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Medicina Legal | Documentos Médico-legais

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MEDICINA LEGAL
Documentos Médico-legais

Conceito
“Exposição verbal e os instrumentos escritos por médicos que visam elucidar questões de relevância policial ou
judicial, servindo como meio de prova.” (Croce)

Espécies
Os documentos médico-legais, portanto, podem ser escritos ou verbais, e são de 5 espécies:
- notificações
- atestados
- atestados de óbito
- relatório M.L.
- parecer M.L.

1 – Notificações:
- Comunicações compulsórias às autoridades competentes de uma ocorrência médica de relevância jurídica ou de
saúde pública.
- Geralmente relacionadas à detecção de doenças infecto-contagiosas e doenças laborais.
Art. 269/CP: pune o médico que deixa de praticar a notificação com pena de detenção de 6 meses a 2 anos e multa.
- Não poderá alegar Art. 154/CP (sigilo profissional) como justificativa dessa omissão: o sigilo não é absoluta
- Na notificação não há o dolo de exposição da vítima Nesses casos, o médico cumpre dever legal estrito ou mesmo
em exercício regular de direito
- O médico é também protegido pelo Art. 146, parágrafo 3°/CP: não é constrangimento ilegal.
OBS: O Art. 8° da Lei 6.259 de 1975 estendeu essa obrigatoriedade a outros profissionais de saúde além do médico,
bem como aos responsáveis por estabelecimentos públicos e privados de saúde e ensino. Mas a figura criminal é
restrita ao médico.

2 – Atestados:
Afirmação escrita de um fato médico e de suas consequências.
Podem ser classificados em:
2.1 – oficiosos – solicitados pelos pacientes como justificativas necessárias às ausências de suas atividades;
2.2 – administrativos – requeridos pelo serviço público para concessão de licenças, aposentadorias, etc;
2.3 – judiciários – aqueles que interessam à Justiça, requisitados pelas autoridades judiciárias. São apenas esses
considerados documentos médico-legais;

3 – Atestado de óbito:
- Documento imprescindível à constatação da morte e liberação para inumação/cremação
- Disciplinado a partir da Resolução 1.290/89 do Conselho Federal de Medicina (C.F.M.):
Art. 1º: o médico somente poderá atestar o óbito após tê-lo verificado pessoalmente;
Art. 2°: obriga-se o médico a atestar o óbito de pessoa a que vinha prestando assistência, mesmo que a morte se dê
fora do ambiente hospitalar.
- MAS: o médico não pode atestar ‘automaticamente’ a morte de alguém sem ter presenciado a situação do óbito,
apenas por se tratar de seu paciente.
Art. 3°: se a morte ocorrer em ambiente hospitalar, o atestado caberá ao médico responsável pelo tratamento do
paciente até aquela data ou, em seu impedimento, ao médico de plantão.
- Se, entretanto, a morte for decorrente de violência, confirmada* ou suspeita* então impõe-se o encaminhamento

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do cadáver ao médico-legista, vendo vedado ao médico assistente atestar o óbito.


- * (vide “Tanatologia Forense”),

4 – Relatório Médico-Legal:

Relatório escrito dos fatos pertinentes a uma perícia médica requisitada por autoridade competente.
‘AUTO’: Se esse relato for ditado a um escrivão, perante testemunhas.
‘LAUDO’: Se firmado posteriormente às diligências necessárias e redigido pelo Perito.
Composto de 7 partes:
- Preâmbulo
- Quesitos
- Comemorativo
- Descrição contendo o visum et repertum
- Discussão
- Conclusões
- Respostas aos quesitos

I – Preâmbulo:
Registro da qualificação do(s) Peritos da autoridade que requereu a perícia, além da finalidade e data e hora em que
o procedimento foi realizado.

