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AULA 3. EXTORSÃO
ART. 158
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Vide Lei nº 8.072, de
25.7.90 (Vide Lei nº 10.446, de 2002)
Pena - reclusão, de oito a quinze anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de
25.7.1990)
§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é
menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é
cometido por bando ou quadrilha. Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 (Redação
dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.(Redação dada pela Lei nº 8.072, de
25.7.1990)
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:Vide Lei nº 8.072,
de 25.7.90
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.(Redação dada pela
Lei nº 8.072, de 25.7.1990)
§ 3º - Se resulta a morte:Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. (Redação dada pela Lei nº
8.072, de 25.7.1990)
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à
autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de
um a dois terços.
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de
25.7.1990)
§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é
menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é
cometido por bando ou quadrilha. Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 (Redação
dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
Pena - reclusão, de doze a vinte anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de
25.7.1990)
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Vide Lei nº 8.072,
de 25.7.90
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. (Redação dada pela Lei
nº 8.072, de 25.7.1990)
§ 3º - Se resulta a morte: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. (Redação dada pela Lei nº
8.072, de 25.7.1990)
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à
autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de
um a dois terços.
Porque falei que na extorsão mediante sequestro tem que ter no mínimo 3
pessoas? Eu sequestro (primeira pessoa) outra pessoa (segunda pessoa) e
mantenho em cárcere (sequestrada), e exijo, para soltar essa pessoa que está
aqui comigo, a um terceiro (terceira pessoa) uma vantagem indevida como
condição ou preço do resgate da vítima sequestrada.
Então, necessariamente eu tenho três pessoas no mínimo, isso porque
geralmente a extorsão mediante sequestro como é um crime que precisa de
uma certa logística, geralmente no polo ativo tem mais de uma pessoa. Ex:
precisa ter alguém que vai ficar no cativeiro, precisa de alguém que vai impedir
que a vítima vá sair, precisa de alguém que vai ficar com a logística de cobrar,
além de que, na abordagem, geralmente não é uma abordagem unitária, você
aborda a vítima com mais alguém. Desse modo, geralmente no polo ativo
embora não seja obrigado, uma pessoa só pode cometer o crime, mas
geralmente no polo ativo tem mais de uma pessoa para facilitar a dinâmica da
ocorrência do crime.
SUJEITO:
Quanto aos sujeitos, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa e o sujeito
passivo em verdade a doutrina diz que existe uma DUPLA SUBJETIVIDADE
PASSIVA, isso quer dizer que tenho duas vítimas, a vítima sequestrada e
a vítima de quem é exigido o resgate. Sujeito ativo qualquer pessoa, sujeito
passivo qualquer pessoa também mas, pelo menos, dois grupos de sujeitos
passivos, quem é sequestrado e de quem eu peço o resgate.
TIPO OBJETIVO:
A conduta é semelhante à da extorsão que a gente acabou de ver, só que em
vez de usar grave ameaça ou a violência para extorquir, usa o sequestro de
alguém, que não deixa de ser uma grave ameaça, mas é uma grave ameaça
especifica. Então a conduta é sequestrar e exigir o resgaste, e exigir um
valor como condição do resgate.
CONSUMAÇÃO:
Quando é que acontece a consumação desse crime? O crime é formal, basta o
sequestro e a exigência da quantia, não é necessário obter a quantia para a
consumação do crime. Por exemplo, alguém liga e diz que está com o seu filho
e quer 500 mil reais, você vai ficar se descabelando para pagar esse valor, mas
o sujeito a partir do momento que está com o seu filho e já ligou pedindo os
500 mil já consumou o crime de extorsão mediante sequestro.
Se você entregar o dinheiro, é um mero exaurimento da conduta criminosa,
mas o crime já se consumou lá atrás e veja que isso fica claro quando diz
sequestrar a pessoa com o fim de obter, não precisa obter, é sequestrar a
pessoa com essa finalidade.
OBS.: Quando a pessoa liga do presídio e diz que está com seu filho, isso
a doutrina entende como estelionato, eu acho que poderia encaixar na extorsão
comum, porque querendo ou não é uma grave ameaça, está dizendo que está
com meu filho, se é verdade ou não, não interessa. Mas a doutrina diz que
como essa grave ameaça não é verdadeira, seria em verdade o estelionato
(Art. 171- Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer
outro meio fraudulento). Mas eu acho muito diferente, se alguém vira para mim
e diz que está com meu filho e exige 100 mil reais é totalmente diferente de
alguém aplicar um golpe em mim, são coisas completamente diferentes. Se
alguém falar estou com bilhete de loteria premiado, tem uma agência de
viagem para você viajar para não sei aonde pague X, isso sim é estelionato.
