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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

XXI ENCONTRO DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA – ENID – 2019


ÁREA TEMÁTICA: CULTURA

ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA: A MONITORIA NAS


GRADUAÇÕES DE MÚSICA DA UFPB
Projeto de Monitoria em Música: Entre a Teoria e Prática, CCTA, Campus I

Ticiano Rocha (coordenador); Marcílio Onofre (professor-colaborador); Ana Carolina


Pereira Guimarães; Leoncio Fernandes de Oliveira Filho; Pedro Paulo Cavalcanti; Taixa
Vera Roa

Introdução
Os cursos de graduação em música herdam as tradições dos conservatórios
musicais típicos de origem européia mas tem a missão de ir além das questões técnicas.
É preciso fornecer meios de desenvolver autonomia e reflexão para que o aluno tenha
capacidades mais profundas de atuar no meio cultural em que está inserido. Isso se
configura como um trabalho contínuo e extenso que precisa se desenvolver no contexto
musical e cultural da nossa realidade.

Os componentes curriculares envolvidos em nosso projeto de monitoria são


obrigatórios e comuns nos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Música e têm duas
vertentes. Em uma delas, Contraponto Modal I e Contraponto Tonal I, reside o estudo
de Contraponto, técnica centenária de escrita de polifonias musicais. Seu estudo tem
importância por resgatar a vivência da polifonia que além de ser uma herança da
tradição, gera mais possibilidades de expressão por apresentar uma configuração
musical complementar a da homofonia, que é mais dominante na cultura ocidental
desde o período barroco. Segundo Kennan (1999, p.1) o principal objetivo do estudo de
contraponto é:
“despertar ou afiar nos estudantes uma consciência para o elemento
contrapontual que está presente virtualmente em qualquer música; torná-los
sensíveis para as forças de oposição e concordância, tensão e relaxamento,
direção, clímax, e outras, que operam quando duas ou mais vozes soam
simultaneamente.”

E ainda segundo Any Raquel Carvalho (2000, p. 27):


O contraponto desenvolve o ouvido interno, a capacidade de identificar
vozes e a percepção musical, auxiliando na compreensão da estrutura do
discurso musical, sendo ainda indispensável à composição e análise musical.
É fundamental para o compositor e o educador musical ao compor trechos
musicais para fins didáticos.

Na outra vertente – Harmonia Tonal I e Harmonia Tonal II –, o estudo da


harmonia tem como objetivo capacitar os alunos no domínio da organização tonal
harmônica através da escrita de corais a quatro vozes, abordando seus aspectos
fundamentais da linguagem musical, e no entendimento de composições tonais do
século XVII ao século XIX. Esses componentes curriculares tem conteúdos conectados
com um aprofundamento gradual afim de preparar os alunos para abordagens analíticas
mais amplas, que posteriormente serão exigidas no componente curricular Estruturação
e Análise.
O estudo da música tonal tem considerável relevância pois o Sistema Tonal é
historicamente derivado do sistema modal renascentista (polifônico) juntamente com a
monodia (posteriormente homofônico) e a ópera (recitativo, baixo contínuo, baixo
cifrado, etc.), de forma gradual e quase imperceptível, ou seja, também é uma
continuidade dos estudos feitos dentro de Contraponto Modal I, e dá suporte a
Contraponto Tonal I (todos esses componentes são obrigatórios aos cursos de
Bacharelado e Licenciatura em Música). O entendimento e domínio dos princípios da
escrita harmônica torna os alunos mais conscientes de suas decisões musicais, levando-
os a uma melhor performance.
Sendo esses componentes curriculares de caráter teórico-prático e tendo em vista
a junção da aula expositiva do professor à proposição de exercícios individuais como
forma didática de incentivar o estudo constante do conteúdo e sua melhor fixação, o
componentes envolvidos estimulam os alunos a desenvolverem também os seus
potenciais criativos e didáticos ao escreverem trechos musicais utilizando-se dos
princípios abrangidos pelos teóricos e compositores do século XVII ao século XIX.
Estes potenciais criativos são úteis para que o aluno consiga desenvolver mais a sua
prática e performance instrumental.
Segundo Kostka e Payne (2012, p. 5):

