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JESUS CRISTO NO BANCO DOS RÉUS?

Samuel Pinheiro, 2006-07-26


JESUS CRISTO NO BANCO DOS RÉUS?
CONDENAÇÃO À MORTE E MORTE DE CRUZ
Há dois mil anos atrás os contemporâneos e conterrâneos de Jesus Cristo não suportaram as
Suas reivindicações de identidade, os sinais que as acompanhavam e confirmavam, os Seus
comportamentos e atitudes, as Suas denúncias, o Seu ensino e o Seu estilo de vida, a Sua
morte e as razões de salvação e perdão nela implicadas, bem como a Sua ressurreição
antecipadamente anunciada.
Não aguentaram nem toleraram a Sua santidade, integridade, justiça, pureza, carácter e
personalidade, amor e graça, misericórdia e compaixão.
Julgaram-no e condenaram-no.
Pressionaram e manipularam o poder político romano. Apelaram para a autoridade suprema
de César, divina para o império e cultura romanas, e rejeitaram a divindade do Messias.
Invocaram as suas próprias leis para exigir a morte do Inocente. Sentenciaram-no pelo crime de
a Si mesmo de apresentar como Filho de Deus, um com o Pai, maior do que Abraão ou Moisés,
ou de qualquer outro profeta. Não podiam permitir-Lhe que sobre as leis dadas por Jeová a
Moisés, Jesus pudesse dizer: “Ouvistes que foi dito aos antigos (...) Eu, porém, vos digo (...)”
(Mateus 5:21,22). Isso significava nada mais, nada menos, que Jesus é Deus. Enquistados nas
suas tradições e opiniões, recusaram todas as evidências.
Para eles era impossível que Deus se fizesse homem, perdoasse os pecados, aceitasse
adoração, expulsasse demónios, curasse em dia de sábado, pusesse a nu a hipocrisia religiosa,
os seus erros, falhas, fragilidades e incompetências, morresse e ressuscitasse e nessa morte e
ressurreição conclamasse todos os homens ao arrependimento e conversão, reconciliando com
Deus todos os que O aceitassem.
Perante toda a força dos argumentos e das evidências não se quiseram convencer, pois
ninguém é convencido quando não quer. Não há argumento que convença quem não quer ser
convencido.
Se alguém era e é toda a argumentação possível de ser apresentada e usada, esse foi e é
Jesus Cristo. Não estamos a falar apenas do que Jesus podia dizer ou fazer, mas de quem Jesus
era, foi e é como pessoa. Não falamos da “dialéctica” e da lógica, do discurso persuasivo das
palavras apenas. Ele o fez como ninguém. Mas a argumentação em Jesus Cristo foi e é muito
mais sublime. Ele é a própria, genuína e autêntica verdade. Nas Suas próprias palavras Ele é “o
caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vai ao Pai senão por Ele” (evangelho de João 14:6).
Ele é o argumento por excelência, o supremo argumento, o argumento absoluto no contexto da
humanidade e da sua dimensão. Deus entre os homens. Deus como homem sem deixar de ser
Deus convivendo com a sua criação, os Seus detractores, os Seus pseudo-representantes, os
guardiães da fé, os inventores de deuses, os que, nesta panóplia de alternativas, no fundo, a si
mesmo se fazem como Deus ou acima do próprio Deus, porque Lhe querem ditar o que Ele pode
ou não pode fazer, ou ser, ou dizer. Mandar em Deus. Decidir em nome de Deus. Culpar Deus.
Negar Deus. Matar Deus.
Há dois mil anos atrás mancomunaram-se os religiosos, os políticos e o povo no
consentimento, na instigação, na manipulação ou na pressão para julgar e condenar o Filho de
Deus à morte vergonhosa e maldita da crucificação. Quando o tribunal se reuniu a decisão já
estava tomada e a acusação já estava formulada: é digno de morte porque a Si mesmo se faz o
Filho de Deus (evangelho de Mateus 26:57-68).
