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PIERRE BOURDIEU

0 PODER SIMBÓLICO
Traduçãº
de
Fernandú Tºmaz
Lª) “1859, ”Pierre “Bourdieu.
Tudnã im din-jun pam publicaçãn dama nhnl Em Portugal
rtrsurvuíiús pur:

.] Ulwah Ediªnª. Ldª


Euu IJ, Essefãnia. ªfff—LB
um LISBOA
Telgfàa 55 76 7? = "54 53 345 — ªiªi 53 5.9
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Memória r: fincimimh'
(Éulccçãu Cunrdcmdn ];qu anuam Bflh'EHEDUTI c Díngn Hamad-.; Curm

Capa: h'mfi'm Táfªr'lm E'Hur


Hcvlnãu: f—"wnana'n Fru-uma.!
Índicex: (Jandira: Frrrw'm
Eltvnlpuãiçún; María £er — ($a-E:. me'mugmsíçáú
lmpTESSàU &: '.l—Líuhamtnm- 'Hpngr'afm Guerra. "hª'thLl
Delih-itu hug-.tl, nº lú'?“_WIHLJ
[RBN mmaº-mm à,» '
CAPÍTULO 1

Suá-re a paa'êr jámàálíca

Este text—::), nascida dr.! uma tentativa. para apresentar n


balança de um conjunto de pesquísas sôbre o simbolismº numa
situação escolar de tipo particular, a da conferência numa
universidade estrangeira (Chicagafâhril de 19373), nãu deve ser
lido cºmo uma história,. mesm-::- escnlar, das maria.; da simhu—
liam—r.), nem, sabretudo cºmu uma espécie dc mamar-ruga:
pSEudn—hegeliana do caminhº que teria conduzida, pºr supra-1—
çães sucessivas, à «teoria final»,
Se «a imigraç㺠das ideia:—;», comu diz Harm mmmcnrc SL“
faz sem dano, é porque ela ane-para, as prmluçõcs Culturais du
sistema de referências teórica em relaçãn 515 quais as ideia:; se
definiram, consciente ou ínmnscicntememm quer dim-r, Lih
campo de prºdução baliza-do pm names próprimí ou pur um(uj—
1:05 em Jim para cuja definiç㺠Elas cnntribuum n'wnua da que
ele as ele-Fine? Pnr issº, as situações de uimigraçãun img—mªm
mm uma Força especial que se turne visível n hurimnm i'll."
referência o qual, nas situaçõea correntes, pude jwrmimcfw em
estado impíícito. Embora &eja «escusadº dizer que milan-Mr t'Srt?
produtº de exportaçãn implica fáscia-s graves do ingrnuÉ—Lialdu f:
dE simpiífí-caçãú — & também grandes: im'nnvuniunrcm l“:-uiª
fºrnece um ínsrrumentu dr: nbjcrtivnçãu,
* Nú entanto, num Banida du tampa em que sac w? 0 panier
par toda a parte, cºmº Em DUETÚS tempus nãn ric queri-a
recanhECê—ID nas situaçôea em que ele murawu prius UH'IÚS
dentro, não é inútil lembrar qm.“ — Sem nunca fazer minnie,
numa curta maneira de c dias—alva, uma cSpér-ir de «circula
cuj0_cr3ntro está em toda a parte e em rmrtu alguma»- mj-
necessária gabar descºbri-lu» ande ele se deixa ver menus., (mda-
clc iª mais Cúmpletamcnre ignorado, portaria.), rcamhecido: o
pmh-r aimhúlicn &, mm efeito. asse puder invisívci u qual só
3 50525 & PUDER SIMBÓLICÚ
pode ser exerciciº tem a cumplicidade daqueles que n㺠que-
rem saber que lhe estão sujeitas eu mesmo que 0 exercem.'.1

]. Ú! «difamar rímàcíiirm» (arte, reíigiãa, Mªgna) msm reinam-;;;


anytime-Hrs]

A trªdiç㺠neu-kanrianá [Humboídr—Caseirer (Ju, na variam——


re americana, Sapir-Wharf para a linguagem) trata os diferen—
tes universos simbólicas, mito, lingua, arte, ciência, cºmº
insrrumenres de Cºnhecimento e de construç㺠do mundu dua
Object—135, mma «formas simbólicas», reennheeendú, comº uma
Marx (Tem màrr Fewràarô), o «aspecto activo» do cunhecimen—
m. Na meama linha, mas; (um uma intenção maia prºpriª
mente hietóriea, Panofàky trata a perspectiva (:me uma farm
àijre'fím, sem todavia ir até & recunstruç'ãu sisremâtiea das 51.135
rendiçãer mein-::"; de produçãu.
1 Durkheim imcreve—se explicitamente na trariiçãú Kantiaria.
Todavia, porque quer dar uma [eagle-sta «positiva.» e «empíri—
CE» no problema diaÉ cunhecimenm evitando & airernativa do
apriúrismn e do empirismº, lança ns.,fundamenms de uma“;
mrinfagia dar jiirmm íimááfirm [Caãsirer dirá expresªmente que
ele utiiiza [: cuneeim de «fºrma simbólica» cume equivalente a
«forma ele ciasaifieaçãoúª. Com Durkheim, as Formas de
classificação deixam de ser furmas universais (trameendentais)
para se mrnarem (cume- impiicitamenre em 'P-anufsky) em far-
mer mríaªij,_quer dizer, arbitrárias-(relativas & um gmpf:- parri-
cuiar) e seeialmente determinadasª.
vªi-Neem tra—diçãn idealista. & ehieeriviciade dri senridn du
mundu define-se pela concordância das subjectivifiacies ESEILIILI“
tantes (sense =: cunsenmlª'ª'ª.

' Em,“ Cusirer, The Myrà riff-be Em", New Haven1 Yaire University
Press., "Há,. F. 'lííi.
? Pensamºs nu sentida etimuiógiwde ênfêgarrih , cerne lembra Heidegger:
«acusar pubiicameme» e, ainda.i na terminulugia ele femme-seu, mcmplu.
por EICEIÉI'ICÍTH, de emerge—rias suciair. ÍFEI'I'TIUS de rratarrwnlze).
" CF. eequema na p. 16.
“' «Sensus = consensual», no texto original (N. TJ.
cs PÍTULÚ ; 9
2» Os «serem; ,riiriàrílirm» mirra sin-Mirra“! ríirirtrrmdm (Wii:-rir
de rama arábia srrririrrrm'ii

A análise estrutural mnsrirui 0 insrrumenm merodõiógico


que permite realizar a ªmbição neo—kantiana de apreender a
lógica específica ele cada uma das mfúrmas simbólicas»: prece—
dendo, segundo 0 deseje de Scheliing, & uma. leitura propria—
mente Mirrsgárím (por ºpºsição & Meªrim) que não refere a mire
;: algo de diferente dele mesmo, a análise estrutural tem em.
vista isolar a estrutura imanente & rada produçãe simbólica.
Mas. de moda diferente da tradiç㺠nee—kanrisns que insiste no
##)de spssªczirdi, na aftis'idade prudutera da tenseiêntia, & tradi-
çãe estruturalisrs privilegia Ú sp.-rr ÚPFIWHIW, as estruturas esrru—
ruradas. É O que se vii bem na rEPIEScntaçãÚ que Saussure, ri
Fundadºr desta tradição, Farnese da língua: sistema estrutura-
de. a língua & Fundamentalmente tratada cºmo» rendição de
inteligibilidade da palavra, cerne intermediário estruturado
que se deve cºnsrruir para se explicar a relaç㺠cºnstante entre
usem & º sentido, (Psmefsky — e todo 0 aspecto da sua cubra
que tem em mir-s isºlar as estruturas profundas rias obras de
arte —-»——, pela apºsiç㺠que estsbeíece entre :; icenologis :: s
icºnografia & que é e Equivalente exa-tro cla oposição entre
& fnnulegis e & fonética, situa—se nesta tradição],

Primeira Jim-fere

Os «sistemas simbólicos», comº insrrumentos de conheci—


mentú & ele comuni—cação, só podem exercer um pºder estrutu—
rante pºrque sãs: estruturadas. O pºder simbólico é. um pode:
de construção cla realidade que tende a estabelecer uma ordem
gneísaírígim: () sentida imediata do mundo (e, em particular, de
mundu SEJ-cial) supõe “aquilº a que Durkheim chama & ramfarrrrrr—
me fágim, quer dizer, «uma concepçãti hnmugénes do 'tempm
tit) espaçú, cio ru'u'r'lertiiI da. causa, que torna possivel a cºncor-
iliint'iu entre as inteligências», Durkheim — ou,, depois dele.
Hmh Iiiiiv-Hmwm que &: assentar ja «solidariedacie str-cial» nu
10 SOBRE Ú PUDER EIMHÚLICÚ
facto de participar num sistema simbólico ——-— tem o méritº de
designar explicitamente a fyeçzãe seria! (no sentido da estrutura—
—funcion3li5mo) do simbolismo, autêntica funçãci política que
não se rede;: 51 função de comunicação dos estruturalistss. Os
símbcilns 5519 os Mutum-entos por excelência da «integraçãº
sºcial»: enquªnto instrumentos de conhecimento e. de comuni—
cação (cf . a análise duricheímiana da fiesta), eles tºrnam possivel
o rememm acerca de sentido de mundu social que contribui
fundamentalmente para & regrodução da ordem social: & inte—
gração «lógica» é a condição ele integração- «metal» 3.

3, AJ“ predefâsr fimàáiimí (este imtrwemtm de damieaçâe

A tradição marxista privilegia as fiançª] política; das «siste—


mas simbólicos» em detrimento da sua estrutura lógica e da
sua função gnnseeíúgita (ainda que. Engels Fale de «expressãn
sistemática» a respeita de direito); este funcionalismº “ que
nada tem ele ctz-mun] corn a estmturn—funcíenaiisme à maneira
de Durkheim, eu de deciiffeFBtewn — explica as produções
simbólicas relacionªda—ss com as intEreSses eia classe dCi-minan—
tve. .ªgªeqlegigs, pne ºposição se mite, produto colectiva ::
colectivamente apreprlade, servem interesses particulares que
tendem. a apresentar cerne interesses universais, comuns ao
conjunto do grupo. A cultura. daminante contribui para &
integraçãn real da classe dºminante (assegurando uma cºmuni—
caçãu imeciiezta entre todos DS seus membros e distinguinclowns
das entres classes); para a integração fictícia cia sociedade no seu
enniuntc, portante, à desmubilizaçãe (false eenseiêneia) das
classes dºminadas; para a legitimaçãn da ºrdem. estabelecida
por meia de escabelecirnentn das distinções (hierarquias) e para
& legitimaçãe desses distinções, Este efeito ideºlógico, produ—ln

' A tradiç㺠nm-Fennmenaíógita ÉfthitL. Peter Berger) e terras, formas


de emamemdnlugia aceitam as mesmºs pressupnstos apenas por emitirem :!
quest㺠das medições sociais ele possibilidade da experiiene #ãxím (Husserl)
do mumia ===— e, em. pªrticulalu cin mundº sncial --- quer dizer, a
experiência de mundo social come evidente Eraess far gras-Imª, mma diz
Schumi-.
CAPÍTULÚ ; 11
a cultura dominante dissimulando a função de divisão na
função de comunicação: a cultura que une (intermediário de
comunicação] É também a cultura que separa (instrumento ele
distinção] e que: legitima as distinções compeliodo todas as
culturas (designadas. como subculturas) a definirem-se pela sua
distância. em relação a cultura dominante..

Segunda Harem

Contra todas as Formas do erro «»ioteraccionistan o qual


consiste em reduzir as relações de Força a relações de comunica-
ção, não basca notar que as relações de comunicação são, de
modo inseparável, sempre, relações de poder que ciepenclemã na
forma e no conteúdo, do poder material ou simbólico acumula.—
cio pelos agente:—: (ou pelas instituições) envolvidos nessas rela“
ções & que, como o dom ou o proferirá, podem permitir
acumular poder simbólico. É enquanto instrumentos estrutura—
elos e estruturantes de comunicação e de conhecimento que os
«sistemas simbólicos» cumprem a sua função política de ins—
trumentos de imposição ou de legitimação da dominação-, que
contribuem para assegurar a dominação de uma classe sobre
outra (violência simbólica) dando o reforço da sua própria força
as relaçoes de força que as fundamentam e contribuindo assim,
segundo a expressão de Weber, para & «domesticação dos
clom macios—a .
As diferentes. classes e fracções de classes estão envolvidas
numa luta propriamente simbólica para imporem a definição
do mundo social mais conforme aos seus interesses1 e imporem
o campo das tomadas de posições ideológicas reproduzindo em
Forma transfigurada o campo das posições sociais “ª. Elas pociem
conduzir esta luta quer áirectamente, nos conflitos simbólicos
da vida quotidiana, quer por procuração, por meio da [um
travada pelos especialistas da produção simbólica (produrores a

" às tomadas de posição ideológica dos dominantes são estrategias de


rt-prmluciin que tendem a reforçar deem ela classe e firm da classe a crença na
Jr-eirinmlailv slil ulorninacão da classe,
12 SÚHRE Ú PÚDER SIMBÓLICÚ
tempo inteiro) e na. qual está em jogo o monopólio da violência
simbólica legítima (cf. WEbEE), quer dizer, do poder de impor
-—— e mesmo ele inculcar — instrumentos de conhecimento e de
expressão (taxinomias) arbitrários —-— embora ignorados como
tais — da realidade social. Ú campo de produção simbólica e
um mícrocosmos da luta simbólica entre as classes: e ao
servirem os seus interesses na luta interna do Campo de,
produção (e só neste medida) que os produtores servem os
interesses doe grupos exteriores ao campo de produção.
A classe dominante e o lugar de uma luta pela hierarquia
dos princípios de hierrarquieeção". as Fracçães dominantes, euio
poder assenta no capital economico,-Ҽrem em vista impor a
legitimidade da sua dominação qoer por meio da própria
produção simbólica, quer por intermédio dos ideólogos conser»
vade-res os quais só verdadeiramente servem os interesses dos
dominantes por arrêrrime, ameaçando sempre desviar em seu
proveito o poder de definição do mundo social que detêm por
delegação; & fracção dominada (letra—tios ou «intelectuais» e
«attisztas», .segundo a epoca) tende Sempre e colocar o capital
específico a que ela deve a, sua posição, no topo da hierarquia
dos princípios de hierarquização,

ªi,. ºs sistemas ideológica: que as esperim'irrrrr produza; para: e Jets:


“pela manaptífie da pmdrrçãe ideafágrm ilegítima — e por meia daria
[em —, rende instrumental de dominaç㺠tiraria-remar pais qee errâe
errrrrmmder, repradezem má fez—me inerenàefíwfr por intermédio da
Éamelegre entre E? rªmpa de Metais? ideºlógica e :; rampo'dar riem;
meigo", e atrªíram da rampa dia ciano Jari-Earn.

