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Araraquara
2021
GABRIELA FONSECA DE OLIVEIRA
Araraquara
2021
GABRIELA FONSECA DE OLIVEIRA
BANCA EXAMINADORA
Araraquara
2021
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ser o meu alicerce e meu porto seguro durante toda esta jornada.
Ao meu pai, Antonilton, e à minha mãe, Maria, por todo apoio financeiro, incentivo
emocional, amor e carinho.
Ao meu irmão, Lucas, e à minha prima, Anne Caroline, por todo companheirismo.
Ao meu namorado, Gustavo Pereira, por todo apoio emocional e amor durante os
momentos mais árduos desta jornada.
À professora Isabele Nascimento, por me orientar neste trabalho e por todos os
ensinamentos.
Ao professor Amadeu Bego, por me coorientar e participar deste momento tão
importante da minha formação.
À Milena Alves, por toda supervisão e amizade. Uma peça fundamental durante todo
este processo.
À minha prima, Fernanda Fonseca, por revisar este trabalho com toda a dedicação e
com todo o carinho.
Às minhas amigas, Camila Piza, Carolina Primo, Isabela Ierick, Letícia Dantas,
Victória Chagas e Vanderly Silva, por contribuírem direta ou indiretamente com este trabalho
e para minha formação. Agradeço também por todos os momentos memoráveis durante esses
cinco anos de graduação.
A todos os professores do Instituto de Química que contribuíram de alguma forma
para a minha formação pessoal e profissional. Em especial, à professora Maria Valnice
Boldrin, que me orientou durante quatro anos na Iniciação Científica.
Ao Instituto de Química da UNESP Araraquara, por todo suporte acadêmico.
RESUMO
1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
O Currículo do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2011) prediz que os jovens, ao se
formarem na Educação Básica, precisam saber se expressar e se posicionar diante de algumas
situações-problema, nas quais se faz o uso do domínio de conhecimentos e linguagem
científica. Nesse mesmo sentido, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL,
2018) se pronuncia sobre ser essencial a apropriação dos estudantes sobre as linguagens e os
códigos específicos das ciências da natureza, para se obter um letramento científico
necessário, visando à formação de um cidadão, o que lhes permite maior autonomia e
criticidade em discussões e posicionamentos envolvendo temas de ciência e tecnologia.
As aulas de Química, no Ensino Médio, encontram-se, na maior parte das vezes,
presas ao ensino tradicional, com a transmissão de conhecimentos e conceitos puramente
teóricos, levando a uma aprendizagem mecânica e de memorização de leis e fórmulas. Ao
serem submetidos a aulas expositivas e a uma posição totalmente passiva, em que o
conhecimento é depositado em suas mentes sem trazer nenhum sentido para suas vidas, os
alunos acabam sendo privados de desenvolverem sua autonomia e seu senso crítico
(MIZUKAMI, 1986).
Com isso, os conteúdos científicos acabam trazendo uma imagem abstrata e difícil, o
que complica o processo de aprendizagem dos estudantes. Isso cria barreiras que os impedem
de, realmente, apreender esses conceitos, prevalecendo ideias de senso comum (LOPES,
1999), sem a compreensão da ciência presente em suas vidas e da sua importância social para
a humanidade (CALIL, 2009).
Dessa forma, faz-se necessário, para que se atinjam tais objetivos propostos pelo
currículo para o ensino de Química, o desenvolvimento de aulas que tenham uma
problemática que instigue e comprometa os alunos, trazendo mais significados para eles. A
utilização da perspectiva Ciência, Tecnologia e Sociedade/Ciência, Tecnologia, Sociedade e
Ambiente (CTS/CTSA), nessas aulas, pode ser uma alternativa, ao serem trabalhados os
conteúdos de ciências (FAGUNDES et al., 2009). Ao relacionar os conhecimentos da ciência
e da tecnologia, desenvolve-se a autonomia no indivíduo, favorecendo sua comunicação e
suas relações culturais, levando-o a ter uma participação ativa na sociedade e a capacidade de
tomar decisões (CHASSOT, 2001; SANTOS; MORTIMER, 2002).
De acordo com Fagundes et al. (2009), o ensino CTS/CTSA tem como objetivo
formar um espírito crítico e reflexivo nos alunos, a fim de que possam ser autônomos em suas
11
processo de formação de atitudes e nos valores de novos cidadãos, para que tenham uma ação
social responsável e ética. Com isso, é fundamental que o professor de ciências realize
atividades de ensino nas quais os estudantes possam discutir sobre temas sociais, científicos e
tecnológicos, expondo suas ideias e seus pontos de vista para chegarem às alternativas de
soluções para esses problemas reais (SANTOS; MORTIMER, 2001; ZANOTTO; SILVEIRA;
SAUER, 2016).
Além disso, a aplicação da ciência e da tecnologia, sem relacionar com os contextos
sociais, pode gerar uma falsa ilusão de que o aluno está compreendendo os conceitos de
ciência e tecnologia, ocasionando em visões distorcidas de que a ciência e a tecnologia
servem de salvação para a humanidade, de maneira desinteressada e não problemática
(SANTOS; MORTIMER, 2002).
Sendo assim, a temática dengue se enquadra na proposta de serem discutidos
problemas reais presentes na vida do aluno. De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL,
2020c), no ano de 2019, o Brasil teve aproximadamente 1,5 milhões de casos de dengue,
sendo mais de 25 mil casos só na cidade de Araraquara (SÃO PAULO, 2020b).
Faz-se necessário, para a prevenção da dengue e de outras arboviroses, como o
chikungunya e o zika vírus, o controle do mosquito Aedes aegypti, principal vetor dessas
doenças no país (BRASIL, 2020b). Com isso, é muito comum a utilização de inseticidas e
repelentes para prevenção das picadas do inseto e, consequentemente, não contrair o vírus.
Existe um grande número desses produtos que podem ser utilizados, sejam sintéticos, como o
N,N-dietil-3-metilbenzamida (DEET), a icaridina e o 3-(N-acetil-N-butil)-aminopropanoato de
etila (IR3535); ou naturais, como citronela, eucalipto e andiroba (STEFANI et al., 2009). Por
apresentar basicamente uma composição de compostos orgânicos, esses produtos podem ser
estudados de forma mais delineada no ensino de Química, podendo-se trabalhar os conceitos
de grupos funcionais, conteúdo programado para o 3o ano do Ensino Médio pelo Currículo do
Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2011), contextualizando com a problemática social da
dengue e os aspectos CTS/CTSA.
Para que essas abordagens sejam realizadas, é muito importante que haja organização
dos conteúdos a serem tratados e na forma como serão abordados, sendo necessária a
elaboração de um planejamento didático que auxilie a atuação docente durante o processo de
ensino e aprendizagem de seus alunos. No planejamento, estão organizados os conteúdos e as
atividades a serem tratados na sala de aula, com a finalidade de atingir objetivos educacionais,
considerando o contexto escolar em que os alunos estão inseridos (ALVES, 2018).
14
vida. Quando o mosquito pica o indivíduo, o vírus inicia sua replicação viral nas células
estriadas, lisas, fibroblastos e linfonodos locais, causando a viremia e disseminando-se pelo
organismo da vítima. Em alguns casos, pode levar à morte. Uma vez adquirido o vírus, o
organismo do indivíduo desenvolve anticorpos para aquele sorotipo específico (IOC, 2020).
As intensidades dos sintomas podem variar entre dengue, zika e chikungunya, de acordo
com a arbovirose transmitida pelo Aedes aegypti, mas todas elas apresentam febre, dores no
corpo e nas articulações, dor de cabeça, manchas vermelhas no corpo e coceira (BRASIL,
2020b).
É importante ficar atento e ter cuidado para não deixar acumular água parada. A
população deve ser informada e conscientizada para se prevenir com algumas pequenas
ações, por exemplo: evitar água parada; fechar caixas d’água; ficar de olho em piscinas,
lixos, garrafas, pneus, pratos e vasos de plantas; trocar sempre a água dos animais
domésticos; entre outras medidas que podem impedir a formação criadouros do Aedes
aegypti (BRASIL, 2020b).
O ciclo de vida do mosquito é composto por quatro fases, sendo elas: ovo, larva,
pupa e mosquito adulto (Figura 1). O último ciclo dura entre 7 a 10 dias, de acordo com as
condições adequadas de temperatura, umidade e quantidade de alimentos. Os ovos são
depositados pela fêmea em locais próximos à linha d’água, em recipientes contendo água
parada como latas, garrafas vazias, pneus, calhas, pratos de plantas etc. Ao serem banhados
em água, os ovos eclodem em larvas após alguns dias, e, em aproximadamente 5 dias, as
larvas, ainda em meio aquoso, transformam-se em pupas, demorando entre 2 e 3 dias para
virarem mosquitos adultos, que irão dar continuidade ao ciclo reprodutor e se tornar vetores
da doença (caso nasçam fêmeas) (BRASIL, 2020b; VIEIRA, 2019).
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Em 2019, o Brasil foi o país com maior número de casos de dengue no mundo,
segundo o European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC, 2020), chegando a
1.544.987 em números de casos, com cerca de 782 de óbitos (BRASIL, 2020c). De acordo
com o Ministério da Saúde, o estado de São Paulo chegou a 444.593, quase um terço dos
números de casos nacionais, sendo 25.677 só no município de Araraquara (BRASIL, 2020c;
SÃO PAULO, 2020b). A cidade vem enfrentando recordes se comparado aos anos anteriores,
sendo considerada a pior epidemia da sua história (ACIDADEON, 2020).
Como medida de combate ao Aedes aegypti, a prefeitura de Araraquara vem tomando
algumas atitudes com uma “força-tarefa”, como limpeza de áreas públicas, campanhas
informativas, mutirões de recolhimento de inservíveis, vistorias em residências, assistência à
saúde, nebulização (fumacê), cultivos de plantas com ações repelentes, como citronela e
lavanda, e armadilhas de captura (PREFEITURA MUNICIPAL DE ARARAQUARA, 2019a,
2019b).
Além desses cuidados tomados pela prefeitura, é muito importante a população ter um
cuidado para a prevenção dessa doença. Nesse sentido, é muito comum a utilização de alguns
produtos como repelentes e inseticidas à base de plantas, como citronela, eucalipto e andiroba,
e à base de compostos sintéticos, como incardina, DEET e IR3535 (STEFANI et al., 2009).
A citronela, pertencente ao gênero Cymbopogon, está presente nas regiões com clima
tropical, dividindo-se em aproximadamente 140 espécies. Entre elas, destacam-se
17
O OH
citronelal geraniol
OH O
OH
O
ácido oleico
OH
O
ácido palmítico
OH
ácido linoleico O
OH
ácido esteárico
Fonte: Autoria própria.
19
N O N
O
OH
icaridina DEET
N O
O
IR3535
Fonte: Autoria própria.
Com base nesses compostos orgânicos e muitos outros presentes em uma infinidade de
produtos com ações repelentes e inseticidas, é possível trabalhar em sala de aula os conteúdos
de Química Orgânica, de maneira contextualizada com a temática dengue. Nesse sentido, o
Currículo Paulista (SÃO PAULO, 2020a, p. 149) propõe que sejam trabalhados os conteúdos
“Compostos Orgânicos: Funções Orgânicas, estrutura e propriedades”. Desse tópico, o
assunto grupos funcionais foi selecionado para ser trabalhado nesta proposta de planejamento,
justamente em virtude da grande diversidade de componentes nos produtos citados. Para
serem articulados todos esses assuntos, é indispensável a organização dos conteúdos a serem
tratados e a forma de abordagem, sendo necessária a elaboração de um Planejamento
Didático-Pedagógico, que é explorado na próxima seção.
20
Foi nesse contexto – Ditadura Militar –, em que não havia espaço para reflexão,
crítica e problematização para além dos muros escolares, que as propostas baseadas
nas "teorias de processos sistêmicos" encontraram terreno fértil para uma adesão
acrítica por parte dos educadores. (FUSARI, 1990, p. 49)
Nesse sentido, o planejamento escolar passou a ser uma forma de controle das ações
do docente dentro da sala de aula, de modo que os planos eram supervisionados pelo sistema,
em virtude de não apresentarem riscos ao regime da época, no qual só era permitido serem
discutidos os problemas de dentro da escola, como as metodologias e os recursos para o
processo de ensino e aprendizagem (FUSARI, 1990).
21
(FUSARI, 1990). Além disso, o bom planejamento deve trazer mais segurança ao professor
nos momentos de improviso, para que ele seja capaz de atuar de forma autônoma diante das
situações mais singulares dentro da sala de aula. Assim, o planejamento deixa de ser um
regulador das atividades docente e passa a ser um instrumento de sua prática (ALVES, 2018;
FUSARI, 1990).
Portanto, pode-se afirmar que o PDP, segundo Farias et al. (2011), é político e ético,
por apresentar crenças, ideias e valores relacionados à prática escolar; e é um ato técnico, por
exigir meios para atingir os resultados almejados.
Menegolla e Sant’Anna (2014) declaram que a importância do planejamento é
basicamente a própria necessidade de se planejar, ou seja, a necessidade de se pensar nas
ações possíveis e viáveis de serem realizadas. Sendo assim, no contexto escolar, apresenta-se
como uma ferramenta importante para a organização e para o auxílio das atividades docente
(FUSARI, 1990).
Entre as funções dos PDP, pode-se destacar: a determinação de objetivos de ensino e
aprendizagem; delimitar estratégias didáticas e de avaliação; organizar os espaços e o tempo
das aulas.
Para que isso ocorra, é importante que um bom planejamento contenha: i) coerência e
unidade entre os fatores citados; ii) continuidade e sequência entre as atividades a serem
aplicadas; iii) flexibilidade diante de situações imprevisíveis; iv) objetividade e
funcionalidade, de modo que a realidade e as características dos alunos sejam levadas em
consideração, atendendo, dessa maneira, às suas necessidades; v) precisão e clareza, sendo
assim singelo e claro (HAYDT, 20061 apud ALVES, 2018). Alves (2018) salienta que cada
planejamento deve ser único e se adaptar à realidade inserida, sendo dinâmico e reflexivo,
consistido em alguns elementos básicos como: objetivos, conteúdos, metodologia, estratégias,
recursos didáticos e estratégias de avaliação.
Ainda sobre planejamento, existe uma variedade de tipos e modelos de planos de
ensino em forma de projetos de ensino e aprendizagem, podendo ser citadas Sanmartí (2002),
Giordan e Guimarães (2012), Sánchez Blanco e Valcárcel Pérez (1993) e Bego (2016).
Sanmartí (2002) propõe um modelo de unidades didáticas (UD) que são direcionadas
ao ensino de conteúdos para alunos que se inserem em um contexto social específico,
apresentando características singulares, de modo que a UD é organizada em sequências de
1
HAYDT. R. C. C. Curso de didática geral. 8. ed. São Paulo: Ática, 2006.
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aulas, cada sequência tem objetivos de aprendizagem específicos e cada aula tem conjuntos de
atividades.
Giordan e Guimarães (2012) trazem sequências didáticas (SD) baseadas no Modelo
Topológico de Ensino (MTE). As SD propostas pelos autores são compostas por uma
caracterização da escola, dos alunos e dos aspectos socioculturais em que a escola se insere
antes de se elaborar os conteúdos e as atividades. As SD são norteadas por uma
problematização que conduzirá as discussões, articulando ciência e sociedade, de maneira que
todos os objetivos, todos os conteúdos, todas as atividades e a avaliação estejam entrelaçados.
Sánchez Blanco e Valcárcel Pérez (1993), em sua proposta de planejamento,
apresentam o planejamento docente organizado em UD elaborada com base em cinco tarefas
independentes: análise científica, análise pedagógica, seleção de objetivos, seleção de
estratégias e seleção de estratégias de avaliação.
Bego (2016) vem desenvolvendo as chamadas Unidades Didáticas Multiestratégicas
(UDM). As UDM organizam e sequenciam estratégias didáticas e de avaliação para se atingir
os objetivos de aprendizagens previamente selecionados, conforme os conteúdos.
Como se pode ver, embora cada um dos autores apresente propostas de planejamento
distintas, todas elas têm os conteúdos organizados e sequenciados, a fim de que sejam
relacionados com temas presentes no dia a dia e com a realidade escolar. Ou seja, nessa nova
perspectiva, o planejamento passa a ser considerado como um ordenamento de conteúdos e
atividades com a finalidade de atingir os objetivos educacionais estipulados, além de estar
conectado com o contexto escolar em que se está inserido (ALVES, 2018).
Dentre os tipos de planejamento citados, as UDM vêm trazendo bons resultados, tanto
no processo de planejamento didático como em suas aplicações dentro da sala de aula
(BEGO, 2016; BEGO; SILVA, 2018). A proposta de Bego (2016) é fundamentada teórica e
metodologicamente nos modelos de Sánchez Blanco e Valcárcel Pérez (1993) e de Sanmartí
(2002), inspirando-se nas tarefas do primeiro e na organização em sequências de aulas e
atividades objetivadas do segundo.
Laburú, Arruda e Nardi (2003) destacam que é importante que, dentro de sala de aula,
não haja apenas uma atividade singular, de maneira a se atingir e satisfazer todos os alunos.
Dessa forma, faz-se necessário o uso de procedimentos educacionais mais variados possíveis.
Os autores relatam que, ao considerar uma sala de aula como singular, comete-se injustiças
para com os discentes que não se encaixam nas prescrições prévias tomadas pelo professor,
acarretando, assim, na violação da natureza particular do indivíduo, tornando sua
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aprendizagem menos eficiente. Com isso, cabe ao educador revisar e refletir criticamente ao
selecionar suas ações e estratégias didáticas, bem como os pressupostos teóricos.
