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DIREITO MÉDICO

ÍNDICE
1. A MEDICINA E O DIREITO..................................................................................................3
Qual a relação entre a Medicina e o Direito?.............................................................................................................. 3

2. EXERCÍCIO LEGAL E ILEGAL DA MEDICINA..................................................................4


Exercício Legal........................................................................................................................................................................4
Conselho Federal de Medicina (CFM) e Conselho Regional de Medicina (CRM)........................................4
Exercício Ilegal da Medicina.............................................................................................................................................. 5

3. CHARLATANISMO E CURANDEIRISMO......................................................................... 7
Charlatanismo.........................................................................................................................................................................7
Curandeirismo.........................................................................................................................................................................7

4. DIREITOS DO PACIENTE..................................................................................................9
Introdução................................................................................................................................................................................ 9
Direitos do Paciente........................................................................................................................................................... 10

5. DEVERES MÉDICOS........................................................................................................13
Introdução.............................................................................................................................................................................. 13
Dever de Informar............................................................................................................................................................... 13
Dever de Sigilo...................................................................................................................................................................... 14
Exceções ao Sigilo.............................................................................................................................................................. 15
Outros Deveres Médicos.................................................................................................................................................. 16

6. RESPONSABILIDADE CIVIL MÉDICA........................................................................... 17


Introdução...............................................................................................................................................................................17
Aspectos da Responsabilidade Civil...........................................................................................................................18
Relação Médico-Paciente...............................................................................................................................................18
Elementos da Responsabilidade Civil Subjetiva.................................................................................................... 19
Aplicabilidade do CDC: Pontos Positivos................................................................................................................. 20

7. RESPONSABILIDADE CIVIL INSTITUCIONAL - HOSPITAIS.................................... 22


Fundamentação Legal......................................................................................................................................................22
Responsabilidade Objetiva..............................................................................................................................................22
Hospitais Públicos..............................................................................................................................................................23

8. RESPONSABILIDADE CIVIL INSTITUCIONAL - OPERADORAS DE PLANO DE SAÚ-


DE E SEGURO DE SAÚDE.................................................................................................... 25
Introdução..............................................................................................................................................................................25
Responsabilidade Civil......................................................................................................................................................25

9. ÉTICA MÉDICA................................................................................................................ 26
Regulação da Ética no Exercício da Medicina........................................................................................................26
Competência........................................................................................................................................................................26
1. A Medicina e o Direito
Qual a relação entre a Medicina e o Direito?
Começando com um contexto histórico, é importante entender que a medicina esteve
presente na humanidade desde seus primórdios. A habilidade de curar dores e doenças era
considerada um poder divino, sem questionamentos sobre a atuação desses profissionais.
Por outro lado, algumas enfermidades eram vistas como diabólicas.

A consequência lógica dessa visão da medicina é a falta de participação do paciente nos seus
tratamentos. Como o médico era dotado de “poderes divinos”, o paciente não tinha como
questionar ou entender os procedimentos aplicados.

O marco de mudança nessa perspectiva foi o pensamento hipocrático. Hipócrates rejeitava


explicações supersticiosas e míticas para os problemas de saúde das pessoas. Iniciou-se
uma interpretação diferente da medicina, utilizando-se de teorias éticas ao invés de teorias
religiosas.

A evolução das técnicas e procedimentos aplicados na medicina afetou profundamente a


organização da sociedade, refletindo também no Direito. O primeiro ponto de contato entre as
duas ciências foi o Código de Hamurabi, que previa certas punições para as práticas médicas
que causassem danos ao enfermo.

A partir daí, a área jurídica se desenvolveu e evoluiu em torno das mudanças nos grupos
familiares e no Estado, trazendo consigo normas que tangem a Medicina em diferentes temas,
como programas de saúde pública, aprovação de medicamentos, regulação de tratamentos,
entre outros.

Reconhecendo a relevância da aplicação conjunta desses conhecimentos relacionados à


Medicina e ao Direito, foi criada uma nova ciência: a Medicina Legal. Esta ciência surge com o
objetivo de elucidar pontos relacionados a prática de Medicina e de Direito para os aplicadores
da lei.

Por fim, cumpre-nos responder a seguinte questão: o que é o Direito Médico?

É o ramo da ciência jurídica que trata de estudar as questões derivadas da relação médico-
paciente e suas extensões.

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2. Exercício Legal e Ilegal da Medicina
Exercício Legal
Quando falamos no exercício da medicina, estamos nos referindo a possibilidade de um
sujeito praticar os atos comuns ao aconselhamento, tratamento e acompanhamento médico
de um paciente.

A Medicina é um profissão regulada, ou seja, necessita de uma certificação específica para ser
exercida. O art. 5º da Constituição prevê esse tipo de regramento:

CF/88

Art. 5º. [...]

