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PARECER CREMEC Nº 14/2005

17/10/2005

PROCESSO-CONSULTA: PROTOCOLO CREMEC Nº 3663/05


INTERESSADO: ROBERTO TAKATA
ASSUNTO: RECEBIMENTO DE DENÚNCIAS PELOS CONSELHOS REGIONAIS DE MEDICINA
PARECERISTA: CONS. JOSÉ ALBERTINO SOUZA.

EMENTA - As denúncias recebidas pelos Conselhos Regionais de


Medicina devem estar relacionadas com o exercício profissional,
constando relato dos fatos, identificação completa do
denunciante, e devidamente assinadas.

DA CONSULTA

O Sr. Roberto Takata, através de correspondência eletrônica (e-mail), protocolizada neste Conselho sob o nº 3663/05,
reportou-se nos seguintes termos:

"Pretendo escrever uma peça ficcional tendo como uma das personagens a figura de um médico.

Como gostaria de manter um certo grau de verossimilhança, peço ajuda a V.S.a para uma questão
a ser abordada na história.

O médico se desentende com uma pessoa através de uma lista de discussão na internet, havendo a
seguinte troca de mensagens...

            Faz em seguida um relato do contido na troca "fictícia" de mensagens na internet entre um médico e uma
terceira pessoa, com possível conotação de crime, não ficando claro se existe relação com o exercício profissional.
Relata que gostaria de saber se caso a personagem entrasse com uma reclamação no Conselho de Medicina contra o
médico o que poderia ocorrer, perguntando:

1. A denúncia seria acatada ou rejeitada?

2. Em caso de acatamento, que punição poderia ter o médico?

3. Haveria outro resultado se o médico usasse em sua assinatura de e-mail sua identificação profissional?

4. O resultado seria diferente se o médico se identificasse como psiquiatra ou com outra especialidade?

DO PARECER

O Art. 2º da Lei nº 3.268, de 30 de setembro de 1957 (D.O.U. 04/10/57), que dispõe sobre os Conselhos de Medicina,
diz:

"O Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Medicina são os órgãos supervisores da ética
profissional em toda a República e, ao mesmo tempo, julgadores e disciplinadores da classe
médica, cabendo-lhes zelar e trabalhar por todos os meios ao seu alcance, pelo perfeito
desempenho ético da medicina e dos que a exerçam legalmente."

Como se vê, a atribuição legal desses Conselhos refere-se ao exercício da medicina, estando o profissional médico em
seu mister sob sua supervisão ética. Em situações outras, onde o médico não esteja exercendo sua atividade
profissional, foge à competência legal dos Conselhos de Medicina em atuar como julgadores e disciplinadores.

O Decreto nº 44.045, de 19 de julho de 1958, que aprova o regulamento a que se refere a Lei supracitada, determina:

" Art. 11- As queixas ou denúncias apresentadas aos Conselhos Regionais de Medicina, decalcadas
em infração ético-profissional, só serão recebidas quando devidamente assinadas e documentadas."

" Art. 17- As penas disciplinares aplicáveis aos infratores da ética profissional são as seguintes:

a. advertência confidencial, em aviso reservado;

b. censura confidencial, em aviso reservado;

c. censura pública em publicação oficial;

d. suspensão do exercício profissional, até 30 (trinta) dias; e

e. cassação do exercício profissional"

Uma denúncia apresentada decalcada em infração ético-profissional, leva à instauração de uma Sindicância, assim
definida pelo Prof. Genival Veloso de França:

SINDICÂNCIA - "É uma forma de procedimento administrativo sumário e informal, que tem por finalidade apurar
indícios de possíveis irregularidades, e que deve, obrigatoriamente, preceder a instauração de um processo ou
arquivamento de uma queixa que a motivou"

O Código de Processo Ético-profissional (Res. CFM nº 1.617/2001), em seu Art. 6º, determina:

"Art. 6º- A sindicância será instaurada:

I – ‘ex-offício’;

II – mediante denúncia por escrito ou tomada a termo, na qual conste o relato dos fatos e a
identificação completa do denunciante;

III - .........................................................

§ 1º - As denúncias apresentadas aos Conselhos Regionais de Medicina somente serão recebidas


quando devidamente assinadas e, se possível, documentadas."

O médico, registrado regularmente no Conselho Regional de Medicina, está apto à pratica médica, sem restrições de
ordem legal, não existindo ato médico privativo de especialista. No entanto, ao assumir a realização de determinado
ato médico, o mesmo é responsável ética, cível e penalmente pelas conseqüências de suas ações. A especialidade
médica é um plus de conhecimento em determinado ramo da medicina e, nesse caso específico, não seria, por si só, o
fato de ser psiquiatra ou outro especialista, que ensejaria ou não instauração de um procedimento administrativo ético –
profissional e consequentemente uma possível penalidade.

Diante do exposto, passo a responder, em tese, o que foi perguntado:

1. A denúncia seria acatada ou rejeitada?

R. Não será recebida, caso não esteja relacionada com o exercício profissional, podendo outras instâncias serem
acionadas;

1. Em caso de acatamento, que punição poderia ter o médico?

R. As penalidades previstas no Art. 17 do Decreto nº 44.045 ;

1. Haveria outro resultado se o médico usasse em sua assinatura de e-mail sua identificação profissional?

R. Não;

1. O resultado seria diferente se o médico se identificasse como psiquiatra ou com outra especialidade?

    R. Não;

            Este é o Parecer, s. m. j.

            Fortaleza – Ce, 17 de Outubro de 2005.

Dr. José Albertino Souza


Conselheiro Relator

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