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Detalhes e doutrinas reais

Maria Cano Salgado

Princípios de direitos reais

 P. da imediação jurídica
 Subprincípio da inerência (sequela + prevalência)

 P. da especialidade
 Subprincípio da concretização
 Subprincípio da determinação
 Subprincípio da atualidade
 Subprincípio da completude

 P. da tipicidade
Consequências:
AV e PL – Acham que direitos reais atípicos geram a nulidade do negócio e não
a conversão
ML – Admite a conversão se cumprir os requisitos de forma e substância para a
conversão, o fim prosseguido pelas partes permitir retirar que era isto que
queriam, e desde que a boa-fé não imponha outra solução.

 P. da publicidade

 P. da territorialidade

 P. da elasticidade

 P. da transmissibilidade, consensualidade e causalidade

Registo

Art. 9º CRPredial, qual o valor jurídico de um ato constitutivo e transmissivo do direito,


se o mesmo for celebrado sem o disponente ter registo do facto aquisitivo?

 Durante tempos MC: Defendeu a nulidade deste negócio jurídico.


 JAV + OA + Carvalho Fernandes: Defendeu a tese da validade, uma vez que
esta norma é um comando para o juiz, advogado, solicitadores, notário e não
para as partes. Sendo aplicáveis sanções disciplinares ao funcionário público,
quando for caso para tal.

Princípios do Registo
 Princípio da obrigatoriedade

 Princípio da legalidade 68º + 69º CRPredial

 Princípio da instância 41º CRPredial


 Princípio do trato sucessivo 34º CRPredial

 Princípio da prioridade art.6º CRPredial

 Princípio da tipicidade, só se registam os factos enunciados 2º e 3º CRP

Efeito presuntivo do registo art. 7º


JAV + MC: Consideram que a presunção ilidível do art. 7º CRPredial, diz apenas
respeito à inscrição no registo predial, não abarcando a descrição do art. 91º n.2
CRPredial. Uma vez que a descrição não tem repercussão na situação substantiva.
Luís Carvalho Fernandes + ML: Deste preceito podemos retirar duas presunções, ambas
ilidíveis
1. A que o direito existe tal como o registo o descreve
2. A de que o direito existe a favor de quem está inscrito como seu titular.

!Importante! Se nulo produz efeito presuntivo até ser cancelado com base numa
decisão judicial transitada em julgado 13º + 17º n.1 CRPredial. Se inexistente os efeitos
presuntivos não se produzem 15º n.1 CRPredial.

Caso em que haja pessoas que tenham registadas duas descrições incompatíveis
sobre o mesmo bem:
 Isabel Pereira Mendes: Aplicação direta do princípio da prioridade do
registo patente no 6º n.1 em conjugação com o artigo 34º do CRPredial,
prevaleceria a descrição mais antiga. E, portanto, só essa pessoa é que
beneficia da presunção do artigo 7º CRPredial.
Aquele que inscreveu um título verdadeiro e válido tem direito em
confiar na vigilância que o Estado há-de realizar para salvaguarda, de
forma a zelar pela sua garantia.

 OA: A solução deve ser encontrada com apelo às regras do direito


substantivo. Considera que há um conflito de presunções, logo estas
anulam-se. Devendo-se aplicar a realidade substantiva.
O próprio registo patenteia a desconformidade, logo ninguém pode
valer-se da confiança de uma inscrição incorreta, quando não está em
melhor condições do que aquele que tem uma inscrição verdadeira.

Nota: Carlos Ferreira de Almeida ressalva que esta importância concedida à confiança
no registo não é compatível com o conhecimento dos factos (má-fé), porque nesse caso
não temos de proteger a segurança. Jurídica de terceiro. Ou seja, nestes casos as
presunções não se anulam

Invocação da presunção
 Maria Clara Sottomayor: Defende que só se pode invocar a existência das
presunções registais caso estes direitos existam no plano substantivo
Argumentos: Reconhecer a existência destas presunções nos casos
em que os registos não correspondam a um direito efetivamente
existente na realidade substantiva, não é atribuir ao registo efeito
constitutivo?
 MC: A presunção opera independentemente de invalidades registais ou
substantivas.
Argumentos: Os terceiros não terão, conhecimento ou
cognoscibilidade, de se em algum momento da cadeia de
transações houve ou não um negócio nulo e. não lhe é exigível tal
indagação para que beneficiem da presunção do artigo 7º

Se houver presunção registal e presunção da posse, qual prevalece?