O TIPO SUBJETIVO
O elemento subjetivo é o dolo, não tem extorsão mediante sequestro culposa.
Quando alguém some, quando alguém é sequestrado, a polícia nas primeiras
horas fica na dúvida de qual foi o crime, porque eu posso ter um simples
sequestro, que a gente já viu e que o sujeito não tem a finalidade de extorquir,
e eu posso ter uma extorsão mediante sequestro.
Então quando alguém some e ainda não foi feito contato, abrem duas
hipóteses para polícia, porque no primeiro momento não sabe que crime vai
ser: inicialmente, pensa-se que pode ser sequestro ou extorsão mediante
sequestro. Claro que muitas outras possibilidades podem se descortinar na
prática.
Lembra a cabeleireira do Costa Azul que sumiu, ela foi sequestrada saindo do
salão. Em uma dessas saídas ela foi abordada por três caras que colocaram
ela no carro e sumiu com ela e eles demoraram três dias para pedir o resgate,
então quando isso aconteceu ela tinha acabado de se separar, inclusive o ex
marido estava envolvido, quando isso aconteceu a polícia ficou... como
acontece muito hoje em dia a desconfiança primeiro está em extorsão
mediante sequestro, mas como os sequestradores não fizeram contato por três
dias ficou naquela dúvida de quem pegou essa mulher, ela está viva ainda? A
suspeita era extorsão mediante sequestro, eles não falaram nada, então a
suspeita mudou para o ex-marido que tinha matado, ficaram inclusive na
dúvida, se ela estava viva ou não, mas ai depois fizeram contato pedindo
resgate então a investigação voltou, estou falando isso porque é uma coisa que
tem que pensar na hora, você não pode fechar uma possibilidade, a gente ver
os crimes aqui bonitinhos no tipo penal mas ele nunca acontecem assim
bonitinho, quando você vai ver chegou uma notícia que a mulher sumiu, se é
sequestro, se é extorsão mediante sequestro, se alguém pegou para estuprar e
matar, você não sabe, você abre um leque de possibilidades, veja que cada
crime desse, inclusive vai gerar uma investigação específica, até porque a
polícia sabe o padrão de cada um. Então o padrão do estuprador é um, o
padrão do sujeito que vai extorquir é outro, poderia ser um tráfico de mulheres
também, embora mais raro mas podia, então o padrão do traficante de pessoas
é outro, a competência é outra se for tráfico de mulheres vai para a justiça
federal, abre-se um leque de possibilidades. É difícil você conseguir rastrear
porque quando você está ali tentado descobrir o que aconteceu, o criminoso
está já a 5 passos na sua frente, é difícil.
QUALIFICADORAS:
§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o
sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou
se o crime é cometido por bando ou quadrilha. Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90
(Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
Geralmente dura mais de 24 h, até porque 24 h é o prazo em que as pessoas
começam a acreditar que a pessoa sumiu, porque até 8 hs podem pensar que
foi para uma festa e ficou bêbado. Um primo dela foi para um São João com os
amigos e aí chegou lá bêbado na festa e resolveu voltar para casa sozinho e os
amigos chegaram em casa e nada dele e quando amanheceu o dia chega ele
em casa dizendo que tinha dormido na casa de outras pessoas porque tinha
errado o caminho de casa.
Se o sequestro dura mais de 24 h, se o sequestrado é menor de 18 anos,
maior de 60 ou o crime é cometido por bando ou quadrilha. A gente vai ver
mais para frente que bando ou quadrilha não existe mais, hoje chama-se
associação criminosa, mas se for nessas três circunstancias a pena é de 12
a 20 anos.
§ 3º - Se resulta a morte:
Por que estou falando isso? Hoje o instituto da delação mudou completamente
desde do caso do Banestado, o instituto da delação começou a mudar no
Brasil, e passou a ser uma forma de acordo, passou a ser bilateral, aqui era o
juiz que reduzia a pena tendo em vista as circunstâncias do caso concreto.
