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Tratamento

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Diabéticos, Hipoglicêmicos de Origem Não Diabética

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Jefferson Comin

Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Diabéticos, Hipoglicêmicos
de Origem Não Diabética

Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:

Fonte: Getty Images


• Introdução;
• Pré-Diabetes;
• Diabetes do Tipo 1;
• Diabetes Mellitus do Tipo 2;
• Diabetes Gestacional;
• Outros Tipos de Diabetes;
• Diagnóstico de Diabetes;
• Tratamento Nutricional para Pacientes Diabéticos;
• Prevenção do Diabetes Mellitus Tipo 2;
• Balanço Energético;
• Macronutrientes;
• Fibras;
• Álcool.

Objetivos
• Conhecer os tipos de diabetes existentes e citados pelas diretrizes da Sociedade Brasileira
de Diabetes, compreendendo que a doença não se limita ao diabetes de tipos 1 e 2;
• Discutir as abordagens nutricionais para a prevenção e o tratamento do diabetes do tipo
2 e a resistência à insulina.

Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para
o último momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no
material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades
solicitadas.

Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo,
você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos
ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”.

No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como


sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua in-
terpretação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em


fóruns de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do con-
teúdo, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta
como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE
Diabéticos, Hipoglicêmicos de Origem Não Diabética

Contextualização
Não é novidade que as populações com sobrepeso e obesidade vêm crescendo
no Brasil e ao redor do mundo; associado a esse problema há o desenvolvimento de
doenças e comorbidades associadas como, por exemplo, resistência à insulina e dia-
betes mellitus do tipo 2. Logo, é comum profissionais da área da saúde se depararem
com pacientes sob essas condições.

Dessa forma, podemos facilmente imaginar situações e lugares em que os nossos


serviços possam ser requeridos, tais como nos ambientes hospitalar e ambulatorial,
entre outros.

Bom estudo!

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Introdução
A origem da palavra diabetes vem do grego e significa “passar através de um
sifão”, termo que passou a ser utilizado apenas no século II depois de Cristo, sendo
empregado justamente pelo paciente apresentar poliúria, ou seja, grande volume
de urina. Embora seja a mais popular, é um erro pensar que só existe a Diabetes
Mellitus (DM), pois, o termo diabetes é empregado a uma ampla gama de doenças
em que os pacientes apresentam esse excesso de urina como uma de suas manifes-
tações. Acredita-se que a diabetes seja uma doença antiga, dado que há relatos desde
1500 antes de Cristo de pessoas que, sob diferentes condições, urinavam excessiva-
mente, conforme descrito no papiro de Ebers.

Já o termo mellitus vem do latim e significa “doce como o mel”; médicos india-
nos notaram o acúmulo de formigas e moscas na urina de pessoas com diabetes,
e logo começaram as especulações sobre a possibilidade de haver açúcar naquele
conteúdo. A confirmação da presença do açúcar veio apenas no século XVII, onde
Willis decidiu experimentar a urina de uma pessoa diabética e então a descreveu
“doce como o mel”; já Dobson, outro pesquisador, decidiu ferver a urina de um
diabético e reparou a formação de um resíduo açucarado no fundo do recipiente
que usou para fazer o experimento.

Outro fato importante para os estudos relacionados aos mecanismos de controle


da glicemia e doenças associadas ocorreu em 1869, quando Paul Langerhans, um
estudante de Medicina, descreveu um grupo específico de células que conferia ao
pâncreas não apenas uma função exócrina, o que na época já se sabia, mas também
uma função endócrina, ou seja, alguns produtos do órgão não eram secretados ao
intestino, mas sim para dentro da corrente sanguínea.

Embora a diabetes mellitus, ou diabetes melito, seja o tipo mais comum, devemos
considerar que a classificação de um indivíduo em determinado tipo de diabetes
comumente depende das circunstâncias presentes no momento do diagnóstico, e
muitos indivíduos podem não se encaixar
Tabela 1 – Tipos de diabetes
em apenas uma categoria; logo, é funda-
mental tratar a doença compreendendo Pré-diabetes
os seus sintomas e a sua patologia do que DM tipo 1
apenas rotular o tipo de doença que a Tipo 1a
pessoa apresenta. Tipo 1b
DM Tipo 2
Outro ponto importante é a atuação
DM Gestacional
no tratamento, sendo extremamente rele-
Outros tipos de DM
vante começá-lo de maneira precoce, por
Monogênicos (Mody)
meio de modificações no estilo de vida,
Secundário a endocrinopatias
ou até mesmo na administração de subs-
tâncias farmacológicas. Secundário a doenças do pâncreas exócrino
Secundário a infecções
Ao longo desta Unidade discorrere- Secundário a medicamentos
mos sobre esses tipos de diabetes. Fonte: Adaptada da Sociedade Brasileira de Diabetes, 2019

