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CAPÍTULO 02
A FISIOTERAPIA FORENSE

1. Conceito 057
2. Direito Fisioterapêutico 060
3. Fisioterapia Forense na Justiça Estatal 065
4. Fisioterapia Forense na Justiça Privada 068
5. Documentação Forense Fisioterapêutica 075
6. Honorários em Fisioterapia Forense 077
7. Referências Bibliográficas 079

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1. CONCEITO

Fisioterapia Forense é a aplicação dos conhecimentos de qualquer especialidade


fisioterapêutica reconhecida pelo COFFITO – Conselho Federal de Fisioterapia, ou
outra atividade enquadrada em área de atuação fisioterapêutica, a serviço da justiça
estatal ou privada. Esta atuação determina a elaboração de documentos legais cujos
teores se relacionam às disfunções dos movimentos humanos, e a eventual relação de
nexo destas disfunções com o contexto que estejam inseridas.

O ambiente forense é caracterizado pela existência de litígio entre as partes ou


pela eminente ação litigiosa, possibilitando ao fisioterapeuta atuar: na Justiça Estatal,
que envolve a Justiça Comum e Justiça Especial; na Justiça Privada, que envolve a
Arbitragem, a Mediação e a Conciliação; na Polícia Judiciária, que envolve Inquéritos
Investigativos; e nas situações litigiosas administrativas.

Estamos passando por um período diferenciado em relação à utilização das


ciências da área da saúde no cenário jurídico/forense. Basta observarmos a utilização
pelo judiciário de laudos de profissionais desta área, como elementos de muita
relevância às decisões dos magistrados e consequente aplicação da justiça. Neste
universo podemos ver solicitações jurídicas a médicos, fonoaudiólogos,
fisioterapeutas, odontólogos e psicólogos em um volume crescente, nas mais diversas
esferas do judiciário.

E, por caracterizar uma ação que foge ao habitual destes profissionais, esta área
de atuação acabou sendo batizada de “forense”, “jurídica” ou “legal”, sendo
usualmente nominada como: Medicina Legal, Fonoaudiologia Forense, Fisioterapia
Forense, Odontologia Forense e Psicologia Forense. Entendemos então que estas
profissões da área de saúde determinaram campos de atuação, que para algumas

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constituem especializações acadêmico/profissionais, na interface das áreas


institucionais ligadas a justiça.

Chamamos a atenção neste texto para a Fisioterapia Forense, que vem


demonstrando um crescimento ímpar neste cenário jurídico. Como tentativa de
justificar este crescimento, podemos dizer que o aumento dos conhecimentos em
relação aos aspectos da funcionalidade humana, norteados pelos países membros da
OMS – Organização Mundial de Saúde a partir de 2003, pode ter sido o grande
responsável. Pois com a determinação da adoção da CIF – Classificação Internacional
de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, se potencializou a atuação do profissional
fisioterapeuta, cuja área de atuação caracteriza-se também pela quantificação e
qualificação das incapacidades físicas, ou seja, das sequelas de movimento.

É fato que qualquer doença ou acidente determina injúrias físicas e/ou


cognitivas. Em consequência destas injúrias invariavelmente se instalam graus de
incapacidade, ou de déficit funcional. Em relação aos aspectos físicos estes danos
podem resultar em comprometimento de diversas funções do indivíduo, tais como:
força, flexibilidade, equilíbrio, sensibilidade e capacidade aeróbia.

E como o profissional fisioterapeuta tem formação específica nesta matéria,


mostra ser um grande auxiliar aos atores de um processo jurídico, quando solicitantes
deste préstimo. Isto é muito bem demarcado na justiça do trabalho e na previdência
social, onde o fisioterapeuta pode verificar se existe relação entre a incapacidade físico-
funcional apresentada pelo autor (reclamante) e o trabalho executado, e também
quantificar esta provável incapacidade, sendo então uma excelente ferramenta aos
prepostos das partes e ao juiz.

