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SUMÁRIO

1. Para que servem os hipoglicemiantes............... 3


2. Hipoglicemiantes injetáveis.................................... 5
3. Hipoglicemiantes orais...........................................31
Referências Bibliograficas..........................................51
HIPOGLICEMIANTES 3

1. PARA QUE SERVEM OS de armazenamento, além de produ-


HIPOGLICEMIANTES zir peptídeo C e amilina, sendo que
esse último modula as secreções de
O pâncreas é uma glândula que pode
insulina e glucagon, além do apetite e
ser dividida em pâncreas exócrino, por
esvaziamento gástrico, enquanto que
produzir enzimas digestivas, e pân-
o peptídeo C facilita processos diges-
creas endócrino, por produzir hormô-
tivos; as células Delta produzem a
nios. O pâncreas endócrino consiste
somatostatina, inibidor universal das
nas ilhotas de langerhans espalhadas
células secretoras; as células épsi-
por toda a glândula, que possui 5 tipos
lon produzem a grelina, responsável
celulares responsáveis pela produção
pela liberação do hormônio do cresci-
de seus respectivos hormônios (figura
mento na hipófise. As ilhotas de lan-
1). As células Alfa produzem Gluca-
gerhans correspondem a um miniór-
gon, hormônio hiperglicemiante que
gão, e representa apenas 1-2% de
mobiliza reservas de glicogênio; as
toda massa pancreática, sendo 75%
células B produzem a insulina, hor-
dessa massa, representada pelas cé-
mônio hipoglicemiante, anabólico e
lulas Beta.

Figura 1. Anatomia de uma ilhota de Langherans. Fonte: Guyton, 2011.


HIPOGLICEMIANTES 4

O diabetes mellitus (DM) é definido Diabetes tipo 2


pelo aumento dos níveis sanguíne-
O diabetes tipo 2 se caracteriza pela
os de glicose, associada a uma pro-
resistência dos tecidos à ação da
dução diminuída ou ausente de in-
insulina, associado à redução de
sulina pelo pâncreas endócrino. Os
sua produção (Figura 2). Possui
dois principais tipos de DM são: DM
etiologia complexa e multifatorial,
tipo 1 e DM 2. Vamos entender as di-
envolvendo fatores genéticos e am-
ferenças entre eles.
bientais. Corresponde a 90-95% dos
casos de DM, acometendo com maior
Diabetes tipo 1 frequência pessoas > 40 anos. Os
pacientes costumam ser assintomáti-
O diabetes tipo 1 é resultado da cos por muito tempo, e muitas vezes
destruição das células Beta, levan- o diagnóstico é feito através de exa-
do a deficiência absoluta da insuli- mes laboratoriais ou manifestações
na (Figura 1). Quando essa destrui- das complicações crônicas. Existem
ção tem componente autoimune, fatores de risco já consagrados para
chamamos de DM tipo IA, sendo o DM2, são eles: história familiar da
tipo mais comum, quando essa des- doença, avançar da idade, obe-
truição é idiopática, chamamos de sidade, sedentarismo, diagnosti-
DM tipo IB. Estima-se que no Brasil co prévio de pré-diabetes ou DM
existem mais de 88 mil brasileiros te- gestacional (DMG) e presença de
nham DM1, ocupando o terceiro lugar componentes da síndrome meta-
em prevalência de DM1 no mundo, bólica, tais como hipertensão arterial
segundo a International Diabetes e dislipidemia. Embora a insulina seja
Federation. Apesar disso, a DM1 cor- produzida pelas células beta nesses
responde a 5-10 % de todos os casos pacientes, o hormônio é inadequado
de DM. O diagnóstico de DM costu- para superar a resistência, e ocorre
ma ser em crianças e adolescentes, elevação do nível de glicemia, sendo
podendo atingir adultos, geralmente necessário o uso de hipoglicemiantes,
<30 anos. No DM1, o indivíduo torna- e em alguns casos faz-se necessário o
-se dependente do uso de insulina, uso na insulina por falência das célu-
pois este é um hormônio essencial à las beta pancreáticas. Indivíduos com
vida, e esta não está mais sendo pro- DM 2 sem tratamento ou controle
duzida pelo pâncreas. O não uso ou inadequado da glicemia, pode ocorrer
interrupção da insulina por esses pa- quadros de desidratação pode levar
cientes, pode levar a quadros graves a uma condição potencialmente fa-
como cetoacidose diabética. tal, denominada coma hiperosmolar
não cetótico.
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Figura 2. Liberação de insulina que ocorre em resposta a uma carga de glicose por via IV em indivíduos normais e em
pacientes diabéticos tipo 1 e tipo 2. Na linha azul vemos como seria o gráfico de um indivíduo normal frente a uma carga
de glicose, levando a um pico de insulina. No DM1 (linha preta), devido a destruição das células beta pancreáticas, não há
liberação de insulina em nenhum momento. No DM2, o pâncreas mantém alguma função das células, mas a secreção de
insulina é variável e insuficiente para manter a homeostasia da glicose. Fonte: Clark, Farmacologia ilustrada, 2013

SAIBA MAIS!
O diabetes é uma doença tão antiga quanto a própria humanidade. O termo foi criado pelo
médico romano Areteus, e significa “passar através de”, pelo fato de a poliúria, sintoma típico
da doença, assemelhar-se à drenagem de água através de um sifão.

2. HIPOGLICEMIANTES medicamentos, com mecanismos de


INJETÁVEIS ação diferentes, que podem ser ofe-
recidos de forma oral, como na maio-
Os hipoglicemiantes ou antidiabé-
ria dos casos, ou em soluções injetá-
ticos, são drogas usadas para tra-
veis. Vamos falar de cada um deles,
tar pacientes com diabetes melli-
começando pelos hipoglicemiantes
tus, com o objetivo de controlar a
injetáveis que abrangem as insulinas
glicemia para níveis de glicose em
e miméticos da incretina.
jejum < 100 mg/dL e pós-prandial <
140 mg/dL. Existem várias classes de
HIPOGLICEMIANTES 6

SAIBA MAIS!
A primeira injeção de insulina com finalidade terapêutica foi aplicada em 1922. A descoberta
da insulina foi um marco histórico na história do diabetes, e proporcionou o prêmio Nobel à
Frederick Banting, após extensos experimentos na universidade de Toronto.

Insulinas assim como uma parcela da proinsu-


lina não processada ou parcialmen-
Química
te hidrolisada, podendo esse último
A insulina é uma pequena proteína apresentar uma ação hipoglicemiante
que possui uma cadeia A, composta discreta, diferente do peptídeo C que
de 21 aminoácidos e cadeia B que não desempenha nenhuma função fi-
possui 30 aminoácidos, sendo essas siológica conhecida. Os grânulos no
cadeias ligadas por ponte dissulfeto interior das células beta armazenam
(figura 3). A proinsulina é uma lon- a insulina nas formas de cristais que
ga molécula proteica de cadeia sim- consistem em dois átomos de zinco e
ples, é processada e armazenada em seis moléculas de insulina. O pâncre-
grânulos no interior do aparelho de as humano possui em média 8 mg de
Golgi da célula beta, lá é hidrolisada insulina, que equivale a 200 unidades
em insulina e em um segmento de biológicas. A unidade hoje é defini-
conexão residual denominado peptí- da com base no peso, e os padrões
deo C, por meio de remoção de qua- atuais de insulina utilizados para fins
tro aminoácidos. A insulina e o pep- de dosagem contem 28 unidades por
tídeo C são secretados em resposta miligrama.
a todos os secretagogos de insulina,

Figura 3. Estrutura da proinsulina humana (cadeias A e B mais peptídeo C) e da insulina. A insulina é mostrada na
forma de cadeias peptídicas A e B sombreadas (cor laranja), e o peptídeo C está representado na cor verde. Fonte:
Farmacologia básica e clínica, Katzung BG e Trevor AJ, 2017.
HIPOGLICEMIANTES 7

SAIBA MAIS!
A insulina faz parte da mesma família dos fatores de crescimento insulina-símile (IGFs). Os
IGFs são produzidos em vários tecidos e é importante na regulação do crescimento. A insulina
pode se ligar aos receptores IGF e vice-versa. Isso justifica a macrossomia em filhos de mães
diabéticas não controladas, pois a hiperglicemia nessas pacientes estimula a produção de
insulina pelo pâncreas, que em níveis elevados ocupa os receptores IGF e estimula o cresci-
mento do feto.

Secreção de insulina por via oral ela induz a produção de


incretinas pelo intestino, que por sua
A secreção de insulina pode ser esti-
vez, também estimula a secreção de
mulada e inibida por fatores diversos
insulina no pâncreas. No estado ba-
(Tabela 1). O principal fator estimu-
sal, a insulina é excretada pelo pân-
lante é a glicose, sendo a resposta ao
creas em baixa taxa, mas quando há
açúcar por via oral maior que a res-
um estímulo secretagago, essa taxa
posta do açúcar por via endoveno-
aumenta consideravelmente.
sa, pois quando a glicose é ingerida

FATORES ESTIMULANTES FATORES INIBITÓRIOS


Glicose Própria insulina
Outros açúcares (ex. manose) Leptina
Atividade simpática B-adrenérgica Atividade simpática alfa-adrenérgica
Aminoácidos (arginina, leucina) Elevação crônica de glicose
Altas concentrações de ácido graxo Baixa concentração de ácidos graxos
Hormônios (GLP-1, GIP, glucagon, Beta-bloqueadores
colescistocinina
Fármacos (Sulfoniureias, meglitinida, nategli- Outros fármacos (diazóxido, fenitoína, vimblastina e colchicina).
nidae, isoproterenol e acetilcolina.
Tabela 1. Controle da secreção de insulina Fonte: Farmacologia básica e clínica, Katzung BG e Trevor AJ, 2017.

Na célula Beta pancreática em re- mais importante para a secreção de


pouso com níveis normais (baixo) de insulina é a glicose. Em estados de hi-
ATP, o potássio (K+) sofre difusão perglicemia, a glicose entra na célula
para fora da célula através dos canais beta pancreática através do transpor-
de K+ regulados pelo ATP, mantendo tador de glicose (GLUT 2), lá dentro
o potencial intracelular em nível ne- os produtos do metabolismo da gli-
gativo totalmente polarizado. Nesse cose levam a geração de trifosfato
estado, a liberação da insulina é mí- de adenosina (ATP). O aumento do
nima. Como foi dito acima, o estímulo ATP intracelular leva ao fechamento
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dos canais de potássio (K+), que de- influxo de cálcio e este estimulará a
sencadeia a despolarização celular e secreção de insulina por exocitose.
aberturas dos canais de cálcio volta- Para entender melhor, veja o esque-
gem dependentes, que levará a um ma da figura 4.

Figura 4. Modelo de controle da liberação de insulina da célula beta do pâncreas pela glicose. Hiperglicemia resulta
em aumento dos níveis intracelulares de ATP, que fecham os canais de potássio dependentes de ATP. A diminuição
do efluxo de potássio resulta de despolarização da célula beta e abertura dos canais de cálcio regulados por voltagem.
O consequente aumento do cálcio intracelular desencadeia a secreção do hormônio. Fonte: Farmacologia básica e
clínica, Katzung BG e Trevor AJ, 2017.

