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DIABETES

formados. → FIM DA FASE 1

Uma vez liberada na corrente sanguíinea, essa insulina irá


MELLITUS TIPO 1 agir nos seus receptores, que estão mais concentrados nas
células musculares e nos adipócitos.
Prof. Tassia – Sofia R. Colombo – 8º período
ROTEIRO:
✓ Conceitos importantissimos
✓ Calssificação e Epidemio do Diabetes
✓ Fisiopatologia DM1
✓ Diagnóstico
✓ Quadro clínico
✓ Tratamento DM1: insulinas, monitorização, hipos, transplante

As complicações agudas e crônicas serão abordadas em outras aulas.

CONCEITOS IMPORTANTES Figura 2: esquema que representa uma célula muscular ou


adpócito com seus receptores para insulina.
Devemos sempre lembrar que a insulina (hormonio que
regulariza a glicose) é liberada em 2 fases.

Numa primeira fase existe a liberação de uma insulina pré


formada nos grânulos presentes nas células
betapancreáticas, processo que dura minutos e se inicia
após estímulo (alimentação).

Já numa segunda fase, que vai durar horas, existe a


necessidade de síntese e liberação posterior dessa insulina
neo-formada.

Figura 3: esquema representando a ação da insulina na


célula após a ligação ao receptor.

Então, a insulina se liga ao seu receptor, que possui um


domínio extra e um intracelular. O domínio intracelular
possui uma atividade chamada de tirosinoquinase que,
após ativada pela insulina, vai sofrer uma fosforilação.

Uma vez fosforilados esses terminais, temos a ativação da


via da fosfatidilinositol-3-quinase (ou PI3K), que é a
principal via ativada pela insulina acoplada ao receptor.
Figura 1: esquema ilustrativo do processo de liberação da
insulina. Com isso, haverá a exposição dos receptores GLUT4 que
estavam, até então, contidos dentro das células
O maior estímulo para dar início a esse processo é a musculares e dos adipócitos.
alimentação, com a qual ocorrerá a absorção de glicose
pelo intestino. Uma vez expostos esses receptores GLUT4 nas
membranas celulares de celulas musculares e adipócitos, a
Uma vez na corrente sanguínea, a glicose vai penetrar pelo glicose que estava no sangue vai conseguir se ligar à esses
receptor GLUT2 das células beta pancreáticas. Após isso, receptores e adentrar na célula pra efetivar a sua
teremos a ação de uma enzima chamada glicoquinase que disponibilização energética.
irá fosforilar essa glicose, transformando-a em Glicose-6-
fosfato (G-6-P). Ou seja, insulina não “carreia glicose”, na verdade, a
insulina se liga ao seu próprio receptor, que vai ativar vias
Esse G-6-P vai ser metabolizado e vai proporcionar um para expor nas membranas celulares os receptores da
aumento da produção de moléculas de ATP intracelular. glicose, que são os “GLUTs” (no caso da celula muscular e
Uma vez que o ATP se concentra mais dentro da célula do adipocito é p GLUT4), e são esses receptores que irão
existe um fechamento dos canais de potássio ATP permitir a entrada da glicose circulante para o intracelular.
dependentes. Por conta desse fechamento, existe uma
despolarização da membrana das células beta No DM tipo 2 teremos alterações dentro dessas vias
(interrupção do efluxo de K), que em seguida vai fisiológicas, e no DM tipo 2 temos defeito na produção da
proporcionar a internalização de íons cálcio. Com isso, insulina.
haverá a liberação dos granulos de insulina previamente

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CLASSIFICAÇÃO DOS Por fim, existe ainda o subtipo 1B, e aqui esse paciente se
comporta com o tipo 1A, ou seja, precisa de insulinização,
DIABETES tanto basal como bolus (insulinazação plena), porém ele
não tem a positividade dos autoanticorpos (de repente
porque ainda não foi descoberto quais anticorpos que
Pra falarmos de diabetes temos que lembrar que existem esse paciente pode ter pra justificar o seu diabetes com
mais de um tipo de diabetes, claro que no dia a dia esse comportamento tão típico do tipo 1 clássico), então
veremos muito mais do tipo 2, mas temos que lembrar que dizemos que é um subtipo idiopático.
existem outros além do tipo 1 e tipo 2.
✓ DM2:
TIPO EPIDEMIO BREVE FISIOPATOLOGIA
O tipo 2 é o tipo mais comum; cerca de 90% da população
✓ Tipo 1 A: autoimune, autoAc+ diabética é do tipo 2; a fisiopatologia é relacionada à
(90%) resistência insulínica.
o LADA: lentamente
5-10% dos progressiva, 25-65 anos, ✓ DMG:
DM1 casos de s/ hipergli acentuadas/ Existe ainda o diabetes gestacional, que pode acometer
DM ausência de CAD, cerca de 15 a 17% das gestantes e está intimamanente
autoAc (+) ligada a fatores placentários em sua fisiopatologia, sendo
✓ Tipo 1 B: idiopática (10%), o hormônio lactogênio placentário um deles; quanto mais
sem autoAc desenvolvida está a placenta maior a chance dessa mulher
desenvolver um diabetes gestacional.
Resistência Insulínica
DM2 ~ 90% (+ outros fatores que veremos
depois)
✓ MODY:
Existe ainda esse tipo de diabetes que se chama MODY
(Maturity Onset Diabetes of the Young) que é um diabetes
~ 17% das Fatores placentários
DMG herdado através de uma herança autossômica dominante.
gestantes contrarreguladores
Existem vários tipos de MODY, já foram descritas várias
alterações genéticas relacionada a esse tipo de diabetes e
MODY Autossômica dominante: há todos eles coincidem na sua fisiopatologia em relação ao
(Maturity defeito na produção/secreção da mecanismo de desenvolvimento, que é alguma
MODY 3: +
Onset insulina. No tipo 3: mutação no mutação/alteração na produção e secreção de insulina por
prevalente
Diabetes of HNF1-alfa (gene modulador da algum determinante genético. Ou seja, aqui a insulina é sim
the Young) transcrição insul.) produzida, porém o processo produção-liberação é
✓ Pancreatite com destruição deeituoso. Por exemplo: o MODY tipo 3 é o tipo mais
Doenças prevalente, em que a pessoa tem mutação do gene HNF1-
- significativa do parênquima;
pancreáticas alfa, que é um gene que é responsável pela transcrição da
✓ fibrose cística.
insulina, ele atua modulando a transcrição de insulina,
✓ Sd Cushing, então essa pessoa acaba tendo uma diminuição na
✓ Acromegalia, produção de insulina, mas não por um ataque autoimune
Endocrino
- ✓ Hipertireoidismo, e sim por uma alteração genética. Dessa forma, é comum
patias
✓ Hiperaldosteronismo encontrar 3 gerações da família, por exemplo, com
✓ Feo pacientes diabéticos. Por curiosidade, o MODY 3 responde
muito bem ao uso de sulfonilreias (glibenclamida,
glicazida, etc).
✓ DM1:
O diabetes tipo 1 tem prevalência em torno de 5 a 10% de
✓ DOENÇAS PANCREÁTICAS:
toda população diabética.
Existem ainda as doenças pancreáticas, por exemplo, uma
Existem 2 tipos de diabetes tipo 1: O subtipo 1A e 1B. fibrose cística, um paciente que sofre de uma pancreatite
crônica, etc. Mas pra gente ter, de fato, um diabetes
O subtipo 1A é autoimune, ou seja, é aquele em que relacionado à doenças pancreáticas precisa haver uma
conseguimos encontrar e dosar os autoanticorpos. perda de massa pancreática de pelo menos 90%
(destruição significativa).
E existe ainda um subtipo do subtipo 1A, que é o LADA, que
é um diabetes tipo 1 que acomete adultos mais jovens (às ✓ OUTRAS ENDOCRINOPATIAS:
vezes até idosos), cursando com uma hiperglicemia menos Existem ainda outras endocrinopatias que, basicamente,
acentuada que a do tipo 1 clássica. Nesses casos, vão cursar com excesso de hormônios contrainsulínicos.
normalmente há uma perda gradual das células beta, não Então, por exemplo, na síndrome de Cushing temos
é uma perda abrupta e nem tão consistente/rápida quanto excesso de cortisol (hormônio contrainsulínico), na
no tipo 1 clássico, por isso dificilmente esses pacientes vão Acromegalia temos excesso de GH (também é um
cursar com uma clínica de cetoacidose diabética (CAD). hormônio contrainsulínico), no hipertireoidismo temos
Porém, os autoanticorpos também são positivos. excesso de T3 e T4 (também contribui para resistência