A Fisioterapia Forense então caracteriza uma atuação fisioterapêutica específica


à emissão de laudos e pareceres, para utilização no universo forense/jurídico/legal, ou

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do direito. Estes documentos, à luz da exclusividade profissional são elaborados a partir


de uma conclusão diagnóstica, designada “diagnóstico cinesiológico-funcional”, que
em várias situações da justiça é necessária, tanto para quem acusa para quem se defende
e para quem julga.

Ou seja, a função de perito judicial ou de assistente técnico das partes está


inclusa na Fisioterapia Forense, assim como a atuação de árbitro, conciliador,
mediador, perito ad hoc para polícia judiciária, perito em litígios administrativos, perito
criminal específico (como em crimes contra a saúde pública que envolva sua área de
atuação, assim como em crimes contra o consumidor).

Então, estabelecer parâmetros de quantificação, qualificação e nexo entre o


“estado mórbido” no aspecto físico e o acidente/doença é função do “Fisioterapeuta
Forense”, e isto por si só já se caracteriza como uma ferramenta utilizável em diversos
campos do direito, ou a ser utilizado para este fim.

Resumindo, onde existir uma incapacidade físico-funcional que necessite ser


quantificada e qualificada (eventualmente tendo que se estabelecer um nexo
técnico/causal) para ser utilizada em qualquer processo jurídico/legal, privado ou
estatal, existe a necessidade da atuação do “Fisioterapeuta Forense”, e isto por si só,
basta para demonstrar a importância da utilização deste profissional e a
responsabilidade que acompanha sua atuação.

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2. DIREITO FISIOTERAPÊUTICO

Para o seu exercício profissional legal o fisioterapeuta necessita


obrigatoriamente da inscrição no Conselho Regional da circunscrição em que pretende
atuar. Este é o primeiro aspecto do direito a ser interpretado pelo profissional. Mas,
atualmente, assim como a outros profissionais da área da saúde, se impõe ao
profissional fisioterapeuta a necessidade de conhecimentos mais aprofundados, e a
implantação em seu cotidiano de rotinas de gestão ético-legais além do previsto em seu
Código de Ética e Deontologia, estabelecido pela Resolução 424 de 2013 do COFFITO
– Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional.

Interpretamos que esta necessidade de conhecimentos mais aprofundados no


universo do direito seja devida principalmente a duas resumidas razões: A primeira diz
respeito ao que preconiza o próprio Código de Ética e Deontologia profissional já
referenciado, quando em seu parágrafo único do Artigo 5º diz que:

(...) No exercício de sua atividade profissional o


fisioterapeuta deve observar as normatizações e
recomendações relativas à capacitação e à titulação
emanadas pelo Conselho Federal de Fisioterapia e de
Terapia Ocupacional. (...)

E a segunda, de maior desconhecimento do profissional fisioterapeuta e dos


demais da área da saúde, diz respeito às imputações legais que podem recair sobre o
profissional, à luz de responsabilidades Civil, Criminal e até em relação ao Código de
Defesa do Consumidor.

Neste sentido, fica claro que a atuação do profissional fisioterapeuta que


conhece adequadamente seus limites legais será acompanhada pelo sucesso técnico que
a acompanha. Ou seja, pensando inversamente, a deficiência da capacitação técnica

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profissional (o saber fisioterapêutico) é ponto pacífico de insucesso profissional, e mais


ainda se somado ao desconhecimento de responsabilidades legais mínimas relacionadas
à sua atuação.

Convém neste texto então tecer algumas considerações conceituais que podem
fazer diferença neste tema de “Direito Fisioterapêutico”, extensivo às demais profissões
da área da saúde, quando o assunto é a concretização de um erro profissional causador
de dano ao cliente, que também pode ser denominado como paciente, doente e até
usuário.