Nesse sentido, Sanmartí (2002) elencou a importância de se utilizar múltiplas
estratégias no processo de ensino aprendizagem, como: i) proporcionar mais oportunidades na
construção do conhecimento; ii) os alunos são diferentes, tendo diferentes motivações,
interesses, aptidões e estilos de aprendizagem, ao incluírem uma diversidade de atividades,
faz que seja mais fácil para os alunos encontrar aquela que os ajuda a aprender; iii) a
diversidade de atividades promove motivação e desperta interesse.
O planejamento multiestratégico não deve considerar somente a diversidade de
estudantes e suas diferentes necessidades, mas também é importante levar em conta as
especificidades dos conteúdos de ciências, isto é, levar em consideração as particularidades
para que possam ser abordados de maneira mais conceitual ou contextual (FERRARINI,
2020).
Sendo assim, para a implementação da UDM estão envolvidas três etapas que se
consolidam, sendo elas: o planejamento da UDM, a intervenção didático-pedagógica em salas
de aulas e, por fim, o replanejamento da UDM, baseados em observações e apontamentos,
feitos sobre a aplicação e o desenvolvimento do planejamento na sala de aula (BEGO, 2016).
Este Trabalho de Conclusão de Curso contempla somente a primeira etapa.
O planejamento da UDM consiste em sete tarefas básicas: caracterização do contexto
da intervenção didático-pedagógica; análise científico-epistemológica; análise didático-
pedagógica; abordagem metodológica; seleção de objetivos; seleção de estratégias didáticas; e
escolha de estratégias de avaliação (BEGO, 2016; BEGO; SGARBOSA, 2016). A Figura 6
esquematiza as sete tarefas e como elas estão inter-relacionadas.
Nesta seção, é feita uma breve apresentação das tarefas necessárias para a elaboração
da UDM, e, na seção de Metodologia, cada uma das tarefas é mais bem detalhada e
especificada.
25
preparar os estudantes para a atuação como cidadãos no controle social da ciência, tendo
como principal meta o letramento científico e tecnológico dos alunos baseado na
compreensão de como a ciência e a tecnologia se influenciam entre si e na resolução de
problemas do cotidiano utilizando os conhecimentos científicos (SANTOS; MORTIMER,
2002).
O acréscimo da letra “A” de Ambiente na sigla CTS, tornando-se CTSA, deu-se pelo
anseio de destacar as implicações ambientais presentes na evolução científica e tecnológica.
Alguns especialistas na área veem essa incorporação como desnecessária, por acreditarem que
os impactos ambientais já estão implicitamente imbricados nas relações CTS (VILCHES;
GIL-PÉREZ; PRAIA, 2011). No entanto, há alguns autores que defendem o uso da letra A:
Mas aqueles que promovem a expressão CTSA não estão dizendo que a não esteja
contida em CTS, mas antes pretendem que se lhe dê uma maior ênfase na educação
científica, para evitar um tratamento particularmente insuficiente das questões
ambientais quando se incorporam as relações CTS. Faz-se notar que o argumento de
que a letra A já está incluída no CTS e, portanto, não se torna necessário explicitar,
valia para também questionar a sigla CTS, uma vez que tais relações entre ciência-
tecnologia-sociedade são inerentes à atividade científica e, portanto, bastaria falar de
educação científica. Se se insiste em chamar a atenção para essas relações CTS é
porque, infelizmente, a educação científica havia incorrido em reducionismos que as
deixavam de lado. E essa mesma razão justifica a inclusão da A. (VILCHES; GIL-
PÉREZ; PRAIA, 2011, p. 180)
No Brasil, ocorreram várias inovações curriculares para ensino de ciências entre 1950
e 1985 (SANTOS; MORTIMER, 2002). Entre essas inovações, na década de 1970, houve a
anexação da ciência com os contextos econômico, político e social, enquanto nos anos 1980,
houve a incorporação das implicações sociais envolvidas no desenvolvimento científico e
tecnológico. Todavia, somente a partir da década 1990, de fato, que surgiram propostas de
cursos com ênfase em CTS na literatura, com livros, artigos acadêmicos e dissertações de
mestrado e doutorado (SANTOS, 2007). Sendo destacado, por Santos e Mortimer (2002), a
realização, em 1990 no Brasil, da Conferência Internacional Ensino de Ciências para o Século
XXI: ACT – Alfabetização em Ciência e Tecnologia, que teve como tema “a educação
científica dos cidadãos”.
cidadãos capazes de tomar decisões e agir de forma crítica, reflexiva, consciente e responsável
diante dos problemas da sociedade. Sendo assim, o ensino de ciência com enfoque
CTS/CTSA deve proporcionar aos alunos momentos de discussões sobre diversos temas
relacionados à realidade deles, para que possam desenvolver essa capacidade de tomar
decisões sobre os problemas da sociedade (FAGUNDES et al., 2009).
Além do objetivo central, o currículo CTS/CTSA apresenta três objetivos gerais,
segundo Bybee (1987): i) adquirir conhecimentos, ii) empregar habilidades e iii) desenvolver
valores. Tais conhecimentos e habilidades incluem: a autoestima, a facilidade de se comunicar
nas formas oral e escrita, a capacidade de um raciocínio lógico para solucionar problemas e
tomar decisões, a facilidade em aprender de maneira colaborativa e cooperativa, a
responsabilidade social, a aptidão para exercer a cidadania, a flexibilidade cognitiva e o
empenho para atuar em questões sociais (HOFSTEIN; AIKENHEAD; RIQUARTS, 1988).
Quanto aos valores, busca-se desenvolver aqueles que estão ligados ao coletivo e que
questionam o sistema capitalista, como: “[...] os de solidariedade, de fraternidade, de
consciência do compromisso social, de reciprocidade, de respeito ao próximo e de
generosidade” (SANTOS; MORTIMER, 2002, p. 5).
Sendo assim, o currículo CTS/CTSA se destaca entre os demais por apresentar alguns
princípios que sugerem mudanças na visão do papel do ensino de ciências, como:
Para atingir essas metas, o currículo CTS/CTSA tem como proposta as inter-relações
entre a explicação científica, o planejamento tecnológico e a solução de problemas de
importância social, sendo então integradas a educação científica, tecnológica e social por
meio da abordagem de conteúdos científicos e tecnológicos com seus aspectos históricos,
éticos, políticos e socioeconômicos (SANTOS, 2007).
De acordo com Bybee (1987), a estrutura de um curso CTS envolve: conceitos
científicos e tecnológicos, processos de investigação e interações entre ciência, tecnologia e
sociedade. Os conceitos científicos e tecnológicos são responsáveis por enfatizar aspectos que
suprem os interesses e as preocupações pessoais cívicas e as perspectivas culturais. Enquanto
os processos de investigação da ciência e da tecnologia envolvem a participação ativa dos
alunos, para que possam buscar informações, solucionar problemas e tomar decisões. E, por
fim, as interações entre ciência, tecnologia e sociedade estimulam o desenvolvimento de
31
valores e ideias nos estudantes, por meio de estudos dos temas locais, das políticas públicas e
dos problemas globais.
Para Santos e Mortimer (2002), a interface ciência deve ir além da natureza da
investigação e dos significados dos conceitos puramente científicos, explorando, assim, uma
dimensão mais ampla dessa abordagem, como estudos políticos de ciência vinculados às
questões sociais externas e internas da comunidade científica. Para o aspecto tecnologia, os
autores enfatizam que essa interface não deve ser reduzida apenas ao seu lado técnico, mas
deve explicitar os pontos organizacionais e culturais da tecnologia, mostrando como ela é
dependente dos sistemas sociopolíticos e valores culturais nos quais se insere. Por fim, a
interface sociedade no currículo CTS é explorada ao ser relacionada aos temas científicos e/ou
tecnológicos por serem causadores de problemas do ponto de vista social, podendo, dessa
maneira, serem trabalhados problemas sociais locais que se articulam com uma dimensão
global, como: exploração mineral por empresas, ocupação humana, poluição ambiental,
produção de alimentos, desenvolvimento da agroindústria, entre outras.
Ainda sobre essa perspectiva, segundo Pinheiro, Silveira e Bazzo (2007), o papel
docente nesse currículo se enquadra como um articulador dessas interfaces e saberes, levando
os alunos, por meio do processo de ensino e aprendizagem, a estabelecerem conexões entre os
conhecimentos aprendidos e as resoluções de situações-problemas, além de despertar neles a
curiosidade, um espírito investigador, uma postura questionadora e crítica diante da realidade.
Quanto à pedagogia nessa perspectiva, diferentemente do ensino tradicional, não é
mais vista como um instrumento de submissão do aluno ao professor. Ambos começam a
trabalhar juntos, discutindo, pesquisando e construindo conhecimentos, passando a reconstruir
a estrutura do conhecimento. Não se trata de um ensino baseado somente em repetições de
leis e códigos relacionados a um fenômeno, mas desencadeia reflexões e questionamentos
sobre o uso político e social desses conceitos. Os estudantes são instrumentalizados a
questionar e desenvolver o cognitivo e o senso crítico, tornando-se independentes do
professor mediante ao conteúdo apresentado (PINHEIRO; SILVEIRA; BAZZO, 2007).
Aikenhead (19942 apud SANTOS; MORTIMER, 2002) propõe alguns passos para a
organização dos materiais de ensino para a abordagem do CTS/CTSA: i) realizar a introdução
de um problema social; ii) analisar as tecnologias relacionadas a esse tema social; iii) fazer
um estudo dos conteúdos científicos relacionados ao tema social e à tecnologia abordada; iv)
estudar a tecnologia introduzida utilizando os conteúdos científicos apresentados; v) discutir
novamente a questão social de forma mais aprofundada. Essa sequência possibilita a
introdução dos problemas sociocientíficos que serão discutidos pelos estudantes, o que
colabora com o desenvolvimento da habilidade de tomar decisões (SANTOS; MORTIMER,
2002).
A introdução de temas é realizada por meio de problemas sociais, que terão suas
possíveis soluções alternativas propostas pelos alunos durante as discussões em sala de aula,
baseadas nos conteúdos científicos, suas aplicações tecnológicas e consequências
socioambientais (SANTOS; MORTIMER, 2002).
Nessa perspectiva, Santos (2007) enfatiza que muitos docentes acreditam que a
simples menção aos aspectos do cotidiano nas aulas já é uma contextualização. Entretanto,
uma abordagem desses aspectos, sem uma discussão relevante, pode não contribuir para a
formação de um aluno-cidadão nem despertar o seu interesse pela ciência.
Sendo assim, para se haver uma boa contextualização dos aspectos sociocientíficos
com o cotidiano, devem ser exploradas as dimensões sociais em que esses fenômenos estão
inseridos, como questões ambientais, econômicas, sociais, políticas, culturais e éticas, tendo
as discussões como pontos fundamentais para melhor compreensão por parte dos estudantes
sobre o mundo social em que vivem e para o desenvolvimento da capacidade de tomada de
decisões responsáveis em relação às questões de ciência e à tecnologia (SANTOS, 2007).
Com o intuito de atender essa dinâmica da abordagem metodológica CTS/CTSA,
Santos e Mortimer (2002) fizeram um breve levantamento na literatura sobre estratégias e
atividades didáticas que poderiam ser abordadas para um ensino sobre essa perspectiva, sendo
algumas delas: solução de problema, simulações, debates, estudo de caso, uso de fatos da
história da ciência, vídeos envolvendo questões científicas e tecnológicas, entre outras que
possibilitem o desenvolvimento da alfabetização científica e de habilidades e valores
necessários para formação de um aluno-cidadão.
2
AIKENHEAD, G. S. What is STS science teaching? In: SOLOMON, J., AIKENHEAD, G. STS education:
international perspectives on reform. New York: Teachers College Press, 1994. p. 47-59.
33
3 OBJETIVO GERAL
Esta monografia tem como objetivo propor uma UDM, por meio dos pressupostos da
abordagem metodológica CTS/CTSA, sobre grupos funcionais com base na temática da
dengue.
Elaborar uma proposta de planejamento docente por meio de uma UDM que
auxilie e promova a aprendizagem dos conteúdos de grupos funcionais e a
formação do aluno-cidadão.
Promover a contextualização do tema dengue com os conteúdos de grupos
funcionais, explorando os diferentes tipos de repelentes e inseticidas por meio da
abordagem CTS/CTSA.
Propor atividades multiestratégicas para ensinar sobre o tema.
34
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para atender essas condições e realizar seu planejamento, o docente precisa conhecer e
levar em consideração alguns elementos: a sua atuação como educador, os seus alunos
(psicossocial e cognitivo) e o contexto social dos estudantes (MORETTO, 20073 apud
CASTRO; TUCUNDUVA; ARNS, 2008). Com isso, o professor consegue selecionar as
estratégias que melhor se encaixam para atender a demanda proposta, de maneira mais
satisfatória e eficaz (CASTRO; TUCUNDUVA; ARNS, 2008).
Em concordância com esse pensamento, Fusari (1990, p. 47) vem dizer que:
[...] vale reforçar que faz parte da competência teórica do professor, e dos seus
compromissos com a democratização do ensino, a tarefa cotidiana de preparar suas
aulas, o que implica ter claro, também, quem é seu aluno, o que pretende com o
conteúdo, como inicia rotineiramente suas aulas, como as conduz e se existe a
preocupação com uma síntese no final do dia ou dos quarenta ou cinquenta minutos
vivenciados durante a hora-aula. A aula, no contexto da educação escolar, é uma
síntese curricular que concretiza, efetiva, constrói o processo de ensinar e aprender.
Cada instituição de ensino tem sua própria organização, infraestrutura e história, bem
como uma cultura que determina seus valores, suas atitudes e seus ideais. Tudo isso é reflexo
do seu gerenciamento, por meio de uma direção e uma coordenação que irão determinar e
orientar o cotidiano escolar. Dessa forma, todos esses condicionantes influenciam, de alguma
maneira, as atividades em sala de aula e a qualidade do ensino (BEGO; SGARBOSA, 2016).
Cada escola tem suas particularidades e individualidades, tendo seu próprio contexto
sócio-histórico. Nesse sentido, o planejamento da UDM deve ser organizado de acordo com a
realidade do contexto escolar a ser trabalhado, sendo aplicado de maneira crítica,
contextualizada e adaptada, e não como uma receita de bolo que pode ser utilizada em
qualquer escola. Sendo assim, as práticas pedagógicas podem levar os professores a
superarem a visão ingênua e fragmentada do contexto da escola, enxergando concretamente a
realidade de seu ambiente de trabalho (BEGO, 2016; BEGO; SGARBOSA, 2016).
3
MORETTO, V. P. Planejamento: planejando a educação para o desenvolvimento de competências. Petrópolis:
Vozes, 2007.
36
Dessa maneira, necessitam-se de ciência e análise crítica da realidade escolar para que
sejam identificados os problemas, seus condicionantes no interior da escola, na sociedade e no
contexto social global (FUSARI,1990).
Em síntese, para que o docente possa realizar sua prática pedagógica de forma efetiva,
ele precisa examinar o contexto social, materiais disponíveis, observar as atitudes
profissionais e as prescrições legais (FERRARINI, 2020), para que, assim, possa delimitar os
objetivos de ensino e aprendizagem de acordo com as condições particulares do contexto
escolar da realidade em que se está inserido.
Na segunda tarefa (Quadro 2), são especificados o tema a ser trabalhado na UDM, os
pré-requisitos necessários para melhor entendimento e desenvolvimento, os conteúdos
científicos relacionados a esse tema, levantamento do conteúdo e do perfil conceitual e uma
esquematização de como esses conteúdos se inter-relacionam (BEGO; SAGARBOSA, 2016).
37
diretrizes para elaborar seu planejamento, contudo, de uma maneira crítica, não as tomando
como um planejamento pronto (FERRARINI, 2020).
Ainda sobre a atualização do conteúdo, Sánchez Blanco e Valcárcel Pérez (1993)
retratam a importância da diferenciação e a relação entre os conhecimentos ou os conteúdos
teóricos (fatos, princípios, leis e teorias) e as atitudes ou os procedimentos práticos
(experimento, interpretar dados). Ao diferenciar esses elementos, é possível enxergar as
facetas presentes no ensino de Ciências, tomando cuidado para não utilizar apenas uma delas
ou usá-las de forma independentes. Nesse sentido, é preciso relacionar esses aspectos
conceituais e procedimentais, devendo ser explicitados os conceitos científicos juntamente
com a elaboração de um gráfico, o estudo de uma lei, aprendizagem das fórmulas e
simbologias, trazendo significados para os alunos e, consequentemente, para a sua
aprendizagem.
Nessa perspectiva, a lacuna “Conteúdos conceituais” elenca os conceitos teóricos do
tema da UDM com seus aspectos fenomenológico e representacional (Figura 7), de modo que
possa haver uma “dialética entre teoria e experimento, pensamento e realidade”
(MORTIMER; MACHADO; ROMANELLI, 2000, p. 277).
materialização na atividade social, que é isso que trará significados sobre a Química para o
aluno. É a partir do aspecto fenomenológico que se é possível realizar observações e medições
dos processos químicos. Os aspectos teóricos são os responsáveis por explicar a teoria por trás
da natureza atômico-molecular, por meio de modelos abstratos, por exemplo, moléculas,
átomos, íons etc. Enquanto os aspectos representacionais estão associados à simbologia e à
linguagem química, como em equações, fórmulas, modelos e gráficos (MORTIMER;
MACHADO; ROMANELLI, 2000).