1268º CC – Prevalece a anterior. A posse prevalece ainda quando seja simultânea.

Efeito constitutivo do registo

OA: Na hipoteca o registo é meramente condicionante da eficácia absoluta. Antes disso


era inoponível.
MC + JAV: O registo da hipoteca é o único exemplo no nosso ordenamento do efeito
constitutivo do registo.

Aquisição tabular

1. 5º n.1 CRP
 Há um registo incompleto (registo desconforme à realidade substantiva)
 O terceiro adquire o direito real num negócio jurídico inválido (nulo por
falta de legitimidade do disponente)
 O terceiro tem de inscrever o facto aquisitivo do seu direito antes do seu
registo pelo titular do direito real na ordem substantiva ou antes de ação
de declaração de invalidade do negócio celebrado. Entre o duplo
disponente e o terceiro.
 Haver dupla disposição, o terceiro tem de ter adquirido o terceiro da
mesma pessoa que o transmitiu ao titular do direito incompatível.
 Os direitos têm de ser incompatíveis (relativa ou total)

O terceiro é aquele que:


 Quem adquiriu por dupla disposição
 O terceiro estar de boa-fé 291º n.3
 JAV: Defende que pelo argumento sistemático o facto aquisitivo tem de
ser oneroso. Luís Carvalho Fernandes discorda e considera que se aplica
tanto em contratos onerosos como gratuitos

2. 17º n.2 CRP


 Registo nulo
 Só se aplica nos casos em que o ato de disposição fundado no registo
nulo, é inválido por falta da titularidade do direito real com base no qual
esse ato é celebrado.
 Só atua contra o titular do direito real que não tenha registado o facto
aquisitivo do seu direito real.
 Boa-fé do terceiro 291º n.3
 Aquisição onerosa
 Registo do facto aquisitivo do terceiro tem de ser anterior o registo da
ação de declaração de nulidade ou ao registo da ação de declaração da
nulidade do ato de disposição fundado no registo nulo.
 Protege um terceiro adquirente, cuja posição adveio da celebração de
um negócio jurídico com titular inscrito com registo nulo.
 OA + JAV: A nulidade registal deve ter criado uma desconformidade com
a realidade substantiva, porquanto só nesses casos a regra tem
cabimento
 OA: Defende que o prazo do 291º se deve aplicar de forma analógica
 MC: Defende que para além de se aplicar às situações de nulidade
registal, se aplica igualmente às invalidades substantivas. JAV + Rui
Pinto Duarte: Discorda

3. 291º CC
 JAV: Pressupõe a existência de um registo desconforme à realidade
substantiva por invalidade substantiva do negócio jurídico registado.
MC: A existência de um registo prévio não é um pressuposto desta
norma, aplica-se mesmo quando não havia um registo anterior e o
terceiro regista.
 Ato de disposição do direito a que se reporta o facto registado.
 Boa-fé
 Negócio ser oneroso
 O terceiro registar a sua aquisição antes do registo da ação de declaração
de nulidade ou anulação do negócio jurídico.
 Este artigo estabelece um período de três anos nos quais os efeitos da
invalidade negocial prevalecem. Este prazo conta-se a partir da data de
celebração do primeiro negócio inválido.

4. 122º CRP
 Desconformidade que gera não nulidade do registo, mas um registo
inexato.
 O titular inscrito dispõe a favor de um terceiro de boa-fé.