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UNIDADE
Diabéticos, Hipoglicêmicos de Origem Não Diabética

Pré-Diabetes
Há indivíduos em estágio de homeostase da glicose prejudicada, havendo Glice-
mia de Jejum Alterada (GJA) – glicemia de jejum entre 100 e 125 mg/dL – e o teste
de Tolerância à Glicose Diminuída (TGD) – 2 horas após o deságio de 140 a 199
mg/dL –; casos assim comumente são diagnosticados como pré-diabetes, indicando
risco relativamente alto para o desenvolvimento de diabetes e doença cardiovascular.

As pessoas com risco têm GJA, TGD, ambas, ou hemoglobina A1C de 5,7 a
6,4%, devendo ser aconselhadas acerca de estratégias como diminuição de peso e
atividade física para diminuírem os riscos. Embora todos os indicadores apresentem
resultados indesejáveis, para esses casos os resultados não são suficientes para diag-
nosticar diabetes (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2019)

Já tomou conhecimento sobre resistência à insulina? É interessante pensar que o controle


da glicemia não depende apenas da presença ou não da insulina, mas sim da efetividade do
hormônio. Dessa forma, há pessoas que desenvolvem resistência à insulina.
Imagine uma condição em que pegamos dois grupos populacionais, ambos com suspeita
de diabetes, e para os dois grupos fornecemos insulina e glicose. Como resultado, um dos
grupos não apresenta alterações na glicemia, dado que lhe foi administrado tanto a glicose
quanto o hormônio insulina, responsável por atuar como facilitador à entrada da glicose
nas células; já o outro grupo, que foi submetido às mesmas condições, apresentou hipergli-
cemia, ou seja, a insulina que foi administrada não surtiu efeito.
A explicação é relativamente simples para o resultado observado no segundo grupo, tendo
este desenvolvido resistência à insulina, ou seja, o hormônio não conseguiu exercer as suas
funções como deveria.

Diabetes do Tipo 1
Sabemos que a DM do tipo 1 é uma doença que envolve vários genes (poligênica),
decorrente da destruição das células beta pancreáticas, logo, há deficiência completa
na produção de insulina. Esse tipo de diabetes corresponde de 5 a 10% de todos os
casos de DM, sendo mais frequentemente diagnosticado em crianças, adolescentes
e até mesmo em adultos jovens, afetando tanto homens quanto mulheres. Podemos
dividir em DM de tipos 1a e 1b (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2019).

DM do Tipo 1a
Trata-se da forma mais frequente de DM1 e é confirmada pela positividade de an-
ticorpos, contudo, além da predisposição genética, pode sofrer a influência de fato-
res ambientais capazes de desencadear a resposta autoimune (SOCIEDADE BRASI-
LEIRA DE DIABETES, 2019). Mas quais seriam essas exposições ambientais? Entre
os principais tipos há infecções virais, componentes dietéticos e certas composições
de microbiota intestinal.

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Na fase clinicamente manifesta do DM1, o início é abrupto, podendo haver ceto-
acidose diabética (presente em um terço dos casos). Embora a maioria dos pacientes
com DM1 tenha a massa corporal normal, a presença de sobrepeso e obesidade não
exclui o diagnóstico da doença.

DM1 é mais frequente em crianças e adolescentes, mas pode ser diagnosticado


também em adultos, que podem desenvolver uma forma mais lentamente progressi-
va da doença, chamada de Latent Autoimnnue Diabetes in Adults (Lada) (SOCIE-
DADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2019).

DM do Tipo 1b
DM1b é um tipo de doença idiopática, ou seja, não é possível a detecção de
autoanticorpos na circulação, o que já é suficiente para gerar certa “confusão” no
diagnóstico da doença. O tratamento para esse tipo de doença é o mesmo da DM1a,
ou seja, há necessidade de insulinoterapia plena (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
DIABETES, 2019).

Diabetes Mellitus do Tipo 2


DM2 é responsável por cerca de 90 até 95% dos casos de diabetes diagnostica-
dos, sendo uma doença progressiva que comumente está presente antes de ser diag-
nosticada. Em outras palavras, pessoas convivem com essa doença e acabam tendo
o diagnóstico de forma tardia (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2019).

