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DIABETES EPIDEMIOLOGIA:

MELLITUS TIPO 2 −

90% dos casos de diabetes são do tipo DM2
Subdiagnosticada: 179 milhões não sabem de seu
Prof. Tassia - Sofia R. Colombo – 8º período diagnóstico, por ser uma doença silenciosa
(consequentemente não tratam).

RASTREIO E DX CDC: estima 9,3%, ou seja, a cada 100 pessoas em
média 10 delas têm diabetes.
− No Brasil, no final da década de 1980, estimou-se em
7,6% a prevalência de diabetes na população adulta.
Para 2040 estima-se que 23 milhões de brasileiros
terão o diagnóstico.
− O número de mortes em 2019 por decorrência do
diabetes foi de 4,2 milhões.

Figura 1: para fechar o dx são necessários dois exames alterados;


então, é feito um exame e se alterado ele precisa ser repetido e
dar alterado de novo; a excessão são pacientes que já apresentam
sintomas, esses não precisam do segundo exame.

Não saímos pedindo exame para todo mundo, existem


pacientes que são candidatos para rastreio do Diabetes
Tipo II, que são:
Figura 2: linha do tempo da previsão do aumento da incidência do
diabetes até 2045 (11% da população mundial).
✓ Idade maior que 45 anos, mesmo que hígidos.
✓ Pessoas com obesidade ou sobrepeso, independente
da idade, somado à um dos fatores abaixo: RELEMBRANDO CONCEITOS:
− História familiar em parente de primeiro grau
− Etnias de risco: africanos, asiáticos, latinos,
americanos
− História de DCV
− HAS
− HDL < 35
− TGC > 250mg/dL
− SOP
− Sedentarismo
− Presença de acantose nigricans (marcador Figura 3: esquema de célula muscular ou adipócito com seus
cutâneo da resistência insulínica – apenas receptores para insulina plasmática.
marcador clínico, ele isolado não fecha dx)
− Histórico de DMG
− Pacientes pré-DM
− HIV

Num organismo normal, a insulina uma vez liberada irá se


encontrar com seu receptor e vai se ligar nesse receptor,
presente nas células musculares e nos adipócitos. Com
essa ligação, ocorrerá uma fosforilação dos domínios de
tirosina-quinase no receptor de insulina. Uma vez
fosforilado, haverá ativação da PIK3 - que é a via da
Fosfatidilinositol-3-quinase (principal via de ação da
insulina), propiciando a exposição do GLUT-4 (receptor
para glicose) para que a glicose seja internalizada na
célula.

1
exposição de glut4 independente da ligação da
insulina ao receptor, ou seja ele melhora a glicemia
independente do emagrecimento que ele mesmo
também promove).

✓ Medicações: Corticoides e o Tacrolimo (usado em


pacientes pós transplante – pacientes que
apresentam resistência insulpinica com frequência).

Porém, na resistência insulínica até existe a ligação da ✓ Hormônios contrainsulínicos: GH, PRL, Glucagon,
insulina no receptor, mas a parte internalizada que deveria cortisol e epinefrina.
fosforilar resíduos de tirosinaquinase aqui vão fosforlar
serina, exercendo uma dificuldade na ativação da via PIK3, OBS.: Uma outra questão ainda mais relacionada a
dificultando então a exposição do GLUT-4 e, assim, a resistência insulínica é que os ácidos graxos livres e a
glicose apresenta dificuldade de entrar na célula, se citocinas inflamatórias aumentam a resistência e existe um
acumula na circulação e gera os efeitos do diabetes. excesso de glicose no sangue, fomentando o ciclo
explicado anteriormente.

