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Cuidado
com a fumaça
A fumaça é fundamental no processo da concepção da luz, pois é ela que
vai fazer o registro de todos os efeitos criados durante um show. Os
iluminadores sabem que o uso da fumaça tem de ser estudado também
como conceito, pois faz parte da iluminação cênica. Mas o que acontece
quando há reclamações sobre a causa de irritação ou alergia em função
do contato com a fumaça? Saiba como anda essa questão
Karyne Lins
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na a fumaça mais dissipável e rala,
além da Haze machine, que possui
um fluído específico para criar uma
textura invisível de fumaça sem per-
der o desenho da luz.
Os entrevistados explicaram que há
muitos tipos de líquidos e misturas para
produção de fumaça, desde o tradicional
Rosco, Martin, até as mais diversas mistu-
Tonn Carvalho sabe da responsabilidade de utilizar Para Luiz Nobre os técnicos não estão mais
ras de álcool com glicerina encontradas líquidos de qualidade para gerar fumaça utilizando substâncias duvidosas
em qualquer farmácia. A opção mais a mais pesada e obtendo o mesmo resul- quada do líquido quando se dilui o pro-
‘barata’ tem seus problemas relacionados tado do gelo seco. duto com qualquer outra substância.
à durabilidade, resíduos na máquina e “Não se deve alterar o conteúdo do líqui-
até diferenças de temperatura da quei- Qual é a reclamação do de forma alguma, pois ele pode se tor-
ma, provocando aquele inconfundível Tonn Carvalho, que hoje trabalha no
cheiro de queimado. segmento de música sertaneja, definiu
Para as máquinas mais comuns co- em poucas palavras o que causa este mal-
nhecidas como Fog, eles recomendam o estar no artista. “O que provoca um chei-
“Muita fumaça, mesmo
líquido do fabricante Rosco, por possuir ro desagradável é o resíduo de glicerina que seja para desenhar
uma mistura mais leve, o que dá à má- que fica dentro da máquina. Num próxi- melhor sua luz, pode
quina um melhor aproveitamento da mo show, ele produz um cheiro meio ar- causar a sensação de
conversão da energia elétrica em calor. dido que irrita a garganta e os olhos. Por sufoco no artista e se a
As máquinas conhecidas como Haze isso sempre é bom fazer uma limpeza na substância não for de
não utilizam calor na produção do efeito máquina após cada trabalho. Além disso, qualidade comprovada o
final que é a neblina e não fumaça e uti- o perigo está com certeza na substância
perigo é o mesmo”
lizam uma mistura especial. usada (glicerina de má qualidade ou de
A fumaça “fria” utiliza o velho méto- farmácia misturada com água)”, denun-
do de mergulhar um bloco de gelo seco cia Tonn.
em um “tonel” de água aquecida com o Luiz Nobre acha que os artistas recla- nar prejudicial à saúde”, alertou Ozair.
mam da quantidade de fumaça coloca- Marcos Franja (Nação Zumbi, Fer-
da no espetáculo ou show, e, quando isso nanda Porto, Yamandú Costa) explica
acontece com ele, a reclamação é em que os líquidos menos prejudiciais seriam
A opção mais ‘barata’ relação às essências usadas. “Indepen- aqueles que usam a água como base,
tem seus problemas dente da quantidade usada ou da subs- apesar de as necessidades do show serem
relacionados à tância, acho que muita fumaça, mesmo determinantes para esta escolha. As re-
durabilidade, que seja para desenhar melhor sua luz, clamações ficam por conta dos bolos que
resíduos na máquina e pode causar a sensação de sufoco no ar- o excesso de fumaça pode causar fazen-
tista e se a substância não for de qualida- do com que a banda sucumba a uma
até diferenças de
de comprovada o perigo é o mesmo”. nuvem de fumaça, bem como o mau
temperatura da
Ozair Guimarães diz que geralmente direcionamento que projeta o jato da fu-
queima a maior parte das reclamações feitas por maça diretamente no vocal. Ele aconse-
músicos e artistas é relacionada ao lha também a evitar o uso de essências
ressecamento da garganta e ardência (odores) misturadas ao líquido.
auxílio de serpentinas de alta potência. nos olhos. Isso acontece quando são usa-
Porém há hoje no mercado um acessório dos líquidos de procedência duvidosa e A opinião dos músicos
que, acoplado a qualquer máquina de cheiros enjoativos de alguns aromas. Por- Muita ou pouca fumaça? O saxofonis-
fumaça comum, “esfria” a fog tornando- tanto, o perigo está na utilização inade- ta Zé Canuto gosta de muita fumaça,
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Ozair Guimarães observa que as empresas Zé Canuto aconselha a não projetar fumaça nos
precisam se preocupar com a saúde do artista músicos de sopro
mas só se ele estiver na platéia. Por outro imprescindível o cuidado com a quan-
lado, quando está tocando, prefere a fuma- tidade, especialmente perto dos músi-
ça de uma forma mais moderada. O músi- cos de sopro.
co Luiz Carlos Sá diz que para fazer efeito “Há alguns anos eu estava participando
tem que ser muita, senão o show fica pobre. de um show em Curitiba quando uma
“Para mim, quanto menos fumaça, enorme massa de fumaça me envolveu. O
melhor. Pois, além de atrapalhar a minha que aconteceu foi que quando soprei a
comunicação visual com os outros músi- flauta não saiu uma nota. Isto porque a fu-
cos no palco, dependendo do tipo da fu- maça era mais pesada do que o ar que eu
maça, ela molha minha bateria, e os pe- estava jogando para dentro do instrumen-
dais ficam escorregadios”, declarou to. Não deu para competir com a fumaça e
Lellei Pinheiros, baterista da cantora a música acabou ficando sem a melodia da
gospel Pâmela. introdução”, conta Zé Canuto.