A hiperglicemia característica da doença é desenvolvida gradualmente e quase sem-


pre não é grave o suficiente nos estágios iniciais para o paciente perceber qualquer um
dos sintomas de diabetes. Vale frisar que o fato de não ser diagnosticado não exclui a
exposição que essas pessoas têm de desenvolver problemas macro e microvasculares.

Sabemos ainda que os fatores de risco para DM2 podem ser genéticos e ambien-
tais, incluindo história familiar de diabetes, idade avançada, sobrepeso e obesidade,
sedentarismo, histórico anterior de diabetes gestacional, pré-diabetes e até mesmo
a etnia.

O desenvolvimento do tecido adiposo como observado durante a obesidade e o


sobrepeso é um fator de risco para DM2, dado que mesmo pequenas reduções de
massa corporal já colaboram para normalizar a glicemia de pessoas pré-diabéticas.
É claro que devemos considerar que essa doença também pode ser encontrada em
pessoas que não apresentam excesso de massa corporal (SOCIEDADE BRASILEIRA
DE DIABETES, 2019; PORTH; KUNERT, 2015).

Tratando-se da fisiopatologia, DM2 caracteriza-se pela combinação de resistência


à insulina e por falha da célula beta. Os níveis endógenos de insulina podem estar
normais, reduzidos ou aumentados, mas inadequados para superar a resistência – a
insulina não consegue atuar. Nesse sentido, veja o seguinte esquema:

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UNIDADE
Diabéticos, Hipoglicêmicos de Origem Não Diabética

Diabetes Melito Tipo 2

Etiologia
Fatores de risco
• Obesidade
• Idade avançada
• Etnia Fatores ambientais
Fatores genéticos • Pré-diabetes
• Diabetes gestacionais

DM 2, Ingestão excessiva de
resistência calorias e sedentarismo
à insulina
Fisiopatologia

Sintomas variáveis
• Hiperglicemia Achados clínicos
• Fadiga Padrões anormais de secreção
• Sede excessiva à insulina
• Micção frequente Captação de glicose diminuída
Produção elevada de glicose pelo fígado
Obeidade central
Hipertensão
Dislipidemia
Tratamento

Tratamento Médico Terapia Nutricional (TN)


• Terapia nutricional • Estratégias do estilo de vida
• Atividade física (alimento/alimentação e
• Medicamentos atividades físicas) que
• Medicamentos hipoglicemiantes melhoram a glicemia, a
• Insulina dislipidemia e a pressão sanguínea;
• Monitoramento • Orientação nutricional
• Automonitoramento da glicemia (contagem de carboidratos e
• Teste de A1C modificação da gordura)
• Lipídios e aconselhamento;
• Pressão Arterial • Restrição energética;
• Massa corporal • Monitoramento da glicemia
• Orientação para o automonitoramento para determinar os ajustes
na alimentação ou dos medicamentos;
• Intervenção nutricional cardioprotetora.

Figura 1 – Fisiologia e algoritmo de tratamento

Veja um resumo dos critérios para o rastreamento da doença segundo a American


Diabetes Association (2019).

Segundo a American Diabetes Association (2019), pessoas com idade menor a


45 anos: sugere-se o rastreamento de DM2 em indivíduos com sobrepeso, obesidade
e que apresentem mais de um fator de risco para DM entre os seguintes:
• Pré-diabetes;
• História familiar de DM (parente de primeiro grau);
• Etnia de alto risco para DM (negros, hispânicos ou índios Pima);
• Mulheres com diagnóstico prévio de DMG;
• História de doença cardiovascular;
• Hipertensão arterial;

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• HDL-c < 35 mg/dL e/ou triglicérides > 250 mg/dL;
• Síndrome de ovários policísticos;
• Sedentarismo;
• Acantose nirgricans.

Diabetes Gestacional
Durante a gestação, como é de se esperar, a mulher passa por diferentes mudanças
em seu corpo. Não obstante, a gestação pode ser considerada uma condição
diabetogênica, ou seja, que pode influenciar no desenvolvimento da doença. Tudo
isso ocorre em função dos hormônios liberados pela placenta, de modo que devemos
levar em consideração que essas substâncias são hiperglicemiantes; adicionalmente,
há liberação de enzimas placentárias que são capazes de degradar a insulina, com
consequente aumento compensatório na produção de insulina e resistência à insulina,
podendo evoluir para uma disfunção das células beta.