SE LIGA! O uso de betabloqueadores (ex. propranolol) deve ser evitado em pacientes


diabéticos. Mas porquê? Vamos te explicar: As ilhotas de Langerhans são inervadas tanto
pelo sistema simpático como pelo parassimpático. Quando há estímulo dos receptores Alfa-
2-adrenérgico há inibição da secreção de insulina, enquanto que estímulos aos receptores
Beta2-adrenérgico e vagal, aumentam a secreção de insulina. Desta forma, antagonista al-
fa-adrenérgicos aumentam a insulina plasmática, enquanto que os Beta-adrenérgicos dimi-
nuem sua secreção e consequentemente diminui a insulina circulante, sendo nocivo para os
pacientes diabéticos.]
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Degradação da insulina Receptor de insulina


A degradação e eliminação da insulina Após a liberação da insulina para a
circulante é realizada principalmente circulação, ela é difundida para os te-
pelo fígado e rins, porém uma parcela cidos e para realizar suas ações é ne-
menor é degradada nos músculos e cessário que ela se ligue a receptores
outros tecidos. O fígado é responsá- presentes na membrana das células
vel pela depuração da maior parte da da maioria dos tecidos. O número de
insulina, cerca de 60%, por ser o sitio receptores por célula varia desde 40
terminal do fluxo sanguíneo da veia em eritrócitos, relativamente insensí-
porta, enquanto que os rins removem veis à insulina, até 30.000 por células
cerca de 35-40% do hormônio en- nos adipócitos e hepatócitos, que são
dógeno. Essa relação se inverte nos altamente sensíveis à ação da insuli-
pacientes em uso de insulina sub- na. O receptor de insulina consiste em
cutânea, 60% da insulina exógena dois heterodímeros ligados por duas
são depurados pelo rim, e o fígado re- pontes dissulfeto, contendo, cada um
move o restante, que equivale a cerca deles, uma subunidade alfa (A), que é
de 30 a 40%. A meia-vida da insulina totalmente extracelular e que constitui
circulante é de 3 a 5 minutos, e na sua o sitio de reconhecimento onde a in-
maior parte é eliminada da circulação sulina se liga, e uma subunidade beta
em torno de 10 a 15min. A atividade (B), que se estende pela membrana
proteolítica do trato gastrointestinal e possui atividade de tirosinocinase
destrói a insulina, por isso não pode (figura 5). As subunidades A inibem
ser usada por via oral. a atividade das tirosinocinases das
subunidades B, quando a insulina se
liga à subunidade A ativa o receptor
Insulina circulante e libera essa inibição, possibilitando
Os níveis basais séricos da insuli- a aproximação e fosforilação de uma
na variam de 5 a 15 μU/mL (30 a 90 subunidade B pela outra, bem como
pmol/L), durante a refeição, nos indi- a auto fosforilação em sítios específi-
víduos normais, há elevação máxi- cos. A ativação do receptor da insuli-
ma para 60 a 90 μU/mL (360 a 540 na inicia a sinalização intracelular pela
pmol/L). A maior parte da insulina cir- fosforilação de proteínas tais como
cula livremente, apenas uma peque- os substratos do receptor de insulina
na fração se prende a B-glubulina. (IRS). Os IRS interagem com efetores,
como por exemplo a fosfatidilinosi-
tol-3-cinase que amplificam e esten-
dem a cascata de sinalização. Essa
rede de fosforilações dentro da célula
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representa o segundo mensageiro da em tecidos que são altamente sen-


insulina e resulta em múltiplos efeitos, síveis à insulina, tais como músculo
como por exemplo, a translocação de esquelético e tecido adiposo, estes
transportadores da glicose (particu- se constituem importantes locais de
larmente GLUT 4) para a membrana deposição de glicose após uma refei-
celular com objetivo de captação de ção. O GLUT 4 se encontra dentro da
glicose para a célula, além de outras célula, sendo deslocado para a mem-
ações como, aumento da atividade brana celular após a ativação dos re-
da glicogênio-sintase e da formação ceptores de insulina, assim ele facilita
de glicogênio, múltiplos efeitos sobre a entrada de glicose na célula. Exis-
a síntese de proteína, lipólise e lipo- tem outros tipos de transportadores
gênese, e a ativação de fatores de de glicose em outros tecidos, na ta-
transcrição, que aumentam a síntese bela 2 vocês podem ver os tipos de
de DNA e o crescimento e a divisão transportadores, onde se encontram
das células. O GLUT 4 está presente e suas determinadas funções.

Figura 5. Esquematização do receptor de insulina. A insulina se liga à subunidade alfa de seu receptor, o que provoca
a auto fosforilação do receptor da subunidade beta, que por sua vez induz à atividade da tirosinocinase. A atividade
da tirosinocinase do receptor inicia a cascata de fosforilação celular que aumenta ou diminui a atividade das enzimas,
incluindo os substratos dos receptores de insulina (IRS) que medeiam os efeitos da insulina sobre a glicose, lipídios
e metabolismo proteico. Por exemplo, os transportadores de glicose são translocados para a membrana celular, para
facilitar a entrada da glicose na célula. Fonte: Guyton, 2011.
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TRANSPORTADOR TECIDOS FUNÇÃO


Todos os tecidos, particularmente os eri- Captação basal de glicose; transporte
GLUT1
trócitos e o cérebro através da barreira hematoencefálica
Células beta do pâncreas; fígado; rins; Regulação da liberação de insulina; outros
GLUT2
intestino aspectos da homeostasia da glicose
GLUT3 Cérebro e placenta Captação em neurônios, outros tecidos
GLUT4 Músculo e tecido adiposo Captação da glicose mediada pela insulina
GLUT5 Intestino e rim Absorção da frutose
Tabela 2. Transportadores da Glicose Fonte: Farmacologia básica e clínica, Katzung BG e Trevor AJ, 2017

Efeitos da insulina sobre seus quantidade de glicose que penetra as


alvos células hepáticas é maior do que pode
ser armazenada sob a forma de gli-
A insulina é um hormônio anabólico
cogênio ou da que pode ser utilizada
essencial na manutenção da home-
para o metabolismo local dos hepa-
ostase de glicose e do crescimento e
tócitos, a insulina promove a conver-
diferenciação celular. Ela também in-
são de todo esse excesso de glicose
terfere no metabolismo da gordura e
em ácidos graxos. Esses ácidos gra-
das proteínas, ativa uma série de ro-
xos são subsequentemente empa-
tas metabólicas, além da glicólise, a li-
cotados sob a forma de triglicerídeos
pogênese e a glicogênese e inibe ou-
em lipoproteínas de densidade muito
tras, como a lipólise, a glicogenólise e
baixa e, dessa forma, transportados
a gliconeogênese hepática. Um dos
pelo sangue para o tecido adiposo. A
mais importantes de todos os efei-
insulina ativa a lipoproteína lipase
tos da insulina é o de fazer com que a
nas paredes dos capilares do tecido
maioria da glicose absorvida após re-
adiposo, que quebram os trigliceríde-
feição, seja armazenada quase ime-
os, formando outra vez ácidos graxos,
diatamente no fígado sob a forma de
requisito para que possam ser absor-
glicogênio (glicogênese), ao mesmo
vidos pelas células adiposas, onde
tempo que inibe a produção e libera-
voltam a ser convertidos em triglicerí-
ção de glicose no fígado através do
deos e armazenados. Além disso, ela
bloqueio da gliconeogênese hepática
inibe a lipólise através da inibição da
(produção hepática de glicose) e gli-
lipase hormônio sensível, por isso na
cogenólise (quebra de glicogênio em
ausência de insulina haverá quebra
glicose). No geral, a ação resultante
dessa gordura armazenada com libe-
de todos os efeitos da insulina no or-
ração de ácidos graxos para corrente
ganismo é a redução do nível de glico-
sanguínea levando a quadros de ce-
se sanguíneo, sendo considerado um
tose e acidose. O resultado final da
hormônio hipoglicemiante. Quando a
ação da insulina no metabolismo da
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gordura é o seu armazenamento. Em reduzindo, assim, a liberação de ami-


relação ao metabolismo de proteínas, noácidos das células, em especial das
a insulina promove a tanto a sua for- células musculares.
mação, como impede a sua degrada- Os tecidos-alvo mais importantes de
ção. Ela estimula o transporte de mui- ação da insulina são fígado, múscu-
tos dos aminoácidos para as células, lo e tecido adiposo, porém a insuli-
aumenta os processos de tradução na exerce efeitos em outras células.
do RNA mensageiro pelos ribosso- Para saber mais sobre os efeitos da
mos, formando, desta maneira, novas insulina nos principais tecidos, veja a
proteínas. Em contrapartida, a insuli- tabela.
na inibe o catabolismo das proteínas,

ÓRGÃO-ALVO AÇÕES

Fígado • Inibe a glicogenólise


• Inibe a conversão dos ácidos graxos e aminoácidos em cetoácidos
• Inibe a conversão dos aminoácidos em glicose (gliconeogênese)
• Promove o armazenamento da glicose na forma de glicogênio (glicogênese)
• Promove a síntese de triglicerídeos e a formação de LDL

Músculo • Aumento da síntese de proteínas


• Aumento no transporte de aminoácidos
• Aumento da síntese ribossômica de proteínas
• Aumento da síntese de glicogênio (glicogêneses)
• Aumento do transporte de glicose
• Ativação da glicogênio-sintase e inibição da fosforilase
Tecido adiposo
• Aumento do armazenamento de triglicerídeos
• Ativa a lipoproteínas lipase (LPL) que quebram os triglicerídeos, formando
outra vez ácidos graxos, para ser absorvidos pelas células adiposas
• Inibe a lipólise através da inibição da lipase hormônio sensível

Tabela 3. Efeitos endócrinos da insulina nos principais orgãos Fonte: Farmacologia básica e clínica, Katzung BG e Trevor AJ, 2017.

Característica das preparações de aminoácidos, concentração, solubi-


insulina disponíveis lidade, tempo de início e duração de
sua ação biológica.
As preparações de insulina comerciais
diferem em diversos aspectos, como Há quatro tipos principais de insulina
diferenças nas técnicas de produção injetáveis:
por DNA recombinante, sequência de
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• de ação rápida, com início muito a sua estabilidade e o prazo de vali-


rápido e curta duração; dade. As insulinas NPH (insulina com
• de ação curta, com rápido início protamina neutra Hagedorn) de ação
de ação; intermediária se apresentam em sus-
pensão turva de pH neutro e são
• de ação intermediária; associadas à protamina com o obje-
• de ação longa, com início lento. tivo de se obter uma ação prolonga-
da. A insulina de ação longa, como
a glargina e a detemir são solúveis e
Essas insulinas possuem colorações
transparentes.
diferentes e associações com dife-
rentes produtos com o objetivo de
prolongar sua ação, melhorar estabi- SE LIGA! Apesar de as insulinas serem
estáveis na temperatura ambiente, de-
lidade, entre outros. As insulinas de
vem ser conservadas em lugar frio, de
ação rápida e de ação curta se apre- preferência no refrigerador. A exposição
sentam em soluções transparentes a temperaturas muito baixas (<8ºC) ou
em pH neutro e contém pequenas elevadas (<30ºC) podem degradar a in-
sulina de forma permanente.]
quantidades de zinco para melhorar

SAIBA MAIS!
A insulina humana é produzida por tecnologia de DNA recombinante usando cepas espe-
ciais de Escherichia coli ou leveduras. A insulina humana é extraída de células pancreáticas
e o gene da produção de insulina é isolado. Um DNA plasmidial é extraído de uma bactéria
e cortado com enzimas de restrição, formando um plasmídeo vetor. O gene humano da pro-
dução de insulina é inserido no vetor plasmidial para formar o DNA recombinante. Esse DNA
recombinante é introduzido em células bacterianas, formando as bactérias recombinantes
que se multiplicam em um tanque de fermentação e produzem a insulina humana. A insulina
é extraída e purificada, e estará pronta para uso.

Insulina de ação rápida rápida: Lispro, Asparte e Glulisina.


Essas insulinas, quando comparadas
Para produzir uma preparação de in-
à insulina regular, simulam melhor a
sulina com início de ação mais rápido
insulina endógena liberada pelo pân-
e menor duração de ação que a in-
creas no período prandial, pois elas
sulina comum, foram feitas modifica-
possuem rápido início de ação e ação
ções na molécula de insulina humana
máxima precoce. Sua ação dura em
para impedir a formação de hexâme-
torno de 2 a 4h, o que diminui o ris-
ros ou polímeros que retardam a ab-
co de glicemia pós-prandial. Vamos
sorção e ação da insulina (figura 5).
conhecer as características de cada
Existem 3 tipos de insulina de ação
uma delas.
HIPOGLICEMIANTES 14

Hexâmero de insulina Dímeros de insulina Monômeros de insulina

Difusão mínima Difusão limitada Difusão rápida

Barreira Capilar Barreira Capilar Barreira Capilar Barreira Capilar

Figura 6. Moléculas de insulina em diferentes formas. As moléculas de insulina formam hexâmeros e dímeros em
soluções. A difusão do hexâmero é dificultada por seu tamanho. A difusão dos dímeros é limitada, e a difusão dos
monômeros é rápida. Fonte: Penildo

A insulina Lispro, foi o primeiro aná- em 45 a 75 min. O tempo para atin-


logo de insulina monomérica a ser gir sua atividade máxima independe
comercializado. Ela é produzida por da dose. Geralmente é administrada
tecnologia recombinante, onde dois 15min antes ou logo após a refeição.
aminoácidos estão em posições in- A insulina Asparte foi criada pela
vertidas da original, a prolina na posi- substituição da prolina na posição
ção B28 passou para a posição B29, B28 por um ácido aspártico de carga
ao passo que a lisina na posição B29 negativa (figura 7). Essa modificação
foi deslocada para a posição B28 (fi- foi capaz de inibir a autoagregação da
gura 7). Essa inversão não interfere insulina, em grau semelhante a lispro.
na ligação ao receptor de insulina, Sua absorção e perfil de atividade
nem em suas ações, muito pelo con- assemelham-se aos da lispro. Em
trário, essa mudança trouxe a vanta- estudos clínicos, a insulina lispro e in-
gem de ter uma menor tendência a sulina asparte exerceram efeitos se-
autoagregação (forma de hexâmero), melhantes sobre o controle da glicose
produzindo dímeros e monômeros. e a frequência da hipoglicemia, com
Após a injeção subcutânea, a insuli- taxas mais baixas quando compara-
na se dissocia quase que instantane- da a insulina regular.
amente em monômeros, sendo en-
tão absorvida, com início de ação em
3 a 15minutos, e atividade máxima
HIPOGLICEMIANTES 15

SAIBA MAIS!
O análogo ultrarrápido mais recente é o Fiasp. Trata-se de uma formulação da insulina as-
parte a qual foi adicionada nicotinamida (vitamina B3), resultando em uma absorção mais
rápida, com início e pico de ação mais rápidos. É constituída por uma solução aquosa, incolor
e levemente acida (pH = 7,1) e em comparação com a insulina asparte, o Fiasp tem início de
ação 5 minutos antes, pico 11 minutos mais cedo, e nos primeiros 15 minutos da aplicação
disponibiliza mais insulina na circulação.