Os «sistemas simbólicos» distinguem—se fundamentalmente


eonforme sejarn produzidos. e, ao mesmo tempo, apropriados
pelo conjunto- do grupo ou, pelo contrário, produzidos por um
corpo de erpeciaãrrer e, mais precisamente, por um campo de
produção e de enrolação relativamente autónomo: a história da
transformação do mito em religião (ideologia) não se pode
separar da história, da constituição de um corpo de produtora
esoeciolizedos de discursos e de ritos religioeos, quer dizer, do
ca PITULG ; 13
prºgressº da simetria de Ireàei'àa reªgirªm, que É, ele próprio, uma
dimensão do progresso da divisão cit:- trabalho sucial, portante-_,
da divisão em classes e que conduz, entre outras cºnsequências,
a que se délãpúíjem us laicos des instrumentos ele produção
simbólicaª,
As ideelogiss devem a sua. estrutura e as funções mais espe-
cificas às condições sºciais da. sua prºdução e da sua circulação,
'que!“ dizer, às funções que elas cumprem, em primeira lugar,
para os especialistas em cºncºrrência pele monºpólio da
competência cnnsideracla (religiºsa, artística, etc.) e, em
segunda lugar e por acréscimº, para es não—especialistas. Ter
presente que as idealegissfsãe sempre depiemte deteminmfizi,
— que elas devem as Suas caracteristicas mais específicas nâu só
aos interesses das classes eu cias fracções de classe que elas
exprimem (função de sutiudiceie), mas também ses interesses
especificas daqueles que as produzem e à lógica específica de
campus de produção (comummente transfigurado em ideologia
da «criação» e de «criariam? -——-— e pºssuir e meio de evitar a.
redução brutal dus _predutes ideºlógicas sais interesses das
classes que eles servem (efeite de «curte—cirCuite» frequente na
crítica «marxistani sem cair na ilusãn idealista a qual Eúnsiste
em tratar as prºduções ideºlógicas teme ruralidade-s autu—
wsuficíenres e autegersrlss, passíveis de uma análise pura e
puramente interna (semielugial'ª'.
A funçãe prºpriamente iderilógics cin (23me de preduçãe
ideºlógica realiza-se de maneira quase auremárica na base da
humulegia de estrutura entre (] rampa de pruduçãe idem-lógica e
Ú campi) ele. luta das Classes. A humulúgia entre as dais campos
faz cum que as lutas par aquilo que está especificamente em

5 à existência de um tampa de praduçãu especializadas & cendiçãri de


aparecimentº de uma luta entre a urtoclmtia. e & hererudoxia as quais têm de
Cºmum ci- discinguirem—-se tis síria-a, que-r dizer, tiu indiscmidu.
'“ É evitar também e etnulugismo (visível em especial na análise tie
pensamentº arcaicº! que tensiste Em tratar as idmlegias cume miresi quer
dizer, como produces indiferencísdus ele um trabalhe colecriiru, passandu
assim em silêncin tudo o que elas devem às. características ele tampa de
pmduçân liv. g., na trai-lição. grega,, às reinterpretações esotéricas das
trililigimt-s mir-ites).
14 SÚBRE 0 PODER EIMHEÍMCÚ
jºgo no Campo ante-name produzam aurematicarnenre fºrmas
eefmrmdm das lutas económicas. e políticas entre 3.5 classes:.
e na correspondência de esrrurura rr estrutura. que ee realiza a
função prupriamenre ideelógice ele discursa deminmre, inter-
mediária estruturada e escrutumnre que rende a impor e.
apreens㺠da ordem esrabeleeida cerne natural (ortodoxia) por
meio da imposiçãe maacamde (lego. ignorada cerne ral] de
sisremes de elessitieeçãe e de esrrururae mentais ebierrivamenre
aiusredas às esrrurur-ae sociais. O Farm de a eerrespendêneia mãe
se efecruar sen㺠ele sisrema & Sistema ese-onde, rante aee ºlhes
cies própriee produteres cerne nes eli-105 dos profanos, que os
si:-".temas de classificaç㺠inremes. reproduzem em farma irrecu—
nheeivel as tminemiea direcrarnenre pulíticas e que & axiemâtl».
ca. eepeeífica de cada campo especializade e' a forma transfºrma—
da [em confºrmidade com ar leis e5pecíficas ele rampa) dee
princípios fundamentais da divisãn de rrabalhe (per exemplo, e
sisrema de claseificaçâo universitário que mobiliza em, farma
irreeenhecivel as divisª—eºs Obie—crims da esrrurura sºcial e cape—
eialmenre e divisãe de trabalho — teórico e prático — cºnverte
proprieeiedes Sºciais em propriedades de eráem natural). O
efeito propriamente ideológica eensisre precisamente na impe—
siçãa ele sistemas de elaasifieaçãe políticos. sob a aparência
legítima de raxinemlas filosóficas, religiosas, juridica-s, etc. .De
sisremas simbólicas devem a sua Ferça ae farm ele as relações de
Força que neles se exprimem só se manifesrarern neles em ferrari-a
irre-cenheeirrel de relações de senricie (desloca-gire).
() poder simbólicn como poder- de eensriruir Ú,Clãld-D pela
enunciaçãº, ele fazer ver e fazer crer, de reafirmar ou de
transfºrmar a visão de munde «e, deste modo, a acção sobre e
mundo, pºrtante (: mundu; pe&er 'quase mágico que permite
ebrer e equivalenre daquilo que & abri-ele pela força (física ou
económica), graças ao efeim especifico de mºbilização, se": se
exerce se for recairá—mãe, quer dizer, ignorada reme- arbitrária.
Ism eignifiea que ª_ipqder simbólica nãe realde nos «sistemas
simbólicas» em forma de uma «illeeurienary feree» mas que se
define numa relação determinada — e por meio dr.-sra ——— entre
4:15 que exercem D poder e os que lhe estão sujeitos., quer dizer..
ista É, na própria estrutura do eampe em que se produz'e ae
carª-Irma I n
reprúduz .a franga?“ O que Faz e poder das palavras e dae
palavras de ºrdem, poder de manter a ordem eu de a eubverter,
& a crença na legitimidade dar. palavras e daquele que» as
prºnuncia, crença euira predação nan & da competência das
palavras,.
O poder simbólico, peder subnrdinaâe, e' uma forma
tranefnrmada, quer dizer, irrecenheeível, tmmfigurada e legiri-
mada, das entras fºrmas de Ferrer: só se pode passar para além
da alternativa dns modelos energéticos que áeeerevem as rela-
ções sociais cornea relações de Fnrça e dos modelos cibernéticos.
que fazem delas relações de comunicação,, na condição de se
descreverern as leis de transfºrmaç㺠que regem & transmutaçãn
das diferentes reage-cies de capital em eapital simbólicn e, em
especial, :) trabalha de diasímulaçãn e de transfiguração (numa
paíavra, de enfrmrzaçân) que garante uma verdadeira transubsran-
ciação das relações de força Fazendo _ígnnrár-reennhecerªª a
vínlênci—a que elas encerram nbjfecrívarnente e transformªda-as
assim em poder simbóiim, capaz de produzir efeitos reaiã sem
dispêndiº aparente de energiaª.

? Os símbnlns rio peder (train, repete, ere.) ein apenas capital gimhàíi-
Cú aàjrrrirnde e a sua eficácia eerá sujeita às mesmas condições,.
“ª A. destrui-grin desre poder de impar—içar) sirnháâícn mãicadn ne derm—
nheeimentn supõe a remada de reuniªm: dn arbitrária,, quer dizer, a
favela—çâo da verdade objeeriva :: o aniquiiamenm da Crença? & na medida em
que E,! diemrsn hererodnxo destrói as falsas »evieiêneias efa ortodoxia, restaura-—
ção Ecríci-a da dara, e lhe neutraliza e peder de deamnb—ilixaçãei que ele
encerra um peder simbólico de mºbilizaç㺠e de eubverrân, poder de tornar
Mutual n peder gerencial dae classes dºminaria.
' <=lnórmmaírre—rece-fim?:rea- no [entre original (N. T,),
16 mmm 0 PODER smaóuca
ÍHHTHIHEHÍOJ Jimàãh'mj

como Cºml] Cºmil

EEÍÍUELIIÉS estruturas ins tmn-lemos


ESU'LI'ÉHI'ZDÍES- Bill.-um fatias de dominaçãu
Intrumental; &: tenhai— Meios du.- comunicaç㺠Foder
menu:! e de consrmçãú [língua ou cultura, vs.
do mundo abin-crivº discursa ou conduta) Divisão do minnha
l'classes miau)
Divisão da trabaihn ideoló—
gica âmanuaiíintel-tctuall
Função de damimçãn
Fªma; ;rmràrcíiíms &qu ;imàâifcw Fªnfagm
estruturas auhieccivu estrutura-.a abieccivas (vs. mima, linguas]!
(1311151325 diªfragma?) [ngm esperam.-#? Kªrl Min:
Kaanà-uªsimr Hegel-Saussum Max Webcr

Sapir— Wharf Durkheim—Mm [éví-Strnm Campus de especialistas


c uItumlisnw Fºrmas sociais de 'fminíugia) em concarrência para
.:.-lais Eficaçiu mºnopóliº da. Frm-lução
cultura.! legítima

Significaçãº: Dbieçrívídw Significação; sentido


de cama «Cantai-dência objectivo (uma pmdum
dm suja-ima (consenso) da cºmunicaç㺠que E a.
condição da Çúmunicmgãa

sociºlºgia das firmas simbólicas:


cºntribuiç㺠cla pºder :imbàticra
para a ordem g.malógifj. Sensu-
=Ccn5ensu_ iam É, dum.

Puder Ídmiógifo cºmo Eúnrríhuiçân capacifita da


violência simbólica fnrtodmia) para à violência [Sºlitiª
ca (dominaçiull
Enfim aªi: Ífdâªifáú dir xfamínufãa
CàPÍTULO 11

Inn-adagª
»: rama Jariaíagirã mªmária

«É por poucº que eu n㺠asúmilu as regras de Descartes ao àcguinrr


preceito de não sei que cienrísra químico: munâ-Ws dªquilo que & indirpen—
sâuel E proceda como & pm:-im proceder, oi:-tereis enrãn aquilo que desciaià
obter. N㺠admitais nariz que não seia verdadeiramente evidente (qutl'
dizer. apenas aquilo que deveis admitiª; dividi n assuma segundo as. partes,
requeridas (que: dizer. fazei o que der—reis fazer); proferiu—ri par ardem (a
ordem Segunda a. qual deveis prºceder): Fazei enumeraçõea cºmpletas [quer
dizer, aquelas que .deveis fazer]: é exatamente assim qui: Frm—adam as
pessoas que dizem. ser preciso procurar o br.-m e evitar a mal. Tada ista cará,
Sem dúvida. cerro. Simplesmente. Faltam (na critériºs da bem e rir:: mal, »

Leibniz, Pàrfarnpàímôm Srámffrm,


Ed. Gerhardt, mm IV, p.. 329.

Eminar rim afÍr'ria

Gamma hoj-€*, excepdnnalmentc, de procurar explicitar


um pouco as intenções pêdagógicas que tenta seguir na prática
desre- ensina. Na próxima srssãu pedirei & cada um das partíci-
pantf-s que apresenta de mºdo bre-w: & expºnha em termas
suiintus» D terna de seu trabalho — isca, insista, sem preparª“—
çãú especial, de medo muita narumlr O que raizem, n㺠é um
discurso em forma, quer dizer, defensivo & ffchada em sã
mamar um discurso que procure antes de mais (e :? compreen—
sível) escanjurar r:- medn && crítica, mas uma apresemaçãn

" Inrmduç㺠& um semináriº da Ernie rica Hautes Études en Sciences


Sociales (Úu'rubrn de 1533“.
ls mreooucâo a uma soororoom REFLEXIVA
simples e modesta do trabalho realizado, das. dificuldaties
encºntradas, dos problemas, etc. Nada é mais universal &
universalizàvel do que as dificuiciadea Cada um achará uma
certa cºnsolação no facto de deseobrir que grande número das
dificuldades imputadas em especial à sua falta de habilidade ou
à sua incompetência., são universalmente partilhadas; e todos
tirarão melhor proveito rios conselhos aparentemente pormeno—
rizados que eu poderei dat.
Gostaria de dizer, de. passagem, que, entre as várias atitu—
des que eu desejaria poder inculcar, se acha a de se ser capaz de
apreender a pesquisa como uma actividade rational — e não
como uma espécie de busca misúca, de que se fala com ênfase
para se sentir confiante ªª"— mas que tem também o efeito de
aumentar o temor ou a angústia: esta postura realism “"-“"“ o que
não quer dizer cínica — está. orientada para a maximização do
rendimento dos inveStimentos e para o melhor aproveitamento
possível dos recursos, a começar pelo tempo ele que se dispõe.
Sei que esta maneira de vis?er o trabalho científico tem qual—
quer coisa de decepcionante e faz correr o risco ele perturbar a
imagem que de si próprios muitos investigadores dese iam
conservar. Mas é talvez a. melhor e a única maneira de se evitar
decepções muito mais. graves —— rumo a do investigador que cai
do pedestal, após basrantes anos de auromisrifieação, durante
os quais dospendeu mais energia a tentar conformar—se com a
ideia. exagerada que faz da pesquisa, isto é, de si mesmo como
investigador, do que a exercer muito simplesmente o seu
ofício.
Urna exposição sobre uma pesquisa é, com efeito. o contra-
rio de um tem»; de uma exibição na qual se procura ser visto e
mostrar o que se vale. É “um discurso em que :: george exp-ãe, no
qual se correra riscos [para esrat mais certo de desarmar os
sistemas tie defesa e de neutralizar as estratégias de apresenta—
ção, gostaria de poàet “apanhar-vos de surpresa, dando—vos a
palavra sem que vocês estejam prevenidos nem preparados —
mas, não tenham receio, eu saberei respeitar as vossas hesitª
ções). Quanto mais a gente se expõe, mais possibilidades exis,
tem de tirar proveito da discussão e, estou certo, mais benevo—
lentes serão as critiCas ou os conselhos [a melhor maneira de
eaefrtraa e 19
«liquidar» os erros — e De rece-ins que muitas vezes os
ecaaiunam —— seria podermos rir-nes deles., todºs ao mean-in
tempo).
Hei—de apresentar aqui "— será, sem dúvida, mais” adianre
—— pesquisas em que ando ºcupada Terãe ºcasião de ver“ na
estado que se chama nascente, quer dizer, em estado confuse,
embrionária, trabalhos que, habitualmente, vºcês encontram
em fúrma acabada. O àeme academiifm gasta de acabado. Cento
as pinturas; acariémieees, ele faz desaparecer dos seus trabalhos na
veseigios da pincelada, os tºques e cus retoques: Eiji com certa
ansiedade que descubri que pintores como Couture, :) mestre
ele Manet, tinham deixada esbeçes magníficas, muito próximos
da pintura impressienista ª"— que se fez contra eles -——— e tinham
muitas vezes estraga-,da abras julgandº dar-lhes as últimas
retoques, exigidas pela metal de trabalha bem feita, bem
acabada, de que a estética acadêmica era a expressão. Tentarei
apresentar escas pesquisas na sua grande confusãº: dentre de
Certas limites, & claro, pois sei que, socialmente, não tenho
tanto direita a eenªiºusân carne mas e cenceder—me—ãa menos
de que ea tre-le coneederei —— em certo sentido, com razão
(mas, em rede e- casee em referência a um ideal pedagógica
implícita —-— que merece sem dúvida ser discutida “ já que
leva, por Exemplo? a medir a valer de um cursº, e seu
rendimenta peciagãgice, pela quantidade e pela clareza tias
netas tentadas).
Uma rias fixar,-eee de um seminário como este é a de me
dar a epartunidade de verem como se processa realmente e
trabalho de piª.-aquisa, N㺠rei-ãe um registe integral de todos
as erros e de tudu o que fei precise repetir para se chegar ae
regista final. bias e filme acelerada que vos será apresentadº
devera tornar possível :Fazer uma ideia de que se passa na
intimidade ele «laberatúrin» eu, mais medeatamentet da afici—
na _“ nº sentido de- artíiice eu (Íú pintar de Querimeem: earn
teclas as hesitações, todos 05 embaraçºs, todas as renúncias,
etc. Investigadores eam trabalhos mais eu menos avançadas
apresentaria es abiertes que tentaram construir e submeter-
-se—ã.a a perguntas —— e, à maneira de um velha «oficialn,
cerne se dizia na linguagem das empatar—15:35 de ofícios, tenta-
2D INTRUDUÇÃÚ A UMA SÚCIÚLÚGM REFLEXIVA.