Efeitos
 OA: Leva à extinção da propriedade anterior
 MC – Teoria dos direitos reais naturais: A propriedade anterior não se
extingue, fica numa situação de inoponibilidade em sentido próprio. No caso de
o terceiro adquirente devolver a coisa, renunciar ao seu direito, doar a coisa ou
transmiti-lo a terceiro de má-fé, o proprietário anterior retomaria a sua
oponibilidade normal.
Críticas de JAV: Não se harmoniza com os princípios da inerência, da tipicidade
e da oponibilidade absoluta. Tratando-se de um direito real de gozo, não é
apenas a oponibilidade que fica suspensa, é todo o aproveitamento, uso,
disposição e fruição da coisa. Se a propriedade. É um direito exclusivo, como
defende MC, como é que se podem articular duas propriedades diferentes
singulares.
Relações de vizinhança – prédio vizinho
 AV + PL: Defendem uma interpretação restritiva do conceito, acabando
por reconduzir ao prédio contiguo.
Argumentos: A noção ser conforme aquela apresentada nos artigos 1347º,
1348º, 1350º, 1360º, entre outros. O princípio da segurança jurídica, uma
vez que existe um perigo de um alargamento extremo

 JAV + MC: Qualquer prédio que possa ser atingido pelas emissões nos
termos do 1346º, ainda que seja considerável a distância espacial que os
separa.
Argumentos: Está aqui em causa uma grave afetação do direito de
propriedade, assim o que interessa é restringir as emissões que o possam
realmente atingir causando-lhe dano.

Relações de vizinhança - Proprietário:


 JAV: Deve ser entendido de forma a abranger o titular de qualquer
direito real cujo exercício possa dar azo a emissões.

 Jurisprudência: Tem entendido que se abrangem aqui os titulares de


direitos de gozo tanto de natureza pessoal ou real cf. 1071º

Os requisitos do 1346º são cumulativos ou basta que um deles se verifique?

 MC: São cumulativos



 AV + PL: São alternativos
Henrique Mesquita critica esta solução por parecer abuso de
direito que uma pessoa possa vedar o exercício de um direito
alheio, apenas por este sair dos padrões de normalidade.

 JAV + Rui Pinto Duarte: Tem sempre de haver dano, ou seja, não pode
apenas haver um uso anormal do prédio de que emanam. Mas mesmo
que decorram de um uso normal do prédio são ilícitas as emissões que
causem um prejuízo substancial ao prédio vizinho. Uma vez, que a ratio
legis é salvaguardar o gozo da coisa pelos titulares de direitos.

Atenção: A violação das restrições decorrentes deste artigo tanto podem dar azo a tutela
real como a tutela obrigacional (cumuláveis entre si).

Usucapião
OA + JAV – Dizem que os direitos nus também são usucapiveis, ou seja, por exemplo a
nua propriedade é a situação em que alguém exerce uma posse nos termos de uma
propriedade onerada por um usufruto ou por uma superfície. A expressão propriedade
nua não é a usada para a posse de uma propriedade com servidão, aí usa-se o termo
fundeiro.
Acessão do 1256º - Tem de haver um vínculo jurídico entre o novo e o antigo
possuidor?
 AV + PL: Sim, tem haver uma relação jurídica formalmente válida.
 Manuel Rodrigues: Sim, tem de haver um vínculo materialmente e
formalmente válido.
 MC + JAV: Não, este instituto visa facilitar a aquisição por usucapião.

JAV + MC: Consideram que devido à evolução histórica do instituto o art. 1256º n.2,
deve ser interpretado no sentido de se referir às posses dos antigos proprietários, e não
apenas no seu precedente. Contudo, não pode unir a posse com a daquele contra quem a
usucapião funciona.

AV+ PL: As duas posses devem ser consecutivas e homogéneas, ou seja, devem se
desenrolar sem a intromissão de terceiro. Uma vez que este tempo se reporta a uma
única posse, se esta for interrompida deixa de ser a mesma posse.
JAV + OA: Não concordam, afirmando que o art. 1256º n.2 permite a acessão de posses
distintas entre si.

Renuncia - Renúncia vs abandono


 JAV: O abandono respeita unicamente à posse e é a perda voluntária do
corpus pelo possuidor, originando a sua extinção 1267 n.1 a). Na renúncia,
exige-se que haja simultaneamente perda do controlo, caso contrário continua
a existir detenção ainda que se extinga o direito a que essa se reporta.
 MC: Reserva o termo abandono para as coisas móveis e a renúncia para os
imóveis.
 Carvalho Fernandes: O abandono é um ato jurídico unilateral não recipiendo,
ao contrário da renúncia.