Se há efetivamente um dano/lesão comprovada pelo profissional fisioterapeuta


(erro fisioterapêutico), o tema do Direito que norteará a discussão será o relativo à
Responsabilidade Civil de perfil subjetivo. Este tipo de responsabilidade é
caracterizado pela presença obrigatória da relação de nexo entre o referido dano/lesão
e a ação ou omissão técnica do profissional fisioterapeuta, e este dano é considerado
um “ato ilícito” por parte do profissional, conforme o artigo 927 do Código Civil
brasileiro diz que:

(...) Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,


independentemente de culpa, nos casos especificados em lei,
ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor
do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
outrem. (...).

E o embasamento que fundamenta o cumprimento da “obrigação de reparar o


dano” também está fundamentado no Código Civil nos artigos relevantes a este assunto:

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(...) Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o


ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros
cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo
que o ofendido prove haver sofrido.

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não


possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade
de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros
cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente
à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação
que ele sofreu. (...)

De acordo com o ordenamento jurídico, para que possa haver a


caracterização efetiva de uma lesão/dano, interpretado como ato ilícito e, por
conseguinte o profissional fisioterapeuta possa sofrer ação de indenização, é
necessário que estejam presentes quatro elementos:

a) A conduta técnica, seja de forma ativa (ação) ou negativa (omissão),


b) A culpa,
c) A violação do direito de outrem
d) A lesão/dano.
A ação ou omissão técnica do profissional Fisioterapeuta pode possuir relação
com a caracterização de eventual responsabilidade criminal de sua parte, na análise de
culpa que as envolve. Define-se culpa através da violação de um dever jurídico por
negligência, imprudência ou imperícia do profissional. Se esta violação é proposital,
atuou o profissional com dolo; se decorreu de negligência, imprudência ou imperícia,
a sua atuação é apenas culposa.

Quando a referência é dolosa a esfera de responsabilidade é efetivamente


transferida da seara civil para a criminal, podendo envolver inclusive crimes contra a

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saúde pública e crimes contra a relação de consumo. O dolo criminal tem duas
subdivisões, A primeira, conhecida como dolo direto, incide quando o agente quis o
resultado, e a segunda, chamada dolo eventual (ou condicionado), ocorre quando o
agente assumiu o risco de produzir esse mesmo dano/lesão.

Convém apresentar, também conceitualmente, a caracterização de culpa não


proposital sobre o dano/lesão determinado pela conduta do profissional fisioterapeuta:

a) A imprudência é a falta de zelo quanto a uma ação, ou seja, o


fisioterapeuta apesar de ser dotado de conhecimento técnico para
realizar determinado ato fisioterapêutico, não o faz de forma cautelosa.
O profissional tem total conhecimento sobre o risco de alguma atitude
a ser ou não tomada, mas a ignora e toma a decisão de agir mesmo
assim.
b) A negligência ocorre quando o fisioterapeuta deixa de apresentar uma
conduta baseada em um roteiro técnico de boas práticas, não se investe
das devidas precauções, age com descuido, sem atenção.
c) A imperícia refere-se a falta de habilitação e/ou capacitação técnica
para determinado ato fisioterapêutico.

À luz do direito, o erro fisioterapêutico, é a consequência negativa previsível e


evitável de um ato fisioterapêutico, representada por dano físico e/ou funcional. Não é
caracterizada então como erro fisioterapêutico uma consequência negativa de seu ato
profissional, se não previsível ou evitável por circunstâncias alheias à vontade do
fisioterapeuta.

Além do viés dos conceitos do direito para o contexto atual da Fisioterapia, o


universo forense permite ao profissional também interpretar que é possível exercer

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atividade como consultor, assessor, perito, árbitro (juiz arbitral) dentre outras funções
forenses, em benefício também de seus clientes e atores do direito.

Pelo exposto, acreditamos que o profissional fisioterapeuta deve vislumbrar um


aprofundamento nos conhecimentos em “Direito Fisioterapêutico”, com vistas à uma
prestação de serviços com a qualidade que o momento da profissão merece.