Sabemos ainda que DMG consiste em uma intolerância a carboidratos de


gravidade variável, que se inicia durante a gestação atual. Traz riscos tanto para a mãe
quanto para o feto e neonato, sendo que comumente essa condição é diagnosticada
no segundo ou terceiro trimestre de gestação (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
DIABETES, 2019).

Mas quais são os fatores de risco para DMG?


• Idade materna avançada;
• Sobrepeso, obesidade ou ganho excessivo de massa corporal na gravidez atual;
• Deposição central excessiva de gordura corporal;
• História familiar de diabetes em parentes de primeiro grau;
• Crescimento fetal excessivo, hipertensão ou pré-eclâmpsia na gravidez atual;
• Antecedentes obstétricos de abortamento de repetição, malformações, morte
fetal ou neonatal, macrossomia ou DMG;
• Síndrome de ovários poliscísticos;
• Baixa estatura (inferior a 1,5 m).

Outros Tipos de Diabetes


Existe vasta gama de outros tipos de diabetes, que são complicações mais raras
do que as discorridas até o momento. A apresentação clínica é variada e o que deter-
minará o tipo de diabetes é o fator que desencadeou a doença – tal como podemos
ver a seguir no Qaudro 1.

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Diabéticos, Hipoglicêmicos de Origem Não Diabética

Quadro 1
• Maturity Onset Diabetes of the Young (Mody);
Defeitos genéticos na • Diabetes neonatal transitória ou permanente;
função das células beta • Diabetes mitocondrial;
• Outras.

• Resistência à insulina do tipo A;


Defeitos genéticos • Leprechaunismo;
na ação da insulina • Diabetes lipoatrófico;
• Outras.

• Pancreatite;
Doenças do pâncreas • Neoplasia;
exócrino • Fibrose cística;
• Outras.

• Acromegalia;
• Síndrome de Cushing;
Endocrinopatias • Aldosteronoma;
• Outras.

• Determinadas toxinas;
Diabetes induzido • Pentamidina;
por medicamentos ou • Ácido nicotínico;
agentes químicos • Tiazídicos;
• Outras.

• Rubéola congênita;
Infecções • Citomegalovírus;
• Outras.

Formas incomuns de • Anticorpos antirreceptores de insulina;


DM autoimune • Outras.

Outras síndromes • Síndrome de Down;


genéticas • Síndrome de Turner;
• Síndrome de Wolfram;
por vezes associadas • Distrofia miotônica;
ao DM • Outras.

Fonte: Adaptada da Sociedade Brasileira de Diabetes, 2019

Diagnóstico de Diabetes
Neste ponto da nossa Unidade veremos quais são os fatores que devem ser consi-
derados para a triagem do paciente; conferiremos também quais variáveis são leva-
das em consideração para o diagnóstico de diabetes.

É importante lembrar que o fechamento diagnóstico da doença é de competência médica.

Veja os critérios de triagem:


• Índice de Massa Corporal (IMC): > 25 kg/m2;
• Sedentarismo;

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• Parente de primeiro grau com diabetes;
• Membros de população de alto risco: afro-americano, latino, americano
nativo, asiático-americano e nativo das ilhas do Pacífico;
• Mulheres que deram à luz um bebê com peso maior que 4,08 kg, ou que tiveram
diagnóstico de DMG;
• Hipertenso: com pressão arterial de 140/90 mmHg ou mais, tomando medi-
camento para hipertensão;
• Nível do colesterol lipoproteína de alta densidade (HDL), ou de 35 mg/dL (0,9
mmol/L), ou ainda nível de triglicerídeos de mais de 250 mg/dL (2,82 mmol/L);
• Mulheres com síndrome do ovário policístico;
• A1C de 5,7%, ou mais TGD, ou mesmo GJA no teste anterior;
• Obesidade grave;
• Acantose nigricans;
• Histórico de doença cardiovascular.

Você já reparou que algumas pessoas apresentam determinada pigmentação acinzentada


em regiões como na porção posterior do pescoço? Trata-se da Acantose nigricans.

Acantose. Disponível em: https://bit.ly/2Zkkw3M

O diagnóstico de diabetes é feito a partir das variáveis vistas no seguinte Quadro:

Quadro 2 – Critérios para diagnóstico


• Glicemia jejum alterada entre 100 e 125 mg/dL (5,7-7 mmol/dL)
(glicose de jejum prejudicada).
Ou:
Pré-diabetes • Glicose plasmática de 2 horas entre 140 e 199 mg/dL (7,8-11
mmol/L) (tolerância à glicose prejudicada).
Ou:
• A1C entre 5,7 e 6,4%.

