
Musical, aumentando a razão professor/aluno por esforço hora/aula
ministrada. Alguns projetos ligados a essa filosofia de ensino vêm
surgindo no país, alcançando êxito, tanto na área pedagógica quanto
na social. Pode-se afirmar que o estudo da música, através do ensino
coletivo, veio democratizar o acesso do cidadão à formação
musical.” (CRUNIVEL, 2003, p. 2).

Nesse sentido, o Curso Técnico em Regência da Escola Estadual de Educação


Profissional Governador Virgílio Távora, forma anualmente mais de 35 alunos que por sua
vez, traçam uma trajetória de três anos dedicados ao ensino profissionalizante de música,
sendo dividido em Ensino Regular e Ensino Técnico. No ensino técnico, os alunos vivenciam
diversas experiências musicais, sendo elas teóricas e práticas, e a disciplina a qual o presente
artigo faz referência, é a Prática Instrumental, processo esse em que os discentes escolhem
um instrumento dos que lhes foram apresentados para que os próximos dois anos seja
dedicado a esse instrumento, com o principal objetivo de aprimorar os seus conhecimentos
musicais, assim como o ato da docência na fase de estágio supervisionado.

O objetivo principal desse estudo, é demonstrar de forma prática como o arranjo


musical pode transformar as aulas instrumentais em algo divertido, desafiador e com
estímulos de progressão do conhecimento musical do grupo, e sua importância para o
desenvolvimento musical e pedagógico no ambiente escolar formal ou informal, levando em
consideração que a produção do material didático é algo essencial para o planejamento do/da
professor/a, como afirma BANDEIRA (2009)
“A utilização e a combinação de diferentes meios e
tecnologias de informação e comunicação (TIC) para o
desenvolvimento de processos educacionais permitem, além de
ampliar a oferta de produtos didático-pedagógico de acordo com
etapas e modelos educativos formal e informal, diferenciar o
público-alvo, atender necessidades especiais e desenvolver produtos
customizados (individualizados) para as diversas demandas.”
BANDEIRA, 2009, p16.

Conquanto, um dos grandes desafios dessa trajetória, é a formação de um repertório


para que todos possam executar as músicas de acordo com os seus respectivos níveis técnicos
no instrumento, o que tem relação com as experiências e tempo de estudo que cada aluno
dedica ao teclado. Levando em consideração que nesse caso específico, temos à disposição
da turma seis teclados para doze alunos, sendo assim, cada teclado será tocado por duas
pessoas aumentando ainda mais os desafios no quesito arranjo.

Essas dificuldades são superadas a partir do momento em que a pessoa responsável


por ministrar as aulas para o grupo, possui um determinado domínio e conhecimento na área
de criação de arranjos para grupos instrumentais, assim como o contato mais próximo com
os alunos, uma relação de puro respeito, cuidado e conhecimento das diversas capacidades
de cada discente.

DESENVOLVIMENTO

Antes de adentrarmos no conteúdo aqui proposto, é fulcral uma análise detalhada da


desenvoltura de cada aluno em relação a prática do seu instrumento, e esse fator depende
diretamente da metodologia e dos materiais utilizados pelo/a professor/a ao decorrer das
aulas. Nesse sentido, o ensino de teclado é, assim como os demais instrumentos, uma
maneira de proporcionar uma experiência musical para todas aquelas pessoas que estão
iniciando no ramo artístico ou as que já tem experiência, e o profissionalismo desse ensino
é fundamental para o desenvolvimento técnico saudável e sem vícios que venham a lhe
atrapalhar no futuro. Existem vários métodos voltado ao ensino de teclado, principalmente
ao ensino individual, um dos métodos mais utilizados é o livro: Meu Piano Divertido,
BOTELHO, 2005, no qual o livro traz uma metodologia extremamente didática e
progressiva que atende com muita perfeição o público iniciante. E uma de suas
características principais é a maneira didática no qual a autora mescla a teoria musical com
a prática, trabalhando dessa maneira um entendimento musical mais amplo e respeitando o
tempo de cada aluno já que cada exercício é progressivo.

Uma das principais dúvidas a serem respondidas nesse processo de criação, é a


maneira como todos os alunos vão receber e reproduzir essa música, se a metodologia
utilizada será a leitura musical através da partitura, ou um trabalho focado na percepção
musical, diminuindo assim, a utilização de notações musicais com um cunho mais formal.
Essa resposta depende diretamente do desempenho dos alunos e sua familiaridade com essas
metodologias. Nesse caso, a metodologia utilizada nas aulas de teclado da Escola Estadual
de Educação Profissional Governador Virgílio Távora, foi o livro já citado a cima. Vale
ressaltar que esse método vem sendo aplicado com essa turma a aproximadamente 14 meses,
e a turma possui diferentes níveis de desenvolvimento no instrumento, tanto de leitura
musical, como de técnica no teclado, diversificando ainda mais as possibilidades de arranjo
para essa turma.