II – Quesitos:
- Normalmente já constam do formulário impresso do órgão oficial.
- Podem sem acrescidos de outros encaminhados pelas ‘partes’.
OBS: se processo cível ou de perícia psiquiátrica: não há os “quesitos padrão”: todos eles formulados para o caso
concreto.

III – Comemorativo:
Histórico de todas as informações colhidas a partir dos envolvidos no caso de responsabilidade exclusiva dos
declarantes (e não do Perito).

IV – Descrição contendo o visum et repertum:


- Perito não “julga”; dá opinião ou impressão técnica.
- Registro daquilo que lhe foi trazido à análise, sem ideias preconcebidas ou hipóteses.

V – Discussão:
Perito externa sua opinio técnica.
- Afastando todas as outras hipóteses possíveis.
- Conduz a um diagnóstico lógico com justificativas racionais.

VI – Conclusões:
Síntese do diagnóstico, deduzido a partir da ‘descrição’ e ‘discussão’

VII – Respostas aos quesitos:


Todos os quesitos propostos devem ser respondidos; exceção:
- Os que não se atenham à matéria ou não exijam o conhecimento especializado do expert.
- Respostas explicativas (não lacônicas, nem podem se resumir a “sim” ou “não”).
Quesito “prejudicado”: que não pode ser respondido por não guardar relação com os fatos.

5 – Parecer Médico-Legal:
- Esclarecimento prestado por outro especialista que não tenha participado da perícia oficial diante de laudo que

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suscite dúvidas.
- Devido a dúvidas verificadas no Relatório.
- Solicitado a profissional médico ou a uma comissão científica.
- Fundamento: Art. 182/CPP - livre valoração (fundamentada) das provas

Depoimento Oral do Perito:


Art. 342/C.P.: crime de ‘falsa perícia’ inclusive se o expert silenciar sobre algo que deveria declarar
Art. 278/C.P.P.: permite a condução coercitiva do Perito
Art. 466, § 2º /n.C.P.C.: Perito deverá ser intimado com 5 dias de antecedência da audiência

- Documentos médico-legais nos crimes praticados com violência contra mulheres e


hipossuficientes:
a - crimes contra a mulher:
Lei 10.778/03: obrigatoriedade da notificação compulsória na prática de violência sexual contra a mulher constatada
em atendimento de serviços de saúde (públicos ou privados).

b - crimes contra a criança:


Art. 13 do E.C.A. (Lei 8.069/90): suspeita de maus-tratos a criança ou adolescente deve ser comunicada ao Conselho
Tutelar da comarca.
Art. 245/E.C.A.: sanção administrativa ao servidor público que se omitir nessa comunicação.

c - crimes contra o idoso:


Art. 1º do Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03): obrigatória aos profissionais de saúde a comunicação de casos de maus-
tratos a idosos.
Art. 19/E.I.: comunicação feita à autoridade policial ou ao Ministério Público, ou ainda aos Conselhos Municipal,
Estadual ou Nacional do Idoso.

- Quesitos oficiais:

1 – Nos casos de lesões corporais (Art. 129/CP):


Quesitos ‘padrão’ para verificar existência de materialidade, ou seja, a ocorrência de dano à integridade corporal ou
à saúde do paciente - distinção:
- Quesitos para investigar emprego de meios insidiosos ou cruéis, se resultou em perigo de vida ou em incapacitação
seja para as atividades usuais ou laborais e se por tempo superior a 30 dias.
- Se houve aceleração do parto ou aborto
- Se houve perda ou inutilização permanente de membro, sentido ou função.

2 – Nos casos de morte (Art. 121/CP e 123/CP):


- Confirmar as causas do óbito
- Os meios pelos quais ele foi produzido
- A constatação ou não do uso de meios insidiosos ou cruéis para produzi-la.
- Mesmo raciocínio é aplicado nos casos de infanticídio (Art. 123/CP).

