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PARECER Nº 2406/2013 CRM-PR

PROCESSO CONSULTA N.º 01/2013 – PROTOCOLO N. º 27768/2012


ASSUNTO: FISIOTERAPEUTA NOMEADO COMO PERITO POR JÚIZ/
RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL
PARECERISTA: CONS.ª KETI STYLIANOS PATSIS

EMENTA: Fisioterapeuta nomeado como


perito por juiz/ responsabilidade profissional

CONSULTA

Em e-mail encaminhado a este Conselho Regional de Medicina, o Dr. XX, formula


consulta com o seguinte teor:
“Objetiva a presente solucionar algumas dúvidas que tem preocupado alguns
colegas pós-graduados em Perícia Médica atuantes no município de XX - Pr.
A Perícia Médica, desde há algum tempo, foi reconhecida pelo CFM como Área de
Atuação médica, o que não ilide a possibilidade de qualquer profissional médico realizá-la quando
devidamente nomeado pelo Juízo.
A dúvida que se nos apresenta decorre de termos sido consultados por um colega
que foi nomeado assistente técnico e o perito nomeado para o caso não é um médico mas, sim,
uma fisioterapeuta.
O Juízo nominante é a Vara do Trabalho de XX e o laudo apresentado, denominado
pela Sra. Perita como laudo técnico pericial, investiga patologia específica denominada Síndrome
do Túnel do Carpo em trabalhador de uma empresa de ônibus local.
O laudo da Sra. Perita é vasto e prolixo demonstrando pouca objetividade quanto aos
exames específicos para a doença em comento. As respostas aos quesitos remetem, na sua
grande maioria, ao laudo pericial sem haver respostas objetivas. Muitas das respostas que não
remetem ao laudo pericial são respondidas lacônica (sim ou não) sem qualquer justificativa da
resposta. A conclusão da Sra. Perita para o caso em apreço é que o tratamento recomendado
seria fisioterapia por um período de nove meses não comentando a necessidade de tratamento
cirúrgico visto o quadro clínico não ser responsivo a tal tratamento que já está sendo efetuado.
Entende-se que os senhores, por não terem maiores e melhores dados sobre o caso
em apreço poderão não emitir juízo de valor quanto a esse laudo entretanto apresento alguns
questionamentos que, a seu critério, gostaria de ter resposta abalizada.
1) Em sendo a Perícia Médica reconhecida como área de atuação do médico,
questiono: pode a perícia, no caso em apreço, tratando-se de patologia cujo diagnóstico e
tratamento é prerrogativa determinada ao médico, ser realizada por profissional fisioterapeuta?
2) Pode um profissional dessa área da saúde anunciar que sua empresa realiza
laudos técnicos periciais, inclusive laudos tidos como prerrogativa de profissional com
especialidade em Medicina do Trabalho?
3) A realização de ato pericial na área médica (para diagnóstico de doença
ocupacional ou do trabalho) constitui exercício ilegal da profissão médica?
4) O CRM do Paraná pode referendar que profissionais da área da fisioterapia
façam perícias para a Justiça do Trabalho com o mesmo grau de acuracidade ou maior que o
profissional médico?
5) Sabendo-se que o profissional médico, devidamente inscrito no CRM do seu
Estado pode realizar perícias médicas sem qualquer constrangimento ou afrontamento ao Código
de Ética Médica devendo obedecê-lo no concernente aos artigos correspondentes, pergunta-se se
o profissional da fisioterapia também tem essa prerrogativa?
6) O laudo técnico apresentado pela Sra. Perita (fisioterapeuta) substitui
tecnicamente, com a mesma qualidade, o laudo médico pericial, realizada por especialista na área
de ortopedia, no caso de Síndrome do Túnel do Carpo?”

