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RESUMO DE DIREITO PENAL

Homicídio Qualificado
(art. 121, §2º, V, VI E VII)

   Art. 121. Matar alguém:

  Homicídio qualificado

 § 2° Se o homicídio é cometido:

V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime.

O crime previsto neste inciso é um crime qualificado por conexão. Isso porque,
ideou o legislador, com essa previsão legal, punir mais rigorosamente quem pratica
o homicídio para assegurar a prática de outro crime.
Deve se atentar, aqui, ao fato de haver uma finalidade especial do agente: é uma
qualificadora que se caracteriza pela evidência do ânimo especial de agir do agente
(elemento subjetivo específico ou dolo específico), traduzido pelo fato de querer o
agente, ao matar a vítima, garantir a execução, ocultação, impunidade ou vantagem
de outro crime.

Para assegurar a
I. EXECUÇÃO DE OUTRO CRIME: o agente mata alguém com a finalidade de
assegurar a execução de outro crime.
Exemplos: o estuprador mata o pai, viúvo, para poder conseguir estuprar a filha; o
agente mata o chefe de segurança de uma empresa para que possa invadi-la.
Neste caso, a conexão é teleológica, o que se caracteriza justamente pela utilização
de um crime como meio para assegurar a execução de outro (que é futuro e não
necessariamente virá a acontecer).
É importante mencionar que na conexão teleológica não é necessário que o outro
crime ocorra, nem sequer que seja tentado; basta ficar provado o motivo do crime ou
seja, a intenção específica do agente que o cometeu.

 Se o outro crime (futuro) de fato vir a acontecer, responderá o criminoso pelo,


além do homicídio qualificado por esse inciso, concurso material de crimes.

II. OCULTAÇÃO DE OUTRO CRIME: neste caso, o crime principal está na


condição de desconhecido pelas pessoas em geral, mas já foi praticado.
Exemplos: há, numa empresa, um contador que está desviando dinheiro. O dono da
empresa, ao acaso, resolve fazer uma auditoria. Ao se aproximar desse momento, o
contador descobre quem será o auditor e, ideando não ter seu crime revelado, mata-
o. Logo, ele mata o auditor para assegurar a ocultação de outro crime (o desvio de
dinheiro); sujeito que viola uma sepultura, percebendo que foi visto, elimina a
testemunha a fim de que seu crime não seja descoberto.

III. IMPUNIDADE DE OUTRO CRIME: significa que o crime é


conhecido, mas não é conhecido o seu autor (agente praticante do crime). Aqui, o
crime já foi praticado.
Exemplos: um homicídio foi praticado e um grupo de pessoas encontra o cadáver
estirado numa via pública. As pessoas sabem que há um cadáver, mas não sabem
quem praticou o homicídio, até que aparece uma testemunha. O autor do crime,
quando toma ciência do surgimento da testemunha, resolve matá-la, a fim de
preservar a impunidade; ladrão, notando ter sido reconhecido por alguém, durante a
prática do furto, elimina essa pessoa, para não ser identificado.

Obs. cabe fazer uma diferenciação quanto à ocultação e a impunidade. No primeiro


caso, também há a impunidade, só que o crime não é conhecido, de modo que não
há de se falar em sua punição. No segundo, o crime é conhecido, mas também fica
impune, pois não se conhece o agente dele, sendo impossível punir. Portanto,

OCULTAÇÃO IMPUNIDADE
Há a impunidade porque o crime Há a impunidade porque, apesar do
sequer é conhecido. crime ser conhecido, não o é seu
agente.

IV. VANTAGEM DE OUTRO CRIME: aqui, o crime já foi praticado – via


de regra, se trata de um crime patrimonial –, e o homicídio é praticado para
assegurar a vantagem do crime (que pode incidir no produto e/ou no proveito,
denominado partilha).
Exemplo: elimina-se o parceiro para ficar integralmente com o dinheiro conseguido
às custas do delito.
Produto é o objeto material do delito patrimonial.
Exemplo: se o indivíduo praticou o furto de um automóvel, será o automóvel o
produto do crime.
Proveito é o ganho que o autor do delito tem com o produto do crime.
Exemplo: se o indivíduo furtou o automóvel e o vendeu, o dinheiro que ganhou com
a venda se configura como o proveito do crime.
 Quando o indivíduo é condenado, ele perde para o Estado o proveito ou
produto do crime.

