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Responsabilidade médica derivada

do estudante de medicina
doutorando sob a óptica do
Biodireito
1 de julho de 2010

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Resumo: O presente artigo discute a responsabilidade médica derivada do estudante de
Medicina na fase do internato, sob o ponto de vista do Biodireito, tendo como desígnio
incitar a discussão do Direito médico.

Palavras-chave: Responsabilidade médica. Estudantes de medicina. Direito médico.

Abstract: This article discusses the medical liability derived from the medical student
during the internship, under the terms of Biolaw, with the intention to encourage the
discussion of medical law.

Sumário: I. Considerações Inicias. II. O estudante ‘doutorando’ de Medicina. III. A


relação médico-doutorando-paciente. IV. O Novo Código de Ética Médica (CEM) e
aspectos do Biodireito. V.Considerações Finais. Referências.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O curso de Medicina, cujo qual possui a maior carga horária dentre todos os cursos
superiores, apresenta como período mínimo de integralização seis anos; sendo sua
matriz curricular dividida em três fases de igual período, inicialmente o acadêmico entra
em contato por dois anos com matérias básicas da área de saúde; após passa por uma
fase teórica-prática, e por fim vivencia a fase do internato médico, sendo nessa última
etapa chamando de doutorando e possuindo um regime de horário especial.
Teoricamente, o internato médico é um período diametralmente prático, em que o
acadêmico prestes a sair da faculdade e tornar-se médico vivencia a prática clínica nas
áreas básicas da Medicina; em que é totalmente amparado por um renomado professor
médico, ao qual por estar no magistério acompanha todos os passos e corrige possíveis
erros do doutorando, e por também ser médico, atua na beneficência da saúde do
paciente para não ser prejudicado por possíveis falhas cometidas por um aprendiz na
Medicina. E, mesmo nessa fase de doutorando recai sob si a responsabilidade sob os
atos que comete, como uma responsabilidade médica derivada.

O ESTUDANTE ‘DOUTORANDO’ DE MEDICINA

Quem vivencia o meio médico frequentemente vai se deparar com um estudante


doutorando, os professores assim o qualificam, e seu carimbo assim o define.
Historicamente pelo fato de se chamar médicos de doutores, o estudante prestes a ser
médico é chamado de doutorando, por estar na última etapa acadêmica para se tornar
médico, adentrando agora no universo prático da Medicina, prioritariamente em contato
direto com o doente e sua família; adquirindo novas responsabilidades e necessitando de
novas orientações. Nessa fase do internato médico mantém-se o doutorando durante os
dois anos dentro de hospitais, com um regime de férias de somente 30 dias durante o
citado período; necessitando permanecer nos hospitais ao qual pratica o internato
inclusive durante feriados e fins de semana, em tempo integral e com dedicação
exclusiva; período bastante desgastante e necessário no processo de formação
individual. Observa-se que por participar na proteção do doente, assumindo, sob a
dependência do médico, serviços especializados, apresenta responsabilidade médica
derivada sob seus atos; ao qual porventura delegados por o médico responsável, não
foram realizados da maneira moralmente aceitável.

É falta do doutorando em Medicina, se orientado pelo médico a realizar algum


procedimento, como solicitado a realizar exame físico especializado de determinado
sistema do corpo, por exemplo, o sistema neurológico, e furtar-se a realizar, e
decorrente dessa negligência deixar de ser percebidas deficiências ou insuficiências que
possa no transcorrer do tempo causar algum dano ao paciente por não ter se orientado a
terapêutica com todos os sinais presentes no paciente. Assim, é essencial a informação
que o doutorando necessita manter-se atento à suas responsabilidades inerentes a sua
atividade de acadêmico.

A RELAÇÃO MÉDICO-DOUTORANDO-PACIENTE

Como na relação médico-doutorando quem possui diplomação médica e inscrição no


Conselho Regional de Medicina é o médico, cabe a ele manter uma conduta médica
ajustada às normas éticas e jurídicas e aos princípios das relações sociais, respeitando a
beneficência e não-maleficência do paciente; de tal maneira orientando o doutorando a
seguir tal procedimento. É profícuo e virtuoso que o doutorando para ir ganhando
traquejo prático acompanhe pacientes em nível ambulatorial e de enfermaria, com o
assessoramento médico integral. Na realidade, o que ocorre é que o doutorando se vê no
papel de médico a ser o responsável por uma consulta das mais diversas especialidades
médicas e de evoluir o quadro do paciente e prescrever, sob a supervisão médica,
diariamente, pacientes em enfermarias; e acostuma-se com a prática virtuosa de guardar
segredo sobre tudo que vier a reparar em razão de sua função privilegiada. A prática
diária, praticamente ininterrupta durante dois anos, leva ao doutorando afinar a relação
com o paciente e seus familiares; adquirindo grande experiência nessa etapa.