RESISTÊNCIA • CONSEQUÊNCIAS:
INSULÍNICA:
Já sabemos que uma consequencia da resistência
insulíncia é a hiperglicemia, que gera o diabetes, tema
• FATORES PREDISPONENTES: dessa aula. Porém, sabemos que pacientes diabéticos
quase nunca são apenas diabéticos, eles tmbém terão uma
✓ Idade avançada → maior concentrção/proporção de dislipidmeia, uma hipertrigliceridemia, uma hiperuricemia,
adipócitos em relação ao tecido magro. Tecido HAS...
adiposo libera citocinas inflamatórias que propiciam o
desenvolvimento da resistência insulínica. → Redução do HDL e aumento de TGC:
Na resistência insulínica há uma inibição da LPL
✓ Etnia: negros, latinos... (lipoproteína lipase), e normalmente essa lipoproteína
quebra os quilomícrons (QM) e o VLDL, que são moléculas
✓ Genética: polimorfismo genético (vários genes que, extremamente ricas em triglicérides. Então, na resistência
em conjunto, predispõem o DM2). insulíncia há aumento dessas grandes moléculas (QM e
VLDL). Por isso os triglicerídios, normalmente, estão
✓ Ingestão calórica: excesso de ácidos graxos livres que aumentados no paciente com resistência insulínica.
se depositam no fígado, músculos e vasos (não
estamos falando exclusivamente de carboidratos e do O HDL, por sua vez, seria formado a partir de
açucar em si, como pensa o conhecimento pupular, remanescentes de QM, mas como eles não estão sendo
mas sim do excesso de gorduras e acidos graxos livres metabolizados, há diminuição de HDL no organismo.
também). Acidos graxos são fonte de energia, e se
estamos ingerindo muita fonte energética o → Hipertensão:
organismo vai querer “guardar/estocar” e formar A insulina normalmente aumenta a produção do óxido
reserva (primeiro no subcutâneo e depois que lá está nítrico, que é um potente vasodilatador, então na
cheio vai para o fígado, musculos, vasos, pâncreas...). resistência insulínica haverá menos NO, e
É esse aumento da gordura visceral que será maléfico, consequentemente menos vasodilatação, propiciando
pois a gordura libera citocinas inflamatórias que aparecimento de hipertensão.
interferem nos receptores de insulina, propiciando a
resistência insulínica. Ainda, com a resistência insulínica o pancreas produz mais
insulina, tentando corrigir o problema, gerando
✓ Obesidade: especialmente a obesidade visceral. Têm hiperinsulinemia.
um aumento de citocinas inflamátorias (TNF-alfa, INF-
gama, IL-6 e 8), que são responsáveis pela lipólise do Porém, a nivel renal não há resistência insulínica, então nos
tecido adiposo visceral, gerando o aumento dos rins a hiperinsulinemia promove maior retenção de Na+,
ácidos graxos livres, que são depositados no fígado, piorando assim a hipertensão do paciente.
músculo e vasos (a gordura fica se depositando e
saindo, depositando e saindo... indo se depositar em → Hiperuricemia:
locais diferentes, gerando esse ciclo vicioso de A nível renal, a hiperinsulinemia também gera aumento de
acúmulo). reabsorção de ácido úrico.

✓ Sedentarismo: menor beta-oxidação de ácidos graxos


livres (promovida pelo exercício físico) e menor
exposição de GLUT-4 (o exercício físico aumenta

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→ Aumento do risco cardiovascular: → Hipotálamo: Existem receptores GLP-1 no hipotálamo,
O aumento do risco cardiovascular pela resistência que exercem efeito sobre a fome e vontade de comer.
insulínica se dá pela aterogenicidade do LDL (além do Na resistência insulínica há um efeito alterado sobre a
triglicerides aumentado e da diminuição do hdl). Entre interpretação da fome e ainda há diminuição da
outros fatores: saciedade (as refeições parecem não saciar o
paciente).
− dislipidemia aterogênica (aumento de TGC e LDL
pequenas e densas e redução HDL). → Mitocondrias: menor capacidade oxidativa, menor
capacidade de gerar ATP, mais radicais livres liberados
− HAS + vasconstricção na circulação.

− Aumento das citocinas = estado pró-inflamatório, pró- → Íleo distal: reduz a liberação de incretinas (GLP-1 e
coagulante. GIP). Normalmnete, quando um alimento passa no
jejuno e ileo, existe a liberação, pelos enterócitos,
− Diminuição de adiponectina (substância produzida dessas substâncias GLP-1 e GIP. Elas auxiliam na
pelos adipócitos que estimula a oxidação energética liberação de insulina (como se a pessoa fizesse um
das mitocôndrias, ou seja, auxilia na betaoxidação dos “bolus de Insulina Regular”).
acidos graxos para que sejam convertidos em energia
nas mitocôndrias) – está diminuída pois os adipócios • OCTETO DE DeFRONZO:
desse paciente estão doentes.

→ Aumento do Glucagon:
Fisiológicamente, existe um “delta” entre a diminuição da
insulina e a produção do glucagon. As células beta e as
celulas alfa são, portanto, interdependentes, pois as
celulas alfas percebem a necessidade de produzir
glucagon mediante a queda da insulina.

Como não existe o contraponto da insulina (ela nunca vai


dimnuir), o glucagon acaba parando de responder ao
estímulo do delta da insulina, e começa a ser produzido de
forma excessiva, aumentando ainda mais a glicemia de
jejum, devido a gliconeogênese hepática promovida pelo
excesso do glucagon.