Mortimer, Machado e Romanelli (2000, p. 277) explicitam a importância de se
trabalhar os três aspectos em sala de aula de forma igualitária:
A ausência dos fenômenos nas salas de aula pode fazer com que os alunos tomem
por “reais” as fórmulas das substâncias, as equações químicas e os modelos para a
matéria. É necessário, portanto, que os três aspectos compareçam igualmente [...]
Mesmo porque não existe uma atividade experimental sem uma possibilidade de
interpretação [...] Para que a interpretação do fenômeno ou resultado experimental
faça sentido para o aluno, é desejável manter essa tensão entre teoria e experimento,
percorrendo constantemente o caminho de ida e volta entre os dois aspectos. O
aspecto representacional também resulta dessa tensão, fornecendo as ferramentas
simbólicas para representar a compreensão resultante desses processos de idas e
vindas entre teoria e experimento.
4
BACHELARD, G. A Filosofia do Não. In: OS PENSADORES. São Paulo: Abril Cultural, 1984p. 01-87.
40
outras. Nesse sentido, é importante que o estudante esteja ciente de seu próprio perfil e das
limitações que tem, a fim de que seja possível estabelecer os contextos adequados para se
utilizar tais conceitos, podendo transitar de uma conversa mais informal para uma em um
contexto mais científico (MORTIMER, 1996).
Em relação à estruturação dos conteúdos, deve ser feito um quadro teórico ou um
esquema conceitual concreto, de acordo com os conteúdos que o docente selecionou como
importantes a ser tratado na UD. Dessa forma, esse esquema deve relacionar esses conceitos
de maneira que os alunos não os compreendam isoladamente, mas, sim, de uma forma mais
ampla. Para realizar a esquematização dos conteúdos, devem ser considerados aqueles que
oferecem maiores possibilidades e delimitações, ou seja, os mais relevantes para o tema
central da UD. Quanto ao tamanho e ao tempo de duração da UD, dependerá justamente
desses conceitos pré-determinados para serem aprendidos (SÁNCHEZ BLANCO;
VALCÁRCEL PÉREZ, 1993).
Com base nesses princípios, o último campo da Tarefa 2 da UDM conta com um
“Esquema conceitual científico sobre o conteúdo conceitual da UDM (mapa conceitual)”. Os
mapas conceituais são esquematizados em uma rede constituída pelos conceitos de um dado
tema central. Esse tipo de esquematização explicita como um determinado conteúdo se
organiza e é entendido cognitivamente por seu elaborador, trazendo sentidos e significados
para ele por meio das representações visuais (TAVARES, 2007).
5
BACHELARD, G. La formation de l’esprit scientifique. Paris: J. Vrin, 1947.
43
por isso eles se atraem e formam as ligações. Os átomos não têm sentimentos para gostar ou
se apaixonar pelo outro, e sim interações de atração, graças às suas diferenças de cargas.
Desse modo, ao se utilizar esses obstáculos, o conhecimento científico é distorcido e não é
compreendido corretamente (LOPES, 2007).
Os Obstáculos Realistas valorizam as impressões visíveis e palpáveis, fazendo
comparações metafóricas dos conhecimentos científicos com situações análogas, na tentativa
de facilitar o entendimento de conceitos abstratos, quando não se consegue abstrair
explicações microscópicas dos fenômenos, somente as macroscópicas, com isso, alguns
conceitos podem ser distorcidos (LOPES, 1992, 2007). Para esse caso, podem ser citados, por
exemplo, os modelos atômicos de Dalton e de Thomson, que são comparados a uma bola de
bilhar e a um pudim de passas, respectivamente, ou, então, a comparação entre o elétron, que
não pode saltar meio nível de energia (energia quantizada), com um sapo, que não consegue
pular meio degrau de uma escada.
Os Obstáculos Substancialistas atribuem características observadas no elemento, ou
seja, as substâncias são caracterizadas por aquilo que é evidente e superficial, dando as
qualidades, sem considerar as suas propriedades e os conceitos envolvidos. Nesse sentido,
algumas propriedades são vistas como pertencentes àquela substância, sendo a substância a
razão única para todas as suas qualidades (LOPES, 1993, 2007). Como exemplo, apontar a
cor amarela do ouro como uma propriedade intrínseca do metal e não como um fator da
interação dos átomos com a radiação eletromagnética. Outro exemplo é considerar a
propriedade de acidez pela quantidade de H+ ionizado, entretanto, existem interações com a
água e com a sua base conjugada, que também determinam a força do ácido (LOPES, 1993).
Por fim, os Obstáculos Verbais se referem à utilização de termos da linguagem
cotidiana no contexto científico para tentar facilitar a explicação e o entendimento de um
fenômeno. A utilização desses termos, porém, leva à associação de termos concretos a
conceitos abstratos, que, quando usados de maneira desatenta, sem uma explicação prévia dos
significados desses termos para a ciência, podem causar entraves no indivíduo, tornando-os
obstáculos epistemológicos. Além disso, o uso indiscriminado desses termos no contexto
científico, sem haver uma distinção com a linguagem comum, pode acarretar não somente no
impedimento do domínio dos saberes científicos, mas também no ensinamento de
conhecimentos errados. Como exemplo, o uso do termo “nobre”, que, para a química, está
relacionado à baixa reatividade de alguns gases, e, na linguagem comum, esse termo é
utilizado para se referir a pessoas descendentes da realeza (LOPES, 1993, 2007).
44
Segundo Sánchez Blanco e Valcárcel Pérez (1993), o docente precisa adotar regras de
atuação, durante suas aulas, para que os alunos respondam da maneira que ele espera. Sendo
assim, as abordagens metodológicas definem as funções que o professor e os estudantes
desempenham dentro do processo de ensino e aprendizagem, sendo definidas de acordo com
as crenças pessoais e interesses do educador em relação à natureza da Ciência, à natureza do
processo educativo e ao papel do sistema educacional. Ou seja, o docente, como ser humano
formado, tem seus próprios ideais sobre o que é a Ciência e o papel que ela deve ter na
educação básica. Sendo assim, para ensinar, o professor precisa selecionar os conteúdos, as
estratégias e os recursos, mas também precisa adotar uma Abordagem Metodológica, que é
fundamentada em uma teoria de ensino e em uma teoria de aprendizagem.
Nesse sentido, a quarta tarefa da UDM (Quadro 4) consiste na seleção e na definição
da Abordagem Metodológica do planejamento. Devem ser explicitados os princípios teóricos
e metodológicos que guiarão o professor, para que possa se organizar e preparar suas aulas.
Desse modo, a abordagem metodológica é o elemento axial da UDM, pois com sua
fundamentação teórica que serão direcionadas e elaboradas, de maneira crítico-reflexiva, as
tarefas seguintes: objetivos de aprendizagem, o planejamento das estratégias didáticas e de
avaliação, conferindo, assim, uma unicidade ao planejamento (BEGO, 2016; BEGO;
SGARBOSA, 2016; FERRARINI, 2020).
45
Quadro 5. Matriz da Tarefa 5 da UDM: tema, objetivos de aprendizagem, sequências didáticas e estratégias de avaliação
TEMA, OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM, SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS E ESTRATÉGIAS DE AVALIAÇÃO
Título da UDM
Objetivos previstos em
Orientações curriculares oficiais
Objetivo da UDM
Sequência didática Objetivo da SD Conteúdo Tempo aproximado
programático (em aulas)
Segundo Bego e Sgarbosa (2016), essa tarefa proporciona ao docente uma autonomia
profissional, uma vez que o professor seleciona e define os objetivos de aprendizagem da UDM
conforme seus valores e suas intenções de ensino, pautados na abordagem metodológica
escolhida, nas orientações curriculares e nas análises científico-epistemológica e didático-
pedagógica, de modo que, posteriormente, possam ser escolhidas as melhores estratégias didáticas
para que sejam atingidos tais objetivos.
Nessa perspectiva, Sánchez Blanco e Valcárcel Pérez (1993) falam sobre os objetivos
de aprendizagem, dentro da UD, afirmando que é necessária a reflexão do professor em
relação à aprendizagem que se deseja proporcionar aos seus alunos. Essa reflexão deve
46
Outro ponto importante trazido por Ferraz e Belhot (2010) está na importância de
decidir e definir os objetivos de aprendizagem, de modo que sejam estruturados e planejados
de acordo com os conteúdos, a abordagem metodológica, os recursos disponíveis e as
estratégias. Nessa perspectiva, os autores discutem que, para se atingir esses objetivos, é
muito mais fácil quando esses estão bem definidos e delimitados, pois os discentes têm uma
noção do que se é esperado deles. Além disso, eles retratam que ter essa definição e essa
estruturação claras dos objetivos de aprendizagem facilita o direcionamento do processo de
escolha das estratégias, a delimitação do conteúdo e dos recursos de avaliação, o que
beneficiará os alunos em uma aprendizagem mais concreta e efetiva.
Sendo assim, para que, então, os objetivos possam ser mais bem delimitados e
estruturados, de forma clara e coerente com os conteúdos, a Taxonomia de Bloom pode
auxiliar nesse aspecto. Esse instrumento educacional direciona a seleção, a organização e a
definição dos objetivos de aprendizagem ligados ao desenvolvimento cognitivo dos alunos,
relacionados ao conhecimento, às habilidades e às competências durante o processo de ensino
e aprendizagem. A Taxonomia de Bloom propõe uma estrutura hierárquica relacionada aos
níveis do domínio cognitivo – indo do mais simples para o mais complexo –, em que, para
ultrapassar de um nível para o outro, o aluno precisa ter dominado as habilidades do nível
antecedente, com uma dinâmica cumulativa, na qual um nível depende do outro. Sendo assim,
essa taxonomia pode ser utilizada como uma ferramenta, não só de classificação, mas também
de organização hierárquica dos processos cognitivos, conforme os níveis de complexidade e
de objetivos que se pretende atingir (FERRAZ; BELHOT, 2010).
Com o passar dos anos, a Taxonomia de Bloom foi revisada, apresentando algumas
alterações e mudanças. Na nova revisão da ferramenta, as dimensões conhecimento e
processos cognitivos são diferenciadas, apresentando, assim, a estrutura de uma tabela
bidimensional. Essa tabela tem como função estruturar os objetivos educacionais e auxiliar os
professores em seu planejamento didático (FERRAZ; BELHOT, 2010).
O esqueleto da tabela bidimensional é formado pela coluna vertical (dimensão
conhecimento) e pela linha horizontal (dimensão do processo cognitivo). A dimensão
conhecimento é composta pelos níveis: Efetivo, Conceitual, Procedural e Metacognitivo. Já a
dimensão do processo cognitivo é constituída pelos verbos: Lembrar, Entender, Aplicar,
Analisar, Sintetizar e Criar (Figura 8) (FERRAZ; BELHOT, 2010).
48
Figura 8. Categorização dos verbos da dimensão do processo cognitivo, Taxonomia de Bloom revisada
que cada uma tem objetivos de aprendizagem específicos. Para a autora Sanmartí, cada
projeto de ensino deve ter a proposição de um objetivo geral de aprendizagem e, para sua
concretização, são estabelecidos objetivos específicos, a serem trabalhados dentro das SD.
Cada sequência é composta por um número de aulas, predefinidas pelo professor, nas quais
um conjunto de atividades e estratégias didáticas são distribuídas e planejadas com o intuito
de atingir seu objetivo específico de aprendizagem proposto, com uma relação trina entre
aluno-saber-professor e um movimento espiral crescente, para se alcançar ao final do processo
o objetivo central do planejamento.
A seleção dos objetivos específicos de cada uma das SD auxilia o papel docente em
acompanhar o desenvolvimento dos estudantes durante o processo de aprendizagem e o da
UDM planejada. Isso facilita as percepções de alguns pontos a serem replanejados, fazendo
alterações no caminho da UDM e até mesmo nos objetivos durante o processo de
implementação (FERRARINI, 2020). Nesse sentido, Sanmartí (2002) afirma que, dentro de
uma sala de aula, há um processo dinâmico entre pessoas com conhecimentos e interesses
múltiplos; com isso, existe uma constante evolução entre os pensamentos dos professores e os
dos alunos. Sendo assim, os objetivos definidos inicialmente, embora sejam um bom
referencial, tendem a ser mudados e adaptados ao longo da UD.
No Quadro 5, há o template referente à Tarefa 5. Nele, o número de sequências de aulas
deve ser estabelecido pelo professor, de acordo com o número de objetivos específicos
necessários para a consecução do objetivo geral (FERRARINI, 2020). Com efeito, como citado
anteriormente, para a elaboração dos objetivos, devem ser levados em consideração o contexto
escolar, as orientações curriculares oficiais, as análises didático-pedagógica e científico-
epistemológica, ser fundamentada na abordagem metodológica escolhida e ser estruturada na
Taxonomia de Bloom.
Quadro 6. Matriz das Tarefa 6 e 7 da UDM: seleção de estratégias didáticas e das estratégias de avaliação
SELEÇÃO DAS ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS E DAS ESTRATÉGIAS DE AVALIAÇÃO
Título da SD
Objetivos da SD
Estratégia de
avaliação
Dia/Aula Estratégia Conteúdos Tempo / Recursos Materiais de
didática de ensino Descrição das didáticos aprendizagem/
atividades / Instrumento de
Organização da avaliação
sala de aula
Referências
(fundamentação
das estratégias
didáticas e de
avaliação
escolhidas)
Fonte: Adaptado de Bego (2016) e Ferrarini (2020).
Para se realizar a seleção das estratégias didáticas mais adequadas, é necessário ter em
mente como será levada para a sala de aula a abordagem metodológica escolhida com base na
51
sequência de ensino. Tanto o modelo da UDM quanto o da UD elaborados por Sánchez Blanco e
Valcárcel Pérez (1993) requerem que sejam delimitadas as etapas do desenvolvimento das aulas
planejadas, de modo que cada uma delas tenha intencionalidade diferente, de acordo com a
abordagem metodológica e os objetivos de ensino, para que, dessa maneira, possam ser
distribuídos os conteúdos (conforme o mapa conceitual elaborado na Tarefa 2 e as concepções
prévias levantadas na Tarefa 3) e escolhidas as melhores atividades que atendam essas
expectativas. Nesse sentido, Sánchez Blanco e Valcárcel Pérez (1993) sugerem o
desenvolvimento da UD seja realizado em uma ou mais sequências de ensino constituídas por
várias fases, por exemplo: Iniciação 1, Informações 1, Iniciação 2, Informações 2 e Aplicação-
Conclusão.
Dentro de uma UD, as atividades didáticas são selecionadas com base nos objetivos de
ensino, tendo entre eles uma relação biunívoca. Com isso, é possível selecionar várias atividades
para se atingir um único objetivo ou uma única atividade pode contemplar vários objetivos
(SÁNCHEZ BLANCO; VALCÁRCEL PÉREZ, 1993).
Dentro do modelo de Unidades Didáticas Multiestratégicas, há uma valorização da
pluralidade e da diversidade de estratégias de ensino e de instrumentos de avaliação. Pois
considera-se que os alunos não aprendem da mesma maneira nem no mesmo tempo, por ser
tratarem de seres diferentes que aprendem de formas diferentes e têm dificuldades distintas
(SANMARTÍ, 2002).
Nessa perspectiva, Sanmartí (2002) vem retratar que, para ensinar ciências, os docentes
têm uma abrangente variedade de atividades, ferramentas e recursos disponíveis, e utilizar essa
diversidade de estratégias didáticas em sala de aula ajuda os estudantes a encontrarem os
melhores caminhos e maneiras de aprender. Porquanto, deve ser considerado que os alunos têm
realidades pessoais e familiares particulares, o que influencia na aprendizagem deles. Logo, a
missão do professor é promover o aprendizado em meio a essas condições, sendo então necessário
o planejamento de aulas com atividades diversas que atendam às necessidades e aos interesses de
todos os estudantes.
Com isso, ao serem aplicadas atividades específicas durante as aulas de ciências, somente
alguns alunos serão favorecidos no processo de ensino e aprendizagem:
[...] é importante que todo desenho pedagógico contemple essa diversidade, pois desta
forma cada aluno é favorecido, podendo desenvolver suas habilidades com base em seu
estilo cognitivo e em sua motivação. Se a realização do mesmo tipo de atividades é
sempre promovida, apenas aqueles que são mais adequados para eles se beneficiam,
52
enquanto outros não têm chance para encontrar maneiras de aprender mais intimamente
relacionadas às suas características. (SANMARTÍ, 2002, p. 177, em tradução livre)6
Além dessas questões fundamentais, Sanmartí (2002) elenca mais dois pontos
importantes para a diversificação das estratégias e atividades didáticas. O primeiro ponto é a
oferta de caminhos alternativos de aprendizagem, pois os fatores responsáveis pelo
aprendizado são aleatórios, não sendo uma única atividade responsável que leve a um total
aprendizado com segurança, ou seja, ao se ter uma variedade de atividades didáticas, existem
maiores oportunidades de se aprender e construir um dado conhecimento. E o segundo ponto
é a promoção de motivação, pois ao se ter estratégias didáticas diversificadas, pode-se
despertar maior interesse por parte dos estudantes em aprender e participar das aulas, ao sair
da rotina que estão acostumados e ao experimentar atividades novas.
Alves e Bego (2020) citam alguns exemplos de estratégias didáticas que podem ser
utilizadas para os desenvolvimentos das SDs propostas na UDM como: ensino por
experimentação, utilização de mapas conceituais, aplicações de estudos de casos, uso de
tecnologias de informação e comunicação (TIC), dinâmicas com jogos didáticos, emprego de
modelos de analogias e metáforas, utilização da História e Filosofia da Ciências, entre muitas
outras.
