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ESPECIAL

REVISTA DEBATES EM ENSINO DEEDEQ


QUÍMICA – ISSN: 2447-6099

ESTUDO DE CASO NO ENSINO DE QUÍMICA


RELACIONADO À TEMÁTICA SEMENTES

Letícia Welter1, Mara E. F. Braibante2, Ângela R. Kraisig3


(welterleticia@hotmail.com)

1,2 e 3. Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

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RESUMO

Neste artigo apresentamos um estudo de caso que versa sobre os constituintes químicos
presentes em sementes, intitulado “Cultivo de sementes de Alceu”, e, além disso, analisamos as
implicações da sua aplicação no ensino de Química. O estudo de caso foi desenvolvido durante a
disciplina de Instrumentação para o laboratório de Química, do curso Química Licenciatura da
Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, e foi aplicado em uma turma da 3ª série do Ensino
Médio de uma escola da rede pública da cidade de Santa Maria, RS. Os resultados obtidos
indicam que o estudo de caso foi uma estratégia de ensino que auxiliou os estudantes na
aquisição de conhecimentos, na interpretação de textos, bem como favoreceu a tomada de
decisões, o trabalho em grupo e a escrita por meio dos relatórios.

PALAVRAS-CHAVE: Estudo de caso. Ensino de química. Temática sementes.

provided by Portal de Periódicos da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco)

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Letícia Welter: graduada em Química Licenciatura pela Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil.
Mara E. F. Braibante: Professora Titular do Departamento de Química da Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil.
Ângela R. Kraisig: Doutoranda do PPG em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde, Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil.

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CASE STUDY IN CHEMISTRY TEACHING RELATED TO


THEMATIC SEEDS

ABSTRACT

In this paper we present a case study about the chemical constituents present in seeds, entitled
"Cultivation of seeds of Alceu", and, in addition, we analyze the implications of its application in the
teaching of Chemistry. The case study was developed during the discipline of Instrumentation for
the Chemistry laboratory of the Licentiate Chemistry course of the Federal University of Santa
Maria - UFSM, and was applied in a 3rd grade high school class from a public school in the city of
Santa Maria, RS. The results indicate that the case study was a teaching strategy that assisted
students in acquiring knowledge, interpreting texts, as well as favoring decision making, group
work and writing through the reports.

KEYWORDS: Case study. Teaching of chemistry. Thematic seeds.

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1 INTRODUÇÃO

Assim como o ensino de outras Ciências, o ensino de Química


tem se mostrado muito tradicional, pois os estudantes não
compreendem o motivo de estudá-la, tão pouco seus conceitos da
forma que normalmente são transmitidos. Visto que a Química é parte
integrante do nosso cotidiano, é importante a compreensão dessa
Ciência por parte dos estudantes e o uso da mesma para a solução de
problemas reais (FARIA, 2014). Neste trabalho, discutiremos sobre a
utilização do método de estudo de casos no ensino de Química,
relacionado à temática sementes.

O método de estudo de casos, é uma variante do método


Aprendizagem Baseada em Problemas ou Aprendizado Centrado em
Problemas, também conhecido como Problem Basead Learning (PBL).
Esse método teve origem na Escola de Medicina da Universidade de
McMaster localizada na cidade de Ontário no Canadá, no final dos
anos sessenta e logo se difundiu por faculdades de medicina de
diversos países (SÁ; QUEIROZ, 2009; SÁ; FRANCISCO; QUEIROZ,
2007; PAZINATO; BRAIBANTE, 2014).

A principal característica do método de estudo de casos é que o


mesmo está baseado na participação ativa do aluno, o qual é o
responsável pelo seu próprio aprendizado. Por isso, o estudo de caso
consiste na utilização de estórias sobre situações que são vivenciadas
por pessoas, apresentando um problema, que deve ser solucionado.
Para que os alunos possam promover a solução do problema, os
mesmos precisam estar familiarizados com o contexto envolvido na
estória, identificar, definir e apresentar uma solução para o mesmo (SÁ;
QUEIROZ, 2009).