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais
que a lei estabelecer;

Portanto, o exercício da Medicina é condicionado à habilitação profissional e legal.

REQUISITOS
Começaremos a análise dos requisitos pela leitura de um trecho do preâmbulo do Código de
Ética Médica:

III - Para o exercício da medicina, impõe-se a inscrição no Conselho Regional do respectivo estado, território ou
Distrito Federal.

O profissional médico, portanto, deve cumprir com os dois tipos de habilitação:

• Habilitação Legal: Posse e registro de título idôneo nos ógãos competentes (CFM e CRM, por
exemplo);
• Habilitação Profissional: Doutrinamento em faculdade/escola devidamente reconhecida.

É considerado crime o exercício da Medicina sem o cumprimento dessas disposições legais.


Importante notar que essa norma não protege somente a classe médica, mas também a
saúde pública, evitando que uma pessoa não qualificada prejudique inocentes.

Conselho Federal de Medicina (CFM) e Conselho Regional de

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Medicina (CRM)
O CFM é um órgão que possui atribuições constitucionais de fiscalização e normatização da
prática médica em âmbito federal. De maneira semelhante, existem os conselhos regionais
de medicina (CRM), localizados nas capitais de cada Estado e no DF.

Entre os objetivos do CFM, destacam-se:

• A defesa da saúde;
• A defesa dos interesses da classe médica;
• A defesa de políticas de saúde dignas e competentes;
• A defesa de boas práticas médicas, do exercício profissional ético, da formação técnica e huma-
nista;
• A defesa do desempenho ético da medicina e do bom conceito da profissão.

Os CRM exercem as seguintes funções:

• Regulamentadora: emitir pareceres e resoluções;


• Fiscalizadora: verificar o cumprimento correto das condições de trabalho dos profissionais;
• Judiciante: julgar os processos ético-profissionais;
• Cartoral: registrar e expedir a carteira profissional.

Exercício Ilegal da Medicina


Trata-se do exercício deturpado da Medicina, a prática desprovida dos requisitos legais e
profissionais, com finalidades diversas. Esta prática é coibida tanto pelo Código de Ética,
como pelo Código Penal:

Código de Ética Médica - CFM

Capítulo I - Princípios Fundamentais

X - O trabalho do médico não pode ser explorado por terceiros com objetivos de lucro, finalidade política ou
religiosa.

Código Penal

Exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica

Art. 282 - Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem autorização
legal ou excedendo-lhe os limites:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Parágrafo único - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se também multa.

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ESTADO DE NECESSIDADE
A atuação ou o exercício de práticas médicas por acadêmicos de medicina e profissionais
com conhecimento médico-hospitalares em uma situação grave e urgente, onde exista o
iminente risco a vida, utilizando-se de uma conduta correta, não se caracteriza como
exercício ilegal da medicina

Segundo o Doutrinador Genival Veloso de França:

O que se procura impedir, pela sanção penal, no exercício ilegal da medicina, é que a saúde
pública venha a ser ameaçada por pessoas não qualificadas e incompetentes. (FRANÇA,
2020)

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3. Charlatanismo e Curandeirismo
Charlatanismo
Essa prática está tipificada no Código Penal e consiste na promessa milagrosa de cura
por algum meio secreto ou inovador sem qualquer base científica. É a utilização de meios
fraudulentos para exercer uma suposta cura ou tratamento.

Código Penal

Art. 283 - Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Tal conduta também é coibida através do regulamento da propaganda de profissionais da


saúde, visto que a propaganda cujo conteúdo seja essa cura milagrosa também incorre em
ilícito relacionado à prática médica.

Art. 1º É proibido aos médicos anunciar:

I - cura de determinadas doenças, para as quais não haja tratamento próprio, segundo os atuais conhecimentos
científicos;

X - atestados de cura de determinadas doenças, para as quais não haja tratamento estabelecido, por meio de
preparados farmacêuticos.

Vale ressaltar que este crime é privativo da classe médica, ou seja, o sujeito ativo (agente) só
pode ser um profissional da medicina. Qualquer conduta semelhante que seja praticada por
pessoa leiga se enquadra no exercício ilegal da medicina ou no curandeirismo.

Curandeirismo
Neste tipo penal, o sujeito que não é dotado de conhecimentos médicos assume a posição
de consultor e conselheiro, fazendo diagnósticos e prescrevendo substâncias habitualmente,
garantindo uma eficácia do tratamento ou a cura do paciente.

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Art. 284 - Exercer o curandeirismo:

I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância;

II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;

III - fazendo diagnósticos:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Parágrafo único - Se o crime é praticado mediante remuneração, o agente fica também sujeito à multa.

Perceba que esta conduta se diferencia do exercício ilegal da medicina porque o curandeiro
(agente) não se passa por médico: ele se coloca numa função de cura e tratamento, sem, no
entanto, afirmar que é um profissional da medicina.

