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Serviço Público Federal

Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 1ª Região


CREFITO-1

PARECER JURÍDICO 091/2023-AJUR

ASSUNTO: Trata-se de parecer jurídico que versa sobre a possibilidade do profissional


fisioterapeuta prescrever medicamentos isentos de prescrição (MIP’s)

A ouvidoria do CREFITO-1 recebeu e-mail por meio do qual formulou-se


consulta sobre a possibilidade do profissional fisioterapeuta prescrever antibióticos,
corticoides, antirreumáticos, entre outros medicamentos isentos de prescrição.

Direto ao ponto, diga-se que não há qualquer óbice para que profissionais
fisioterapeutas prescrevam/indiquem medicamentos classificados pela Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (ANVISA) como medicamentos isentos de prescrição (MIP’s).

Em 2016, por meio da Resolução de Diretoria Colegiada – RDC n° 98, de 1°


de agosto de 2016, a ANVISA, dispôs sobre os critérios e procedimentos para o
enquadramento de medicamentos como isentos de prescrição e o reenquadramento como
medicamentos sob prescrição, e dá outras providências, que assim dispõe em seu artigo 2°:

Art. 2º Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes definições:


I- Medicamentos isentos de prescrição – são os medicamentos que podem ser
dispensados sem exigência de prescrição;
II- Medicamentos sob prescrição – são os medicamentos cuja dispensação é
restrita à apresentação de prescrição, inclusive os sujeitos a controle especial.
III- Lista de medicamentos isentos de prescrição (LMIP) – relação dos
medicamentos enquadrados pela Anvisa como isentos de prescrição nos termos
desta Resolução.

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CREFITO-1

No ano seguinte, o Plenário do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia


Ocupacional – COFFITO – por meio do Acórdão 611/2017, normatizou a utilização e/ou
indicação de substância de livre prescrição pelo fisioterapeuta, assim acordando, à
unanimidade:

ACORDAM em aprovar, por unanimidade, a normatização da utilização e/ou


indicação de substâncias de livre prescrição pelo fisioterapeuta, observando-se
ainda que:
I – O fisioterapeuta poderá adotar as referidas substâncias, de forma
complementar à sua prática profissional, somente quando os produtos prescritos
tiverem indicações de uso relacionadas com o seu campo de atuação e embasadas
em trabalhos científicos ou em uso tradicional reconhecido, atendendo aos
critérios de eficácia e segurança, considerando-se as contraindicações e
oferecendo orientações técnicas necessárias para minimizar os efeitos colaterais
e adversos das interações existentes, assim como os riscos da potencial
toxicidade dos produtos prescritos.

Como se vê, o COFFITO, no âmbito de suas competências estabelecidas


pela Lei 6.316/75 (art. 5, II)1, normatizou o uso dos MIP’s por fisioterapeutas, estabelecendo
ainda, para isso, cautelosamente, critérios de biossegurança a serem observados pelos
profissionais.

Atualmente, a Lista de MIP’s encontra-se atualizada pela ANVISA na


Instrução Normativa – IN n° 120, de 09 de março de 2022, na qual constam os antibióticos
na forma de pomadas dermatológicas (uso local), corticosteroides na forma de
cremes/pomadas dermatológicos, e antirreumáticos simples e não esteroidais na forma de
comprimidos e adesivos transdérmicos.

1
Art. 5º Compete ao Conselho Federal:
II - exercer função normativa, baixar atos necessários à interpretação e execução do disposto nesta Lei e à fiscalização
do exercício profissional, adotando providências indispensáveis à realização dos objetivos institucionais;

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Assim, não há qualquer impedimento para que fisioterapeutas utilizem


e/ou indiquem essas substâncias de livre prescrição na sua prática profissional, do
contrário restaria configurada lesão ao princípio da legalidade estampado no artigo art. 5°,
II da Constituição Federal:

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em


virtude de lei;

O inciso XIII do mesmo artigo constitucional ainda prevê que “é livre o


exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei
estabelecer”.

E nesse sentido, as qualificações profissionais dos fisioterapeutas


encontram-se muito bem estabelecidas no Decreto-Lei 938, de 13 de outubro de 1969, que
assim dispõe em seu artigo 3°:

Art. 3º É atividade privativa do fisioterapeuta executar métodos e técnicas fisioterápicos com a


finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do ciente.

E ainda, a Resolução COFFITO 80/1987 assim estabelece em seu artigo 1°,


dispõe:

“É competência do FISIOTERAPEUTA, elaborar o diagnóstico fisioterapêutico


compreendido como avaliação físico-funcional, sendo esta, um processo pelo qual, através de
metodologias e técnicas fisioterapêuticas, são analisados e estudados os desvios físico-
funcionais intercorrentes, na sua estrutura e no seu funcionamento, com a finalidade de
detectar e parametrar as alterações apresentadas, considerados os desvios dos graus de
normalidade para os de anormalidade; prescrever, baseado no constatado na avaliação
físico-funcional as técnicas próprias da Fisioterapia, qualificando-as e quantificando-as; dar
ordenação ao processo terapêutico baseando-se nas técnicas fisioterapêuticas indicadas;
induzir o processo terapêutico no paciente; dar altas nos serviços de Fisioterapia,

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utilizando o critério de reavaliações sucessivas que demonstrem não haver alterações que
indiquem necessidade de continuidade destas práticas terapêuticas.” (Grifado)

Por fim, registre-se que, bem recentemente, no dia 22/11/2022, ao julgar os


embargos de declaração no RECURSO ESPECIAL 1.592.450, a Primeira Turma do Superior
Tribunal de Justiça (STJ), por unanimidade, concluiu que é permitido ao fisioterapeuta e
ao terapeuta ocupacional diagnosticar, prescrever tratamentos e exames complementares,
e dar alta terapêutica.

Pelas razões aqui expostas, conclui-se pela possibilidade do fisioterapeuta


prescrever antibióticos, corticoides, antirreumáticos, entre outros medicamentos isentos de
prescrição, atualmente listados na Instrução Normativa – IN n° 120/2022 da ANVISA.

É o parecer.

Recife/PE, 30 de Março de 2023.

Assinado de forma digital por CARLOS


FRANCISCO DA SILVA:02156980454
Dados: 2023.03.30 10:40:16 -03'00'
Dr. Carlos Francisco da Silva
Assessor Jurídico
OAB/PE: 46.301

Assinado de forma digital por


SILANO SOUTO MENDES
BARROS:74405136491
Dados: 2023.03.30 11:07:29 -03'00'

Dr. Silano Souto Mendes Barros


Presidente do CREFITO-1

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