OS TRIBUNAIS CONTEMPORÂNEOS
Hoje como ontem continuam a levantar-se os candidatos a juízes de Deus na pessoa de Jesus
Cristo, ou do Pai ou do Espírito Santo.
Não se atrevem a exigir uma morte de cruz porque fisicamente já não está entre nós e não
se pode crucificar um ser espiritual. Mesmo que o quisessem fazer já não o poderiam, porque
Ele não lhes daria ou dará segunda oportunidade. Mas decretam o Seu desaparecimento,
pretendem bani-lO do planeta Terra, expulsá-lO do Universo, aniquilá-lO no coração das crianças
e dos adolescentes, recusando-O nas suas vidas pessoais.
Não concordam que tudo o que existe só possa existir em função de um Criador pessoal
omnisciente, omnipotente e omnipresente.
Não querem aceitar um Deus que seja santo, justo, amoroso, misericordioso e compassivo.
Não podem tolerar que Deus tenha chegado ao ponto de “tolerar” a cruz para remir a
humanidade.
Não concordam com o diagnóstico divino que os coloca diante dos seus próprios pecados, do
seu fracasso moral e espiritual traduzido em todo o seu egoísmo, orgulho, vaidade, maldade,
inveja, promiscuidade, perversidade, injustiça, discriminação. Comparando-nos uns com os
outros podemos julgarmo-nos uns melhores do que outros, mas diante do modelo, à imagem e
semelhança de Deus, todos estamos em falta. Mesmo assim não é para condenar-nos que Jesus
veio, mas para salvar-nos. Não veio para lançar sobre o nosso rosto as nossas faltas mas para
as perdoar.
Não concordam com o plano de salvação que Deus mesmo consumou em Jesus Cristo a favor
de toda a humanidade. Não querem aceitar que a sua condição é de tal forma trágica que só a
morte de cruz do próprio Deus feito homem, os poderia e pode livrar em todas as suas
consequências eternas.
Não podem admitir que Deus tenha vivido entre nós.
Não aceitam que Jesus pudesse e possa perdoar pecados e os perdoe.
Não admitem que Jesus pudesse ter libertado um gadareno de uma legião de demónios e
uma manada de porcos tenha morrido afogada. Choram a perca dos porcos e não se regozijam
diante da saúde do homem liberto que regressou ao seio da sua família. Na sua filosofia o que é
que um homem vale em função de uma manada. Como é que Deus, o Criador, pode assim
dispor do que Lhe não pertence? Mas como é que Deus pode ser Deus e não ser dono de tudo o
que existe e os homens serem apenas mordomos?
Não podem consentir com o Mestre divino que amaldiçoa uma figueira que não dá fruto fora
da sua estação própria, ensinando que a fé nos torna frutíferos tem todo o tempo, em toda a
estação e em qualquer contexto cultural, religioso, agnóstico ou ateu. A fé divina não conhece as
prisões dos homens.
Insurgem-se contra a atitude enérgica do Nazareno expulsando do templo os vendilhões que
o usurparam contra a sua própria essência de casa de oração e não de comércio. Como é que
Deus pode insurgir-se contra aqueles que pervertem o lugar que dizem pertencer ao Seu culto?
Quem é Deus para querer ser Deus precisamente no espaço que dizem dedicar ao Seu culto?
Que direito tinha Jesus, sendo Deus na forma humana, para dispor de um jumento para
entrar em Jerusalém? Trata-se de um abuso usar assim a propriedade alheia, ou pedi-la por
empréstimo. Afinal o que é nosso é nosso. Quem é Deus para dispor assim do que nos pertence?
Mas será que alguma coisa nos pertence efectivamente? A vida fomos nós mesmos que a
criámos? Fizemos o universo? Conseguimos criar um grão de pó? Tirámos alguma coisa do nada
ou na ânsia de parecer que conseguimos alguma coisa, a única coisa que ateus e agnósticos
pretendem é encerrar no nada e no acidente tudo o que existe, condenando tudo à morte e ao
desaparecimento?