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insulínica), o hiperaldosteronismo e o Feocromocitoma Outros mecanismos também estão envolvidos na
são tumores adrenais: o hiperaldosteronismo corresponde destruição das células beta, por exemplo, sabe-se que tem
no cortex adrenal ao excesso de aldosterona e o participação do interferon alfa, das interleucinas 1 e
Feocromocitoma ali na medula adrenal é responsável pelo moléculas Fas (receptor de superfície celular, da família do
excesso das catecolaminas que também são responsáveis TNF). Existe também uma associação com RNA viral
por um mecanismo contrainsulínico. dentro das ilhotas pancreáticas (comprovadamente
apenas rubéola congênita; existe a hipótese também de
Então são várias as causas e a gente tem que investigar e estar relacionado ao Epstein-Barr mas isso também não
não ficar só pensando em classificar se é tipo 1 ou tipo 2, está muito bem elucidado).
porque talvez o paciente tenha um outro tipo que vai
demandar, claro, um tratamento diferenciado. Outro mecanismo interessante é em relação ao locus da
insulina, presente em um RNA mensageiro dentro do
EPIDEMIOLOGIA timo. O timo é um órgão que participa da atividade
imunológica; com a presença desse locus de insulina no
timo, nosso SI identifica os “antígenos insulínicos” como
componente próprio do organismo e não o ataca (é como
se fosse uma proteção natural ao DM tipo 1, pois dimiui as
chances de um ataque autoimune).

✓ AUTO-ANTICORPOS:
Embora os auto-Ac não exerçam papel direto na
destruição das células beta, eles têm o poder de sinalizar
aos exames que aquele paciente tem autoimunidade para
as células beta pancreáticas (são marcadores; alta
especificidade para DM1).

São eles:
Figura 4: gráfico da prevalência de DM no brasil (qualquer 1. Anti-GAD (anti descarboxilase do ácido glutâmico) →
tipo de DM) de acordo com a faixa etária. É um dos mais por ser o mais sensível (~70-90%) e
bastante específico (99%). Ele é o auto-Ac que persiste
De fato, em idades mais avançadas, existe um aumento da por mais tempo ao longo da vida do paciente com
prevalência de diabetes, principalmente diabetes tipo 2, DM1. Essa característica é importante pois ao longo do
uma doença cujo risco é realmente maior na idade mais tempo a titulação desses autoanticorpos pode decair,
adulta/idosa. Porém, na faixa etária mais jovem temos sim então o anti-GAD é o mais dosado.
alguma prevalência de DM, principalmente paciente
recém diagnosticados com o diabetes tipo 1. 2. Anti-AA (anti-insulina) → É o primeiro a aparecer no
paciente com DM1, porém a dosagem dele perde valor
FISIOPATOLOGIA quando é introduzida insulina para o tratamento
(pessoas podem desenvolver o Anti-AA por receber
insulina exógena).
A fisiopatologia do DM1 é muito simples de ser
reconhecida, apesar dos mecanismos moleculares não 3. Anti-A2 (anti-tirosina fofatase)
estarem totalmente elucidados, mas basicamente existe
um ataque autoimune nessas células beta pancreátricas. 4. Anti-ICA (anti ilhota) → É na verdade um conjunto de
autoanticorpos (tipo o FAN que também é um
Curiosamente, a destruição dessas células não ocorre por conjunto de autoanticorpos). Aqui inclui-se o anti-GAD
ação direta dos autoanticorpos, mas sim determinada pelo e o anti-A2 (que podem ser medidos de forma isolada
HLA classse II (que compõe o complexo de ou em forma de anti-ICA). Foram os primeiros a serem
histocompatibilidade principal – MHC). utilizados na prática clínica.

Lembrar: a importância do HLA é de apresentar os 5. Anti-ZnT8 (Anti Zinco) → Este foi o último a ser
antígenos aos linfócios T. descoberto. Com isso, muitos pacientes que antes
eram classificadas como tipo 1B (idiopáticas)
O HLA de classe II é formado por 3 domínios (3 moléculas): passaram a ser 1A, pois descobriram que o anti-ZnT8
DR, DQ e DP. Algumas associações de DR, DQ e DP podem era positivo.
aumentar as chances de um diabetes (moléculas de alto
risco), mas algumas também podem gerar proteção
IMPORTANTE: pacientes com autoanticorpos positivos e
imunológica contra esse diabetes (moléculas protetoras).
ainda sem alterações glicêmicas possuem maior chance de
desenvolver DM1 ao longo da vida. A positivação dos
Os mais propensos a levar ao diabetes tipo 1 são as
autoanticorpos pode preceder em alguns anos o
combinações DR3-DQ2 e DR4-DQ8.
aparecimento do DM1 propriamente dito, porém também
podem ir negativando ao longo dos anos da doença.

