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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

CONSELHO REGIONAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL DA SEXTA REGIÃO CREFITO – 6

OFÍCIO CREFITO-6/GAPREJUR/ Nº 013/2024.

Fortaleza, 19 de janeiro de 2024.

Resposta ao Ofício N°. SEI-5/2024/CREMEC/DIR/DIREX/COJUR/ASSEJUR.

Exma. Sra. Dra. Inês Tavares Vale e Melo,


Presidente - Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará - CREMEC.

O Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Sexta


Região – CREFITO-6, Autarquia Federal Especial, com Jurisdição no Estado do Ceará,
criado pela Lei n.º 6.316/75, por seu Presidente que ao final subscreve, com o propósito de
prevenir responsabilidades e salvaguardar direitos, no uso das atribuições que a supracitada
lei lhe confere, vem à presença de Vossa Excelência, expor para ao final requerer:

CONSIDERANDO que compete aos Conselhos Regionais “fiscalizar o


exercício profissional na área de sua jurisdição representando, inclusive, às autoridades
competentes, sobre os fatos que apurar e cuja solução ou repressão não seja de sua alçada”
(art. 7º, inciso III, da Lei nº. 6.316/75);

CONSIDERANDO que é seu dever zelar e trabalhar, por todos os meios ao seu
alcance, pelo perfeito desempenho ético da Fisioterapia e Terapia Ocupacional e pelo
prestígio e bom conceito dessa profissão e dos que a exercem legalmente (Art. 5º da Lei n.º
6.316/75);

CONSIDERANDO que para exercer a Fisioterapia e Terapia Ocupacional de


maneira digna, os profissionais devem ter boas condições de trabalho e manter-se
atualizados, aperfeiçoando seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais em benefício
da sociedade brasileira e do desenvolvimento do exercício da sua profissão;

Av. Rogaciano Leite, 432 – CEP: 60810-786 – Fortaleza/Ceará


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Desse modo, diante das supramencionadas considerações, vimos por meio deste
Ofício encaminhar resposta à solicitação feita no Ofício N°.
SEI-5/2024/CREMEC/DIR/DIREX/COJUR/ASSEJUR, no qual foi requisitada
manifestação deste Conselho Regional em relação ao suposto exercício ilegal do profissional
Fisioterapeuta Dr. Luiz Jonas Marques Filho, inscrito sob o nº 155964-F, em específico no
que se refere às técnicas invasivas de controle da dor e da inflamação, prescrição de
medicamentos para quadros de inflamação.

Inicialmente, cumpre informar que o Fisioterapeuta é profissional liberal de


saúde, de formação acadêmica de nível superior, de primeiro contato e capacitado a atuar em
todos os níveis de atenção à saúde, devidamente reconhecido e regulamentado pelo
Decreto-Lei nº 938/1969, pela Lei Federal nº 6.316/1975, pelo Decreto nº 90.640/1984, pela
Lei Federal nº 8.856/1994, pelas Resoluções do COFFITO nº 8/1978 e nº 80/1987, com
autonomia técnico-científica para construir o diagnóstico fisioterapêutico, planejar a
intervenção fisioterapêutica, prescrever e executar a programação fisioterapêutica,
acompanhar a evolução do quadro clínico-funcional e determinar a alta fisioterapêutica.

A primordialidade do preparo técnico do Fisioterapeuta para aceitar assumir


qualquer atribuição está também garantida no Art. 5° da Resolução COFFITO 424/2013:

Art.5° - O fisioterapeuta avalia sua capacidade técnica e somente aceita


atribuição ou assume encargo quando capaz de desempenho seguro para o
cliente/paciente/usuário, em respeito aos direitos humanos.

Nesse sentido, vejamos o que dispõem os artigos 8º e 9º, inciso III, da Resolução
COFFITO 424/2013, que estabeleceu o Código de Ética e Deontologia da Fisioterapia:
Artigo 8º – O fisioterapeuta deve se atualizar e aperfeiçoar seus
conhecimentos técnicos, científicos e culturais, amparando-se nos
princípios da beneficência e da não maleficência, no desenvolvimento de
sua profissão, inserindo-se em programas de educação continuada e de
educação permanente.