Para a realização dessas atividades, normalmente são utilizados alguns recursos
didáticos e materiais de aprendizagem, que também são explicitados na UDM. Os recursos
didáticos são suportes físicos que auxiliam no desenvolvimento das estratégias didáticas,
podendo ser considerados como veículos de transmissão dos conteúdos. Esses recursos, de
maneira geral, são independentes dos conteúdos a serem trabalhados e não são
necessariamente produzidos pelo professor. Nessa categoria, podem ser considerados: a lousa,
o Datashow, o retroprojetor, o giz, as revistas, os jornais, o computador, os aplicativos, os
vídeos, os filmes, as vidrarias de laboratórios, entre outros (ALVES; BEGO, 2020;
SÁNCHEZ BLANCO; VALCÁRCEL PÉREZ, 1993).
Já os materiais de aprendizagem podem ser definidos como os instrumentos
elaborados pelos professores e pelos alunos para o desenvolvimento das atividades como um
objeto de estudo, sendo então dependentes dos conteúdos programados, como: mapas
conceituais, roteiros de experimentos, listas de exercícios, anotações nos cadernos,
6
[...] es importante que todo diseño pedagógico recoja esta diversidad, ya que así se favorece que cada
estudiante pueda desarrollar sus capacidades en función de su estilo cognitivo y de su motivación. Si siempre se
promueve la realización del mismo tipo de actividades, sólo se benefician los que se adaptan mejor a ellas,
mientras que otros no tienen posibilidades de encontrar vías más afines a sus características para aprender.
53
apresentação em slides, trabalhos e pesquisas didáticas, entre outros (ALVES; BEGO, 2020;
SÁNCHEZ BLANCO; VALCÁRCEL PÉREZ, 1993).
Assim como a Tarefa 6, a Tarefa 7 da UDM foi baseada em uma das tarefas de UD
proposta por Sánchez Blanco e Valcárcel Pérez (1993), “Seleção de estratégias de avaliação”.
Para essa última seção do planejamento, os autores a associam à avaliação como mais um
elemento do trabalho docente na construção da aprendizagem dos discentes, não podendo ser
excluída desse processo e deve adquirir um caráter formativo. Sendo, então, sua função
auxiliar na aprendizagem dos alunos e retificar quando necessário, para que se possa avançar
com os conteúdos.
A UDM proposta por Bego (2016), assim como a UD elaborada por Sánchez Blanco e
Valcárcel Pérez (1993), tem como meio de avaliação a do tipo formativa.
A avaliação formativa de uma situação ou uma atividade é realizada de forma
compartilhada com os alunos, dando-lhes feedbacks, mostrando-lhes seus erros e acertos, para
que proporcione uma utilidade futura. Sendo assim, para que a avaliação seja realmente
considerada formativa, ela deve ser utilizada como meio de fornecer informações que
melhorem o desempenho tanto dos alunos quanto do professor, tornando-se, então, um tipo de
instrumento que monitora e acompanha o processo de ensino e aprendizagem (SÁNCHEZ
BLANCO; VALCÁRCEL PÉREZ, 1993).
Na seleção das estratégias de avaliação a serem utilizadas dentro do planejamento, é
interessante que seja refletido “o que, quando e como” avaliar. Sánchez Blanco e Valcárcel
Pérez (1993) afirmam que o primeiro passo a ser decidido é do “o que” avaliar. Para eles, em
uma UD, devem ser avaliados dois aspectos: sobre a aprendizagem dos alunos e sobre o
desenvolvimento da UD dentro da sala de aula.
Em relação à aprendizagem dos alunos, alguns pontos devem ser considerados para
serem avaliados de maneira formativa: i) as ideias prévias dos alunos; ii) avanços na
construção dos conhecimentos, havendo uma mudança conceitual; iii) a obtenção do
conhecimento científico; iv) se os estudantes atingiram os objetivos de aprendizagem
selecionados anteriormente. Já em relação ao desenvolvimento da UD dentro da sala de aula,
devem ser avaliados: as atividades selecionadas e os materiais de aprendizagem utilizados,
com o intuito de que sejam revisados o quanto foram apropriados durante o processo de
aplicação da UD, para que possam ser melhorados e modificados em alguns aspectos
específicos (SÁNCHEZ BLANCO; VALCÁRCEL PÉREZ, 1993).
O próximo passo a ser decidido sobre a avaliação é quando avaliar. Tendo em vista
que muitos conteúdos são trabalhados em um único tema dentro da sala de aula, são
54
objetivos de ensino, das estratégias didáticas, bem como nas formas de avaliação em relação
ao ensino CTS.
57
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Diante do contexto de pandemia, provocada pelo novo coronavírus, não foi possível
realizar o acompanhamento de uma escola específica para a elaboração do planejamento da
UDM e sua posterior aplicação. Com isso, foram consideradas as características das escolas
públicas da rede estadual de São Paulo, de maneira geral, para a realização deste trabalho. Tal
escolha se deu em razão das experiências vividas pela autora deste trabalho durante seu
ensino básico, pela grande precarização do ensino e dos recursos didáticos nas escolas da rede
e por essas instituições apresentarem, normalmente, um padrão (SEMIS, 2019). Sendo assim,
a UDM elaborada (APÊNDICE A) foi pensada para a disciplina de Química de uma turma do
terceiro ano do Ensino Médio, pertencente a uma escola estadual de São Paulo.
Nesse sentido, alguns aspectos importantes foram considerados para a elaboração da
primeira tarefa da UDM proposta. O primeiro ponto levado em consideração foi a
organização e o regimento escolar. Como foi visto anteriormente, cada instituição de ensino
tem suas particularidades, sendo isso um reflexo de seu gerenciamento por funcionários que
determinam e orientam o cotidiano escolar, influenciando, assim, nas atividades dentro da sala
de aula e na qualidade do ensino (BEGO; SGARBOSA, 2016).
A rede estadual de ensino de São Paulo contou com 1.299.754 matrículas para o
Ensino Médio no ano de 2020. Para atender essa demanda de alunos de forma igualitária, a
Secretária da Educação disponibiliza algumas orientações curriculares que devem ser
seguidas pelas escolas da rede. Sendo assim, a partir do ano de 2021, o documento vigente
será o Currículo Paulista (SÃO PAULO, 2020a). Tal documento, baseado na Base Comum
Curricular (BRASIL, 2018), tem como princípios “fomentar ao jovem estudante perspectivas
motivadoras na sua trajetória escolar, ao procurar adequar e atender diferentes demandas a
partir da significação e valorização de históricos locais” (SÃO PAULO, 2020a, p. 16).
Para que isso ocorra, o Currículo Paulista visa propor formas de organização do tempo
e do espaço escolar, da gestão dos conteúdos curriculares, das metodologias de ensino e da
formação de professores. Dessa maneira, esse novo modelo curricular busca proporcionar
novas experiências de organização e estruturação das escolas, que deverão ser incorporadas
aos planejamentos e regimentos escolares (SÃO PAULO, 2020a). Sua estrutura é
fundamentada em itinerários de formação técnica e profissional dos estudantes, para que
possam desenvolver perfis profissionais, atividades, competências, habilidades, valores,
58
conhecimentos e bases tecnológicas, sendo então suas componentes curriculares divididas por
eixos tecnológicos ou área do conhecimento (SÃO PAULO, 2020a).
Um segundo ponto levantado, para a elaboração do planejamento didático-pedagógico,
foi a caracterização dos alunos que frequentam as escolas públicas do estado de São Paulo.
Para planejar uma boa aula, é necessário que o professor conheça seus alunos cognitivamente
e o contexto social em que estão inseridos, para que bem possa atender suas necessidades
particulares de maneira eficaz (CASTRO; TUCUNDUVA; ARNS, 2008).
Sendo assim, em relação à demanda dessas escolas, boa parte delas apresenta um
grande número de estudantes, podendo chegar a uma média de 40 alunos por turma.
Normalmente, esses alunos são provenientes de zonas mais pobres das cidades, apresentando
uma baixa renda per capita em suas residências. Por causa do ensino precário nas escolas
públicas do estado, também é muito comum que esses educandos apresentem defasagens em
seu aprendizado, o que pode acarretar grandes dificuldades no aprendizado de alguns
conteúdos.
Com essas informações, as aulas da UDM foram planejadas considerando alguns
pontos, como: o número de alunos, para a realização das atividades em grupo; a baixa renda
desses estudantes, ao elaborar atividades em que o professor disponibiliza os materiais ou que
possam utilizar recursos disponibilizados pela escola; as possíveis defasagens no aprendizado,
por meio da proposição de atividades multiestratégicas para atender a pluralidade dos alunos;
a realização de avaliações formativas e correções dos exercícios, disponibilizando tempo para
tirar possíveis dúvidas.
Um último aspecto muito importante na primeira tarefa da UDM é a caracterização do
contexto escolar, retratando sua infraestrutura e o contexto em que a instituição está inserida.
De fato, é muito importante para o planejamento didático-pedagógico considerar esses
elementos, pois é com a análise crítica desse contexto que os problemas são identificados,
bem como suas condicionantes na escola e na sociedade (FUSARI, 1990). Além disso, para
que o docente possa delimitar seus objetivos de ensino e sua prática docente de maneira
efetiva, é necessário que tenha conhecimento do contexto social, tenha materiais disponíveis,
observe as atitudes profissionais e as prescrições legais (FERRARINI, 2020).
Com isso, foi verificado que a infraestrutura das instituições públicas de ensino do
estado de São Paulo é, na maioria delas, bastante precária. Há uma grande escassez de alguns
recursos e materiais didáticos, o que dificulta a elaboração de aulas do professor. As salas de
aula costumam ser superlotadas, tendo pouco espaço para se trabalhar e para melhor conforto
dos alunos. Nas salas de informática, geralmente, não há computadores para todos os
59
estudantes de uma turma (BRASIL, 2020a) sendo necessário, na maior parte das vezes, a
realização de atividades em grupo. Os laboratórios didáticos, quando estão em
funcionamento, não têm muitos equipamentos, vidrarias básicas e reagentes disponíveis, o
que torna, em muitos casos, inviáveis aulas práticas de ciências. Quanto à localidade dessas
escolas, costumam estar localizadas em zonas periféricas e rurais, sendo frequentadas por
educandos que moram nas proximidades. No entanto, escolas consideradas com uma
qualidade de ensino melhor se encontram nas regiões mais urbanizadas e centrais, sendo
muito comum o deslocamento dos alunos provenientes de zonas mais afastadas na busca por
um ensino melhor.
Posto isso, na UDM elaborada (APÊNDICE A), algumas dessas informações foram
consideradas: as atividades dentro da sala de informática serem feitas sempre em duplas ou
em grupos; realização de atividades práticas simples, que não exigem muitos equipamentos e
vidrarias, podendo ser realizadas até mesmo na cozinha da escola; a tentativa de formar
alunos críticos e atuantes na sociedade, para que possam atuar ou, até mesmo, solucionar
alguns problemas da sua realidade.
funcionais existentes, os mais comuns e que são trabalhados no Ensino Médio, conforme o
currículo, são: hidrocarboneto, álcool, fenol, aldeído, cetona, ácido carboxílico, éster, éter,
amina, amida, compostos halogenados e sais de ácido carboxílico.
Tendo em vista os conceitos sobre grupos funcionais, para que possam ser mais bem
trabalhados em sala de aula, é interessante que seja realizado um levantamento prévio de algumas
premissas que os alunos venham apresentar (FERRARINI, 2020). Desse modo, alguns pré-
requisitos elencados na UDM proposta (APÊNDICE A) foram: átomos e moléculas; substâncias e
misturas; ligações químicas; propriedades físico-químicas da matéria; significado do termo Química
Orgânica; postulados de Kekulé; cadeias carbônicas; fórmulas estruturais, classificação dos
carbonos e das cadeias carbônicas; hidrocarbonetos e compostos aromáticos.
Como foi dito anteriormente, um dos objetivos da tarefa “Análise científico-epistemológica”
é a atualização científica do professor, consistindo em consultas e reflexão dos conteúdos científicos
(SÁNCHEZ BLANCO; VALCÁRCEL PÉREZ, 1993). Para fazer essa revisão dos conteúdos,
foram explicitados na UDM elaborada (APÊNDICE A) por meio das relações entre os três
aspectos do conhecimento químico: fenomenológico, teórico e representacional (MORTIMER;
MACHADO; ROMANELLI, 2000).
O primeiro aspecto apresentado no planejamento foi o fenomenológico. De acordo com
Mortimer, Machado e Romanelli (2000), essa interface está relacionada com a interface
macroscópica dos fenômenos químicos, que podem ser vistas, sentidas e/ou mensuradas, por
exemplo, alterações de cores, mudanças de estados físicos da matéria, emissões de radiações de
alguns elementos, odores, entre outros. Assim, tentou-se elencar algumas características físico-
químicas das substâncias orgânicas que resultam em fenômenos macroscópicos como: densidade,
vapores/odores, polaridade, miscibilidade/solubilidade, reatividade, acidez/basicidade e mudanças
de estado físico.
O próximo aspecto exposto na UDM “grupos funcionais: muito além dos
hidrocarbonetos” foi o teórico. Esse aspecto explica a teoria científica que dá embasamento
aos aspectos fenomenológico e representacional (MORTIMER; MACHADO; ROMANELLI,
2000). Portanto, para esse tópico, foram detalhadas as principais características e propriedades
particulares das substâncias que têm os grupos funcionais que são abordados no decorrer da
UDM (haletos, álcoois, fenóis, éteres, aldeídos, cetonas, ácidos carboxílicos, ésteres, aminas e
amidas). Para cada grupo foram explicitados: polaridade e tipos de interações
intermoleculares, temperaturas de fusão e ebulição, estado de agregação da matéria,
solubilidade em água e em outros solventes, densidade em relação à água e à reatividade.
61
7
BACHELARD, G. A filosofia do não: filosofia do novo espírito científico. Tradução de Joaquim José Moura
Ramos. São Paulo: Abril Cultural, 1994. p. 01-87.
63
Posto isso, o modelo de UDM elaborado por Bego (2016) propõe que seja realizada a
esquematização de um mapa conceitual. Então, o mapa conceitual (Figura 12), feito para a
UDM deste trabalho (APÊNDICE A), buscou interligar os principais tópicos relacionados ao
tema central Funções Orgânicas, explicitando como esse conteúdo se organiza e é entendido
cognitivamente pela professora (elaboradora), de modo que traga sentido e significados para
ela (TAVARES, 2007).
Com isso, para essa tarefa, é muito importante que o professor faça uma revisão dos
conteúdos científicos, para que reforce possíveis conceitos não recordados e se atualize nas
novas tendências científicas. Além disso, é importante que essa tarefa seja muito bem-feita,
porque é com base na organização dos conteúdos que as abordagens dos conhecimentos são
estruturadas nas aulas da UDM.
Tal concepção pode ser considerada como alternativa, pois generaliza a Química
Orgânica como algo relacionado somente a seres vivos e matérias em decomposição. Embora
esteja parcialmente correta, por boa parte das substâncias orgânicas terem origem natural,
existem também as que são sintetizadas em laboratórios por reações químicas, por exemplo,
alguns fármacos, polímeros, inseticidas, entre outros.
Em outro trabalho realizado por Souza e Silva (2013), também foi realizada uma
pesquisa com estudantes do Ensino Médio, ao final dos conteúdos de Química Orgânica. De
acordo com os resultados obtidos, algumas concepções alternativas persistiram após o
processo de ensino, sendo elas:
É muito comum a utilização da palavra “álcool” no dia a dia das pessoas para se referir
ao etanol. Embora o etanol seja um tipo de álcool, ele não é o único álcool existente, e a
utilização frequente desse termo para se referir ao etanol pode gerar obstáculos e confusão no
estudante. Sendo assim, cabe ao professor ressaltar que existe uma infinidade de álcoois,
apresentando outros exemplos.
Outro fator muito comum nas aulas de Química Orgânica é a utilização da palavra
“nuvem eletrônica”, para explicar os conceitos de diferença de eletronegatividade e interações
intermoleculares. Todavia os estudantes podem imaginar literalmente uma nuvem se não
houver uma explicação de que tal termo se refere à densidade de elétrons em volta do átomo
por causa de sua afinidade eletrônica. Com isso, pode-se dizer que o melhor termo a ser
utilizado para esse caso, seria “densidade eletrônica”.
Por fim, o último termo explicitado foi “pureza”. Como já foi dito antes, as
substâncias orgânicas são um tipo de substâncias químicas. Sendo assim, é comum a
utilização do termo “substância pura” para se referir a essas substâncias, no sentido de que
não há nenhum outro componente misturado àquela substância. Todavia, o termo “pureza”
passa a sensação de limpeza, o que pode gerar um obstáculo na aprendizagem do aluno. Desse
modo, o docente deve reforçar o significado de pureza no sentido químico ou utilizar somente
o termo substância, sem a palavra “pura”, já que o significado de substância por si só condiz
com a ausência de outros componentes.
O próximo obstáculo epistemológico investigado para o tema Química Orgânica é o
substancialista. Esse obstáculo ocorre quando é atribuída alguma característica a uma
substância como se pertencesse a ela, desconsiderando as propriedades e os fatores
responsáveis por aquela característica (LOPES, 1993, 2007). Sendo assim, com base na
literatura, a autora deste trabalho explicitou alguns obstáculos desse tipo:
que o professor evite explicar as propriedades de uma substância, atribuindo-a somente a uma
molécula.
