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LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e Pedagogo, para quê? São Paulo: Cortez, 2000.

“A Pedagogia ocupa-se dos processos educativos, métodos, maneiras de ensinar, mas antes disso ela tem um
significado bem mais amplo, bem mais globalizante. Ela é um campo do conhecimento sobre a problemática
educativa na sua totalidade e historicidade e, ao mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa. [...]
Pedagogia é, então, o campo do conhecimento que se ocupa do estudo sistemático da educação, isto é, do ato
educativo, da prática educativa concreta que se realiza na sociedade como um dos ingredientes básicos da
configuração da atividade humana [...]. São esses processos formativos que constituem o objeto da Pedagogia.
Mas [...] o campo do educativo é bastante vasto, porque a educação ocorre na família, no trabalho, na rua, na
fábrica, nos meios de comunicação, na política. Com isso, cumpre distinguir diferentes manifestações e
modalidades da prática educativa, tais como a educação informal, não-formal e formal. A educação informal
corresponderia a ações e influências exercidas pelo meio, pelo ambiente sociocultural, e que se desenvolve por
meio das relações dos indivíduos e grupos com seu ambiente humano, social, ecológico, físico e cultural, das
quais resultam conhecimentos, experiências, práticas, mas que não estão ligadas especificamente a uma
instituição. A educação não-formal seria a realizada em instituições educativas fora dos marcos institucionais,
mas com certo grau de sistematização e estruturação. A educação formal compreenderia instâncias de formação,
escolares ou não, onde há objetivos educativos explícitos e uma ação intencional institucionalizada, estruturada,
sistematizada. Há uma interpenetração constante entre essas três modalidades que, embora distintas, não podem
ser consideradas isoladamente. Se há muitas práticas educativas, em muitos lugares e sob variadas modalidades,
há , por consequência, várias pedagogias: a pedagogia familiar, a pedagogia sindical, a pedagogia dos meios de
comunicação, etc., e também a pedagogia escolar” (p. 22-4 –grifos no original).

“A Pedagogia mediante conhecimentos científicos, filosóficos e técnico-profissionais, investiga a realidade


educacional em transformação, para explicitar objetivos e processos de intervenção metodológicas e organizativa
referentes à transmissão/assimilação de saberes e modos de ação. Ela visa ao entendimento, global e
intencionalmente dirigido, dos problemas educativos e, para isso, recorre aos aportes teóricos providos pelas
demais ciências da educação. Por sua vez, pedagogo é o profissional que atua em várias instancias da prática
educativa, direta ou indiretamente, ligadas à organização e aos processos de transmissão e assimilação de saberes
e modos de ação, tendo em vista objetivos de formação humana previamente definidos em sua contextualização
histórica. [...] A Pedagogia ocupa-se da educação intencional. Como tal, investiga os fatores que contribuem para
a construção do ser humano como membro de uma determinada sociedade, e os processos e meios dessa
formação. Os resultados obtidos dessa investigação servem de orientação da ação educativa, determinam
princípios e formas de atuação, ou seja, dão uma direção de sentido à atividade de educar” (p. 25)

“[...] as práticas educativas não se dão de forma isolada das relações sociais que caracterizam a estrutura
econômica e política de uma sociedade, estando subordinadas a interesses sociais, econômicos, políticos e
ideológicos de grupos e classes sociais. Sendo assim, ao investigar questões atinentes à formação humana e
práticas educativas correspondentes, a Pedagogia começa perguntando que interesses estão por detrás das
propostas educacionais. Precisamente por isso, a ação pedagógica dá uma direção, um rumo às práticas
educativas, conforme esses interesses. O processo educativo se viabiliza, portanto, como prática social
precisamente por ser dirigido pedagogicamente” (p. 26).

“O curso de Pedagogia deve formar o pedagogo stricto sensu, isto é, um profissional qualificado para atuar em
vários campos educativos para atender demandas socioeducativas de tipo formal e não-formal e informal,
decorrentes de novas realidades – novas tecnologias, novos atores sociais, ampliação das formas de lazer,
mudanças nos ritmos de vida, presença dos meios de comunicação e informação, mudanças profissionais,
desenvolvimento sustentado, preservação ambiental – não apenas na gestão, supervisão e coordenação
pedagógica de escolas, como também na pesquisa, na administração dos sistemas de ensino, no planejamento
educacional, na definição de políticas educacionais, nos movimentos sociais, nas empresas, nas várias instancias
de educação de adultos, nos serviços de psicopedagogia e orientação educacional, nos programas sociais, nos
serviços para a terceira idade, nos serviços de lazer e animação cultural, na televisão, no rádio, na produção de
vídeos, filmes, brinquedos, nas editoras, na requalificação profissional, etc. A caracterização do pedagogo stricto
sensu é necessária para distingui-lo do profissional docente. Já que todos os professores poderiam considerar-se
pedagogos lato sensu” (p. 31).