rei contribuir cum a experiencia que rerirei dos ensaios e erros


de passada
O cume da arte, em ciências sociais, esta sem dúvida em
ser-se capaz de pôr em jog-n «coisas teóricas» muito impactan—
tes & re5peíru cie DbjerCt-ns ditas «empíricos» muito precisos,
frequentemente meneres na aparência, e ate mesma em pouce
irrisútins. Temªse demasiada tendência. para crer, em ciências.
sociais, que a .impnrtância serial eu política de nb ir.-cre & per si
mesmo suficiente para dar fundamenta a imperrâneia do
discurso que lhe & cnnsagrade —— e Este sem dúvida que explica
que es sºciólogºs mais inclinadna a avaliar a sua importância
pela importância das nbjectns que estudam, carne e n case
daqueles que, actualmente, se interessam pele Estadia eu pelº
pºder, se mostrem muitas vezes ns menas atente—s ans precedi-
menrns metodnlógicns. O que ceara, na realidade, e a constru—
ção de nbjecrn, e a eiícácia de um métodº de pensar nunca se
manifesta tin bem como na sua capacidade de constituir
ºbjectos socialmente insignificantes em nbiectns cientificºs
eu, e que e n- mesme, na, sua capacidade de reconstruir cien—
tificamente os grandes nbjeerns sºcialmente impºrtantes,
apreendendn—«ns de um ângulo imprevism -—— como eu procure
fazer, pºr exemplº, ao partir, para cempreender um dns efeirns
maiºres do mena-pólio estatal da viºlência simbólica, de uma
analise muito precisa do que e um rasgªndo: de invalidez, de
aptidão, de dnença, etc., Neste senti-dn, n sacióln-gn encºntram.-se
hnje numa situação perfeitamente semelhante ——— memrii marea—
dir — à de Manet eu de Flaubert que, para exercerem em plena
e medo de cnnstrnçãn da realidade que estavam a inirentar, e
aplicaram a pmjectos tradicionalmente excluídos da arte acadé-
mica, exclusivamente cnnsagrada às pessoas e às coisas social—-
mente designadas come importantes —=— eu que levou a acusa-ins
de «realismúa. Ú sociólogo poderia remar sua a fórmula de
Flaubert: «pintar bem e medi—Dete».
É precise saber cºnverter prnblvemas muito abstract-es em
operações científicas inteiramente práticas —-- e que supõe,
como se verá, uma relação muito especial cum a que se chama
geralmente atenria» em «pratica». Neste precessn, ns prece-ires
abstratos, tais cerne aqueles que se encnntrarn, por exemplo,
caefroto o 21
em Le Mário de raioisgne m— e preciso construir o objecro; &
preciso pôr em causa os objectos pré—construidos —-— ainda que
tenham. a faculdade de despertar a atenção e de pôr de
sobreaviso, não prestam gran-de ajudar, É assim, sem dúvida,
porque não há outra maneira de adquirir os princípios funda—
mentais de uma prática — e a prática cientifica não é excepção
— que não seja a de a praticar ao lado de uma capécie de guia
ou de treinador, que protege e íneute confiança,. que dá o
exemplo e que corrige ao enunciar, em ”Ereção, os preceitos
directamente aplicados ao teto partir.-vaiar,
Evidentemente, ha.-de acontecer que, após terem assistido a
duas horas de discussão sobre o ensino da música. sobre os
desportos marciais, sobre o aparecimento de uma crítica de jazz
ou sobre os teólogos franceses, perguntem a vocês mesmos. se
não perderam o vosso tempo e se aprenderam realmente alguma
coisa. Não sairão daqui com belos discursos sobre a acção
comunicacional, sobre a teoria dos sistemas ou mesmo sobre a
noção de campo ou de ear-em. Em vez. de fazer, como Fazia há
vinte anos, uma bela exposição sobre a noção de estrutura na
matemática e na física moderna:; e sobre as condições de
aplicação em sociologia do modo de pensamento estrutural (em
sem dúvida mais «impressionante»...), direi a mesma coisa
mas de Forma prática, quer dizer, por meio de obeemções
perfeitamente triviais, perfeitamente banais, por meio de ques—
toes elementares —— tão elementares que nos esquecemos mui—
tas vezes de as» põr — e [:massando1 em cada caso, ao penne-nor
do seu estudo particular. Só se pode realmente dirigir uma
pesquisa — pois é disso que se trata — com a condição de a
fazer verdadeiramente ram aquele que tem. a responsabilidade
directa dela: o que implica que se trabalhe na preparação do
questionário, na leitura dos quadros estatísticos ou na interpre—
ração dos documentos, que se sugiram hipoteses quando for
caso disso, eres “ é claro que não se pode, nesras condições,
dirigir eerdadeiramenre senão um pequeno número de trabe—
lhos, e aqueles que declaram «dirigir» um grande número
deles não Fazem verdadeiramente o que dirt-mi
Visto que o que ee trata de ensinar e, essencialmente, um
errados elle'r'rmrfi, um modo de produção «científico que supõe um
22 INTRÚDUÇÃG A UMA SÚCIÚLDGIÁ REFLEXÍVA

modo de percepção, um cnnjuntn de princípios ele visão e de


divisão, a úniCa maneira de e adquirir e a de e ver operar
praticamente. au de observar e modo como este Éaªáims científi-
ca —- é bem este o seu nente —-——-, sem necessariamente se tomar
explicito em preceitºs Emtttlaisl «reage» perante npçães práticas
— um tipo de amºstragem, um questionarin, Etc.
0 ensino de um ºfício eu, para dizer cnmn Durkheim, de
uma «artes, entendido como «prática pura sem recria», exige
uma pedagogia que n㺠e de forma alguma a que convém ao
ensino dos Milªgres. Camo se vê bem nas sneiedades sern escrita
e sem escala __ mas. também e verdadeiro quanto ao que se
Ensina nas sºciedades“ enm eacela e nas próprias escalas
— numerosas mudas tie pensamento e de acç㺠— e muitas
vezes os mais vitais *— transmitem-se de prática a prática, por
modos de transmissãc tntais e práticas, firmados nn cnntacrn
directa e duradoura entre aquele que ensina e aquele que
aprencie («faz como eu»). Os historiadores e es file-seios das
ciências —— e as próprias cientistas, snbretudn _ tem frequen-
temente ºbservadº que uma parte impºrtante da prnfissân de
cientista se obtém por mudas de aquisição inteiramente prati-
cus m— a parte da pedagegia de silêncio, dandu lugar à
explicitaçãu não SÓ dos esquemas transmitidos corner também
dos esquemas empregatins na transmissão, é sem dúvida tanto
maior numa ciência quantu ncia sãn menos explícitas & menos
codificadas- ns preprins conteúdos, saberes, modºs de [mansaª
mente e de acção.
A sncíúlúgia & uma ciência relativamente avançada, muirc
mais do que habitualmente se julga, mesmo entre as sociólo-
gc-s. Um bom sinal do lugar que um sociólºgo ocupa na sua
disciplina seria sem dúvida cu da ideia —— mainr Du mentir ——
que ele tem ciaquilc que precisaria de dºminar para estar
realmente à altura do saber adquiri—tic? da sua disciplina, já que
a pmpensãn para uma apreensão modesta das suas capacidades
científicas só pode crescer a mediais, que cresce o conhecimento
de que mais recentemente foi adquirida" em matéria ele

' «acc-luis» m:: texte ntiginal. (N.T.J


** “acquisition“ ne texto ºriginal, (N.?Í]
amªram n 2.3
métodºs, de técnicas, de conceitua Du de. teorias, Mas cla está
ainda. pouca cºdificada :: poucº formalizada. N㺠se pode puis,
tanto comº em ºutras dºmíniºs, confiar nas aummarismcs de
pensamento ºu nos aummarismus que suprem [: pensamento
(na Widemía ex terminará, & «evidência cega» dns símbolos, que
Mihai; opunha à evidência cartesiana.) DLL ainda nos cúriigus de
boa conduta científica _ vmérodcs, pmtocolcs de observação,
etc. — que cana.-tirarem o direito das Campos científicas mais
codª—cada.. Deve—sc pois cantar Sabu.-tudu, para se obterem
práticas adequadas, cºm as csqucm incorporados du batam.
Ú àaàfrm científico é uma regra feira hnmem ou, mcíhúr,
um madar operandi científico que funciona em estado prático
segunda as ram-mas da“. ciência sem rear estas nºrmas na; sua
origem: é esta espécie de acaricia do jºgo científica que faz com
que se faça o que é preciso fazer no mamenm própria, sem ter
havida necessidade de: remarizar :) que havia que fazer,. e menºs
ainda a regra. que permite gerar a cúnduta adequada. O
sucíólúgo que procura transmitir um baàímí cie-mªm part-cc—
_5C mais com um rreinacínr desportivo de alto nível do que com
um professºr da Sorbºnne, Eic fala pºuco em term-35 de
princípius & de preceitºs gerais «« pode, decerto, enunciá-Ios,.
cama eu fiz em Le Mária!" de Jaciafagw, mas sabendo» que é
preciso n㺠ficar por aí (nada há pior, em cerro sentido, que a
epistemolºgia, logº que ela 5»: transforma um tema cie disserta-
ção cru em másrímm rá: Maguila). Elf? proceda por indicações
práticas;. assemelhando-s-c nissu ao treinadºr quc imita. um
movimentº («nº seu, lugar, eu faria assim...») ou pºr «correc-
ções» feira à prática em curso & concebidas na própria espírito
da “prática («eu nãu levantaria essa quesrãú, peida menas dessa
fºrma»).

Pmmr rfkríarmfmeme

Nunca tudo «iara & r㺠verdadeiro cºmº quandº se trata da


cansrrução do objecto—, sem dúvida & apt-ração mais importante
E, no entaum, & mais CDmPl-ctamcntc ignorada, sºbretudú na
tradição dominante, organ-112363 .em rar-no da rª,-pºsição entre a
24 INTRODUÇÃO A. UMA SÚCIÚLÚGM REFLEXIVA

«teºria» e & «metodúlngíee. O paradigma (nc- sentiria de.


realização exemplar) da ete—Grieu- teórica É a obra de Persºna,
nºthing pelª conceptual ºbtido pela compilaç㺠puramente teóri—
te (quer dizer, alheia a roda a- apiicaçãn) de algumas grandes
obras (Durkheim, Parete, Weber,. etc.), reduzidas à sua ói-
mensãn «teórica» eu1 melher, professor-rai, eu ainda, meia pel-te
de erá-sª. n neefuncíenalisme de ]eífrey Alexandre. Nascida ele
eneine, estas cºmpilações ecíecríces e classificatória são boas.
para e ensina _ mas para isen Eminente. A par. diem, há e.
«metodnlegia» catálogo de preceitos que não tem que ver nem
com a epí5teme£egia, cem—e reflex㺠que tem em viera trazer à
luz DS esquemª de prática científica apreendida tanto nos seus
erros &:an nas seus êxitos, nem com a teoria científica.. Penso,
neste caso, em Lazarsfeld. O par Parsons—Lazarsfeld (e, entre na
dois, Merten e as suas teorias de médio alcance) censtituiu uma
espécie de Éefdieg «científico» encíalmenªre muito podemsn,
que reincm na sºciologia mundial durante trinta anne. &
divisãn «renríanfªmemdeingía» canetitui em OFF.-sigªm episte—
mológica uma epesicãe censriturive de divisão social de traba—
Ihn científico num dado meme-nte (cerne & epueiçãe entre
professores e investigadnres de gabinetES de estuáns). Penso
que se deve recusar completamente esta divisãn em, duas.
inscâncies mperadae, pois esmu convencida de que não se pede
reencontrar o cencrete cembinande duas abstmcçõesr
Cem efeite, ee. ºpções técnicas mais «empíricas» sãn insepa»
níveis das ºpções mais «teóricas» de consuução cin objecto.
É em função de uma certa cnnstruçãn cin ebiecrn que tal
método de amºstragem, tal técnica de recúiha eu de ànálise dos
dede-5, em se impãe, Mais precisamente, & somente em função
de um carpo de hipóteses deriva—de ele um conjuntº de pressu-
pneirçõee teóricae que um dede empírica qualquer pude funcio-
nar come prev-e, eu, cerne dizem ee angle-saeónicns, «::an
minigªme. Ore, precede—ee Frequentemente como se e que pede
Ser reivindicada cºmo epiderme Fºsse evidente. () que ee Faz em
função de uma terrea ceifar-ef, a maior parte das vezes impnsta ::
inculcede pela educação [ns Famosas cursos de «mechúdúlog?n
das universidades americanas.). Ú Feiricisme da, erideere leva à
recusa dos rrabaihes empíricos que nãn aceitem cerne evidente
CAPÍTULO o 25
a. própria definição da evidente: o investigador não concede o
escatuto de dados, data, senão a. uma pequenís'sima fracção do
dado, não. como seria. preciso, àquela que é chamada & exis—
tência científica pela sua problemática (o que & intoimnonte
normal), mas àquela que é validado e garantida pela tradição
pedagógica em que ele se situa, & of: a ela.
E significativo que «gaiolas» ou tradições se possam conm—
mi:- em torno de #m: técnica de recolha. de dados. Por
Enna-mpb,. octooímeoto, cortas etnomotodologos só se interessam
pela análise de conversação reduzida à análise do um texto
separado do seu contexto, ignorando totalmente os dadoí
— que podemos chamar anno—gráficos — sobre o contexto
imediato (o que se chama trodiciooalmento & situação), sem
Fàlar doo dadoo que tornariam poooívol que se situam & situação
na estruturaç㺠aocial. Est-os «dados», que são tomados por o
próprio mmm-fo, são do facto produto do uma formidável
absuacção —— o que sucede sempre, pois o dado é Sempre
construído ª mas trata-se, neste caso, dl: uma abotracção que
não se conhece como tai. Há assim monomaníacos das diana-:i-=
buíçõos ostatísricas, ou da. análise de discursos, ou da observa;—
çãú partícípanto, ou da ontreviota livre (open—ended) ou em pro—
fundidade (àn—afepfá), ou da doscrivção etnográfica, Etc. A adesão
rígida & um ou outro donos métodos definirá a, filiação numa
sªcola,, os ínteraccíoniatas sendo conhecidos por exempio pelo
seu culto da «Etnografia», os etnomotodólogos pera sua exclusi-
va paixão pela análise de conversação. E será tido como uma
ruptura estrondosa com o monoteísmo metodológico o facto de
se combinar a anáiíse de discurso Fom a análise etnográfica!
& mesmo análise poderia Fazer-se vêm relação às técnicas de
anáêise, análise multivariada, análise do regn saio, pasà ::.-fabril,.
Mamoré anal?-355. fartar amigo.. Também aqui o monoceíamo &
roi. Assim é, sem dúvida,, porque ele dá à arrogância da
ignorância & aparência de um fundamento metodológico-: a
mais Elementar socíniºgia da sociologia ensina que, frequento-
menro, as condenações motodológicas são. uma maneira. de
tornar & nec-esaidade em virtude, de fingir que se ignora (no
sentido &C'tívú) o que, muito simplesmente, ao ignora.
Haveria que analisa ainda .a retóriúa da apresentação dos
26 INTRODUÇÁÚ a uma rememora Rrrrexrva
resultados que, quando se tramar-bona em exibição ostentaroria
doe dare, dos “processos e dos. procedimentos, serve geralmenre
para encobrir erros elementares de construção do objecto,,
enquanto, pelo contrário, uma exposição ri gemea e económica
dos reruiraclos pertinenrer medida peia bitola deste exibicionismo
do darem erraram S-Llâtlta muitas vezes a desconfiança. .e priºri doe
Feiticisrae do prefere-Ie (no senticio duplo) ele uma forma de
evidente... Mas para tentar converter em preceito positivo rodas
esras criticar, direi apenas que e preciso desconfiar das re::usas
recrárias que SE escondem no: detrás das profisaões de fé
demasiado exclusivas e tentar, em cada car—o, mobilizar todas as
técnica-& que, dada a definição do objecto, possam parecer
pertinentes e que, dadas as condiçõer práticas de recolha dos
dados, são praticamente utilizáveis. Pode-se, por exemplo,
utilizar a análise da:; correspondências para fazer uma análioe de
diacurso (como fiz, por exemplo, em relação aos discursos-
publicirários das diferentes empresas ele produção de casas pré——
-fabricadaa) ou combinar a. mais clássica análise estatística com
um conjunto de entrevistas em profundidade ou de oliveirª.-mações
Etnogrâfícas (como fiz em Lá! Doom-ron). Em suma, a pesquisa
é uma coisa demasiado séria e demasiado dificil, para se poder
tornar a. liberdade de confundir a rigidez,. que e o contrário da
inteligência e da invenção, com o rigor, e se ficar privado deste
ou riaquele recurso entre os vários que podem ser oferecidos
pelo conjunto das trariições intelecrunir cia disciplina — e cias
disciplinas vizinhas: etnologia, economia, historia. Apetecia-
—me dizer: «É proibido proibir» ou «Livni-vos elos cães de
guarda metodoiógicos». Evidentemente, a liberdade exrrema
que eu pregoi e que me parece ser ele bom senso, tem como
contrapartida uma extrema vigilância dae condiçoes de utiliza—
ção das técnicas, da sua adequação ao problema porto e às
condições do seu emprego. Acontece-me frequentemente desco—
brir que os noasos pais-do-rigor-meroclologico se revelam hero,
iarioristns, e até relaxados, na utilização rios proprios métodos
de que se têm por ze—larlores...
O que nos faremos aqui parecer-voei talvez irrirório. Mas,
antes de mais, a construção do objecto -— pelo menos na minha
experiencia. de investigador — não e— uma coisa que se produza.
ce. Hªmm H 2?
de uma assentada, pdf uma espécie de atm teórico inaugural, e
D prngrama de cbservaçõ—es em de análreer; por meia do qual a
ºperaç㺠_se efectua não é um plane que se desenhe antecipada—
mente, à maneira de um engenheirº: e um rrahaihe- de grande
fôlego, que se realiza pºuco a peruca., pºr reto-ques sucessiva,
pºr ::an uma série de correcções, de emendas, sugeridas por o
que se chama a ºfício, que: dizer., esee [Dnjunzo de princípios
práticas que úrientam as upções ao mesmu temp-3 minúsculas e
decisivas. Denota. país uma ideia um taum delirante !: pouco
realista da pesquisa que se Fique empreendida par poderªm-05
passar rante tEmpD & discmir pormenºres aparentemente ínfi—
mos — e até insignificantes -—-, tais como & quesrãc ãe saber se
e peequisader deve decíerar a sua qualidade de sºcióloga) eu
apresentar—ae com uma identidade maia aceitável —— a de
etnólºgo eu de hisreríader, por exempíe —, ºu antes ente—bri—
-la cúmpletamente, eu ainda se é melhºr incluir uma dada
pergunta num queitináriú desrínadcl & explºração esratíseica ou
reservei—la para. & interrogaç㺠de infºrmadºr-es, etc.
Em atençãe aos permenores de procedimentº da pesquisa,.
ruga dimeneâú prºpriamente sereia] _ como either bone informa-
dúres, Comu nos apremnearmaa comeu desire-vermes ÚS chic-ªcri-
vus da pesquisa e, de moda mais gel-ah comº «penetrar» & meiª
eseudade, err: .. — não e a menos importante, poderá põr-ves de
prevenç㺠contra n- feírícísrno das conceitua e da «temia», que
nasce da propensão para cuneidemr as ínsrrumenms «tEÓrÍCDSDÍ
baàífrrr, tampa, capital, etc., em si meemus, em vez de 05 Fazer
funcionar. de as pôr em acção, A noção de campº É? em certa
sentiria uma esee—mgmfia cºnceptual de um modo de eonsrruçãu
do abierto que vai remendar —— eu orientar -—— tºdas as. opções
práticas da pesquisa. É"Ela funciona. cºmo um Sine! que íemhm ::
que há que fazer. e saber, verificar que e- ebjeem em quesrãr: não
está isolado de um enniunm de relações de que retira o essencial
das suas prºpriedades. Pºr meiº dela, toma-se presente o
primeiro preceito do metodo, que impõe que se lute por maus ['.—5
meias. contra & incline-ç㺠primária para pens-ar e mundo saciar de
maneira realisra ou, para dizer cama Cassimr, iaàjrgmíeíirm E:. é
] E. Cassirer, Euáíírznre erJi'Érwn'ri-e. Éfémrm peer nee tbém-re da mar“-(epi, traà
P. Causãat. Paris, Minnie, WTI
as INTRGDUÇÃU e uma realizassem REFLEXWA