Além disso, este método busca promover o contato direto com


problemas reais, com o intuito de estimular nos alunos o
desenvolvimento do pensamento crítico, sua habilidade de resolução
de problemas e a aprendizagem de conceitos da área em questão.

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Para que possam ser utilizados estudo de casos no ensino, é


necessário que o professor tenha acesso a casos prontos ou que ele
mesmo produza. Após o processo de produção dos casos, a etapa
posterior é a formulação de questões a seu respeito, sendo que as
mesmas devem ser elaboradas considerando os objetivos esperados
com a aplicação do caso: os conteúdos científicos que serão
estudados, as habilidades, as atitudes que serão desenvolvidas e
outros (SÁ; QUEIROZ, 2009).

O estudo de caso apresentado neste trabalho é referente à


temática sementes. A escolha dessa temática foi devido à mesma fazer
parte constantemente do nosso cotidiano como, por exemplo, na nossa
alimentação. Optamos em utilizar o método do estudo de caso, pela
possibilidade de suscitar debates e discussões entre os estudantes,
estimulando a criatividade e a tomada de decisão.

Desta forma, o objetivo deste trabalho é apresentar um estudo de


caso referente à temática sementes, bem como analisar as implicações
da sua aplicação no ensino de Química. O estudo de caso foi
elaborado no primeiro semestre de 2017, na disciplina de
Instrumentação para o Laboratório de Química, a qual faz parte da
matriz curricular do curso de Química Licenciatura da Universidade
Federal de Santa Maria, RS.

2 A TEMÁTICA SEMENTES E SUA RELAÇÃO COM A


QUÍMICA

As sementes são o princípio de tudo o que se cultiva, por isso é


importante que os estudantes percebam a sua importância, como, por
exemplo, na nossa alimentação. Dessa forma, elas estão presentes na
vida cotidiana dos estudantes, os quais muitas vezes não conseguem
perceber sua importância para nossa vida, pois é a partir do cultivo na

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lavoura que ocorre a produção e a colheita, chegando até a nossa


mesa como forma de alimento.

Entretanto, pode-se perceber que esse alimento, muitas vezes,


chega até a nossa mesa em sua forma “original” (forma final da
semente para consumo humano passando por alguns processos
químicos e físicos sem a modificação de sua estrutura), por exemplo:
feijão, arroz, linhaça, entre outros.

Porém, há outros alimentos oriundos das sementes que também


fazem parte da nossa alimentação, mas apresentam-se de forma
diferente, pois estas passam por processos de industrialização em que
não é possível identificar a forma “original” da semente, por exemplo:
farinha de trigo, derivada da semente de trigo, os óleos vegetais
derivados das sementes soja e de girassol, entre outros.

Neste sentido, a semente é o órgão que apresenta algumas


funções como a dispersão e perpetuação das plantas, essa é uma das
formas de sua sobrevivência de acordo com algumas condições
favoráveis e também desfavoráveis, tais como extremos de
temperatura (até certos limites) e de seca.
O termo semente é muito utilizado para descrever um óvulo
maduro e fecundado, possuindo um embrião que está em algum
estágio de desenvolvimento, material reserva e um envoltório protetor,
o tegumento (DAMIÃO FILHO; MÔRO, 2001).

Do ponto de vista funcional, as sementes de maneira geral, são


compostas por um tegumento (cobertura protetora), que delimita a
semente. Esta é constituída por camadas celulares originários dos
integumentos ovulares, um tecido meristemático (eixo embrionário).
Sendo a parte vital da semente, pois apresenta a capacidade de se
desenvolver e formar as raízes e o caule, originando a plântula em
condições favoráveis para se fixar no solo e fotossintetizar as
substâncias necessárias para o seu desenvolvimento.

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Já o tecido reserva que é constituído por endosperma, cotilédones


e, em alguns casos, pelo perisperma. É graças às substâncias que são
armazenadas ou acumuladas neste tecido que ocorre a germinação
fornecendo a energia necessária para se desenvolver e originar a
plântula, capaz de sintetizar as suas próprias substâncias orgânicas
por meio da fotossíntese (CORRÊA e SILVA, 2008).