HOMICÍDIO COMETIDO PARA ASSEGURAR OCULTAÇÃO, IMPUNIDADE OU VANTAGEM –


CONEXÃO CONSEQUENCIAL
Denomina-se conexão consequencial a prática de um crime para assegurar a
ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime. Neste caso, o homicídio é
cometido para buscar garantir que outro delito não seja descoberto, seu autor fique
impune ou o produto conseguindo reste mantido.
Logo, tem-se:

EXECUÇÃO OCULTAÇÃO IMPUNIDADE VANTAGEM


Conexão Conexão Conexão Conexão
teleológica; consequencial; consequencial; consequencial;

CONEXÃO OCASIONAL
É a prática de um crime no mesmo cenário em que se comete outro. Trata-se de
simples concurso material, não envolvendo essa qualificadora. É o que ocorre se
alguém, após matar o desafeto, resolve levar-lhe os bens (é mero concurso material
porque não houve o animus específico do agente).

CRIME PUTATIVO OU IMPOSSÍVEL


Caso o agente cometa um homicídio para assegurar a execução, ocultação,
impunidade ou vantagem de outro delito, sendo este considerado putativo (crime
que só existe na cabeça do sujeito que o pratica), ou impossível (tentativa
inadequada, porque os atos executórios se desenvolvem através de meio
absolutamente ineficaz ou por impropriedade absoluta do objeto), deixa de ser
aplicada a qualificadora do inciso V.
Exemplo envolvendo delito putativo: sujeito que mata a testemunha que o viu
mantendo relações sexuais com uma prostituta. Assim age, crendo que a prostituição
é crime, o que não acontece, logo, é um crime putativo.
Exemplo envolvendo delito impossível: indivíduo que, pretendendo subtrair bens de
uma empresa, mata o vigilante da rua, embora depois se constate que a empresa se
mudou, apenas deixando para trás um galpão totalmente vazio. É uma tentativa
impossível de furto, pois o objeto é absolutamente impróprio.

 Nas duas hipóteses, o crime de homicídio não deve ser qualificado com base
neste artigo.

Feminicídio             
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:  

Este inciso deve ser lido em conjunto com os parágrafos 2º e 7º.

§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:           

I - violência doméstica e familiar;           

 II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.    

§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:     

I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;  

II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência;  

III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima; 

Feminicídio é o homicídio da mulher em razão do seu gênero, ou seja, da sua


condição de ser mulher. Portanto, trata-se de uma qualificadora objetiva, pois se
liga ao gênero da vítima: ser mulher. Assim o sendo, pode conviver com outras
circunstâncias de cunho subjetivo.
Exemplo: pode-se matar a mulher, no ambiente doméstico, por motivo fútil (em
virtude de uma banal discussão entre marido e esposa), incluindo duas
qualificadoras: ser mulher e haver motivo fútil.

QUEM É DEFINIDA COMO MULHER PARA FINS DE AMPARO LEGAL


Mulher pode ser definida por três conceitos:
A. BIOLÓGICO: é o sexo/conformação anatômica com o qual a pessoa nasceu;
B. PSICOLÓGICO: é o indivíduo que se identifica com um gênero diferente
daquele que corresponde ao seu sexo atribuído no momento do nascimento. A
transgeneridade não é uma doença ou distúrbio psicológico. A identidade de gênero
não está obrigatoriamente relacionada com a orientação sexual.
C. JURÍDICO: é o que prevalece para se enquadrar em feminicídio. Caracteriza-
se pelo o que prevê o documento de identificação da pessoa. Assim, por exemplo, a
Thammy Gretchen é juridicamente homem, pois mudou seu nome no registro etc.,
por isso não se enquadra no feminicídio.

E A CONDIÇÃO DO TRANSEXUAL, COMO FICA? Basicamente, há dois entendimentos: a)


não há feminicídio contra transexual, pois é geneticamente homem (conceito
biológico); b) adota-se o “conceito jurídico”, pois, se a Justiça autorizou a
modificação do documento, pode ser vítima de feminicídio (atualmente
entendimento majoritário); mas há casos hoje em dia que se leva em consideração o
conceito psicológico, enquadrando em feminicídio.
POSSIBILIDADE DO HOMICÍDIO PRIVILEGIADO-QUALIFICADO
É possível. É o caso, por exemplo, de agente que mata a mulher em virtude de
violenta emoção, que se dá em seguida de uma injusta provocação da vítima
(hipótese do homicídio privilegiado).
Exemplo: companheiro surpreende a companheira e se depara com ela tendo
relações sexuais com o amante em seu lar, na frente dos filhos pequenos.
Violentamente emocionado, elimina a vida da mulher porque é mais forte que ela –
condição objetiva –, mas o faz porque ela injustamente o provocou. Podem os
jurados, levado o caso a julgamento, reconhecerem tanto a qualificadora de crime
contra a mulher, como a causa de diminuição do homicídio privilegiado (art. 121,
§1º).