Como funciona a colaboração premiada hoje? O sujeito procura ou a polícia, ou
o MP, e ele faz um verdadeiro acordo, pense em um contrato é um acordo de
delação premiada, tem cláusulas, tem tudo. O acordo de leniência é a delação
premiada para a pessoa jurídica.
FUNCIONÁRIO PÚBLICO
Feito isso, a gente precisa ver uma coisa importante se só é sujeito desse
crime o funcionário público ou, pelo menos, o funcionário envolvido com mais
alguém. A pergunta que não quer calar é quem é o funcionário público. Lá no
direito administrativo vocês vão estudar inclusive essa terminologia está até
defasada porque lá no direito administrativo a terminologia é servidor público,
existe uma celeuma entre os administrativistas de quem é o servidor público.
Você tem duas correntes:
Um corrente que é a corrente subjetiva, que diz que quem é servidor público
é quem tem um vínculo especial com a administração pública que é o vínculo
estatutário, que é o vínculo que decorre da lei. Na esfera federal os servidores
estão sujeitos à Lei n° 8.112/90.
Para a segunda corrente, a corrente objetiva o que importa não é o grau do
vínculo ou a natureza do vínculo e sim a função que o sujeito exerce. Essa
corrente diz que tanto é funcionário público, isso a gente ver muito claramente
no sistema de cogestão de prisões em que vocês tem as agentes
penitenciários de carreira, que são aqueles que são contratados, que
prestaram o concurso, e tem os agentes penitenciários trazidos pela empresa
privada. Para a corrente subjetiva só seriam funcionários públicos aqueles que
prestaram concursos, que foram nomeados e se submetem a administração
pública, já para a corrente objetiva como ambos fazem as mesmas coisas,
todos dois são considerados funcionários públicos. O estagiário já tem estatuto
próprio e já é considerado servidor público.
Como tinha essa celeuma entre os administrativistas, o legislador penal
resolveu fugir dessa cilada.
Então o direito penal precisava discutir essa polêmica e decidir porque se
ficasse só na mão do intérprete, o intérprete que se filiasse a corrente subjetiva
iria restringir o conceito de funcionário e o intérprete que se filiasse a corrente
objetiva ia ampliar e você teria uma falta de segurança jurídica na aplicação da
lei e veja que o conceito de funcionário público é essencial, porque a depender
do caso se eu não tiver um funcionário público eu não tenho um crime ou a
depender do caso você tem uma pena muito maior se tiver um funcionário
público, então visando evitar essa polêmica o legislador trouxe o seu próprio
conceito de funcionário público, no art. 327 CP:
Funcionário público
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem,
embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou
função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou
função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de
serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da
Administração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes
previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função
de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de
economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.
A corrente adotada pelo direito penal foi a corrente objetiva, foi a mais ampla
possível para evitar lacunas de punibilidade a ideia foi essa.
Então quem é funcionário público para fins penais? É aquele que embora
transitoriamente sem remuneração exerce cargo, o que é o cargo? A gente
chama de cargo a menor esfera de atribuição dentro da administração
pública, dentro de uma profissão pública. exemplos: nos concursos de juízes
sai lá o edital, e tem lá cargo juiz federal substituto, esse é o cargo que você
entra, concurso de professor universitário tem lá o cargo, professor-assistente,
professor adjunto, professor auxiliar, cada um desses tem esfera de atribuições
distintas, esse é o cargo.
Este cargo público pode ser ocupado tanto por servidores estáveis, que é
aquele que faz concurso, ganha estabilidade, quanto para os servidores de
livre nomeação e exoneração, que é o que a gente chama de cargo em
comissão, todos os dois são funcionários públicos para fins penais.
Exemplos de sujeito que exercem cargo, todos os servidores públicos sujeitos
ao regime estatutário a Lei 8112/90 ou as leis estaduais ou as leis municipais,
todos esses, todos os titulares de cargo eletivo, tais como prefeito, governador,
presidente da república, vices, vereador, deputado estadual, deputado federal e
senador e seus assessores; os policiais, todos eles, polícia civil, polícia militar,
a polícia rodoviária federal, a polícia ferroviária federal (lembrando que os
militares são sujeitos ao código penal militar que é um regramento próprio);
todos os integrantes do poder judiciário, juízes, os analistas, servidores do
poder judiciário, o desembargador, ministros, os seus respectivos assessores
são servidores, os membros da advocacia pública (AGU, a procuradoria
federal, procuradoria da fazenda nacional, advocacia pública, membros da
defensoria pública) são funcionários públicos por exercerem cargo; diplomatas
e todo pessoal do corpo da missão diplomática, etc.