Existe uma grande relação entre a química e as sementes,


podendo-se verificar por meio dos principais componentes presentes
no tecido reserva das sementes (endosperma), os quais são:
carboidratos, lipídeos e proteínas (CORRÊA e SILVA, 2008).

Neste sentido, quando existe uma predominância muito grande


de carboidratos em determinadas sementes, ela pode ser denominada
de amilácea. O mesmo acontece com as demais substâncias, quando
as sementes são denominadas de oleaginosas significa que as
substâncias predominantes são os lipídeos e as sementes que
apresentam em maior quantidade de proteínas são chamadas de
proteicas. Ainda podem ser encontradas em pequenas quantidades
minerais, vitaminas e outras substâncias (CORRÊA e SILVA, 2008).

3 METODOLOGIA

Este trabalho foi aplicado em uma turma da 3ª série do Ensino


Médio de uma escola da rede estadual de ensino, localizada na cidade
de Santa Maria/RS, e contou com a participação de vinte e dois
estudantes.

O estudo de caso, apresentado neste trabalho, foi por nós


elaborado e aplicado na oficina “A Química envolvida nas sementes”. A
elaboração da oficina foi estruturada com base nos três momentos
pedagógicos descritos por Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2009),
sendo eles: Problematização Inicial (PI), Organização do
Conhecimento (OC) e Aplicação do Conhecimento (AC).

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No primeiro momento pedagógico (PI), os estudantes são


desafiados a expor o que pensam. Dessa forma, é realizado um
levantamento das concepções dos estudantes sobre o tema em
questão, sendo que o principal objetivo é problematizar os conteúdos
científicos com as situações reais que os estudantes conhecem ou
presenciam. Por consequência, fazer com que o estudante sinta
necessidade da aquisição de outros conhecimentos que ainda não
possuem (DELIZOICOV, ANGOTTI e PERNAMBUCO, 2009). Dessa
forma, para Silva et. al. (2016), está é a primeira etapa da investigação
da temática, a qual se inicia pela coleta de dados e informações sobre
a realidade em que os alunos estão inseridos. Em seguida, são
identificadas situações significativas para o entendimento do tema
gerador em torno dos conteúdos científicos.

No segundo momento pedagógico (OC), são apresentadas


algumas definições e conceitos, sobre os conhecimentos selecionados
como necessários para a compreensão dos temas e da
problematização inicial, são sistematicamente estudados nesse
momento, sob a orientação do professor (DELIZOICOV, ANGOTTI e
PERNAMBUCO, 2009). É nessa etapa, que os educadores utilizam as
informações obtidas na problematização inicial para construir o
conhecimento cientifico (SILVA et. al, 2016).

O terceiro momento (AC) sugere a reinterpretação do problema


inicial, tendo como base os conhecimentos adquiridos na organização
do conhecimento (OC), sendo que várias atividades podem ser
desenvolvidas para que os estudantes estejam aptos a aplicar os
conhecimentos adquiridos (DELIZOICOV, ANGOTTI e PERNAMBUCO,
2009). Portanto, segundo Silva, et. al. (2016), é nessa etapa que as
atividades são inseridas com o intuito de perceber a aquisição de
conhecimento por parte dos estudantes.

Com base nos três momentos pedagógicos, o estudo de caso


intitulado “Cultivo de Sementes de Alceu” foi aplicado no terceiro

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momento da oficina temática. O caso em questão, narra à estória de


um agricultor, chamado de Alceu, que cultiva uma grande variedade de
sementes como: arroz, feijão, trigo, gergelim, girassol, linhaça, milho e
soja. Alceu viu a chamada de um programa de televisão sobre a
composição Química das sementes, porém não conseguiu assistir ao
programa, devido à falta de energia elétrica. Como Alceu é uma pessoa
muito curiosa e desconhece o que é a constituição química das
sementes questionou sua filha Maria Eduarda, que explica a ele o que
é a constituição química das sementes. Após uma discussão, ambos
ficam curiosos sobre os constituintes das sementes que Alceu planta e
resolvem pedir a ajuda de Flávia, que é técnica em um laboratório de
química, prima de Maria Eduarda. No Quadro 01, está representado o
estudo de caso completo.