preciso pensar referi'eeelmeeie. Com efeito, peder—seia dizer,


deformande a expressão de Hegel: r:— mn' é ref.:—trienal. Ora, é
mais facil pensar em termes de realidades que pedem, por
assim dizer, ser vistas claramente, grupos., indivídues. que
pensar em termºs de relações. É mais fácil, por exemplo,
pensar a diferenciação social comº Forma de grupos definidos
como pnpulaçães, atraves da noç㺠de classe, eu, mesma de
antagonismos entre esses grupos, que pensa—la cerne forma de
um espaço de relações. Os objectos comuns da pesquisa são
realidades que atraem a atenção de investigador put serem
«realidades que se ternarn tratadas» por assim dizer, ao parem
prúblernas —— pur exemplo, «as mães seleeiras nn guem negro
de Chieagee. E, Frequentemente,, es investigaderes tornam
cerne: nbjectn na problemas relativas a pepulaçães mais eu
men.sz arbitrariamente delimitadas, obtidas par divisões suces-
sivas de uma categoria ela própria. pre-construída, «as velhas»,
«as íavense, aos imigrantes», etc.: mmo, par exempln, «as
jºvens do subúrbiú neste de Villeurbannew, (A primeira urgên—
cia., em tudos estes rasas, seria remar para ubieere e trabalhe
sereia] de crinstruçãe do objectº pré-cunsttuídn: & aí que esrã e-
verdadeira pente de ruptura].
Mas não basta empregar os termes empnladus da « grande
teoria» para
exemplº, se escapar
a respeito ªgºdªpõem-se
despedem de pensamente realista.
questões de Por
localização
em termos substancial isras e realistas (à maneira das antropólo—
gns çulmralistas que se interrngavarn indefinidamente sabre tás
farm ef EHÍIHW): algun-s perguntar-se-ão ende está ele, quem e
detém. nfl-Fba garantíª, ºutrºs se ele vem de cima ou de baixo,
era, de lTlESlTlÚ moda que certos seeinlinguistas se preocupam
em saber em qee lugar se da a mudança linguísrica, entre as
pequenas" burgueses eu entre as burgueses, etc, É para romper
cem esre muda de pensamentn — e não pela prazer de colar
um nova rótulº- ern velhos frascºs teóricas — que empregarei e
termº cambie ele poder (de preferencia a tierra reafirmam, cºnceito-
realista que degrees uma pepulaçãe verdadeiramente real de
rletentnres dessa realidade tangível que se chama poder), enten—
d—endn por tal as relaíªes de largas entre as pesições sociais que
garantem aos seus Deupantes um cimentar suficiente de força
CAPÍTULÚ H 29
sºcial — eu de Capital ——-— de mede a que estes tenham a
possibilidade de entrar nas lutas pela mennpálie de poder,
entre as quais possuem uma dimens㺠capitai as que têm por
finalidade a definiç㺠da farma legítima de poder (pense—, por
exemplo, nas confrºntos entre «artistas» e «burgueses.» no
século XIX).
Dim isto, uma das dificuldades da análise relacional esrá,
na maior parte das casas, em nae ser possível apreender os
espaços sºciais de entre forma que n㺠seja a de distribuições de
prºpriedades entre individuos. É assim parque a. informação
acessível esta ass-nciada a indivíduos. Por isso, para apreender o
subcampti do poder ecnnómicn e as condições ecnnârnicas e
' suciais da sua reproduçãú, & na verdade ºbrigatório internª;-gat
os duzentas patrões franceses mais importantes. Lilas & precisa,
custe ti que cusrar, precaver-se contra o retorno à areaiidade»
das unidades pré—construídas. Para issu,. sugiro-vos o recurso a
esse instrumentº de construção de ebjectn, simples e cómoda,
que é 0 quªdro das caracteres WÍHEHÉEI de me renjests de agente: tm
de imriíeiçtier: ,se se trata, per exempln, de analisar diversas
desportos de cnmbate (luta, judo, aiquidn, etc.] na diversos
escabeiecimentes de ensino superier eu ainda divers-ns jornais
parisienses, inscreve-se cada uma das instituições em uma linha
e abre—se uma cºluna sempre que se descobre uma propriedade
necessária para caracterizar uma delas, e que ºbriga a pôr a
interrºgação sobre a presença eu a ausência dessa propriedade
em todas as entras -—— istn, na fase puramente induriva da
ºperação", depois, fazem-se desaparece-r as repetições e reunem—
-se as colunas que registam caracretísticas estmtutal eu Enuncia—
nalmente equivajentes, de maneira a reter teclas as característi-
cas —— e essas semente —— que permitem descriminar de modo-
mais eu menos tiger—ese as diferentes instituições. .as quais sãº,
por isso mesmu, pertinentes. Este utensílio, muito simples,
tem a faculdade de ºbrigar a pensar relacionalmente tanto as
unidades sºciais em questãe cerne— as suas propriedades, poden—
do estas ser caracterizadas em termes de presença ou de
ausência [siminãel
Mediante um trabalho de construçãa desta natureza ——- que.
se min Faz de uma só vez mas por. uma série de apresimações
30 INTRODUÇÃO A UMA SGCFÚLÚGM REFLEXWA

w— cºnstrºem—se, peace a pouco, espaços sociais os quais ——


embate só se ofereçam em farma de relações obiectivas muitº
abstractas e se n㺠passa teca-los nem apnntá-lns a dedo —— são
0 que tunetitui meia a realidade do mun—de sacia]. Vejam, por
eir-templo, e trabalhº que acaba de publicar snbre as escºlas
superiores e em que contei, numa espécie de crónica muitº
cºncisa ele uma pesquisa que se estendeu por pertº- de vinte
anus, como se consegue passar da monografia — que tem a seu
fav-er redes DE aspectos da ciência -——- a um verdadeiro nbjeett:
cºnstruido, e campo das instituições esceiares que asseguram a
reprodução do empada pºder.. Procurar não cair na armadilha
de objectº pre-censtruírlo não é Fácil, na medida em que se
trata.. pºr definição, de umúbjectú Que me interessa, sem que eu
cºnheça claramente a princípio verdadeiro desse «interesses,
Seia, por re:-temple, a casa da Escola Nºrmal Superiºr.: &
cenhecim—entn incipiente que dela pessa ter, e que e erCivo
na medida em que & tido por clesrnistificado e desmisrificatler,
da erigem a tecla uma série de perguntas extremamente inge-
nuas, que todo e normaliaen achara interessantes parque
«surgem de repente no espirito» daquele que se interrega
acerca da sua escola. istº e, acerca dele mesmo; san as netma—
lianes literários ele uma origem sºcial mais elevada que :::-s
narmaiianes cientificas? eenrribui e escalãci de entraria para
a escolha das disciplinas: matemática em física, filesnfia eu
letras? etch De fama, a problemática espentânea, em que entre
uma enºrme parcela de cºmplacência narcisista, e geralmente
muito mais ingénua ainda. Vejam as abras cem ambições
científicas que, ele há uns vinte anos, têm tida por objectn esta
ou aquela escala superior. Ac- firn e ac: cabe, poder-se-a assim
escrever um vnlumasn livro Cheio de factns com aparência
inteiramente científica, mas que falhará na essential: se, pela
menos, cume creio, a Escola Net-mai Superior, a qual podem
ligar-me laçºs efectivos, positivas ou negativºs, produtº eles
meus investimentos anteriores. nae passa na realidade de um
pente num espaço de relações objectivas (um ponte, e: teste,
cujo «pesº» na estrutura terá de ser determinada); e se, mais
precisamente a verdade desta instituição reside na rede de
relações de oposiçãe e de cancer-tremia que a ligam ao ceniunte
ca PITULD o 31
das instituições de ensino auperior e que ligam esta mesma rede
ao conjunto tias posições no campo do poder às; quaio dá acesso
a passagem pelas eseoias superiores, Se é verdade que o reai &
relacional, pode acontecer que eu nada saiba de uma insrituição
acerca da qual eu juigo saber melo, porque ela nada e fora das
suas relações com o todo.
Daqui resultam. os problemas de estratégia que encontra-
mos sempre e que se tolo—carão constantemente nas nossas
discussões de projectos de peequisa: será que vale mais estudar
extensivamente o conjunto dos elementos pertinentes do objec-
to construído, ou aurea, estudar intensivamente um fragmento
iimitado deste con junto teórico que está desprovido cie justifi-
cação científica.? A opção socialmente mais aprovada em nome
de uma ideia ingenuamente positivista cia. precisão e da «serie—
dade» & a segunda: a cie «esto-ciar a fundo um objecto muito
preciao, bem eircurtacritoa, como dizem os directoree ele teses;
[Seria bas-tante fácii moStrat como 1Irirttules pequeno—«burguesa!»
de «prudência», de «seriedade», ele «honeaiciade», etc., que
poderiam outrossirn exercer—se na gesrão de uma contabilidade
comercial ou num emprego administrativo, se convertem aqui
em «metodo Cientifico»).
Na prática, veremos que se porá a quesrão doa iimitea do
campo,, questão com aparência positivisra a que se pode dar
uma raposa teórica (o limite de um campo e o limite eloa seua
efeitos ou, em outro temido, um agente ou uma instituição faz
parte de um campo na medida em que nele sofre efeitos ou que
nele oa produz), resposra esra que poderá orientar as estratégias
ele pesquisa que têm em vista estabelecer reapostaa de facto.
[sto terá como consequência que quase sempre nos acharemos
expostos a alternativa da análise intensiva de uma fracção do
objecto praticamente [apreerisivel e da análise extensiva do
objecto verdadeiro. Mas o proveito científico que se retira de se
conhecer o espaço em cujo interior se isolou o objeto:; eetuclaclo
(por exempio, uma dada eacola) e que se eleve tentar apreender,
mesmo groaseirameote, ou ainda, 51 Falta de meihor, com dados
de segunda mão, consiste em que, sabendo-se como e a
realidade ele que se ;:iàírrm'rr um fragmento ;: o que dela se faz,,
.=;e podem pelo menos desenhar as grandes linhas de força do
3.2 lNTRÚDUÇÃD A UMA SDCIÚLÚGIA REFLEXIVA