Uma das coisas que distingue a música artística Ocidental dos diversos outros
tipos de música é sua ênfase na harmonia. Em outras palavras, praticamente
qualquer peça que você execute irá envolver mais do que uma pessoa tocando
ou cantando notas diferentes ao mesmo tempo ou, no caso de um tecladista,
mais do que um dedo apertando as teclas. Existem exceções, é claro, como
peças para Flauta solo, Violino, e assim por diante, mas uma harmonia
implícita é sempre aparente aos ouvidos nestas obras.

Vislumbra-se, portanto, a relevância no estudo destas disciplinas, dentro do


currículo obrigatório do estudante de Música, ampliando assim as habilidades dos
alunos, e apresentando a base teórica para lidar com as demais disciplinas do curso.

Metodologia

O Projeto se insere no Programa de Monitoria, regido pela Resolução nº 02/1996


do CONSEPE, e objetiva despertar no discente o interesse pela docência, promover
cooperação acadêmica entre discente e docente, além de contribuir na diminuição da
evasão, repetência e desmotivação dos estudantes da disciplina.
Como forma de auxiliar o professor em sala, bem como extraclasse, o monitor
surge como um viabilizador da metodologia aplicada na disciplina, auxiliando na
correção dos trabalhos práticos, dirimindo dúvidas dos alunos e auxiliando na fixação
dos conteúdos.
Para tanto, a metodologia utilizada pelos monitores no decorrer desta gestão de
2019 – compreendendo o semestre de 15/02/19 a 14/10/2019 –, dentro da classe foi
auxiliar os professores em entrega e recolhimento de material aos alunos, fiscalização
das provas em sala e ajudando os alunos em suas dúvidas em exercícios feitos em sala
de aula. Extraclasse, o auxílio aos alunos aconteceu em encontros semanais presenciais
e on-line, com o uso de aplicações como o WhatsApp, Messenger e Facebook, ajudando
nos exercícios e nas suas dificuldades na compreensão e fixação dos conteúdos. Foram
feitas, ainda, reuniões mensais com o professor, para direcionamento da monitoria.

Resultados e Discussões

O Projeto de Monitoria é direcionado a três polos de interesse:


professor/orientador, monitor e aluno matriculado. Há um benefício mútuo e contínuo,
no qual o professor recebe auxílio do monitor em atividades que lhe demandam tempo,
podendo assim delegar ao monitor, que as exerce sob supervisão e, ao mesmo tempo,
revisa o conteúdo da disciplina e exercita sua didática, ao planejar meios de passar estes
conteúdos aos alunos, que recebem de uma maneira mais motivada, pela proximidade
aluno-monitor e aluno matriculado. Essa proximidade ajuda o professor que, diante de
turmas grandes e demandas variadas, nem sempre percebe as dificuldades dos alunos de
imediato. Nos dizeres de Silva e Belo (2012), “O monitor tende a funcionar como um
elo entre professor e aluno, disposto a colaborar com o processo ensino-aprendizagem
desse aluno”.
Como exemplo, vários alunos que entram na graduação têm dificuldades básicas
no estudo musical, como identificação de intervalos e formação de acordes. Mesmo
esses sendo componentes curriculares dos primeiros períodos, alguns alunos ainda
continuam com essas dificuldades, muitas vezes advindas do seu histórico de
preparação/estudo anterior à graduação (não são todos os estudantes que tem a
possibilidade de estudar os conceitos básicos musicais desde sua infância). O professor
não pode simplesmente deixar de lado o currículo da disciplina para poder nivelar os
alunos em seus conhecimentos básicos necessários de antes da graduação e, mesmo
conseguindo identificar essas dificuldades, os alunos pouco questionam sobre suas
dúvidas em sala de aula. Portanto, verifica-se que os níveis de conhecimento e a relação
professor-aluno por vezes inibe o estudante matriculado de se expressar em sala,
enquanto que com o aluno-monitor o estudante matriculado o percebe como um igual e
desenvolve uma relação de parceria.
Faz-se clara a importância do monitor para todos os pólos de interesse. Ainda
assim, a participação dos alunos matriculados por vezes se encontra insipiente, sendo a
procura pelo aluno-monitor relegada, em maior frequência, na proximidade do período
de avaliação da disciplina.
Essa baixa procura pelo auxílio do aluno-monitor é avaliada como evento natural
e por vezes comum pelo fato de ser uma disciplina pertencente aos períodos iniciais do
curso, no qual a vivência em universidade aparenta ser diferente e desafiadora aos que
estavam acostumados com outra realidade. Ademais, observa-se que o aparente
desinteresse pelo auxílio do aluno-monitor ocorre com frequência em outros programas
de monitoria, de outros cursos, como apresenta Silva e Belo (Idem): “Durante o
desenvolvimento de programas de monitoria em universidades, alguns alunos
negligenciam o suporte didático oferecido pelo monitor ou subutiliza-o devido as mais
diversas causas”.
Considerações Finais