Após ter feito essa análise de níveis e desenvolvimento, a escolha do repertório foi
fundamental para que o arranjo fosse executado com satisfação, muitas vezes a escolha da
música pode motivar ou desmotivar o grupo, por isso, é fundamental conhecer as
personalidades do coletivo. Para aquelas pessoas que tem um nível de leitura ainda baixo, é
feito a utilização das chamadas: “Notas brancas”, geralmente são duas figuras musicais:
Semibreve e Mínima, por serem mais fáceis de fazer a leitura musical, a princípio, todas as
pessoas responsáveis por essas figuras, normalmente estão realizando a harmonia, enquanto
as pessoas que possuem mais facilidade com a leitura musical ficam responsáveis por
executar a melodia da música, assim como, complementando algumas partes harmônicas
que venham a aparecer na própria música ou na criação do arranjo. Essa atitude, reforça
ainda mais a ideia da construção musical coletiva, e o/a professor/professora possui grande
importância nesse processo de aprendizagem, pois a forma como o/a mesmo vai conduzir a
aula, interfere diretamente na maneira com que os/as alunos/as vão receber esse
conhecimento e o ato de fazer com que todo mundo participe da música com sua devida
responsabilidade e importância, pode tornar a aula mais interessante e produtiva, assim como
o aprimoramento de suas metodologias em sala de aula.
Figura 1 - MuseScore

Analisando os primeiros compassos, o piano 1, piano 2 e piano 3, percebemos figuras


rítmicas um pouco mais complexas para aqueles/as que já possuem uma leitura mais
avançada, sempre trazendo novos desafios tanto na leitura musical quanto no trabalho da
percepção auditiva. Nesse caso, o Piano 3, está fazendo a introdução da música enquanto o
Piano 1 e Piano 2, repetem alguns trechos com o mesmo jogo rítmico, porém, com notas
diferentes que tocadas em conjunto soam harmonicamente. Um detalhe importante a ser
ressaltado entre essas vozes, é o uso exclusivo da mão direita, já que cada teclado é tocado
por quatro mãos, sendo assim, a utilização de todas as oitavas do teclado, poderia soar
desagradável e a leitura seria mais complexa, podendo haver uma desmotivação da turma
em não querer aprender o arranjo.

Figura 2 - MuseScore

Para os pianos: 4, 5 e 6, a proposta é fazer o inverso do que os três primeiros pianos


estão fazendo, uma vez que essas vozes serão destinadas aos alunos com um nível de leitura
menor. Pensando nisso, as notas brancas são de extrema importância para esse processo, já
que a facilidade na leitura da partitura será maior, sempre trazendo desafios extras para
demostrar que sempre podemos ir mais longe. Alguns desses desafios, é a utilização das duas
mãos e a leitura em duas claves diferentes, com isso, a atenção durante toda a música deve
ser dobrada, uma vez que cada voz tem sua devida importância e deve ser executada da
melhor maneira possível. Nesse sentido, os pianos: 4, 5 e 6, são responsáveis por toda a
construção harmônica do arranjo, sendo tão importante quanto a melodia.

Figura 3 - MuseScore

Um fator fundamental para uma boa execução do arranjo, é determinar uma


tonalidade no qual o grupo já tenha uma certa familiaridade, no arranjo em questão, a
tonalidade pensada foi a de: Dó Maior (C), por não possuir acidentes, facilitando assim a
leitura da partitura. Outro fator de extrema importância e muitas vezes determinante, é o
andamento da canção, muitas vezes, ao utilizarmos músicas com andamentos mais elevados
a chance de favorecer um grupo de pessoas e excluir outras, é grande. Quando pensamos em
arranjar uma música para muitas pessoas, precisamos levar em consideração que cada
aluno/aluna tem o seu tempo de aprendizagem diferente e pensar no coletivo é fundamental
para o crescimento de todos. O andamento da música é: 90 bpm, uma velocidade
razoavelmente baixa e que todas as pessoas da turma conseguiriam ler, podendo haver a
possibilidade de ler alguns compassos a frente no caso do piano 4, piano 5 e piano 6.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pensar no fazer musical de forma coletiva, é uma maneira muito rica de expressar a
arte com toda a sua pureza e humanidade. Não importa o seu nível, a criação de arranjos é
fundamental para o crescimento musical, pois através dele o cérebro é estimulado a criar
novas possibilidades, e no longo prazo esse ato se torna cada vez mais comum e automático
na sua carreira musical. Dessa maneira, você estimula os seus alunos a terem mais empatia,
respeito, amor e cuidado com o próximo. Quem já tem experiência, repassa seus
conhecimentos a quem não tem tanta experiência, e desse modo, todos crescem de uma
maneira saudável e com muitas experiências musicais.

REFERÊNCIAS

CRUNIVEL, Flavia Maria. Efeitos do ensino coletivo na iniciação instrumental de


cordas: a educação musical como meio de transformação social. Goiânia, 2003.

BANDEIRA, Denise. Materiais didáticos. Curitiba: IESDF, 2009.

BOTELHO, Alice G. Meu piano é divertido. Ricordi, 2005.

SEDUC, seduc. Educação Profissional. Crato: Governo do Estado do Ceará, 1916.


Disponível em: <https://www.seduc.ce.gov.br/educacao-profissional/>. Acesso em:
8/10/2023.

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