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→ Doença de Addison: É uma insuficiência adrenal
primária do tipo autoimune. A pessoa produz
anticorpos contra a 21-hidroxilase, que é uma enzima
presente no córtex da adrenal. Então, uma vez que eu
tenho um autoanticorpo contra essa enzima eu acabo
Figura 5: modelo de desenvolvimento do diabetes.
destruindo essas células e posso desenvolver a
Em 1986, o Dr Eisenbarth desenvolveu um modelo bem doença de Addison. O autoanticorpo anti-21-
simplificado que mostra como a pessoa se comporta ao hidroxilase está presente em 1,5% da população com
longo do tempo de acordo com a perda de massa de DM1, sendo que a doença de Addison propriamente
células beta. dita está presente em 0,5% das pessoas com DM1.
→ Doença celíaca: Está ligada a anti-transgutaminase,
A pessoa nasce com o seu máximo de células beta, e ao com 12% de positividade desse autoanticorpo em
longo do tempo, de acordo com a predisposição genética pacientes diabéticos tipo 1, sendo que 6% dos
associada a um desencadeante ambiental inespecífico pacientes DM1 podem desenvolver dç celíaca.
(exemplo: rubéola; inespecífico porque não conhecemos → Anemia perniciosa: É aquela onde a pessoa tem
tudo que causa esse efeito), esse paciente começa a anticorpos anti célula-parietal e aí acaba
desenvolver uma insulite (uma lesão dessas células beta) desenvolvendo uma anemia megaloblástica. Existe
e a massa de células beta acaba decaindo. A partir desse uma associação de 21% de positividade com esses
decaimento de células beta é possível identificar a autoanticorpos e uma associação com a doença em si
autoimunidade e os autoanticorpos, que promovem essa de 2,6% nos pacientes DM1.
destruição progressiva. → Doença de Graves/Tireoidite de Hashimoto:
positividade do anticorpo em 25% dos pacientes DM1 e
A principio, a glicemia ainda se mantém a niveis normais, concomitância das doenças em 4% dos pacientes com
porém chega o momento em que ela se altera e essa DM1.
pessoa se torna pré-diabética até o ponto em que se
iniciam as manifestações clínicas do diabetes
propriamente dito.
DIAGNÓSTICO
Um dos primeiros exames que se alteram nesse processo
é o TOTG (teste oral de tolerância à glicose), sendo um
bom exame para ser soliciato periodicamente no
acompanhamento do paciente. Lembrando que não há
uma periodicidade exata para a solicitação de TOTG
estabelecida pelas diretrizes!

Figura 6: dx de diabetes; *sintomas de hiperglicemia = poliúria, polidipsia,


polifagia e emagrecimento.

MUITO IMPORTANTE!! GRAVAR!!

O diagnóstico pode ser dado de 4 formas:

1. Glicemia jejum
✓ AUTO-ANTICORPOS: Se < 100, paciente EUGLICÊMICO; Entre 100 e 125 esse
Como sabemos, uma doença autoimune pode predispor a paciente é PRÉ DIABÉTICO; E se maior ou igual a 126 temos
pessoa ao aparecimento de outras doenças autoimunes. E um exame alterado que, se somado a mais um teste
no diabetes isso não é diferente: existe uma associação alterado, fecha diagnóstico de DIABETES.
com vários anticorpos e com outras doenças autoimunes.

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2. Hemoglobina glicada A concordância entre gêmeos, muito importante, é maior
A hemoglobina glicada < 5,7% é EUGLICEMIA; 5,7 a 6,4% é no tipo 2. E ainda vemos que a historia familiar costuma ser
PRÉ DIABETES e maior ou igual a 6,5%, somado a mais um mais prevalente no tipo 2 (90%) do que no tipo 1 (50%).
exame alterado, confirma DIABETES.
A associação de HLA e autoanticorpos positivos são
3. TOTG correspondentes ao tipo 1 somente.
Teste oral de tolerância a glicose: é ofertado um líquido
açucarado (70 g d glicose anidra) e depois de 2h é aferida Sobre o peptídeo C: A molécula de insulina, antes de ser
a glicemia plasmática. Se estiver < 140 é EUGLICEMIA, se liberada na sua forma pré formada, precisa ser clivada e
tiver entre 140 e 199 é PRÉ DIABETES e se estiver maior ou passar por algumas etapas (quebra da pró insulina em
igual a 200, somado a mais um exame alterado, esse insulina). Essa clivagem vai liberar os peptídeos C, que
paciente realmente é DIABÉTICO. fariam a ligação dessas grandes moléculas até chegar a
insulina. Então, uma forma da gente medir o reservatório
4. Glicose ao acaso pancreático da pessoa em relação a insulina é medindo o
A glicemia ao acaso é o único exame que se o paciente peptídeo C, que é uma molécula mais estável a nível
tiver o sintoma MAIS a glicemia maior ou igual a 200 já laboratorial e mostra de forma indireta essa reserva de
podemos fechar o diagnóstico de DIABETES com esse insulina.
único exame.
Uma outra coisa importante é: um paciente tanto DM1
Em outras situações o paciente precisa repetir ou o mesmo quanto DM2 que faz uso de insulina, no momento da
exame, ou outro exame com valor indicativo de diabetes dosagem sérica seria medida a própria insulina injetada,
pra fechar o diagnóstico (a diretriz coloca que seja então dosa-se o peptídeo C para conseguir de fato avaliar
repetido preferencialmente o mesmo exame que veio o reservatório de insulina do próprio paciente, ou seja, ele
alterado). é importante para que seja feita essa diferenciação.

DIFERENÇAS DM1 X DM2 Se vier um peptídeo C baixo significa que a reserva


pancreática é muito pequena, o que é uma característica
do tipo 1. Enquanto no tipo 2 teremos até mesmo um
aumento da liberação de insulina pra tentar vencer aquela
resistência, que é o principal mecanismo fisiopatológico,
portanto veremos um peptídeo C inclusive elevado.

Os sintomas clássicos de polis são mais presentes no tipo


1, enquanto que no tipo 2 50% dos pacientes podem ter
esses sintomas e 50% podem ser assintomáticos.

Em relação às complicações agudas: no tipo 1 é a


cetoacidose diabética (CAD), enquanto que no tipo 2 a
principal complicação é o estado hiperglicêmico
hiperosmolar não cetótico (EHHNC). Lembrando que no
tipo 2 também pode acontecer CAD, porém com uma
menor frequência que no tipo 1 e em uma menor
frequência que o EHHNC.