FEMINICÍDIO X FEMICÍDIO
É diferente de femicídio (expressão que não existe na lei), que significa a pura e
simples morte de uma mulher. Essa terminologia existe porque nem toda mulher é
morta em razão de seu gênero.
Exemplo: mulher discute no trânsito e é morta única e exclusivamente por isso.
Houve um femicídio, e não um feminicídio.

FEMINICÍDIO FEMICÍDIO
- Morte da mulher em razão do seu - Morte pura e simples da mulher,
gênero feminino; por razões alheias à seu gênero;

§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:     
I - violência doméstica e familiar;  

O legislador está dizendo, neste inciso, que se a morte de uma mulher se der nesse
contexto (doméstico ou familiar), caracterizar-se-á o feminicídio.

MAS O QUE É VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR? Isso nos remete à Lei Maria da
Penha, a qual a caracteriza como aquela violência que acontece no ambiente familiar
OU doméstico.
 A relação familiar, aqui, é num sentido mais amplo (convivência, namoro, ex-
marido...)
 “Violência” envolve agressão física, moral, violação sexual etc.

A Lei Maria da Penha tem normas explicativas, que não preveem pena nenhuma,
mas auxiliam para o enquadramento do crime nos delitos do Código Penal (lesão
corporal, homicídio simples, qualificado no feminicídio etc.). Portanto, é preciso se
analisar o caso a caso.

 A violência pode ser doméstica, familiar ou ambas.


 A grosso modo podemos afirmar, então, que de acordo com o inciso I do
parágrafo, o feminicídio ocorre por “relações de proximidade”.

Exemplo: contexto de violência doméstica e familiar seria o pai que mata a filha. É
um feminicídio, embora não esteja nítido que isso se deu porque ela era mulher, é
pelo contexto em si (ser a menina do gênero feminino, ter o homicídio ocorrido no
ambiente doméstico, fora os aspectos sociais, como sociedade machista, sexista,
império do poder patriarcal etc).

II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 


O professor critica que menosprezo e discriminação não são alternativas (como faz
crer o legislador quando coloca ‘ou’), mas andam juntos.

DISCRIMINAÇÃO: significa diferenciação que, no caso, se apresenta como uma


diferenciação negativa. Trata-se de um atentado contra a vida da mulher causada por,
supostamente, possuir uma condição inferior em razão de pertencer ao gênero feminino. É
colocar em prática a teoria da famosa (e nefasta) frase: “só podia ser mulher mesmo”.

SUJEITO ATIVO DO CRIME DE FEMINICÍDIO

Não é só o homem que pode ser o sujeito ativo do crime, pois a mulher também
pode cometer um feminicídio se incorrer nas hipóteses dos incisos I e II do art. 121,
VI, § 2-A.

 Sendo assim, o feminicídio pode ser cometido pelo marido, ex-marido,


esposa, ex-esposa, companheiro(a), ex-companheiro(a), pai, mãe, sogro (a),
enteado (a), irmão (a) (inclusive a (o) de criação), namorado (a), ex-
namorado (a).
 Os requisitos dos incisos I e II do §2º-A são alternativos, e não cumulativos,
ou seja, basta a incidência de um deles no caso concreto para que o crime
seja tipificado.
 Num ambiente familiar, se uma irmã mata a outra, isso também configura
um feminicídio.

§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:      +
iincisos

 O §7º consagra a possibilidade de incidência de causas de aumento em


qualificadoras.
Por força do princípio da especialidade, quando a mulher estiver em condição de
uma das hipóteses dos incisos deste parágrafo, incidirá a causa de aumento se o
agente tiver conhecimento da situação (praticando dolo direto ou eventual).
Exemplo: gestante que claramente está grávida; idosa que claramente possui mais de
60 anos ou criança que inequivocamente tem menos de 14 anos.