Em relação à alergia que alguns mú- “Irritação, somente no sentido neuro-
sicos dizem ter quando têm contato lógico, pois fico realmente chateado com
com a fumaça, Zé Canuto disse que o fato de não enxergar os músicos, não
em seu caso a fumaça não causa irrita- conseguir interagir com eles e em alguns
ção, principalmente porque o material momentos nem conseguir ler o set list”,
que é utilizado evoluiu bastante, mas é disse Lellei Pinheiro.
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Luiz Carlos Sá testa a qualidade da fumaça na Marcos Franja sempre se preocupou com o uso da
passagem de som fumaça nos shows
Conscientização
tido resultado mesmo é experimentar dos iluminadores
na passagem de som para ver a quali- Os entrevistados foram unânimes ao
dade do líquido, podendo este ser usa- responder que hoje os iluminadores estão
do ou não. Para Lellei Pinheiros, ge- mais atentos e compreensivos quanto à
ralmente um pequeno ventilador ate- utilização da fumaça e a tendência é só
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usar produtos que não causem irritação
nem alergia. “Quando o palco está preen-
chido aos olhos de cada iluminador é que
eles param de colocar fumaça. E também
tem a questão do artista. Há artistas que
não gostam muito porque são alérgicos ou
por qualquer outro motivo, e aí os ilumi-
nadores seguram um pouco mais ou até
mesmo não utilizam este efeito”, observa
Lellei Pinheiros não gosta de fumaça pois o impede Fábio Juca entende como se deve dosar a fumaça
positivamente Zé Canuto. a interagir com os outros músicos no palco nas gravações de DVD
“Apesar de há um tempo muitas pes- mais agora que as máquinas em sua Na medida certa
soas de teatro usarem o Cloreto de grande maioria são em DMX que possi- No ato da criação de uma concep-
Amônia por dar uma fumaça sem o ba- bilitam o iluminador através do console ção de luz para show, os cuidados com
rulho das máquinas, com a descoberta de luz controlar a máquina. Já Marcos o uso de fumaça devem ser tão primor-
diais como qualquer outro detalhe na
iluminação. “No momento de criação
“O local é que vai determinar se a máquina da concepção de luz, nós, ilumina-
dores, pensamos sim na fumaça como o
utilizada vai reproduzir o que pensamos no
meio que vai tornar a luz visível e até
momento da criação do projeto. Vento,
como efeito em algumas situações. Po-
temperatura e tipo de máquina interferem rém o local é que vai determinar se a
diretamente no produto final” (Murilo) máquina utilizada vai reproduzir o que
pensamos no momento da criação do
projeto. Vento, temperatura e tipo de
dos males do Cloreto de Amônia muitos Franja acredita que de forma geral exis- máquina interferem diretamente no
não usam mais”, ressaltou Luiz Nobre. ta uma ansiedade com relação à fuma- produto final”, disse Murilo, ilumi-
Ele lembrou também que hoje as pessoas ça o que muitas vezes acaba resultando nador da banda Catedral e da cantora
sabem usar melhor a fumaça, ainda no excesso. Marina Elali.
Os entrevistados se lembraram da
importância em relação ao posiciona-
Mantendo o bom funcionamento das máquinas
mento da máquina, que depende de
A melhor forma é sempre limpar a rá queimando. Fábio Jucá diz que o lí-
algumas variantes que vão do estilo
máquina após algum evento, mantendo quido à base de glicerina causa entupi-
assim uma manutenção séria. A limpeza mento das vias da máquina, por isso, musical ao mapa de palco. “De qual-
do aquecedor é fundamental e para limpar a máquina após cada trabalho, quer forma o raciocínio é cobrir a maior
isso é preciso lavá-lo periodicamente não deixar resíduo de glicerina na estu- área possível sem o impacto direto da
com água destilada sem o uso de qual- fa da máquina nem deixar derramar lí-
quer tipo de produto químico (somente quido na máquina são formas eficazes
fog na banda. Vale a pena comentar
água) para seu bom desempenho. Utili- de evitar problemas. “Um procedimen- que o estilo da música associada ao de-
zar sempre líquido de qualidade e nun- to perigoso e que, portanto, deve ser senho do palco e demais necessidades
ca diluir o produto, ou seja, usar sem- evitado é feito por quem utiliza um líqui-
cenográficas irão sinalizar para a quan-
pre como sai da garrafa. Procurar utili- do ‘barato’, que é limpar sempre o inte-
zar as marcas de fluídos indicadas pelo rior da máquina com álcool colocando- tidade de máquinas e suas localizações
fabricante e de boa qualidade, pois es- o dentro do reservatório e deixando a bem como a quantidade de fog por jato
ses líquidos podem ficar dentro das má- máquina trabalhar normalmente por um e seus intervalos de acionamento”, ex-
quinas sem risco de corrosão ou deteri- tempo tomando cuidado para não dei-
plicou Marcos Franja.
oração dos componentes internos, e xar entrar ar dentro da tubulação. Isso
limpeza periódica do tubo condutor não pode acontecer, pois se trata de
(serpentina). Se você insistir no aciona- um líquido inflamável numa máquina No show e na TV
mento da fog e a mesma estiver entu- quente. Na dúvida, compre um líquido Existe uma proporção de uso para
pida ou sem líquido, a máquina acaba- decente”, alerta Murilo Campos.
shows que são transmitidos para TV ou
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