A renúncia não vem prevista quanto a todos os direitos reais. Assim, não vem prevista
para a propriedade singular nem para a superfície:
 ML + AV: Não permite a renúncia destes direitos reais
 JAV: Admite-a para o proprietário e para o superficiário, uma vez que esta
faz parte do poder de disposição que é conteúdo do direito de propriedade
1305º.
A renúncia só é eficaz com o consentimento do terceiro titular de outro
direito real sobre a coisa, se da extinção do primeiro decorrer a
extinção do último.
Nota: A renúncia à propriedade não extingue os direitos menores constituídos sobre ela.

Não uso
 JAV + MC: O não uso é tanto o poder de atuação material sobre a coisa,
como o poder de disposição.
 OA: Há não uso quando não há atuação material sobre a coisa

Usucapio lebertatis 1574º - O proprietário:


 JAV + OA: Deve ser entendido no sentido de abranger também outros
direitos reais maiores
Usucapio lebertatis 1574º - Âmbito de aplicação
 MC + AV: Só se aplica às servidões prediais
 ML + OA: Deve se alargar o âmbito, todos o titular do direito onerado
pode conseguir liberar-se do direito menor onerador

Ação de reivindicação 1311º - são dois pedidos distintos e autónomos ou só um?


 JAV: Esta ação tem um pedido principal – a entrega da coisa. A titularidade do
direito real de gozo seria um fundamento para a procedência da ação, cujo
reivindicante tem de provar. No entanto, não tem de fazer um pedido autónomo
para tal.
 AV: Tem dois pedidos, o pedido de entrega da coisa e o pedido de
reconhecimento da propriedade.

A ação de reivindicação tem 3 requisitos:


 O autor ser titular do direito real de gozo invocado - Tem de provar que adquiriu
por facto válido e eficaz. Tendo de reconstruir a cadeia dos adquirentes
anteriores até uma aquisição originária. O 7º CRPredial e o 1268º n.1 são duas
presunções que invertem o ónus da prova
 O réu ter a coisa em seu poder, como possuidor ou detentor
 O réu não provar que é titular de um direito que justifique a posse ou detenção

Natureza da posse
 JAV + Carvalho Fernandes: Posse é um direito real de gozo legalmente tutelado,
usando para defender esta posição o argumento sistemático da sua inserção no
código, bem como a interpretação literal do 46º n.1
 OA + ML: A posse é um direito, contudo não é um direito real. Não tendo por
isso a eficácia própria dos direitos reais. A posse não teria a inerência e a
sequela, uma vez que a ação de restituição da posse 1281º n.2 não procede
contra terceiro de boa-fé.

Âmbito da posse
 OA + MC + ML + JAV: Defendem que pode haver posse nos termos de direitos
reais, bem como nos termos de outros direitos subjetivos (p.e de crédito ou
pessoais de gozo), desde que estes direitos lhe facultem poderes para uma
atuação material sobre a coisa e aquele as tenha no seu controlo.

1251º só se aplica na integra aos direitos reais


 OA: Admita a aplicação dos preceitos referentes aos meios de tutela, à
indeminização por violação da posse 1284º, da presunção de
titularidade 1268º e da sucessão da posse 1255º
 MC + JAV: Só são extensivas as normas relativas à tutela possessória
(ações possessórias + direito de indeminização por violação da posse)
 AV + PL: Consideram que não há posse de direitos de crédito ou pessoais de
gozo.

Classificação da posse
 Titulada (modo legítimo de adquirir, não tem de ser válido, se tiver vícios
materiais, mas não formais) vs não titulada
Nota: Posse titulada presume-se de boa-fé e a posse não titula presume-se de má-