SITUAÇÃO HIPOTÉTICA
Um homem possui a intenção de matar a mulher grávida e o feto, deferindo-lhe um
tiro em sua barriga. O que ocorre é um homicídio doloso ou um feminicídio (a
depender do caso), em concurso formal com um aborto, pois, nos termos do art. 70,
houve uma única ação por parte do agente.
Nesse caso, para fins de aplicação da pena, se for homicídio, incidirá a causa de
aumento genérica da alínea “h” do art. 61 e, se for feminicídio, a causa de aumento
do §7º, I. Não poderá incidir, no caso do feminicídio, a agravante genérica, pois
configuraria bis in idem.

VII – Contra autoridade ou agente descrito nos artigos 142 e 144 da CF

§ 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o
pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. 

Quando um tipo penal faz alusão a um outro artigo, o crime possui uma
classificação doutrinária, denominada “crime remetido”, ou, ainda, “norma penal
em branco”.

CRIME REMETIDO: trata-se de tipo penal que se reporta expressamente a preceito


contido em outro tipo penal.

NORMA PENAL EM BRANCO: é um preceito incompleto, genérico ou indeterminado,


que precisa da complementação de outras normas.

Também chamado de homicídio funcional, qualifica-se quando cometido contra


autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro
ou parente consanguíneo até 3º. grau, em razão dessa condição.

Obs. E quanto ao homicídio praticado contra guardas-civis (municipais ou


metropolitanos)? Incide a qualificadora do inciso VII do § 2º do art. 121?
Sim. Note que o dispositivo se refere a crimes praticados contra autoridades ou
agentes descritos nos arts. 142 e 144. O art. 144, em seu § 8º, descreve os guardas
como atores de segurança pública, anunciando competir aos Municípios o poder de
constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e
instalações, conforme dispuser a lei. Desde de 2014 temos o Estatuto Geral das
Guardas Municipais, o qual, no seu art. 5º, parágrafo único, dispõe que, no exercício
de suas competências, a guarda municipal poderá colaborar ou atuar conjuntamente
com órgãos de segurança pública da União, dos Estados e do Distrito Federal ou de
congêneres de Municípios vizinhos.

Nas quatro primeiras situações, a qualificadora pressupõe que o crime tenha sido
cometido contra o agente no exercício da função ou em decorrência dela. Ex.: um
policial, no seu dia de folga, está num bar assistindo uma partida de futebol disputada pelo
seu time e, ao vibrar com a vitória, é morto por tiros disparados por um torcedor fanático do
time derrotado, que sabia se tratar de um policial. O homicida, no caso, matou um
policial, condição essa conhecida do executor. Contudo, nesse exemplo, o crime não
foi cometido estando a vítima em serviço, nem sequer tem nexo com a sua função.
Incidirão, no caso, outras qualificadoras (motivo fútil e recurso que dificultou a
defesa do ofendido), mas não a do inciso VII.

O inciso VII é a única dentre as qualificadoras do homicídio que não tem


correspondente agravante no art. 61 do CP. Normalmente, quando alguém comete
um homicídio com a incidência de mais de uma qualificadora, sustenta-se que uma
delas sirva para qualificar o delito e as demais sejam consideradas na segunda fase
de aplicação da pena. Se, no entanto, em conjunto com a qualificadora do inciso VII
incidir outra, utilizada pelo juiz para qualificar o delito, o fato de o sujeito ativo ter
matado agente de segurança pública deverá ser considerado na aplicação da pena
base (circunstâncias do crime).

 Contra cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 3º grau dos


agentes acima mencionados, o crime de homicídio será punido mais
severamente. É indispensável, entretanto, que o crime tenha sido praticado
em razão dessa condição, ou seja, que o homicida tenha escolhido matar
aquela vítima exatamente em razão da ligação familiar com o policial.
 Ademais, o legislador escreveu parente “consanguíneo”. E quanto ao filho
adotivo ou outro adotivo? De duas, uma: ou se interpreta o inciso VII como
inconstitucional nesse ponto, ou não se o abrange.

Cabe mencionar que o homicídio tem que ser em razão da condição da função. Se o
crime não for motivado pela função que opera a vítima, não incidirá a qualificadora.
Exemplo: Bruno é policial e morre quando bandidos invadem sua casa e contra ele
atiram (não incidirá a qualificadora porque, nesse caso, não atiraram nele em razão
de sua função de policial).