O tratamento inicial no tipo 1 sempre vai ter como


protagonista a insulina, enquanto que o protagonismo do
tratamento do tipo 2 são os hipoglicemiantes orais e a
mudança do estilo de vida.

A primeira diferença é a idade usual de aparecimento.


HEMOGLOBINA GLICADA
Normalmente a tipo 1 ocorre em crianças, adolescente ou (HbA1C)
adultos jovens. Porém, ainda tem o LADA, que pode atingir
pessoas de até 65 anos. No DM2 já veremos pacientes Agora vamos falar do arsenal que nós temos para
normalmente com mais de 40 anos. Mas, precismaos acompanhar esse paciente pois, uma vez estabelecido o
lembrar que a obesidade está relacionada ao tipo 2 por diagnóstico, eu preciso explicar ao paciente a importância
conta da resistência insulinica, e sabemos que este quadro do controle glicêmico e por quais métodos vamos fazer
está cada vez mais prevalente, inclusive em pessoas mais esse controle, e quem ganha nessa gama de exames é a
jovens e até em crianças. hemoglobina glicada.
Em relação a prevalência dentre os pacientes diabéticos, a A HbA1C constitui cerca de 5% da Hb total e resulta de uma
maior é do tipo2 (de 90 a 95%). interação entre a glicose sérica com o grupo amino da Hb.

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A Hb tem uma meia vida de 3-4 meses, e durante esse outros interferentes, como a hipertrigliceridemia, a
tempo ela vai sofrendo reações de glicosilação (que é a insuficiência renal crônica (por dificuldade de sintetizar
incorporação da glicose à Hb). A partir disso vai acontecer novas hemácias e consequentemente prolongamento da
uma reação irreversível e essa molécula de glicose vai ficar meia vida dessa hemácia), o álcool, esplenectomia e
fixada nesse terminal amino da hemoglobina. deficiência de ferro.

Com isso, podemos refletir que a hemoglobina glicada vai Mas existem também fatores de interferência de falsa
ser o reflexo da concentração de glicose sérica nos últimos diminuição, que são fatores que encurtam a meia vida da
4 meses. Essa relação é medida em porcentagem, então hemácia, por exemplo: anemias hemolíticas, gravidez,
quanto maior for a porcentagem de Hb glicada maior é a sangramento, transfusão sanguínea recente e alterações
taxa de hiperglicemia desse paciente, dando uma média da relacionadas a hemoglobinopatias.
taxa glicemica desses ultimos meses.
QUADRO CLÍNICO
O quadro clínico clássico de DM1 são os sintomas de polis
(poliúria, polidipsia e polifagia) junto com o
Porém, isso é medido com impactos diferentes: 50% do emagrecimento.
valor da HbA1C corresponde ao mês anterior ao exame,
25% corresponde ao mês anterior a esse e os ultimos 25% Ainda, alguns pacientes evoluem com infecção do trato
correspondem ao 3º e 4º mês anteriores ao exame. Então, urinário e/ou candidíase por conta da glicosúria, porque o
de fato, a maior parte da hemoglobina glicada vem do aumento do açúcar é alimento que propicia a multiplicação
último mês ou dos 2 últimos meses. celular de bactérias fungos etc.

Além disso, cerca de 25% dos pacientes DM1 tem o


diagnóstico feito diante da CAD – cetoacidose diabética.
Em um estudo nacional, esse dado foi mais alarmante:
aproximadamente 42% dos pacientes abriram o quadro de
DM1 com CAD. O principal dos cetoácidos é o Beta-
Desde 2010 ela entrou como um método laboratorial hidroxibutirado (pp), resultado da beta-oxidação dos AG,
consagrado para o diagnóstico e o prognóstico, pois responsável por essa acidoser. Para dar esse diagnóstico
quanto pior essa hemoglobina glicada ao longo do tempo, precisamos de: Glicemia > 250 mg/dL (hiperglicemia) +
maior a chance desse paciente ter complicações acidose (pH < 7,3) + cetonúria / cetonemia (corpos
microvasculares e até mesmo maior a chance dele ter cetonicos na urina / aumento anormal na concentração de
complicações agudas, como a CAD. corpos cetônicos nos fluídos corporais).

OBS.: nas gestantes a HbA1C perde o valor (de diagnóstico PERÍODO DE LUA DE MEL
e de acompanhamento), pois temos uma anemia
dilucional nessas pacientes, o que falseia os resultados, e
Existe também um conceito chamado Período de Lua de
também por conta do tempo de avaliação, pois a glicada
Mel. É um período mais no início da apresentação do
reflete os últimos 4 meses, ou seja, não adianta eu ficar
quadro, que dura semanas a meses, durante o qual o
pedindo todo mês a glicada (vai trazer pouca informação
paciente ainda tem uma reserva pancreática de produção
adicional), então imagina em uma paciente grávida
de insulina, ou seja, a perda de massa beta pancreática não
esperar 4 meses pra saber se tá tendo controle ou não da
se deu completamente ainda. Nesse período as doses
glicose, seria totalmente inviável, além do risco de falsa
necessárias de insulinoterapia costumam ser menos
diminuição da própria gestação.
elevadas.

Mas sabemos que, invariavelmente, é questão de tempo


para perda total da massa pancreática, e ainda existem
fatores que podem encurtar esse período da lua de mel:
✓ Quadros infecciosos
✓ Puberdade
✓ Necessidade de corticoides

Nesses três casos existe algo que justifique a


contraposição da insulina: nos quadros de infecção há um
Existem ainda alterações da glicada que não vem aumento do cortisol e aumento catecolaminas, tendo
necessariamente da glicose. Daí podem ocorrer falsas efeito contrainsulínico; na puberdade há aumento do GH,
elevações e reduções da Hb1AC. que também é contrainsulínico, assim como os
corticoides. Ou seja, esses fatores tendem a aumentar a
As falsas elevações estão ligadas a momentos em que eu glicemia, favorecendo assim o inicio antecipado do
tenha um prolongamento da meia vida da hemácia e diabetes.