Modo legítimo de adquirir - não tem de ser válido, se tiver vícios materiais, mas
não formais continua titulada.
 Orlando de Carvalho – Considera que apenas se integram nos modos
legítimos de adquirir tanto os contratuais como os não contratuais
 Boa-fé (quem sem culpa ignora que está a lesar o direito de outrem) vs má-fé
(tanto por saber da lesão (má-fé psicológica) como por dever saber (má-fé ética))
 AV + PL: Boa-fé psicológica
 MC + JAV: Boa-fé psicológica e boa-fé ética
 Pacifica (adquirida sem violência) vs violenta (coação física ou moral no
momento da aquisição da posse)
 AV + PL + Jurisprudência: Violência respeita tanto à pessoa como à
coisa
 MC + JAV: Violência só pode ter como destinatário a pessoa
Nota: A posse violenta é sempre considerada de má-fé, dá origem a restituição
provisória 1279º, a usucapião só começa a contar quando acaba a situação de
violência.
 Pública (conhecida ou cognoscível pelos interessados) vs oculta
 Bonifácio Ramos: Tem de existir cognoscibilidade
 Doutrina minoritária: Tem de existir cognoscibilidade, mas esta é
averiguada e conjugada em função do uso normal da coisa concreta.
 Mediata vs imediata
 Formal (posse de quem não tenha o direito real da coisa) vs causal (exercida
pelo titular do direito)
 Efetiva vs não efetiva (não tem o controlo material da coisa, mas o direito de
posse)
 Civil (dá lugar a todas as prerrogativas da posse) ou interdital (só dá proteção da
coisa comodatário locatário depositário, ...)

Apossamento 1263º a) - Reiteração da prática de atos materiais


OA + MC: O que releva não é a repetição do ato, mas a intensidade da atuação que visa
consomar o controlo. A atuação tem de dar condições para que atuação sobre a coisa
seja duradoura (possibilidade abstrata de a manter no seu controlo)

Apossamento 1263º a) – tem de haver animus possidanti?


 AV + PL + Manuel Rodrigues: No ato de aquisição tem de haver o corpus e o
animus, o facto material e a intenção.
 MC + JAV: O animus não é elemento constitutivo da posse, nem é necessário
para que haja apossamento.

Constituto possessório
Manuel Rodrigues: Há aqui a confluência de dois atos jurídico, um principal
(transmissão do direito real) e um acessório (mediante o qual o até agora possuidor
passa a ser detentor)

1267º n.2:
Existe uma parte da doutrina na qual se enquadra o professor Pedro Albuquerque que
defendem que a 1267º positiva um agravamento da publicidade, exigindo não só a
cognoscibilidade, mas um conhecimento efetivo.

O abandono – facto extintivo da posse (jurisprudência tem de haver uma animus de


demitir de si o direito que tem sobre a coisa)
 MC: Faz um paralelo com o apossamento e considera que é necessário haver um
mínimo de publicidade
 JAV: Discorda, dizendo que nada impõem publicidade ao apossamento.

Poder de uso na posse


 OA: Só o poder de uso do possuidor de boa-fé é lícito e não gera dever de
indemnizar
 JAV: O possuidor de boa-fé também tem direito de uso, contudo pode ser
chamado a indemnizar nos termos da imputação de danos

Posse - Perda ou deteorização da coisa:


A contrário do 1269º podemos retirar que o possuidor de má-fé está sujeito a um regime
excecional de responsabilidade civil, pois este responde pelos danos independentemente
de ter culpa.
JAV + AV +PL: Restringem o alcance desta norma, não sendo responsabilizado se o
dano também se tivesse verificado se estivesse com o titular do direito de gozo,
aplicando diretamente o regime da mora do devedor 807º n.2 da relevância da causa
virtal negativa.

Ação de restituição da posse 1278º - O esbulhador pode constituir uma posse a favor de
terceiro nos termos de outro direito, mantendo, no entanto, a sua posse. O esbulhado
pode opor a sua posse ao terceiro?
 PL + AV: Não, porque se trata de um detentor e não de um possuidor.
 JAV: Sim, porque o detentor representa o possuidor e tem a coisa no seu poder,
o possuidor esbulhado está desta forma a exercer o seu direito contra o
esbulhador.

A acessão 1317º
JAV: Defende que este é um regime subsidiário, só se aplica quando não haja outro
regime que regule especificamente a situação.