O projeto de monitoria demonstra sua importância ao auxiliar alunos nos cursos


de licenciatura e bacharelado em Música. Muitos dos estudantes ingressam no curso
com a perspectiva de voltarem-se à prática instrumental, e ao se depararem com
disciplinas teóricas, que também demandam muito tempo de estudo e dedicação, muitas
vezes ficam desestimulados a permanecer matriculados, resultando em trancamentos e
abandonos nesta disciplina. Isso afeta o desenvolvimento do próprio aluno no curso, por
ser esta uma disciplina dos períodos iniciais e pré-requisito para as demais disciplinas
da grade curricular.
Uma abordagem metodológica voltada para o estímulo criativo dos alunos,
juntamente com o auxílio do monitor, desempenha um suporte para inibir o desestímulo
dos alunos matriculados. Segundo Rodrigues (2013, p. 16), “Essa estratégia de apoio
favorece a aprendizagem, uma vez que, os monitores participam da própria cultura dos
alunos, diferente da cultura dos professores e possibilita também, o desenvolvimento
tanto do aluno como do monitor”.
Apesar dos alunos de curso de música ainda não estarem habituados à atuação de
monitores, talvez pela falta de tradição do programa de monitoria no curso de música,
nota-se a crescente demanda dos alunos na aproximação das avaliações da disciplina e,
portanto, a necessidade de se intensificar os auxílios na revisão dos conteúdos. Dessa
forma (Silva e Belo, Id)

O exercício da monitoria é percebido como um subsídio necessário à prática


docente, pois o aluno-monitor além de complementar seus conhecimentos,
adquire habilidades, capacidade de interação e trabalha a postura diante de
determinadas situações, seja na vida acadêmica ou na profissional.

Percebe-se então a necessidade de manter e ampliar o programa de monitoria, já


que seus benefícios são múltiplos, tanto para os alunos matriculados na disciplina, como
para o aluno-monitor.

Referências

CARVALHO, Any Raquel. Contraponto modal: manual prático. Porto Alegre: Editora
Sagra Luzzatto: Nova Multimedia, 2000.

KENNAN, Kent. Counterpoint, 4 edition New Jersey: Prentice Hall, 1999.


KOSTKA, Stefan and Dorothy Payne. Tonal Harmony. New York: Alfred A. Kalopf,
1984.

RODRIGUES, Sandro Roberto Gomes. O Papel Da Monitoria Na Iniciação À


Docência Em Música: um relato de experiência na Escola Municipal de Música Maestro
Claudionor de Oliveira. 2013. 42 f. Monografia (Licenciatura em Música) – Escola de
Música, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal. 2013.

SILVA, R. N., BELO, M. L. M. Experiências e reflexões de monitoria: contribuição ao


ensino-aprendizagem. In: Scientia Plena. Arapiraca/AL, 2012.

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