Homicídio Culposo
(art. 121, §3º)

REVISÃO QUANTO À CULPA:


São modalidades da culpa: IMPRUDÊNCIA, NEGLIGÊNCIA E IMPERÍCIA.
Imprudência: prática de uma conduta perigosa; a imprudência normalmente é
um fazer, comportamento comissivo.

Negligência: normalmente é um deixar de fazer, comportamento omissivo. É a


falta das cautelas devidas, falta de cuidado.

Imperícia: falta de capacidade técnica por parte do profissional que deveria tê-la
(indivíduo que não sabe fazer o que deveria fazer). Os maiores exemplos são com
relação ao erro de médico ou de engenharia.

É POSSÍVEL QUE HAJA A CUMULATIVIDADE DE MODALIDADES DE CULPA NUM CASO? Sim.


Uma pessoa pode comprar um carro e, depois de certo tempo, não fazer a revisão
necessária (negligente), e no final de semana, beber e sair dirigindo (imprudente),
avançando o sinal vermelho (imprudente). Nesse caso, deverá o juiz aumentar a
pena na 1ª fase pelas circunstâncias do art. 59.

São espécies de culpa: CONSCIENTE E INCONSCIENTE. A diferença entre elas é no


campo doutrinário e diz respeito a antevisão do resultado.
A culpa consciente ocorre quando o agente prevê o resultado, mas espera que ele
não ocorra, supondo poder evitá-lo com a sua habilidade. Assim, na culpa
consciente, prevê o resultado e não quer, não assume risco e pensa poder evitar.
Na culpa inconsciente, o agente não prevê o resultado, que, entretanto, era
objetivo e subjetivamente previsível. Na culpa inconsciente, não prevê o resultado
(que era previsível) e não quer e nem aceita o resultado.
A previsibilidade objetiva é um elemento do tipo culposo, que aqui é exigido, pois
sem ela não há crime culposo. Note-se que tal previsibilidade diz respeito ao
homem médio. Assim, há compatibilidade com a culpa inconsciente, porquanto a
previsibilidade é um pré-requisito da culpa e essa é uma espécie de culpa.
MODALIDADES DE CULPA

NEGLIGÊNCIA IMPRUDÊNCIA IMPERÍCIA

Normalmente é um Prática de uma Falta de capacidade


deixar de fazer, conduta perigosa; a técnica por parte do
comportamento imprudência profissional que
omissivo. É a falta normalmente é um deveria tê-la
das cautelas fazer, (indivíduo que não
devidas, falta de comportamento sabe fazer o que
cuidado. comissivo. deveria fazer). Os
maiores exemplos
são com relação ao
erro de médico ou de
engenharia.
ESPÉCIES DE CULPA

CONSCIENTE INCONSCIENTE
O agente prevê o resultado, mas O agente não prevê o resultado, que,
espera que ele não ocorra, supondo entretanto, era objetivo e
poder evitá-lo com a sua habilidade. subjetivamente previsível.

Assim, na culpa consciente, prevê o Na culpa inconsciente, não prevê o


resultado e não quer, não assume resultado (que era previsível) e não
risco e pensa poder evitar. quer e nem aceita o resultado.

§4º DO ART. 121


Art. 121, §4º, “in fine”, CP
§ 4o  No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequüências do seu ato, ou foge para
evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se
o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.

Entendendo...
“Profissão, arte ou ofício”: profissão é predominantemente intelectual, arte é o
proveniente, predominantemente, do dom artístico e ofício é predominantemente
braçal.
Este parágrafo diz respeito à atuação de trabalho, ou seja, exige uma capacitação
técnica. Assim, não haverá aumento de pena se na situação prática não houver essa
capacitação técnica.
Há duas posições: primeira, minoritária, diz que essa causa de aumento somente
pode incidir na negligência e imprudência, pois na imperícia configuraria “bis in
idem”. A segunda, majoritária, diz que vale para qualquer das modalidades.

“Ou se deixa de prestar imediato socorro à vítima”: atualmente, como há tal previsão no
CTB para acidentes de trânsito, essa previsão fica destinada a acidentes náuticos,
por exemplo.