Chama-se atenção que o único meio de aprendizado do estudante Medicina doutorando


é o serviço público de saúde, ou seja, são os doentes provenientes que necessitam do
Estado para lhes dar a saúde. Pacientes que possuem convênios de planos de saúde ou
que são particulares, ou seja, pagam diretamente ao prestador de serviço em sua ampla
maioria não se deixam ser avaliados por estudantes de Medicina, somente por médicos
diplomados. Observa-se então que o doutorando familiariza-se com um ambiente de
trabalho, em muitas ocasiões, não ideal para se realizar a Medicina; pela falta de
recursos físicos e humanos peculiar dos serviços públicos de saúde no Brasil, esse fato é
importante, pois o futuro médico depara-se constantemente com impedimentos para
praticar a Medicina de mais alta qualidade, comum em hospitais privados de referência.

O NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA (CEM) E ASPECTOS DO


BIODIREITO

Recentemente, O CEM foi revisto, atualizado e ampliado, resultado de mais de dois


anos de trabalho, reunindo sugestões de médicos, especialistas e instituições da área
médica; a fim de garantir segurança para o médico e confiança para o paciente. O Novo
CEM, ao qual foi aprovado pela Resolução 1.931 do CFM e que entrou em vigor desde
13 de abril de 2010, é composto de 25 princípios fundamentais do exercício da
Medicina, 10 normas diceológicas, 118 normas deontológicas e cinco disposições
gerais.

O conhecimento do CEM pelo doutorando vem acontecendo de maneira paulatina


durante a fase de todo curso médico, devendo ele inteirar-se de todos seus artigos, para
dessa maneira adequar seus atos aos mais respeitos possíveis diante de uma infinidade
de situações em que o doente está envolvido. Lidar com a vida humana em sua fase
mais crítica, a qual não está com sua saúde perfeita, é um dos momentos mais delicados
do relacionamento humano, ao qual os critérios passionais, por parte dos familiares do
paciente; e os critérios racionais, por parte do médico, devem interagir de uma maneira
a qual decidam pela melhor opção que leve ao restabelecimento da saúde do enfermo.
A responsabilidade civil dos médicos somente decorre de culpa provada, não podendo
ser presumida, tendo em vista ter sido adotado o sistema de responsabilidade subjetiva
pelo Código Civil, de forma que, não resultando provadas a imprudência, imperícia ou
negligência, nem o erro grosseiro, fica afastada a obrigação de indenizar.

A prestação de serviços médicos, via de regra, afigura-se como obrigação de meio e não
de resultado, haja vista que o profissional não pode assegurar, salvo raras exceções, o
sucesso do tratamento a que se submete o paciente, não se eximindo, todavia, do dever
de vigilância aos cuidados mínimos de sua atividade técnica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ante o exposto no artigo, fica claro que um clarão se abre nesse debate, pois na
formação do estudante de Medicina como doutorando ele observa diversas situações e
cabe a cada um, analisando questões morais, éticas e religiosas analisar o que de cada
profissional ele vai tomar como correto, e a partir daí, abrir seu próprio caminho dentro
da Medicina, seguindo não cegamente os preceitos morais aceitos no tempo e espaço ao
qual está presente, mas analisando eticamente suas atitudes em que possui
responsabilidade médica derivada sobre seus atos; sobre a óptica do Biodireito, tendo
como principal objetivo garantir a proteção da dignidade do ser humano.

Referências

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do


Brasil. Brasília: Senado, 1988. 168p.

BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução 1.931, de 17 de setembro de


2009. Código de Ética Médica.

CONTI, Matilde Carone Slaibi. Biodireito: A Norma da Vida. Rio de Janeiro:


Forense, 2004.

DINIZ, Maria Helena. O Estado Atual do Biodireito. São Paulo: Saraiva 2006.

LAMPERT, J. B. Currículo de graduação e o contexto da formação do médico. Revista


Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 25, no 1, set./dez. 2001.

MACHADO, M. H. (Coord.) Os médicos no Brasil: um retrato da realidade. Rio de


Janeiro: FIOCRUZ, 1997. 244p
ROSEMBERG, D. S. O processo de formação continuada de professores
universitários: do instituído ao instituinte. Rio de Janeiro: Wak, 2002.

SÁ, Maria de Fátima Freire de & NAVES, Bruno Torquato de Oliveira.


(coord). Bioética, Biodireito e Código Civil de 2002. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.

Informações Sobre o Autor

Saulo Cerqueira de Aguiar Soares

Médico do Trabalho Advogado e Professor. Doutor em Direito com distinção Magna


cum Laude pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas.
Mestre em Direito com distinção acadêmica Magna cum Laude pela PUC Minas.
Detentor do Título de Especialista em Medicina do Trabalho da Associação Médica
Brasileira – AMB. Especialista em Medicina do Trabalho pela Faculdade de Ciências
Médicas de Minas Gerais – FCMMG. Especialista em Direito do Trabalho e Direito
Previdenciário – PUC Minas. Especialista em Direito Civil – PUC Minas. Especialista
em Direito Médico – Universidade de Araraquara. Coordenador dos livros “Temas
Contemporneos de Direito Público e Privado” Editora DPlácido; “Fluxo de Direito e
Processo do Trabalho” Editora CRV; “Ciência Trabalhista em Transformação” Editora
CRV; e “Direitos das Pessoas com Deficiência e Afirmação Jurídica” Editora CRV. É
autor do livro “Direitos Fundamentais do Trabalho” Editora LTr

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