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TRATAMENTO - Porém, na pratica clínica esse número se torna muito
variável, pois existem pacientes que irão precisar mais de
INSULINOTERAPIA uma ou de outra proporção, por isso o acompanhamento
é individualizado e as diretrizzes servem apenas como um
norte. Portanto, as dosagens de inslina sofrem certa
As necessidades diárias de insulina no DM1 podem ser variabilidade. Sendo assim, exitem duas modalidades de
estimadas a partir do peso corporal, tipicamente variando tratamento:
entre 0,4 U/kg/dia a 1,0 U/kg/dia. Doses maiores podem ser
requeridas durante a puberdade, gestação ou infecções. A- Múltiplas aplicações diárias de insulina (múltiplas
doses de insulina – MDI)
A utilização de uma dose total de insulina serve para
manter a glicemia basal adequada entre as refeições e Essas múltiplas doses de MDI são calculadas em relação à
também apra manter a glicemia pós prandial adequada. própria insulina basal, em que a dose total é dividida em
várias aplicações ao longo do dia para ajustar a glicemia
Com isso, podemos entender que existem tipos diferentes conforme a alimentação.
de insulina, que agirão de formas diferentes nesse
controle: uma com a ação mais prolongada para segurar B- Bomba de infusão de insulina (sistema de infusão
esse controle ao longo do dia e outra com ação mais rápida contínua de insulina – SICI)
para adequar a glicemia rapidamente no momento da
refeição. A bomba de insulina é um sistema de infusão contínua, ou
seja, ela libera a todo tempo uma certa quantidade de
Tradicionalmente: 50% da secreção como componente insulina basal. Nesse caso, no momento da refeição o
basal ao longo de todo o dia, e os 50% restantes como paciente programa o aparelho para que ocorra uma
componente prandial, em resposta às refeições. liberação maior de insulina para ajustar à alimentação.

Figura 7: Insulinas disponíveis no mercado.

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A diretriz traz as possibilidades de insulina que existem no ✓ ANÁLOGOS DA INSULINA:
mercado. No SUS são 2 insulinas distribuídas: a insulina
NPH e a insulina regular. Existem ainda os análogos da insulina, que necessitam de
um laudo para que sejam liberadas gratuitamente pelo
✓ INSULINA NPH: governo ao pacientes, sendo a principal justificativa para
essa prescrição justamente a variabilidade da
insulinoterapia. Por exemplo: um paciente que utiliza NPH
por longo tempo e, por questões de farmacocinética e
variabilidade de ação, o paciente volta a ficar
metabolicamente descompensado, com hiperglicemias ou
hipoglicemias intensas.

A grande vantagem desses análogos é que elas possuem


A insulina NPH é de ação intermediária. Ela apareece no uma meia vida mais longa, ou seja, são necessárias menos
quadro junto com os outros exemplos de insulina basal aplicações ao longo do dia, o que facilita a aderência ao
(INSULINA BASAL = insulina que cobre os momentos entre tratamento. Além disso, a maioria delas não possui pico de
as refeições). ação, então a chance de causarem uma hipoglicemia é
menor.
A ação da NPH tem uma duração de 10 a 18h (estimativa;
na pratica vemos que chega até umas 8h, por conta da sua Porém, curiosamente, esses análogos (seja de ação
alta variabilidade), porém possui um pico de ação (4 a 10h). prolongada ou rápida) não evidenciaram em estudos
O problema disso é que muitas vezes ela vai apresentar melhores taxas de HbA1C em comparação à NPH e à
esse pico num momento em que o paciente não está Rápida, ou seja, são equivalentes em termos de controle
comendo, e assim a insulina fica agindo intensamente sem glicêmico, tendo vantagem apenas na comodidade
que tenha oferta de glicose naquele momento, causando terapêutica (melhor posologia/aderência e menores
uma hipoglicemia. efeitos colaterais).

O início da ação da NPH É DE 2 a 4h, então é muito comum


o paciente referir que aplicou a NPH e não viu diferença na
medição da glicose, por isso é importante a orientação ao
paciente para que ele não provoque uma hipoglicemia
tentando corrigir a glicemia com varias aplicações
imediatas.

✓ INSULINA REGULAR:
As análogas basais são: Glargina 100 (1 a 2x ao dia), Detemir
(sempre 2x ao dia), Glargina 300 e Degludeca (ambas
sempre 1x ao dia). E as prandiais são: Asparte, Lispro,
glulisina, Fast Aspartate e a Inalada.

OBS.: Lançada em 2019, a insulina inalada (Afrezza) é uma


insulina de ação ultra rápida e a via de administração é
A insulina regular (R de Rápida, R de regular, R de refeição) inalatória, como medicamento para asma. A vantagem é
é a que ajuda a regular a insulina pós prandial, ou seja, a que não requer agulhada subcutânea, porém as
insulina relacionada a alimentação. Então se eu vou comer desvantagens são: contra indicação em pacientes com
alguma coisa (arroz, feijão, batata, macarrão, etc) eu vou pneumopatias e a dosagem, pois ela vem em doses fixas
precisar liberar na circulação rapidamente essa insulina pra 4/8/12, ou seja, se eu precisar de aplicar 5 ou 7 eu não
dar conta daquele carboidrato do alimento ingerido. consigo, será sempre essa mesma dose. Outra
desvantagem importante é o custo que, quando foi
Particularidades da insulina regular: Deve ser aplicada lançada em 2019, era em torno de R$2000,00.
30min antes da refeição, pois esse é o tempo de início de
ação (30 a 60 min antes, normalmente a gente pede 30 min ✓ INSULINA PRÉ-MISTURADA:
antes), e queremos que ela já esteja agindo enquanto o
pacente está se alimentando. Ela tem seu pico de ação no Existem também as insulinas de ação bifásica, que trazem
organismo em 2-3 horas, podendo se manter ativa no uma combinação da NPH com a regular, ou de um análogo
sangue mais ou menos por 5-8 horas. Então, o efeito da de ação prolongada com um análogo de ação rápida.
insulina regular não acaba quando a refeição acaba, ele
dura mais, então esse efeito delas pode se somar ao efeito A grande vantagem aqui é a aderência, pois requer menos
das insulinas de ação prolongada, trazendo um risco de aplicações. A desvantagem é que elas já possuem uma
hipoglicemia. proporção pré formada, o que não permide adequação
individual para o paciente.

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Essas insulinas são dispositivos em caneta que o paciente • COMO UTILIZAR A INSULINA – SBD:
compra (essa o governo não dá, tem que comprar mesmo)
que já vem com uma proporção de insulina longa e insulina PASSO 01: O paciente que for utilizar a insulina deve ser
de ação curta. orientado a avisar as pessoas com quem ele convive que
ele está usando essa medicação, pois a insulina é
Então, por exemplo, esse fabricante da Humulin traz potencialmente hipoglicemiante e se ele passar mal
NPH/regular = 70/30, ou seja, se eu aplicar 10 unidades de precisará de ajuda. Então os amigos do trabalho, a família
insulina, estarei aplicando 7 de NPH e 3 da regular. Então, e etc precisam estar cientes e alertas.
às vezes, por exemplo, eu posso estar precisando mais da
rápida no que da lenta, ou vice versa e isso atrapalha o PASSO 02: O segundo passo é orientar ao paciente sobre
ajuste fino do tratamento. No entanto é uma alternativa a conservação dessa insulina. Enquanto a insulina está
aos paciente não aderentes ao tratamento. lacrada, quando acabou de pegar na farmacinha, ela deve
ser mantida refrigerada entre 2 e 8 graus, e a validade está
✓ APLICAÇÃO: descrita no rotulo. Já os frascos de insulina já abertos
podem permanecer em ar ambiente (até 30ºC) ou
A insulinoterapia é de aplicação subcutânea (Afrezza – refrigerados (ex.: em locais quentes, que ultrapassam
representante inalatorio). Para essa aplicação, existem 2 facilmente os 30°, recomenda-se logo que fique sempre
dispositivos: refrigerado).