“Menor de 14 ou maior de 60 anos”: se o crime é praticado no dia em que a pessoa faz


14 ou 60 anos, incide? Não, porque a redação o legislador é menor e maior.
Lembrando que essas causas de aumento não valem para o feminicídio porque para
ele há previsão especial.
Exemplo: indivíduo andando com uma bicicleta na ciclofaixa acaba por atropelar
uma pessoa, matando-a. Responde por homicídio culposo porque deixou o local de
acidente ou por omissão de socorro em razão do art. 135 do CP? Configura essa
situação num conflito aparente de normas?
Resposta: Por força do princípio da especialidade, responderá pelo art. 121, §3º com
a causa de aumento prevista na primeira parte do §4º do CP.
Mas em que caso um atropelante que foge do local do acidente responde por
omissão de socorro?
Resposta: Quando a culpa é exclusiva da vítima, ou seja, quando não agiu o
atropelante com culpa. Ele atropelou, a vítima ficou ferida e morreu, mas ele não
agiu com culpa – não praticou o homicídio culposo –, então claro que não incidiria a
causa de aumento.
No entanto, ainda que a culpa tenha sido da vítima, tem o dever de prestar socorro,
motivo pelo qual sua omissão será penalizada.

§5º DO ART. 121


§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as
consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal
se torne desnecessária.
É o denominado perdão judicial. No CTB, não há norma semelhante quanto a sua
aplicabilidade.
NESTES CASOS, CABE PARA O HOMICÍDIO DO CÓDIGO DE TRÂNSITO OU NÃO? Duas
correntes:
I. A minoritária diz que não, sob o fundamento de que o CTB é posterior ao CP
e, se o legislador quisesse que aplicasse, teria dito.
II. A majoritária diz que sim, sob o fundamento da analogia “in bonam partam”.
NATUREZA JURÍDICA DA SENTENÇA QUE CONCEDE O PERDÃO JUDICIAL:
I. Visão minoritária: condenatória (imprópria), sob o fundamento de que
não se pode perdoar quem é inocente.
II. Visão majoritária: declaratória, pois o perdão judicial é causa de extinção
de punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório (Súmula nº
18 do STJ).

Induzimento, Instigação ou Auxílio ao Suicídio


Art. 122 do Código Penal — Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:

Pena — reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de
suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.

§ único — A pena é duplicada:

I – se o crime é praticado por motivo egoístico.

II — se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.

CONCEITO DE SUICÍDIO
É a morte voluntária. No Brasil, não se pune o autor da tentativa de suicídio, por
questões humanitárias (muito menos se o suicídio se consumou, pois estaria extinta
a punibilidade do agente em razão de sua morte).
 O suicídio, apesar de ser ato ilícito, não é penalmente punível.
Contudo, pune-se aquele que levou outra pessoa ao suicídio, ainda que nada tenha
feito para que o resultado se desse. Isso ocorre porque a vida é um bem
indisponível, devendo o Estado garantir sua tutela, ainda que contra a vontade do
titular.

BEM JURÍDICO TUTELADO


Em primeiro lugar, a vida. Em segundo, a pessoa contra quem se volta a conduta do
agente.

SUJEITO ATIVO E PASSIVO


Qualquer pessoa. No entanto, no caso do sujeito passivo, precisa esse ter um
mínimo de discernimento ou resistência, pois, do contrário, tratar-se-á de
homicídio.
Exemplo: induzir uma criança de 6 anos a se matar, é crime de homicídio; se alguém
se dirige a uma pessoa doente mental e o induz a se matar, vai responder por
homicídio.

 Em razão de admitir a prática por qualquer pessoa, é um crime comum


(classificação doutrinária oposta ao crime próprio, que exige agente
específico).

 O agente que, valendo-se da insanidade da vítima, convence-a a se matar,


incide no art. 121, e não no art. 122.

ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo, não se admitindo a forma culposa. Por tal razão, o agente que sugere,
brincando, para que a vítima se mate, não pode ser punido, pois não houve dolo na
sua conduta.
 Portanto, não é possível a figura do induzimento culposo.

ELEMENTOS DO TIPO
Neste tipo penal há três núcleos do tipo: instigar, induzir ou auxiliar.
Crimes que contêm mais de um elemento do tipo são chamados de crime de ação
múltipla ou de conteúdo variado.
Como a própria redação do dispositivo sugere, basta a prática de um dos núcleos
para que seja consumado o crime.

I. INDUZIMENTO: induzir significa dar a ideia a quem não a possui, inspirando-a.


Portanto, nesse caso, o agente sugere ao suicida que dê fim à sua própria vida.

Exemplo: indivíduo que, através da internet, induz outro ao suicídio (exemplo de


induzimento que também já demonstra a possibilidade de ser praticado a distância).