• RESISTÊNCIA INSULÍNICA À
NÍVEL DE: O professor DeFronzo publicou esse “octeto” que reúne
fatores pelos quais a hiperglicemia existe no paciente com
diabetes. São 8 pontos que tanto são reflexos como
→ Tecido muscular: é precoce, gera redução da
fomentam a resistência insulínica (ciclo vicioso).
capacidade de captação e metabolização da glicose. O
músculo além de ficar cheio de acido graxo, também
Na hiperglicemia existe uma diminuição no efeito
não consegue metabolizar a pouca glicose que chega.
increnítico a nível do trato intestinal.
→ Tecido adiposo: menor capacidade de captação de
Há também um aumento de lipólise pela desinibição da
glicose e aumento da lipólise.
lipase hormônio sensível.
Além da dificuldade de metabolizar a glicose para gerar
Há aumento da reabsorção de glicose a nível renal
energia, ainda produz mais ácido graxo livre.
(glicoses acima de 180 mg/dL cursam com glicosúria), para
o rim, perder glicose é perder energia então ele começa a
Na RI há liberação da ação de Lipase Hormônio Sensível
reabsorver a glicose ao invés de "jogar fora".
(LPH), que quebra a gordura estocada dentro dos
adipócitos e gera os acidos graxos livres.
Nos músculos, há diminuição da captação de glicose pela
menor exposição do GLUT-4.
A insulina inibe a LPH, então, como há menor atividade da
resposta insulínica, a LPH está trabalhando a todo
Há disfunção do neurotransmissor em decorrência da
momento, gerando muito AGL.
resposta hipotalâmica que promove maior fome e menor
saciedade, associado ao GIP e GLP-1.
Lembrando que o paciente possui dificuldade de beta-
oxidar os ácidos graxos livres, então eles circularão e
No fígado, aumenta a produção hepática de glicose por
passarão no fígado, músculos e vasos, aumentando as
conta do glucagon.
citocinas inflamatórias e RI (ciclo vicioso).

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Há diminuição da secreção de insulina pelo próprio
pâncreas. Ué? Como assim? Bom, embora na resistência
Por que o número 7,0 da HbA1c?
insulínica o paciente tende a liberar uma quantidade maior
de insulina para tentar vencer a resistência, mesmo assim Existem estudos icônicos que mostraram que pacientes
a liberação está diminuída em relação à própria com tratamento intensivo (metas glicêmicas mais rígidas),
necessidade do paciente, ou seja, essa produção embora mais doses de insulina no caso do tipo DM1 ou mais
aumentada (aumentada em relação à uma organismo utilização de outros tipos de droga no tipo DM2, no final
normal) é ainda insuficiente para manter uma glicemia do estudo, os resultados parciais evidenciaram menor
normal nesse paciente. Então, “relativamente” esse correlação de aparecimento de complicações
paciente tem menor liberação de insulina pelo pâncreas. microvasculares quando os pacientes atingiam uma
Com isso, chega um momento que as celulas beta glicada em torno de 7,0.
alcançam a exaustão e falham, e aí essa diminuição de
secreção de insulina é absoluta. A glicada em torno de 7,0 é segura para menor chance de
doenças microvasculares (nefropatia, retinopatia e
Por isso que algumas vezes medir a RI puramente pela neuropatia diabética). Por isso toda vez em consulta
dosagem de insulina pode não ser um método totalmente ambulatorial o paciente diabético tem que ser
fidedigno. Existem algumas fórmulas, como HOMA, questionado se já realizou exame de fundo de olho,
HOMA IR para calcular essa RI. Além disso, se o paciente pesquisar microalbuminúria, se sente dor na perna que
possui adiposidade visceral, diminuição de HDL, aumento piora à noite...
de triglicérides, acantose nigrans, não há necessidade de
pedir dosagem insulínica pra ele, porque já se sabe que ele Nesses estudos não se conseguiu provar de forma
possui resistência, tornando o exame desnecessário. consistente as complicações macrovasculares, embora
Clinicamente é nítido. possivelmente isso aconteça, porque o aparecimento de
uma complicação macrovascular, como infarto e AVC, é
muito mais demorado do que o aparecimento de uma
Uma observação importante... retinopatia, por exemplo.
pré-DM O tratamento intensivo, com múltiplas doses de insulina
ou múltiplas drogas, exerceram uma maior ocorrência de
Os pacientes não abrem o quadro diretamente com hipoglicemia, o que torna-se uma preocupação em alguns
diabetes melitus, eles passam primeiro pelo período pré- casos. Ou seja, temos que ir pelo risco x benefício em cada
diabético, mesmo que de forma silenciosa. paciente, e ver para cada um se seria pior uma retinopatia,
por exemplo, ou uma hipoglicemia que pode ser fatal.
→ 25% dos pacientes progridem para DM2,
→ 50% permanecem como estão Casos mais flexíveis em relação a HbA1c de 7,0:
→ 25% revertem para normalidade, em um período
observacional de 3 a 5 anos ✓ Risco de hipoglicemia por medicações: idosos, IRC,
crianças, hist. de hipos graves e frequentes.
Maiores riscos de progressão para DM:
✓ Idosos ✓ Expectativa de vida curta: doença terminal, câncer
✓ Sobrepeso/obesidade terminal. Não há necessidade de diminuir a qualidade
✓ Risco parece ser levemente maior em pacientes com de vida dessa pessoa, sendo que tolerar níveis acima
intolerância à glicose (ITG) do que com glicemia de de 7,0 nos exames poderia melhorar a qualidade de
jejum alterada (GJA) vida e não trazer prejuízos intensos quanto uma
✓ GJ entre 110-125mg e HbA1c entre 6,0-6,4% cetoacidose diabética e estado hipoglicêmico.
✓ Hist. Familiar
✓ Síndrome metabólica ✓ Comorbidades importantes (IAM, AVC, IC).
✓ Doença cardiovascular Hipoglicemia casa aumento de FC, o que pode ser
✓ História de DMG muito maléfico para esses pacientes.
✓ Drogas antipsicóticas (quetiapina, risperidona...)
✓ Doenças cardiovasculares estabelecidas.