O segundo obstáculo, retratado por Lopes (1992), trata-se da definição de ácidos e
bases como substâncias que ionizam H+ e OH- em água. O obstáculo dessa afirmação está na
generalização dessa definição de ácidos e bases, desconsiderando as outras definições
existentes em que há uma relação com o solvente utilizado, de modo que uma mesma
substância possa ser ácida e básica, dependendo das condições. Desse modo, ao se referir a
um ácido e uma base, é importante que o docente explique o seu comportamento e explicite a
qual teoria ele se encaixa, Arrhenius, Lewis ou Brönsted-Lowry. Considera-se o fato de que
as teorias de Lewis e de Brönsted-Lowry são muito mais utilizadas que a de Arrhenius,
principalmente, para as reações envolvendo substâncias orgânicas.
No terceiro caso, o obstáculo identificado por Silveira (2003) é semelhante a uma
concepção alternativa levantada por Souza e Silva (2013). Ele retrata a generalização de que
todas as substâncias que têm carbono em sua estrutura são orgânicas, não considerando o fato
de que existem substâncias inorgânicas que também têm átomos de carbono, como, HCN e
H2CO3. Para que não ocorra esse obstáculo epistemológico, é importante que o professor evite
essa generalização e ressalte que existem também substâncias inorgânicas com átomos de
carbono em sua estrutura.
Os obstáculos epistemológicos do tipo realista valorizam as impressões tácteis e
visuais. Dessa maneira, comparações metafóricas são feitas com elementos do cotidiano para
explicar os conhecimentos científicos de maneira menos abstrata, na tentativa de facilitar o
entendimento dos alunos (LOPES, 1992, 2007). Todavia, quando não se explicita que é
apenas uma comparação ou uma analogia, sem um reforço dos conceitos científicos, pode
fazer com que os estudantes tenham dificuldade de aprender de maneira correta. Sendo assim,
Silveira (2003) elencou alguns obstáculos realistas encontrados em livros didáticos:
sem uma boa explicação, pode gerar conceitos errados para o estudante, por exemplo,
acreditar que, assim como no Lego, as moléculas têm cores específicas. Com isso, cabe ao
professor evitar esses tipos de comparações para não haver possíveis confusões entre seus
alunos.
Figura 13. Obstáculo realista: comparação de peças de Lego com átomos e moléculas das substâncias
O próximo obstáculo desse tipo seria a identificação das substâncias com base em suas
fórmulas representacionais, de forma memorizada. É bem comum os alunos associarem as
substâncias químicas a seus símbolos e suas nomenclaturas, não sabendo de fato o que elas
são, suas propriedades, como seus átomos estão arranjados e suas aplicações. Nesse caso,
cabe ao educador ter uma boa dinâmica entre os três aspectos do conhecimento químico,
reforçando, principalmente, a parte teórica relacionada a essas substâncias químicas.
Para o terceiro obstáculo realista, há a utilização do termo substância para se referir a
qualquer material. Esse aspecto é um dos mais frequentes no dia a dia das pessoas. Referir-se
a materiais que são formados por diferentes componentes como substância é um erro
conceitual, pois se trata de uma mistura. Por exemplo, a gasolina é um material químico
composto por diversos hidrocarbonetos distintos, portanto, não pode ser chamada de
substância. Com isso, dentro da sala de aula, cabe ao educador evitar a utilização do termo
“substância” para se referir a materiais constituídos por uma mistura de componentes. Além
disso, é bom que seja reforçado em sala de aula a diferença entre uma substância e um
composto químico.
Por fim, o último obstáculo epistemológico abordado na UDM (APÊNDICE A) foi o
animista. Esse, por sua vez, é caracterizado pela atribuição de particularidades vitais para
70
objetos e fenômenos dos conceitos científicos (LOPES, 1992, 2007). Para esse obstáculo, a
autora deste trabalho elencou alguns exemplos:
“Classificação das substâncias orgânicas como ‘estão presentes nos seres vivos’”;
“Ilustrações de moléculas como se tivessem vida”;
“Enxergar as substâncias como algo com vida”.
Figura 14. Representação Obstáculo Animista: molécula de água apresentando um diálogo entre elas, com
rostos desenhados e sentimentos
realmente acreditar que as substâncias orgânicas têm vida. Para esse caso, o docente precisa
evitar fazer essas afirmações que se referem às substâncias orgânicas como vivas e às
inorgânicas como não vivas.
Tendo em vista as concepções alternativas e os obstáculos epistemológicos citados, é
muito importante que o professor faça esse levantamento em seu planejamento, para que
possa identificar as possíveis dificuldades e erros conceituais que possam aparecer no
decorrer do processo de ensino e aprendizagem. Desse modo, o professor poderá impedir a
formação dessas barreiras no aprendizado do aluno, bem como evitar a utilização de algumas
analogias e termos, e reforçar alguns conceitos mais fragilizados.
Já a BNCC aborda que o Ensino Médio deve preparar os estudantes para além da
escola, buscando promover a formação de indivíduos com valores e autonomia, pois:
Sendo assim, a CTS/CTSA demonstrou ser a abordagem metodológica ideal para ser
utilizada na UDM deste trabalho (APÊNDICE A), uma vez que atende aos interesses
73
esse objetivo, e, para o caso, será com a produção de artes, panfletos e velas de citronela para
serem distribuídos pelos arredores da escola.
A elaboração desse objetivo buscou atender os fundamentos da abordagem
metodológica CTS/CTSA. Ao propor aos alunos a iniciativa de criar um projeto de
conscientização sobre a dengue, buscou-se incentivá-los a desempenhar o papel de aluno-
cidadão consciente e responsável diante dos problemas da sociedade. Além disso, tentou-se
trabalhar valores, como a consciência do compromisso social, e habilidades, como a escrita, o
desenho, a comunicação oral, o trabalho coletivo e a responsabilidade social (SANTOS;
MORTIMER, 2002). Em relação aos cinco passos de organização do ensino CTS/CTSA, para
esse objetivo, foi trabalhado o quinto passo, em que a abordagem social é retomada e vista de
uma forma mais aprofundada (AIKENHEAD, 19942 apud SANTOS; MORTIMER, 2002).
Tendo o objetivo geral, foram elaborados os objetivos específicos:
“Entender o que são as arboviroses e como são transmitidas pelo Aedes aegypti,
discutindo as principais medidas a serem tomadas pela sociedade para a
prevenção da disseminação dessas doenças, por meio de uma reflexão crítica
sobre esse problema social e de saúde pública em uma roda de conversa.”
“Entender que existem diferentes produtos comerciais utilizados como inseticidas
e repelentes contra o Aedes aegypti, comparando suas composições, utilidades e
toxicidade à saúde humana, por meio da leitura de textos da literatura e
discussões em grupos.”
“Analisar as substâncias presentes em produtos comercializados no combate ao
Aedes aegypti e às arboviroses, diferenciando os grupos funcionais presentes nas
estruturas das moléculas.”
“Avaliar o uso dos inseticidas comerciais, como pesticidas, para o combate ao
Aedes aegypti, criticando a viabilidade da utilização desses produtos em termos
toxicológicos, econômicos e ambientais, por meio de um debate.”
do aluno-cidadão, ao despertar o seu interesse pela ciência. Para o autor, as discussões são
pontos-chave para que os estudantes possam compreender sobre o mundo em que vivem, bem
como para desenvolver a capacidade de tomar decisões responsáveis sobre ciência e
tecnologia.
O segundo objetivo também está relacionado ao verbo “entender”, já o substantivo
“que existem diferentes produtos comerciais utilizados como inseticidas e repelentes contra o
Aedes aegypti” está relacionado, mais especificamente, aos repelentes e inseticidas, que
seriam as tecnologias utilizadas para o controle das arboviroses. Quanto ao gerúndio
“comparando”, mostra que o objetivo em questão será atingido por meio de comparações que
os estudantes devem fazer entre os diferentes tipos de repelentes e inseticidas apresentados a
eles.
De acordo com os princípios CTS/CTSA, esse objetivo colabora com a formação do
aluno-cidadão por meio do desenvolvimento de algumas habilidades, como, raciocínio lógico,
aprendizagem cooperativa e comunicação de forma oral e escrita (HOFSTEIN;
AIKENHEAD; RIQUARTS, 1988). Além disso, ao explorar a tecnologia dos repelentes e
inseticidas utilizados contra o Aedes aegypti, buscou-se também atender o segundo passo de
estruturação da CTS/CTSA (AIKENHEAD, 19942 apud SANTOS; MORTIMER, 2002).
Para o terceiro objetivo foi utilizado o verbo “analisar”, pertencente ao quarto nível do
processo cognitivo. O substantivo que complementa o verbo seria “as substâncias presentes
em produtos comercializados no combate ao Aedes aegypti e às arboviroses”, que explicita
que os alunos deverão saber diferenciar os tipos de substâncias presentes nos inseticidas e
repelentes. O gerúndio “diferenciando” indica que essa análise deverá ser feita por meio de
diferenciações dos grupos funcionais presentes nas estruturas das moléculas desses produtos.
Na tentativa de seguir a CTS/CTSA para esse objetivo, procurou-se atender o terceiro
e o quarto passos dessa abordagem, em que há, primeiramente, um entendimento dos
conhecimentos científicos relacionados à tecnologia e, em seguida, a compressão de como
essa tecnologia se relaciona a esses conceitos (AIKENHEAD, 19942 apud SANTOS;
MORTIMER, 2002). Com isso, esse objetivo tenta contribuir para que os estudantes sejam
instrumentalizados e possam se apropriar dos conhecimentos científicos, bem como
desenvolver o seu cognitivo e senso crítico (PINHEIRO; SILVEIRA; BAZZO, 2007). Além
disso, a proposta de análise de moléculas pode favorecer o raciocínio lógico e o trabalho em
equipe dos educandos (HOFSTEIN; AIKENHEAD; RIQUARTS, 1988).
Por fim, o último objetivo teve como verbo de ação o “avaliar”, que se enquadra ao
quinto nível do processo cognitivo, tendo como substantivo o “uso dos inseticidas comerciais,
76
como pesticidas, para o combate ao Aedes aegypti” que deverá ser avaliado pelos estudantes.
O gerúndio escolhido para explicar como esse objetivo será realizado foi o “criticando”, de
modo que os estudantes possam avaliar esses produtos de forma crítica, em termos
toxicológicos, econômicos e ambientais.
De acordo com os princípios da CTS/CTSA, esse objetivo contribui para que os alunos
desenvolvam algumas habilidades, sendo elas, facilidade em se comunicar oralmente,
raciocínio lógico, tomar decisões corretas e trabalho colaborativo lógico (HOFSTEIN;
AIKENHEAD; RIQUARTS, 1988). Além disso, alguns valores também podem ser
trabalhados, como consciência do compromisso social e respeito ao próximo, o que contribui
para com a formação de cidadãos críticos e comprometidos (SANTOS; MORTIMER, 2001,
2002). Quanto à organização dos conteúdos estabelecida para a abordagem CTS/CTSA, para
esse objetivo, buscou-se atingir o quinto e último passo, em que há uma nova abordagem da
questão social de maneira mais aprofundada (AIKENHEAD, 19942 apud SANTOS;
MORTIMER, 2002).
Tendo em vista todos os objetivos formulados para a UDM (APÊNDICE A)
elaborada, pode-se dizer que foram seguidas as orientações de estruturação da Taxonomia de
Bloom, considerando os níveis hierárquicos dos conhecimentos. Também buscou-se atender
os objetivos e os princípios prescritos para a abordagem CTS/CTSA, sua organização em
cinco passos, bem como o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e valores que
contribuam para a formação do aluno-cidadão.
do docente ter um maior suporte para acompanhar as tarefas escolares feitas por seus alunos e
proporciona um amplo número de opções de formas de se realizar discussões e atividades
(MORENO; HEIDELMANN, 2017). As TIC, porém, são apenas tecnologias que auxiliam no
processo de ensino e aprendizagem, não sendo suficientes para o aluno aprender (MIRANDA,
2007). Sendo assim, é função do professor considerar uma visão crítica, criativa e dinâmica
em sua proposta didática, para que as tecnologias não sejam apenas enfeites nas aulas,
podendo contribuir para com o aprendizado dos alunos (MORENO; HEIDELMANN, 2017).
Nessa perspectiva, para a SD “Arboviroses: um problema de saúde pública”, as
TIC-ferramentas de pesquisas seriam utilizadas pelos alunos para pesquisarem sobre
notícias e dados sobre “medidas tomadas pela prefeitura de Araraquara para controlar a
epidemia de dengue na cidade” para contribuir nas discussões. Considerando a
abordagem CTS/CTSA, essa atividade pode contribuir para que os estudantes possam
adquirir uma visão crítica, ao se deparar e discutir sobre os aspectos sociopolíticos
ligados à problemática das arboviroses, contribuindo com a formação do aluno -cidadão
(SANTOS; MORTIMER, 2002).
Para essa SD, foi proposta uma avaliação formativa, assim como, para toda a UDM, de
modo que os alunos fossem avaliados de maneira contínua, tendo como estratégia de
avaliação a participação dos alunos nas discussões feitas e o acompanhamento do
desenvolvimento deles nas atividades propostas.
Considerando o objetivo “Entender o que são as arboviroses e como são transmitidas
pelo Aedes aegypti, discutindo as principais medidas a serem tomadas pela sociedade para a
prevenção da disseminação dessas doenças por meio de reflexões sobre esse problema social e
de saúde pública em uma roda de conversa”, tentou-se atingi-lo usando as atividades
propostas. Com a leitura das notícias (ANEXOS A e B da UDM), das rodas de discussão e
pela pesquisa em casa, no decorrer da SD, foram abordados os temas prescritos no objetivo,
bem como as perguntas norteadoras e a aula expositiva também norteiam e contribuem para
as reflexões e discussões.
A segunda SD da UDM elaborada (APÊNDICE A) teve como finalidade fazer a
apresentação e exploração da tecnologia relacionada à problemática social sobre as
arboviroses transmitidas pelo Aedes aegypti. Tal tecnologia seria os inseticidas e os repelentes
mais utilizados contra esse mosquito. Sendo assim, nessa SD, buscou-se mostrar as diferenças
entre inseticidas e repelentes, os diferentes tipos de princípios ativos presentes nesses
produtos e as vantagens e desvantagens de cada um deles. Para realizar essa proposta, foram
sugeridas duas estratégias didáticas: análise de rótulos e Jigsaw.
79
8
https://molview.org/?cid=996
81
Na quarta e última SD da UDM que compõe este trabalho (APÊNDICE A), após a
instrumentalização dos conceitos científicos, teve-se o intuito de voltar à questão inicial das
arboviroses transmitidas pelo Aedes aegypti e dos produtos utilizados contra o mosquito,
para que os alunos pudessem retomar a temática com um olhar diferente. Com isso, nessa
SD, buscou-se realizar um debate sobre um dos inseticidas mais perigosos e que é utilizado
para o controle do Aedes aegypti, malation, e também realizar um projeto de
conscientização sobre essas doenças e para a preferência por produtos naturais. Para realizar
essas propostas, as estratégias didáticas sugeridas foram debate, TIC e roda de discussão.
O debate com esquema de disputa funciona da seguinte maneira: inicialmente, os
estudantes são divididos em dois lados de disputa, associados a algum procedimento adotado.
Um dos lados tem um posicionamento contra, e o outro, a favor a esse procedimento. Cada
lado tem que utilizar argumentos que sustentem sua posição frente ao tema da disputa. Os
argumentos feitos pelos grupos devem estar relacionados aos anseios e receios da sociedade,
diante do que a ciência pode proporcionar. Sendo assim, para realizar esse tipo de atividade, é
interessante que sejam selecionados textos de divulgação científica que apresentem ambos os
pontos de vista, de maneira que possam auxiliar os estudantes durante o debate (FATARELI
et al., 2015).
Essa estratégia didática foi escolhida por fornecer um espaço durante as aulas para que
os alunos aprendam a argumentar, a trocar ideias, a construir conhecimentos e conhecer o
trabalho científico. Ela também propicia o contato de informações da atualidade da ciência e
da tecnologia, e desenvolve a habilidade de leitura e de um senso crítico e reflexivo. Além
disso, a estratégia didática de debate tem como objetivo a incorporação das questões
sociocientíficas e a promoção da tomada de decisão (FATARELI et al., 2015). Essas
habilidades e esses valores que o debate proporciona compactua com o ensino em uma
abordagem CTS/CTSA (SANTOS; MORTIMER, 2002).
Sendo assim, com base nessa estratégia didática, buscou-se atender o objetivo
específico dessa SD de “Avaliar o uso dos inseticidas comerciais, como pesticidas, para o
combate ao Aedes aegypti, criticando a viabilidade da utilização desses produtos em termos
toxicológicos, econômicos e ambientais, por meio de um debate”. Ao fazer a leitura do texto
para a realização do debate (ANEXO C da UDM) e as discussões durante a atividade, o
aluno analisa e reflete sobre o uso desses produtos, fazendo um levantamento das vantagens e
desvantagens em termos de saúde, economia e meio ambiente.
Outra vez foram utilizadas as TIC, agora para a SD “Conscientização no combate à
dengue!”. Nessa SD, foram usados programas de edição, redes sociais e sites de busca, para
83
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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93
ANEXOS E APÊNDICES
94
IDENTIFICAÇÃO DO TRABALHO
Autores da UDM
Gabriela Fonseca de Oliveira
(ordem alfabética)
Nome da unidade
Escolas Estaduais de São Paulo
escolar
Endereço completo -
Site e e-mail -
Em razão da pandemia, causada pelo vírus SARS-CoV-2, no ano de 2020, esta UDM não será direcionada a uma escola
em específico, sendo dessa forma elaborada para as escolas públicas estaduais do estado de São Paulo de maneira geral.