espaço cuia preasâe se exerce sabre a ponte censidetade [um


pouce à maneira dee arquiterrna de recair) XIX,, que faziam
admiráveis esbeges a carv㺠de conjuntº de ed iffrie ne interior
da qual tratava Situada a “parte que eles queriam figurar em
petmenerjir E, sebrerude, não se cºrre e risco de procurar (e de
eencnetrata) nn fragmenta estuda-dri metaniames ou princípios
que, de facto, lhe sãe exteriores, nas suas teíaçi'ãea tem autres
ebieetesr
' Co-nsrruir eu ebjeete aupõe também que se tenha, perante as
farma, uma pºstura aetiira e sistemática, Para remper com a
passividade empíriata, que mãe faz senão ratificar as pre-
—eensrruçõe5 de sense tei-num, nãti se trata de pl'Dpúr grandes
conãtruções “teóricas vazias,. mas sim de abordar um raro
empírica com a intenç㺠de cºnstruir um madeira —- que não
tem necessidade de se revestir de uma fºrma matemática eu
formalizada para ser figure-se ———=, de ligar na dades pertinentes
de tal madi) que eles funtienem como um pregrama de
pesrruisaa que põe quesrãea aiatemãticas, apmpriadas a receber)—
resposras sistemáticas; em resume, trata-ge de construir um
sistema ceerente de reiações, que deve ser posta .a prova teme
rai. Trata-se de interregar mªnteriam—rear»: e caso particular,
rnnsrituíde em «casa particular de: peasível», cºmo dia Bache-
lard, para retirar dele as propriedades gerais ou invariantes que
ser se denunciam mediante uma interrogação assim conduzida
[se eata intençãe erra ausente,. frequentEmente, das trabalhas
dos hismriaderea, (% sem dúvida porque a definiçãn social da rua
tarefa, que esrá inscrita na definiç㺠aerial da sua disciplina, é
menºs ambieieea eu pretencinsa, mas também menos exigente.
deste pente de viera, de que a que se impõe ae mcióiegeii
O rariecínin analógica-, que se apoia na intuiçân racional
das hnmúlngiaã (ela própria alicerçada ne ennhecimen'm das leis
invariantes dos campos), e um espantoso instrumento de
construção de object—e, É ele que permite mergulhar-mea cem—-
pletamente na particularidade de caso estudada sem que nela
nes afoguemea, como faz a idiegtafia empirista, e realizar—
mos a intençãe de generafr'aaçãa, que e a própria ciência,
nae pela aplicação de grandes emanações. fºrmais e vazias, mae
per eaaa maneira partiruiar de pensar e caso particular que
caer'sªoro n 33
consiste em pensa—lo verdadeiramente como tal. Este modo de
pensamento realiza-se de maneira perfeitamente logica pelo
recurso ao método comparativo, que permite pensar relacional-
mente um caso particular constituído em caso particular do
possível,, tomando-se como base de apoio as homologias estru—
turais entre campos diferentes (o campo do poder universitário
e o campo do poder religioso por meio da homologia das
relações professorfinrelectual e bispoiteologo) ou. entre estados
diferentes do mesmo campo (o campo religioso na Idade Média
e hoje).
Se este seminário funcionar como eu desejo, ele apresentar—
-se-ã como uma realização social prática do método que tento
promover: vocês ouvirão pessoas que, trabalhando em objectos
extremamente variados, serão sujeitos — e sujeitar-se-ão —— a
perguntas orientadas. sempre pelos mesmos princípios.; deste
modo, 0 moda; operandi que dese—io ensinar transmitir-soa", de
certa maneira, “praticamente, sem que haja necessidade de (:
explicitar teoriCamEnte, pelo acto repetido a respeito de casos
diferentes. Cada um, ao ouvir os outros, pensara na sua própria
pesquisa, e a situação de comparação institucionalizada que é
assim criada (como a moral, o metodo so funciona se conseguir
inscrever-se nos mecanismos de um universo social) obriga-lo—
na., a um tempo e sem qualquer contradição, a particularizar o
seu obieero, a percebe—lo como um caso particular (isro contra
um dos erros mais comuns da ciência social; a universalização
do caso particular), e a generaiiza—lo, a descobrir., pela aplicação
de interrogações gerais,. os caracteres invariantes que ele pode
ocuitar debaixo das aparências da singularidade (sendo um dos
efisiros mais directos deste modo de pensamento o de excluir a
semigeneraiiração, que leva a produzir conceitos concreto—
-abstractos, resultantes da introdução clandesrina, no discurso
científico, de palavras ou Facros narivosªªª nao analisados). No
tempo em que eu era mais directivo, aconselhava firmemente-
os investigadores .a estudarem pelo menos dais objectos: por
exemplo, em relação aos historiadores, além do seu objecto
principal, um dado editor do seculo xvill, os coleccionadores

"' alaits indigênesn no texto original. (N. T.),


54 INTRDDUÇÁÚ A UM,—l- Secretecm eeeeexwe

durante e Segundo Império, eu D equ valente cºntemporâneo


release ubieettt' —— uma casa eclitora parisiense, um grupo de
coleccinnednres —, pois e estude de presente rem pela menos
como resultado Dbrigar a (J&Jirtrirrer e & tuntrelar as pré—noções
que [) histeriador projecra. sempre sºbre O passaria, nem que
seja empregandn palavras de presente para () designar _._, como
a palavra arte-mr, a qual faz esquecer que a noç㺠cºrresponâena
te e uma invençãe extmerdinariamente recente

Uma devida remªtar!

Todavia cºnstruir um ubjettu científica e, antes de male e


sobretudº,. rºmper com e senso comum““, quer dizer, tem
representações pªrtilhada-.r- per todos, quer se trate doe simples
lugares-cemuns ele exisrência vulgar,. quer se trate das represen-
tações Dficieis, frequentemente lnetritas nas instituições, it:-gt),
au mESmD 'tt'mpo na ubiertividade das. organizações mártir, :
nos cérebrºs. "Ú pré-rnnstruíde está em toda a. parte.. ()
sºciólºgo eStâ literalmente cercada por ele, como e está qual—
quer“ perene. “D sºciólºgo tem um objettu e. cºnheceu [) mundo
social, de que ele próprio & produm e, deste mudo, há ti:-flei as
probabilidades de as problemas que põe a si mesmu acerca
desse mundº. as conceitos — e, em especial, as nações classi—
ficatória.?- que emprega para [) conhecer, noções cºmuns como
05 names de prufissões, unçães eruditas cume ae transmitidas
pela tradiçãe da disciplina. ——-_= seriam produtu desse mesma
objettn. Gta iam contribui para lhes conferir uma evidência ª“
a que resulta ele coincidência entre as estruturas ebjettívas e as
estruturas subiecrives — que as pãe & cobertº de serem pastas
em causa.
Corn-:| pode o sºciólogo efectuar na prática. a dúvida radical
& quai É neceesátía para pôr. em suspenso redes DE pressupºstos
inerentes an facto de ele ser um ser social, portante, secíaliradn

* «seus tnmmun» — tratlueimos, flerte passe, ::an em outras, per


.,trruu temem, que mãe dm ser rntentlida teme em teme, tratando—ee t㺗5:51
de merda que e comum a um grupo eu cnnjuntú de agentes, (N. T.)
CAPÍTULÚ If _ 35
e levado assim a sentir-se come peixe na água na sei-::: desse
mundo social cuiaã estruturas interinrizuu? (3an pode ele
evitar que c: mundu macia! faça, de certa modo, através dele,
por meia das eperaçõex inconscientes de si mesmas de que ele é
o sujeito aparente,. & censtruçãn do mundo meia] do Dbiecce
científico? N㺠cºnstruir. como faz o híperempirísmo planilsriti'ris,ª
ta, que aceita sem crítica 05 conceires que lhe s㺠propensa
(arbieeemm. amargª.-Sim, prejêuáen, mãe, etc.) é ainda cºnstruir,
porque & regíerar -—— e cºnfirmar — o já conscruícle. A
suciúlúgia crf-frente"“ “ que 515 exime & pôr em (231153 de mºdo
radical as. suas próprias eperaçães e es seus próprios instrumen-
tos de pensamento, e que veria sem dúvida em rai cume—ea
wfÍexím um veâtígiu de mentalidade filºsófica, lago, uma
sebrevivêncie pre—científica — e inteiramente atravessada pela
objecre que ele quer conhecer e que não pºde realmente
cçnhecer, (pele Pacto de mãe ee cenhecer a si mesma. Urna
prática científica que se críquete de se pôr a si mesma em causa
não sabe, prºpriamente falandú, () que faz. Prem no ºbjecto
que tema para ºbjectº.. ela descebre qualquer ceisa de abierto,
mas que. não é verdadeiramente ebiecrivadn pois se trata das
próprias princípios do ºbjecto.
Seria fácil meneame que esra ciência meio-dente retira do
mundo social os seus pmàfems, us eeus mineiras e as seus
fem-emm!“ de reeàerrmm e ªgiria amiúde cama um detem,
como um dado empíricº independente do acto de conhecimen—
m e da ciência, que e realiza, factos, repreeentações eu inadmi-
çõcs os quais sic- pmdrrm de um estada enterrar da ciàrcía, em que
ela, em suma, se registar. a si mesma Sem se necenhecer...
Vou deter-me um pouce em cada um. destes. pontos.. A
ciência social esrâ sempre expesra & receber de mundo se.-cial
que ele, eeruda cus pmâlem que levanta :; respeite cleie: cada
sociedade, em cada mae-mente,, elabora um carpe de Mim
Sªddi! rides per legítimas, dignos de serem. discutidas, públi-
ms, par vezes oficializadm e, de certº modo, garantida: pela
E:!ede. SEG, per exempie, os prºblemas pºstas às grandes
famíííríw oficialmente mandatadas para 05 estuáar, postos

' HÍ-il rsr're'inlugzíl: nrdineire-u no textº original. (N, T.),


36 INTRODUÇÃÚ A UMA ÉÚCIÚLÚGM REFLEXIVA

também, mais ou menºs dirECtamc-nte, aºs próprias .súciólogús,


por meia de todas as furmas de gªr-arms: àumrrátim, cuncursc—s
púbíimsª“. programas de estudos, etc., E de financiamento,
cariri-atas, subvenções, etc, Numeric—sus abãecms reconhecidas
pela ciência oficial, numerosºs trabalhas nas s㺠outra ceias.
sen㺠prublemas sociais que entraram de contrabando na sºcio—
iagia — pobreza, delinquêncía, juventude], edutaçãu, lazer-ªssi
desporto, stc. —— e que, cama testemunhais: uma analise da
evolução no decurso da tampa das grandes divisões reaiisras da
saciulugia um tal cºmo se exprimem nas símios das grandes
revistas ou nas denominações das grupºs de trabalha das
magra-sans mundiais da disciplina -——, variam as sabor. das
flutuações da consciência soci-al da mam-ema Ai esta uma das
media;-ªims por meiu das quais o mundo sºcial cunstrói a sua
própria reªpresentação, servindo—se para isso da suciolugia & do
sºciólogo. Deixar em estado impensadn a seu própria pessa—
menm &, para um. socióloga— mais ainda que para qualquer
ºutro pensadºr, ficar cºndenada a. ser apenas animava-mrs daquilº
que ele quer pensar..
Cam-a mmper cum assa situaçãº? Coma pode a sucióiogo
csizapar à pErSuasãD ciandestina que a cada moment—*:) sabre“ ele
se exerce, quandu lê na jornal, ºu quandu vê talsvisâú, ºu
mesmo quandu lê ºs trabalhºs das asus miegas? Estar alerta é
fã impurranra, mas nas basta.. Um dos ínitrumentúã mais
pºderosas da ruptura & a história atrial dos probísmas, dus
DhiECIÚS & das instrumentos de pensamento, quer dias-rr dia
trabalho sºcial de construção de insrrumsnrus dr: construçãú
da realidade se:-cial (cºmo as noções comuns, papel, culturaT
velhice, etc», ou os sistemas de classificação) que se realiza
na própria seio da mundo sºcial, no sau conjunta, nasre uu.
naquela (rampa especializada e, especialmente, na rampa das
risada! mc'àaií (& que muduziria & atribuir um programa E uma
Funç㺠muitº diferentes das acsuais ao ensinº da história sºcial
das ciências sºciais —— história que, na essencial, está ainda por
Fazer). Uma parte importante de trabalho» colectivo que se

"' «appels d'úiºfren m:: texto original. (N. T,).


cssfruw :: e,?
divulga na revisca Artes de &: ren-MM es misero satisfy incide
sobre a história social dos objectos mais comuns da existência
corrente: penso., por exempio, em. todas essas coisas que se
tornaram tão comuns, logo, tão evidentes que ninguém lhes
presrs atenção ,,,, a estrutura de um tribunal, o espaço de um,
musse, o acidente de trabalho, a cabina de voto, o quadro de
dupla entrada ou, muito simplesmente, o escrito ou o registo.
& hisrótis concebida assim não está. inspirada por um interesse
de aeri'quaífis, mas sim preocupada em compreender porque se
compreende e como se compreende.
Para se não ser objecto dos problemas que se tomam para
objecto, e preciso fazer a história social de marginais desses
ptobiemas, da sua constituição progressiva quer dizer, do
trabalho coiccrivo — frequentemente reaiizado na concorrência
e na luta — o quai foi necessário para ciar & conhecer e fazer
reconhecer esses problemas como miriam: Irgíifimes, confessã—
veis, publicâveis, públicos, oficiais: podemos pensar nos pro-
blemas da família, do divórcio, da delinquêncis, cia droga, do
trabalho feminino., etc, Em todos os casos, descobrir-se-ã que o
problema, aceite como evidente pelo positivismo vulgar (que é
e primeira tendência de queiquer investigador), foi ratieimts
produzida“, num trabalho colectivo de construção de realidade
social e por meio desse trabalho; e foi preciso que houvesse
reuniõesi comissões, associsçêes, ligas cie defesa, movimentos,
manifestaçõex, petições, rEquerimentos, deliberações, votos,
tomadas de posição, praia-eros, programas, resoluções, etc. para
que aquilo que era e poderia ter continuado a ser um problema
Friends, particular, singuiar, se tornasse num profª.-few serial,
num problema púbiico, de que se pode falar peàfimmsir
—— please—se no aborto, ou na homossexualidade -— ou mesmo
num problema, oficial, objr'ecto de tomadas de posição oficiais, e
até mesmo de ieis ou decretos Seria preciso analisar aqui o
papel particular do campo politico e, sobretudo-, do camª:—0
burocrático; por meio sobretudo tis lógica muito especial cia
comissão á'rrrscnizícei de cuja análise me ocupo anualmente. e
respeito de elaboração de uma nova política de ainda, ao
alojamento em França por volte de 1975, esre. cmpo contribuí
tic nmm'irzi muito interim para 3. consagração e para. a constitui-
se iNTRÚDU-Ç'ÁÚ e UMA secremcia Mesa:—erva

ção dos problemas sociais aaimoeirç & imposição da problemã—


tira a que o inveStigador está sujeito r—m como quaiquer agente
social —-—— e que assume sempre que tema a sua conta as
questões que andam no ar de seu tempo mas sem as submeter a
exame —-—- incluindo—as, por exemplo, nos seus questieoarios ——
tornaªlse mais provável na medida em que es probiernas que são
mese far granted num, universo social sãti aqueles que tem mais
probabilidades de receberem green, materiais eu simbólicas, de
serem, como se diz, em sitter pelos administradores científicos
e as administrações ——-— e, por exemplo, o que faz com que as
sondagens, essa ciência sem eientisra'ª, sejam. aprovadas por
aqueles que dispõem. de meios para as encomendar e que se
mostram, de resto, tanto mais críticas para com a sociºlogia
quanto mais. esta se desliga das suas encomendas ao dos seus
pedidos,
Acrescento ainda, para complicar um pouco mais e para
Fazer ver como a situação de soeióiogo & difícil, quase. desespe—
rada, que o trabalho de prºdução dos prebiema—s oficiais, quer
dizer, dotados dessa espécie de universaiidade que ihes vem do
facto de estarem garantidos pelo Estado, dá quase sempre
lugar, hoje em dia, àquilo a que se chamaprrirei, entre os quais
se acham sociólogos, que se “servem da autoridade da ciência
para garantirem ou afíançarero a universalidade, a abieerivida—
de, o desinteresse da representação burocrática des prablemas,
O mesmo e dizer que o sociólºgo digne deste nome, que faz. e
que e precise fazer, em meu entender, para ter alguma probe»
bilidade de ser verdadeiramente o Japira dos probiemas, que se
podem pôr a respeito do mundo social, deve tomar para objecto
a censtrução que a sociologia, os sociólogos, quer dizer, os seus
próprios coiegas, dão, com toda a boa fe, para a produção dos
problemas oficiais — e ha teclas as probabilidades de que isto
apareça como um Sinai inadmissível de arrogância ou como
uma traição à solidariedade profissional, aos interesses eorpora-
tivos.
Nas ciências sociais, como se sabe, as rupturas epistemoló-
gicas": são muitas vezes rupturas sociais, rupturas com as crenças

"' «selante sans sat-fant— nti texte original, (N. T.).