3 – nos casos de aborto (Arts. 124 a 128/CP):


Dois procedimentos:
3.1 - O exame cadavérico:
- Materialidade e causas da morte ou destruição do concepto
- Em caso de morte também da gestante, se essa se deu em virtude do aborto ou do meio empregado para sua
provocação.
3

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3.2 - O exame de corpo de delito na gestante:


- Aferir vestígios de provocação do aborto e os meios utilizados para tal.
- Aferir se o procedimento deixou a gestante incapacitada para as ocupações usuais por prazo superior a 30 dias ou
se resultou-lhe em perigo de vida, debilidade permanente ou perda de membro, sentido ou função, se lhe causou
deformidade permanente ou enfermidade incurável.
- Aferir se a gestante é doente mental (alienada)
- Nos casos do “aborto terapêutico” do Art. 128, inciso I, do CP, se não havia outro modo de salvar a vida da
gestante.

4 – Nos crimes contra a dignidade sexual:


- Provas periciais devem ser voltadas a constatar a existência de vestígios do ato libidinoso e o meio empregado para
praticá-lo.
- Incapacidade da vítima para suas ocupações gerais ou funções por período superior a 30 dias
- Estado mental da vítima, para se saber se é alienada ou não
- Se houve alguma forma que lhe impossibilitasse oferecer resistência, em especial doença física ou mental
- Se vulnerável por ser menor de 14 anos
- Se houve aceleração do parto ou aborto.
- Exame de “conjunção carnal”
- Presença ou não de é virgindade
- Vestígios de desvirginamento recente
- Outros vestígios de conjunção carnal recente, inclusive com coleta de material genético.
- Se houve prática de violência para consumar o ato libidinoso, qual a espécie e eventuais sequelas (nos mesmos
termos ao Art. 129/CP).

QUESTÕES
1. O registro da anamnese do paciente, dos cuidados médicos e dos documentos relativos à assistência prestada é
denominado:
(A) Atestado.
(B) Notificação.
(C) Prontuário.
(D) Relatório.

2. Os pontos de maior relevância do documento medico-legal denominado “Parecer” são:


(A) Histórico e conclusão
(B) Preâmbulo e conclusão
(C) Discussão e conclusão
(D) Depoimento oral e conclusão
(E) Descrição e conclusão

3. Constitui comunicação compulsória feita por médico às autoridades competentes, de fato profissionais, por
necessidade social ou sanitária:
(A) Atestado.
(B) Notificação.
(C) Parecer.
(D) Relatório.

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4. Julgue o item a seguir, acerca de documentos médico-legais, perícia e peritos.


-Laudo pericial é o relatório emitido pelo perito acerca do exame realizado no corpo de delito.
( ) Certo ( ) Errado.

5. Julgue o item a seguir, acerca de documentos médico-legais, perícia e peritos.


-Declarações, laudos, receitas e atestados são documentos médico-legais emitidos por médico.
( ) Certo ( ) Errado.

GABARITO
1. C
2. C
3. B
4. CERTO - Justificativa: Art. 160 CPP - Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o
que examinarem, e responderão aos quesitos formulados.
5. ERRADO

QUESTÕES DE TANATOLOGIA FORENSE


1. A perda da tensão do globo ocular, o enrugamento da córnea e a mancha negra da esclerótica caracterizam um
fenômeno abiótico consecutivo denominado:
(A) rigidez cadavérica.
(B) espasmo cadavérico.
(C) esfriamento cadavérico.
(D) desidratação cadavérica.

2. Um cadáver de homem adulto, exumado, apresentava redução do peso, pele dura, seca, enrugada e de tonalidade
enegrecida; A sua face conservava, de maneira vaga, os traços fisionômicos mostrados em vida. O fenômeno
transformativo caracterizado pela descrição é de:
(A) maceração.
(B) mumificação.
(C) putrefação.
(D) saponificação.