II. INSTIGAÇÃO: instigar é fomentar uma ideia já existente. Portanto, nesse caso, o
agente estimula a ideia suicida que alguém já andava manifestando.
Exemplo: “A”diz: acho que vou me matar! “B” responde: é, realmente acho que
você deveria.
III.AUXÍLIO: é a forma mais concreta e ativa de agir, uma vez que significa apoio
material ao suicida.
Exemplo: o agente fornece a arma utilizada pela pessoa que se mata. Nesse caso,
deve dizer respeito a um apoio meramente secundário, não podendo, jamais, o
autor, a fim de “auxiliar” o suicida, tomar parte ativa na ação de tirar a vida, tal
como aconteceria se alguém apertasse o gatilho da arma já apontada para a cabeça
pelo próprio suicida. Respondendo, nesse caso, por homicídio.

SITUAÇÃO HIPOTÉTICA
Agente tira a cadeira para outra pessoa que está pendurada com corda no pescoço.
Essa pessoa praticou o crime de auxílio ao suicídio? Não. Praticou o crime de
homicídio, porque seu auxílio se deu de forma direta, e no caso desse tipo penal, o
auxílio deve ser meramente indireto.

AUXÍLIO
- Se dá de forma indireta, secundário, pois se se der de forma direta, não mais será
auxílio, e sim homicídio.
- Deve o agente ter ciência de que o suicida pretende ceifar sua vida, uma vez que
o elemento subjetivo do tipo é o dolo.

CLASSIFICAÇÃO DO CRIME
I. DELITO COMUM: pode ser praticado por qualquer pessoa que detenha
discernimento mínimo.
II. MATERIAL: exige resultado naturalístico.
III. INSTANTÂNEO: consumação não se arrasta no tempo.
IV. COMISSIVO: havendo discussão doutrinária quanto ao auxílio por omissão.
V. DE DANO: se consuma com a efetiva lesão ao bem jurídico tutelado.
VI. DE FORMA LIVRE: lei não exige forma especial para sua consumação.
VII. CRIME CONDICIONADO: não admite tentativa.

§ único — A pena é duplicada:

I – se o crime é praticado por motivo egoístico.

MOTIVO EGOÍSTICO
Trata-se de excessivo apego a si mesmo, evidenciando o desprezo pela vida alheia,
desde que algum benefício advenha ao agente. Por tal morbidez, merece maior
punição.

Exemplos: induzir alguém a se matar para ficar com a herança ou para receber o
valor do seguro.

II— se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.

VÍTIMA MENOR OU COM RESISTÊNCIA DIMINUÍDA


A resistência diminuída se caracteriza por configurar a pessoa inimputável, condição
essa que lhe deve ter sido atribuída por meio de realização de exame (doenças
graves, abalos psicológicos, senilidade ou ingestão de álcool ou substância com
efeitos análogos).
Por menor deve se entender o intervalo entre 14 e 18 anos, pois o menor de 14 anos
tem resistência nula, e não diminuída, de modo que será o crime configurado como
homicídio.

SITUAÇÃO HIPOTÉTICA – INDIVÍDUO SOB O EFEITO DE DROGAS


É necessária a análise do caso a caso, para averiguação adequada do grau de perda
de consciência daquele suicida, a fim de se constatar se, de fato, teve sua resistência
diminuída.
Por exemplo, se sob efeito da droga, é induzida por alguém a pular de um prédio, o
agente do induzimento responde por qual crime, na consumação? Essa situação é
uma situação limítrofe, pois fica ao encargo do conjunto probatório a comprovação
do induzimento ao suicídio ou homicídio.
Não dá para enquadrar esta pessoa como vulnerável, nos termos do §1º do art. 217-
A? Eu entendo que não.

E se a pessoa que induziu a outra a se matar também está sob efeito de drogas?
Não responderá pelo induzimento ao suicídio se comprovada a sua resistência
diminuída por uma única razão: não estava presente o elemento subjetivo do tipo,
qual seja, o dolo, e como esse tipo penal não prevê a punibilidade da culpa, não
responderá a pessoa.

Pena — reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de
suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.

Analisando...

Pena: reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a


três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

I. É possível a tentativa de induzimento?


Sim. Como por exemplo, se você tentar entregar uma arma para alguém e outra
pessoa te impede; ou, se você manda um e-mail induzindo alguém a se suicidar e ele
não chega ao remetente.