Distinguir acessão de benfeitorias


 Manuel Rodrigues: Os atos de acessão distinguem-se porque
determinando a alteração do objeto da posse, inovam.
 AV e PL: A benfeitoria consiste num melhoramento feito por quem está
ligado à coisa em consequência de uma relação ou vínculo jurídico. A
acessão é um fenómeno que vem do exterior, de uma pessoa que não tem
contacto jurídico com ela.
 MC: Sugere três critérios interpretativos:
1º A regra geral é a acessão
2º A regra especial é a aplicação do regime geral das benfeitorias, quando
a lei o determine
3º Havendo mera posse, a solução deve ser casuística
 JAV: Fora dos casos em que a lei preveja a aplicação do regime das
benfeitorias, toda a união ou mistura de coisas pertencentes a proprietários
diversos está sujeita ao regime da acessão, mesmo que o agente da
incorporação seja possuidor.

1340º n.4 define a boa-fé no contexto da acessão imobiliária:


 AV e PL: Conceção subjetiva psicológica de boa-fé, corporizada na ideia
de ignorância que o terreno era alheio ou numa autorização do dono do
terreno.
 JAV e MC: Conceção subjetiva ética de boa-fé, uma vez que as pessoas
não podem ficar à mercê da inércia e da ignorância dos outros no
conhecimento dos seus direitos. Este juízo valorativo da conduta do
agente não é compatível com o desleixo deste no conhecimento das
posições jurídicas dos outros. Assim não basta a ignorância, tem de existir
também um desconhecimento desculpável. Esta conceção vale tanto para
a acessão industrial mobiliária como para a acessão industrial mobiliária

O titular de um direito real menor pode beneficiar da acessão?


 MC + OA: Sempre que a união ou mistura se dá no âmbito do
conteúdo do direito real menor (gozo), o titular deste direito beneficia
da acessão. Uma vez que a atribuição da acessão a estes direitos é uma
decorrência da oneração do direito de propriedade. Assim teremos de
analisar se o resultado dessa união poderia ser obtido pelo titular do
direito, no exercício normal deste. Caso fosse possível então este terá
direito à acessão. Caso não fosse, o direito de acessão é do
proprietário.

Qual o direito que este adquire?


 MC: Podem se constituir por acessão outros direitos reais, e sustentou
que pelo c) e e) do art. 204º, poderem contemplar coisas adquiridas
por acessão demonstra que a hipoteca pode ser constituída por
acessão.
 JAV: O direito adquirido por acessão é sempre o direito de
propriedade.

Natureza deste direito:


 OA + MC: Acessão industrial tem natureza potestativa e a acessão
natural é automática.
 AV + PL: A aquisição por acessão tem natureza automática.
 Jurisprudência: Aquisição por acessão tem natureza potestativa.

A aquisição da propriedade – o seu momento na acessão 1317º b):


 Acessão natural: Adquire-se no momento da união das coisas, sem
prejuízo do 1329º n.1
 Acessão industrial:
o AV: No momento da incorporação
o OA + JAV: É o momento do pagamento da indemnização
legal ao titular do crédito indemnizatório

Compropriedade – A regra do uso integral é supletiva, podendo as partes


acordarem o uso 1406º n.1
 PL + AV: Maioria pode deliberar sobre o uso da coisa, nos termos em que se
decide a administração da coisa, embora com o limite de que os comunheiros
não podem ser privados do uso da coisa
 JAV: O acordo sobre o uso deve resultar do consentimento de todos os
comunheiros e não da imposição da maioria 1406º n.1

Compropriedade – disposição de coisa comum 1408º - Falta de consentimento de


um dos comunheiros: Ilegitimidade, tendo -se como disposição de coisa alheia
1408º n.2 (remete para o regime do ato praticado sem legitimidade)
 JAV: Nulo, aplica-se a solução da compra e venda 892º que se estende a 939º
todos os negócios onerosos e à doação 956º n.1. Exceto se na compra e venda a
coisa for tomada pelas partes como alheia 880º e 893º. Considera que em caso
de consentimento posterior podemos estender o regime do 939º, tendo que o
consentimento ter a forma legal do negócio jurídico em causa, convalidando-se o
negócio.
 AV + PL + OA: Há ineficácia e não nulidade

Propriedade horizontal – relações de vizinhança 1422º n.1:


 JAV: Aplicação direta do regime da vizinhança
 OA: Aplicação analogicamente do regime da vizinhança

Usufruto - Podem as partes, no título constitutivo, restringirem algum dos poderes


relativos ao gozo, ou no limite suprimi-lo?
 OA: Admite esta possibilidade
 JAV: Não permite. O princípio da tipicidade não contempla a mera observância
do nomen juris. Exige o respeito pelo conteúdo típico injuntivo do direito.
Assim, a diminuição dos poderes de uso, fruição e transformação, violam a
tipicidade 1306º n.1.
No entanto o professor JAV considera possível uma delimitação convencional
do conteúdo deste direito que tenha eficácia meramente obrigacional. Uma vez
que o princípio da tipicidade não é obstáculo a clausulas negociais que tenham
obrigações para as partes.