“... a educação não intencional, também chamada de educação informal ou, ainda educação paralela; a educação
intencional, que se desdobra em educação não-formal e formal. [...] Desde Marx e Engels, a educação somente
pode ser compreendida como produto do desenvolvimento social, determinado pelas relações sociais vigentes em
cada sociedade e, portanto, depende dos interesses e práticas de classe, de tal modo que a transformação da
educação é um processo ligado à transformação das relações sociais. Uma tal concepção do processo educativo
leva à ampliação do significado da educação na sociedade. É aqui que se destaca como necessária a distinção
entre educação não-intencional e a educação intencional. Num sentido mais amplo, a educação abrange o
conjunto das influências do meio natural e social que afetam o desenvolvimento do homem na sua relação ativa
com o meio social [...]. Os valores, os costumes, as ideias, a religião, a organização social, as leis, o sistema de
governo, os movimentos sociais, as práticas de criação de filhos, os meios de comunicação social são forças que
operam e condicionam a prática educativa. A despeito desse grande poder dessas influências, boa parte delas
ocorrem de modo não-intencional, não-sistematizado, não-planejado. Elas atuam efetivamente na formação da
personalidade, porém, de modo disperso, difuso, com caráter informal, não se constituindo em atos
conscientemente intencionais. Isso não significa, absolutamente, que sejam negados seus efeitos educativos,
mesmo porque é muito em virtude desses fatores e influências não-intencionais que se dá o processo de
socialização. Além do mais, eles estão presentes em qualquer lugar onde ocorram atos educativos intencionais.
Entretanto, não podemos confundir a educação não-intencional, informal, com a totalidade do processo educativo.
[...] Surge, pois, no desenvolvimento histórico da sociedade, a educação intencional como consequência da
complexificação da vida social e cultural, da modernização das instituições, do progresso técnico científico, da
necessidade de cada vez maior número de pessoas participarem das decisões que envolvem a coletividade” (p.
80-1).

“Faz-se necessário distinguir duas modalidades de educação intencional: a não-formal e a formal [...] Sendo o
termo formal o elemento distintivo das duas denominações, vejamos o que ele significa. Formal refere-se a tudo
o que implica uma forma, isto é, algo inteligível, estruturado, o modo como algo se configura. Educação formal
seria, pois, aquela estruturada, organizada, planejada, intencionalmente, sistemática. Nesse sentido, a educação
escolar convencional é tipicamente formal. Mas isso não significa dizer que não ocorra educação formal em
outros tipos de educação intencional (vamos chamá-las de não-convencionais). Entende-se, assim, que onde haja
ensino (escolar ou não) há educação formal. Nesse caso, são atividades educativas formais também a educação
de adultos, a educação sindical, a educação profissional, desde que nelas estejam presentes intencionalidade, a
sistematicidade e condições previamente preparadas, atributos que caracterizam um trabalho pedagógico-
didático, ainda realizadas fora do marco escolar propriamente dito. A educação não-formal, por sua vez, são
aquelas atividades com caráter de intencionalidade, porém com baixo grau de estruturação e sistematização,
implicando certamente relações pedagógicas, mas não formalizadas. Tal é o caso dos movimentos sociais,
organizados na cidade e no campo, os trabalhos comunitários, atividades de animação cultural, os meios de
comunicação social, os equipamentos urbanos culturais e de lazer (museus, cinemas, praças, áreas de recreação)
etc. Na escola são práticas não-formais as atividades extra-escolares que provêem conhecimentos
complementares, em conexão com a educação formal (feiras, visitas, etc.). O exemplo da escola mostra que,
frequentemente, haverá um intercâmbio sobre o formal e o não-formal. [...] Na verdade, é preciso ver as
modalidades de educação informal, não-formal, formal, em sua interpenetração. A escola não pode eximir-se de
seus vínculos com a educação informal e não-formal ” (p. 80-2 – grifos no original).
Setorização dos serviços educacionais1

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LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e Pedagogo, para quê? São Paulo: Cortez, 2000. (p. 87-
8)

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