A insulina Glulisina é obtida pela Embora as insulinas de ação rápida


substituição da lisina por ácido glu- sejam mais caras que a insulina regu-
tâmico em B29 e substituição da as- lar , a conveniência dos pacientes em
paragina pela lisina em B23 (figura relação ao momento da administra-
7). Essas substituições levam a uma ção pré-refeição e a redução da hipo-
redução da autoagregação e rápida glicemia relatada em alguns estudos
dissociação em monômeros ativos. O representam vantagens importantes
perfil de início e tempo de ação asse- para os pacientes.
melha-se as da lispro e asparte.

Figura 7. Análogos da insulina e suas modificações com o objetivo de alterar seu perfil farmacocinético. Em azul temos
a molécula de insulina com 2 cadeias (A e B) e com o total de 51 aminoácidos. Em verde, temos a insulina lispro origi-
nada através da inversão dos aminoácidos 28 e 29 na cadeia B. em laranja temos a glulisina através da substituição da
asparagina por Lisina em B23 e da Lisina por ácido glutâmico em B29. em vermelho, substituição da prolina na posição
B28 por um ácido aspártico gerando a insulina asparte. Essas 3 insulinas têm como resultado menor tendência à auto-
agregação e, portanto, ação mais rápida. Em marrom, na insulina determir, a treonina na posição B30 é suprimida, e o
ácido mirístico (cadeia de ácidos graxos C-14) é fixado à lisina na posição B29 terminal, isso aumenta a ligação reversí-
vel a albumina, lentificando sua ação. Em lilás, a insulina glargina é originada com substituição de glicina por asparagina
na posição da cadeia A 21 e pela adição de duas moléculas de arginina (31, 32) ao terminal amino da cadeia B, levando
à absorção mais lenta desta molécula. Fonte: As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman e Gilman, 2012.
HIPOGLICEMIANTES 16

Insulina da ação curta de pequenas doses de insulina regu-


lar diferem muito daquelas de gran-
A insulina regular é uma insulina de
des doses, podendo levar a um de-
ação curta. Trata-se de uma insulina
sequilíbrio entre a disponibilidade de
solúvel complexada com zinco que
insulina e sua necessidade.
possui a mesma sequência de ami-
noácidos que a insulina humana en- A insulina regular endovenosa é bas-
dógena. Após a injeção por via sub- tante usada no tratamento de ceto-
cutânea, os hexâmeros formados se acidose diabética. Quando diluída,
dissociam em dímeros e monômeros sofre dissociação imediata dos he-
para então serem absorvidos (figura xâmeros em monômeros, facilitando
5). Isso causa um atraso no aumento sua absorção.
das concentrações de insulina na cor-
rente sanguínea, por isso seu efeito é
Insulinas de ação intermediária
obtido apenas após 30 minutos da
injeção subcutânea, atingindo um A insulina NPH (protamina neutra
pico entre 2 e 4 horas e, em geral, du- Hagedorn) é uma suspensão cris-
rando 5 a 8 horas, tempo esse, maior talizada de insulina humana, prota-
que o tempo de duração do aumento mina e zinco em um tampão neutro
da glicose no período pós-prandial, que atrasa a liberação da insulina na
podendo levar a quadros de hipo- corrente sanguínea. Isso produz uma
glicemia horas depois de comer. Por- solução turva ou esbranquiçada, dife-
tanto, a absorção tardia da insulina rente das soluções transparentes de
regular faz com que esta deva ser outras insulinas. Geralmente é usa-
usada 30 a 45 minutos antes das re- da para controle de insulina basal,
feições, no entanto, alguns pacientes sendo necessário a administração de
tendem a aplicá-la na hora da refei- pelo menos duas vezes ao dia para
ção, o que contribui para hiperglice- fornecer cobertura basal de 24 ho-
mias pós-prandiais e hipoglicemias ras. Após injeção subcutânea, as en-
no período entre as refeições, pois a zimas teciduais proteolíticas degra-
insulina regular atingirá seu pico no dam a protamina, possibilitando sua
horário em que a alimentação já foi absorção. A insulina NPH tem início
metabolizada. de ação de cerca de 2 horas e dura-
A duração de ação, o tempo de iní- ção aproximada de 8 a 18 horas, com
cio e o pico da insulina regular, au- duração normal de ação em torno de
mentam com o tamanho da dose. 12 horas. A ação da insulina NPH é
Do ponto de vista clínico, isso repre- imprevisível, e existe uma grande va-
senta um grande problema, pois a riabilidade de absorção. Seu uso clini-
farmacocinética e a farmacodinâmica co está declinando, em virtude de sua
HIPOGLICEMIANTES 17

farmacocinética adversa e com o fato A insulina determir é o análogo de


de existirem outras insulinas de ação insulina mais recentemente desen-
longa disponíveis e que apresentam volvido. A treonina terminal é supri-
ação mais previsível e fisiológica. mida da posição B30, e o ácido mi-
rístico (cadeia de ácidos graxos C-14)
é fixado à lisina na posição B29 ter-
Insulinas de ação longa minal (figura 7). Essas modificações
A insulina glargina é idêntica à insu- prolongam a disponibilidade do aná-
lina humana, exceto pela substituição logo injetado, aumentando tanto a
de glicina por asparagina na posição autoagregação no tecido subcutâneo
A21 e pela adição de duas moléculas como a ligação reversível à albumina
de arginina ao terminal amino da ca- devido a presença da cadeia lateral
deia B da molécula de insulina, desta de ácidos graxos. A detemir tem um
forma, esse análogo da insulina é so- início aproximado de ação de 2 horas,
lúvel em com o pico de ação entre 3 a 9 ho-
solução ácida, mas precipita no pH ras e com duração que varia entre 6 e
mais neutro do corpo (figura 7). Após 24 horas, pois vai depender da dose
administração subcutânea, a glargi- de insulina utilizada. Doses mais al-
na precipita no tecido, formando he- tas estão associadas a durações mais
xâmeros, o que atrasa a absorção e longas de ação. Geralmente é admi-
prolonga a duração de sua ação. Ela nistrada duas vezes ao dia para ob-
não possui pico de ação e exibe um tenção de um nível basal uniforme de
platô de concentração plasmática. A insulina. Comparado com a glargina,
glargina apresenta início de ação len- ela tem um pico perceptível e rara-
to (cerca de 2h) e tem a duração de mente dura 24 horas. A detemir não
sua ação mantida de 20 a 24 horas pode ser misturado com insulinas de
ou mais. Em geral, a glargina é ad- ação rápida, pois a cinética de ambas
ministrada uma vez ao dia; todavia, será alterada.
alguns indivíduos muito sensíveis ou A farmacocinética das principais in-
resistentes à insulina beneficiam-se sulinas está resumida na Tabela 4 e
de doses fracionadas (2 vezes ao dia). na Figura 9. É preciso salientar que
Para manter a solubilidade, a formu- os valores apresentados na tabela 4
lação é extremamente ácida (pH = 4), são valores aproximados, pois a ação
e a glargina não deve ser misturada e duração das insulinas podem variar
com outra insulina. Em comparação à de indivíduo para indivíduo. O gráfico
NPH, a glargina tem menos hipogli- apresentado na figura 9 nos dá uma
cemia noturna. ideia da duração da ação de forma
mais visível.
HIPOGLICEMIANTES 18

SE LIGA! Um dos fatores que determinam a velocidade de absorção da insulina é o seu local
de administração. A insulina é administrada via subcutânea e sua absorção é mais rápida
nas seguintes regiões (ordem decrescente): parede abdominal, braço, face anterior da coxa
e glúteos. A insulina regular antes da refeição deve ser rapidamente absorvida e, portanto,
a injeção na parede abdominal pode ser preferível. Já insulina de ação intermediária à noite
deve ser absorvida lentamente para garantir uma duração da ação que dura durante a noite,
e pode ser preferível a injeção na perna ou nádega.

Figura 8. As áreas sombreadas podem ser usadas para injeções de insulina. Fonte: Uptodate,2020

Misturas de insulina pode misturar em sua seringa a dose


da insulina NPH e da insulina regu-
Na maioria dos pacientes, a terapia
lar e injetar de preferência 30 minu-
com insulina é realizada a partir da
tos antes das refeições, pois esse é
associação entre as insulinas de ação
o tempo de início de ação da insulina
mais rápida para que posso ser usa-
regular. As insulinas Lispro, asparte e
da antes das refeições principais e
glulisina também podem ser mistura-
as insulinas responsáveis por manter
das com a NPH, sem afetar sua rá-
um estado basal de insulina circulan-
pida absorção, e devem ser injetadas
te. Por exemplo, a NPH necessita de
poucos minutos antes das refeições.
várias horas para alcançar níveis te-
Misturas como essas não podem ser
rapêuticos adequados, sendo neces-
feitas com a insulina Glargina e De-
sário o uso de uma insulina com ação
termir, que devem ser administradas
rápida, como por exemplo, a insuli-
em injeções separadas. Apesar des-
na regular, antes das refeições. Para
se procedimento diminuir o número
evitar várias agulhadas, o paciente
HIPOGLICEMIANTES 19

de injeções, ele requer habilidade, o mesmo que a da insulina NPH. Elas


conhecimento da técnica e atenção têm a vantagem de permitir associa-
especial do usuário para fazer a dose ções pré-misturadas de lispro e NPL e
correta das insulinas. Existem à dis- de NPA e asparte, as quais demons-
posição do mercado, preparações de traram ser seguras e efetivas em es-
insulinas pré-misturadas em diferen- tudos clínicos. No mercado brasileiro,
tes proporções, ela pode ser útil para existem formulações de pré-mistura
pacientes com restrições visuais ou com insulinas humanas (NPH e re-
motoras, que tenham dificuldade na gular, na formulação 70/30) e com
realização correta e segura da mistu- análogos de insulina (lispro protami-
ra de dois tipos de insulinas com dife- na + lispro, nas formulações 75/25 e
rentes tempos de ação, para aqueles 50/50, e asparte protamina + aspar-
que rejeitem o esquema de insuli- te, na formulação 70/30).
nização mais intensivo e para pa-
cientes com DM2 com necessidade SE LIGA! Embora a NPH possa ser
de insulinização plena. As insulinas misturada com insulina regular em uma
pré-misturadas eram instáveis até o única seringa para injeção, as duas in-
desenvolvimento de insulinas inter- sulinas devem ser misturadas imediata-
mente antes da injeção. A insulina regu-
mediárias compostas de complexos lar (“clara”) deve ser aspirada antes da
isófanos de protamina com lispro e insulina NPH (“turva”), pois fazendo o
asparte. Essas insulinas intermediá- contrário, os cristais da NPH podem en-
trar no frasco da regular, reduzindo a sua
rias foram denominadas “NPL” (pro-
atividade. Esta mistura deve ser injetada
tamina lispro neutra) e “NPA” (prota- imediatamente após a preparação.
mina asparte neutra), e sua ação dura

TIPO DE INSULINA INÍCIO DE AÇÃO PICO DE AÇÃO DURAÇÃO DA AÇÃO


Lispro, asparte e
3 a 15 minutos 45 a 75 minutos 2 a 4 horas
glulisina
Regular 30 minutos 2 a 4 horas 5 a 8 horas
NPH 2 horas 4 a 12 horas 8 a 18 horas (duração normal 12h)
Glargina 2 horas Sem pico 20 a >24horas
Determir 2 horas 3 a 9 horas 6 a 24horas*
Tabela 4. Farmacocinética das preparações de insulina mais usadas Legenda: NPH (Protamina Neutra Hagedorn); (*) A
duração da ação depende da dose. Em doses altas, a duração pode chegar a 24h. Fonte: Uptodate, 2020.
HIPOGLICEMIANTES 20

Figura 9. O gráfico mostra a extensão e duração de ação de vários tipos de insulina, conforme indicado pelas taxas de
infusão de glicose (mg/kg/min) necessárias para se manter uma concentração constante de glicose. As ações duram o
indicado para uma dose média de 0,2 a 0,3 U/kg. A duração da insulina regular e da NPH aumenta consideravelmente
quando se aumenta a dose. Fonte: Farmacologia básica e clínica, Katzung BG e Trevor AJ, 2017.