Usufruto – Limites 1446º e 1439º


 MC: Defende que o respeito pela forma e substância não tem efeito imperativo,
uma vez que a formulação do artigo 1439º é uma mera definição legal, não
vinculativa. Estando apenas obrigado a respeitar o destino económico da coisa,
podendo alterá-lo durante o usufruto, desde que fosse possível voltar ao estado
anterior.
 OA: A exigência genérica é a do respeito pela forma e substância por compor o
próprio tipo. E que o respeito pela afetação económica integra-se nas normas
supletivas, podendo por isso ser alterada.
Usufruto – O destino económico afere-se à data de constituição do usufruto, mas
como?
 Subjetivo, JAV: Fim económico que o proprietário deu à coisa.
 Objetivo: Atende às possibilidades de uso lícito que a coisa propicia
 Misto, Carvalho Fernandes: Tanto a aplicação que vinha sendo dada à coisa,
como a aplicação que resulta da sua natureza.

Usufruto – Pode ter por objeto direitos?


 JAV: Discorda desta possibilidade
 PL + AV: Pode haver usufruto sobre direitos de crédito, participações sociais ou
direitos de autor.
 MC + Carvalho Fernandes: O usufruto que tenha por objeto coisas incorpóreas,
não é verdadeiramente, um direito real de gozo, uma vez que carece de
inerência e imediação

Usufruto - Extingue-se com a morte do usufrutuário 1476º n.1 a). Mas, se o


usufruto foi transmitido a terceiro e o usufrutuário original continua vivo?
 ML + OA: O usufruto entra na sucessão do usufrutuário, só se extinguindo
quando o primeiro falecer.
 Carvalho Fernandes: Leva à extinção do usufruto

Direito de uso – Poder de uso:


 JAV: Poder de uso exclusivo, estando o proprietário inibido de usar a coisa
 AV + PL: O poder de uso está limitado pelas necessidades do titular e da sua
família 1484º n.1. O uso do proprietário só ficaria limitado pela oneração do
direito de uso relativamente ao uso que não constituísse necessidade do usuário
ou da sua família.

Direito de superfície - A superfície não pode validamente constituída relativamente


a qualquer obra ou plantação:
 Doutrina dominante (OA): A coisa a construir sobre o terreno deve ser
suscetível de causar o funcionamento da acessão. Diz-nos OA que as plantações
devem ser duradouras.

Direito de superfície - Superficiário de edifício pode constituir novos direitos de


superfície sobre a obra existente ou a contruir?
 JAV: Depende do título constitutivo, porque não parece admissível que o
proprietário do solo não tenha uma palavra a dizer sobre uma construção no seu
prédio. Assim, quando seja licita a construção sobre a obra do superficiário e
não haja lugar à aplicação das regras da propriedade horizontal, constitui-se um
novo direito de superfície a favor do construtor.
 MC: Defende a nulidade do contrato em que o direito haja sido constituído.

Servidão – 1543º no seu sentido literal retiraríamos que não pode existir servidão entre
dois prédios em que uma pessoa seja titular de dois direitos reais.
 JAV: Propõe interpretação restritiva do preceito. Isso seria verdade para a
situação em que o titular tem duas propriedades plenas. Não havia razões que
impedissem a validade da constituição da servidão, num caso em que num dos
prédios este seja titular de um direito menor.
Servidão – o conteúdo típico deste direito é o aproveitamento de uma utilidade. Este
conteúdo vem descrito por um conceito jurídico indeterminado, sendo por isso para
JAV + PL + AV um tipo aberto. Este tem várias hipóteses de concretização, tantas
quantas as utilidades que um imóvel possa fazer beneficiar outro.

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