• A1C > 6,5%.


Ou:
• Glicemia de jejum alterada > 126 mg/dL (> 7 mmol/L).
Ou:
• Glicemia plasmática de 2 horas > 200 mg/dL (> 11,1 mmol/L)
Diabetes durante teste oral de tolerância a glicose.
Ou:
• Em pacientes com sintomas clássicos de hiperglicemia ou crise
hiperglicêmica, glicose plasmática aleatória > 200 mg/dL (>
11,1 mmol/L).

• Glicemia de jejum < 100 mg/dL (< 5,6 mmol/L).


Normal • Glicose plasmática de 2 horas > 140 mg/dL (< 7,8 mmol/L).

Fonte: Adaptada da American Diabetes Association, 2011

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Diabéticos, Hipoglicêmicos de Origem Não Diabética

Tratamento Nutricional
para Pacientes Diabéticos
Para o tratamento nutricional de pacientes diabéticos devemos considerar a im-
portância da equipe multiprofissional, composta por médicos, enfermeiros, nutricio-
nistas, fisioterapeutas, professores de Educação Física e a sua importância para o
tratamento sob essas condições.
No âmbito do exercício da profissão de nutricionista, devemos considerar a com-
posição do plano alimentar com as seguintes características:
Tabela 2
Nutriente Ingestão recomendada diária
De 45 a 60% do valor energético total (pode-se considerar usar padrões
Carboidratos (CHO) alimentares com menor teor de carboidratos para DM2 de forma indivi-
dualizada e acompanhada por profissional especializado.
Proteína De 15 a 20% do valor energético total.
Gordura total De 20 a 35% do valor energético total.
Fibra alimentar Mínimo de 14 g/1.000 Kcal, 20 g/1.000 Kcal para DM2.
Micronutrientes Seguir as recomendações da população sem diabetes.
Sacarose Máximo de 5 a 10% do valor energético total.
Frutose Não se recomenda adição aos alimentos.
Fonte: Adaptada da Sociedade Brasileira de Diabetes, 2019

O tratamento da doença não objetiva a cura da doença, uma vez que esta não existe,
mas sim proporcionar melhora na qualidade do paciente. Para isso é fundamental
trabalharmos o envolvimento do paciente e dos familiares como parte ativa de todo
o processo, de modo a desenvolver o autoconhecimento e auxiliando na tomada
de decisão. Logo, a Educação Nutricional é importante ferramenta a ser utilizada
nesses pacientes, de modo que devemos embasar o paciente para que consiga atuar
na autogestão de DM por meio de um processo de facilitação de conhecimentos,
habilidades e capacidades necessárias ao autocuidado da doença.
Com relação ao indivíduo, os objetivos globais da Educação em DM são apoiar
a tomada de decisão, orientar o autogerenciamento e a resolução de problemas,
bem como promover a colaboração ativa entre paciente e equipe de saúde, a fim de
melhorar os resultados clínicos, o estado de saúde e a qualidade de vida de maneira
eficaz em termos de custos.
Entre as estratégias de Educação Nutricional, podemos considerar atividades em
grupos operativos, oficinas e palestras. A alimentação está diretamente relacionada
a questões psicossociais e culturais; é necessário, portanto, inserir considerações
pertinentes ao processo educativo, tais como:
• Participação efetiva do paciente e familiares no autogerenciamento contínuo
da doença;
• Reavaliação em quatro momentos críticos: diagnóstico, anualmente, no sur-
gimento de complicações ou algum tipo de mudança no tratamento;

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• Principais objetivos: avaliação dos resultados clínicos, condição geral de saúde
e qualidade de vida;
• Centralização no paciente, mas podendo utilizar-se de ferramentas de grupos e/
ou tecnologias;
• Promoção de melhores resultados e redução de custos do tratamento.

Prevenção do Diabetes Mellitus Tipo 2


Tal como discutido extensivamente ao longo desta Unidade e publicado em dife-
rentes matérias de jornais e revistas pela mídia não especializada, há meios de preve-
nir DM2: segundo o Diabetes Prevention Program (DPP), os principais objetivos da
intervenção intensiva, comportamental e de estilo de vida correspondem à redução
de, no mínimo, 7% da massa corporal e 150 minutos de exercício físico por semana
– semelhante a uma caminhada de intensidade rápida.