No exercício ilegal da medicina o agente se porta como médico, aparece para a sociedade
como tal.

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4. Direitos do Paciente
Introdução
Com a evolução da tecnologia, os pacientes obtiveram mais acesso a informações sobre
doenças e métodos de tratamento, começando a participar mais ativamente das decisões.
Isso tem ligação direta com o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, previsto na
Constituição Federal:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

III - a dignidade da pessoa humana;

Para fazer valer essa ideia de dignidade, foram criados parâmetros e normas éticas para a
atuação dos médicos, valorizando a qualificação e o profissionalismo. Um marco importante
na área de Direito Médico ocorreu nos EUA, com a criação do Comitê Médico dos Direitos
Humanos.

Esse comitê tinha como principal objetivo efetivar a participação dos pacientes em sua
assistência médica. A partir daí surgiram projetos específicos para garantir os direitos do
paciente, como o Serviço Legal de Assistência aos Pacientes e o Projeto de Libertação dos
Pacientes Mentais.

Também em terras estadunidenses, foi criada a Associação de hospitais Americanos, que foi
responsável por divulgar a Carta de Direito dos Pacientes. Neste diploma, encontram-se as
seguintes garantias:

• Informação detalhada;
• Direito de recusar o tratamento, obedecendo os limites legais;
• Detalhamento que facilite a tomada de decisões pelo paciente;
• Descrição absoluta sobre o tratamento;
• Sigilo ou omissão dos registros médicos de sua doença;
• Opção de não continuidade de terapêuticas nos casos que forem considerados incuráveis e/ou de
penoso sofrimento;
• Informações completas a família nos casos considerados mais dramáticos.

Importante entender que a Carta não esgota os direitos do paciente, mas orienta
principiologicamente quais devem ser as garantias prestadas pelos profissionais da medicina.

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Direitos do Paciente
Vamos passar agora ao estudo mais específico dos direitos do paciente, adotados no Brasil
seguindo a tendência iniciada nos Estados Unidos.

DIREITO DE SABER A VERDADE


É o direito do paciente de saber todas as informações verídicas sobre a sua situação, sendo
vedado ao médico, portanto, omitir dados. Excetuam-se os casos em que a informação direta
cause danos ao paciente.

Este direito está concretizado no Código de Ética Médica (CEM):

É vedado ao médico:

Art. 34. Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento,
salvo quando a comunicação direta possa lhe provocar dano, devendo, nesse caso, fazer a comunicação
a seu representante legal.

Além disso, o médico deve se certificar de que todas as informações prestadas ao paciente
foram devidamente compreendidas, usando uma linguagem compreensível e acessível em
sua comunicação.

DIREITO DE NÃO SABER


Seguindo a ideia de respeitar a vontade do paciente, quando este manifestar expressamente
sua intenção de não saber as informações, ele pode escolher um representante legal para
que tais informações sejam repassadas.

Veja, o médico não deixa de informar seus diagnósticos e as informações sobre o paciente;
ele apenas o faz na figura do representante legal em decorrência de um pedido expresso do
paciente.

Isso pode ocorrer, como mencionado anteriormente, quando o médico notar que a entrega
das informações diretamente ao paciente puder lhe causar danos.

DIREITO AO “ATO MÉDICO A PEDIDO”


Esse direito tem ligação direta com o princípio da autonomia da vontade. Trata-se do direito de
manifestar a vontade sobre o tratamento a ser aplicado, devendo ser respeitado pelo médico,
salvo em caso de risco iminente de morte.

Para o exercício de tal direito, entende-se que o paciente deve ser pessoa capaz, com
capacidade de discernimento.

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O médico tem a função de apresentar o diagnóstico correto, os tratamentos existentes e
os riscos de cada terapêutica, assim como os efeitos colateriais, se existirem. Importante
notar que o médico não pode coagir o paciente a realizar determinado tratamento, apenas
apresentar as opções.

Todas as informações devem ser expostas de forma compreensível e devem ser documentadas,
conferindo maior segurança jurídica aos atos médicos.

CEM

É vedado ao médico:

Art. 31. Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução
de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte.

Um tema interessante e que é alvo de debate no âmbito do direito ao ato médico a pedido,
é a realização de cesariana. As recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) vão
no sentido de priorizar o parto normal/natural, visto que este é menos invasivo e prejudicial
à mulher.

Considerando esta orientação e observando a realidade médica brasileira, o Conselho Federal


de Medicina expediu a Resolução 2.144/16, nos seguintes termos:

É ético o médico atender à vontade da gestante de realizar parto cesariano, garantida a autonomia do
médico, da paciente e a segurança do binômio materno fetal.

[...]