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3. FISIOTERAPIA FORENSE NA JUSTIÇA ESTATAL

Fica claro então que o profissional fisioterapeuta pode ser chamado a participar
como expert de sua atuação, em qualquer situação litigiosa que envolva funções
relacionadas ao movimento humano, notadamente em situações de perícias, com o seu
mister de atuação como perito.

Dentre as situações litigiosas, as que apresentam o maior vulto atualmente à


atuação do trabalho fisioterapêutico são as originadas pela justiça estatal. Ou seja,
aquelas que se encontram dentro do mais comum ordenamento jurídico nacional, onde
a figura do Juiz é muito representativa, e que possui a maior busca da população.

Nesta, fica evidenciada a atuação pericial fisioterapêutica. Sendo assim é


importante que possamos compreender inicialmente os conceitos desta digna área. Para
que se possa entender o que é ser PERITO em situações judiciais, é necessário
compreender inicialmente o que vem a ser uma PERÍCIA.

De acordo com o Dr. Ivaldo Lemos Júnior, Promotor de Justiça do Distrito


Federal, no âmbito de um processo judicial, pode ser que as partes envolvidas no
conflito ou o juiz precisem de prova pericial, ou seja, de um documento que esclareça
um ponto importante da causa.

O Código de Processo Civil (CPC), referenciado pela Lei 13.105 de 16 de março


de 2015, fala que nesta situação o Juiz pode ser assistido por um perito, e deixando
claro que o mesmo deve possuir “conhecimento técnico ou científico”, e que por esta
razão a perícia judicial somente pode ser realizada por pessoa com formação
especializada.

A razão de ser da perícia, que ao fim é a representação do trabalho do perito, é


que seu conteúdo não poderia ser produzido pelos juízes ou pelos advogados. Pois, eles
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mesmos, que são bacharéis em direito, demandariam para vossos trabalhos outras
formações intelectuais e práticas profissionais.

Assim, um Processo Judicial se inicia por provocação da parte autora, formando


um triângulo no seu processamento, com os litigantes (o que acusa e o que se defende)
e o Juiz. Este espera a discussão das partes, analisa as provas, consulta a Lei e
finalmente oferta o julgamento determinando uma conclusão ou sentença.

Todos os atores do processo utilizam profissionais tecnicamente habilitados,


para melhor execução de seus trabalhos. Estes profissionais são denominados
“PERITOS”, e neste conjunto estão os fisioterapeutas, cuja missão é realizar o mister
de sua atuação profissional, que é a análise de NEXO entre o movimento laboral, o ato
cirúrgico, o mecanismo de trauma e a incapacidade funcional.

Na realidade, quando inserido no contexto de um processo judicial (trabalhista,


cível ou outra modalidade de justiça), o ato pericial tem seus principais atores alocados
em um triângulo com a seguinte representação:

Fig. 01 – Atores de um processo simples na Justiça

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Observa-se a presença de três profissionais peritos no processo judicial, sendo


que os “Peritos Consultores” recebem a denominação de Assistentes Técnicos das
partes, enquanto o Perito nomeado pelo Juiz é conhecido somente como Perito Judicial.

Existe ainda a modalidade mais comum de atuação do fisioterapeuta no universo


forense, como não participante do referido triângulo, mas envolvido indiretamente
pelos solicitantes de seu Parecer Ad Hoc, para que sirva como meio de prova em juízo:

Fig. 02 – Exemplo de solicitantes de atuações transversais ao fisioterapeuta

Desta forma compreendemos que o profissional fisioterapeuta possui


habilitação técnica para atuar em qualquer um dos vértices do triângulo representado,
e ainda de forma independente, como um especialista contratado. Prova para tanto pode
ser expressa nos textos das Resoluções 80, 367, 370, 464, 465 e 466 do COFFITO e
considerando Resolução CNE/CES 4, de 19 de fevereiro de 2002.