É interessante saber que cada quilograma perdido é associado à redução de 16%


do risco de DM2; dessa forma, estabeleceu-se a meta de redução de peso de 7%,
considerando um valor factível. Como estratégia, pode-se atingir essa meta em seis
meses, com redução estimada de 0,5 até 1 kg por semana.

Entretanto, é importante mencionar que não há estratégia alimentar universal


para prevenir o diabetes ou retardar o seu início, uma vez que a individualidade
bioquímica deve ser considerada – logo, a estratégia e o planejamento nutricional
também o devem ser.

Assim como considerado para a maior parte da população mundial como ali-
mentação saudável para a manutenção da vida, devemos ter a mesma conduta para
prevenir a DM2 – veja quais são as recomendações:
• Consumo de frutas, verduras, legumes e leguminosas;
• Menor ingestão de carne vermelha com alto teor de gordura;
• Consumir cereais integrais;
• Produtos lácteos com baixo teor de gordura;
• Consumo moderado de álcool.

Balanço Energético
A avaliação nutricional em pessoas com DM é fundamental para identificar e
tratar possíveis desvios de massa corporal, sendo necessária a avaliação de variáveis
de fácil obtenção, tais como índices específicos para crianças (peso/idade e estatura/
idade), índice de massa corporal para todas as idades; no caso de adultos podemos
aferir ainda a circunferência da cintura para estimar o risco cardiovascular.

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Embora seja uma medida extremamente fácil de aferir, a circunferência da cintura


gera muitas dúvidas em sua obtenção. Segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), devemos considerar o ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca.

O estado nutricional é o resultado do equilíbrio entre o consumo de nutrientes e


o gasto energético do organismo para suprir as necessidades nutricionais. Como vi-
mos, a redução de 7% da massa corporal total pode ser adotada como objetivo para
reduzir as chances de desenvolver DM2.

Ressaltemos a importância da equipe multiprofissional no tratamento de pacien-


tes com diabetes, afinal, a mudança no estilo de vida do paciente está diretamente
relacionada ao aumento na qualidade de vida.

Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (2019), as estratégias precisam


proporcionar déficit energético de 500 a 750 Kcal/dia, ou fornecer consumo energético
de 1.200 até 1.500 Kcal/dia para mulheres e de 1.500 a 1.800 Kcal/dia para homens,
ajustados à massa corporal inicial do indivíduo. Embora haja tais recomendações,
devemos considerar ter parcimônia e prudência quanto à generalização desses conceitos.
Em outras palavras, não se esqueça de considerar a individualidade de cada pessoa e o
planejamento nutricional específico para cada caso.

Macronutrientes
Carboidratos
É comum vermos ou escutarmos afirmativas que “demonizam” o uso de car-
boidratos, atribuindo reputação comumente incondizente à veracidade dos achados
científicos. A OMS não recomenda o consumo inferior a 130 g/dia para adultos,
pois, sabemos que esse macronutriente é essencial para sustentar os requerimentos
energéticos do encéfalo e outros processos metabólicos (KRAUSE et al., 2010).

Figura 2
Fonte: Getty Images

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É óbvio que o carboidrato é o nutriente que mais exerce influência na variabilidade
glicêmica pós-prandial; isso ocorre porque os carboidratos, quando consumidos na
forma de açúcares ou amido, apresentam respostas diferentes daqueles consumidos
prioritariamente com fibras, compostos bioativos, vitaminas, minerais e baixo teor
de gorduras.

O planejamento individualizado deve considerar as características do consumo


desse nutriente e identificar os aspectos de consumo, adequando-se às metas glicê-
micas almejadas.

Embora exista “demonização” desse nutriente, há evidências científicas (metanálises)


de que dietas com baixíssimo teor de carboidrato (entre 4 e 45 g por dia) não
demonstraram efeitos consistentes na redução de HbA1c. Outro ponto que traz dúvida
sobre as abordagens low carb, mais especificamente para esse público, é a baixa
adesão a esse tipo de estratégia nutricional.

Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (2019), ao que concerne o Índice


Glicêmico (IG) e a Carga Glicêmica (CG), as recomendações são um tanto quanto
incipientes, ou seja, há controvérsias em determinados aspectos; contudo, existem
indicativos de reduções de HbA1c de 0,2 a 0,5% após a adesão de dietas com baixo
IG. Nesse sentido, há recomendações de dietas com baixo IG como estratégia primá-
ria para o melhor controle de diabetes.

É importante considerar a complexidade dos dados disponíveis, sendo difícil discer-


nir o efeito independente da fibra em comparação com o IG sobre o controle glicêmico.