Sistemas de administração de Administração-padrão


insulina O método padrão para a absorção
A insulina é administrada via sub- de insulina é a injeção subcutânea
cutânea através de vários dispositi- com agulhas e seringas descartá-
vos que veremos logo abaixo. veis, e apesar dos avanços tecnológi-
cos dos dispositivos de insulina, este
é ainda o mais usado no Brasil. A se-
SE LIGA! O rodízio dos pontos de apli-
cação da insulina é fator decisivo para
ringa é graduada em unidade (UI) até
um tratamento insulínico seguro e eficaz, 100, por isso são identificadas como
prevenindo lipo-hipertrofia e descontro- seringas U100. As seringas são de
le glicêmico. A Associação Americana uso individual e único, devendo ser
de Diabetes (ADA) recomenda a aplica-
ção em um local por semana, esgotan- descartadas após o primeiro uso
do-se as possibilidades de quadrantes (figura10).
da mesma região (por exemplo abdo-
me), para só então escolher outro. Para
múltiplas aplicações diárias, entretanto,
essa recomendação não é facilmente
executada, sendo necessário o plane-
jamento de rodizio das áreas. O profis-
sional de saúde deve avaliar o esquema
de rodízio a cada consulta e ajustá-lo de
acordo com a necessidade e conforme
a terapia avança. O rodízio apropriado e
consistente dos pontos de aplicação co-
labora para proteger e manter o tecido
subcutâneo normal. Figura 10. Seringa e agulha de insulina. Fonte: https://
bit.ly/2VZdRL9
HIPOGLICEMIANTES 21

Em 2019, o Sistema Único de Saúde


SE LIGA! A angulação das agulhas na (SUS) iniciou a dispensação de cane-
aplicação de insulina varia conforme o ta de insulina descartável, uma gran-
comprimento da agulha. Em agulhas
de conquista para o tratamento com
com 4 ou 5 mm de comprimento, reco-
menda-se angulo de 90°. Em agulhas insulina no Brasil (figura 11).
com 6 ou 8 mm de comprimento, o ân-
gulo pode variar entre 45° e 90° para
adultos, de acordo com a quantidade de
tecido subcutâneo no local da injeção
(em pacientes obesos costuma-se usar
90º), e de 45° para crianças e adoles-
centes. Em agulhas com mais de 8 mm
de comprimento, o ângulo indicado é
de 45°, independentemente da quanti-
dade de tecido subcutâneo em adultos,
não sendo indicadas para crianças e
adolescentes.] Figura 11. Caneta de insulina. Fonte: https://bit.
ly/3dc6BBl

Injetores portáteis do tipo caneta


Dispositivos de infusão subcutânea
Foram criados injetores portáteis do contínua de insulina
tamanho de uma caneta para faci-
O sistema de infusão continua de in-
litar a vida de pacientes que faziam
sulina (ISCI) subcutâneo, também co-
uso de múltiplas injeções de insuli-
nhecido como terapia com bomba de
na. Existem canetas recarregáveis e
insulina, consiste em um dispositivo
descartáveis, nelas podem-se regis-
eletrônico que realiza infusão conti-
trar doses pares e impares, a depen-
nuada de micro-doses de análogo de
der da necessidade do paciente. Elas
insulina rápida (lispro, asparte e glu-
têm cores e/ou identificações diferen-
lisina), por meio de pré-programação
ciadas, para evitar a troca do tipo de
individualizada, e proporciona tanto li-
insulina no momento da aplicação.
beração continua de insulina, chama-
Entre as vantagens da caneta em re-
da basal, como liberação de insulina
lação a seringa, estão a praticidade de
bolus de uso prandial ou para even-
manuseio e de transporte e a disponi-
tuais correções de hiperglicemia. Os
bilidade de agulhas mais curtas, com
dispositivos possuem reservatório de
4, 5 ou 6 mm de comprimento, além
insulina, conjunto de infusão (cateter e
de agulhas com alto fluxo (paredes
cânula) e bateria (figura 12). Em geral,
mais finas). Essas vantagens propor-
o dispositivo é colocado no cinto ou
cionam maior aceitação social e boa
em uma bolsa, sendo a insulina infun-
adesão ao tratamento, colaboran-
dida por meio de um tubo de plástico
do para o melhor controle glicêmico.
HIPOGLICEMIANTES 22

fino, conectado ao equipamento de mais fisiológico de reposição da insu-


infusão inserido por via subcutânea. lina. O uso desses dispositivos de in-
O abdome constitui o local preferido fusão continua é incentivado em ca-
do equipamento de infusão, embora o sos de indivíduos incapazes de obter
flanco e a coxa também sejam utiliza- o controle necessário com esquemas
dos. O reservatório de insulina, o tubo de múltiplas injeções ou em circuns-
e o equipamento de infusão precisam tâncias nas quais se deseja um con-
ser trocados, utilizando-se uma técni- trole excelente do nível de glicemia,
ca estéril, a cada 2 ou 3 dias. O siste- como durante a gravidez.
ma de ISCI e considerado o método

SAIBA MAIS!
A bomba deve ser desconectada o durante banho e atividades como natação, pois não são
à prova d’agua. É recomendado ficar sem a bomba no máximo durante 2 horas. Após esse
período é necessário monitorar a glicose, com maior frequência, e realizar bolus de correção,
se necessário. Existem bombas mais modernas, que são a prova d’agua por 24 horas. Para
atividades de impacto/contato, a recomendação é retirar a bomba e respeitar o tempo máxi-
mo, para prevenir a cetoacidose.

Insulina inalada
Atualmente, foi aprovada para uso
uma formulação em pó seco de in-
sulina regular recombinante (insuli-
na de tecnologia tecnosfera). Após a
sua inalação, a partir de um pequeno
aparelho de uso individual, os níveis
máximos de insulina são alcançados
em 12 a 15 minutos e declinam para
valores basais em 3 horas, com iní-
cio significativamente mais rápido e
duração mais curta do que a insulina
subcutânea. O efeito adverso mais
comum da insulina inalada consistiu
Figura 12. Dispositivos de infusão subcutânea contínua em tosse, afetando 27% dos pacien-
de insulina. Fonte: https://bit.ly/35qUCgR
tes, de modo que o uso requer teste
inicial da função pulmonar, com re-
petição do teste após seis meses de
uso e anualmente a partir de então. O
HIPOGLICEMIANTES 23

fármaco está contraindicado para fu- O tratamento com insulina é impres-


mantes e pacientes com doença pul- cindível no paciente com DM1 e deve
monar obstrutiva crônica. ser iniciado o mais rápido possível
após o diagnóstico, para prevenir a
descompensação metabólica e a ce-
toacidose diabética (CAD). A dose di-
ária total de insulina preconizada em
pacientes com DM1, com diagnostico
recente ou logo após diagnóstico de
cetoacidose diabética, varia de 0,5 a
1,0 U/kg/dia. Durante a fase de remis-
são parcial, a dose diária total de in-
sulina administrada é < 0,5 U/kg/ dia
(até < 0,3 U/kg/dia). Recomenda-se
Figura 13. Aparelho utilizado para uso de insulina ina-
lável. Fonte: https://bit.ly/3bZVJ9v que a dose basal de insulina diária
varie de 30 a 50% da dose total, a fim
de tentar mimetizar a secreção endó-
Tratamento com insulina gena de insulina, e que o restante da
O DM1 se caracteriza por produção dose diária seja em forma de bolus
insuficiente de insulina, portanto, o pré-refeições.
tratamento medicamentoso depen- Diferentemente do que ocorre no
de da reposição desse hormônio, DM1, em que 100% dos pacientes
utilizando-se de esquemas e prepa- precisam de insulina exógena no tra-
rações variados e estabelecendo-se tamento, a maioria dos pacientes com
“alvos glicêmicos” pré e pós-prandiais DM2 não utiliza insulina inicialmen-
para serem alcançados. A Tabela 5 te após o diagnóstico. A frequência
resume as principais metas de con- de uso da insulina no tratamento do
trole glicêmico e de HbA1c adotadas DM2, seja em combinação com ou-
pela Sociedade Brasileira de Diabetes tros hipoglicemiantes, seja isolada-
(SBD). mente, aumenta progressivamente
ao longo da doença, pois ocorre um
declínio progressivo da função da cé-
GLICEMIA GLICEMIA
PRÉ-PRANDIAL PÓS-PRANDIAL
HBA1C lula beta pancreática.
<100mg/dL <160mg/dL <7,0% Quando o uso terapêutico de hipogli-
Tabela 5. Metas glicêmicas propostas pela SBD cemiantes orais não for mais eficien-
Fonte: Diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes,
2019-2020. te em manter um controle glicêmico
adequado, preconiza-se a introdu-
ção de insulina exógena. A estratégia
HIPOGLICEMIANTES 24

preferencial para iniciar a insulino- ser prescrita à noite. As drogas orais


terapia nos pacientes com DM2 é a constantes do esquema combinado
introdução de uma única dose diária cobrem as necessidades prandiais,
de insulina basal. A dose inicial de in- atuando com maior eficiência à me-
sulina usualmente é de 0,1 a 0,2 UI/ dida que se reduz a glicotoxicidade
kg/dia. Essa dose de insulina costuma pela introdução da insulina.

SE LIGA! A cetoacidose diabética (CAD) é uma complicação grave que pode ocorrer tanto na
evolução do DM1(mais comum), como pode acontecer em alguns casos de DM2 (incomum).
Em 25% dos pacientes com DM1 o diagnóstico de diabetes é feito após um quadro de CAD,
sendo a causa mais comum de morte entre crianças e adolescentes com DM1. Alguns fatores
são listados como precipitantes dessa condição tais como infecções (mais comum), acidente
vascular cerebral (AVC), ingestão excessiva de álcool, pancreatite aguda, infarto agudo do
miocárdio (IAM), traumas, uso de glicocorticoides em altas doses e drogas ilícitas (cocaína).
O desenvolvimento da CAD se dá pela diminuição sanguínea de insulina com ativação de
hormônios contra regulatórios como o glucagon, catecolaminas, cortisol e hormônio do cres-
cimento. O resultado será a maior produção de glicose pelo fígado e rins e diminuição de sua
captação pelos tecidos periféricos, levando ao quadro de hiperglicemia e hiperosmolaridade,
que está associado ao aumento da liberação dos ácidos graxos provocados pela lipólise, onde
serão levados até o fígado para serem oxidados em corpos cetônicos, levando à cetonemia
e acidose metabólica. Os sinais e sintomas consistem em náuseas, vômitos, dor abdominal,
respiração profunda e lenta (Kussmaul), alteração do estado mental, elevação dos níveis san-
guíneos e urinários de cetonas e glicose, pH arterial inferior a 7,3 e baixo nível de bicarbonato
(< 15 mmol/L). O tratamento é realizado com hidratação venosa intensa para corrigir a desi-
dratação, correção dos distúrbios eletrolíticos, se necessário e o uso de insulinoterapia. Nos
casos mais graves, a via de escolha é a infusão intravenosa contínua de insulina regular com a
dose de 0,1 U/kg/h. Em casos leves ou moderados, pode-se utilizar insulina regular IM, a cada
hora, ou análogos ultrarrápidos SC, a cada 1 ou 2 horas.]
HIPOGLICEMIANTES 25

SE LIGA! A síndrome hiperosmolar hiperglicêmica (SHH) é uma complicação grave mais co-
mum nos pacientes com DM2, sendo incomum em pacientes com DM1. É menos comum que
a CAD, porém possui maior morbimortalidade. Essa síndrome é caracterizada por hiperglice-
mia severa (>600), hiperosmolaridade e desidratação, porém não há cetoacidose associada
como na CAD. A SHH está associada a fatores precipitantes, que devem ser pesquisados e
tratados, são eles infecção (mais comum), cirurgias ou eventos isquêmicos, comorbidades,
idade avançada e severidade de desidratação. O desenvolvimento de SHH se dá pelo pela
redução da insulina, aumento da resistência dos tecidos à insulina e concomitante aumento
dos hormônios contrarreguladores. A consequência será aumento da produção de glicose
pelo fígado e rins, menor utilização periférica de glicose, que culminarão em hiperglicemia
levando a diurese osmótica e a depleção de volume intravascular, podendo ocasionar desi-
dratação, redução da taxa de filtração glomerular e alterações hemodinâmicas (hipotensão e
choque). A ausência de corpos cetônicos e acidose metabólica na SHH pode ser explicada
pelo fato de que os níveis de insulina presentes podem ser adequados para prevenir a lipó-
lise e subsequente cetogênese. A SHH tem início insidioso. Em geral, os pacientes relatam
histórico de poliúria, polidipsia, fraqueza, turvação visual e declínio progressivo do nível de
consciência. Nos quadros mais graves, pode haver sintomas neurológicos focais, convulsões,
hipotensão, choque e/ou insuficiência renal aguda. Náuseas e vômitos são incomuns na SHH.
Os achados laboratoriais diagnósticos para SHH são glicemia superior a 600 mg/dL, osmo-
laridade sérica efetiva superior a 320 mOsm/L e ausência de cetoacidose (pH > 7,3 e bicar-
bonato > 18 mEq/L). O tratamento da SHH consiste em reidratação agressiva e restauração
da glicose e dos eletrólitos. A insulinoterapia deve ser feita com insulina regular intravenosa
com a administração de bolus intravenoso inicial de 0,10 U/kg, seguido de infusão continua
na dose de 0,1 U/kg/hora. Tanto em CAD como em SHH a infusão de insulina só pode ser
realizada se o K+ sérico for >3,3 pelo risco de arritmias cárdicas e fadiga muscular. Nesses
casos, primeiro se corrige o K+ e depois faz a insulina.]