✓ Falta de suporte (recursos escassos, localidades


afastadas dos sistemas de saúde...).

Conclui-se que a HbA1c muito restrita em alguns casos,


como descritos acima, pode ser mais prejudicial que as
proprias consequencias do diabetes, portanto podemos
tolerar uma HB Glicada em torno de 8,0 nesses casos.

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TRATAMENTOS As 3 principais orientações:

✓ Qualidade da dieta (reduzir ultraprocessados


• TERAPIA COMPORTAMENTAL: principalmente).

O tratamento comportamental especifica a cerca de ✓ Atividade física: 30 minutos 5x/semana ou 50 minutos


exercicios fisicos e da alimentação. 3x/semana, totalizando 150 minutos semanais.

Na diretriz, sobre exercicios fisicos é recomendado que, ✓ Restrição energética (dieta hipocalórica).
idealmente, o paciente deve realizar exercicios fisicos de
resistência e aeróbicos, especificando tempo e repetições Comprovadamente, a medida principal que vai trazer a
por dia e por semana. (classe I, nível B de recomendação) perda de peso é o déficit calórico (gastar mais do que
consome). Uma das principais desvantagens disso é a
questão da motivação pessoal.

Um estudo muito conhecido é o DPP - Diabetes Prevent Figura 4: esse quadro mostra os principais pontos para uma dieta de qualidade,
Program (Programa de Prevenção do Diabetes): nesse atividades físicas e restrição calórica; está destacado que em todos os tres itens é
estudo, recrutaram pacientes pré-diabéticos e orientaram citada a necessidade da motivação pessoal; o médico deve sempre insistir e
medidas comportamentais e com medicações, e viram os motivar os pacientes.
impactos de vida que trouxeram. Houve uma redução
Existe um conceito chamado memória metabólica. Num
significativa de quase 60% no risco de desenvolver DM2 em
estudo é dito que é muito mais eficaz e traduz um
três anos naqueles pacientes que perdiam 5-10% do peso
prognostico muito melhor aquele paciente que, desde o
inicial. Inclusive, é essa meta inicial do paciente: perder 5-
diagnóstico, sempre tratou e manteve melhor a glicada do
10% do peso incial, se for 15% melhor ainda, associado a
que comparado a um paciente que nunca tratou direito a
atividade física 150 minutos/semana. Esse valor do risco de
DM e de uma hora pra outra resolver tratar. Aquelas
desenvolvimento de DM2 posteriormente cai para 34% em
glicemias no decorrer da doença que ele deixou de tratar
10 anos e 27% em 15 anos. A Metformina não atinge esses
já causou danos significativos na microvasculatura e
valores de prevenção, sendo um trabalho de
também até mesmo sobre o coração.
convencimento de mudar esse estilo de vida do paciente.
Isso se chama memória metabólica: quanto mais eu trato,
Em relação à alimentação, chega-se orientar dietas
e quanto melhor e mais precoce é esse tratamento,
possíveis: dieta do mediterrâneo, DASH, Low Carb (ainda
melhor é o prognóstico ao longo dos anos.
com dados poucos conscistentes, porque na verdade o
que importa é a perda de peso). O importante é uma dieta
Se hoje eu pego dois pacientes com uma HbA1c de 7,0 e
hipocalórica e cuidado ao ingerir carboidratos, não
um deles possui histórico de tratamento adequado desde
necessariamente voltado para uma dieta específica.
o inicio e o outro era bem irregular e começa a se cuidar
mais tardiamente, o segundo possui mais chance em ter
→ “parece que” uma maior ingesta de sementes, chás, agravos por consequências do DM.
cafés e iogurtes reduzem o risco de DM
→ “parece que” uma maior ingesta de carne vermelha e
bebidas açucaradas aumenta o risco de DM
→ Comprovadamente ingerir menos Kcal (dica: utilizar
pratos menores) + controle de CHO (1/4 do prato).