Como é que os Seus discípulos podiam ter dito o que disseram? São todos uma turma de mal
intencionados que mentiram descaradamente, distorceram a verdade dos factos, colocaram na
boca de Jesus o que Ele nunca disse? Afinal dois mil anos depois sabemos muito mais do que
eles para recusar-lhes o estatuto de testemunhas oculares? Ateus, agnósticos ou religiosos é que
sabem, é que são os entendidos, os que percebem do assunto e da matéria? Como é bem mais
adequada a conclusão do psiquiatra brasileiro Augusto Jorge Cury, ex ateu, quando afirma
peremptoriamente que se Jesus não tivesse existido o homem não teria sequer imaginação
suficiente para O ter inventado.
Como é que Deus, feito homem, pode dizer que não há outro através do qual, quem quer que
seja, pode chegar ao Pai? Mas não será óbvio que só Deus pode chegar até nós, ou que nós
nunca poderemos chegar até Ele, por maior que seja o nosso esforço? Ou Deus nos alcançaria
ou nunca o poderíamos alcançar. Fomos alcançados. Jesus veio morar connosco. Ele faz parte da
nossa história. Ele assumiu por inteiro a Sua criação. Como criatura viveu na íntegra a vontade
do Pai, na força do Espírito, até à cruz para nos trazer de volta a Ele. A Sua justiça foi satisfeita
por Ele mesmo numa demonstração absoluta (inexcedível) de amor e graça.
Levantam diante de Deus o sofrimento, a dor, as doenças e as epidemias, sem reconhecer
que o facto de não existir mais sofrimento do que aquele que existe, se deve ainda à
misericórdia divina, que só permite o suficiente para percebermos o que devemos perceber para
escolhermos a vontade de Deus na nossa vida, o Seu plano de salvação, o Seu perdão e
recebermos a adopção de filhos e a vida eterna, sem termos que pagar nada porque Ele afinal
de contas suportou todas as “despesas”. A eternidade de bem-aventurança compensará
absolutamente o sofrimento presente. O que é o tempo face à eternidade? Mesmo assim é nossa
responsabilidade, como cristãos, continuar a lutar denodadamente e com toda a solidariedade
para minimizar o sofrimento no tempo presente, como o próprio Jesus fez enquanto esteve entre
nós, embora visasse um resultado muito mais excelente e elevado: a felicidade eterna.
Concretizou-o pelo Seu sofrimento na cruz.
Afinal de contas porque é que Deus criou o homem como um ser livre? Não o poderia ter
criado como um robô que automaticamente Lhe obedecesse? Em vez de se satisfazerem no
plano supremo e sublime de uma criação à “imagem e semelhança” do Todo-poderoso,
insurgem-se e criam um outro destino, em nome da ciência, à semelhança dos bichos, na
linhagem dos macacos, resultados do nada e destinados à morte, ao silêncio e à aniquilação.
O JUÍZO FINAL
A superioridade da criação divina reside precisamente no facto de que o homem pode rejeitá-
lO, recusá-lO, negá-lO, julgá-lO e condená-lO.
Ontem como hoje os novos juízes de Deus não percebem que o seu veredicto é o veredicto
que pende sobre eles. Um dia destes Deus apenas lhes fará a vontade e os colocará onde Deus
já não esteja definitivamente presente, onde eles estejam sem Deus, abandonados a si próprios
e a todos os poderes e potestades que seguiram. O que a Bíblia enfaticamente chama de
inferno. O inferno é o direito que Deus dá aos homens de viverem sem Ele. A suprema
expressão e decreto de tolerância divina relativamente a todos os que O não querem. No juízo
final Deus vai dar ao homem o que ele escolheu.
Eu quero ser parte de um reino em que pontuem os valores morais e espirituais de Jesus
Cristo. Eu anseio o dia em que Ele retornará para o implantar de modo absoluto e definitivo. Eu
acredito que serão o amor, a verdade, a justiça, a liberdade e a graça que prevalecerão
eternamente. O triunfo será do bem sobre o mal. Este já está derrotado porque Jesus
ressuscitou. Deus permitiu o mal para o destruir e foi isso que Jesus fez e definitivamente
consumará com a Sua segunda vinda. Eu acredito no céu. Espero-o ansiosamente.