SAIBA MAIS!
Vários estudos mostraram que o controle rigoroso da glicemia beneficia os pacientes porta-
dores tanto do diabetes tipo 1 como de diabetes tipo 2. Em um estudo prospectivo rando-
mizado de longo prazo, envolvendo 1.441 pacientes com diabetes tipo 1, foi relatado que “a
quase normalização” do nível de glicemia resultou em retardo no aparecimento e em acentu-
ada redução da progressão das complicações microvasculares e neuropáticas do diabetes, foi
observada uma redução de cerca de 60% no risco de retinopatia, nefropatia e neuropatia dia-
béticas no grupo de controle rigoroso, em comparação com o grupo de controle convencional.
Portanto, o consenso da American Diabetes Association orienta que a terapia-padrão nos
pacientes diabéticos seja o controle intensivo da glicemia (controle normal ou quase normal
da glicemia) associado a um treinamento abrangente de autoadministração. Porém existem
alguns pacientes que são exceção, como os pacientes com doença renal avançada e indiví-
duos idosos, visto que, nesses grupos, os riscos de hipoglicemia podem superar o benefício
de um controle normal ou quase normal da glicemia, e em crianças com menos de 7 anos,
devido à extrema suscetibilidade de lesão por hipoglicemia no cérebro em desenvolvimento.
HIPOGLICEMIANTES 26

Complicações da insulinoterapia por anticorpos IgE anti-insulina. Nos


casos graves, ocorre anafilaxia. Sua
A terapia com insulina pode trazer al-
incidência diminuiu bastante com as
guns riscos aos usuários, sendo a hipo-
insulinas humanas e análogos, pela
glicemia o mais comum deles. Veremos
diminuição de contaminantes protei-
agora sobre cada um desses riscos.
cos não insulínicos, que são os res-
ponsáveis pela sensibilidade.
Hipoglicemia
A hipoglicemia em pacientes diabéti- Resistência à insulina
cos em uso de insulina pode ser origi-
Na maioria dos pacientes tratados
nada a partir da ingestão inadequada
com insulina, observa-se o desenvol-
de carboidratos, exercício físico inco-
vimento de baixos
mum e doses altas de insulina. Os sin-
tomas de hipoglicemia são: taquicardia, títulos de anticorpos IgG anti-insulina
palpitações, sudorese, tremor, náuse- circulantes, que neutralizam, em grau
as, fome, podendo evoluir para convul- insignificante, a ação da insulina.
sões e coma nos casos mais graves e
sem tratamento. O tratamento se re-
Lipodistrofia no local de injeções
sume à administração de glicose que
pode ser feita através de açúcar sim- A lipodistrofia (hipertrofia do tecido
ples ou glicose na forma líquida. Nos adiposo) é uma complicação total-
pacientes com perda de consciência, o mente evitável. Ela acontece quando
tratamento de escolha consiste na ad- múltiplas aplicações de insulina são
ministração de 20 a 50 mL de solução feitas no mesmo local do tecido sub-
de glicose a 50% por infusão intrave- cutâneo. Para resolver o problema, o
nosa, durante um período de 2 a 3 mi- paciente pode fazer rodízio das áreas
nutos. Se não houver disponibilidade de aplicação.
de terapia intravenosa, a injeção de 1
mg de glucagon por via subcutânea
Risco aumentado de câncer
ou intramuscular pode restabelecer a
consciência em 15 minutos, permitin- Foi relatado um risco aumentado de
do a ingestão de açúcar. câncer atribuído a resistência à insuli-
na e a hiperinsulinemia em indivíduos
com resistência à insulina, pré-diabe-
Alergia à insulina tes e diabetes tipo 2. Esse risco tem
A alergia à insulina é uma reação de relação com o tratamento com insu-
hipersensibilidade de tipo imediato, e lina e sulfonilureias, as quais aumen-
uma condição tam os níveis circulantes de insulina.
Porém essas observações epidemio-
rara. A urticária local ou sistêmica re-
lógicas são preliminares e não modifi-
sulta da liberação de histamina por
mastócitos teciduais sensibilizados caram as diretrizes de prescrição.
HIPOGLICEMIANTES 27

MAPA MENTAL: INSULINA HUMANA E SEUS ANÁLOGOS

Menos hipoglicemia noturna Inicio da ação: Menor risco de


quando comparado a NPH 3 a 15 min hipoglicemia

Pico: 3 a 9h Solução transparente


Pico: 45 a 75min
e pH neutro
Inicio de ação: 30 min
Inicio da ação: 2h
Duração da ação: Simulam melhor a
2 a 4 horas insulina endógena
Duração da ação: 6 a 24h,
Pico: 2 a 4 horas
depende da dose Lispro,
Ação rápida asparte,
Geralmente é administrada glulisina
Duração da ação:
duas vezes ao dia
Determir 5 a 8 horas
Não pode ser misturada
com outras insulinas Maior risco de
Ação longa Ação curta
hipoglicemia
Menos hipoglicemia noturna
quando comparado a NPH Glargina Regular Inicio da ação, pico
e duração da ação
dependem da dose
Não tem pico Ação intermediaria NPH
Usada no tratamento
de cetoacidose diabética
Inicio da ação: 2h via endovenosa
Solução turva
Inicio da ação: 2h
de pH neutro
Solução transparente
Duração da ação: 20 a >24h e pH neutro
Usada para controle
Pico: 4 a 12 h
basal de insulina
Usada uma vez ao dia
Duração da ação: Necessário ser usada
2x ao dia para
8 a 18h controle de 24h
Não pode ser misturada
com outras insulinas
HIPOGLICEMIANTES 28

Miméticos da incretina A exenatida é apresentada em cane-


tas de doses fixas (5 mcg e 10 mcg),
As incretinas são hormônios libera-
sendo injetada por via SC, 60 minutos
dos pelo intestino, após a ingestão de
antes do desjejum e do jantar. Alcança
glicose por via oral. Elas são liberadas
uma concentração máxima em cerca
na corrente sanguínea e atingem o
de 2 horas, com duração de ação de
pâncreas estimulando a produção de
até 10 horas. A terapia é iniciada com
insulina e também a inibição de glu-
5 mcg, duas vezes ao dia durante o
cagon, com consequente diminuição
primeiro mês e, se for tolerada, pode
da glicose sanguínea. São exemplos
ser aumentada para 10 mcg, duas
de incretinas: peptídeo semelhante ao
vezes ao dia. Existe uma exenatida
glucagon-1 (GLP-1) e o peptídeo in-
de ação longa, forma de pó (2 mg),
sulinotrópico dependente de glicose
cuja preparação pode ser administra-
(GIP). O GLP-1 também está associa-
da uma vez por semana. O principal
do à diminuição da fome em pacien-
efeito colateral consiste em náuse-
tes diabéticos, que pode ser atrelado
as (cerca de 44% dos usuários), que
a sua função no retardo do esvazia-
são dependentes da dose e que di-
mento gástrico ou algum possível
minuem com o decorrer do tempo.
efeito no sistema nervoso central.
Ocorre perda de peso da ordem de
Portanto, os miméticos da incretina 2 a 3 kg, que contribui para a melhora
ou agonistas do receptor de peptídeo do controle da glicose. Por sofrer fil-
semelhante ao glucagon-1 (GLP-1) tração glomerular, o fármaco não está
são drogas antidiabéticas que agem aprovado para uso em pacientes com
aumentando a função das incretinas taxa de filtração glomerular estimada
para obter maior nível de insulina san- em menos de 30 mL/min.
guínea. Dispõe-se para uso clínico de
A liraglutida é um análogo solúvel
quatro desses agonistas do receptor
do GLP-1 de ácidos graxos acilados.
de GLP-1: a exenatida, a liraglutida,
Possui meia-vida de cerca de 12
a albiglutida e a dulaglutida. Todos
horas, possibilitando a administração
eles possuem como efeito colateral a
de uma dose única ao dia. O trata-
intolerância gastrintestinal, portan-
mento é iniciado com uma dose de
to, deve-se utilizar a menor dosagem
0,6 mg e aumentado depois de uma
no início do tratamento, fazendo au-
semana para 1,2 mg ao dia. Se hou-
mentos progressivos de acordo com
ver necessidade, a dose pode ser au-
a tolerância do paciente. Além disso,
mentada para 1,8 mg ao dia. A per-
todos são de aplicação subcutânea
da de peso pode variar de 0 a 3,2kg.
(SC).
Os efeitos colaterais mais frequentes
HIPOGLICEMIANTES 29

consistem em náuseas (28%) e vô- dias. A dose habitual e de 0,75 mg


mitos (10%). por semana por injeção subcutânea.
A albiglutida é um dímero de GLP-1 A dose máxima recomendada e de
humano fundido com albumina hu- 1,5 mg por semana. As reações ad-
mana. A meia-vida da albiglutida é de versas mais frequentes consistem em
cerca de 5 dias, e um estado de equi- náuseas, diarreia e vômitos.
líbrio dinâmico é alcançado depois de Todos os agonistas do receptor de
4 a 5 semanas de sua administração GLP-1 podem aumentar o risco de
uma vez por semana. A dose habitual pancreatite. Os pacientes em uso
é de 30 mg por semana por injeção desses fármacos devem ser aconse-
subcutânea. A perda de peso é mui- lhados a procurar assistência médica
to menos comum do que aquela ob- imediata se tiverem dor abdominal in-
servada com a exenatida e liraglutida. tensa, persistente e inexplicável. Es-
Os efeitos colaterais mais frequentes ses fármacos não devem ser usados
consistem em náuseas e eritema no em indivíduos com história clínica ou
local de injeção. familiar pregressa de câncer medular
A dulaglutida é um análogo do GLP- de tireoide ou síndrome de neoplasia
1 de longa duração, consiste em duas endócrina múltipla (NEM) tipo 2, pois
moléculas do análogo de GLP-1 li- estimulam o desenvolvimento de tu-
gadas de modo covalente a um frag- mores de células C (parafoliculares)
mento Fc da IgG4 humana. A meia- da tireoide em roedores.
-vida da dulaglutida é de cerca de 5
HIPOGLICEMIANTES 30

MAPA MENTAL: ANÁLOGOS DO GLP-1

• Drogas que agem aumentando


a função das incretinas, como
Canetas de dose fixa
GLP-1, para estimular secreção
(5mcg e 10mcg)
de insulina
• Efeito colateral mais importante:
Intolerância Gastrointestinal Duração da ação
• Uso: Subcutâneo de até 10 horas
Meia-vida de 5 dias
Terapia inicial: 5mcg,
2 x ao dia, podendo progredir
a dose posteriormente.
Uso: 30 mg por semana
ANÁLOGOS Exenatida de ação longa:
Albiglutida Exenatida
DO GLP-1 uso uma vez na semana
Perda de peso
menos comum
Não usar em pacientes
Efeitos colaterais: com TFG<30ml/min
náuseas e eritema no
local de injeção. Dulaglutida Liraglutida Efeito colateral:
náuseas (44%)
Uso: 0,75 mg
Meia-vida de 12 horas
por semana
Perda de peso
Dose máxima:
Dose única diária
1,5 mg por semana

Terapia inicial com 0.6mg→


Meia-vida 5 dias
1,2mg→1,8 mg ao dia

Efeitos colaterais: náuseas, Efeito colateral: náuseas


diarreia e vômitos. (28%), vômito (10%)

Perda de peso
HIPOGLICEMIANTES 31

3. HIPOGLICEMIANTES cotransportador de sódio-glicose


ORAIS [SGLT]).
Os hipoglicemiantes orais diminuem
os níveis glicêmicos por diversos me- Sulfonilureias
canismos, que podem ser separados
As sulfonilureias são fármacos secre-
em grupos.
tagogos de insulina. São divididas em
• Agentes que se ligam a canais de duas gerações. As sulfoniureias de
potássio na célula B e que estimu- primeira geração, hoje, são raramen-
lam a secreção de insulina (sulfo- te utilizadas no tratamento de diabe-
nilureias, meglitinidas); tes, são elas: tolbutamida, tolazami-
da, clorpropamida e acetoexamida).
• Agentes que reduzem os níveis
A segunda geração possui fármacos
de glicose em virtude de suas
mais potentes, são eles: glibenclami-
ações sobre o fígado, o músculo
da, glipizina, glimeperida e glicazida).
e o tecido adiposo, além de sensi-
bilizadores à insulina (biguanidas,
tiazolidinedionas); Mecanismo de ação
• Agentes que retardam a absorção As sulfonilureias são drogas que es-
intestinal da glicose (inibidores da timulam a secreção de insulina pelo
a-glucosidase); pâncreas. Elas fecham os canais de
• Agentes que simulam o efeito da potássio dependentes de ATP pre-
incretina ou que prolongam a sua sentes na célula beta do pâncreas.
ação (agonistas do receptor de Como consequência, haverá despo-
peptídeo semelhante ao glucagon larização da membrana e abertura
1 [GLP-1], inibidores da dipeptidil de canais de cálcio voltagem-depen-
peptidase-4 [DPP-4]); dente, resultando em influxo de cálcio
e liberação de insulina pré-formada
• Agentes que inibem a reabsorção (figura 14).
de glicose no rim (inibidores do
HIPOGLICEMIANTES 32