E claro: cessar tabagismo e tratar outras comorbidades!

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• TRATAMENTO MEDICAMENTOSO:
CURIOSIDADE/OBS.: Existe uma medicação que diminui a
progressão de pré-DM p/ DM, e que nada tem a ver com o
arsenal de drogas para DM, essa droga é o Orlistate. Ela é
voltada para tratar obesidade, e age inibindo uma enzima
Dentro do Octeto de DeFronzo ela atua em dois quesitos:
chamada lipase. A lipase quebra gordura para facilitar a
melhorar a captação de glicose pelo fígado e diminuir a
absorção a nível intestinal. Uma vez que ela inibe em 30%
liberação hepática de glicose.
essa absorção enzimática, há liberação de gordura através
das fezes. Alguns pacientes podem apresentar
Outros mecanismo de ação cuja comprovação, mas não é
esteatorreia. Além desse efeito, está associado à menor
tão consistente:
evolução para o diabetes em pacientes obesos pré-
diabeticos, independente da perda de peso também
✓ Melhora de glicose a nível intestinal.
provocada pela medicação.
✓ Atuação sobre a microbiota intestinal.
✓ Efeito de proteção CV independente do efeito
Em 2008, o tratamento de DM era: MEV e Metformina
glicêmico.
como primeiro passo. Segundo passo, adicionar:
Sulfonilureia (Glicazida) OU insulina basal. Poderia ainda
utilizar: Pioglitazona, Agonista de GLP1 ou Insulina. Porém,
em 2018, o tratamento tornou-se mais complexo,
aumentando o arsenal terapêutico, trabalhando melhor
no Octeto de DeFronzo.

Hoje, basicamente inicia-se o tratamento com


Metformina e vai adicionando medicações para esse
paciente, à medida que for necessário e de acordo com as
características do paciente, por isso o tratamento
atualmente é bem individualizado.

OBS.: Foi publicado em 2008 um artigo sobre a


Rosiglitazona, medicação que era usada para paciente
diabético. Viu-se que, embora ela promovesse o controle
glicêmico, em contrapartida ela aumentava o risco
cardiovascular. Desde então, o FDA americano exigiu
estudos de segurança cardiovascular para todas as
medicações, para que além de melhorar a glicose, elas
possuam efeito neutro em relação ao coração. Lembrando Figura 5: fluxograma mostrando que a metformina entra em todas as condutas
de diferentes quadros de HbA1c.Realmente a metformina é a principal opção
que a prevalência de doença cardiovascular pode chegar a
terapêutica.
32% no paciente diabético, doenças coronarianas 160% e
doença cardíaca isquêmica 127%. Morte por doença CV: DOSAGEM: 1000-2550 mg/dia em doses fracionadas, em
aumentam o risco em 132%. Anos de vida perdido: média de até 3 doses.
6 anos para homens e 7 anos para mulheres.
PRÉ-DM: Ainda, a MTF usada em média por três anos
✓ Biguanida (Metformina): reduziu a progressão para DM2 em 35% dos pré-diabéticos
em estudos. Para cada 7 a 14 pacientes tratados por três
A famosa medicação BBB: boa, barata e bem tolerada. É anos, foi evitado 1 novo caso de DM2 (NNT = 7-14). No
muito utilizada e por muitos anos, desde 1957. Ela é estudo do DPP, houve redução de 31% de progressão de
fornecida pelo SUS. DM2 em uma população específica de pré-diabéticos:
idade menor que 60 anos, IMC: obesos grau 2, mulheres
MECANISMO DE AÇÃO: a metformina atua diretamente na com histórico de DMG, sindromes metabólicas, HAS ou
resistência insulínica. A ação dela é de captar a glicose no ainda GJ >110. Porém, precismos lembrar que mesmo que
músculo e suprimir a gliconeogênese (em até 40%) no ela diminua essa progressão, a MEV possui um impacto
fígado, sendo esse mecanismo hepático o mais ainda muito maior.
importante.