CONSIDERANDO que no processo de tomada de decisões profissionais, de acordo com os ditames da sua
consciência e as previsões legais, o médico deve aceitar as escolhas de seus pacientes relativas aos
procedimentos diagnósticos e terapêuticos por eles expressos, desde que adequadas ao caso e
cientificamente reconhecidas;

CONSIDERANDO que o médico pode alegar autonomia profissional e se recusar a praticar atos médicos com
os quais não concorda, ressalvados os casos de risco de morte do paciente, devendo sempre que possível
encaminhá-lo para outro colega.

CONSIDERANDO que é vedado ao médico deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos
e os objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta possa lhe provocar dano, devendo, nesse
caso, fazer a comunicação a seu representante legal (Art. 34 do CEM);

Neste tópico, podemos concluir que o CFM garante o direito da paciente de optar pela
cesariana, desde que não haja risco de morte. Os profissionais da medicina são orientados
a apresentar as opções e seus riscos, deixando a paciente escolher como deve ser feito o
procedimento final de sua gestação.

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DIREITO À JUSTIÇA
Trata-se da possibilidade de judicialização de eventuais conflitos relacionados à prática
médica, pertinentes aos direitos comentados nesta aula. Está previsto na Constituição
Federal dentro do rol de Direitos e Garantias Individuais:

Art. 5º [...]

XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:

a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;

Além dos direitos específicos relacionados à medicina, existe o direito básico à saúde, também
garantido pela Constituição:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que
visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços
para sua promoção, proteção e recuperação.

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5. Deveres Médicos
Introdução
A garantia de determinados direitos aos pacientes gera automaticamente um rol de deveres
para os médicos. Dentre essas obrigações, estão o dever de informar e o dever de sigilo,
enquadrados como os dois pilares da atuação médica diante do paciente.

Dever de Informar
É dever do médico prestar todas as informações necessárias, de maneira clara e coerente, de
forma que todas as dúvidas do paciente possam ser esclarecidas e, a partir desse momento,
possa exercer a sua autonomia de vontade de forma segura e devidamente consentida.

Esse dever decorre da garantia de dois princípios: dignidade da pessoa humana (art. 1º, III,
CF) e autonomia da vontade (art. 31, CEM).

É importante que o profissional informe corretamente o paciente sobre sua condição e as


possibilidades de tratamento porque é isso que permite que o paciente escolha livremente o
que será realizado em prol de sua saúde. O descumprimento deste dever pelo médico gera
responsabilidade disciplinar e civil, visto que a necessidade de informação adequada está
presente no CEM e no CDC:

CEM

É vedado ao médico:

Art. 24. Deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de decidir livremente sobre sua pessoa ou seu
bem-estar, bem como exercer sua autoridade para limitá-lo.

Art. 34. Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento,
salvo quando a comunicação direta possa lhe provocar dano, devendo, nesse caso, fazer a comunicação a seu
representante legal.

CDC

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de
quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que
apresentem;

Ao informar o paciente, o médico deve ser preciso, evitando exageros no diagnóstico ou


prognóstico - essa é considerada informação de qualidade. Além disso, pensando no melhor
para o paciente, o médico não pode complicar as terapias (ou tratamentos) nem se exceder
no número de visitas e consultas, realizando procedimentos desnecessários. Trata-se do
chamado “Equilíbrio das Informações Médicas”.

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CEM

Art. 35. Exagerar a gravidade do diagnóstico ou do prognóstico, complicar a terapêutica ou exceder-se no


número de visitas, consultas ou quaisquer outros procedimentos médicos.

Resta, ainda, tratar dos casos em que o paciente se encontra em situação que necessite de
procedimentos complexos ou que possam gerar consequências raras. Sobre este ponto, o
CFM e o poder judiciário divergem.

Enquanto o judiciário entende que todas as informações devem ser fornecidas ao paciente,
independentemente da incidência dos eventos, o CFM interpreta que a disposição de
todas as informações de procedimentos complexos pode tornar a comunicação e o
documento (prontuário) muito prolixo e pouco acessível, contrariando a própria ideia de
informar o paciente.

Tal entendimento está presente na Recomendação nº 1 de 2016:

9.1.3. O que devem conter o termo de consentimento e o termo de assentimento livre e esclarecido?

[...]

Em procedimentos complexos, o oferecimento de todas as informações pode tornar o documento excessivamente


prolixo e caracterizar a situação de “saturação informativa”. Uma alternativa é oferecer ao paciente as informações
necessárias para contemplar o máximo de situações possível, e, para as intercorrências extremamente raras,
pode solicitar-lhe no próprio termo se deseja recebê-las. Caso o paciente deseje, recomenda-se dar-lhe os
meios de acesso.

Dever de Sigilo
Cabe ao médico guardar sigilo de todas as informações que tiver tomado conhecimento em
virtude do exercício da sua profissão, salvo as exceções.