Quadro 01: Estudo de caso completo


CULTIVO DE SEMENTES DE ALCEU
Num domingo de manhã, o sol ainda não havia aparecido na linha do
horizonte, o agricultor Alceu, em sua modesta casa no interior de Santa Maria
(RS) preparava a água para o seu chimarrão. Ao ligar a televisão, percebeu
que no momento estava sendo transmitindo uma propaganda do que seria
abordado no programa campo e lavoura. Essa notícia havia lhe chamado
atenção, pois seriam apresentadas informações sobre a composição química
das sementes. Alceu é agricultor e cultiva uma variedade de sementes, porém
desconhece o que é a constituição química das sementes. O programa mal
havia iniciado, e faltou energia elétrica na casa de Alceu. Muito curioso com o
que estava sendo transmitido, o agricultor resolveu perguntar para sua filha
Maria Eduarda sobre a constituição química das sementes.
- Filha, o que significa essa tal de constituição química das sementes? Vi a
notícia na televisão, mas faltou energia elétrica e não consegui assistir.
-Pai, constituição química das sementes se refere à composição, ou seja, do
que ela é formada, por exemplo, as sementes podem ser constituídas por:
carboidratos, lipídeos, proteínas, entre outras. Mas de que sementes você se
refere pai?
- Minha filha, estou me referindo as sementes que a gente planta na lavoura.
O arroz, feijão, trigo, gergelim, girassol, linhaça, soja e milho. Qual
constituinte que você mencionou está presente em maior quantidade nas
sementes que eu planto?
- Não sei te dizer pai, mas vou perguntar para a prima Flávia, que trabalha em
um laboratório como técnica de química.
- Está bem Maria Eduarda.
Maria Eduarda enviou mensagens por whatsapp para sua prima Flávia.

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... e a conversa continua.


- Vocês como ajudantes de laboratório de Flávia, precisam ajudá-la a determinar
qual(is) constituinte(s) químicos prevalece(m) nas amostras de sementes enviadas
por Alceu e sua filha. Com isso, realize os testes de laboratório e envie um relatório
para Alceu e sua filha com os constituintes químicos que vocês encontraram
presentes nas amostras de sementes.
Questões para guiar a elaboração do relatório:
-Como você identificou os constituintes químicos das sementes?
-Quais foram os constituintes químicos encontrados em cada amostra de semente?
Fonte: Própria.

Para resolver o caso, os estudantes foram divididos em 5 grupos


e cada um recebeu um “kit” de materiais necessários para a resolução
do mesmo, que continha um frasco de cada uma das seguintes
soluções: biureto e lugol, além de um suporte com vários tubos de
ensaio, conta gotas, copinhos de plásticos descartáveis, amostras de
sementes trituradas e uma folha de jornal.

Para a realização da atividade experimental, os estudantes


receberam algumas informações conforme Quadro 02.

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Quadro 02: Informações para a realização da atividade experimental.


ATIVIDADE EXPERIMENTAL- “Identificando os constituintes”.
Carboidratos (amido):
É caracterizado pelo uso do reagente lugol;
Proteínas:
É caracterizada pelo uso do reagente biureto;
Lipídeos:
Utilizaremos uma folha de jornal.
Fonte: Própria.
Estas informações foram fornecidas com o intuito de orientar os
estudantes na execução do experimento. Pois os estudantes não
sabiam quais os constituintes químicos que estão em maior quantidade
nas amostras das sementes e, tiveram que estabelecer critérios para a
sua identificação, como cor padrão e aspecto da folha de jornal.