→ Seringas:

Dispositivo mais difundido, com a vanagem de serem


distribuídas pelo SUS. Existem opções com até 30UI, com
até 50UI (ambas graduadas com a dose de 1/1UI) ou com
até 100UI (gradua de 2/2UI), sendo essa última a mais
comumumente distribuídas pelo governo. Na de 30 ou na
de 50 cada tracinho marcado nelas equivale a 1 unidade de
insulina, ao passo que na de 100 cada tracinho equivale a 2
unidades de insulina (logo, quando utilizada essa seringa
só podemos prescrever unidades pares de insulina).

→ Canetas:

Elas são graduadas de 0,5-0,5UI ou 1-1UI a depender da


marca, o que traz mais flexibilidade à prescrição. E ainda
podem ser descartáveis (ao terminar o cartucho,
jogaremos a caneta fora) ou não (ao terminar o cartucho,
apenas trocaremos o refil da caneta). Vantagens:
comodidade, agulhas mais finas, facilidade de transporte e
sem necessidade de aspiração da insulina.

OBS.: Agulhas → as seringas já são agulhadas (8 e 12mm)


e para as canetas são agulhas à parte (4mm). a seringa já
vem agulhada, não precisa de encaixar agulha, ao passo
que na caneta temos que encaixar a agulha (fininha).

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Uma vez aberta, a insulina tem validade de 4 a 8 semanas, • LOCAIS DE APLICAÇÃO:
ou seja, é valida por 1 a 2 meses independente do que
estiver descrito no rótulo pelo fabricante. Devemos aplicar longe de cicatrizes, músculos,
articulações, locais edemaciados ou infectados por razões
PASSO 03: Agora, de fato, são as recomendações do óbvias.
uso/aplicação de insulina:
Aplicar sempre em laterais: na face posterior do braço
("gordurinha do tchau"), afastando-se do cotovelo e da
axila; nas nádegas, no quadrante superior, fugindo do
tecido muscular; nas coxas (frente e lateral); e no abdome
(4 dedos afastados do umbigo).

Importante lembrar que é necessário realizar o rodízio de


aplicação, ou seja, cada aplicação deve ser feita em um
ponto diferente. Podemos mudar o local ou manter o
mesmo local desde que em ponto diferente (pouquinho
pra cima, pouquinho pra baixo, mais pro lado da aplicação
anterior). Esse rodízio é feito para evitar o que chamamos
de lipodistrofia, que é uma cicatriz subcutânea. Para o
paciente essa lipodistrofia pode parecer benéfica, pois
com ela a aplicação vai doer menos, porém a absorção da
insulina será errática, não vai absorver direito.

→ Bomba de Insulina:

Outro dispositivo que também precisa de um bom


entendimento do paciente é o sistema de infusão
contínua de insulina (SICI), que é a famosa bomba de
insulina. A bomba de insulina obrigatoriamente utiliza de
uma insulina ultra rápida na forna de um bolus-basal
programável.

Precisamos ensinar o paciente a contar carboidratos e


realizar a conta do Fator de Correção (Fator de
Sensibilidade).

A contagem de carboidratos funciona da seguinte


maneira: a cada refeição o paciente precisa saber analisar
a quantidade de carboidrato (em gramas) que ele está
prestes a consumir e, a partir disso, ele vai calcular a
quantidade estimada da dose de insulina que precisa ser
aplicada para cobrir aquela refeição.

Então, essa relação carboidrato-insulina é particular de


cada paciente e de cada refeição, por isso, antes de se
iniciar uma bomba de insulina, esse paciente já precisa ter
OBS.: no frasco da insulina NPH existe um pózinho (a passado pelo menos pela insulina em multiplas doses, para
protamina – substância que prolonga o tempo de ação já entender como funciona o tratamento, saber como
dessa insulina rápida), então é necessário homogeneizar funciona a contagem de carboidratos, além de que o
essa mistura, porque a protamina decanta, então deve-se paciente precisa ter uma noção de matemática...
realizar a movimentação do frasco aproximadamente 20
vezes, com movimentos suaves (não chacoalhar). Já o fator de correção é o calculo da quantidade de insulina
que precisa ser aplicada para corrigir a insulina do período
OBS.: Pode aplicar NPH e Regular juntas? Sim, desde que pré-prandial. Como assim? Exemplo: o paciente vai comer
primeiro aspire a regular e depois a NPH, porque se eu uma refeição com 30g de carboidrato; na consulta
puxar a NPH antes eu vou acabar contaminando calculamos que esse paciente precisa de 1 unidade de
(protaminando) a regular que vem logo em seguida, então insulina para cada 15g de carboidrato; logo, para cobrir
puxe sempre a regular primeiro. essa refeição do exemplo precisamos de 2 unidades de

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insulina; ok, beleza! porém, na hora dessa refeição o O cateter é inserido através do dispositivo aplicador, que
paciente está com uma glicemia de 200, o que não é um ao aplicar a agulha já deixa o cateter inserido no
bom valor (o ideal pré-prandial seria abaixo de 100), então subcutâneo. A cânula conecta esse cateter à bomba.
precisamos aplicar uma quantidade de insulina suficiente
para corrigir essa glicemia e também para cobrir a refeição. Em relação à manutenção, o paciente pode tomar banho
com essa estrutura, ele apenas tira a bomba (tem um
Ou seja, o fator de correção é a quantidade de insulina clickzinho que permite o dispositivo se soltar junto com
ultra rápida naquele bolus que será suficiente para cobrir a cateter e ele vai tomar banho só com a cânula). Além disso,
refeição naquele momento e também para corrigir a a cada 3 dias ele precisa trocar tanto a cânula quanto o
glicemia pré-prandial. Isso é calculado junto com o cateter. Então, para utilizar a bomba o paciente precisa ser
paciente de acordo com o perfil de cada um. uma pessoa que tenha esse entendimento também.

