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PARECER CRM-MG Nº 179/2018 – PROCESSO-CONSULTA Nº 18/2018

PARECERISTA: Cons. Marcílio Monteiro Catarino

EMENTA: Somente o médico emissor da Declaração de


Óbito pode fazer a retificação. Se já tiver sido registrada
no cartório, só poderá ser retificada por decisão judicial.

DA CONSULTA
Após emissão da Declaração de Óbito (DO) pelo(a) médico(a) que constatou o
falecimento, não raramente, familiares do(a) falecido(a) retornam aos Institutos
Médico Legais (IML) e hospitais requerendo a emissão de um novo documento
retificado. Os motivos são vários. Os mais frequentes são erros de endereço do
falecido(a) e do sobrenome de familiares, comprovados mediante nova
documentação oficial a qual o médico(a) não teve acesso no dia do falecimento.
A maioria dos médicos daqueles estabelecimentos trabalham em regime de plantão
e, muitas vezes, quando os familiares retornam aos IMLs e hospitais para
requererem a emissão da nova DO retificada, o(a) profissional que atestou
pessoalmente o óbito e emitiu a primeira DO não está em seu horário de trabalho.
Assim, pelo disposto no art. 83 do CEM, a conduta adequada seria orientar os
familiares a retornarem no dia do próximo plantão do(a) médico(a) que verificou
pessoalmente e atestou o óbito, para ele(a) emitir a nova DO retificada.
O atraso gerado por essa prática, contudo, gera insatisfação aos familiares.
Assim, em busca de uma solução que seja técnica, ética e legalmente correta, e
mais prática para os familiares de falecidos que precisam de uma nova DO
retificada, vem, mui respeitosamente, consultar o Egrégio CRMMG:
1- O(a) médico(a) plantonista (seja de IML ou de hospital), ainda que não tenha
verificado pessoalmente o óbito, pode emitir uma nova DO (retificada) em
substituição a emitida por outro(a) médico(a), sem cometer infração ética e/ou legal?
2- Acaso a resposta a questão 1 seja afirmativa, quais cuidados o(a) médico(a)
plantonista (seja de IML ou de hospital) que não tenha verificado pessoalmente o
óbito deve observar para, ao emitir uma nova DO (retificada) em substituição a
emitida por outro(a) médico(a), não incorrer em infração ética e/ou legal?
3- Acaso a resposta a questão 1 seja afirmativa, em quais situações o(a) médico(a)
plantonista (seja de IML ou de hospital) que não tenha verificado pessoalmente o
óbito pode se negar a emitir uma nova DO (retificada) em substituição a emitida por
outro(a) médico(a)?
4- Acaso seja comprovada alguma irregularidade (por exemplo, o nome do falecido
não corresponde a pessoa que de fato morreu) na DO emitida pelo(a) médico(a) que
tenha verificado pessoalmente e atestado o óbito, e essa seja repetida na nova DO
(retificada) exarada pelo(a) médico(a) plantonista que não tenha verificado
pessoalmente e atestado o óbito, este último pode ser responsabilizado ética e/ou
legalmente por ter transcrito a anotação equivocada do primeiro?