Deus criou o homem livre sabendo, na Sua omnisciência, que ele iria pecar. Deus assumiu
por inteiro a Sua criação dispondo-se a sofrer pelo homem, mais do que com o homem, para
reconciliá-lo consigo e levando-o acima da criação como Seu filho. Deus fez-se homem para que
o homem pudesse ser feito filho de Deus. Cristo morreu na cruz. Ressuscitou. Nós viveremos
com Ele eternamente. Nisto invisto a minha vida. Sei que vale a pena. Não vivo para a morte
mas para a vida! A Ele seja toda glória! Toda a eternidade será pequena para O adorar, louvar e
exaltar!
UMA BREVE RESPOSTA
A partir de um determinado momento o Dr. Lopes Vieira e os nossos assíduos leitores devem
ter percebido que conclui não merecer a pena tentar contrariar a vontade e querer, assumidos
conscientemente, de não crer. O que não significa que tenha desistido de manter a minha
intervenção no que às razões da fé diz respeito. Hoje mais do que nunca é minha convicção e
prática “uma fé que pensa, uma mente que crê”. Continuo a pensar que é preciso muito mais fé
para ser ateu ou agnóstico, do que para crer no Deus de nosso Senhor Jesus Cristo. Se
considero ridículo assumir o papel de juiz de Jesus Cristo, também considero o mesmo em
relação a vestir a pele de advogado de Deus.
Respeito-o em todo e qualquer caso. Mas tenho pena que assim tenha decidido. Mantenho
apenas uma ou outra questão: o que é que precisaria o Dr. Lopes Vieira, ou outra qualquer
pessoa na sua condição, para crer em Jesus Cristo como seu único e suficiente Senhor e
Salvador? Um dia, diante do próprio Deus, já não O podendo negar porque face a face com Ele,
será que O aceitaria e se sujeitaria à Sua vontade?
Deus não se impõe a quem quer seja. Ele criou-nos livres. Nem o Seu amor, nem a Sua
graça são impostos! Tanto a Sua justiça, quanto o Seu amor darão a cada homem conforme a
sua escolha e decisão diante do Crucificado!
O Evangelho mostra-nos que o homem nunca será bom o suficiente para declinar e renunciar
o sacrifício de Jesus Cristo a seu favor. É isto que o orgulho humano não tolera, é isto enfim a
essência do pecado. Independência de Deus!
No filme “Bruce o Todo-Poderoso” deparei-me com uma das perguntas mais pertinentes por
mim alguma vez escutada, quando o personagem principal, cansado de ser Deus por alguns
dias, pergunta ao próprio Deus: “O que é que eu posso fazer para que alguém me ame?” A esta
pergunta Deus responde que procura a resposta há muito tempo. De facto Deus fez tudo para
que o homem O ame. Diante do Deus-Homem Jesus Cristo crucificado, como é possível deixar
de O amar? Diante desta prova absoluta e eterna de amor o homem individualmente salva-se ou
perde-se eternamente.
Ainda é tempo de todos aprendermos do sublime e excelso Mestre da mansidão, humildade,
amor, serviço, verdade, graça, bondade, libertação, solidariedade, perdão e vida eterna.
Salvação do pecado do nosso egoísmo e auto-suficiência, para a plenitude do amor e do perdão
de Deus. No Getsemani, diante da cruz, questionando a possibilidade de uma outra alternativa
para resgatar o homem, entrega-se incondicionalmente nas mãos do Pai e da Sua vontade. N’Ele
temos salvação a tempo de vivermos aqui e eternamente com Ele. Salvação de sermos libertos
dos estreitos limites do naturalismo e do materialismo, da dúvida e do cepticismo; para a fé, e
para a vida eterna. De facto Luís de Camões tem toda a razão: “O melhor de tudo é crer em
Cristo”.
Samuel R. Pinheiro
www.samuelpinheiro.com
[Notícia n.º 3106, inserida em 2006-07-26, lida 181 vezes.]

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