Exemplo: um paciente que o fator de correção é 50 mg/dl Lembrar também que existem riscos se a manutenção não
significa que ele precisa de 1 unidade de insulina para for feita com atenção: a cânula pode dobrar dentro do
conseguir diminuir em 50 mg/dl a glicose sérica. Então, se subcutâneo e impedir que a insulina chegue nesse tecido,
esse paciente que está com a glicose em 200 e queremos fazendo hiperglicemia e até CAD se o paciente não
que ele reduza para 100 ele vai precisar de 2 unidades de perceber rápido; outro problema são bolhas dentro do
insulina. dispositivo, que também podem atrapalhar essa infusão;
pode haver desgaste do dispositivo...
Então vamos lá: esse mesmo paciente então precisa de 2
unidades de insulina pelo fator de correção e mais 2
unidades para cobrir aquela refeição de 30g de
METAS TERAPÊUTICAS
carboidrato, ou seja, ele precisa aplicar nesse momento
antes da refeição 4 unidades de insulina. Monitora-se o diabetes através do(a):
→ Glicosímetro (aparelho diário de dextro – mede a
Resumindo: a bomba não sabe sozinha o quanto ela tem glicemia capilar de ponta de dedo)
que injetar a mais pra cobrir a refeição, daí o paciente que → Glicemia sérica (solicitada periodicamente)
utiliza a bomba tem que estar craque na contagem, na → Glicada
correção, porque é ele quem vai aplicar os bolus e vai → CGM (dispositivo com sensor subcutâneo para
programar a bomba dele. Por exemplo: se o paciente for monitorização contínua da glicose):
comer um brigadeiro ele precisa que a bomba dispare uma ✓ Medidas do INTERSTÍCIO a cada 5 min.
quantidade maior de insulina; se for tomar um suco de ✓ Não traz a glicemia sérica, pois mede a glicemia
limão que não tem tanto carboidrato, ele vai precisar de do insterstício, e com isso ele realiza “setas de
uma quantidade diferente de insulina pra não gerar nem tendência” (se a glicemia está tendendo para
hipo nem hiperglicemias. Então, obviamente, não é todo subir ou para descer), e por causa disso existe um
paciente que está elegível e consegue seguir esse lag-time nesses valores.
tratamento. ✓ Ele registra as informações em um HD, então
conseguimos verificar o “tempo no alvo” (TIR –
Além disso, outra coisa que ele precisa entender é que vai Time in Range): é o tanto de tempo, durante o
ter que usar e trocar o cateter da infusão que conecta o período analisado, que o paciente ficou dentro
frasco da insulina na cânula e a própria cânula. de uma variabilidade aceitavel da glicose. Como
assim? Não é interessante que o paciente fique
variando em hipo e hiperglicemias durante o dia,
mas sim que a glicemia se mantenha em
intervalos adequados. Esse valor alvo foi
estabelecido em 70 a 180 mg/dl em mais de 70%
do período avaliado. Então o TIR é o tempo que
o paciente se mantém nesse intervalo ideal. O
CGM é capaz de nos dar essa informação.
✓ Além disso, o CGM mede também quanto tempo
Figura 8: Essa é a bomba. Ela possui vários botões para em hipoglicemia (< 70) esse paciente esteve. O
programar a quantidade de insulina, possui um cateter de ideal é que seja menos que 4% do periodo
infusão e uma cânula.
avaliado. Ainda, é avaliado o tempo de
hipoglicemia severo (< 54), que deve ser menor
que 1%.
✓ Variabilidade glicêmica (<36%)

Figura 9: Aqui vemos a cânula com cateter. Ao lado, o


dispositivo aplicador (semelhante a um carimbo).

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Não existe uma receita de bolo! Cada paciente é de um
jeito, mas podemos prever momentos de hipo/hiper pela
farmacocinética da medicação correlacionando com o dia-
a-dia do paciente.

Sempre questionar o paciente sobre a aplicação:


questionar se ele respeita o passo-a-passo da aplicação e
se respeita o momento correto de aplicação:
→ Regular: 30 minutos antes das refeições.
→ NPH: até 3X/dia (café, almoço e ao dormir).
→ Análogos de insulina ultrarrápidas:
imediatamente antes ou logo após se alimentar*

EFEITO ALVORECER E
EFEITO SOMOGYI:
Acordar com os níveis de glicose elevados pode ser
causado pelo Efeito Alvorecer ou Efeito Somogyi.

EFEITO ALVORECER = hiperglicemia matinal por deficiência


de insulina, agravada pela secreção de hormônios
Figura 12: metas terapêuticas. contrarreguladores (contrainsulínicos) de madrugada. Para
prevenir ou corrigir a hiperglicemia do alvorecer recomenda-
se ajustar o horário da dose da insulina do jantar para a hora
de dormir.

Nas nossas últimas horas de sono temos maior liberação


de cortisol e GH, e esses hormônios são contrainsulínicos,
por isso é muito comum os pacientes amanhecerem em
Figura 11: Estudos videnciaram que com esse nível de glicada (< 7) há
uma menor incidência de doenças MICROvasculares. Evidência 1A. hiperglicemias.

Então, a solução é a gente atrasar (aplicar num horario


mais tarde) a dose noturna de NPH, e assim fazer a ação
dela perdurar até o final do sono. Dessa forma é possível
diminuir o efeito alvorecer, ou seja, fazer com que a ação
antinsulinica dos hormônios seja compensada pela ação da
NPH da noite anterior que ainda vai estar agindo, evitando
assim a hiperglicemia matinal.
Figura 10: Essa mesma análise para doenças MACROvasculares
possui menor nível de evidência (1B).
EFEITO SOMOGYI = hipoglicemia noturna não tratada que
resulta em níveis elevados de glicose no sangue na parte da
OBS.: o TIR também é relevante em relação à retinopatia
manhã. Quando se tem uma crise de hipoglicemia, o
(complicação), pois pacientes com grandes variabilidades
organismo às vezes reage liberando hormônios contra-
glicêmicas tendem a desenvolver mais rapidamente e mais
reguladores, como o glucagon e a epinefrina. Esses
intensamente a retinopatia, por isso não olhamos apenas
hormônios estimulam o fígado a converter suas reservas de
a glicada.
glicogênio em glicose, elevando os níveis de glicose no
sangue. Para não ocorrer o efeito Somogyi é necessário
evitar as crises de hipoglicemia.

Então, além do efeito alvorecer, outro fenômeno que


também ocorre são os pacientes que fazem hipoglicemia
de madrugada. Isso ocorre quando o paciente faz uma
dose de insulina noturna muito cedo, assim ele terá um
pico de ação lá no meio da madrugada, e ele vai estar
dormindo, não haverá refeição para aumentar a glicose,
então com isso haverá uma hipoglicemia durante o sono.