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4. FISIOTERAPIA FORENSE NA JUSTIÇA PRIVADA

O acesso à justiça objetiva a pacificação social e é um direito fundamental


consagrado na Constituição da República Federativa do Brasil, devendo ser aplicado a
sua máxima efetividade. Desta forma, nem todas as causas, indistintamente, devem ser
apreciadas exclusivamente pela justiça estatal, podendo estas, em algumas hipóteses,
fazer uso de vias alternativas para solucionar a lide e evitar que anos sejam perdidos
com a instrução de uma ação judicial estatal.

“O juiz não pode dar um certificado de garantia


junto com a sentença garantindo que ali está a Justiça. Em
cada processo sempre há, no mínimo, duas “verdades”,
uma de cada lado. E o juiz, para garantir justiça, precisa
descobrir qual é a “verdade” verdadeira e isso nem sempre
é possível. Daí o risco de injustiça na forma impositiva.”
Desembargador Valter Ressel – TJPR (2008).

A citação do ilustríssimo Desembargado Valter Ressel, dentre outros que


procuram potencializar a cultura da conciliação, sinaliza efetivamente a necessidade da
utilização dos meios auxiliares de solução de conflitos. Havendo a possibilidade, há
vantagens evidentes para a utilização de meios extrajudiciais na resolução de lides. A
principal vantagem é a liberdade que os interessados possuem em todos os
desdobramentos do procedimento, como, por exemplo, a possibilidade de nomeação
dos especialistas em conciliação, mediação e arbitragem.

Descrevemos algumas vantagens da utilização destes meios auxiliares em


resolução de conflitos:

• Celeridade. O procedimento é mais rápido e menos formal, o que


contribui para diminuir o desgaste e a ansiedade.
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• Economia. Como o processo é célere, não há perda de tempo nem


dinheiro.
• Informalidade. Os procedimentos são imunes à burocracia. São
técnicas ágeis e dinâmicas, que combinam com uma sociedade
moderna que valoriza a busca por soluções eficazes e efetivas.
• Sigilo. Não há publicidade, contribuindo para resguardar os
interessados sem exposição perante o público e a mídia.
• Especialização. São profissionais especializados na matéria e no
conflito em si (como no caso de fisioterapeutas no universo da
fisioterapia forense) podendo, assim, conduzir com absoluto
conhecimento de causa e chegar ao procedimento com objetividade
e precisão, garantindo a qualidade.
• Autonomia da vontade. Os interessados têm maior autonomia, pois
podem escolher os especialistas e a entidade que ficará encarregada
na administração do procedimento (como as Câmaras Arbitrais de
Fisioterapia).
• Manutenção das relações comerciais. Preserva o relacionamento
por ser uma opção feita pelos próprios interessados, de comum
acordo e de forma pacífica, onde cria-se um ambiente favorável à
mútua cooperação.

A negociação, mediação, conciliação e arbitragem, ainda que sejam formas


consensuais de solução de conflitos, possuem várias diferenças entre si. Assim cabem
às partes (pessoas físicas ou jurídicas) decidirem qual o método mais adequado ao seu
caso.

Na negociação não há participação de terceiro, as próprias pessoas em conflito


buscam, por elas mesmas, a resolução do problema (auto composição). Pode haver ou
não a participação de representantes advogados ou outros.
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A mediação é regulamentada pela Lei 13140 de 2015 e nela há uma “auto


composição assistida”, ou seja, são os próprios envolvidos que discutirão e comporão
o conflito, mas com a presença de um terceiro imparcial, que não deve influenciar ou
persuadir que as pessoas entrem em um acordo. No processo de mediação existe a
preocupação de recriar vínculos entre as pessoas, estabelecer pontes de comunicação,
transformar e prevenir conflitos.