Mais uma vez temos um dever médico intimamente ligado a uma previsão constiucional de
garantia de direitos fundamentais:

CF/88

Art. 5º [...]

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

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A violação desse dever de sigilo pelo médico acarreta consequências no âmbito civil e penal,
como é possível notar:

Código Penal

Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício
ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem.

CEM

Princípios Fundamentais

XI - O médico guardará sigilo a respeito das informações de que detenha conhecimento no desempenho de
suas funções, com exceção dos casos previstos em lei.

É vedado ao médico:

Art. 73. Revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua profissão, salvo por motivo
justo, dever legal ou consentimento, por escrito, do paciente.

Parágrafo único. Permanece essa proibição: a) mesmo que o fato seja de conhecimento público ou o paciente
tenha falecido; b) quando de seu depoimento como testemunha. Nessa hipótese, o médico comparecerá
perante a autoridade e declarará seu impedimento; c) na investigação de suspeita de crime, o médico estará
impedido de revelar segredo que possa expor o paciente a processo penal.

Exceções ao Sigilo
Existem situações em que o médico pode se escusar do dever de sigilo. Entende-se que a
falta de notificação ou informação sobre a situação do paciente pode ser mais prejudicial do
que o seu sigilo.

DEVER LEGAL
Nos casos em que é imposto ao médico a notificação compulsória para determinadas
doenças, não há que se falar em violação do dever de sigilo, visto que é a própria norma que
impõe essa conduta ao médico.

CONSENTIMENTO DO PACIENTE
Quando o paciente, por escrito, concordar expressamente com a divulgação das informações.
Ocorre nos casos de personalidades públicas, que autorizam a emissão de um Boletim Médico
em coletiva de imprensa para atualizar a sociedade sobre o seu estado de saúde.

Atenção: o paciente pode limitar o tipo de informação que será repassada através da im-
prensa!

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MOTIVO JUSTO
A depender do caso concreto, é possível que se constate uma motivação justa para a quebra
do dever de sigilo, extinguindo a possibilidade de punição do profissional médico.

Um exemplo de motivo justo é a legítima defesa em um processo no qual foi demandado,


com acusações sobre o procedimento adotado. Nesta situação, o médico pode revelar as
informações que eram sigilosas para comprovar a sua inocência com relação àquela acusação.

Outros Deveres Médicos


DEVER DE ATUALIZAÇÃO
O médico deve sempre se manter atualizado às pesquisas e terapêuticas disponíveis. Isso
permite que o profissional consiga utilizar métodos mais eficazes e menos danosos ao
paciente.

DEVER DE VIGILÂNCIA E DE CUIDADOS


O médico não pode abandonar o paciente e deve manter-se sempre vigilante quando o
paciente estiver sob tratamento.

DEVER DE ABSTENÇÃO DE ABUSO


O médico deve se embasar na ciência e nas técnicas comprovadamente eficazes, evitando
abusos decorrentes de métodos não aprovados.

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6. Responsabilidade Civil Médica
Introdução
Iniciamos o assunto de responsabilidade civil pela compreensão desse instituto. A
responsabilidade civil traz a ideia de restauração de equilíbrio ou de reparação de dano, em
decorrência de uma atividade que gera prejuízo. O responsável, portanto, seria a pessoa que,
por ter transgredido uma norma, sujeita-se às consequências da sua conduta, podendo ser
compelido a restaurar o “status quo ante” (estado anterior das coisas).

Portanto, a responsabilidade civil médica é a necessidade de reparação dos danos causados


pelos profissionais da medicina no exercício de suas funções. Este instituto tem previsão no
código civil:

Definição de ato ilícito

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano
a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Responsabilidade Civil

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados
em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco
para os direitos de outrem.

A existência de responsabilização cível pelos atos praticados não impede consequências


nas esferas penal e administrativa, visto que todas são esferas autônomas e independentes.
Podemos classificar as diferentes formas de responsabilidade da seguinte forma:

• Civil: Ressarcimento de ordem financeira (indenização pecuniária) ao que sofreu o dano ensejado
pela prática de um ato ilícito, conforme definição do Código Civil;
• Penal: Possibilidade de limitação do direito de liberdade, ensejada pela prática de um delito;
• Administrativa: Restrição de ordem profissional, normalmente fundamentada no Código de Ética
Médica.

Resumidamente, a responsabilidade civil médica segue a máxima do direito de que, quem


causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

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Aspectos da Responsabilidade Civil
Faz-se necessário o entendimento das diferentes fontes de responsabilidade civil e a forma
de incidência das obrigações. Quanto à origem da responsabilidade, ela pode ser:

• Contratual ou Negocial: Deriva de uma quebra contratual que criava uma obrigação entre as
partes (ex: contrato entre médico e paciente);
• Extracontratual ou Aquiliana: Violação à ordem jurídica, ou seja, a algum princípio do Direito.
Deriva de uma relação espontânea do cotidiano onde existia o dever de não causar danos a outrem.