Proteínas
A recomendação de proteínas para a maior parte da população é de 1 até 1,5 g/Kg
de massa corporal/dia, representando de 15 a 20% do consumo energético total. Tra-
tando-se de pacientes diabéticos e com função renal preservada, não há recomendações
específicas que sustentem a modificação do orientado para a maior parte da população
(KRAUSE et al., 2010).

Figura 3
Fonte: Getty Images

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Diabéticos, Hipoglicêmicos de Origem Não Diabética

Contudo, há estratégias que, de maneira transitória, aumentam esse consumo de


proteínas; dessa forma, a sugestão seria fornecer de 1,5 até 2 g/kg de massa corpo-
ral/dia, ou de 20 até 30% da ingestão total de energia, durante apenas um processo
de redução de massa corporal em pacientes com sobrepeso e obesidade com DM2
e função renal preservada (KRAUSE et al., 2010).

Paciente com doença renal (albuminúria e/ou taxa de filtração glomerular reduzida esti-
mada), a proteína dietética deve ser mantida na dose diária recomendada de 0,8 g/kg de
massa corporal/dia. Contudo, após o início da terapia renal substitutiva, as recomendações
nutricionais devem ser reajustadas, pela perda de nutrientes durante o procedimento, prin-
cipalmente proteica.

A quantidade e qualidade de proteínas devem ser motivos de preocupação por


parte do nutricionista, principalmente pela necessidade de suprir a demanda de ami-
noácidos essenciais.

Lipídios
Quanto ao consumo de gorduras, é recomendada a inclusão de fontes de ácidos
graxos monoinsaturados (Mufa) e poli-insaturados (Poli) e o controle no consumo de
ácidos graxos saturados, priorizando o consumo de carnes magras, leite desnatado,
frutas oleaginosas – tais como nozes e castanhas –, além do consumo mínimo de
carnes processadas (KRAUSE et al., 2010).

Figura 4
Fonte: Getty Images

Como vimos, a recomendação energética oriunda de lipídios é de 20 a 35% das


calorias totais. Para isso devemos considerar as condições clínicas, o perfil lipídico e
a presença de fatores de risco cardiometabólico.

Muitas afirmações são feitas sobre o consumo de ômega-3, mas a suplementação


desse nutriente não tem demonstrado eficiência na redução de HbA1C, glicemia e
insulina de jejum.

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Micronutrientes
Segundo as diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2019), não há evidên-
cias científicas o suficiente que sustentem a suplementação de micronutrientes para
esse grupo populacional, sendo que o consumo de uma dieta equilibrada já é o sufi-
ciente para fornecer as quantidades adequadas de micronutrientes.
Quanto à perda de micronutrientes, é fundamental que a equipe multiprofissional
submeta o paciente a uma anamnese clínica minuciosa, a fim de obter informações
relativas a possíveis perturbações que possam influenciar o metabolismo e a biodis-
ponibilidade desses nutrientes, tais como capacidade de absorção intestinal, perdas
excessivas pela urina, baixa ingestão dietética, interação entre fármaco e nutriente.
Ao que concerne à interação entre fármaco e nutriente, podemos considerar que
o uso prolongado de alguns medicamentos como a metformina pode causar a defici-
ência de ácido fólico e vitamina B1. Uma das prováveis causas da neuropatia diabé-
tica é a deficiência de vitamina B12, evidente também em indivíduos com diabetes e
relacionada ao mau controle glicêmico e a complicações microvasculares. Os efeitos
positivos da vitamina D seriam a sensibilidade à insulina e sua secreção, bem como
influenciar a diminuição do estado inflamatório do paciente.
Tratando-se das deficiências relativas a minerais, encontramos preocupação acerca
do zinco e magnésio.
Para atingir as necessidades diárias de vitaminas e minerais, os pacientes devem con-
sumir, no mínimo, de duas a quatro porções de frutas, sendo que pelo menos uma deve
ser rica fonte de vitamina C (frutas cítricas), e de três a cinco porções de hortaliças cruas e
cozidas. Outro fator importante a ser considerado é o consumo de nozes, castanhas e se-
mentes comestíveis, pois também são fontes de micronutrientes (KRAUSE et al., 2010).