O objetivo dessa atividade experimental foi fazer com que os


estudantes analisassem os resultados obtidos, formulassem hipóteses
e chegassem a conclusões. No termino desta atividade foi solicitado
aos estudantes que produzissem um relatório comentando sobre suas
observações experimentais. Para isso, duas questões foram
elaboradas e inseridas no final do caso, com o intuito de favorecer a
escrita dos mesmos.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

As respostas dos estudantes ao estudo de caso foram analisadas


com base nos relatórios produzidos por eles. Sendo que os mesmos,
para elaboração do relatório basearam-se nas duas questões
elaboradas e inseridas no final do caso, a qual auxiliou na escrita dos
mesmos.

Dessa forma, a partir da primeira questão elaborada, que diz o


seguinte: Como você identificou os constituintes químicos das
sementes? Verificou-se que quatro grupos mencionaram os reagentes
utilizados no reconhecimento do tipo de constituinte químico

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(carboidratos, proteínas e lipídeos). Porém, apenas um grupo


mencionou sobre a mudança de coloração dos reagentes ou do
aspecto da folha de jornal após a realização do teste qualitativo. No
relatório, esse grupo descreveu:

Grupo 1: “No tubo de ensaio colocamos biureto, se a cor do reagente


mudasse para roxo indica a presença de proteína (Soja, trigo, gergelim,
linhaça, feijão) e no copo colocamos lugol se mudasse a cor do reagente para
azul forte indica a presença de amido (Trigo, milho, arroz, linhaça e feijão) e
no jornal a presença de gordura foi identificada por meio de manchas (Soja,
arroz, gergelim, linhaça, girassol)”.

Os demais grupos fizeram menção aos reagentes e a folha de


jornal que foram utilizados para o reconhecimento dos constituintes
químicos. Os grupos descreveram o nome do reagente responsável por
reconhecer cada constituinte, bem como mencionaram que a folha de
jornal foi utilizada para identificar lipídeos (gorduras). Os relatos dos
grupos são os seguintes:

Grupo 2: “Para identificar os constituintes químicos das sementes foi utilizado


o lugol (para sementes com maior teor em carboidrato), o biureto (para
sementes que possuem maior teor de proteína) e o jornal (para sementes
com maior teor de lipídeos)”.

Grupo 3: “Lugol identifica o amido, biureto identifica as proteínas e utilizamos


jornal para identificar lipídeos.

Grupo 4: “Utilizamos os reagentes biureto e lugol para observar


respectivamente proteínas e amido e a folha de papel para observar os
lipídeos”.

Grupo 5: “Utilizando biureto, lugol e uma folha de jornal, em contato com as


sementes indicaram respectivamente se havia a presença de proteínas,
carboidratos e lipídeos”.

Com relação à segunda pergunta: “Quais foram os constituintes


químicos encontrados em cada amostra?” os estudantes deveriam
identificar em cada amostra de semente qual(is) constituinte(s)
químico(s) estavam presentes em maior quantidade, para isso,
realizaram a atividade experimental. Conforme o relatório, verificamos
que três grupos (1, 2 e 3) elaboraram tabelas para registrar os
constituintes químicos encontrados nas amostras de sementes e dois
grupos (4 e 5), descreveram o que observaram a partir dos testes.

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Os grupos que elaboraram tabelas conseguiram identificar a


maioria dos constituintes presentes nas sementes, porém, fizeram
algumas confusões, por exemplo, o grupo 2, mencionou que na
semente de soja havia proteína e lipídeos e, o teste previamente
realizado, foi identificado somente proteínas. Acreditamos que isso
pode ter ocorrido, devido à umidade do tempo, ou até mesmo podem
ter confundido com outra amostra, pois utilizaram o mesmo jornal para
todos os testes. Os estudantes do grupo 2 também confundiram a
identificação dos constituintes químicos presentes na linhaça e no
feijão, sendo que no primeiro mencionaram que havia carboidrato
(amido) e no segundo proteínas. Acreditamos que essa confusão pode
ter ocorrido, pelo fato dos reagentes utilizados já apresentarem cor,
dificultando se ocorreu ou não à mudança de coloração. A seguir
apresentamos o Quadro 3 elaborado pelos estudantes do grupo 2.