Via de regra, a responsabilidade é subjetiva, ou seja, deve-se provar elementos relacionados


ao sujeito para caracterizar o dano. Tais elementos são o dolo e a culpa:

• Dolo: Intenção, vontade, propósito de realizar uma determinada conduta e obter um certo resulta-
do;
• Culpa: Negligência, imprudência ou imperícia na realização dos atos.

Excetuam-se desta regra os casos de responsabilidade objetiva, previstos em lei ou referentes


à atividades que geram risco por sua natureza (vide art. 927, § ún. CC/02).

O ônus da prova é, em regra, da pessoa que sofre o dano. Porém, nas relações de consumo
esse ônus pode ser invertido, nos moldes do CDC.

Relação Médico-Paciente
No âmbito da responsabilidade civil, a relação entre médico e paciente se enquadra na área
do Dirieto do Consumidor, sendo regulada pelo CDC.

O Código de Ética Médica (CEM), porém, dispõe o contrário:

XX - A natureza personalíssima da atuação profissional do médico não caracteriza relação de consumo.

Na prática, aplicam-se as normas tanto do Código Civil quanto do CDC, para regular de forma
mais efetiva os direitos e deveres entre médico e paciente.

ATIVIDADE DE RISCO
Para efeitos de caracterização da responsabilidade civil, entende-se que a atividade médica,
por si só, não gera risco aos direitos de outrem - não se enquadra, portanto, na hipótese de
responsabilidade objetiva que tratamos anteriormente.

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Existe um debate acerca da atuação médica nas cirurgias plásticas/estéticas, visto que
o “cliente” não estava em situação de risco até realizar o procedimento cirúrgico. Até o
momento a questão não foi pacificada e, portanto, aplica-se o mesmo entendimento
das demais atividades.

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR


No âmbito consumerista, a atividade médica pode ser caracterizada como uma prestação de
serviços de saúde, onde o médico é o fornecedor e o paciente é o consumidor. A partir daí,
é possível traçar um paralelo entre essa relação médico-paciente e a responsabilidade civil
contida no art. 14:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos
danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.

Logo, podemos concluir que a regra das relações de consumo é a responsabilidade objetiva,
mas pela natureza específica da atividade médica (profissão liberal) faz-se necessária a
constatação de culpa (negligência, imprudência ou imperícia).

Elementos da Responsabilidade Civil Subjetiva


A responsabilidade subjetiva segue uma “linha do tempo”, precisando de certos elementos
para se caracterizar. De forma resumida, é necessário que exista:
1. Autor (médico);
2. Ato/Conduta: Ação ou Omissão que produz efeito jurídico na relação;
3. Culpa;
4. Dano: prejuízo moral, estético ou material ensejado pela conduta ilícita profissional;
5. Nexo Causal: ligação de causa-consequência entre o ato praticado e o dano percebi-
do.
Veja que a falta de comprovação de culpa afasta a existência de ato ilícito (vide art. 186 CC/02)
e, consequentemente, de responsabilidade.

ELEMENTOS DA CULPA
A culpa é caracterizada pelos três elementos já indicados em aula. Vamos nos aprofundar
nesse aspecto:

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• Imprudência: Autor (médico) age além do que lhe é permitido ou sem o devido cuidado, sabendo
da possibilidade de causar danos. Ex: prescrição de medicamento além da dosagem adequada;
• Negligência: Autor (médico) não toma os cuidados e conhecimentos mínimos necessários para
oe exercício da profissão. Ex: falta de examinação do paciente antes do início de um tratamento ou
terapia;
• Imperícia: Autor (médico) não possui os conhecimentos e técnicas necessárias para o exercício da
função específica a qual se propõe a cumprir. Ex: médico que atua em especialidade diversa da sua.

Aplicabilidade do CDC: Pontos Positivos


INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA
Assim como mencionado anteriormente, o CDC é aplicável em alguns aspectos na relação
médico-paciente. Dentre as normas do Código, a que representa um ponto muito importante
é a regra de inversão do ônus da prova:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo
civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências;

Cabe destacar que a hipossuficiência tratada no artigo não se refere às condições financeiras
do paciente, mas sim às condições técnicas do consumidor. O ônus da prova é invertido de
acordo com o caso concreto porque o paciente, por vezes, não tem como acessar documentos,
obter informações ou realizar diligências necessárias à comprovação dos elementos da culpa.

Trata-se de uma forma de equilibrar a relação entre fornecedor (médico) e consumidor


(paciente). Por esse motivo não é sempre aplicável, visto que pode ocorrer de o paciente ter o
conhecimento necessário para produzir a prova (ex: médico que sofre dano de outro médico).