Figura 14. Os secretagogos da insulina fecham os canais de potássio dependentes de ATP, com consequente des-
polarização da membrana e aumento da liberação de insulina por meio do mesmo mecanismo. Fonte: Farmacologia
básica e clínica, Katzung BG e Trevor AJ, 2017

Eficácia e segurança das locais de ligação plasmáticos ou pela


sulfonilureias ação das enzimas hepáticas. Os prin-
cipais efeitos colaterais são ganho de
As sulfonilureias são metabolizadas
peso e a hiperinsulinemia causando
pelo fígado e, com a exceção da ace-
hipoglicemia. São contraindicados
toexamida, os metabólitos são fraca-
em pacientes com insuficiência he-
mente ativos ou inativos. Os meta-
pática ou renal, devido à demora na
bólitos são excretados pelos rins e,
excreção, resultando em acúmulo do
no caso das sulfonilureias de segun-
fármaco e maior propensão de causar
da geração, excretados em parte na
hipoglicemia.
bile. As reações idiossincrásicas são
raras, ocorrendo erupções cutâneas
ou toxicidade hematológica (leucope- Sulfoniureias de 1ª geração
nia, trombocitopenia) em menos de
0,1% dos casos. As doses efetivas e A tolbutamida é bem absorvida e
os níveis plasmáticos corresponden- metabolizada rapidamente no fígado,
temente mais baixos dos agentes de sendo então inativada. Essa caracte-
segunda geração reduzem, portanto, rística faz com que a duração de seu
o risco de interações medicamento- efeito seja relativamente curta (6 a
sas com base na competição pelos 10 horas), com meia-vida de elimina-
ção de 4 a 5 horas, sendo mais bem
HIPOGLICEMIANTES 33

administrada em doses fracionadas A acetoexamida possui meia-vida


(p. ex., 500 mg antes de cada refei- de apenas 1 hora, porém o seu me-
ção). A dose máxima é de 3000 mg tabolito mais ativo, a hidroxi-hexami-
ao dia. Em virtude de sua meia-vida e da, apresenta uma meia-vida de 4 a
inativação pelo fígado, a tolbutamida 6 horas; por conseguinte, a duração
é relativamente segura para uso em de ação do fármaco e de 8 a 24 ho-
idoso e em pacientes com compro- ras. Sua dosagem é de 0,25 a 1,5 g/
metimento renal. dia em dose única ou em duas doses
A clorpropamida, ao contrário a tol- fracionadas.
butamida, possui meia-vida é de 32 Hoje em dia, esses medicamentos são
horas, pois sua metabolização no fí- raramente usados na pratica clínica.
gado é lenta, além de gerar produ-
tos que conservam alguma atividade
biológica. Cerca de 20 a 30% são ex- Sulfonilureias de 2ª geração
cretados em sua forma inalterada na Esses fármacos são 100 a 200 vezes
urina. A dose de manutenção média é mais potentes do que a tolbutamida,
de 250 mg ao dia, administrados em e, portanto, devem ser usadas com
dose única pela manhã, mas pode- cautela em pacientes com doença
-se usar a dose de 125 a 500mg/dia. cardiovascular ou idosos, nos quais
Esse fármaco está contraindicado a hipoglicemia seria particularmente
em idosos, pois as reações de hipo- perigosa. Elas promovem queda de
glicemia são mais comuns nesse gru- 1,5 a 2% na HbA1c e possuem como
po. Outros efeitos colaterais incluem eventos adversos mais comuns o ga-
rubor hiperêmico após o consumo nho de peso e hipoglicemia.
de álcool, em pacientes genetica-
mente predispostos, e hiponatremia,
em virtude de seu efeito sobre a se- A glibenclamida é metabolizada no
creção e a ação da vasopressina. fígado a produtos com atividade hi-
poglicemiante muito baixa. A dose
A tolazamida possui potência seme- inicial habitual e de 2,5 mg/dia ou
lhante à clorpropamida, porém pos- menos, com dose de manutenção
sui ação mais curta. Possui absorção média de 5 a 10 mg/dia, administra-
mais lenta que a maioria das sulfoniu- da uma única vez pela manhã. Não
reias, tendo seu efeito exercido após se recomenda o uso de dose de
várias horas. A meia-vida do fármaco manutenção acima de 20 mg/dia.
é de cerca de 7 horas. Se houver ne- A glibenclamida tem poucos efeitos
cessidade de mais de 500 mg/dia, a colaterais, além de seu potencial em
dose deve ser fracionada e adminis- causar hipoglicemia. Raramente, foi
trada duas vezes ao dia.
HIPOGLICEMIANTES 34

relatada a ocorrência de rubor após A glimepirida foi aprovada para uso


a ingestão de etanol, e o composto em dose única diária como monote-
aumenta um pouco a depuração de rapia ou em associação a insulina. A
água livre. A glibenclamida está con- glimepirida consegue reduzir o nível
traindicada na presença de compro- de glicemia com a menor dose de
metimento hepático, bem como em todas as sulfonilureias. Foi consta-
pacientes com insuficiência renal. tado que uma dose diária única de 1
A Glipizida é a que possui meia-vi- mg é eficaz, e a dose máxima diária
da mais curta (2 a 4 horas) entre os recomendada é de 8 mg. A meia-vida
agentes mais potentes. Para obter do fármaco com múltiplas doses é de
um efeito máximo na redução da hi- 5 a 9 horas. A glimepirida é totalmen-
perglicemia pós-prandial, esse fár- te metabolizada pelo fígado a meta-
maco deve ser ingerido 30 minutos bolitos com atividade fraca ou sem
antes do desjejum, visto que sua atividade.
absorção é retardada quando in- A glicazida tem meia-vida de 10 ho-
gerido com alimentos. A dose ini- ras. A dose inicial recomendada é
cial recomendada e de 5 mg/dia, com de 40 a 80 mg ao dia, com dose má-
administração de até 15 mg/dia em xima de 320 mg ao dia. Doses mais
dose única. Quando há necessida- altas são geralmente fracionadas e
de de doses diárias mais altas, elas administradas duas vezes ao dia. A
devem ser fracionadas e administra- glicazida é totalmente metabolizada
das antes das refeições. A dose total pelo fígado a metabólitos inativos.
máxima diária recomendada pelo fa-
bricante é de 40 mg/dia, embora al- SE LIGA! Alguns pacientes inicialmente
guns estudos indiquem que o efeito respondem bem à terapia com sulfoniu-
terapêutico máximo é obtido com 15 reias, porém após um período deixam
a 20 mg do fármaco. Cerca de 90% de responder apresentando níveis ina-
ceitáveis de hiperglicemia. Chamamos
da glipizida é metabolizada no fígado esse evento de falha secundária, que
a produtos inativos, sendo contraindi- pode ser justificado em consequência
cada em pacientes com grave com- de uma alteração no metabolismo do
fármaco ou, mais provavelmente, da
prometimento hepático, ao passo que
progressão da insuficiência das células
o restante é excretado em sua forma beta-pancreáticas.]
inalterada na urina. Em virtude de sua
ação mais curta, é preferível à gliben-
clamida no idoso.
HIPOGLICEMIANTES 35

MAPA MENTAL: SULFONIUREIAS

Meia-vida de 4 a 5h Duração do efeito de até 24h

Uso: 500 mg antes SULFONIUREIAS


Dose Inicial: 2,5mg/dia
de cada refeição
Tolbutamida Glibenclamida
Dose de manutenção 5-10mg/dia,
Dose máxima: 3000mg/dia
não exceder 20mg/dia

Segura em idosos e Contraindicado em


pacientes com DRC Primeira Segunda hepatopatas e DRC
geração geração
Absorção diminuída com alimentos:
Meia-vida de 32 horas
ingerir 30min antes das refeições

Uso: 250 mg ao Dose inicial: 5mg/dia


dia/dose única Até 15mg/dia
Clorpropamida Glipizida
Contraindicado em idoso: Contraindicado em
hipoglicemia mais comum comprometimento hepático grave

Outros efeitos colaterais: rubor


hiperêmico após o consumo de • Drogas que estimulam a secreção Preferível em idosos
álcool, hiponatremia de insulina a partir do bloqueio do
canal de K presente nas células B Meia-vida de 5 a 6 horas
Meia-vida de 7 horas do pâncreas.
• Drogas da 2ª geração são 100- Dose inicial: 1mg
200x mais potentes Glimepirida
Dose inicial: 500mg/dia Tolazamida Dose máxima: 8mg
• Vantagens: Redução do risco de
complicações microvasculares. Consegue reduzir o nível de glicemia com a
Absorção mais lenta menor dose de todas as sulfonilureias
• Efeito colateral mais importante:
Hipoglicemia e ganho ponderal.
Meia-vida de 10h
Duração da ação: 8 a 24h • Redução importante da
Acetoexamida HbAc1 de 1,5 a 2 %.
• Contraindicação: Insuficiência Glicazida Dose inicial: 40 a 80mg/dia
Uso: 0,25 a 1,5 g/dia
renal e hepática, gravidez.
• Uso: Via oral Dose máxima: 320mg/dia
HIPOGLICEMIANTES 36

Meglitinidas/Glinidas A repaglinida trata-se de um deriva-


do do ácido benzoico, estruturalmente
Essa classe de fármacos inclui a repa-
não relacionado com as sulfoniureias.
glinida e nateglinida, possui o mesmo
Apresenta um início de ação muito rápi-
mecanismo de ação das sulfonilureias,
do, com concentração máxima e efeito
agindo sobre os canais de potássio das
máximo de aproximadamente 1 hora
células beta pancreáticas, como vimos
após a sua ingestão. Todavia, a duração
posteriormente. Contudo, em contraste
de ação é de 4 a 7 horas. Em virtude
com as sulfonilureias, as glinidas têm
de seu rápido início de ação, a repagli-
início rápido e duração de ação mais
nida está indicada para uso no contro-
curta, devendo ser usada 3 vezes ao
le da glicose pós-prandial. O fármaco
dia. Elas são particularmente eficazes
deve ser tomado imediatamente antes
na liberação precoce de insulina que
de cada refeição, em doses de 0,5 a 4
ocorre depois da refeição e, assim, são
mg (dose máxima de 16 mg/dia). Existe
classificadas como reguladores glicê-
o risco de hipoglicemia se a refeição for
micos pós-prandiais. Essas drogas não
adiada, ou se o seu conteúdo de car-
podem ser usadas em associação com
boidratos for inadequado. A repaglini-
as sulfoniureias, pois há sobreposição
da pode ser usada em pacientes com
no mecanismo de ação. Assim como
comprometimento renal e nos indiví-
as sulfonilureias, seus efeitos colate-
duos idosos. A repaglinida foi aprovada
rais mais comuns são a hipoglicemia e
como monoterapia ou em associação
ganho de peso, porém em menor pro-
com biguanidas.
porção que as primeiras. Promovem a
redução de 1 a 1,5% na hemoglobina A nateglinida, um derivado da d-feni-
glicada (HbAc1) e são contraindicadas lalanina, é absorvida dentro de 20 mi-
durante a gravidez. nutos após a sua administração oral,
alcançando uma concentração máxima
em menos de 1 hora. É metabolizada

SAIBA MAIS!
Não existe enxofre na sua estrutura, de modo que o fármaco pode ser utilizado em indivíduos
com diabetes tipo 2 que apresentam alergia ao enxofre ou alergia às sulfonilureias.

no fígado pela CYP2C9 e CYP3A4, até dose máxima de 360mg/dia em 3


com meia-vida de cerca de 1 hora. A tomadas. Pode ser administrada de for-
duração global de sua ação é de cerca ma isolada ou em associação com fár-
de 4 horas. Recomenda-se que seja in- macos orais não secretagogos (como
gerida antes das refeições para reduzir a metformina). A hipoglicemia constitui
a elevação pós-prandial dos níveis de o principal efeito colateral. A nateglini-
glicemia. É disponível em comprimidos da pode ser usada em pacientes com
de 60 e 120 mg, podendo ser usada comprometimento renal e no idoso.
HIPOGLICEMIANTES 37

MAPA MENTAL: MEGLITINIDAS/GLINIDAS

• Drogas que estimulam a secreção de insulina a partir do


bloqueio do canal de K presente nas células B do pâncreas
(igual sulfoniureias).
• Em contraste com as sulfonilureias, as glinidas têm início
rápido e duração de ação mais curta.
• Vantagem: redução da variabilidade da glicose pós-prandial.
• Efeito colateral mais importante: hipoglicemia e ganho
ponderal discreto
• Redução da HbAc1 de 1 a 1,5%
• Contraindicação: gravidez
• Uso: via oral

MEGLITINIDAS/
GLINIDAS

Nateglinida Repaglinida

Inicio de ação muito rápido Inicio de ação muito rápido

Duração da ação de 4 h Duração da ação de 4 a 7 horas

Uso: 60 a 120mg/ 3x ao dia Deve ser tomado imediatamente


Dose máxima: 360mg/dia antes de cada refeição

Pode ser usada em idosos e pacientes Doses de 0,5 a 4mg por tomada,
com comprometimento renal com dose máxima de 16mg/dia