Artigo 9º – Constituem-se deveres fundamentais do fisioterapeuta, segundo


sua área e atribuição específica:
III – utilizar todos os conhecimentos técnico-científicos a seu alcance e
aprimorá-los contínua e permanentemente, para promover a saúde e
prevenir condições que impliquem em perda da qualidade da vida do
ser humano;

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Vale mencionar, também, o artigo 3º do Decreto Lei nº 938/69 que dispõe que “É
atividade privativa do fisioterapeuta executar métodos e técnicas fisioterápicos com a
finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do paciente”.
Ademais, a Lei Federal e reiteradas decisões judiciais são unânimes nesse
sentido, ao definir como privativo do fisioterapeuta em realizar a consulta fisioterapêutica,
prescrever a intervenção fisioterapêutica e executar essa intervenção, adotando métodos e
técnicas fisioterápicos com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade
física do paciente.
A respeito do tema, em recente julgado do Superior Tribunal de Justiça no REsp
Nº 1.592.450/RS, a Primeira Turma ao julgar embargos de declaração concluiu que é
permitido ao fisioterapeuta e ao terapeuta ocupacional diagnosticar doenças, prescrever
tratamentos e dar alta terapêutica, reconhecendo assim a autonomia profissional, de modo
que reformou o entendimento anteriormente adotado em que apenas o médico poderia
realizar tais atos, ficando restrito ao fisioterapeuta e ao terapeuta ocupacional apenas
executar técnicas e métodos prescritos.
Em relação a prescrição de medicamentos, em 2017, no uso de suas atribuições,
o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional – COFFITO, normatizou a
utilização e/ou indicação de substâncias de livre prescrição pelo fisioterapeuta por meio
do ACÓRDÃO Nº 611, DE 1º DE ABRIL DE 2017, devendo levar-se em consideração a
Instrução Normativa IN86/2021 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA), que define a lista de medicamentos isentos de prescrição; bem como as
exceções elencadas na Portaria nº 344/1998 do Ministério da Saúde que aprova o
Regulamento Técnico referente às substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial.
Dessa forma, não há óbice para que profissionais fisioterapeutas
prescrevam/indiquem medicamentos classificados pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) como medicamentos isentos de prescrição.
Ademais, observa-se que na própria publicação realizada pelo profissional e
juntada pelo CREMEC, consta a informação “Anti-inflamatórios de livre prescrição”.
Vejamos:

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Vale mencionar que atualmente, a Lista de medicamentos isentos de prescrição


encontra-se atualizada pela ANVISA na Instrução Normativa – IN n° 120, de 09 de março
de 2022.
Outrossim, na formação acadêmica do Fisioterapeuta estão incluídas disciplinas
que o dão propriedade para ser um profissional prescritor. Especificamente, a disciplina de
Farmacologia está incluída nos componentes curriculares de todos os cursos de graduação
em Fisioterapia, com carga horária igual ou superior a disciplinas aplicadas, próprias do
fazer fisioterapêutico.
Pode-se inferir, portanto, que o Fisioterapeuta é competente para e autorizado a
incluir no seu leque terapêutico as substâncias elencadas na Instrução Normativa 86 de 12 de
março de 2021 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e suas atualizações,
que institui a Lista de Medicamentos Isentos de Prescrição.
Além disso, por meio do ACÓRDÃO COFFITO 293 DE 16 DE JUNHO DE
2012, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional incluiu a carboxiterapia
como recurso próprio da Fisioterapia Dermato funcional.
De forma similar, a ozonioterapia, que também utiliza a via injetável como
forma de administração e foi, indiretamente, reconhecida como recurso próprio da
Fisioterapia pela Resolução COFFITO 380/2010 quando a técnica foi incluída como prática
na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde pela
Portaria 702 de 21 de março de 2018 do Ministério da Saúde.

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Vale mencionar o ACÓRDÃO COFFITO Nº 609, DE 11 DE MAIO DE 2023,


através do qual o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional reconheceu a
habilitação dos profissionais fisioterapeutas na utilização da toxina botulínica, desde que
observados os critérios elencados no referido acórdão.
O Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional também reconheceu a
habilitação dos profissionais fisioterapeutas na utilização da Intradermoterapia/Mesoterapia,
desde que observados os critérios constantes no ACÓRDÃO COFFITO Nº 636, DE 7 DE
JULHO DE 2023.
Desse modo, levando em consideração a função normativa do COFFITO e o que
está expresso nos supramencionados acórdãos, resoluções e Leis, não há impedimentos para
a prescrição de medicamentos manipulados por profissionais fisioterapeutas, desde que
normatizado pelo Conselho Federal, conforme prevê a própria RDC Nº 67, DE 8 DE
OUTUBRO DE 2007 no item 5.17.1 do seu ANEXO, “Prescrição de medicamentos
manipulados”, senão vejamos:
5.17. Prescrição de medicamentos manipulados.
5.17.1. Os profissionais legalmente habilitados, respeitando os códigos
de seus respectivos conselhos profissionais, são os responsáveis pela
prescrição dos medicamentos de que trata este Regulamento Técnico e seus
Anexos.