Na conciliação, o conciliador faz sugestões, interfere, oferece conselhos. Na


segunda, o mediador facilita a comunicação, sem induzir as partes ao acordo. Esse,
aliás, é o objetivo primordial da conciliação. Na mediação, por outro lado, o acordo
será apenas uma consequência e um sinal de que a comunicação entre as pessoas foi
bem desenvolvida. O CNJ – Conselho nacional de Justiça fundamenta a partir da
Resolução 125 de 2010 o norte da atividade de mediação e conciliação.

Já a arbitragem possui maior número de textos jurídicos e comerciais a seu


respeito, já representa um meio extrajudicial de solução de controvérsias possuidor de
legislação mais antiga, determinada pela Lei 9307 de 1996 e atualizada pela Lei 13.129
de 2016. Na arbitragem as partes em conflito elegem um árbitro (ou juiz arbitral) para
decidir suas divergências, utilizando critérios específicos.

A lei da arbitragem permite tanto às pessoas físicas, maiores de 18 anos,


plenamente capazes de contratar e exercer os seus direitos, quanto às pessoas jurídicas
regularmente constituídas, a utilização da arbitragem para fins de solução extrajudicial
de um litígio, independentemente do valor envolvido na controvérsia em questão.

Poderão ser submetidas à arbitragem questões patrimoniais de natureza


disponível, ou seja, que possam ser avaliadas e quantificadas economicamente. Em
linhas gerais, são direitos em que as partes podem livremente transigir, dispor, desistir,
abrir mão ou contratar.

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Fig. 03 – Quadro resumo de resoluções de conflitos

Sendo assim, muitos contratos onde exista a atuação fisioterapêutica e de outros


profissionais de saúde são passíveis à arbitragem, bastando por vontade das partes
inserir a cláusula compromissória (ou cláusula arbitral). Nesta situação as partes em
contrato já elegem o árbitro ao a instituição arbitral (câmaras arbitrais) aos quais
recorrerão em caso de litígio. Da mesma forma, caso não tenha havido a inserção da
cláusula arbitral há possibilidade de se firmar um compromisso arbitral já com o litígio
instalado.

A ABFF – Associação Brasileira de Fisioterapia Forense, formatou suas


Câmaras Arbitrais de Fisioterapia exatamente para o fim da utilização da arbitragem
no cenário fisioterapêutico dentro dos mais diversos contratos envolvendo a atuação
profissional. As câmaras são integradas por árbitros fisioterapeutas com conhecimentos
específicos nas matérias de fisioterapia a serem julgadas, formando para esta missão os

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Tribunais Arbitrais de Fisioterapia, compostos pelo menos por 03 (três) profissionais:


Veja as mais comuns possibilidades da utilização da Arbitragem Fisioterapêutica.

4.1 PESSOA JURÍDICA DE FISIOTERAPIA X


EMPRESA - As pessoas jurídicas de fisioterapia podem dispor da
arbitragem quando realizam fechamento de contratos com outras
empresas. Estes contratos podem ser transversais, pontuais e sobre uma
demanda própria, ou podem ser contratos mais longitudinais, com
demandas mais complexas não tão pontuais. Podemos destacar nesta
situação contratos de outras empresas para empresas de consultoria e
auditoria fisioterapêutica e contratos de outras empresas para empresas
gestoras de atividades de ensino em fisioterapia.

4.2 PESSOA FÍSICA X EMPRESA - Em situações onde o


fisioterapeuta é colaborador (empregado, assalariado) de uma empresa
(hospital, clínica, instituição de ensino) e não lhe foi permitido negociar
seu salário, pois nesta situação não seria honorário, o direito ao trabalho
é considerado indisponível e não caberia então o instituto de arbitragem
neste formato. Porém, se ao profissional foi permitido se posicionare
negociar seus honorários, demonstrando que a percepção de seus
pagamentos tem relação com a negociação dos valores e não está 100%
sob o jugo do contratante, cabe a inclusão de cláusula arbitral em seu
contrato de trabalho. Esta é uma situação muito comum no mercado
dos profissionais de saúde que atuam como consultores e também
prestadores de seus serviços profissionais (médicos, psicólogos,
fisioterapeutas, nutricionistas e demais).