Ou seja, todo mundo que for titular de algum cargo público, lembrando que não
é só o cargo efetivo, não é só o titular de cargo efetivo, também é funcionário
público o servidor de livre nomeação e livre exoneração.
Exemplo: o sujeito é técnico da justiça e o juiz ver que ele é bom e chama ele
para ser seu assessor, então ele é técnico mas ele ganha um cargo em
comissão, ele é assessor, se ele perder esse cargo em comissão mas
continuar sendo técnico ele pode continuar cometendo crime funcional, se ele
sair não, a partir dali, ele não comete mais, se ele não for mais funcionário a
partir dali, não.
Quando é que começa o cargo, ou seja, como é que você começa a ser
funcionário público desde a nomeação, não precisa tomar posse ainda ou no
caso dos parlamentares desde a diplomação, a diplomação ocorre antes da
posse. Desde a nomeação e da diplomação você já é funcionário público, se,
por exemplo, um parlamentar diplomado começar a vender o projeto de lei que
ele vai apresentar, uma sendo diplomado ele já é funcionário público.
Funcionário público de licença continua sendo funcionário público, então se ele
cometer algum crime ele responde, funcionário público de férias continua
sendo funcionário público, também responde.
Quem é que exerce emprego público? São aquelas pessoas que são
funcionários públicos pela CLT, os empregados públicos contratados pela CLT,
eu digo da administração direta mesmo. Por exemplo: minha mãe foi
professora da prefeitura de Camaçari por anos, quando minha mãe foi
contratada ela foi contratada como CLT, carteira assinada pela prefeitura de
Camaçari, porque geralmente na administração direta, o contrato é por regime
próprio, mas em alguns casos a administração direta contrata por CLT, essas
pessoas também são consideradas funcionárias públicas para fins penais. E,
por fim, sobra função pública.
FUNÇÃO PÚBLICA: todo mundo que exerce uma função típica da
administração pública ainda que transitoriamente e ainda que sem
remuneração. Aí entram os estagiários, entram os mesários de eleição,
jurados. Se o jurado vender o voto? Funcionário público, praticou o crime de
corrupção. Já os peritos contratados pelo juiz se venderem uma perícia,
cometem o crime de falsa perícia.
Agora veja quem é que não exerce função pública, muito embora tenha um
encargo imposto pelo poder público, mas não chega exercer uma função
pública, mas sim um múnus público, um mero encargo público. Quem são
essas pessoas? Os tutores e curadores não são funcionários públicos, a
criança morreu não deixou ninguém, não tem pai, nem mãe, não tem avô,
morreu todo mundo, ela vai precisar de um tutor, esse tutor tem o encargo de
cuidar da criança, de gerir todo patrimônio se tiver, esse tutor não é funcionário
público. Embora seja um encargo público, isso não torna uma função pública.
O líder sindical e o dirigente sindical também não são considerados como
funcionário público. Tinha uma polêmica antes da reforma trabalhista
sobretudo, porque o dirigente sindical gere uma verba pública, geria, porque
você tinha um imposto sindical obrigatório que hoje em dia não tem mais e
tinha uma celeuma se ele era ou não funcionário público, a doutrina e a
jurisprudência entendem que ele não é funcionário público. Agora muito menos,
já que não tem mais imposto destinado.
O testamenteiro, não é funcionário público, o administrador da massa
falida não é funcionário público, o juiz nomeia um administrador para gerir lá
a bagunça da empresa que faliu, mas ele também não é considerado como
funcionário público, se ele desviar um bem, responderá como particular, não
responde como funcionário público. Essas coisas são importantes para você
descobrir qual é o crime que o sujeito vai cometer.
Uma polêmica que existe é o advogado dativo, Rui Costa vetou o projeto de
remuneração dos advogados dativos no Estado da Bahia, quem é esse
advogado dativo? A pessoa não tem advogado e o juiz nomeia um advogado
para advogar para aquela pessoa, essa pessoa é considerada funcionária
pública?