Sendo assim, resta claro que NÃO EXISTE NENHUM IMPEDIMENTO


LEGAL de prescrição medicamentosa pelos fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais,
com exceção dos medicamentos elencados na Portaria nº 344/1998 do Ministério da Saúde
que aprova o Regulamento Técnico sobre substâncias e medicamentos sujeitos a controle
especial.
Outrossim, é entendimento do STJ que os fisioterapeutas e terapeutas
ocupacionais possuem AUTONOMIA PROFISSIONAL, podendo diagnosticar
doenças, prescrever tratamentos e dar alta terapêutica aos seus pacientes.
Vale mencionar que o Ministério Público do Rio Grande do Sul, por meio da
promotora de justiça Maria Fernanda Goetzke Pitrez, entendeu pelo arquivamento de
denúncia movida pelo Sindicato Médico do Rio Grande do Sul contra profissional de
fisioterapia que, segundo os denunciantes, estaria praticando ilegalmente a medicina.

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Segundo o despacho do Ministério Público na supracitada denúncia, “pode-se


dizer que os fisioterapeutas podem prescrever medicamentos, inclusive não
fitoterápicos, desde que observadas as normatizações estabelecidas pelo COFFITO a
respeito da temática, e, claro, a legislação pertinente, pois, se não observados, e a
depender da conduta eventualmente praticada, a prescrição de medicamento poderá
ensejar a caracterização do tipo penal previsto”. (grifo nosso).
Além disso, o Ministério Público do Rio Grande do Sul entendeu ainda que “a
Resolução COFFITO no 380/2010, que regulamenta o uso pelo Fisioterapeuta das Práticas
Integrativas e Complementares de Saúde e dá outras providências, somado ao Acórdão no
611, de 1º de abril de 2017, do plenário do COFFITO, autorizam a prescrição pelo
fisioterapeuta de medicamentos fitoterápicos/fitofármacos, medicamentos homeopáticos,
medicamentos antroposóficos, medicamentos ortomoleculares, fotossensibilizadores para
terapia fotodinâmica, iontoforese e fonoforese com substâncias de livre prescrição e florais
como próprios da Fisioterapia”.

É necessário, ainda, salientar que o artigo 4º da Lei nº 12.842/2013 que dispõe


sobre o exercício da Medicina, estabelece as atividades privativas do médico:

Art. 4º São atividades privativas do médico:

(...)

III – indicação da execução e execução de procedimentos invasivos, sejam


diagnósticos, terapêuticos ou estéticos, incluindo os acessos vasculares
profundos, as biópsias e as endoscopias;

Para tanto, é essencial entender o conceito legal de procedimento invasivo,


segundo a Lei nº 12.842/2013:

Art. 4º São atividades privativas do médico:

(…)

§ 4º Procedimentos invasivos, para os efeitos desta Lei, são os


caracterizados por quaisquer das seguintes situações:

(...)

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III – invasão dos orifícios naturais do corpo, atingindo órgãos internos.

Embora não exista um conceito legal de “órgãos internos” para efeitos jurídicos,
a hermenêutica jurídica exige razoabilidade na interpretação dos dispositivos legais, onde o
operador do direito deve buscar a intenção do legislador - sob pena de favorecer a reserva de
mercado e prejudicar a atuação de outras categorias em uma perspectiva multiprofissional.

Portanto, não há dúvidas de que os órgãos internos se referem às vísceras do


corpo humano, tais como os pulmões, o coração, o fígado, o cérebro, etc.

É de conhecimento dos profissionais na área da saúde que os órgãos internos são


protegidos pelo músculo, de modo que a epiderme, a derme, o tecido subcutâneo e o próprio
músculo devem ser considerados órgãos externos para efeitos jurídicos.

Logo, tendões, nervos e articulações são estruturas anatômicas ligadas ao


sistema muscular, que estão diretamente relacionadas aos movimentos e às funções físicas
do corpo humano, cuja restauração ou conservação é uma atividade privativa do
fisioterapeuta.

Vê-se, portanto, que não há óbice ao uso da via injetável pelo Fisioterapeuta.

Assim, não há impedimento para a prescrição de medicamentos e as técnicas


injetáveis não configura os procedimentos chamados invasivos, pois a terapia injetável, tem
como foco atingir, camadas da pele, fáscias, músculos, peritendíneos, fascículos nervosos,
dermátomos, miótomos, articulações, tecido adiposo e desta forma não configurando como
procedimentos invasivos.

Aproveitamos a oportunidade para renovar nossos votos de estima e apreciação.

Atenciosamente,

______________________________________________
Dr. Jacques Eanes Esmeraldo Melo
Presidente do CREFITO-6

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