NO MÚSCULO → aumento da captação da glicose pelas


células.
NO FÍGADO → supressão da gliconeogênese em 25-40% e
da glicogenólise.

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VANTAGENS: medicação gratuita; muito disponível; larga do condicionamento cardíaco perante uma isquêmia
experiência de uso; raramente causa hipoglicemia; (diante um infarto o coração do usuário de
redução importante de HbA1c (1,5-2,0%); neutra em relação glibenclamida sofreria muito mais, o que é muito
ao peso (não é para perda de peso); potencial benefício preocupante, uma vez que pacientes diabéticos tem
cardiovascular - redução da PA e do LDL e aumento do altas chances de complicações como essa). Como o
HDL. governo também oferta as medicações de 3ª geração,
sugere-se trocar essa medicação.
DESVANTAGENS: efeitos no TGI - náuseas, vômitos,
diarreia (as Metforminas de uso prolongado (Glifage XR) → 3ª GERAÇÃO: maior segurança em relação à
tendem a melhorar os sintomas do trato gastrointestinal). hipoglicemia (professora destacou a glicazida).
Pode causar deficiência de B12 – a diretriz coloca que esse − Gliclazida 40-120 mg de 1-4x/dia. Ela é mais segura
risco existe quando há 4+ anos de uso da metformina. em relação as outras. É comercializada mas
Pode mimetizar uma neuropatia diabética. Pode causar algumas vezes é encontrada no serviço publico.
acidose lática – apesar de ser um efeito raro, pode se − Glimepirida 1-4 mg. Exerce um efeito mais
agravar em pacientes que já estejam passando por hipoglicemico em relação a Glicazida.
condições que predispõem a ocorrencia da acidose, então
suspende a medicação em pacientes renais cronicos com
clerance < 30, antes de exames contrastados, pacientes
internados...

Obs.: a metformina atinge 80% da sua capacidade de


redução da glicemia quando usada em dose de
1500mg/dia. Então, acima dessa dosagem não se vê tanta Essa classe atua no Octeto de DeFronze no problema da
diferença no beneficio glicemico, pois ja passou do 80%, e secreção insulínica sobre o pâncreas, então ela aumenta a
ainda, em doses tão elevadas os efeitos adversos citados secreção insulínica relacionada ao fechamento dos canais
são mais intensos, logo, o mais adequado é parar nas de K ATP-dependentes.
1500mg/dia (mesmo que a efetividade exista de 1000 até
20550 mg/dia, como foi falado). VANTAGENS: barata e disponível; redução considerável da
HbAc1 (em torno de 2%); exerce uma segurança
PROIBIDA PARA: IRC com ClCr < 30ml/min / Insuf Hepática cardiovascular (falando das de 3ª geração).
/ Pacientes em acidose ou que serão submetidos à
contraste. DESVANTAGENS: aumento de peso - porque liberam mais
insulina, causando efeito anabólico; hipoglicemias; podem
reduzir o pré condicionamento isquêmico do miocárdio
✓ Sulfonilureias: (glibenclamida).

Também fornecida pelo SUS. PROIBIDA EM: IRC com CICr < 30.

MECANISMO DE AÇÃO: Exerce um efeito na célula


Betapancreáticas, nos receptores chamados SUR-1 dos
✓ Glinidas (Nate e Repaglinida)
canais de K ATP-dependentes. A medicação fecha os
canais promovendo liberação de insulina. Usadas com pouca frequência.

Vamos relembrar: quando a célula beta recebe a glicose MECANISMO DE AÇÃO: semelhante ao das Sulfonilureias
pelo GLUT2 ela produz ATP intracelular, que vai fechar (promove a liberação de insulina, atuando nas células
esses canais de K ATP-dependentes, despolarizando a Beta), porém o tempo de ação aqui é mais curto (meia vida
celula, então o calcio vai entrar e ocorre a degranulação curta, ou seja, o efeito passa muito rápido) – por isso, são
das insulinas pré formadas. A sulfanilreia também fecha medicações voltadas para o período pós prandial (tem
esses canais de K, ou seja, ela vai promover liberação de mais benefício se usada logo depois da refeição).
mais insulina.