Embora cada instituição de ensino seja singular, a maioria das escolas estaduais do estado de São Paulo normalmente
obedece a um padrão parecido como: ser frequentada por alunos de bairros próximos e de uma renda relativamente baixa;
está, na maior parte, localizada em bairros mais periféricos; tem uma sobrecarga alta de alunos (em média de 40 a 50
alunos/turma); e boa parte atende somente o Ensino Médio.
Em sua infraestrutura, é muito comum ter em torno de dez salas de aula, pátio, refeitório, cantina, sala de professores, sala
Caracterização da do diretor, secretaria, banheiros divididos por gêneros masculino e feminino, sala de vídeo (com computador e
unidade escolar Datashow), quadra esportiva, água encanada e tratada e biblioteca. Algumas escolas também podem conter: laboratório de
ciências, sala de informática, acesso à internet, impressoras para uso dos estudantes e adaptação para alunos especiais.
As salas de aula costumam ter uma lousa (giz), várias carteiras e cadeiras de ferro/plástico ou ferro/madeira, janelas por
toda uma lateral das paredes, um ventilador acima da lousa e mesa e cadeira do professor em frente à lousa. Em algumas
escolas também é comum haver cortinas nas janelas, mais de um ventilador e Datashow presos no teto.
Com relação aos funcionários, as escolas estaduais geralmente são constituídas por cozinheiras, auxiliares de limpeza,
diretor(a), vice-diretor(a), coordenador(a) pedagógico, corpo docente, secretários(as) e expectores(as). Em algumas
escolas pode haver mediador, psicólogo(a) e assistência médica.
Disciplina Química
96
Normalmente, os alunos no terceiro ano têm entre 16 e 18 anos e são de classe baixa ou classe média baixa, provindos de
bairros periféricos ou rurais.
É muito comum que esses alunos tenham estudado boa parte de suas vidas em escolas públicas, podendo trazer consigo
Caracterização dos algumas deficiências e defasagens de ensino, provenientes de um ensino não muito aproveitado, o que pode acarretar
estudantes dificuldades e necessidades em alguns conteúdos.
Em sala de aula, há uma grande heterogeneidade de estudantes que normalmente se agrupam entre si, de acordo as
afinidades. Sendo assim, é comum haver vários grupos distintos que se comportam, interessam-se pelos conteúdos e têm
habilidades de maneiras diferentes.
97
ANÁLISE CIENTÍFICO-EPISTEMOLÓGICA
Seguindo as orientações curriculares, os conteúdos programáticos para esta UDM serão: grupos
Conteúdo programático da UDM
funcionais clássicos e propriedades de seus respectivos componentes.
Os conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno em sala de aula para aprender e
compreender o conteúdo de grupos funcionais são: conceitos de átomos e moléculas; substâncias e misturas;
Pré-requisitos para a UDM ligações químicas; propriedades físico-químicas da matéria; significado do termo Química Orgânica;
postulados de Kekulé; cadeias carbônicas; fórmulas estruturais, classificação dos carbonos e das cadeias
carbônicas; hidrocarbonetos e aromáticos.
O tema grupos funcionais, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2018, p.
558), adequa-se à Competência Específica 3:
Baseado na BNCC e no antigo Currículo do Estado de São Paulo, o Currículo Paulista (SÃO PAULO, 2020)
está organizado em Competências, Habilidades, Unidades Temáticas e Objeto do conhecimento. Sendo assim, o
tema “Compostos Orgânicos: Funções Orgânicas, estrutura e propriedades” (SÃO PAULO, 2020, p. 149) é um
98
Quanto ao campo Habilidades, o Currículo Paulista selecionou, dentre todas as habilidades pertencentes à
Competência 3 da BNCC, a que melhor contemplasse o objeto do conhecimento de compostos orgânicos sendo
ela:
aumento do número de átomos de carbono e/ou halogênios. Dessa forma, em condições ambientes (25
°C e 1 atm), a maioria dos mono-haletos é líquida, com exceção daqueles com até dois átomos de
carbono que são gases ou líquidos voláteis. Os poli-haletos podem variar entre líquido e sólido.
No quesito solubilidade, a maioria dos haletos é pouco solúvel em água, mas são solúveis em solventes
orgânicos de baixa polaridade.
A densidade dessas substâncias em relação à água varia em cada caso. Por exemplo, os monofluoretos e
os monocloretos não aromáticos são menos densos, enquanto os monobrometos e monoiodetos são
mais densos que a água.
Outras propriedades dos haletos são: odores fortes característicos, sabor doce e alta toxicidade.
Álcoois: são substâncias que possuem um grupo hidroxila (-OH) ligado a um átomo de carbono
saturado. Os compostos que possuem um grupo hidroxila ligado diretamente a um anel benzênico são
chamados de fenóis. Os álcoois são moléculas polares e podem se associar por meio de ligações de
hidrogênio. Essas interações são forças intermoleculares bastante fortes e explicam as elevadas
temperaturas de fusão e ebulição observadas para essa classe de substâncias. Em condições ambiente,
os monoálcoois de até 12 carbonos estão no estado líquido, e os demais são sólidos. Já os poliálcoois
com até 5 carbonos são líquidos, e com 6 carbonos ou mais tendem a ser sólidos. No caso dos fenóis, os
monofenóis mais simples são líquidos ou então sólidos de baixo ponto de fusão. Os demais fenóis são
sólidos.
A solubilidade dos álcoois em água é relativa, pois, em suas estruturas, há uma parte polar, graças ao
grupo hidroxila, e uma parte apolar, referente à cadeia carbônica. Dessa maneira, os álcoois com
cadeias carbônicas menores são polares e solúveis em água, e os de cadeias carbônicas mais longas são
insolúveis. O aumento do número de grupos hidroxilas torna o álcool mais solúvel em água. Com
exceção do benzenol, todos os demais monofenóis são praticamente insolúveis em água.
Em relação à densidade, os monoálcoois são menos densos que a água, enquanto os poliálcoois e fenóis
são mais densos.
Sobre a reatividade dos álcoois, eles são mais reativos que os hidrocarbonetos, em virtude da
polaridade da ligação C-O. Os fenóis são facilmente oxidáveis. Em relação à acidez (ionização do H
ligado ao O), os fenóis são mais ácidos que os álcoois, em razão da estabilidade por ressonância da base
conjugada formada (íon fenóxido).
100
Éteres: são substâncias em que o átomo de oxigênio (heteroátomo) está ligado a dois átomos de
carbono. Considerando a geometria angular dos éteres e a polaridade das ligações carbono-oxigênio,
essas moléculas possuem um caráter levemente polar. Embora não possam realizar ligações de
hidrogênio entre suas moléculas, eles podem formar com outros componentes como a água e os álcoois
polares.
As temperaturas de fusão e ebulição dos éteres são semelhantes às dos alcanos de massa molecular
parecida, sendo assim consideradas baixas em relação aos álcoois e fenóis. Com isso, os éteres mais
simples se encontram na forma gasosa e os demais em forma líquida e volátil.
Como os éteres são capazes de formar ligações de hidrogênio com a água, estes têm solubilidade
similares às dos álcoois de mesma massa molecular. Em geral, apresentam densidade inferior à da água.
A maioria dos éteres apresentam um cheiro agradável, toxidez moderada, alta inflamabilidade e baixa
reatividade (semelhante aos alcanos).
Aminas: substâncias em que um ou mais átomos de hidrogênio da amônia (NH3) foram substituídos
por grupos alquila.
Aminas são substâncias polares. Aminas primárias ou secundárias apresentam interação intermolecular
do tipo ligações de hidrogênio, o que não ocorre em aminas terciárias.
As temperaturas de fusão e ebulição dessas substâncias normalmente são maiores que as substâncias
apolares, e menores que as dos álcoois e ácidos carboxílicos de massas moleculares semelhantes.
Assim, as aminas de um a três substituintes metil ou etil são gases, em condições ambientes, enquanto
de substituintes propil a dodecil são líquidas. As demais aminas são encontradas no estado sólido.
Em relação à densidade, as aminas mais simples e alifáticas são menos densas que a água, já as aminas
aromáticas são mais densas. Aminas com até cinco átomos carbonos são solúveis em água, e as que têm
seis ou mais carbonos são praticamente insolúveis em água. Essas últimas são bastante solúveis em
solventes orgânicos, como etanol, éter e benzeno.
Aminas têm caráter mais básico do que os álcoois, éteres e ésteres, em razão do nitrogênio ser menos
eletronegativo que o oxigênio, conseguindo compartilhar o par de elétrons com mais facilidade. As
aminas aromáticas são menos básicas que as alifáticas, pois o par de elétrons livre do nitrogênio tende a
entrar em ressonância com os elétrons do anel aromático, diminuindo sua disponibilidade para reação.
101
A reatividade das aminas, em geral, aumenta de acordo com o aumento do seu caráter básico.
Aldeídos: substâncias que contêm o grupo carbonila (carbono em ligação dupla com o oxigênio) ligado
a um átomo de hidrogênio. Dessa maneira, o grupo funcional dos aldeídos sempre se localiza na
extremidade da cadeia principal.
Os aldeídos são moleculares polares e, embora não façam ligações de hidrogênio entre si, organizam-se
com forças do tipo dipolo-dipolo por meio de sua carbonila.
As temperaturas de fusão e ebulição dos aldeídos são normalmente mais altas que as dos
hidrocarbonetos e ésteres, e mais baixas que as dos álcoois e ácidos carboxílicos, com massa molecular
semelhantes. Dessa forma, os aldeídos com um e dois átomos de carbono são gases, e os que têm
massas elevadas são líquidos ou sólidos.
Com relação à solubilidade em meio aquoso, os aldeídos mais simples são solúveis, já que fazem
ligações de hidrogênio com as moléculas de água. Conforme aumenta o número de carbonos na cadeia,
a solubilidade em água vai diminuindo até ser totalmente insolúvel. Em solventes orgânicos comuns,
como álcool, éter e benzeno, essas substâncias tendem a ser solúveis. Os aldeídos mais simples
apresentam densidade menor que a da água.
Esse grupo funcional costuma ser bem reativo, principalmente os alifáticos. Os aldeídos aromáticos são
mais estáveis em virtude da ressonância dos elétrons do anel aromático e da carbonila conjugada.
Cetonas: substâncias que contêm o grupo carbonila (carbono em ligação dupla com o oxigênio) ligado
a dois átomos de carbono da cadeia principal.
As cetonas, assim como os aldeídos, também são consideradas moléculas polares e interagem entre si
por meio de forças dipolo-dipolo. Apresentam, assim, temperaturas de fusão e ebulição maiores que
dos aldeídos e inferiores aos dos álcoois de massa molecular semelhante. As cetonas mais simples são
encontradas na forma líquida, e as demais, em estado sólido.
Em relação à água, as cetonas têm densidade inferior e boa solubilidade, em virtude da formação de
ligações de hidrogênio com as moléculas de água. Esses componentes também são muito solúveis em
solventes orgânicos, como álcoois, éteres e benzeno.
Semelhante aos aldeídos, as cetonas são reativas, principalmente as alifáticas, pois as aromáticas se
estabilizam graças à ressonância entre a carbonila e o anel aromático.
102
Ácidos carboxílicos: substâncias que têm um grupo carbonila ligado a um grupo hidroxila. Essa união
forma o grupo carboxila (-COOH), que, assim como nos aldeídos, está posicionado na extremidade da
cadeia carbônica.
Por apresentar uma carbonila e uma hidroxila, os ácidos carboxílicos são muito polares e podem formar
mais ligações de hidrogênios entre as moléculas do que os álcoois, por exemplo. Por esse motivo, essas
substâncias têm temperaturas de fusão e ebulição muito elevadas. Os monoácidos saturados com até
nove carbonos na cadeia são encontrados no estado líquido, e os demais, no estado sólido. Ácidos
carboxílicos com cadeias muito longas são chamados de ácidos graxos, por apresentarem um aspecto
semelhante à cera.
Quanto à solubilidade, apenas os ácidos carboxílicos alifáticos de até quatro átomos de carbono são
solúveis em água; acima de cinco são praticamente insolúveis. Esse grupo de substâncias é bastante
solúvel em éter dietético, etanol e benzeno.
No quesito reatividade, esses componentes são muito reativos, principalmente os que têm cadeia mais
simples. Os ácidos carboxílicos, como o nome indica, têm característica ácida, que, ao reagirem com
base, produzirão sal e água.
Ésteres: substâncias que têm a fórmula geral RCO2R’ (ou RCOOR’), em que um grupo carbonila está
ligado a um grupo alcoxila (-OR).
Em virtude da presença de dois átomos de oxigênio e da geometria angular do grupo funcional, os
ésteres apresentam certa polaridade para moléculas mais simples, prevalecendo às forças
intermoleculares do tipo dipolo-dipolo. Contudo, com o aumento da cadeia carbônica, a polaridade
dessas substâncias diminui, apresentando características de substâncias apolares.
Como os ésteres não fazem ligações de hidrogênios entre suas moléculas, eles apresentam pontos de
fusão e ebulição elevados, mas inferiores aos dos álcoois e ácidos carboxílicos com massa molecular
semelhante. Sendo assim, em condição ambiente, os ésteres se encontram no estado líquido (quando
são moléculas mais simples), líquidos viscosos e sólidos, conforme aumenta a massa molecular.
Em relação à água, os ésteres mais simples apresentam uma densidade menor; os demais são
normalmente mais densos. Já a solubilidade em água, os componentes com massa molecular baixa são
solúveis, e os demais, insolúveis.
103
Os ésteres são poucos reativos, mas sofrem hidrólise com certa facilidade.
Amidas: substâncias que têm as fórmulas RCONH2, RCONHR′ ou RCONR′R″, em que um grupo
carbonila está ligado a um átomo de nitrogênio ligado a hidrogênios e/ou grupos alquila.
Esses componentes são muito polares. As amidas com átomos de nitrogênio ligados a um ou dois
átomos de hidrogênio são capazes de formar ligações de hidrogênio fortes entre si. Tais amidas têm
temperaturas de fusão e de ebulição elevadas. Por outro lado, moléculas de amidas N,N-dissubstituídas
não podem formar ligações de hidrogênio fortes entre si e possuem temperaturas de fusão e de ebulição
mais baixas. Por essas propriedades, as aminas são encontradas no estado sólido, em condição
ambiente, com exceção da metanamida, que se apresenta na forma líquida.
As amidas, em geral, são mais densas que a água. Já em relação à solubilidade, as que têm estruturas
mais simples são solúveis em água e pouco solúveis em solventes apolares. Todas as amidas, porém,
são solúveis em álcool e éter.
São substâncias bastante reativas e apresentam um caráter básico muito fraco (mais fraco que o da
água).
Aspecto representacional: as substâncias orgânicas podem ser representadas por diferentes maneiras, sendo
elas: estrutura de Lewis, estrutura parcialmente condensada, estrutura condensada, estrutura em linha, fórmula
molecular e modelo molecular (Figura 1).
Figura 1. Representações da estrutura do isopropanol
Também são comuns representações genéricas dos grupos funcionais (Figura 2).
Figura 2. Representações genéricas dos grupos funcionais
Dos Santos e Sepulveda (2017) propuseram que o mesmo modelo de perfil conceitual de substância (SILVA;
AMARAL, 2013) poderia ser utilizado para os conteúdos de Química Orgânica, incluindo os grupos funcionais.
Ao estudarem sobre o papel dos perfis conceituais no ensino de Química Orgânica, os autores constataram que
os conceitos gerais, como átomos, moléculas e substâncias, são necessários para a compreensão desse
conteúdo, de modo que estão totalmente ligados, devendo ser retomados e situados para se ter um melhor
entendimento sobre os conceitos da Química Orgânica. Além disso, as substâncias orgânicas são substâncias
químicas. Com isso, os alunos precisam saber as diferentes formas de se pensar sobre cada um desses conceitos
e em que cada contexto eles se encaixam (SANTOS; SEPULVEDA, 2017).
Nesse sentido, as zonas do perfil conceitual proposto por Silva e Amaral (2013) são:
Perfil conceitual ou Zona essencialista: acredita que as substâncias e as propriedades são a essência e o motivo da
desenvolvimento histórico do existência e o funcionamento de tudo, porém sem nenhum embasamento científico.
conceito principal da UDM Zona generalista: vê as substâncias somente como algo macroscópico e concreto, generalizando esse
conceito a todo material como uma substância. Nessa zona, também não são levadas em consideração as
diferentes substâncias que podem compor um material.
Zona substancialista: enxerga que as substâncias constituem a matéria e são formadas por unidades
menores, passando a ser uma propriedade e característica intrínseca dos materiais.
Zona racionalista: apresentam concepções macro e microscópicas para os conceitos de substâncias.
Para o nível macroscópico, as substâncias são caracterizadas de acordo com suas propriedades
particulares, que as determinam como únicas e as podem classificar dentro de grupos como: substâncias
simples, composta, orgânica, inorgânica etc. Em relação ao nível microscópico, existe a visão de que os
materiais são formados por substâncias, e elas, por elementos químicos.
Zona relacional: há uma relação entre substância e energia, que pode explicar vários fenômenos como
reações e sínteses de substâncias. Desse modo, as substâncias são vistas como algo não estático, pois se
modificam de acordo com o meio e na presença de outras substâncias.
106
(mapa conceitual)
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular - BNCC. Brasília: MEC, 2018.
SANTOS, J. P. M. dos; SEPULVEDA, C. D. A. S. Análise do uso do perfil conceitual de substância para o planejamento
de propostas de ensino da química orgânica. In: Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, 11., 2017,
Florianópolis. Anais [...]. Florianópolis: UFSC, 2017. p. 1-7.
107
SÃO PAULO. Secretaria da Educação. Currículo Paulista – CP: Etapa Ensino Médio. São Paulo, 2020.