PRESCRIÇÃO
Outra vantagem para o paciente na aplicação do CDC é o maior prazo prescricional para a
propositura da ação, visto que o CC/02 prevê 3 anos a partir do ato ilícito e o CDC estabelece
5 anos de prazo.

EXCLUDENTES DE ILICITUDE
O art. 14 também prevê situações em que o fornecedor não será responsabilizado:

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§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:

I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Na relação médica a culpa exclusiva do consumidor se caracteriza pelo desleixo em seguir


as recomendações e orientações médicas, por exemplo, no período pós-operatório ou no
decorrer de um tratamento.

Vale lembrar que aplicam-se as excludentes do CDC e do CC/02, quais sejam:


1. Legítima defesa;
2. Estado de necessidade;
3. Exercício regular de um direito;
4. Estrito cumprimento do dever legal;
5. Caso fortuito;
6. Força maior;
7. Culpa exclusiva da vítima;
8. Culpa exclusiva de terceiro;

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7. Responsabilidade Civil Institucional - Hospitais
Fundamentação Legal
A responsabilidade civil institucional dos hospitais decorre do Código Civil, no trecho que
trata da reparação ao ato ilícito:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano
a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados
em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco
para os direitos de outrem.

Responsabilidade Objetiva
Podemos observar que a responsabilidade dos hospitais independe de culpa por existir
previsão legal expressa da objetividade na reparação dos danos. Essa previsão se encontra
no Código de Defesa do Consumidor, que abrange os hospitais enquanto fornecedores de
serviços e elenca a responsabilidade objetiva dos fornecedores em caso de vício ou fato dos
serviços prestados.

Vejamos o artigo que abarca os hospitais enquanto fornecedores:

CDC

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como
os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de


natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Os hospitais podem ser considerados fornecedores de serviços de saúde. Sua responsabilidade


objetiva decorre do art. 14 do mesmo código:

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Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos
danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se
em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - o modo de seu fornecimento;

II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III - a época em que foi fornecido.

Portanto, não há necessidade de apuração de negligência, imprudência ou imperícia para


que se configure o dever de indenizar. Basta que exista nexo de causalidade entre o ato do
hospital e o dano percebido pelo paciente.

Lembrando: nexo de causalidade é a relação de causa e consequência entre a atuação de


um sujeito X e o fato/acontecimento que afeta o sujeito Y.

Hospitais Públicos
A leitura dos artigos do CDC pode ocasionar uma dúvida quanto à configuração dos hospitais
públicos como fornecedores e, consequentemente, sobre sua responsabilidade civil.

Isso ocorre porque o SUS é entendido como um sistema de prestação de serviços, porém não
há o elemento remuneratório presente nos hospitais particulares.

Foram proferidas algumas decisões no sentido de que o CDC não deve ser aplicado ao SUS:

• Agravo de Instrumento 1.502.281-8 - Arapongas/PR;


• AgRg no REsp 1471694/MG. Rel. Min. Mauro Campbell.

O entendimento fixado pelo STF em sede de repercussão geral (nº 940) é o seguinte:

A teor do disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, a ação por danos causados por agente público deve
ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço público, sendo parte
ilegítima para a ação o autor do ato, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo
ou culpa.

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Portanto, aos hospitais públicos não se aplica o CDC, mas a responsabilidade por danos
causados é objetiva (seguindo a ideia de responsabilidade objetiva da Administração Pública).

Existe um projeto de lei - PL 2314/15 - para alterar o artigo 3º e inserir a “remuneração direta
ou indireta” na caracterização dos fornecedores de serviços, visto que o SUS é remunerado
indiretamente.

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8. Responsabilidade Civil Institucional - Operadoras de
Plano de Saúde e Seguro de Saúde
Introdução
As operadoras dos planos de saúde e de seguro de saúde são reguladas pela Lei 9.656/98.
Nesta lei estão contidas algumas normas acerca do dever de reparação por danos, mas antes
de entrar no tópico da responsabilidade civil, é preciso entender o funcionamento dos seguros
privados de assistência à saúde.

O contrato de seguro saúde funciona da seguinte forma: a operadora se compromete a fazer


o reembolso ao segurado do custo de procedimentos médicos, realizados por profissionais
(médico ou hospital) livremente escolhidos pelo paciente. Logo, o segurado verifica suas
necessidades, escolhe o atendimento que será feito e, só então, recebe a cobertura do seguro
de saúde, nos termos do contrato assinado.

Aqui, já podemos notar que não existe responsabilidade da seguradora no que tange à escolha
do médico ou instituição para realizar os procedimentos adequados.

Por outro lado, nos contratos de plano de saúde os hospitais e os médicos são referenciados
ou seja, o paciente/cliente deve escolher dentre as opções fornecidas pelo operador. Neste
caso temos uma relação direta da operadora com a escolha, já que é de sua responsabilidade
o credenciamento e disponibilização da rede de atendimento.