cst'Toso :: ss
fundamentais de um grupo e, por veses, com as crenças
fundamentais do corpo de profissionais, com o corpo tie certe-
zas partilhadas que fundamenta a traemmeir doctor-em epitáfio.
Praticar a ciúvitla radical em sociologia e pôr—se um pouco fora
da lei. E, sem ciúvicla. () que tinha sentido Descartes o qual,
com gran-ele espanto dos seus comentaclores, nunca estendeu e
política —-——» é conhecida a prudência com que Fala de Maquiavel
— o modo "de pensamento que tinha. iniciado tão corajosamente
no domínio do conhecimento,
Passo aos conceitos, às paiavras, aos métodos quea profissão
emprega. para falar elo mundo social e para o pensar. &
linguagem levanta um problema particularmente dramático
para o sociólogo: ela e, com efeito, um enorme depósito de
pré-conectuções naturalizaclas, portanto, ignoradas como tal,
que funcionam como ínsnumentm inconscientes ele conscrução.
Poderia tomar o exemplo das tasioomias profissionais, quer se
trate ele nomes de profissões em uso na vida quotidiana, Que: se
trate da CSP, do INSEE *, belo exemplo de teamsprmlimtáe
Ene—frenético, de universal burocrático, como poderia tomar, mais
geralmente, o exemplo tie todas as classificações (classes etárias,
jovenslvelhos; classes sexuais, homensftnulhetes., etc.. que1
como se sabe, não escapam ao arbitrário) que os sociólogos
empregam sem nelas pensarem quanto baste, porque são cate-
gorias sociais do entendimento que é comum a toda uma
sociedade ou porque, como aquilo a que chamei categorias do
entendimento professora! (os sistemas de adjectivos — bri-
lhantefapagado, etc.. — usados para classificar os pontos dos
alunos ou as. qualidades dos colegas) são próprios da corporação
(o que não impede que se firmem, em última análise, na base
das homologias de estrutura, nas oposições mais fundamentais
do espaço social, como rarofbanal, únicoj'cornum, etc.)»,
Mas creio que é preciso ir mais além e discutir não so a
classificação das profissões e os conceitos emp-regados para
designar as classes de oficios, mas também o próprio conceito
de profissão ou. para diser em inglês, enemies, que. tem

" CSP = categories socioprofessionnelles (categorias socioprofissío-


”um. ÍNSIEH “= [esli—rot National de Statisrique et ªltitudes Economiques.
so INTRGDUÇÁG A UMA SÚCIGLOGM REFLEXWA

servido de base a todo um conjunto de pesquisas e que, para


alguns, representa uma espécie de paiavra de ordem metodolo—
giea. Freis-Inss & uma noção perigosa e tanto mais quanto e?
cerro que, como sucede em casos idênticos, as aparências jogam
a seu favor e, em certo sentido, o seu emprego tem sido
acompanhado de um progresso em relação a papa teórica, à;
maneira de Parsons, Falar de professora, em tratar de uma
verdadeira realidade, de eoniunros de pessoas com o mesmo
nome, os lswym por exemplo, dotados de um estatuto econo-
mico quase equivalenre e, sobretudo, organizados em sssoria-
ções profissionais dotadas de uma deontologia, de instâncias
coleerivas que definiam regras de entrada. ere. meisrim & uma
palavra da linguagem comum que enrrou de contrabando na
linguagem científica; mas é, sobretudo, uma construção serial,
pro-duro de todo um trabalho social de construção de um grupo
e de uma, reps-aferirerâs dos grupos, que se insinuou docemente
no .mundo sociale É isso que faz com que o «conceito» caminhe
tão bem. Bem demais, de cerro modo; se “vocês o aeeirarem
para construírem o vosso objeeto, encontrarão listas já feiras,
centros de documentação que reunem informações a seu raspei“
to e, talvez., por pouco hábeis que; sejais, Fundos para o estudar.
Ele refere-se a realidades em certo sentido demasiado reais,
pois apreende ao mesmo tempo uma categoria social —— social—
men-re edificada passando, por exemplo. para alem das diferen—
ças econômicas, sociais, étnicas, que ias—ein. de Mªrion dos
fara/yeªrs um espaço de concorrência — e uma categoria mentai.
Mas se, tomando conhecimento do espaço das diferenças que o
trabalho de agregação necessário para construir a Mauritªnie” reve
de superar, eu perguntar se. não se trata de um semp-::. então
tudo se torna dificil, Como obter uma amostra num campo,?
Se, num estudo do campo da magisrrarura, não se considerar o
presidente do Supremo Tribunal de Justiça ou se, num estudo
sobre o campo intelecrosl *em França em 1950, não se conside—
rar jean—Paul Sartre, o campo fica destruído, porque estas
personagens marcam, só por si, uma posiçãoi Hà posições de
um. só iugar que comandam. toda a estrutura, Numa” amostra
representativa. dos escritores concebidos como grafismos, no
proàfem.
caefroco o 41
Enquanto vocês tomarem o dado —— os famosos alem dos
Sociólogos positivismo — tal como ele se da, danse-moa sem
problemas, Todo anda por si, naturalmente. às portas abrem—
—se e as bocas também. Que grupo recuaaria o registo sacraliza—
do! do historiografia? [) inquérito sobre os biopos ou sobre os
portoes que aceita — tacitamente — a problemática episcopal
ou patronal tem o apoio do secretariado do episcopado do
CNPF'*, & os biapoa e os patrões que se apressam a vir
comentar os. resultados não deixam de conferir uma espécie de
diploma de objectividade ao sociólogo que soube dar uma
realidade obiectiea — pública — a representação subir,-cova
que eles têm do seu próprio ser azo—cial, Em suma, enquanto
vocês permanecerem na ordem da aparência socialmente consti—
tuida, todas ao aparências estarão a vosco favor, convosco, —
até mesmo as aparências cia cientificiclarie. Pelo contrário,
desde que vocês comecem a trabalhar num verdadeiro objecto
conatruiclo, tudo ao tornará &ifícil: o progresoo «teórico» gera
um acréscimo de clificuidadea «metodológicas». Os «metodolo—
gosa não terão dificuldade em encontrar o pequeno erro nas
operações que É preciao fazer para apreender, axªm-assim, o
objecto conarroido. hªi metodologia é como a ortografia, de que
se dizia: «é a ciência dos burros-»,. É um arrolamento de erros
acerca eloa quais se pode dizer que é preciso ser—se estúpido para
os cometer" Para ser honeato, devo dizer que entre as ªfirmei
arroladaa há algumas que eu não teria. talvez encontrado
Sozinho. Mas, na maior parte, são Faltas triviais.1 que fazem a
felicidade dos professores. (35 sacerdócios, como lembra Nietz—
“acho.. vivem do pecado."). Entre as dificuldades, há a questão
de que falei ha PDHCÚT & cios limites do campo que os
positivismo mais intrépido-s —— oi,—tando não se esquecem pura e
simples mente tie a colocar utilizando tem qualquer modificação
listas ia feitas —— resolvem por meio de urna «definição
operatóriaa («chamo escritor») sem verem que a questão da
definição “Fulano não e um mamei-a escritor») esta em jogo
no próprio objecm Combate—«Se então “parª se saber quem faz
parte do jogo, quem merece verdadeiramente o nome de
" (INPF = Crimeil National du. Parmnat Francaiã.
42 INTRUDUÇÃÚ A UMA EÚCIÚLDGIA REFLEXIVA

escrireri A própria noção de escrirur —- e também, apesar ele


redes cus esfºrçºs de cedifrcaçâú e de homogeneizaç㺠pela
hºmolºgaçãº. a noção de fewer — está em fuga no campo dos
escriturª m ou das afã—men —: a luca & respeitº da de-Eniçãe
íegírima. em que está em jogo — eli-lc- a palavra «definiç㺻
——-— a fronteira, e limite, e direita dia entrega, por vezes e nemems
rimam, É a característica das csmpes na Sua universaiidarle-
A abdicação empirísta tem todas as aparências e todas as
aprovações & seu favor parque, eximinde-se à construçãº, deixa
aº mundu sºcial Ia! come e, à ardem estabeleciªm as ºperações
essenciais da construçãcl científica —-— escolha do prebiema,
eíaboraçãú dos. conceitºs e das categºrias de análise —, green-
chendu assim, pelo menus pur defeim, & rítulo de ratificação da
danca, uma, funçãn essencialmente conservadora. Entre as ubsrá—
ÇLIlQS ao desenvºlvimente de uma súcíchiegia científica, um das
piel-"es está nas descobertas verdadeiras implicarern os ruim.;
mais elevados e es ganhos mais reduzidos, n㺠só nos mercados
urdináries cla exisrência social mas também na mercede- univeri
sirárie. de que se esperaria uma maior autonemie. Came tentei
mcsrrar & respeite das custas e dos ganhos científicos e sºciais
das noçães de prefiuêe e ele tampa, é preciso muitas vezes. para
se fazer ciência, evitar as aparências ela cientificidacíe, contradi-
zer mesma as. normas em viger e desafiar os critérios cerrenres
do rigor científicº (pode:—saia, deste ponto de vista, examinar
ºs estatutºs respecrives da, sociºlºgia e da. economiª As
aparências são sempre pela aparência. A verdadeira ciência, na
maior parte das vezes, tem má aparência- e, para fazer avançar a
ciência, e preciso, frequentemente, ce—rrer e riscº de não se ter
todºs as sinais exteriores da cientifieidade (esquece—se que e
fácil símulá—lclsl Entre outras razões, porque as meia—hábeis se
prendem cum as víaíações aparentes dos cânones da «mandala—
gía» elementar que, por razões de certeza. positivisrs, eãn
Íevadús a. encarar come «wrms» e cºmo efeitos da inépcia ou da
ignorância das úpçõcs metodológicas firmadas na recusa das
Facilidades da «merendeira-gia».
Será, escusadº dizer que & reflexividade ºbsessiva, que e &
fundição de uma prática científica rigorosa, nada tem de
comum com o falsº radicalismo das discussões acerca da ciência
CAPFTULG :! 43
que atualmente ae multiplicam. (Fernao naqueles que introdu—
zem & velha crítica filosófica elaa ciências sociais, mªis ou
menos ajosracla aos gosms actuais, no mundo das ciências
sociais. americanas,. cujas. defesas imonirárias foram .miquíladas,
paradoxalmente, por Várias gerações de «metodologia» positi—
visra). Entre nº.-559.5 críticas, e preciso dar um lugar à. parte
àquelaã que vêm da etnomerodologia, embora, em certas
formulações, elas se confundam com. 3.5" conclusões dos maia
irresponsáveiâ leitores dox filósofos franceses contemporânea,
que reduzem os discursos científicos & escrarêgies retóricas &
respeito de um munelo reduzido, ele próprio, ao esraclo de
texto. A análise da lógica prática e das teorias espontâneos, ele
que ela se. arma para dar sentido ao mundo, não tem o reu Fim
em si mesma —-— como aliás, a crítica das pressuposições. das.
análiSes da sociologia corrente fia—reflexiva), mbretude em me—
téria de estatísricas; ela É um momento, perfeitamente decisi—
vo, da ruptura com as prESSupúsiçõts do senao comum, vulgar
ou douro. Se & predio objecriwmr os esquemas do aereo prático,
não É para provar que a sociologia nunca poderá ser mais que
um ponto de viera acerca elo mundo, nen-1 mais nem menos
Científico que outro qualquer, mas para âubrmir & razão cientí-
fica à razão prática, para impedir que esra chegue & contaminar
aquela, para evitar que se trate como insrmmento ele conheci-
mento aquilo que deveria ser objecto de conhecimento, quer
dizer, tudo o que faz o sentiria prático do mundo social. os
pressupoãros, os esquemas de percepção e de compreensão.
Tomar para obiecro o senso comum e a experiência inicial do
mundo social, como adesão não-rética & um mundo que não
está constituído em mª,-#m perante um auieiro, & uma maneira,
precisamente, de evitar o ser apanhado no objecto,. de trans.-
portar para a ciência todo :: que rumo po.—“rim! & experiência doxica
do mundo social, quer dizer,, não só & consrrução pré-
—ron5rruída deste mundo. mas também os esquemas cognitivos
que esrão na origem da eonsrmção dem imagem. E os ernome-
todólogos que se limitam à doscrição desta experiência, irem ao
interrogarem acerca das condições &ociais que a tornam “posaível
—"—— quer dizer, a adequação das estruturas sociais e das eatrutu-
ms mentais, das estruturas objectivas do mundo e das estrutu—
44 .ÉN'IÍRÚDUÇÃU rªl UMA SDCIÚLDGM REFLEXIVA

ras cognitivas por meio das quais ele & apreendido —, não
fazem mais que reconduzir as interrogações mais rratiirionais da
filosofia mais tradicional sobre a realidade da realidade. E para
medir os limites das aparências de radicalismo que o seu
populismo epistemológico (ligado a reabilitação do pensamento
vulgar) por vezes lhes confere, basra por exemplo observar que
eles nunca viram as impiimçríer “peiírimr da experiência dérmica do
mundo que — enquanto aceitação fundamental, situada. fora do
alcance da critica, da ordem esrabelerida -— e" o fundamento
mais seguro de um conservadorismo mais radicaI relativamente
àquele que tem em ViSta inataurar a eríedrixirz política (como
deita tetra & de direitaª“).

Bartók ,irirrd e [enxertia

O exemplo que acabo de dar,. com a noção de prejirnie, e'


apenas um caso particular. De facto, é toda uma tradição douta
da sociologia que é necessário por constantemente em dúvida., e
da qual há que desconfiar incessantemente. Daí,, esta espécie de
darràie àimf a que todo o sociólogo digno deste nome escá
constantemente exposto: sem os insrrumentos de pensamento
oriundos da tradição douta, ele não passa de um amador, de
um aotodidacta, de. um sociólogo apontar—mo — e nem sempre
o mais bem colocado, tão evidentes são? frequentemente, os
limites da sua experiência social —, mas estes instrumentos
fazem que ele corta. um perigo permanente de erro. pois se
arrisca. a subsrituit a douta ingénua cio Senso comum pela dexa
do senso CÚHIIIIH douto, que atribui o nome de ciência a uma
simples transcrição do discurso de senso Cºmum. É aquilo a
que chamo o efeito Diafoims: observei frequentemente, sobre-
tudo nos Estados Unidos., que, para se compreender verdadeira-
mente aquilo de que este ou aquele sociólogo fala, e preciso (e
basm) ter lido o New Yer—ªê Timer da semana ou tio mês
anteriores, que ele teo-aduz nessa terrível linguagem-barreira,
nem verdadeiramente concreta nem verdadeiramente abstracta,

' «dexa ªrtrite et de dmitew, no texto original. (N,. TJ.