Risco de hipoglicemia
se refeição for adiada

Pode ser usada em idosos e pacientes


com comprometimento renal
HIPOGLICEMIANTES 38

Biguanidas composto ativo. Em consequência do


bloqueio da gliconeogênese pela me-
A metformina, única biguanida atu-
tformina, o fármaco pode comprome-
almente disponível no Brasil, é clas-
ter o metabolismo hepático do ácido
sificada como sensibilizadora da in-
láctico. Em pacientes com insuficiên-
sulina. A fenformina (uma biguanida
cia renal, as biguanidas acumulam-
mais antiga) foi retirada do mercado,
-se e, portanto, aumentam o risco de
em virtude de sua associação à aci-
acidose láctica, que parece constituir
dose láctica.
uma complicação relacionada com a
dose.
Mecanismo de ação
O mecanismo de ação da metformi- Uso clínico
na não é totalmente conhecido, mas
A metformina é a primeira opção de
sabe-se que seu principal efeito re-
tratamento para DM2, quando o pa-
sulta em ativar a enzima proteinoci-
ciente não apresenta contraindica-
nase ativada pelo AMP (AMPK) que
ção. Já é uma droga bastante conhe-
é responsável por bloquear a produ-
cida, tem uma redução importante na
ção hepática de glicose (gliconeogê-
HbA1c, em torno de 1,5 a 2%, está
nese hepática). Outros mecanismos
relacionada à diminuição de eventos
propostos são a diminuição da ab-
cardiovasculares incluído os even-
sorção intestinal de glicose e melho-
tos microvasculares, melhora o perfil
ra de sua captação pelos tecidos pe-
lipídico e leva a diminuição do peso.
riféricos (diminuição da resistência à
Outro dado importante é que, por não
insulina). Difere das sulfonilureias por
promover secreção de insulina, essa
não promover o aumento da secreção
droga não causa hipoglicemia. Embo-
de insulina, de forma que a hiperin-
ra a dose máxima recomendada seja
sulinemia não é um problema. Uma
de 2,55 g ao dia, observa-se pouco
propriedade importante é a redução
benefício acima de uma dose total
modesta da hiperlipidemia (as con-
de 2.000 mg ao dia. O tratamento é
centrações de colesterol LDL e VLDL
iniciado com 500 mg com uma refei-
caem e o colesterol HDL aumenta).
ção e aumentado gradualmente em
doses fracionadas. Os esquemas co-
Metabolismo e excreção muns consistem em 500 mg, uma ou
duas vezes ao dia, com aumento para
A metformina, cuja meia-vida e de
1.000 mg, duas vezes ao dia. A dose
1,5 a 3 horas, não se liga às proteí-
máxima é de 850 mg, três vezes ao
nas plasmáticas, não é metabolizada
dia. Ela pode ser usada em pacientes
e é excretada pelos rins na forma do
HIPOGLICEMIANTES 39

com pré-diabetes com obesidade as- vitamina B12 pois interfere na absor-
sociada, com o objetivo de redução de ção dependente de cálcio do com-
peso e controle glicêmico para pre- plexo vitamina B12-fator intrínseco
venção de DM2, e também pode ser no íleo terminal. Dessa forma, reco-
usada por pacientes com Síndrome menda-se a dosagem periódica dos
de Ovários Policísticos (SOP), para níveis de vitamina B12 nos pacientes
melhorar a sensibilidade dos tecidos tratados com essa medicação, prin-
periféricos à insulina. cipalmente aqueles com anemia ou
neuropatia periférica. Algumas vezes,
pode ocorrer acidose láctica durante
Toxicidade a terapia com metformina, porém é
Os efeitos tóxicos mais comuns da um evento raro, sendo mais prová-
metformina são gastrintestinais (ano- vel em condições de hipóxia tecidual,
rexia, náuseas, vômito, desconforto quando há produção aumentada de
abdominal e diarreia) e ocorrem em ácido lático, e na insuficiência renal,
até 20% dos pacientes. Esses efei- quando ocorre depuração diminuída
tos estão relacionados com a dose, da metformina. As contraindicações
tendem a ocorrer no início da terapia para uso são insuficiência renal (TFG
e, com frequência, são transitórios. <30ml/min), insuficiência hepática,
O uso de metformina a longo pra- cardíaca ou pulmonar, acidose grave
zo pode associar-se a deficiência de e gravidez.

SAIBA MAIS!
A apresentação de liberação prolongada da metformina (Metformina XR) causa menor inci-
dência de efeitos gastrintestinais.

SE LIGA! A administração de meios de contraste radiológicos pode causar insuficiência renal


aguda em pacientes com diabetes e nefropatia incipiente. Por conseguinte, a terapia com me-
tformina deve ser temporariamente interrompida no dia de administração do meio de contraste
radiológico e retomada dentro de um ou dois dias após confirmação de ausência de deteriora-
ção da função renal.
HIPOGLICEMIANTES 40

MAPA MENTAL: BIGUANIDAS- METFORMINA

Gravidez • Dose: 500 - 2550g/dia


• Efeito colateral mais importante:
intolerância gastrointestinal
• Uso: via oral
Insuficiência renal
Redução da produção
hepática de glicose
Insuficiência hepática
BIGUANIDAS Diminuição da absorção
Contraindicações Mecanismo de ação
METFORMINA intestinal de glicose
Insuficiência cardíaca
Ação sensibilizadora da
insulina nos tecidos
Insuficiência pulmonar
Desvantagens Vantagens

Acidose grave Deficiência de Vit. Redução de HbAc1


B12 a longo prazo de 1,5 a 2%

Diminuição de eventos
Acidose lática (raro)
cardiovasculares

Efeitos Melhora perfil lipídico


Reduz com o uso gastrointestinais:
do metformina XR de náuseas, vômitos,
ação prolongada desconforto abdominal
Não causa
e diarreia
hipoglicemia

Perda de peso
HIPOGLICEMIANTES 41

Tiazolidinedionas/glitazonas Os possíveis efeitos colaterais são re-


tenção hídrica e ganho de peso, com
As glitazonas são sensibilizadores de
maior frequência quando associado
insulina e atuam predominantemente
a sulfonilureias ou insulina, aumen-
na resistência insulínica periférica em
ta o risco de insuficiência cardíaca
músculo, adipócito e hepatócito. Elas
e de fraturas por perda da densida-
são ligantes do receptor gama ati-
de mineral óssea. O edema macular
vado por proliferador peroxissômico
constitui um raro efeito colateral que
(PPAR-γ), encontrados no músculo,
melhora quando o fármaco é inter-
no tecido adiposo e no fígado. Esses
rompido. Outros efeitos colaterais in-
receptores modulam a expressão dos
cluem anemia, que pode ser causada
genes envolvidos no metabolismo
por um efeito dilucional do volume
dos lipídeos e da glicose, na trans-
plasmático aumentado, e não por uma
dução de sinais de insulina e na dife-
redução da massa eritrocitária. São
renciação dos adipócitos e de outros
contraindicados em pacientes com
tecidos. Os efeitos observados das
insuficiência cardíaca classe NYHA III
tiazolidinedionas consistem em au-
e IV, insuficiência hepática e gravidez.
mento da expressão do transporta-
dor de glicose (GLUT1 e GLUT4), di-
minuição dos níveis de ácidos graxos Pioglitazona
livres, diminuição do débito hepático
de glicose, aumento da adiponectina, É absorvida 2 horas após a sua inges-
liberação diminuída de resistina dos tão. Embora o alimento possa retardar
adipócitos e diferenciação aumenta- a sua captação, a biodisponibilidade
da dos pré-adipócitos em adipócitos. total não é afetada. Ocorre diminuição
da absorção com o uso concomitante
Na atualidade, há duas tiazolidinedio- de sequestradores de ácidos biliares.
nas: a pioglitazona e a rosiglitazona. A pioglitazona pode ser ingerida uma
Suas cadeias laterais distintas deter- vez ao dia com a dose inicial habitual
minam a existência de diferenças na de 15 a 30 mg/dia com dose máxima
ação terapêutica, no metabolismo, de 45 mg/dia. A pioglitazona é apro-
no perfil de metabólitos e nos efeitos vada como monoterapia e em asso-
colaterais. A combinação de uma tia- ciação com metformina, sulfonilureias
zolidinediona com metformina tem a e insulina para o tratamento de dia-
vantagem de não causar hipoglice- betes tipo 2. A pioglitazona diminui
mia. As glitazonas reduzem a HbA1c os níveis de triglicerídeos e aumenta
em 1 a 1,4%, em média, e como van- o HDL colesterol, sem afetar o coles-
tagem melhora o perfil lipídico com terol total e o colesterol das lipoprote-
redução de triglicerídeos e redução ínas de baixa densidade (LDL).
da gordura hepática.
HIPOGLICEMIANTES 42

duas vezes ao dia na dose total ha-


SE LIGA! A pioglitazona é metaboli- bitual de 2 a 8 mg. Uma metanálise
zada pela CYP2C8 e CYP3A4 a meta- de 42 ensaios clínicos randomizados
bólitos ativos. A biodisponibilidade de
numerosos outros fármacos, que são com rosiglitazona sugeriu que esse
também degradados por essas enzi- fármaco aumenta o risco de angina
mas, pode ser afetada pela terapia com de peito ou infarto do miocárdio. Um
pioglitazona, incluindo contraceptivos
estudo de revisão sistemática evi-
orais com estrogênio; nesses casos, são
aconselhados métodos adicionais de denciou risco aumentado de doença
contracepção. cardiovascular com a rosiglitazona,
levando a muitos questionamentos
e discussões que culminaram com a
Rosiglitazona
retirada do medicamento do mer-
A rosiglitazona sofre rápida absor- cado na Europa e no Brasil e com
ção e liga-se de forma significativa a restrição extrema de sua indicação
às proteínas. É administrada uma ou nos Estados Unidos.

SAIBA MAIS!
A troglitazona, o primeiro medicamento dessa classe, foi retirado do mercado, em razão da
ocorrência de casos fatais de insuficiência hepática. Embora não se tenha relatado que a ro-
siglitazona e a pioglitazona causem insuficiência hepática, não se recomenda o uso desses
fármacos em pacientes com doença hepática ativa ou elevação da alanina aminotransferase
(ALT) de 2,5 vezes acima do normal antes do tratamento. Devem-se efetuar provas de função
hepática antes de iniciar o tratamento e, em seguida, periodicamente.
HIPOGLICEMIANTES 43

MAPA MENTAL: TIAZOLIDINEDIONAS/GLITAZONAS

• Drogas que aumentam a sensibilidade à insulina


em músculo, adipócito e hepatócito
• Vantagens: melhora perfil lipídico, rara hipoglicemia
• Efeito colaterais: retenção hídrica, ganho ponderal,
anemia, insuficiência cardíaca e fraturas.
• Redução da HbAc1 de 0,5 a 1,4%
• Contraindicação: gravidez, insuficiência cardíaca
classe II e IV e insuficiência hepática
• Uso: via oral

TIAZOLIDINEDIONAS
GLITAZONAS

Rosiglitazona Pioglitazona

Retirada do Brasil por risco


Absorção após 2h da ingestão
aumentado de doença cardiovascular,
com aumento do risco de angina e
infarto agudo do miocárdio
Dose inicial: 15 a 30mg/dia

Dose máxima: 45mg/dia


HIPOGLICEMIANTES 44

Inibidores da dipeptidil peptidase A sitagliptina é administrada por via


IV/Gliptinas oral em dose diária única de 100
mg. Apresenta uma biodisponibilida-
A dipeptidil peptidase IV (DPP-4) é
de oral de mais de 85%, alcança con-
uma enzima responsável pela degra-
centrações máximas dentro de 1 a 4
dação do GLP-1, incretina intestinal
horas e tem uma meia-vida de cerca
responsável por aumentar a produ-
de 12 horas. A dose deve ser redu-
ção de insulina pelo pâncreas. A inibi-
zida em pacientes com comprome-
ção da DDP-4, deixará livre o GLP-1
timento da função renal (50 mg, se
para que possa atuar na diminuição
a TFG estimada for de 30 a 50 mL/
da glicose sanguínea. Os inibidores
min, e 25 mg, se for < 30 mL/min).
da DPP-4 são conhecidos como glip-
Pode ocorrer hipoglicemia quando o
tinas (sitagliptina, vildagliptina, sa-
fármaco é associado a secretagogos
xagliptina, linagliptina e alogliptina).
da insulina ou a insulina.
Podem ser usados em associação
a metformina, glitazonas, sulfonilu- A saxagliptina é administrada por
reias, inibidores do SGLT2 e insulina. via oral, em uma dose diária de 2,5
São neutros em relação ao peso e a 5 mg. O fármaco alcança concen-
a hipoglicemia é rara, porém podem trações máximas em 2 horas (4 horas
causar dor articular, que pode ser para o metabólito ativo). A meia-vida
severa e incapacitante. É uma droga plasmática é de 2,5 horas para a sa-
segura e de boa tolerabilidade, pro- xagliptina e de 3,1 horas para o me-
voca redução de HbAc1 0,6 a 0,8%. tabólito ativo.
Existem alguns relatos de pancreati- A linagliptina é tomada na dose de
te aguda (fatal e não fatal) e reações 5 mg ao dia, como o fármaco é excre-
alérgicas e de hipersensibilidade tado principalmente na bile, portan-
graves, sendo suspenso a drogas to, não há necessidade de ajuste da
nesses casos. Outros efeitos cola- dose na insuficiência renal.
terais são nasofaringite, infecções
A vildagliptina é administrada na
respiratórias superiores e cefaleia.
dose de 50 mg, uma ou duas vezes
Podem ser utilizados em pacientes
ao dia. Raramente, o fármaco pode
com insuficiência renal grave com
causar hepatite, e devem-se efetuar
o ajuste da dose, exceto a linaglipti-
provas de função hepática trimestral-
na, a única que não requer ajuste de
mente no primeiro ano de uso e, de-
dose. A única contraindicação é a
pois, de forma periódica.
presença de hipersensibilidade aos
componentes do medicamento.
HIPOGLICEMIANTES 45