Responsabilidade Civil
Podemos notar que os contratos de seguro-saúde não geram responsabilidade objetiva da
seguradora por erro médico, mas que tal responsabilidade existe nos contratos de planos de
saúde. A diferença essencial desses contratos pode ser resumida da seguinte forma:

• Seguro-saúde: livre escolha e reembolso são regra;


• Plano de saúde: livre escolha e reembolso são exceção.

No REsp 866.371, o STJ firmou a tese de que “se o contrato entre a operadora e o paciente
for de seguro-saúde não há que se falar em responsabilidade da seguradora, não devendo
compor o polo passivo da ação”.

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9. Ética Médica
Regulação da Ética no Exercício da Medicina
O exercício adequado da medicina, como abordamos anteriormente, é regulado pelo Código
de Ética Médica.

Apesar da denominação, é importante frisar que o CEM é uma Resolução do CFM, não um
diploma legislativo propriamente dito (aprovado pelas casas legislativas, etc.).

Interessante notar também que o CEM se aplica aos profissionais no exercício de funções
acadêmicas, como o ensino e a pesquisa:

Preâmbulo

I – O presente Código de Ética Médica contém as normas que devem ser seguidas pelos médicos no exercício de
sua profissão, inclusive no exercício de atividades relativas ao ensino, à pesquisa e à administração de serviços
de saúde, bem como no exercício de quaisquer outras atividades em que se utilize o conhecimento advindo do
estudo da Medicina.

Competência

Lei 3.268/57

Art . 2º O conselho Federal e os Conselhos Regionais de Medicina são os órgãos supervisores da ética profissional
em tôda a República e ao mesmo tempo, julgadores e disciplinadores da classe médica, cabendo-lhes zelar e
trabalhar por todos os meios ao seu alcance, pelo perfeito desempenho ético da medicina e pelo prestígio e bom
conceito da profissão e dos que a exerçam legalmente.

Os conselhos de medicina (tanto federal, quanto os regionais) possuem as atribuições


fiscalizatórias e disciplinadoras acumuladas com a necessidade de proferir as normas.
Portanto, os conselhos exercem um papel de extrema importânica em garantir a ética, o
profissionalismo e a qualidade do serviço prestado desde a formação de novos médicos até
a atuação nas mais diversas áreas.

Quanto às sanções disciplinares, o CEM prevê determinadas penas aos médicos infratores
das normas deontológicas contidas em seu texto:

Preâmbulo

VI - Este Código de Ética Médica é composto de 25 princípios fundamentais do exercício da Medicina, 10 normas
diceológicas, 118 normas deontológicas e quatro disposições gerais. A transgressão das normas deontológicas
sujeitará os infratores às penas disciplinares previstas em lei.

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Normas deontológicas são aquelas relacionadas aos deveres do médico. Portanto, a
transgressão de deveres leva às sanções disciplinares previstas na Lei 3.268/57, sem prejuízo
de responsabilização civil e penal, como já estudamos.

Lei 3.268/57

Art . 22. As penas disciplinares aplicáveis pelos Conselhos Regionais aos seus membros são as seguintes:

a) advertência confidencial em aviso reservado;

b) censura confidencial em aviso reservado;

c) censura pública em publicação oficial;

d) suspensão do exercício profissional até 30 (trinta) dias;

e) cassação do exercício profissional, ad referendum do Conselho Federal.

§ 1º Salvo os casos de gravidade manifesta que exijam aplicação imediata da penalidade mais grave a imposição
das penas obedecerá à gradação dêste artigo.

§ 2º Em matéria disciplinar, o Conselho Regional deliberará de oficial ou em conseqüência de representação de


autoridade, de qualquer membro, ou de pessoa estranha ao Conselho, interessada no caso.

§ 3º A deliberação do Comércio precederá, sempre, audiência do acusado, sendo-lhe dado defensor no caso de
não ser encontrado, ou fôr revel.

§ 4º Da imposição de qualquer penalidade caberá recurso, no prazo de 30 (trinta) dias, contados da ciência, para
o Conselho Federal, sem efeito suspenso salvo os casos das alíneas c , e e f , em que o efeito será suspensivo.

§ 5º Além do recurso previsto no parágrafo anterior, não caberá qualquer outro de natureza administrativa, salvo
aos interessados a via judiciária para as ações que fôrem devidas.

§ 6º As denúncias contra membros dos Conselhos Regionais só serão recebidas quando devidamente assinadas
e acompanhadas da indicação de elementos comprobatórios do alegado.

Nos casos de pessoas jurídicas prestadoras de serviços médicos, possuem como seu
responsável o diretor técnico ou clínico. Tais diretores têm suas responsabilidades, atribuições
e direitos estabelecidos na Resolução 2.174/16 do CFM.

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Direito Médico

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