DO PARECER
FUNDAMENTAÇÃO:
A Declaração de óbito (DO) é o nome do formulário oficial no Brasil, em que se
atesta a morte. Este formulário é preenchido pelo médico que constatou o óbito em
casos de morte natural ou pelo médico legista em casos de morte não natural. A
emissão da DO é ato médico, segundo a legislação do país. Portanto, ocorrida uma
morte, o médico tem obrigação legal de constatar e atestar o óbito, usando para isso
o formulário oficial “Declaração de Óbito”, O médico tem responsabilidade ética e
jurídica pelo preenchimento e pela assinatura da DO, assim como pelas informações
registradas em todos os campos deste documento. Deve, portanto, revisar o
documento antes de assiná-lo.
A "Certidão de Óbito" é o documento jurídico fornecido pelo Cartório de Registro
Civil após o registro do óbito.
O Código de Ética Médica estabelece no artigo 83. É vedado ao médico: Atestar
óbito quando não o tenha verificado pessoalmente, ou quando não tenha prestado
assistência ao paciente, salvo, no último caso, se o fizer como plantonista, médico
substituto ou em caso de necropsia e verificação médico-legal.
• O manual técnico publicado pelo Ministério da Saúde "A Declaração de Óbito -
Documento necessário e importante” (Brasília – DF 2009 - 3ª edição), no seu item
12) responde ao questionamento: "Como proceder em caso de preenchimento
incorreto da DO"?
Resposta: Se, por acaso, o médico preencher erroneamente a DO, seja qual for o
campo, deverá inutilizá-la, preenchendo outra corretamente. Porém, se a Declaração
já tiver sido registrada em Cartório de Registro Civil, a retificação será feita mediante
pedido judicial por advogado, junto à Vara de Registros Públicos ou similar. Nunca
rasgar a DO. O médico deverá escrever “anulada” na DO e devolvê-la à Secretaria
de Saúde para cancelamento no sistema de informação.
A Portaria 116/2009 do Ministério da Saúde define no Art. 18: “Os dados informados
em todos os campos da DO são de responsabilidade do médico que atestou a
morte, cabendo ao atestante preencher pessoalmente e revisar o documento antes
de assiná-lo”.
Importante ressaltar que uma vez lavrado e assinado o registro, no caso a Certidão
de óbito, qualquer alteração somente pode ser feita mediante a autorização do
Poder Judiciário com a participação do Ministério Público ou seja, o oficial
registrador não pode fazer tais alterações ele mesmo, conforme a Lei de Registros
Públicos.
Evidente que em se tratando de meros erros materiais, como troca de uma letra no
nome do falecido (“Luís”, por “Luiz”), ou mesmo a ausência de uma partícula no
nome do falecido (“de”, “da”, “dos” etc.), bem como no nome de qualquer de seus
genitores, pode ser facilmente percebido pelo confronto com a documentação do
falecido a ser apresentada na serventia e não deve impedir a lavratura do registro.
Em havendo rasuras ou entrelinhas, que não se enquadrem no conceito de mero
erro material, referentes a aspectos essenciais, e que foram ressalvadas por terceiro
que não o próprio medido atestante, caberá ao Oficial solicitar ao declarante que se
dirija à instituição de saúde que expediu a D.O. para que seja firmada a ressalva
pelo próprio médico atestante ou para que seja esta D.O. inutilizada e expedida uma
nova D.O.
Respondendo ao consulente:
1 - O (a) médico (a) plantonista (seja de IML ou de hospital), ainda que não tenha
verificado pessoalmente o óbito, pode emitir uma nova DO (retificada) em
substituição a emitida por outro(a) médico(a), sem cometer infração ética e/ou legal?
R: Não. A retificação da Declaração de Óbito só poderá ser feita pelo médico
emissor. Caso a Declaração de Óbito já tiver sido registrada, há necessidade de
autorização judicial.
2 - Acaso a resposta a questão 1 seja afirmativa, quais cuidados o(a) médico(a)
plantonista (seja de IML ou de hospital) que não tenha verificado pessoalmente o
óbito deve observar para, ao emitir uma nova DO (retificada) em substituição a
emitida por outro(a) médico(a), não incorrer em infração ética e/ou legal?
R: Conforme exposto na fundamentação, só o médico que preencheu a DO pode
fazer a retificação. Se outro médico fizer a retificação, poderá responder ética e
legalmente pelo seu ato.
3- Acaso a resposta a questão 1 seja afirmativa, em quais situações o(a) médico(a)
plantonista (seja de IML ou de hospital) que não tenha verificado pessoalmente o
óbito pode se negar a emitir uma nova DO (retificada) em substituição a emitida por
outro(a) médico(a)?
R: O médico em substituição não pode fazer a retificação.
4- Acaso seja comprovada alguma irregularidade (por exemplo, o nome do falecido
não corresponde a pessoa que de fato morreu) na DO emitida pelo(a) médico(a) que
tenha verificado pessoalmente e atestado o óbito, e essa seja repetida na nova DO
(retificada) exarada pelo(a) médico(a) plantonista que não tenha verificado
pessoalmente e atestado o óbito, este último pode ser responsabilizado ética e/ou
legalmente por ter transcrito a anotação equivocada do primeiro?
R: Reafirmamos que só o médico que preencheu a DO pode fazer a sua retificação.
Se a DO já tiver sido registrada no cartório só poderá ser retificada por via judicial.

Belo Horizonte, 28 de setembro de 2018

Cons. Marcílio Monteiro Catarino


Parecerista

Aprovado em Sessão Plenária do dia 14 de dezembro de 2018

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