MAPA MENTAL: INIBIDORES DA DDP-4/GLIPTINAS

• Drogas que aumentam o nível de GLP-1, com aumento da


síntese e da secreção de insulina, além da redução de glucagon
• Vantagem: efeito neutro em relação ao peso e rara hipoglicemia
• Efeitos colaterais: reações alérgicas e de hipersensibilidade, 50 mg, se a TFG
infecções respiratórias superiores, cefaleia, nasofaringite, 30-50 ml/min
risco de pancreatite e dor articular incapacitante
• Redução da HbAc1 de 0,6 a 0,8%
• Contraindicação: presença de hipersensibilidade 25mg, se TFG<30ml/min
aos componentes do medicamento
• Uso: via oral
Reduzir dose em pacientes com
comprometimento renal
Dose: 50mg, uma
ou duas vezes/dia
Dose diária única: 100mg
INIBIDORES
Raramente pode
Vildagliptina DA DDP-4 Sitagliptina
causar hepatite
GLIPTINAS Pode ocorrer hipoglicemia se
associado a sulfonilureias e insulina
Realizar provas de função
hepática regularmente
Meia-vida de 12horas
Linagliptina Saxagliptina

Dose diária de
Dose 5mg/dia
2,5 a 5mg/dia

Excreção por via biliar Meia-vida de 2,5horas

Não precisa de ajustes na dosagem para pacientes com


comprometimento renal (única gliptina que não precisa)
HIPOGLICEMIANTES 46

Inibidores da alfa-glicosidase antes de cada refeição. Esse fármaco


diminui em 30 a 50% os níveis pós-
Os inibidores da a-glicosidase ini-
-prandiais de glicose. Contraindicado
bem as enzimas a-glicosidases pre-
durante a gravidez.
sentes na borda em escova do intes-
tino, responsáveis pela hidrólise de
amido e dissacarídeos em glicose, Miglitol
facilitando sua absorção. Desta for-
ma, esses medicamentos retardam a O miglitol é bem absorvido, mas não
digestão dos carboidratos, resultando possui efeitos sistêmicos. A terapia
em níveis glicêmicos pós-prandiais com miglitol é iniciada em uma dose
mais baixos. Os efeitos colaterais mais de 25 mg, três vezes ao dia. A dose
comuns são flatulência, diarreia e dor de manutenção habitual é de 50 mg,
abdominal, que resultam do apareci- três vezes ao dia, porém alguns pa-
mento de carboidratos não digeridos cientes podem necessitar de 100 mg,
no cólon, que são então fermentados três vezes ao dia. O fármaco não é
em ácidos graxos de cadeia curta, metabolizado, e é depurado pelo rim.
com liberação de gases. Esses efei- Não deve ser usado na presença de
tos colaterais tendem a diminuir com insuficiência renal.
o uso contínuo. Em monoterapia não
causam hipoglicemia. Promovem a
redução de 0,5 a 0,8% da HbA1c,
melhora perfil lipídico e provoca dimi-
nuição de eventos cardiovasculares.
Fazem parte dessa classe de fárma-
cos a acarbose e o miglitol.

Acarbose
A acarbose é pouco absorvida. Ela é
biotransformada primariamente pe-
las bactérias intestinais, e alguns dos
seus metabólitos são absorvidos e
excretados na urina. O tratamento
com acarbose é iniciado em uma dose
de 50 mg, duas vezes ao dia, com au-
mento gradual até 100 mg, três ve-
zes ao dia (dose máxima 300mg/dia).
Os comprimidos devem ser tomados
HIPOGLICEMIANTES 47

MAPA MENTAL: INIBIDORES DA ALFA-GLICOSIDASE

• Drogas que retardam absorção dos carboidratos


• Vantagens: melhora perfil lipídico e provoca diminuição de
eventos cardiovasculares
• Efeitos colaterais: flatulência, diarreia e dor abdominal.
• Redução da HbAc1 de 0,5 a 0,8%
• Uso: via oral

INIBIDORES
DA ALFA-
GLICOSIDASE

Miglitol Acarbose

Bem absorvido Pouco absorvida

Dose inicial: 50mg/ 3x ao dia


Dose inicial: 50 mg/2x
Dose máxima: 100mg/3x ao dia

Contraindicado em casos Dose máxima: 300mg/dia


de insuficiência renal 100mg/3x

Diminui 30 a 50% os níveis


pós-prandiais de glicose

Contraindicado na gravidez
HIPOGLICEMIANTES 48

Inibidores do cotransportador de e confusão mental, aumento do LDL,


sódio-glicose 2 (SGLT2) aumento transitório da creatinina e
cetoacidose diabética. Contraindica-
A glicose é filtrada pelos glomérulos
do em pacientes com disfunção renal
renais de forma livre, e sofre reabsor-
moderada a grave.
ção nos túbulos proximais pela ação
de transportadores de sódio-glicose A canagliflozina reduz os níveis de
2 (SGLT2). O SGLT2 é responsável HbA1c em 0,6 a 1%, quando usada
por 90% da reabsorção de glicose, como monoterapia ou em combina-
e a sua inibição provoca glicosúria, ção com outros agentes orais ou com
além de reduzir os níveis de glicose a insulina. Resulta também em uma
em pacientes com diabetes tipo 2. Os perda de peso modesta de 2 a 5 kg.
inibidores do SGLT2, a canagliflozina, A dose habitual é de 100 mg ao dia,
a dapagliflozina e a empagliflozina, com dose máxima de 300mg/dia.
foram aprovados para uso clínico. A A dapagliflozina reduz os níveis de
canagliflozina e a empagliflozina cau- HbA1c em 0,5 a 0,8% quando usada
sam uma elevação modesta nos ní- como monoterapia ou em combina-
veis de LDL colesterol (4 a 8%). Nos ção com outros agentes orais ou com
ensaios clínicos, pacientes em uso a insulina. Resulta também em uma
de dapagliflozina tiveram taxas mais perda de peso modesta de cerca de
elevadas de câncer de mama (nove 2 a 4 kg. A dose habitual é de 10 mg
casos versus nenhum caso nos ca- ao dia; todavia, recomenda-se inicial-
sos de comparação) e câncer vesical mente uma dose de 5 mg ao dia em
(nove casos versus um caso no pla- pacientes com insuficiência hepática.
cebo). Essas taxas de câncer exce-
A empagliflozina reduz os níveis de
deram as taxas esperadas em uma
HbA1c em 0,5 a 0,7% quando usada
população diabética de referência da
como monoterapia ou em combina-
mesma idade. As vantagens são a
ção com outros agentes orais ou com
rara hipoglicemia, redução do peso,
a insulina. Resulta também em uma
redução da pressão arterial, redução
perda modesta de peso de 2 a 3 kg. A
de eventos cardiovasculares e morta-
dose habitual é de 10 mg ao dia; en-
lidade em pacientes com doença car-
tretanto, pode-se usar uma dose de
diovascular. Como efeitos colaterais
25 mg/dia.
temos as infecções geniturinárias, po-
liúria, depleção de volume, hipotensão

SE LIGA! Os principais efeitos colaterais dos inibidores de SGLT2 consistem em incidência


aumentada de infecções genitais e infecções do trato urinário, por causa da glicosúria, provo-
cando uma mudança de pH na região geniturinária. Acometem cerca de 8 a 9% dos pacientes.
A diurese osmótica também pode causar contração do volume intravascular e hipotensão.]
HIPOGLICEMIANTES 49

MAPA MENTAL: INIBIDORES DO COTRANSPORTADOR DE SÓDIO-GLICOSE 2 (SGLT2)

• Inibidor de receptor SGLT2 impedindo a reabsorção de glicose


no túbulo proximal renal e promoção de glicosúria
• As vantagens são a rara hipoglicemia, redução do peso, redução
da pressão arterial, redução de eventos cardiovasculares e
mortalidade em pacientes com doença cardiovascular
• Efeitos colaterais: infecções geniturinárias, poliúria, depleção
de volume, hipotensão e confusão mental, aumento do LDL,
aumento transitório da creatinina e cetoacidose diabética
• Contraindicação: não deve ser usado em pacientes com
disfunção renal moderada a grave
• Uso: via oral
Redução do HbA1c Redução do HbA1c
em 0,5 a 0,7% em 0,6 a 1%

Perda de peso: 2 a 3kg INIBIDORES DO Perda de peso: 2 a 5 kg


COTRANSPORTADOR
Empagliflozina Canagliflozina
DE SÓDIO-GLICOSE 2
Terapia inicial: 10mg/dia (SGLT2) Terapia inicial: 100mg/dia

Dose máxima: 25mg/dia Dose máxima: 30mg/dia

Dapagliflozina

Redução do HbA1c
Dose: 5 a 10mg/dia.
em 0,5 a 0,8%

Insuficiência hepática:
Perda de peso: 2 a 4 kg
5mg/dia
HIPOGLICEMIANTES 50

MAPA MENTAL - RESUMO DO TEMA

Metformina: Desvantagens: hipoglicemia Desvantagens: hipoglicemia e


primeira opção!! e ganho de peso ganho de peso discreto Desvantagens: flatulência,
diarreia e dor abdominal
Redução da produção de Aumentam secreção
de insulina Aumentam a secreção de insulina
glicose no fígado e ação
sensibilizadora
da insulina Glicazida, Glibenclamida, Retarda absorção de
Glimeperida, Glipizida Repaglinida, Nateglinida carboidratos
Vantagem: redução da
HbA1c de 1,5-2%, perda Vantagem: redução da Redução da variabilidade da glicose
de peso, rara hipoglicemia, HbA1c de 1,5-2% pós-prandial (ação rápida)
Acarbose
melhora perfil lipídico, diminui Contraindicação: gravidez, Miglitol
evento cardiovascular insuf. renal, insuf. hepática Contraindicação: gravidez

Desvantagens: sintomas Redução da variabilidade


gastrointestinais, deficiência Sulfonilureias Metiglinidas da glicose pós-prandial,
vit. B12, acidose lática (rara) rara hipoglicemia

Contraindicação:
insuficiência renal, hepática, Inibidores da
Biguanidas Contraindicação: gravidez
cardíaca, pulmonar, gravidez, alfa-glicosidase
acidose grave

Desvantagens: Inibidores de
Glitazonas
reação alérgica e de DPP-4 Gliptinas
hipersensibilidade Pioglitazona
graves, pancreatite

Aumentam o nível de Análogos de GLP-1 Inibidores do SGLT2


GLP-1 que aumenta a Aumento da
secreção de insulina sensibilidade à insulina
Desvantagens: intolerância Desvantagens: infecções geniturinárias,
gastrointestinal, pancreatite depleção de volume com hipotensão,
Sitagliptina, Saxagliptina, confusão mental, cetoacidose diabética Vantagem: melhora do perfil
Aumentam o nível de GLP-1 que lipídico, rara hipoglicemia,
Linagliptina, Vildagliptinas aumenta a secreção de insulina redução da HBA1c 0,5-1,4%
Inibe reabsorção de
glicose pelos rins: glicosúria
Exenatida, liraglutida, Dulaglutina... Desvantagens: retenção
Vantagens: rara hipoglicemia, Dapagliflozina, Canagliflozina, hídrica, anemia, ganho
efeito neutro no peso Vantagens: redução de peso Empagliflozina ponderal, insuficiência,
e da PA, rara hipoglicemia cardíaca e fraturas
Vantagens: rara hipoglicemia,
Contraindicação: diminuição da PA e do peso Contraindicação: IC
hipersensibilidade Contraindicação: hipersensibilidade
aos componentes do aos componentes do medicamento Contraindicação: disfunção NYHA III e IV, insuficiência
medicamento renal moderada a grave hepática e gravidez
HIPOGLICEMIANTES 51

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFICAS
Brunton LL. As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman e Gilman. 12 ed. 2012
Clark AM et. Al. Farmacologia ilustrada, 5 ed. Porto Alegre, 2013
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2019-2020
Guyton and Hall. Tratado de fisiologia médica. Rio de janeiro, 2011.
Katzung BG e Trevor AJ. Farmacologia básica e clínica, 13. ed. Porto Alegre, 2017
Penildo Silva. Farmacologia 8 ed. Rio de janeiro, 2013
Ruth SW. Principios gerais da insulinoterapia no diabetes mellitus. Uptodate. 2020.
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