SOLOMONS, T. W. G.; FRYHLE, C. B., SNYDER, S. A. Química Orgânica. 12. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018. v. 1.
656 p.
108
ANÁLISE DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
De acordo com a pesquisa feita por Mitami, Martorano e Santana (2017), identificou-se que alguns alunos do
Ensino Médio têm a seguinte concepção prévia sobre o tema Química Orgânica:
No trabalho realizado por Souza e Silva (2013), foram explicitadas as concepções alternativas apresentadas por
Concepções alternativas dos alguns alunos do Ensino Médio, ao final do conteúdo de Química Orgânica:
alunos sobre os conteúdos da
concepção de química vitalista, acreditando-se que os compostos e as substâncias orgânicas só podem
UDM
ser obtidos por organismos vivos;
acreditavam que as substâncias orgânicas não são substâncias químicas;
concepção de que as substâncias orgânicas não sofrem reações químicas ou que, ao sofrerem uma reação
química, deixarão de ser orgânicas;
entendem que todas as substâncias que têm carbono são orgânicas.
Obstáculos epistemológicos Obstáculo da experiência primeira: consiste na supervalorização da experimentação e do senso comum sem
particulares relacionados aos uma explicação teórica dos conceitos científicos envolvidos. Sendo assim, alguns obstáculos desse tipo podem
conteúdos da UDM ser citados: associação do termo Química Orgânica somente a materiais orgânicos como plantas, alimentos e
matéria humana.
Obstáculo da experiência primeira
Obstáculo verbal: utilização de termos utilizados no cotidiano que também são aplicados no contexto
Obstáculo verbal
científico. Sendo assim, alguns obstáculos desse tipo podem ser citados: a utilização do termo “álcool” no
Obstáculo substancialistas cotidiano se referindo ao etanol, dando a sensação de que o etanol é o único álcool que se conhece, e não que o
Obstáculo realista etanol é um tipo específico de álcool; a utilização do termo “nuvem eletrônica”, em explicações sobre
interações moleculares e eletronegatividade das substâncias; o uso da palavra “pureza” como indicativo que a
109
Aspectos a evitar:
Implicações para o ensino dos
evitar a definição de Química Orgânica como a “Química dos Carbonos”, ou que somente as substâncias
conteúdos de ensino da UDM
orgânicas têm carbonos;
Aspectos a evitar e a reforçar evitar analogias e associações a seres animados para explicar para fenômenos microscópicos;
evitar a utilização do termo “nuvem eletrônica”, substituindo-o, preferencialmente, por densidade
eletrônica ou densidade de elétrons;
110
evitar a utilização do termo “substância” para alguns compostos orgânicos que são, na verdade,
misturas, como gasolina e os óleos essenciais;
evitar associação da Química Orgânica com o aspecto vida;
evitar utilizar somente o etanol como exemplo de álcool.
Aspectos a reforçar:
reforçar que as substâncias orgânicas não são somente de origem de seres vivos, mas que, também,
podem ser sintetizados em laboratório, inclusive por reações de substâncias inorgânicas.;
reforçar que as substâncias e os compostos orgânicos também são reativos e sofrem transformações
químicas;
reforçar o significado da palavra “pureza” para a Química;
reforçar que as propriedades físico-químicas dos materiais estão relacionadas às interações que suas
partículas exercem em conjunto, não de maneira isolada;
reforçar que a maioria das substâncias que têm carbono são orgânicas, no entanto, existem substâncias
inorgânicas que também têm esse elemento;
reforçar que nem todo ácido ou base libera H+ ou OH-, e que algumas substâncias podem apresentar os
dois caráteres, dependendo das condições químicas.
MITAMI, F.; MARTORANO, S. A. A; SANTANA, E. F. Análise das concepções sobre química orgânica de
alunos do ensino médio. In: Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – ENPEC, 11., 2017,
111
SOUZA, D. M.; SILVA, E. L. da. Contribuições da pesquisa como eixo nas disciplinas de ensino de ciências:
um estudo sobre ideias de alunos acerca de Química Orgânica. Revista de Ensino de Ciências e Matemática -
REnCiMa, v. 4, n. 1, p. 20-31, 2013.
112
ABORDAGEM METODOLÓGICA
AIKENHEAD, G. S. What is STS science teaching? In: SOLOMON, J., AIKENHEAD, G. STS education:
international perspectives on reform. New York: Teachers College Press, 1994. p. 47-59.
PINHEIRO, R. F.; ROCHA, M. B. Contribuição de uma sequência didática no ensino de ciências para combate
Referências ao Aedes aegypti. Ensino, Saúde e Ambiente, v. 11, n. 3, p. 186-201, 2018.
(de acordo com ABNT NBR 6023) SANTOS, W. L. P. Contextualização no Ensino de Ciências por meio de temas CTS em uma perspectiva
crítica. Ciência & Ensino, v. 1, p. 1-12, 2007.
SANTOS, W. L. P.; MORTIMER, E. F. Tomada de decisão para ação social responsável no ensino de ciências.
Ciência & Educação, v. 7, n. 1, p. 95-111, 2001.
SANTOS, W. L. P.; MORTIMER, E. F. Uma análise de pressupostos teóricos da abordagem C-T-S (Ciência -
Tecnologia - Sociedade) no contexto da educação brasileira. Ensino Pesquisa Educação em Ciências, v. 2, n.
2, p. 110-132, dez. 2002.
115
De acordo com o novo Currículo Paulista (2020), as habilidades a serem trabalhadas com base no conteúdo de “Grupos
funcionais”, dentro da Competência Específica 3 proposta na BNCC, são:
Objetivos previstos em (EM13CNT310) Investigar e analisar os efeitos de programas de infraestrutura e demais serviços básicos
Orientações Curriculares (saneamento, energia elétrica, transporte, telecomunicações, cobertura vacinal, atendimento primário à saúde
Oficiais produção de alimentos, entre outros) e identificar necessidades locais e/ou regionais em relação a esses
serviços, a fim de avaliar e/ou promover ações que contribuam para a melhoria na qualidade de vida e nas
condições de saúde da população (BRASIL, 2018, p. 560).
Criar um projeto de divulgação para conscientizar a população sobre o combate ao mosquito Aedes aegypti e sobre as opções de produtos
Objetivo da UDM naturais, como repelentes, produzindo artes, para serem publicadas em redes sociais, panfletos e velas de citronela, para serem
distribuídos nos arredores da escola.
Tempo
Título das SD* Objetivo das SD Conteúdo Programático das SD Aproximado
(em aulas)
Entender o que são as arboviroses e como são ● Morfologia e ciclo da vida do Aedes aegypti;
transmitidas pelo Aedes aegypti, discutindo as principais ● Diferentes arboviroses transmitidas pelo Aedes
1. Arboviroses: um problema de medidas a serem tomadas pela sociedade para a aegypti e seus respectivos sintomas;
prevenção da disseminação dessas doenças, por meio de ● Dados epidemiológicos sobre a Dengue;
saúde pública. (Passo 1: a 2
uma reflexão crítica sobre esse problema social e de ● Medidas tomadas pela prefeitura de Araraquara
introdução de um problema para combater o Aedes aegypti;
social) saúde pública em uma roda de conversa.
● Medidas que a população dever tomar para evitar
a procriação do mosquito e contrair as
arboviroses.
2. A utilização de inseticidas e Entender que existem diferentes produtos comerciais
repelentes como proteção das utilizados como inseticidas e repelentes contra o Aedes ● Inseticidas;
picadas do Aedes aegypti. aegypti, comparando suas composições, utilidades e ● Repelentes; 2
toxicidade à saúde humana, por meio da leitura de textos ● Óleos essenciais.
(Passo 2: analisar as
tecnologias relacionadas a esse da literatura e discussões em grupos.
116
tema social)
3. A química orgânica dos ● Apresentação dos grupos funcionais e
inseticidas e repelentes! Analisar as substâncias presentes em produtos propriedades para os grupos Oxigenados não
(Passos 3 e 4: estudo dos comercializados no combate ao Aedes aegypti e às carbonilados (álcool, fenol e éter);
conteúdos científicos arboviroses, diferenciando os grupos funcionais ● Apresentação dos grupos funcionais e 4
relacionados ao tema social e à presentes nas estruturas das moléculas. propriedades para os Oxigenados carbonilados
tecnologia abordada; estudar a (aldeído, cetona, éster e ácido carboxílicos);
tecnologia introduzida ● Apresentação dos grupos funcionais e
utilizando os conteúdos propriedades para os grupos não oxigenados
científicos) (amina, amidas e haletos).
Avaliar o uso dos inseticidas comerciais, como
4. Conscientização no combate à pesticidas, o combate ao Aedes aegypti, criticando a
dengue! (Passo 5: discutir viabilidade da utilização desses produtos em termos ● Viabilidades dos inseticidas comerciais; 4
novamente a questão social de toxicológicos, econômicos e ambientais, por meio de um ● Projeto de alerta e conscientização.
forma mais aprofundada) debate.
* Preencher apenas com o número de SD que julgar necessárias (pode deixar linhas não utilizadas em branco).
117
Objetivo da SD Entender o que são as arboviroses e como são transmitidas pelo Aedes aegypti, discutindo as principais medidas a serem tomadas pela sociedade para a
prevenção da disseminação dessas doenças por meio de reflexões sobre esse problema social e de saúde pública em uma roda de conversa.
Estratégia de
Os alunos serão avaliados de maneira diagnóstica e formativa de acordo com suas participações nas rodas de discussão.
Avaliação
Dia/Aula* Estratégia Conteúdos de ensino Tempo / Descrição das Atividades / Recursos Didáticos Materiais de
Didática Organização da Sala de Aula Aprendizagem/
Instrumento de
avaliação
atua no organismo
humano.
● Após a aula expositiva, os alunos, assim como na
aula anterior, precisarão se organizar em um círculo, ● As respostas e a
para que seja retomada a roda de discussão. Nesse participação dos
● Medidas tomadas pela
momento, os estudantes deverão expor os resultados da alunos serão
● Roda de prefeitura de Araraquara
pesquisa solicitada na aula anterior, de modo que seja utilizadas como
discussão para combater o Aedes
retomada a discussão sobre a importância, tanto por instrumentos de
aegypti.
parte da população quanto pelos órgãos públicos locais avaliação
e federais, para se evitar epidemias semelhantes ou (formativa).
piores que a de 2019 (20 minutos).
Referências
MORENO, E. L.; HEIDELMANN, S. P. Recursos Instrucionais Inovadores para o Ensino de Química. Química Nova na Escola, São Paulo, v. 39, n. 1, p.
(fundamentação
12 -18, fev. 2017.
das estratégias
didáticas e de MOURA, A. F.; LIMA, M. G. A Reinvenção da Roda: Roda de Conversa: Um Instrumento Metodológico Possível. Revista Temas em Educação, João
avaliação Pessoa, v. 23, n. 1, p. 98-106, jan./jun. 2014.
escolhidas)
*Preencher apenas as aulas da SD que julgar necessárias (pode deixar linhas não utilizadas em branco).
120
Objetivo da SD Entender as diferenças entre produtos comerciais utilizados como inseticidas e repelentes contra o Aedes aegypti, comparando suas composições, utilidades
e toxicidade à saúde humana, por meio da leitura de textos da literatura e discussões em grupos.
Estratégia de Os alunos serão avaliados de maneira pelas suas participações nas discussões e no Jigsaw propostos, nos quais serão observados o desenvolvimento e
Avaliação as dificuldades que eles apresentarem.
Dia/Aula* Estratégia Conteúdos de ensino Tempo / Descrição das Atividades / Organização Recursos Materiais de
Didática da Sala de Aula Didáticos Aprendizagem/
Instrumento de
avaliação
tipos de produtos.
● Dado o tempo das análises, com uma breve discussão (5
minutos), os grupos serão questionados “Quais foram os
princípios ativos encontrados nesses produtos?”, “Quais
foram os componentes que mais se repetiram entre os
produtos analisados?”, “A que tipo de produto eles
pertencem?”;
● Após essa pequena discussão, por meio de projeções de
slides, será dada uma breve aula expositiva para os
estudantes, na qual serão abordados, de maneira sucinta,
alguns tópicos (15 minutos):
minutos).
● Após a discussão, cada aluno deverá retornar ao seu
grupo-base. Nesse momento, cada membro do grupo irá
explicar (na ordem referente a dos textos) aos demais
componentes do grupo o texto que leu e o que foi
compreendido. Nessa etapa, cada um irá exercer a
função que lhes foi atribuída (exceto o porta-voz) (15
minutos).
● No último momento, uma discussão será aberta entre
todos os grupos, no qual os porta-vozes irão explicitar o
que foi visto em cada um dos textos, como: as diferenças
entre os produtos apresentados, os que causam mais
danos ao ser humano, à fauna e ao meio ambiente, as
diferentes aplicações, entre outras observações que
podem surgir (10 minutos).
Referências
(fundamentação
das estratégias FATARELI, E. F. et al. Método Cooperativo de Aprendizagem Jigsaw no Ensino de Cinética Química. Química Nova na Escola, São Paulo, v. 32, n. 3, p.
didáticas e de 161-168, ago. 2010.
avaliação
escolhidas)
*Preencher apenas as aulas da SD que julgar necessárias (pode deixar linhas não utilizadas em branco).
123
Objetivo da SD Analisar as substâncias presentes em produtos comercializados no combate ao Aedes aegypti e às arboviroses, diferenciando os grupos funcionais presentes
nas estruturas das moléculas.
Estratégia de Os estudantes serão avaliados por meio da atividade 1 e da lista de exercícios, de maneira que todos os exercícios sejam resolvidos na lousa e que os
Avaliação alunos tenham devolutivas de suas atividades, podendo refazê-las e reentregá-las.
Dia/Aula* Estratégia Conteúdos de ensino Tempo / Descrição das Atividades / Organização da Recursos Materiais de
Didática Sala de Aula Didáticos Aprendizagem/
Instrumento de
avaliação
*Preencher apenas as aulas da SD que julgar necessárias (pode deixar linhas não utilizadas em branco).
125
Objetivo da SD Avaliar o uso dos inseticidas comerciais, como pesticidas, o combate ao Aedes aegypti, criticando a viabilidade da utilização desses produtos em termos
toxicológicos, econômicos e ambientais, por meio de um debate.
Estratégia de Os alunos serão avaliados com base em suas participações no debate e no projeto de conscientização, de maneira formativa em que serão
Avaliação observadas as atitudes, o desenvolvimento e o emprenho deles nessas atividades.
Dia/Aula* Estratégia Conteúdos de Tempo / Descrição das Atividades / Organização da Sala Recursos Materiais de
Didática ensino de Aula Didáticos Aprendizagem/
Instrumento de
avaliação
Aulas 9 e 10 (90
minutos) ● Para essa aula, será entregue um texto (ANEXO C) que fala
sobre o inseticida malation, dando um tempo de 20 minutos para
*Para a realização que os estudantes possam lê-lo.
desta atividade, ● Após a leitura do texto, os alunos deverão se dividir em 3 grupos:
será necessário um júri (6 alunos), a favor (17 alunos) e contra (17 alunos). Os
solicitar com grupos a favor e contra deverão se reunir e discutir sobre o texto e
● O debate servirá
formularem 3 questionamentos que refutem o grupo com o
antecedência ao ● Texto de como um
professor ● Fumacê/ pensamento adversário, com base no texto e nos conhecimentos
divulgação instrumento de
● Debate nebulização com adquiridos durante todas as aulas (15 minutos).
responsável pela científica (ANEXO avaliação dos
malation. ● Em seguida se dará início a um debate. Os grupos a favor e contra
aula seguinte ou C). alunos
terão que defender seus respectivos lados, apresentando perguntas
anterior a essa, que (formativa).
que refutem o pensamento da anterior (35 minutos). Cada um
troque ou desses grupos terá direito a três questionamentos, uma réplica e
disponibilize essa uma tréplica. Quanto ao grupo do júri, terão que analisar
aula para com a criticamente e votar no grupo que melhor defendeu e que
professora de apresentou os melhores argumentos, tendo 10 minutos para
Química. discutirem e darem o veredito final.
126
Referências FATARELI, E. F. et al. Mapeamento de Textos de Divulgação Científica para Planejamento de Debates no Ensino de Química. Química nova na escola,
São Paulo, v. 37, n.1, p. 11 -18, fev. 2015.
(fundamentação
das estratégias MORENO, E. L.; HEIDELMANN, S. P. Recursos Instrucionais Inovadores para o Ensino de Química. Química nova na escola, São Paulo, v. 39, n.1, p. 12
didáticas e de -18, fev. 2017.
avaliação MOURA, A. F.; LIMA, M. G. A Reinvenção da Roda: Roda de Conversa: Um Instrumento Metodológico Possível. Revista Temas em Educação, João
escolhidas) Pessoa, v. 23, n. 1, p. 98-106, jan.-jun. 2014.
*Preencher apenas as aulas da SD que julgar necessárias (pode deixar linhas não utilizadas em branco).
128
ANEXO A – Notícia 1
O Ministério da Saúde lançou nesta terça-feira (24) a nova campanha oficial do governo
federal de combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue. O slogan da campanha
será "Combater o mosquito é com você, comigo, com todo mundo" e vai focar no combate
aos focos de proliferação do inseto.
Segundo o governo federal, o Brasil já registrou quase 1 milhão de casos da dengue em 2020.
Até 14 de novembro, foram registrados 971.136 casos da doença no país. As maiores taxas de
incidência foram registradas nos estados do Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e no
Distrito Federal.
Ao todo, 528 pessoas morreram de dengue, sendo que 77% dessas mortes (401) estavam
concentradas em São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. Os dados ainda
podem ser atualizados, registra o Ministério da Saúde.