3. Um homem de 25 anos morreu com um fígado preservado quanto à sua reserva de glicogênio, apurada pela
docimásia hepática química. Diante dessa informação, pode-se concluir que a morte se deu de forma:
(A) tardia.
(B) agônica.
(C) mediata.
(D) instantânea.

4. É muito importante em Medicina Legal a estimativa do tempo aproximado de permanência de um corpo dentro
da água e sua transformação após a morte. Mesmo tendo em conta as múltiplas variáveis que podem atuar o tempo
aproximado de morte e permanência em meio líquido de um corpo que mostrou as seguintes características:
“pequenas crostas arredondadas de sais calcários sobre remanescentes da pele” é de:
(A) três meses de morte.
(B) seis meses de morte.
(C) um dia de morte.
(D) uma semana de morte.

5. Em relação às exumações administrativas e suas indicações, é correto afirmar que são realizadas para:
1- verificar particularidades que possam elucidar circunstâncias da morte.
2- o translado de ossos para o ossário ou columbário.
5

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3- mudança de local de inumação.


4- verificação da causa de morte.
5- verificação de identidade de cadáver.

(A) Todas as assertivas estão corretas.


(B) Apenas uma assertiva está correta.
(C) Apenas duas assertivas estão corretas.
(D) Apenas três assertivas estão corretas.
(E) Todas as assertivas estão incorretas.

6. Leia o laudo de autopsia que demonstra as informações a seguir.


I. Temperatura retal com perda de 2,5 ◦C em relação a temperatura media do ambiente.
II. Presença de livores cadavéricos (hipóstases) em declives e em face posterior do pescoço moveis.
III. Rigidez cadavérica em membros superiores.
IV. Ausência de gases de putrefação ou de mancha verde abdominal.
O tempo de morte médio ocorreu, aproximadamente,
(A) em menos de 1 hora.
(B) entre 1 a 2 horas.
(C) entre 3 a 4 horas.
(D) entre 6 a 7 horas.
(E) entre 8 a 9 horas.

7. Não é incomum que em alguns casos ocorram equívocos em relação ao atestado de óbito, como nessa noticia. O
Art. 162 do Código de Processo Penal Brasileiro (CPPB) diz que “A autopsia será feita pelo menos seis horas depois o
óbito, salvo se os peritos, pela evidencia dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o
que declararão no auto (...)”. Quanto aos sinais de certeza de morte que autorizam o medico legista a iniciar a
autopsia antes de seis horas, assinale a alternativa correta.
(A) Os sinais de morte se dividem em fenômenos abióticos e consecutivos. A presença de qualquer sinal abiótico já é
compatível com a realidade de morte e autoriza o inicio da autopsia.
(B) São considerados como sinais de certeza de morte aqueles chamados de abióticos consecutivos e que, quando
presentes, autorizam a antecipação da autopsia.
(C) O medico legista só está autorizado a realizar a autopsia antes de seis horas, caso já se encontrem sinais
transformativos como a mancha verde abdominal ou rigidez cadavérica.
(D) São sinais de certeza de morte, autorizadores de antecipação de autopsia, a presença de abolição do tônus
muscular, presença de midríase e perda de consciência.
(E) É necessária a presença de todos os sinais abióticos consecutivos como rigidez cadavérica, desidratação
cadavérica, esfriamento cadavérico e manchas de hipóstases para a realização da autopsia. *”homem retirado vivo
de dentro de geladeira de necrotério” (Joao Pessoa 28/7/11)

8. Um cadáver de homem adulto apresenta rigidez generalizada, manchas de hipóstase fixas no dorso, ausência de
mancha verde abdominal e desaparecimento das artérias do fundo de olho. Qual o provável tempo de morte em
horas?
(A) Menos de duas.
(B) Mais de duas e menos de quatro.
(C) Mais de quatro e menos de seis.
(D) Mais de oito e menos de dezesseis.

GABARITO
1. D 6. C
2. B 7. B
3. D 8. A
4. A 9. D
5. C

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