MEDICAMENTO SECRETAGOGO → promove liberação de


insulina pelas células betapancreáticas.

EXISTEM TRÊS GERAÇÕES DESSA MEDICAÇÃO:

→ 1ª GERAÇÃO: Clorpropramida. Não é mais utilizada VANTAGENS: Redução da HbA1c (0,5-1,0%) com melhora
pois exerce um efeito intenso de hipoglicemia. expressiva da glicose no período pós prandial.

→ 2ª GERAÇÃO: Glibenclamida 2,5-5,0 mg de 1-3x/dia. DESVANTAGENS: Hipoglicemia; ganho de peso.


Também exerce um potencial efeito hipoglicêmico e
existe dúvidas em relação ao efeito cardiovascular CUIDADO COM: IRC com Clearance < 30.
dela, principalmente sobre uma potencial diminuição

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✓ Inibidor da Alfa-Glucosidase VANTAGENS: redução da HbA1c (0,5-1,5%); prevenção da
falência de células beta; não causa hipoglicemias; efeitos
(Arcabose) adicionais de melhora do LDL, TGC, aumenta o HDL e
melhora a PA; prevenção do pré-DM para
MECANISMO DE AÇÃO: Atua no lúmen intestinal, exerce DM/MORTE/IAM/AVC; uso na NASH (esteato hepatite não
efeito sobre inibição da alfaglicosidade, quebrando alcoólica).
carboidratos complexos e os transforma em carboidratos
simples, de forma a retardar/lentificar a absorção da DESVANTAGENS: ganho ponderal; muito cuidado para
glicose, diminuindo o pico glicêmico pós prandial. pacientes IC (classe 3 e 4) porque pode piorar a retenção
hídrica e na IRC; não foi comprovado a relação com CA de
VANTAGENS: redução da HbA1c (0,5-1%); neutra quanto ao bexiga.
peso; não causa hipoglicemia (o carboidrato é absorvido,
apenas ocorre lentamente); diminuição da evolução de CUIDADO COM: hepatopatas graves, osteoporose (houve
pré-DM em DM em 25% dos casos. aumento da frequência), IC e IRC (usar apenas em
compensados).
DESVANTAGENS: MUITOS efeitos gastrointestinais
(flatulência, diarreias, dor abdominal) – devido a esse
✓ Inibidores de DPP-4 (Gliptinas)
efeito praticamente não se usa essa medicação.
MECANISMO DE AÇÃO: inibem a DPP-4, que é uma enzima
✓ Tiazolidinedionas (Glitazonas) que cliva (diminui a meia-vida) o GLP-1 e outras incretinas.
Uma vez que inibe essa enzima, prolonga a ação do GLP-1.
MECANISMO DE AÇÃO: age no tecido muscular
promovendo ativação do PPAR-gama, que é um fator de INCRETINAS (ex.: gliptinas - GLP-1, GIP): São substâncias
transição que aumenta a sensibilidade à insulina. Não se produzidas pelo intestino (durante a passagem de
sabe exatamente como ocorre, só que essas estruturas nutrientes – glicose e lipídeos) que aumentam o potencial
estão mais envolvidas. de liberação de insulina pelo pâncreas e diminuem a
secreção de glucagon. ONDE SÃO PRODUZIDAS: GLP1 =
Ela possui uma ação mais periférica, ao passo que a especialmente no íleo (cl. L); GIP = especialmente no
Metformina, que também sensibiliza a insulina, tem uma duodeno e jejuno (cl. K).
ação mais forte hepática.
Ela atua em três partes: melhora o efeito incretínico;
As Glitazonas também aumentam a lipogênese do tecido melhora a secreção de insulina e possui efeito inibitório
subcutâneo, de forma a fazer o subcutâneo captar os AG sobre a secreção do glucagon.
Livres liberado pelos tecidos viscerais – então a gordura sai
das visceras e vai parar, por exemplo, no culote, no braço...
(promove ganho de peso perceptível – é vantajosa mas
tem esse contraponto que dificulta adesão).

É vantajosa do ponto de vista metabolico pois o tecido


gorduroso subcutâneo é mais sensível à insulina e é um
captador desses acidos graxos viscerais que são liberados
a todo momento.