CAPÍTULD H 45
que lhe e" iminente.. sem. ele mesma saber, pela sua formaç㺠e
pela censura de e;;eàiisàmee: secieiâgien.
Mas não é Fácil Escapar à alternativa da ignúfância desarma—
da de aumdidacca deepmvido de inserume-nms de cunetmçãe e
da meiaªciência de meiº—eientisra, que aceita sem exame cate—
gerias de percepç㺠ligadas a um estada de mundo deum. das
conceitua! semimnsrruides. mais eu memes climctamente tirada;
de mande meia], Nunca se experimenta tãD bem a cºntradição
cume no casº da etneiegia na qual, em eensequêneia da
diferença das tradições culturaie e de érmngemeer dai rESultantE
se n㺠pode viver, acme no ease da sociologia, na iiusãe da
compreensão imediata. Por exemplº, deve cºnfessar que se,
antes de ir «para o terrenº», eu não tivesse lide as antrºpólº—
gºs, não me teria talvez apercebido da diferença radical eatabe—
lecida pelos meus infermadares e a própria linguagem que
empregavam entre a prima paralela. e a prima cruzada. Nesze
casa, ou mãe se vê nada,, eu ent㺠fieaªae sujeito às categºrias. de
percepção eu ans mºdes de pensamento (e iuridismn des
emóleges) recebidas. dos antepaseades — que, a maior parte
das vezeã, os receberam de uma entre tradição deuta, come a
do direito rumam). iaeo favorece uma. e5pécie de .:emermderime
Min.—fmmf, que leva a reprºduzir & dir-xa duuta.
Daí, & antinnmia da pedagogia da pemuiaa: ela deve
tranâmitii- ao mer-mo tempo inserumentes de censrruçãe da
realidade, prºblemática-5, eoneeitee, técnicas, métodos, e uma
formidáve! atitude critica, uma tendência para pôr em causa
ESSES instrumentos -——— por exemplo, as ciassifitações, as do
INSEE Du outras, as quais nem tºmbaram dvD'CÉui nem, saíram
completamente armadas da realidade. Escueada será dizer que,
como qualquer mensagem, esta pedagugia tem probabilidades
muito desiguais de aer bem sucedida, segundo as atitudes
seciaimente constituidas des descinatáries: a eituaçâe mais
favorávei é a das peamas que reunem uma cultura de'-uta e uma
certa revºlta contra essa cultura -— ligada, a maiºr parte das,
vezes. a uma experiência estranha ae universe cult-e, que Faz
com que se mãe deixem enganar — eu, muito simplesmente,
uma íbrma de resisrência perante a rePresentaçãe assepsiada
e des-reulimdn di:- mando social Pfúpúãta pela diacurso. Mial-
46 :wraoooçào A uma SDCIÚL—ÚGM REFLEXWA

mente dominante em sociologia Penso em Aaron 'Cicourel,


que tivera, na juventude, convivência bastante com os «de-
linquentes» dos riram de LDS dngeles para ser espontanea-
mente levado a pôr em dúvida a repreaentação oiiciai dos
«delinquentes»: foi sem dúvida esta Familiaridade com o uni-
verso estudado que, associada a um born conhecimento da
escatíatica, o. incitou a pôr às eatarí'scicas da delinquência
queratões- que nenhum preceito metodológico teria podido ge»
rar.
Entre os obsráculoa com os quais deve contar uma verdadei-
ra pedagogia da pesquisa, há., antes de mais. a pedagogia
corrente dos professores Vulgares, a qual reforça as atitudea
conformiStas inscritas na propria, lógica da reprodução escolar e
também, como já disse, na impossibilidade de «ir aa proprias
coisas» sem qualquer insrrurnento de percepção, É minha
convicção que o ensino corrente da. sociologia e at produções
intelectuais saídas desse ensino e condenada a voltar a ele,
«constituem hoje o principal obstáculo que se levanta ao desen-
volvimento da ciência social. É assim por muitaa razões.,
Lembro apenas uma, que já por vezes evoquei: o ensino
perpetua e caaoniza oposições fitticias entre autores (Weber)
Ill/Iane, DurkheÍmÍMarx, etc.), entre métodos (quantitativo—
,.r'qualitativo, macro-sociologialmitiro—sociologia, eatruturafhis—
tória, etc.) entre conceitos, etc. Se, como todas as falsas
sínteaes de uma teoria sem prática e todas as pre-vençõee
eaterilizantes e inúteis de uma «metodologia»- sern conceitos,
estas operações de catalogação são muito úteis para afirmarem a
existência do pmfeaaot, colocado assim acima das div'ieoes por
ele descritas, e sobretudo como írjfemm de defend contra os
progressos verdadeiros da ciência, que ameaçam o falso saber
cios profeaaorea, que elas límcíonam. A5 primeiraa vítimaa são,
evidentemente,, os estudantes: com excepção de atitudes espe—
ciais, quer dizer,, salvo se forem particularmente neem, eles
estão condenados a deixarem sempre uma guerra científica ou
episremológica para tras, como os professora, porque, em vez
de os fazerem começar, como deveria ser, pelo ponto a que
chegaram os investigadores mais avançadoa, fazem—nos _percot'ª
r—er constantemente dominina já conhecidos, em que repetem
caef'trem ” e?
eternamente as batalhas de passado —-—— & eia-5a uma das funções
de culto escalar dna classica-5, inteiramente contraria a uma
verdadeira hisrória crítica da ciência.
Guataria ainda, meemú cºmenda :) riscº de parecer levar ao
extreme: a dúvida radical, ele evucar as formas Unaí:".r perversas
que D pensamenm preguiçoso pode aasumir em seciúlcngia:
pens-n, por exemplo, nc: caso, bastante paradoxal, ele um
pensameme crítica, comº e- de Marx, peder fun—rimar em
escada de impenaaclo, n㺠só nos cérehrús dos investigadores
“ª““ e iam quer se afirmem adeptos de Marx, quer cu combatem
m mas também na realidade pºr eles regismda em forma ele
pura atestaçãu. inquirir, sem mais nem menºs, acerca das
classee ai:-ciais, sºbre a sua existência ou nan-existência, sobre O
seu númem e e seu carácter antagoniara ou nao-antagonista,
cornci se faz com frequência sobretudo cem a intenç㺠de se
refutar a temia marxiata, & tomar para Objecto, sem ae- saber, as
marcas que os efeitos cxercicius pela recria de Marx deixaram na
realidade, mbmtuclú através dos esfºrços dna particles e dua
sindicatºs que se dedicaram a «elevar a cn—nsciência de ciar-,se».
O que acaba de dizer sabre e efeito de teoria que a teeriza
mari-sina das classes pôde exercer :: de que a «cºnsciência de
classe» empiricamente medida. é, em parte, prndurn, constitui
apenas um caac: particular de um fenómeno mais geral: a
exiatência de uma ciência secial e de práticas- snciaia que a
invºcam. pºr cauç㺠— cºm:: as sondagens de opinião, os
conselhos de cºmunicação, a. publicidacle, etc., mas também .a
pedagogia eu mesma, cada vez mais. a acç㺠dos húmens
púliticns ou das alma funciºnarios, cie-5 homens de negócios eu
das jnrnalisrras, etc. --—— faz cum que haja cada vez mais agentes,
na própria sein de mundu scncial1 que fazem entrar conheci—
mentea [loures, senai: científicos, na sua prática e, sobretudo,
neu seu trabalhe: de proàuç-ío eu de manipulaç㺠elaa repreaenra—
ções dc: mundo sºcial. De mºdo que, cada vez cam mais
frequência, a ciência arriscarse a regisrar, sem saber, na “predn—
res de práticas que invocam a seu favor a ciência—__
Enfim, mais subtilmente, a submissão aos habitus ele
pensamento, ainda que Sejam as que, em outras circunstâncias,
piiclem exercer um Fnrmiclavel efeitn de rupiura, pºde conduzir
43 INTRUDUÇÃD A UMA EÚCIDLÚGIA REFLEXIEÉ

rambém a fºrmas inesperadas de ingenuidade E Eu nãe hesita—


rei em dizer que e marxisme, nos seus uses ser.-isis mais
eumunsi constituí, frequentemente, a Farma per excelência,
por ser a mais insuspeira, de pré—censrruíde deum. Supºnha—
mos“ que se pretende estudar «a ideia?—agia juridiCa», eu «reií—
giesa», eu «preFesseralao»ª O termo ideelegia pre-rende marcar a
ruptura com as representações que os próprios agentes querem
dar da sua própria prática: ele significa que mãe se deve remar à
letra as suas declarações, que eles tem interesses., etc.; mas, na
sua violência ieenoelasra, ele faz esquecer que a deminaçãer
& quai & precise escapar para e ebjecrivar se se exerce porque
& ignorada cerne ral; e rerme ideelegia significa também que. &
precise reintreduzir ne medeíe científico e faero dela represen—
raçãb objecriva da prática dever ter side cºnstruída centra a
experiência inicial da prática ou, se se prefere, o faereu de a
«verdade objectiva.» desta experiência ser inacessível à pró-pria
experiência. Mars permite que se arrumbem as pºrtas da dexa,
da adesão ingênua à experiência inicial; mas, pºr derrás da
perca, há um alçapão, e u meias-hábil que se fãs no senso
cer-num doure esquece-se de mirar à experiência inicial que
a construção douta deve ter paste em susperise. A «ideeiegia»
(a que seria preferível de Future dar entre meme) não aparece e
mãe se assume comer tal,. e e deste desmnheei »—enre* que lhe
vem a sua eficácia simbóíiica. Em. resume, nã . basta remper
com e sense en:-mem vulgar, nem com e sense comum cie-um na
sua forma eerrerire; & precise remper com as instrumentes de
ruptura que anulam a própria experiência centra a. qual eles se
construiram. E isto para se construírem madeiras mais temple—
tas, que engiebem tantº a ingenuidade inicial cama a verdade
objectiva por ela dissimulada e à qual, por narra fúrma de
ingenuidade, se prendem es mein—hábeis, aqueles que se
julgam astums. (Não posso deixar de dizer aqui que D prazer de
se sentir asture, desmisriíicado e desmistificadat, de brincar
ans desencantadnres desenganades, tem boa parte em muitas
vocações sociológicas“. E D sacriFi-zio que e método rigeroso
exige & ainda maiden").

' nmêeonnaissanee» (mais pmpriameme n㺗recenhecimenm) (N'. T.E.,


CAPÍTULO nr 49
Tratando—se de pensar o mundo social, nunca se corre o
cisma cie exagerar & dificuldade ou as ameaças. A'Força cio
pré-construido está em que, achando-se inscrito ao mesmo
tempo nas coisas e nos cérebros, eie se apresenta com as
aparências da evidência,_ que passe despercebida porque &
perfei'rrrmenre natural. rªr ruptura &, com efeito, uma comer,-rãs
da afinar e pode—se dizer do ensino da pesquisa em sociologia.
que ele deve em primeiro lugar «dar novos olhos» como dizem
por vezes os filósofos iniciáticos. Trata-se de produzir, senão
«um homem novo», pelo menos, «um novo olhar-», um 5354;-
Iecraírígicm E ísso não é possível sem ums. verdadeira conversão,
uma ”refrigera, uma revolução mental, uma mudança. de roda a
visão cio mundo social.
Aquiio— & que se chama, a «ruptura epistemológica», quer
dizer, o pôr—em—suspenso as pre-consrruções vulgares e os
princípios gerairnerrre aplicados na realização dessas construu
ções, implica uma ruptura com modos de pensamento, concei-
tos, métodos que têm a. seu favor todos as aparências do IMI“
comem, do bom senso vuígar e do bom senso cientifico (tudo o
que a atitude positivisra dominante honram reconhece). Notes
compreenderão, sem dúvida, que. quando se está corrmº,-ricirio1
como eu, de que a primeira tarefa cia ciência social — por—-
tanto, do ensino de; pesquisa em ciência sociai — é a de
instaurar em norma fundamental cia, prática cientifica :! conver—
são do pensamento, a revolução do olhar, a ruptura com o
pré—construido e com tudo o quer na orciern social — e no
universo douro M o suscenca, se seja condenado & ser—se
constantemente Suspeito de exercer um magisrerio profético e
de pedir uma conversão pessoal.
Dado que tenho uma consciência muito clara das contradi-
ções propriamente sociais do desígnio científico que tentei
descrever, vei—mnie frequentemente obrigado a perguntar a
mim próprio, perante um trabalho submetido à minha aprecia-
ção, se cievo procurar impor a visão crítica que me parece a
condição da construção de um verdadeiro objecro científico,
entregando-me & uma crítica do objecro pré-construído que se
arrisca & apareíer como uma violência, uma espécie de anexa—
ção. A dificuicimie c? tanto maior quanto & certo que, em
$U INTRODUÇÃÚ A UMA SDCIDLÚGM REFLEXWA

ciências sociais, a origem do erro reside quase sempre, pelo


menos segundo a .minha experiência,, em atitudes socialmente
constituídas, e também em temores aociaie, em fantasmas
sociais — de forma que é muitas vezes dificil enunciar publica-
mente um juízo crítico que, “por meio das práticas doutas,
atinja de Facto as atitudes mais profundas, tão estreitamente
ligadas à origem. social, ao sexo, e também ao grau. de
consagração escolar anterior: penso, por exemplo, na humilda—
de excessiva (mais provavel nas raparigas que noa rapazes, nos
investigadores de origem «modesta» m- como se diz por vezes
—— e escolatmente menos consagrados, etc,) que «.=:- quase tão
nefasta como a arrogância (a PDStLlra equilibrada implica, em
meu entender, uma combinação, muito improvável, de alguma
ambição, que leve a ver em grande, e de uma. grande modeãtia,
indispensável. para se penetrar no pormenor do objecto), E o
director de pesquisa, se. quisesse cumprir verdadeiramente a sua
Função, deveria desempenhar por vezes o papel, efectivamente
perigoso e em qualquer caso injustificável, de «director de
consciência» ,
De facto, a ajuda mais decisiva, que a experiência permite
que se dê ao investigador principiante, & a que consiste em
incita—lo & ter em consideração, na defi nição do seu proiecto, as:
condições reais da realização, quer dizer, os meios, sobretudo
em. tempo e em competências específicas, de que ele dispõe lem
especial., a natureza da sua experiência social, a. formação que
recebeu) e também as poasibilidadea de aceaso a informadores e
a informações, a. documentos ou a fontes, etc. Muitas vezes, é
ao ao cabo de um verdadeiro trabalho de socioanálise que se
pode realizar o casamento ideal de um investigador e do seu
«objecto», por meio de toda uma série de fases de sob-reinvesti-
mento e de desinvestimento.
A, sociologia da sociologia, em forma muito concreta de
uma sociologia do sociólogo, do seu projecto cientifico, das
suas ambições ou das suas demissões, das suas audácias e dos
seus temores, não e uma inutilidade serrrirnenralª' ou uma
espécie de luxo narcisista: a tri-mada da tªomtiéªocio das atitudes

* mãuppiement d'âmew no texto original (N, T.).


espiras ” 5 1
favoráveis uu desfavoráveis que estão assaciadas às Suas camac—
risricas sºciais? escolares ou sexuais, da uma probabilidade, sem
dúvida limitada, de actuar sºbre essas atitudes. Cc:-mu a sabe-
doria, segunda as Esréicos, a sºciologia da sacielrrgia nada
pode em relação ati primeiro movimento, mas permite que se
cmnttole D segunda. .. Os artifícios das pulsões sociais são
inúmeros, e fazer a seciolc-gia dc- seu própricz universo pude ser
a maneira mais perversa de satisfazer, por caminhos subtil—
mente desviados, essas puis—Eres reprimidas. Por exemplo, um
eat—teólºgº que se fez saciólcpgc» pÚdE, quandu começa a estudar“
tas teólúgns, preceder a uma espécie cie regressão e põr-se a Falar
cºmo reólºgs eu, piar, servir-se da secielagia para acertar as
suas contas de trai-lageª O mesmo se passará com um ex-filósci-
fu, que se arriscaria sempre- a encontrar na sociologia cia filºsuiia
uma maneira de prºsseguir guerras filosóficas por entras 1irias.