Quadro 03: Tabela elaborada pelos estudantes do grupo 2.

Reagentes
Amostras
Lugol Biureto Jornal Conclusões
Soja Tem lipídeo e
1 Negativo Positivo Positivo
proteína
Trigo Tem
2 Positivo Negativo Negativo carboidrato e
proteína
Milho Tem
3 Positivo Negativo Negativo
carboidratos
Arroz Tem
4 Positivo Negativo Negativo
carboidratos
Gergelim Tem lipídeos
5 Negativo Positivo Positivo
e proteínas
Linhaça Tem lipídeos
6 Positivo Negativo Positivo e
carboidratos
7 Girassol Negativo Negativo Positivo Tem lipídeos
Feijão Tem
8 Positivo Positivo Negativo carboidratos
e proteínas
Fonte: Própria.

O grupo 5, foi um dos grupos que descreveu as observações dos


testes realizados com as amostras de sementes, e conseguiu
identificar da melhor maneira os constituintes químicos que estavam

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presentes no maior número de amostras de sementes. O relato do


grupo 5 foi o seguinte:

Grupo 5: “Soja: possui proteína, identificado pela coloração roxa do biureto.


Trigo: possui carboidrato, identificado pela coloração preta do lugol. Milho:
possui carboidrato, identificado pela coloração preta do lugol. Arroz: possui
carboidrato, identificado pela coloração preta do lugol. Gergelim: possui
proteína e lipídeo, identificado respectivamente com as colorações roxa-
biureto e mancha do jornal. Linhaça: possui lipídeos identificado pela mancha
do jornal. Girassol: possui lipídeos, identificado com a mancha do jornal.
Feijão: possui carboidrato, indicado pela coloração preta-lugol”.

Por meio dos relatórios, percebemos que os estudantes


conseguiram de forma satisfatória resolver o estudo de caso, e que não
tiveram dificuldades quanto à interpretação do mesmo, sendo assim, os
casos elaborados são considerados “estruturados”, segundo a
classificação de Sá (2010). Ainda, percebemos durante a resolução do
caso, que os estudantes estavam motivados e que o trabalho em grupo
foi muito importante, pois permitiu a troca de informações entre os
mesmos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A oficina “A Química envolvida nas sementes” foi estruturada nos


três momentos pedagógicos. Dessa forma, a aprendizagem dos
conteúdos científicos se deu por meio da Química no seu cotidiano e
da participação ativa dos estudantes. Pois, o tema escolhido despertou
interesse e curiosidade por parte dos mesmos desde o início da
aplicação, questionando e querendo saber sempre mais sobre o
assunto.

A fim de auxiliar os estudantes na aplicação dos conhecimentos


adquiridos durante a aplicação da oficina, foi aplicado o estudo de caso
“O Cultivo de Sementes de Alceu”. Que tem por finalidade a
interpretação de textos e promover a capacidade de identificação e
resolução de problemas.

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O estudo de caso apresentado neste artigo sobre a constituição


química das sementes auxiliou os estudantes na compreensão de
conteúdos relacionados principalmente à Bioquímica, no que se refere
aos macronutrientes: carboidratos, lipídeos e proteínas.

Além disso, o caso deveria ser interpretado e respondido pelos


estudantes por meio de um relatório. Como foi possível verificar nos
resultados do trabalho, os estudantes conseguiram atingir esses
propósitos. Os resultados obtidos por meio do estudo de caso indicam
que o mesmo foi uma estratégia de ensino que auxiliou os estudantes
na aquisição de conhecimentos, na interpretação de textos, bem como
favoreceu a tomada de decisões, o trabalho em grupo e também a
escrita por meio dos relatórios.

É importante ressaltar, que o estudo de caso desenvolvido


durante a disciplina de final do curso de Química Licenciatura,
denominada “Instrumentação para o laboratório de Química”, contribuiu
para a formação acadêmica da autora principal, pois possibilitou o
planejamento e aplicação de atividades experimentais, as quais
serviram como ferramentas para dinamizar a atividade proposta no
ensino de Química.

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