4.3 PESSOA FÍSICA X PESSOA FÍSICA - Neste ponto há


possibilidade arbitral em contratos de prestação de serviços

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fisioterapêuticos, versando sobre os déficits ou erros da atuação


profissional sobre seu cliente. Nesta situação estamos nos referindo a
relação de consumo do cliente para com o profissional fisioterapeuta.
Há duas vertentes de trabalho fisioterapêutico perante a venda de seus
serviços ao cliente, entendido como consumidor. Existe a atividade-
meio e a atividade-fim. É possível afirmar que a atividade do
fisioterapeuta, como de qualquer outro profissional de saúde, é
efetivamente de meio. Mas de acordo com a caracterização do serviço
pode ser também de fim. Algumas vezes por inexperiência o
profissional acaba por caracterizar a sua atuação, em contrato ou não,
como de fim. Nesta situação existe a obrigação de resultado sobre suas
condutas/tratamento, caracterizando então uma responsabilidade
objetiva cabendo reparação direta por não ter atingido o que foi
acordado. Independentemente de responsabilidade subjetiva (de meio)
ou objetiva (de fim) pela atuação profissional fisioterapêutica, a
utilização da cláusula arbitral é legítima e benéfica para as partes.
Entendendo, neste caso, que o eventual litígio é pela caracterização do
“erro” ou “má conduta” fisioterapêutica, necessitando ou não
comprovar culpa.

4.4 PESSOA FÍSICA OU JURÍDICA X CONTRATOS DE


PARTICIPAÇÃO - Há um número considerável de profissionais
fisioterapeutas que atuam paralelamente à atividade clínica
fisioterapêutica. Estes constituem pessoasfísicas ou pessoas jurídicas
que podem elaborar contratos com seus contratantes ou parceiros.
Dentre estas atividades que permitem a inclusão de cláusula arbitral e
até compromisso arbitral, podemos destacar os contratos com empresas
desenvolvedoras de equipamentos de saúde na situação de projetista,

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componente da equipe, consultor técnico ou investidor; contratos de


participação como parecerista ad hoc em projetos educacionais, de
saúde e outros. O inverso também pode ocorrer, quando a pessoa
jurídica é de fisioterapia e elabora contratos de participação com outros
profissionais, sendo ou não de fisioterapia em atividades onde a
atividade fim não seja a prestação de serviços do rol ligado diretamente
à fisioterapia.

4.5 CONTRATOS DE SOCIEDADE LTDA - As diversas


empresas possíveis de serem desenvolvidas por fisioterapeutas, no trato
direto com a fisioterapia ou não, podem utilizar a arbitragem como um
meio de resolver futuros problemas entre os sócios. Desta forma, a
cláusula compromissória inserida no contrato social permite que os
sócios atuais e os que eventualmente se unam futuramente à empresa,
deve conter que árbitros ou que instituição arbitral deverá ser acionada
para o julgamento e elaboração da sentença arbitral para a resolução de
eventuais litígios.

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5. DOCUMENTAÇÃO FORENSE FISIOTERAPÊUTICA

O fisioterapeuta pode atuar nas situações litigiosas envolvidas na esfera


administrativa, estatal ou privada, elaborando uma série de documentos legais, em
situações especifiamente periciais, de jurisconsultoria ou de apoio às dúvidas oriundas
dos profissionais do Direito, tais como Magistrados (Juízes), Procuradores, Advogados
e Árbitros.

A Resoluçao 464 do COFFITO serve de referência para que esta documentação


se enquadre nos moldes ditados pelo órgão, assim como os ditames da legislação que
norteia a área específica trabalhada.