Vou dar um exemplo, vamos supor que o juiz nomeia um advogado dativo
para alguém no acidente de trabalho, e aí o sujeito ganha a demanda do
acidente de trabalho, e aí o advogado vai lá e saca o alvará e pega o dinheiro
só para ele e não repassa, porque tem uma parte que é do advogado, ele pega
o dinheiro para ele e não repassa para o cliente, isso é uma apropriação
indébita comum, se eu fizer isso com um cliente lá do escritório, mas aí em
relação ao advogado dativo, isso é uma apropriação indébita comum ou
peculato apropriação, que é a apropriação específica do funcionário público.
Tem uma divergência na doutrina em relação ao advogado dativo, uma parte
diz que sim, que é funcionário público porque ele é equiparado ao defensor
público, corrente que ela concorda, não tem diferença nenhuma, se você está
chamando um dativo é porque é um lugar que não tem defensor público, o
dativo federal recebe também.
Com o tempo com a privatização das funções públicas, que aconteceu no
Brasil com mais vigor a partir do governo Fernando Henrique, o que passou a
ter? Passou a ter particulares exercendo atividades tipicamente públicas, tipo
antigamente telefone era um bem de extremo valor, a linha telefônica, era algo
que deixava no testamento para os filhos. Hoje o serviço de telefonia que é
essencialmente público, de natureza pública, é exercido por particulares, as
empresas permissionárias, as empresas que eram públicas antes ou foram
privatizadas ou você privatizou para fazer sociedade de economia mista e aí
elas viraram empresas mistas tipo a Petrobras. E com base nisso se passou a
perceber que existiam pessoas exercendo funções tipicamente públicas, mas
que eram particulares e se entenderam que essa função não era suficiente
para abarcar essas pessoas porque gerava dúvidas e aí em 2000 o legislador
incluiu aqui equipara-se a funcionário público quem exerce cargo emprego
ou função em entidades paraestatal que é a administração indireta e
quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou
conveniada para execução de atividade típica da administração pública.
Aí eu incluo o funcionário da caixa, funcionário do banco do Brasil, funcionário
da Petrobras, funcionário de cartório, funcionário de empresa de cogestão de
presídio, que gere o presídio junto com o Estado, eu incluo todo esse pessoal,
tem que ser uma empresa prestadora de serviço contratada ou
conveniada para execução de atividade típica da administração pública,
porque as vezes a administração pública terceiriza a atividade secundária
como limpeza e alimentação, por exemplo. Entra aqui o funcionário da Coelba,
permissionária de serviço público, tabelionato privado, etc.
Uma questão importantíssima que entra também nesse parágrafo 1° é o
médico de hospital particular conveniado do SUS, exemplo, Hospital São
Rafael, tem três entradas de emergência uma é pediátrica, adulta para quem
tem plano de saúde e uma outra emergência do SUS. Essa emergência do
SUS que faz é o São Rafael com a verba do SUS, se o médico do São Rafael
que estiver dando plantão lá na parte da emergência do SUS virar para o
paciente e dizer que sua cirurgia é de urgência, mas o anestesista o SUS não
cobre, se ele não fizer essa cirurgia nas próximas 5 horas ele vai morrer,
acontece muito, e o anestesista é 1000 reais para a gente fazer a cirurgia, a
família vai lá e se mobiliza e arranja os 1000 reais, isso é um crime funcional a
gente vai chamar isso de concussão, isso é um crime funcional contra a
administração pública. Por que? Porque aquele médico do São Rafael, embora
seja do São Rafael, está exercendo uma atividade tipicamente do SUS, esse
entendimento já é pacífico no STJ, de que esse médico conveniado no SUS é
funcionário público depois do parágrafo 1º, ele exerce função pública por
força desse parágrafo 1º.
Uma coisa importante dos funcionários públicos é que você tem um aumento
de pena de 1/3, quando os autores dos crimes previstos neste capítulo forem
ocupantes de cargo em comissão ou de função de direção ou assessoramento
de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa
pública ou fundação instituída pelo poder público.
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes
previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função
de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de
economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.
O chefe tem uma pena maior porque ele é chefe. Além de ser funcionário
público, ele é um funcionário público com poder de chefia e torna a
responsabilidade dele ainda maior.