Logo após essa hipoglicemia o organismo lança mão de


métodos para corrigir isso, fazendo liberação de
Figura 13: situações em que são aceitos níveis maiores de HbA1c.
epinefrina, catecolaminas como um todo, cortisol, o

12
próprio GH, o glucagon... e isso faz a glicemia disparar, por MECANISMOS FISIOLÓGICOS DE DEFESA CONTRA A
isso ao acordar o paciente estará em hiperglicemia. HIPOGLICEMIA:

Então, a solução aqui também é atrasar a dose da NPH e 1) Quando a glicemia atinge ~ 75mg/Dl = cai a síntese de
deixa-lá mais proxima ao momento de dormir. A ideia é insulina = aumenta a síntese de glucagon = glucagon
que o pico de ação da insulina seja adiado para o momento é contrainsulínico, então vai aumentar as fontes de
em que o paciente esteja acordando, ou seja, no momento fornecimento de glicose, aumentando a glicemia:
em que for ocorrer a hipoglicemia o paciente já estará → Aumenta glicogenólise (hepática e renal: únicos
acordando e irá fazer uma refeição. locais com aparato enzimático);
→ Aumenta a lipólise (fornecimento de ác. graxos
Outra causa para o efeito Somogyi são doses muito para a beta-oxidação);
elevadas da insulina noturna, que reduzem → Aumenta a proteólise (fornecimento de aa p/
exageradamente a glicemia durante o sono e causam a gliconeogênese);
hipo de madrugada. A solução então seria adequar essa
dose. 2) Com o tempo aumenta a produção de adrenalina
(catecolaminas) =
É interessante falar isso porque às vezes o paciente tá → Aumenta: lipólise e proteólise;
acordando em 300/400 e nosso primeiro instinto é → Diminui a captação periférica da glicose =
aumentar a dose da insulina NPH da noite. Mas na verdade Aumenta: resistência insulínica periférica (isso
essa hiperglicemia é reflexo de uma hipoglicemia, acontece pois a glicose é direcionada para quem
justamente por uma dose inadequada ou momento precisa mais, por exemplo o cérebro).
inadequado de administração da NPH.
3) Por fim, ocorre a liberação de outros
CUIDADOS COM HIPOS contrarreguladores: GH e cortisol.

NO PACIENTE DIABÉTICO:
Por definição, hipoglicemia são glicemias menores que 70
mg/dl, sendo uma complicação extremamente perigosa No paciente com diabetes não ocorre a queda da insulina
para quem faz uso de insulina exógena. para gerar a liberação do glucagon, justamente por que o
paciente já não tem insulina, não tem o que cair, não há
As PRINCIPAIS CAUSAS são:
variação, então não ocorre sinalização para liberação do
✓ Omissões de refeições
glucagon. Isso faz com que a resposta do paciente
✓ Uso inadequado da insulina diabético à hipoglicemia seja menor. Ou seja, ele é um
✓ Supradosagem da insulina paciente mais susceptível à hipoglicemia (pois usa
✓ Exercícios físicos
medicações hipoglicemiantes), mas também possui uma
− Durante o exercício a gente libera epinefrina e resposta ineficiente para correção desse quadro.
catecolaminas, o que pode aumentar a glicemia.
Porém, também durante o exercício a gente Episódios repetidos de hipos = hipoglicemias neuropáticas
aumenta o consumo muscular de glicose e pode (HAAF: falha autonômica associada à hipoglicemia), isso
abaixar a glicemia, sendo algo muito particular “dessensibiliza” o sistema adrenérgico, diminuindo,
de cada paciente. portanto os sintomas e o reconhecimento desses pelo
− Como burlar isso: para o paciente que vai se paciente.
exercitar não ter uma hipoglicemia ele deve fazer
consumo de carboidrato (principalmente CONDUTA PARA HIPOGLICEMIA EM PACIENTES
carboidrato de média ação) e também a DIABÉTICOS:
utilização da insulina em locais em que o grupo
muscular não vai ser exercitado aquele dia, pois Orienta-se a ingestão de 15 a 20g de carboidrato simples,
o aumento do fluxo sanguíneo na região faria a ou seja, carboidrato que vai ser rapidamente absorvido
insulina ser consumida muito mais rapidamente (como: água com açúcar, refrigerante, suco, fruta, balas).
do que deveria (por exemplo: se hoje vou malhar Depois, reavaliar em 15’.
braço evito aplicar insulina no subcutâneo do
braço e vou pra perna ou pra barriga, se for → Se mantiver hipo, repetir 15g de CHO;
correr ou andar de bicicleta, evito aplicar nas
pernas...) → Se melhorar: refeição!

A IDENTIFICAÇÃO de uma hipoglicemia é pela tríade de → Em caso de desmaio: glucagon 1mg IM


Whipple: são os sinais e sintomas clássicos de
hipoglicemia (sudorese, taquicardia, tremores, cefaleia, Então paciente com fator de risco, por exemplo, que já
turvação visual, nauseas, vômitos, rebaixamento do nível teve uma hipoglicemia grave de desmaio, convulsão, a
de consciência, convulsão...) somados à glicemia gente orienta esse paciente a ter uma ampola de glucagon
plasmática reduzida (menor que 70) e à melhora dos intramuscular e quem estiver do lado aplica.
sintomas após a ingesta de glicose.

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Se possível:

→ substituir Regular e NPH por análogos de insulina


(insulinas com menor potencial hipoglicemiante).

→ sistema de monitorização contínua (CGM)

TRATAMENTO – TX
PANCREÁTICO
A título apenas de curiosidade, pois não é comum, existe a
possibilidade de transplante pancreático.

Isso é pra casos bem específicos, bem indicados, e traz sim


o aumento da sobrevida e diminui a ocorrência/progressão
das complicações secundárias ao DM.

Os pacientes que utilizariam desse recurso seriam


pacientes que já são insulinodependentes e que tenham
tambémuma doença renal crônica dialítica onde já seria
realizado o transplante renal concomitantemente.

Indicações precisas pela ADA:

✓ DM 1 ou insulinodependentes + IRC dialítica, com


programação de Tx renal: nesses casos, indica-se Tx
duplo (rim-pâncreas).

✓ DM 1 ou insulinodependentes com história de


complicações metabólicas graves e frequentes:
hipoglicemia refratária, CAD, hiperglicemias
refratárias.

Por que não é feito para todo mundo? Cerca de 46% dos
paciente apresenta rejeição ao Tx em 10 anos. Além disso,
o uso de imunossupressores é necessário para o resto da
vida, por exemplo o tacrolimus, que podem piorar os níveis
glicêmicos, bem como o uso de corticoides, e dessa forma
propiciar o desenvolvimento de diabetes pós-transplante.

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