O fisioterapeuta atuando no universo forense pode elaborar, dentre outros, os


seguintes documentos legais específicos a quaisquer litígios que envolvam disfunções
relacionadas às funções e estruturas ligadas ao movimento humano:

• Parecer Ad hoc (técnicos) - Caracterizado como quantificador e qualificador


da incapacidade físico-funcional do examinado, com ou sem a necessidade
interpretativa;
• Autos de Constatação (Relatório Técnico) - Caracterizado pela situação
investigativa da demanda;
• Pareceres de Assistências Técnicas - Caracterizados pela atuação pericial
extrajudicial estatal como assistente técnico;
• Laudos Judiciais - Caracterizados pela atuação pericial judicial estatal como
perito judicial;
• Manifestações/Posicionamentos (Relatório Técnico) - Caracterizadas como
posicionamentos técnicos, opiniões ou impugnações em qualquer modalidade
de justiça ou situação administrativa;

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• Relatórios de Evolução (Relatório Técnico) - Caracterizados pelo


acompanhamento longitudinal de evolução fisioterapêutica para utilização em
qualquer modalidade de justiça;
• Sentença Arbitral - Caracterizada pela decisão do árbitro fisioterapeuta na
justiça privada.

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6. HONORÁRIOS EM FISIOTERAPIA FORENSE

Como são diversas as possibilidades de atuação do fisioterapeuta a serviço da


justiça estatal, justiça privada e em quisquer outras modalidades de litígios que
envolvam funções e estruturas relacionadas ao movimento humana, é compreensível
que haja também diversas possibilidades de precificação de honorários.

Sem levar em consideração o vulto do trabalho a ser prestado, o mais importante


é que o fisioterapeuta deve se ater às Resoluções do COFFITO que versam sobre o seu
comportamento na elaboração de sua base orçamentária. Neste sentido, a Resolução
482 de 2017 é a que deve ser a mais referenciada. Pois há em seu escopo o RNPF
(Referencial Nacional de Procedimentos Fisioterapêuticos), que serve para orientar o
fisioterapeuta quanto aos padrões mínimos de remuneração, levando em consideração
a dignidade e a valorização profissional.

Os valores do referencial de remuneração dos procedimentos fisioterapêuticos


estão expressos em reais, através da interpretação dos valores do Coeficiente de
Valoração – CV, com valor atual de R$ 0,63 (sessenta e três centavos), na época da
publicação da ediçao deste livro.

Dentre as diversas possibilidades de precificação de honorários em fisioterapia


forense, há destaque para o trabalho como perito judicial e de assistente técnico no
ambiente da justiça do trabalho. É importante ressaltar que em muitos tribunais os
valores dos honorários para os peritos judiciais são determinados pelo Juíz que nomeou
o fisioterapeuta, e caso estes valores ofendam o recomendado pelo RNPF, cabe ao
profissional elaborar uma petição fundamentada para a mudança dos valores.

Diferente do caso da perícia judicial, a atividade de perito das partes (assistente


técnico) é dotada de livre negociação com o contratante. Nesta situação recomendamos
a utilização dos códigos Capítulo XVII do RNPF, com a utilização dos Coeficientes de
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Valoração proporcional, pelo menos, às horas técnicas destinadas à prestação da


assistência técnica. É possível conferir no apêndice 07 um exemplo de Contrato de
Prestação de Serviços de Assistência Técnica, para nortear demais possibilidades de
base orçamentária de honorários em fisioterapia forense.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• ABRAHÃO, J. Ergonomia, Modelo, Métodos e Técnicas. - Fundação Jorge


Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho - FUNDACENTRO,
Editora Brasília, Brasília, 1993.
• AZEVEDO, A V. Curso de direito Civil: Teoria geral das obrigações/ 7. ed.
rev. e atual – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais 1998 – p. 238.
• CARMONA, C; A. Arbitragem e processo: um comentário à Lei nº 9.307/96.
3. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
• COSTA NETO J. Considerações sobre crimes de perigo abstrato e crimes
negligentes (ou culposos) à luz de novas perspectivas: Figueiredo Dias, Claus
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