Além disso, as Glitazonas ainda estimulam a apoptose


desses ácidos graxos viscerais, que são os mais deletérios
em relação a fomentar/perpetuar a RI.
FÁRMACOS DISPONÍVEIS: Sita / Vilda / Saxa / Alo /
NO MÚSCULO → aumentam sensibilidade insulínica. Linagliptina.

NO TECIDO ADIPOSO → fazem com que o tecido VANTAGENS: reduzem a HbA1c em 0,7- 1%; efeito neutro de
subcutâneo colete os ácidos graxos liberados pelo tecido peso (EMBORA esteja falando de GLP-1, que possui
adiposo visceral + apoptose de acidos graxos viscerais. atividade hipotalâmica gerando saciedade e menos fome);
não causa hipoglicemia!!!; possibilidade de uso em IRC em
qualquer grau, inclusive dialíticos (a Lina não necessita de
ajuste de dose); segurança (efeito neutro) cardiovascular
(exceto a SaXa, que aumentou hospitalização por IC).

DESVANTAGENS: custo relativamente elevado; pode ter


sintomas de IVAS; cefaleias; pancreatite (rarissímo).
FÁRMACO DISPONÍVEL: Pioglitazona 15 mg - 45 mg, 1x/dia
em qualquer horário.

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✓ Análogos de GLP-1 ✓ Inibidores de SGLT-2
MECANISMO DE AÇÃO: Ela age nos mesmos locais dos MECANISMO DE AÇÃO: inibem o receptor SGLT-2, que é
inibidores de DPP-4 e também exerce efeito sobre a um co-transportador de sódio e glicose no túbulo
disfunção dos neurotransmissores. contorcido proximal. Ou seja, ela evita a recaptação de
glicose (gera uma glicosúria mais acentuada).
ATUAM COMO GLP-1/INCRETINA → são moléculas
muuiiiiito semelhantes ao GLP-1 endógeno, mantendo a NOS RINS (TCP) → inibe a recaptação de glicose.
ação biológica do GLP-1 com a vantage de ter ½ vida mais
longa.

AÇÃO NO SNC → aumento da SACIEDADE (especial// Lira e


Sema) → isso barra o ciclo vicioso na parte da alta ingesta
alimentar.

AÇÃO GÁSTRICA → retardo do ESVAZIAMENTO. FÁRMACOS DISPONÍVEIS: Empa / Cana/ Dapaglifozina

VANTAGENS: reduzem a HbA1c em 1%; perda de peso


discreta; não causa hipoglicemia!!!; melhora do perfil
lipídico e da PA; segurança e proteção CV (especialmente
internação/ descompensação por IC)!!!; menor
aparecimento e progressão de nefropatia.

DESVANTAGENS: custo elevado; efeito diurético (cuidado


com desidratação); aumento ITU e candidíase (glicosúria);
piora transitória/inicial da função renal por constricção da
aferente - portanto, muito cuidado com TFG limítrofe!!!

PROIBIDO EM: IRC com CICr <30.

Resumindo...
Não são todas que realizam esse efeito central na perda de
peso, comprovadamente são: Semaglutida e Liraglutida. A DM2 COM DOENÇA
Dulaglutida(Trulicity®) não exerce efeito central, é uma
molécula muito grande que não atravessa a barreira ATEROSCLERÓTICA
hematoencefálica; o mecanismo de ação dela é
relacionado a diminuição do esvaziamento gástrico, mas
muitos pacientes acabam tendo intolerância (náusas e
vômitos).

FÁRMACOS DISPONÍVEIS: Lira/Dula/Semaglutida. Existem


tb: Exenatide (agonista GLP-1) e a Lixisenatide.

POSOLOGIA:
Liraglutida: 1x/dia.
Semaglutida e Dulaglutida: 1x/semana.

VANTAGENS: reduzem a HbA1c em 1%; efeito de perda de


peso significativo; não causa hipoglicemia!!!; melhora do
perfil lipídico e da PA; segurança CV; proteção (Lira, Sema
e Dulaglutida) e diminuição da nefropatia (diminuem
albuminúria); diminuição de progressão de pré-DM para
DM em pacientes obesos.

DESVANTAGENS: custo elevado; medicações subcutâneas


Em pacientes diabéticos tipo 2 com doença aterosclerótica
(injetáveis); não exercem efeito deleterio sobre a
vamos pensar sempre em associar metfomina com os
ansiedade.
análogos de GLP-1 e com os inibidores de SGLT-2, pois são
essas medicações (principalmente as 2 ultimas) que
CAUTELA EM: pacientes com pancreatite prévia.
evidenciaram proteção cardiovascular.

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