A chikungunya também é transmissível pelo Aedes aegypti. Segundo o MS, foram 78.808
casos da doença no país até 2020, com concentração nos estados acima de dois terços nos
estados da Bahia e do Espírito Santo. Vinte e cinco pessoas morreram com a doença.
Em 2019, o Brasil registrou 1.544.987 casos da doença, de acordo com as estimativas oficiais.
O verão, sobretudo após o início da temporada de chuvas, aumenta o estado de alerta para os
focos de proliferação do mosquito, sobretudo superfícies com água parada.
Campanha
O Ministério da Saúde vai levar duas peças publicitárias para serem veiculadas na TV, rádio,
internet e mídia exterior. A primeira vai focar na prevenção ao acúmulo de água parada.
“O mosquito é um vilão, mas o maior vilão é o cidadão que deixa, por exemplo, a água ficar
empoçada. Por isso, essa campanha e o trabalho dos agentes in loco são ferramentas
fundamentais para conscientizarmos a população sobre a importância do combate ao
mosquito”, afirmou.
Na segunda fase, a intenção será divulgar sintomas e tratamento para as doenças, dengue, a
Zika e a chikungunya.
130
VENAGLIA, G. Brasil tem quase 1 milhão de casos de dengue em 2020, diz Ministério da
Saúde. São Paulo, 2020. Disponível em:
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2020/11/24/brasil-tem-quase-1-milhao-de-casos-de-
dengue-em-2020-diz-ministerio-da-saude. Acesso em: 05 jan. 2021.
131
ANEXO B – Notícia 2
Plantação de mudas
Na semana passada, a Prefeitura de Araraquara anunciou que irá plantar cerca de 40 mil
mudas de lavanda para tentar combater o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue,
zika e chikungunya.
A planta é conhecida por soltar um cheiro desagradável para o mosquito e atrair predadores,
como as libélulas, segundo o coordenador da vigilância, Rodrigo Contrera Ramos.
G1. Araraquara confirma mais 706 casos de dengue e soma 22,8 mil pessoas infectadas
neste ano. Araraquara, 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-carlos-
regiao/noticia/2019/10/07/araraquara-confirma-mais-706-casos-de-dengue-e-soma-228-mil-
pessoas-infectadas-neste-ano.ghtml. Acesso em: 05 jan. 2021.
133
Organoclorados
Os organoclorados são inseticidas que contêm carbono, hidrogênio e cloro. São
classificados em quatro grupos: difenil-alifáticos; hexaclorociclo-hexanos; ciclodienos; e
policloroterpenos.
O grupo de organoclorados difenil-alifáticos é o mais antigo. Ele inclui o DDT (Figura
1), provavelmente a substância química mais notória do século passado. Em 1948, o
entomologista suíço Paul Muller foi premiado com o Prêmio Nobel de Medicina pela
descoberta da utilidade do DDT no controle dos vetores de malária, febre amarela e muitas
outras doenças. Embora o modo de ação do inseticida nunca tenha sido claramente
estabelecido, sabe-se que ele atua no canal de sódio, provavelmente mantendo-o aberto e
destruindo o equilíbrio de íons sódio e potássio dos axônios, impedindo, assim, a transmissão
normal de impulsos nervosos em insetos e mamíferos. Seu efeito é inversamente proporcional
à temperatura: quanto mais baixa a temperatura, mais tóxico é o DDT para os insetos.
Organofosforados
O termo genérico ‘organofosforado’ (OP), atualmente usado, inclui todos os
inseticidas que contêm fósforo. Esses inseticidas foram descobertos posteriormente aos
organoclorados. No grupo dos organofosforados, classificamos os inseticidas em três
subgrupos: os alifáticos (malation, vapona, vidrin, etc.); os derivados de fenil (etil e metil
paration, fenitrotion etc.); e os heterocíclicos (clorpirifos, clorpirifos-metil, etc.). São
amplamente utilizados em Saúde Pública por apresentarem muitas vantagens sobre os
organoclorados, como serem biodegradáveis e não se acumularem nos tecidos. Apresentam,
porém, como principal desvantagem, a instabilidade química, o que torna obrigatória a
renovação periódica de sua aplicação. Além disso, são mais tóxicos para os vertebrados que
os organoclorados, mesmo em doses relativamente baixas.
O uso continuado de inseticidas, tanto na agricultura e pecuária como na área da Saúde
Pública, tem provocado o aparecimento de populações resistentes e ocasionado problemas
para o controle de vetores.
O organofosforado temephos, registrado nos EUA em 1965, para utilização em
agricultura e controle de mosquitos, é o único larvicida desse grupo com uso generalizado no
controle de larvas de mosquitos, recomendado pela OMS para uso em água potável.
Os organofosforados atuam inibindo a Acetilcolinesterase (AChE), importante enzima
do sistema nervoso central. Essa enzima é fosforilada pelo inseticida, ficando
irreversivelmente inativada. A inibição de AChE resulta no acúmulo de acetilcolina nas
junções nervosas (ou sinapses), o que impede a interrupção da propagação do impulso
elétrico. Consequentemente, o sistema nervoso central continuará sendo estimulado,
desencadeando o processo de paralisia que pode culminar com a morte do inseto.
A Figura 2 mostra a molécula do malation, um dos organofosforados mais utilizados
na nebulização das ruas, para a realização do controle do Aedes aegypti.
137
Carbamatos
Os carbamatos são inseticidas derivados do ácido carbâmico e sua comercialização
teve início por volta dos anos 1960. Entre os mais utilizados, está o carbaril. Assim como os
organofosforados, os carbamatos têm ação letal rápida sobre os insetos, apesar de um curto
poder residual. São sistêmicos para as plantas, por serem relativamente solúveis em água.
Como os organofosforados, também inibem a Acetilcolinesterase, embora, nesse caso, a
reação envolvida seja a carbamilação. Apesar de atuarem de forma muito similar nos sistemas
biológicos, apresentam duas diferenças principais em relação aos organofosforados.
Primeiramente, alguns carbamatos são potentes inibidores da Aliesterase (uma Esterase
alifática, cuja função exata é desconhecida) e apresentam seletividade pronunciada contra as
AChE de certas espécies. A segunda diferença é que a inibição da AChE pelos carbamatos é
reversível.
A Figura 3 apresenta a molécula do inseticida carbaril, pertencente aos carbamatos.
O NH
Piretroides
Os piretroides sintéticos, atualmente bastante estáveis, são produzidos em laboratório,
a partir de uma substância natural, o piretro, extraído de crisântemos. São biodegradáveis, não
cumulativos e raramente provocam intoxicações agudas em aves e mamíferos, embora
possam causar hipersensibilização e irritação das mucosas nesses animais. Para os animais
aquáticos, entretanto, são extremamente tóxicos. Os piretroides contam, ainda, com as
vantagens de serem muito ativos (atuam em pequenas doses) e desalojantes. Sua única
desvantagem consiste no custo elevado.
Os piretroides apresentam modo de ação similar ao do DDT. Atuam, aparentemente,
mantendo abertos os canais de sódio das membranas dos neurônios. Há dois tipos de
piretroides: aqueles que, entre outras respostas fisiológicas, têm um coeficiente de
temperatura negativo, assemelhando-se ao DDT (tipo 1); e os que apresentam coeficiente de
temperatura positivo (tipo 2), ou seja, a mortalidade dos insetos a eles expostos varia
diretamente com o aumento de temperatura. Os piretroides afetam o sistema nervoso
138
Cl
O
Cl O
N
Figura 4 – Fórmula estrutural do cipermetrina.
DEET
O DEET é um dos repelentes mais antigos e eficaz do mundo. Foi avaliado contra o
Aedes aegypti, pela primeira vez em 1944, devido ao grande sucesso foi patenteado pelo
exército americano em 1946 e comercializado para a população em meados de 1954-1956.
Devido sua alta eficiência contra os mosquitos, esse componente é atualmente encontrado em
139
diversos produtos como, cremes, loções, sprays, líquidos e aerossóis (ESTEVAM, 2018;
FEUSER, 2018).
Não se sabe ao certo como funciona a ação de repelência do DEET. Algumas
suposições é de que esse princípio ativo atua como um odorante no indivíduo hospedeiro,
reduzindo a liberação de 3-octenol e de ácido lático de seu organismo. Isso faz com que
ocorra uma interferência nos receptores dos neurônios olfatórios que ficam nas antenas do
mosquito, que o ajudam a localizar suas vítimas, o que dificulta de encontrá-las (ESTEVAM,
2018; FEUSER, 2018).
Estando o DEET mais de 70 anos no mercado, pode ser considerado uma substância
segura e atóxica, quando utilizado da maneira correta, não apresentando casos graves desde
1992. Algumas reações adversas podem ocorrer, geralmente relacionados a problemas
cutâneos, como, dermatites de contato, irritações, erupções e em alguns casos irritações
oculares. Casos letais envolveram o uso excessivo, uso incorreto e ingestão (FEUSER, 2018).
Sendo assim, conforme as indicações da ANVISA: i) produtos que contenham DEET
não devem ser passados em crianças com menos de 2 anos ou devem ter a concentração
máxima de 10%; ii) para crianças acima de 2 anos é recomendado que sejam aplicadas no
máximo três aplicações ao dia, utilizando produto superiores a 10% de DEET apenas em
crianças com mais de 12 anos. Considerando que quanto maior a concentração do princípio
ativo, maior e mais longa a duração do efeito do repelente. Alguns cientistas aconselham que
em adultos, produtos que dizem ter um prolongamento do efeito, devem ser utilizados em
menores quantidades. E em casos de longas exposições aos insetos é ideal a aplicação de
repelentes com concentrações mais altas de DEET, evitando sempre aplicações repetitivas do
produto (ESTEVAM, 2018).
Na Figura 1, te se a estrutura molecular do DEET.
Figura 1 – Estrutura
DEET
molecular DEET.
Fonte: autoria própria.
Icaridina
N O
OH
icaridina
Figura 2 – Estrutura molecular icaridina.
Fonte: autoria própria.
IR3535
N O
O
Figura 3 – Estrutura
IR3535
molecular IR3535.
Fonte: autoria própria.
Referências:
O OH
citronelal geraniol
OH O
citronelol acetato de geranila
Figura 1 – Estrutura molecular dos principais componentes do óleo de citronela.
Fonte: autoria própria.
O óleo da semente de andiroba possui uma boa repelência de acordo com alguns
estudos, apresentando ação com uma concentração de 50%, inferior ao efeito do repelente
sintético DEET. Para o óleo puro, os resultados obtidos foram de 56 segundos para a primeira
picada contra 3600 segundos do DEET a 50% (ETEVAM,2018). Outros estudos
comprovaram que essa planta tem propriedades repelentes e larvicidas também contra o
mosquito Aedes aegypti, podendo ser uma alternativa natural (MENDONÇA et al., 2005;
MIOT et al., 2004). A composição do óleo essencial das sementes de andiroba é basicamente
ácidos graxos, de acordo com o estudo realizado por Castro et al. (2007), entre eles: ácido
oleico (52%), ácido palmítico (30%), ácido linoleico (9,5%) e ácido esteárico (7,5%) (Figura
2).
OH
O
ácido oleico
OH
O
ácido palmítico
OH
ácido linoleico O
OH
ácido esteárico
Figura 2 – Estrutura molecular dos principais componentes do óleo de andiroba.
Fonte: autoria própria.
Referências:
MIOT, H. A. et al. Comparative study of the topical effectiveness of the andiroba oil (Carapa
guianensis) and DEET 50% as repellent for Aedes sp. Rev. Inst. Med. trop, v. 46, n. 5, p.
253-256, 2004.
144
Lá vem o fumacê contra o mosquito da dengue. Mas como fica a sua saúde?
Camila Neumam
Do UOL, em São Paulo
22/01/2016 06h00
Uma das formas de combate ao Aedes aegypti, mosquito que transmite a dengue, Zika
e Chikungunya, é a pulverização de inseticida, popularmente conhecido como fumacê. A
nuvem de fumaça de inseticida espalhada pelas ruas e residências tenta matar o mosquito para
evitar que mais gente contraia dengue e Zika. No Brasil, o inseticida utilizado no fumacê é o
malathion. Sua fórmula é diferente dos inseticidas encontrados nos supermercados e sua
distribuição é feita somente pelo Governo Federal, que compra o produto e distribui para os
Estados, que repassa aos municípios.
Por ser um inseticida, o malathion pode causar danos à saúde se a exposição ao
produto for longa ou corriqueira. Por isso, quando ele é jogado em residências, os moradores
devem deixar o local junto com seus animais de estimação.
"Todos os inseticidas são neurotóxicos, ou seja, atacam o sistema nervoso. O que
muda de remédio para veneno é a dose. Neste caso (combate ao Aedes aegypti) ele é jogado
em doses capazes de matar o mosquito. O problema é o uso indiscriminado de inseticidas. Há
condomínios que passam inseticida duas vezes por dia, um absurdo. O inseticida serve para
bloquear epidemias e não deve nunca ser usado de forma preventiva", afirma a entomologista
Denise Valle, da Fiocruz, que estuda as formas de conter a expansão do Aedes aegypti.
O fumacê tem ação temporária e pontual, por isso não é considerado o método ideal
para acabar com o Aedes aegypti e outros mosquitos que carregam vírus perigosos.
"A melhor forma de evitar os mosquitos é acabar com os criadouros, não usando o
inseticida", afirma Alessandro Giangola, coordenador geral das Ações de Controle do Aedes
aegypti do município de São Paulo.
O fumacê é inflamável?
As atuais formulações utilizadas são à base de água, não havendo risco de ser inflamável. Os
inseticidas utilizados pelo Ministério da Saúde são autorizados pela Organização Mundial da
Saúde e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária apenas para uso de entidades
especializadas.
Texto: NEUMAM, C. Lá vem o fumacê contra o mosquito da dengue. Mas como fica a
sua saúde? São Paulo, 2016. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/saude/listas/la-vem-
o-fumace-contra-o-mosquito-da-dengue-mas-como-fica-a-sua-saude.htm. Acesso em: 08 jan.
2021.
146
Materiais
Procedimento experimental
Despejar a parafina na panela, em seguida, colocá-la para aquecer até atingir 70 °C (medindo
com o termômetro), depois desligar o fogo. Em seguida, adicionar o óleo de citronela e o
corante, depois, misturar com a parafina derretida.
Cortar os pavios de acordo com o tamanho das formas com cerca de 2 cm de excesso. Logo
após, posicionar o pavio no centro da forma, passando pelo furo que existe no fundo do
recipiente.
Encher as forminhas com os pavios já centralizados e cortados. Depois, deixar secar até a
próxima aula, para poder desenformar.
REFERÊNCIAS:
Instrumentos de Avaliação
Cl O
Cl Cl
O N
H
Cl Cl
DDT
Carbanil
O O Cl
P O
Cl O
O O N
O O C
N
Bidrin Cipermetrina
148
1- Identifique, circule e escreva quais Grupos Funcionais estão presentes nas moléculas dos
principais componentes dos produtos utilizados como repelentes ou inseticidas contra o mosquito
Aedes aegypti.
A citronela é muito famosa por apresentar atividades repelente contra alguns insetos, entre eles, o
Aedes aegypti. O óleo dessa planta age excitando o sistema nervoso central do mosquito, criando
um bloqueio da circulação de sódio dentro das células nervosas, o que causa uma paralisia no inseto.
Entre os principais componentes do óleo essencial de citronela, estão os componentes citronelal
(41,80%), geraniol (19,63%) e acetato de geranila (5,50%).
______________________________________
O ______________________________________.
citronelal
______________________________________
OH ______________________________________.
geraniol
O
______________________________________
O ______________________________________.
acetato de geranila
O óleo de andiroba é muito utilizado na Amazônia como repelente e larvicida. Alguns estudos
comprovaram que essa planta tem propriedades repelentes e larvicidas também contra o mosquito
Aedes aegypti, podendo ser uma alternativa natural. A composição do óleo essencial das sementes
de andiroba é basicamente ácidos graxos, sendo sua maior composição de ácido oleico (52%).
______________________________________
______________________________________.
149
O óleo essencial extraído do eucalipto tem propriedades larvicidas contra o Aedes aegypti, além do
efeito repelente contra o mosquito. Alguns dos componentes presentes no óleo de Eucalyptus, estão:
o alfa-pineno (55,47%) e o 1,8-cineol (5,61%).
alfa-pineno 1,8-cineol
______________________________________ ______________________________________
______________________________________. ______________________________________.
Icaridina, também conhecida como picaridina ou KBR 3023, é uma substância derivada da pimenta,
muito utilizada como repelente, possuindo um efeito de até 8 horas de proteção. O N,N-dietil-3-
metilbenzamida ou N,N-dietil-m-toluamida (DEET) é o repelente mais eficaz e o mais utilizado na
atualidade, tendo uma duração de proteção de até 10 horas. O IR3535 (butilacetilaminopropionato
de etila) é um repelente que está há mais de 20 anos no mercado europeu, apresentando uma
eficácia de 10 horas de repelência, semelhante ao DEET.
O O
N O N
OH
icaridina DEET
______________________________________ ______________________________________
______________________________________. ______________________________________.
N O
O
IR3535
______________________________________
______________________________________.
150
No Brasil, muitos municípios utilizam o fumacê no combate ao mosquito da dengue, que nada mais
é do que um defensivo líquido, cujo sua principal composição é o malation. Essa substância é um
inseticida de amplo espectro, assim como todos os organofosforados, que atua na inibição da
enzima colinesterase do sistema nervoso do mosquito.
S
P
O
S O
O
O
O ______________________________________
______________________________________.
O malation