FUNDAMENTAÇÃO E PARECER

Com o objetivo de responder às indagações a respeito da participação de


profissionais não médicos como peritos, em perícias envolvendo doenças e suas causas, é
preciso esclarecer que:
I) A verificação de nexo de causalidade entre um quadro clínico e uma atividade -
seja ela laborativa, ou não - ou ainda a verificação de um dano - físico e/ou psíquico - bem como a
valoração dos danos à saúde e à integridade das pessoas são atos de prerrogativa exclusiva de
médicos, pois se trata do estabelecimento de um diagnóstico e de sua causa (diagnóstico
etiológico).
II) Como se sabe, o estabelecimento de diagnósticos, assim como a prescrição de
tratamentos, são prerrogativas exclusivas da profissão médica, uma vez que apenas a formação e
o treinamento médicos são voltados para isto.
III) Para o perfeito estabelecimento do diagnóstico, pode o médico apoiar-se em
exames complementares, pareceres de outros médicos, bem como de outros profissionais de
saúde, nas suas áreas de competência e atuação profissional específica. Saliente-se, no entanto,
que tais participações devem ser entendidas como auxiliares e subsidiárias ao ato médico, não
podendo, por si só, avocar-se como tal;
IV) Aos profissionais de outras áreas da saúde, não-médicos, não é defeso
estabelecer diagnóstico de doença ou a prescrição de tratamento médico, assim como não lhes é
de competência estabelecer nexo de causalidade entre doença e atividade, ou entre doença/lesão
e morte, ou ainda doença ou seqüela de acidente e invalidez física ou mental, doença ou
acidente/lesão e seqüelas ou danos temporários ou permanentes, bem como estabelecer nexo de
relação entre doença ou lesão e desempenho de atividade e risco de agravamento ou de vida,
para o trabalhador ou para terceiros.
A atividade pericial em Juízo destina-se a informar/auxiliar a autoridade judicial em
matéria que não seja de sua competência ou de seu pleno conhecimento, e quando o tema da
perícia envolver doença, lesão, ou seus tratamentos fica caracterizada a perícia médica.
V) A atividade de Perícia Médica, exercida em diversas instâncias além daquela em
Juízo, foi reconhecida em 2011, como Especialidade Médica pela Associação Médica Brasileira,
que estabeleceu os critérios de formação específica do médico perito, bem como da certificação
do especialista;
VI) Saliente-se que a atividade médica em perícia médica já é regulamentada,
quanto aos seus aspectos éticos e de exercício profissional, por diversas Resoluções e Pareceres
do Conselho Federal de Medicina, onde estão dispostas sua vinculação de exercício exclusivo aos
médicos, e, inclusive, suas implicações éticas visando a boa-prática, inseridas no próprio Código
de Ética Médica - Resolução CFM n.º 1.246/88, de 08/01/88, o qual tem força de Lei, nos artigos
118 a 121.
VII) Com relação à matéria em questão, envolvendo estabelecimento de nexo técnico
entre doença e trabalho, reportamo-nos, em particular, à Resolução CFM n.° 1488 de 11/02/1998,
onde encontra-se disciplinada a competência médica e as atribuições específicas para a atuação
junto aos trabalhadores, bem como na Justiça;
Face ao exposto acima, respondem-se, a seguir aos questionamentos propostos:
“1) Em sendo a Perícia Médica reconhecida como área de atuação do médico,
questiono: pode a perícia, no caso em apreço, tratando-se de patologia cujo diagnóstico e
tratamento é prerrogativa determinada ao médico, ser realizada por profissional fisioterapeuta?”
Resposta: A Perícia Médica foi reconhecida como uma especialidade médica,
denominada Medicina Legal e Perícia Médica, em 2011. Se o objeto da perícia for médico, ela só
poderá ser realizada por profissional médico.
“2) Pode um profissional dessa área da saúde anunciar que sua empresa realiza
laudos técnicos periciais, inclusive laudos tidos como prerrogativa de profissional com
especialidade em Medicina do Trabalho? “
Resposta: A Perícia Médica, isto é, aquela que envolve temas médicos, como
estabelecimento de diagnóstico de doença, estabelecimento da causa da doença (diagnóstico
etiológico), indicação de tratamentos e resultados de tratamentos já efetuados devem ser
realizadas exclusivamente por médicos, uma vez que apenas o profissional médico tem a
formação necessária para opinar sobre estes assuntos.
“3) A realização de ato pericial na área médica (para diagnóstico de doença
ocupacional ou do trabalho) constitui exercício ilegal da profissão médica?”
Resposta: Sim, se for realizada por não médico – o estabelecimento de diagnóstico
constitui exercício ilegal da Medicina.
“4) O CRM do Paraná pode referendar que profissionais da área da fisioterapia
façam perícias para a Justiça do Trabalho com o mesmo grau de acuracidade ou maior que o
profissional médico?”
Resposta: Não, quando se tratar de perícias envolvendo assunto médico. É de se
ressaltar aqui que a Lei que instituiu as profissões de Fisioterapeuta e de Terapeuta Ocupacional
define que suas atribuições foram assim determinadas:
“... Art. 5º. Os profissionais de que tratam os artigos 3º. e 4º. poderão, ainda, no campo de
atividades específicas de cada um:
I - dirigir serviços em órgãos e estabelecimentos públicos ou particulares, ou assessorá-los
tecnicamente;
II - exercer o magistério nas disciplinas de formação básica ou profissional, de nível superior
ou médio;
III - supervisionar profissionais e alunos em trabalhos técnicos e práticos.”
Portanto, resta claro que ao Fisioterapeuta não cabe estabelecer diagnósticos, nem
determinar causas de doenças, nem indicar ou avaliar resultados de tratamentos médicos.
“5) Sabendo-se que o profissional médico, devidamente inscrito no CRM do seu
Estado pode realizar perícias médicas sem qualquer constrangimento ou afrontamento ao Código
de Ética Médica devendo obedecê-lo no concernente aos artigos correspondentes, pergunta-se se
o profissional da fisioterapia também tem essa prerrogativa?”
Resposta: A realização de perícias médicas foge totalmente do escopo da profissão
de Fisioterapia, como se viu acima.
“6) O laudo técnico apresentado pela Sra. Perita (fisioterapeuta) substitui
tecnicamente, com a mesma qualidade, o laudo médico pericial, realizada por especialista na área
de ortopedia, no caso de Síndrome do Túnel do Carpo?”
Resposta: Quando a matéria objeto da perícia for de natureza médica, fica
configurada a Perícia Médica, e, conseqüentemente, a sua realização exclusiva por profissional da
medicina, legalmente habilitado.
No entanto, não há necessidade de que o médico seja especialista na área, pois a
todos os médicos regularmente inscritos nos Conselhos de Medicina é permitido o exercício de
qualquer ato médico, incluindo perícias médicas.
É o parecer, s. m. j.
Curitiba, 28 de janeiro de 2013.

Cons.ª KETI STYLIANOS PATSIS


Parecerista

Aprovado em Sessão Plenária n.º 3146.ª de 29/01/2013 – CÂM IV.

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