Fibras
O consumo adequado de fibras deve ser adotado tanto em pacientes diabéticos
quanto em não diabéticos. Sabemos que as fibras solúveis apresentam efeitos bené-
ficos na glicemia e no metabolismo dos lipídios, enquanto as insolúveis agem contri-
buindo na saciedade e no controle de massa corporal.
Conseguimos encontrar fibras em vegetais, principalmente folhas, talos, sementes
e bagaços. As principais fontes alimentares de fibras costumam ser frutas, verduras,
legumes, farelo de aveia e de cevada, semente de linhaça, além de leguminosas
como feijão, ervilha, grão-de-bico e lentilha. Para atingir as recomendações mínimas
é relativamente fácil, bastando consumir três ou mais porções de cereais integrais.
Segundo a OMS, a recomendação de fibras não deve ser inferior de 25 a 29 g por
dia, com benefícios adicionais para o consumo acima de 30 g.
É possível encontrarmos discrepâncias quanto à proporção de fibras solúveis e insolú-
veis, por exemplo, a Canadian Diabetes Association recomenda entre 10 e 20 g de fi-
bras solúveis por dia, ao passo que a Sociedade Brasileira de Cardiologia indica 6 g para
o controle lipídico. Logo, a recomendação que devemos levar como soberana é respeitar

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UNIDADE
Diabéticos, Hipoglicêmicos de Origem Não Diabética

a individualidade e tolerância de cada paciente para que, então, seja feita uma prescrição
adequada. Já a Sociedade Brasileira de Diabetes (2019) preconiza a recomendação diá-
ria de 20 g de fibra dietética a cada 1.000 Kcal ingeridas para homens e mulheres com
DM2 e, no mínimo, 14 g/1.000 Kcal para pessoas com DM1 sem síndrome metabólica.

Álcool
Sobre o consumo de álcool, devemos considerar para pacientes com diabetes a
mesma prudência e cautela que os profissionais de saúde adotam na condução das
populações de maneira geral.
O álcool afeta a alimentação e glicemia, prejudicando o controle do DM2. Sabe-
mos que o álcool deve ser considerado um nutriente, capaz de fornecer 7 Kcal/g,
mas o consumo dessa substância não interferirá apenas no acúmulo energético total
do paciente, como também na ação da insulina (KRAUSE et al., 2010).
Para adultos com diabetes, a ingestão diária de álcool deve ser limitada a uma
dose ou menos para mulheres e a duas doses ou menos para homens.
Mas o que é uma dose de álcool?
• 150 mL de vinho (uma taça);
• 360 mL de cerveja (uma lata);
• 45 mL de destilados (uma dose com dosador-padrão);
• Medida equivalente a 15 g, em média, de etanol.
Nesses casos, deve ser ingerido com carboidrato durante o consumo da bebida ou
antes, sendo necessário, por vezes, ajuste da dose de insulina.
Sabe-se que o consumo excessivo de álcool não só em quantidade, mas também
em frequência pode levar à dependência e ao vício, além de expor as pessoas a
situações de risco – tais como acidentes de trânsito etc. Ademais, o consumo desse
nutriente tem forte apelo social.
Dessa forma, podemos concluir que o profissional de saúde deve discutir o
consumo de álcool com os seus pacientes, a fim de os informar sobre o possível
ganho de massa corporal e até mesmo dos riscos de hipoglicemia.

Figura 5
Fonte: Getty Images

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Sociedade Brasileira de Diabetes
https://bit.ly/32sKQL6
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
https://bit.ly/32sU5eb

Vídeos
Eu, Nutricionista
Veja e reveja temas relacionados à nutrição no canal do YouTube Eu, Nutricionista.
https://bit.ly/3hsEtf3

Leitura
Consenso da Sociedade Brasileira de Diabetes Sobre o Diagnóstico
e Classificação do Diabetes Melito e Tratamento do Diabetes Tipo 2
Leia sobre o consenso da Sociedade Brasileira de Diabetes acerca do diagnóstico e
da classificação de diabetes melito e o tratamento de diabetes do tipo 2.
https://bit.ly/2Rs2ubG

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UNIDADE
Diabéticos, Hipoglicêmicos de Origem Não Diabética

Referências
AMERICAN Diabetes Association. Standards of medical care in diabetes. Diabetes
Care, v. 42, suppl. 1, p. S1-S193, 2019.

________. Diagnosis and classification of diabetes mellitus (position statement).


Diabetes Care, v. 34, p. S63, 2011.

MAHAN, K.; ESCOTT-STUMP, S. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 12. ed.


São Paulo: Saunders; Elsevier, 2010.

PORTH, C. M.; KUNERT, M. P. Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2015.

SOCIEDADE Brasileira de Diabetes. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes:


2019-2020. São Paulo: AC Farmacêutica; 2019.

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