A câycri z-wfãa particiªmzir

àquilº a que chamei a sãjerrimçãa participante (e que. é


preciso não cºnfundir com «a ebservaçãe participante», análise
de uma ._ falsa -*—-—— participaç㺠num grupo esrranhcu] & sem
dúvida e exercício mais difícil que existe, parque requer a
ruptura das aderências e das adesões mais prufundas e mais
inconscientes, justamente aquelas que, muitas vezes, cºnsti—
tuem t) «interesse» de próprio obi—ecra escudadú para aquele
que e estuda, tude aquile- que ele. menas pretende conhecer na
sua relaçãcr cem c- abjecte que ele pintura conhecer, Exercício
mais dificilr mas também cr mais necessária parque, cama
tEntei fazer em Hama afastam“, 0 trabalho ele ebjecrivaçãú
incide neste casa sobre um ebjectc: muito particular, em que se
acham inscritas, implicitamente, algumas das mais puderam
determinantes sºciais dºs próprios princípios da apreensão de
qualquer ubíectu pºssível: pºr um lado, as interesses específicºs
assºciados à pertença ao campe- universitâris e à acupaçãs de
uma posiç㺠particular nesse. can-ipa; “e, par ÚUU'D lado, as
categºrias socialmente consrituídas da. percepção de mundo
universitárin :: dÚ' mundu sºcial. essas categorias do entendi—.
32 !NT'RÚDUÇÁÚ A uma mcmmcm REFLEXWA

mente prefessnral que, cºmº diese há peucn, pt:-dem estar


envulvidas numa estetica (atravêa da arte camvencicmah eu
num epistemºlogia (atravêã da, episremnlugáa cin ressenrímenm
que, fazendu da necessiàade virtude, valºriza sempre as peque—
nas cautelas de rigor pesirívisra centra todas as ermas de
audácia cientíFlca).
Sem querer explicitar aqui todºs ces ensinam—entes que uma
suciulcgia reªexiva pºde retirar deita análise, game.-tria de
indicar somente um dos FTESSLIPDSIÚS mais eãcnndídús do
projecto científico, que tornei claim, crlmpeíicíc: pela própria
trabalho de inquérito sobre tal (Ibiam, cum & censequêncía
imediata — prova de que & snciúlúgia da sncinlngía nit.) & um.
íman — de um melhor conhecimenm da própria nbjecrcz. Num
primeiro tempo, tinha. conãrruídr) um mudelu du aguça uni—
v—ersitárie, come trapaça de posiçõeâ ligadas pur reine-ões de ferrça
específicas, cºmº campo de forçam e cumpra de luma para
danse,-ruan ou t'ransfúrmar ear-re camp-(> de furcaa. Pnáeria ter
Emda- pnr aí, mas escava de prevenção pelas nbservações que
em outro tempra, nu decurso das meus, trabalhos de etnulngím
tinha mdiclo faxer acerca. río «epistemnccnrrismn» asmciaãc à
Frescura dºuta, Além diser). c: mal—catar que em mim mascítzwalP
no mumenm de pubiiºcaçãu, cv sentimentº de ter cnmeridu uma
espécie de dealealdade, erigindúame em ebaermdor ele um ir:-ge
que eu cºntinuava a jºgar, obrigºu-me & mirar eu meu
projecto, Senti pais de maneira particularmente viva a que
escava implicada na pretens㺠de adaptar a pºsição de Lab-serva—
dnr imparcial, ae mesmo tempn omnipresenre e ausenge, porque
dissimulada pºr detrás da impermnaiidacíe absuluta dos pmcedi-
mentes., e capaz de assumir um pente de vime quase divina
acerca das ceiegas que sãn também cencmrenres. Úbjectivar a
pretensãu à posiç㺠reaIenga que, cerne hai puucn disse., leva
a Fazer da sociolúgia uma arma nas lutas nu íntericar du campi: em
vez de fazer dela um instrumenm de cunhecimenm dr.-5535 lutas,
pºrtante (iu próprio Sui—eim mgnoscente o quai, faça a:) que fizer,
nãn deixa. de estar nelas envolvida, & cºnferir & ai mesmo os
meias de reintmduzir na análise a cºnsciência das preãsupusms e
dºs precºnceítús, assncindns ao ponto de vi:-ara lºcal e lºcalizada
daquele que conscrói () ezipaço dm pºntas de vista-.
semªforo II as
e. consciência dos limites ele objecrivsção objectivists
levou—me & descobrir que existe no munclo social, em especial
no mundo universitário, tºda uma série de insrituições que
produzem o efeito de tornar aceitável a distância entre a
verdade objectiva e a verdade vivi—da daquilo que se fez e
daquilo que se e «— tudo o que os suieitos objectivedos
pretend-em íembrst quando opõem à análise objetrivista que
«isso não se passa ess-im»; Encontram—sm por exemplo, neste.
campo particular, os sistemas ele defesa colectivos que ,_ em
universos em que cada um fora peio monopólio de um mercado
no qual não há como clientes senão concorrentes, e em que e
mas é por consequência muito tiota — permitem que catia um
se aceite a si mesmo aceitando os subterfúgios ou as gratifica—
ções compensatórias oferecidas pelo meio. É esta dupla verde—
de, objecrivs. e Subita-crivo, que constitui a ver-dade completa do
mundo social,
Gostaria de evocar, embora hesite um pouco em i'szê—lo, a
titulo ãe último exemplo, uma exposição apresentada aqui
mesmo e respeito de uma sessão eleitoral na televisão, objecro
que, na. sua aparente facilidade — tudo se dá, de imediato, &
intuição imediata —' reúne todas as dificuldades que um
sociólogo pode encontrar. Corno passat pete. eiém de uma
descrição inteligente., mas sempre sujeita a «fazer pleonasmo
com o munéios, como dizia Mallstmé? .É um grande perigo.
com efeito, dizer por outras palavras o que os setores tinham
dito ou feito, e destacar significações de primeiro grau (há uma
titatnatisscão de expeetetiss tio resulte—do, há uma luta entre os
participantes e respeite do sentido do resultado, etc.) das
significaçoes que são produto de intenções conscientes e que os
próprios actores poderiam enunciar se tivessem tempo para isso
e se não temessern por o seu jogo a. descoberto. Estes sabem
bem — pelo menos na prática e actualmente, com uma
frequência cade vez maior, de modo consciente — que, numa
situação em que o que está. em iogo & a imposição de represen-
tação mais Favorável da sua própria posição, a confissão pública
do fracasso, corno acto ele reconhecimento,, e de farra impossi—
vel; que não há, propriamente Falando, evidência universal dos
números e cia. sua sign'liiceção e que .a estratégia que consiste
54 INTRUDUÇÁÚ A UMA SOCIOLOGIA REFLEXIVA

em «negar a evidência» (52% & super-Eur & 43%), embere


aparentemente condenada ee insucesso, eenservs uma rerrs
velicíecie (05 X ganharam, mas es Y n㺠perderam; ns )(
ganharem, mas de mode menos aeenruede de que ele última
vez -— eu memes acentuado de que tinham previsto, etc.).
Esrerá de fecm aí e essencial? () preblema de torre põe—se
com uma Força especial, porque e analista EHC'Dntm ne objecto
cºncºrrentes & interpretaçãe do objectº que, frequentemente,
também .se apeíem mi autoridade de ciência.. Também se põe
de man-eira particularmente aguda parque, de modo diferente
de que se passa em. ºutras ciências, e simples deseriçãe, memes
eensrruíde ——- quer dizer! empenhada em restituir todas as
caracterísrices pertinentes e se essas —— nie rem () valer
intrínseca de que se reveste quando se trate de descrição de
uma cerimónia secreta entre es Hopi—s eu da sagraçãe de um rei
na Idade Média: a cena foi 1Mista e rempreerrdrda (em cerro nível e
até certº pente] per vinte milhões de especraderes e e ngiStD
Faz dela uma restituição que nenhuma transcrição positivista
pode uírrapssser eu mesmo tocar de perro.
De factº, só se pc:-de sair da serie indefinida das interpreta-
ções que se referem umas às autres «— e hermeneuta está
perante uma luta entre hermeneures que se batem pela. última
palavra, e respeite de um acontecimento eu de um resultado
— se se CÚHSCTUÍF reaímente & espaço dae reíaçães cabia-tivas
(escrurura) de que s㺠menifestaçãe as permuree cemunicacio-
neis direccamenre abservadss (interacção). Trata—se de apreen-
der uma realideâe multa, que. só se descºbre encobrindo-se,
que só se mestra enquanto facto: banal das interacções em que
se àissimuía & si própria. Que quer isto dizer? Temes diante. de
nós um eeniunre ele individuais, áesignades por nomes pró-
pries, e senhºr Paul Amer, jernalisre, e senhor Rene Remar-1d,
histerisder, e senher X, peíirúíege, etc., que trocar-n, cen-ie se
diz, paísvrss aparentemente passíveis de uma «análise de
discurso» e de que todas as «interacçõesai visíveis fornecem na
aparêneia todºs as inatrumenres de sua, própria análise, De
fecre, & cena que se represenra no palco, as estre-regras que es
agentes empregam para lia-ferem & meíhúr na Íura simbólica.
pele mºnopóliº da impesiçãn do veredictº, pele. capacidade
centram n 55
reconhecida de dizer e verdade a respeite de que esrá em jnge
nn debate, são a expreseân das relações de fet-ça nbjectivas entre
na agentes envnivides e, maia precisamente, mire nt reaper
diferentes em que eles estão implicados —-—' e em que ocupam
pesiçães mais- ou: memes eiewadesi Dire por ºutras palavras, a
interacção & a resultante- visível e puramente fennménice, da
intersecçãn dna campus hierarquizadnsi
O eápeçn da interacçãe funcinne come uma situaçãn de
mercado iinguísticn, que tem catactetísricas conjunturais cujos
principins podemos desraeer. Em primeiro lugar, é um espaçº
pré—cnnsrtuídn: a cnmpnsiçãn ar;-cial de grupo está antecipada-
mente determinada. Para compreender e que pode ser elite e
snbretudn e qee n㺠pc:-nªe rar dim nn palcn, & precise cnnhecer as
ieis de formação de grupº dns incutnres —— e precisa saber
quem & exªcluidn e- quem se exclui, A cf.-neura mais radieal & a
ausência-. E preciso pois considerar as taxas de representação (no
sentidn estatística e no sentidn serial) das diferentes categnrias
(sexi), idade, estudos, etc,), lego, ae probabilidades de acesso
ao local da palavra -———— e, depnis, as probabilidades de acesse a
palavra, meneurávei em tempus de expressãei Outra cemeterís-
rice ainda: 0 jornalista exerce uma farma-_ de dºminaç㺠(mn-=-
junrural n㺠escrutural) sabre um espaço de jogo que ele cens-
ttuiu, e nn qual ele se acha cnlncadn em sitnecãe de árbitro,
impnndn normas de «objectividade» e de «neutralidade»—
Mas nân se pede Ficar per aí. () espace de interacçãe & e
lugar da a-cruelizaçãn de intersecçãn entre ee diferentes campos.
05 agentes na sua luta para impntern e veredicto «imparcial»,
quer dizer, para fazerem recnnhecer a sua visão cnme ebjectiva,
dispõem de forças que dependem da eua pertença a campºs
Dbjectivamente hierarquizadns e da ana. posição nas campos
tesPEctivne. Existe, em primeiro lugar, n tampe politicnr ns
homens políticns, directamente implicados, na. jggo, pºrtante
directamente interessadns e percebidos cerne tais, eãn imediata—
mente percebidos como: juízes. e partes, Inge-, sempre suspeitos
de produzirem interpreta-çõea interessadas, enviesadas e, por
isso mesmº, desacreditadª. Eles ncuparn pneições diferentes na
camp-o peiíticn: estân- situades nesre eepeçn'_pela sua filiação
num. partido, mas também pele seu est-ature nesse particle, peie
56 ÍNTRÚDUÇÁÚ A UMA SÚCIÚIHG'M REFLEXIVÁ

sua notoriedade, local ou nacional, etc. Vem depois o campo


jornalístico: os jornalistas podem e devem adoptar uma retórica
da objectividade e da neutralidade (apoiando-se eventualmente
nos «politólogossl. Segue-se o campo da «ciência política.», no
interior do qual os «politólogos mediáticos» ocugi—am um lugar
pouco glorioso, mesmo que gozem de prestígio no exterior
(sobretudo junto dos jornalistas a quem se sobrepõem estrutu—
mime-nte). Logo depois, está o campo ele «marketing» política
com os publicitários e os conselheiros em. comunicação política,
que cobrem com justificações «científicas» os seus veredictos
aeerca dºs homens políticos. Finalmente, encontra-se o campo
universitario propriamente dito,, com os especialistas da histo-
ria eleitoral que se estmcializatam no comentário dos resultados
eleitorais. Tem-se assim uma progressão, desde os mais «empe—
nhados» até aos mais desligados estruturalmente e estatutaria—
mente: o universitário é aquele que como se dia, tem mais
«recuo», «distância». Tratando—st, como e o esse da sessão
eleitoral, de produair uma Erário: da sààtfitªiakds tão eficaz
quanto possivel, ele derem uma vantagem estrutural sobre
todos os outros,.
às estratégias discursivas dos diferentes actores, e em
especial os efeitos rerúricos que têm em vista produzir uma
fachada de objeCtividade, dependerão das relaçoes de força
simbólicas entre os campos e dos trunfos que & pertença a esses
campos confere aos diferentes participantes ou, por outras
palavras, dependerão dos interesses específicos e dos trunfos
diferenciais que, nesta situação particular de luta. simbólica
pelo veredito) «neutro», lhes são garantidos pela sua posição
nos sistemas de relações invisíveis que se estabelecem entre os
diferentes campos em que eles participam. Por exemplo, o
politólogo terá, como tal, uma vantagem em relação ao homem
político e ao jornalisra, pois se lhe concede mais facilmente o
crédito de obiecrividade, e tem a possibilidade de recorrer à sua
competência. específica, por exemplo, à história eleitoral que
lhe permite fazer comparações. Ele poderá aliar-se aos jornaliss
tas, cujas pretensões à objectividade reforça e legitima. O que
resulta de todas estas relações. objectivas, são relações de Força
simbólicas que se manifestam na interseção em forma de
CAPITULO H 5?
eat-ratégias retóricas: caras relações ÚbjEEtl'l-fªs determina-m oo
oasencial quero pode cortar a palavra, interrogar, rosponder fora
do que foi perguntado, devolver ao questoes, Falar longamente
sem ,ser interrompido ou passar por cima das intorrupçõos, etc”.
quem eorâ condenado & oxrrarégiao dr: denegação (inter—ESSES,
estratégias interessadas-* etc“), a recuar. do respostas rituais, &
formas osrorooripadas, orc. Soria preciso ir mais longe, r:
mosrmr como é que a aproonãão das eatruturas obieotivos
permito explicar o pormenor dos. dlocursos o das estratégia
rotorlcas, das cumplicidados ou dos antagonismos” dos
«golpes» dosfcrírlos E: bom Sucedidos, etc., em romrrouoª tudo o
que a análise do discurso julga que podo comprooorlor & partir
uni—camente dos discursos. !
Mas por que razão a. análise ér nesre raso, particularmente
difícil? Sem dúvida, porque aqueles que o soclologo pretende
objectiva são concorrentes pelo monopólio da objectívação
objectiva. De facto, o sociólogo,, segundo os objectos que
estudo, está, tªlo moãmo, mais ou mortos afastado doo actores. ::
das coisas. em jogo por ele observadas, mais ou menos dir-ecra—
moore envolvido em rivalidades com eles, maia ou menos
tentado, por conmguinro, & entrar no jogo do metadiscurso,
com a aparência do o objectivar. Quando, no jogo analisado, SE
trata, como aqui, do sustonrar um ”.criador-smp & respeito de
todos os outros discursos —— o do homem político que afirma
ter ganho, o do jornalista que declara Fazer uma exposição
obioctíva dos desvios, o do «politólogo» :: rápeciolista de
hísrárla eleitoral que têm a pretensão clr: fornecerem & corn—
preensão a explicação objecúva do rESultado apoiaorífo-se na
comparação dos (lesados E na análise das tondêncíaâ de evolução
—— quando so trata, numa palavra, do se Situ ._r mm:, acima do,
unicamento pola força do diorurso, ríº—so tentado a làzor uso da
ciência das estratégias que os diferentes actoroo aplicam, a Em
de fazerem triunfar & “sua, «verdade» para dizer :1 word-ade do
jogo, E para tríunfarom assim no logo. É ainda. a relação
objectiva entre a sociologia político. :: & «polirologia mediática.»
ou1 mais precisamente, entre as posições que observador &
observado ocupam nox rospocrivoa campos, objecrivamcnro hit:—
filFl]LllZª;lllÚS, our: comanda a por:::rpção do observador, sobretu—
ÍHIMIH. ,
as !NTRÚDUÇÁD A. UMA SOCIOLOGIA REFLEXWA

da im panda—ihr as rega-sitas reveladoras dos réus próprios twífd

A Dbjecrivação da relação do sociólogo cum a, seu objecrrz


&, como se vê bem ncsrr: casa, a condição da ruptura com &
propensão para invesrir no ºbjectº, que está sem dúvida na
origr-m do seu «íntererse» pelo abierto. É precisa, de certa
mudo, ter-sr: renunciadn à tentação de SE servir da ciência para
intervir no abiertº, para sr.- rsrar em Estado de operar uma
Objectivaçãú que n㺠Eia. & sãmples v'isãú redutora E partial Que
se padr ter,, na interior da fuga, de outrº jogador, mas sim a
viaãú gíbbal que“ Se tem de um jºgo passível de ser apreendido
como [111 porque af: saiu dele. 56 a sociologia da sociulngia -— f:
do snríálúga —-— pode dar um crrm domínio dos Fins sociais que
podem 5515511" na mira das fins científicas direcramrznre prosse—
guidm, A cbÍEcrivaçã-n participante, arm dúvíàa, :) cume da
arte sociºlógica, por pºuco realizável que Seja, só O é se se
firmar numa nbjectivaçãu rã-D complera quanta possível do
interª-se & Dbjecrivar o qual cará inscrito nº Farra ria participa—
çãº, é num pôr-em-susprnso desse interease E das representa-«
ções. que ele induz,

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