II. Existe crime de induzimento, instigação e auxílio ao suicídio na modalidade


tentada?
Não. Não é possível a tentativa do crime de induzimento, instigação e auxílio ao
suicídio. Isso porque a tentativa pressupõe a não consumação do crime por
circunstâncias alheias à vontade do agente, de modo que, no caso concreto, não
implicará na consumação do fato material da retirada da vida pelo suicida, de modo
que não há de se falar em punição pela tentativa. É por tal razão que o crime é um
crime material e de dano, pois exige resultado naturalístico e efetiva lesão ao bem
jurídico tutelado.

SITUAÇÃO HIPOTÉTICA
Uma pessoa escreve um blog dizendo qual a melhor maneira de se matar e descreve
passo a passo como fazê-lo. Uma outra pessoa lê o blog e se mata, deixando uma
carta indicando que se matou em razão do que estava disposto no blog.
O autor do blog pode ser responsabilizado pelo crime? Não. Pois se entende que
deve haver o dolo direcionado às pessoas específicas. Nesse caso o blog descreve
um comportamento genérico.

Como prevê o dispositivo, só será crime se do induzimento, da instigação ou do


auxílio (indireto/secundário), resultar, por meio de comportamento do suicida:
I. SUA MORTE
II. NA TENTATIVA, O SOFRIMENTO DE LESÃO GRAVE OU GRAVÍSSIMA, PREVISTAS
NOS §§1º E 2º DO ART. 129.

Portanto, por opção legislativa, se da tentativa de suicídio não resultar lesão grave,
não há de se falar em responsabilidade penal nesse crime.
Exemplo: a pessoa induz a outra a se matar, a outra tenta se enforcar, mas uma
pessoa suspende a vítima e ela não morre, fica apenas com lesões leves. Nesse caso,
a pessoa que a induziu não praticou nenhuma conduta criminosa pois a lesão é leve.

Induzir alguém a praticar um crime é crime?


Depende se é um crime que prevê expressamente a conduta de induzir.
Exemplo: um cantor no meio do show fala para a plateia acender seus baseados.
Assim agindo, está incitando as pessoas a cometerem um crime, que é praticar o
porte de droga para consumo pessoal.
Agora, em não sendo um crime que prevê a prática deste tipo de comportamento,
somente será um crime se o resultado material que se pretende com o induzimento
for ao menos tentado.

É lícita a tentativa de suicídio?


Não, pois a vida é um bem indisponível e tutelado pelo Estado, ainda que contra a
vontade do titular. Por tal razão, nos termos do art. 146, §3º, não é crime de
constrangimento ilegal a coação exercida para impedir o suicídio. Ou seja, se uma
pessoa usar de forca física para impedir o suicídio de outrem, não é isso crime, ainda
que lhe cause lesões.

Exemplo: Um motoboy passa pelo centro da cidade e vê alguém querendo se jogar


do topo de um prédio. Após um tempo aparece um bombeiro para salvar a pessoa e,
nesse processo, acaba a machucando. Tendo em vista o ocorrido, o bombeiro não vai
ser responsabilizado, por expressa previsão legal (art. 143, §3º).

PACTO DE MORTE
É possível que duas ou mais pessoas promovam um pacto de morte, pretendendo
morrer no mesmo tempo. Várias hipóteses podem se dar:
A. Se cada uma delas ingerir veneno, de per si, aquela que sobreviver
responderá pela participação no suicídio da outra.
B. Se uma ministrar o veneno para as demais, sobrevivendo, responderá elo
homicídio daquelas que se suicidaram e pela tentativa de homicídio das que
sobreviveram.
C. Se cada pessoa administrar veneno uma para a outra, todas sobrevivendo,
responderão pela tentativa de homicídio da pessoa que deram o veneno.
Morrendo algum, e sobrevivendo aquele que lhe ministrou, responderá por
homicídio consumado.
D. Se cada pessoa ingerir sozinha o veneno, todas sobrevivendo, com lesões
leves ou sem lesão, é o fato atípico.
E. Na hipótese de quatro pessoas contratarem um médico para lhes ministrar o
veneno, morrendo duas pessoas e sobrevivendo as demais, responderão as
sobreviventes por participação no suicídio e, o médico, por dois homicídios e
duas tentativas de homicídio.

Aborto
(Arts. 124 a 128)

CONCEITO
Caracteriza-se pela interrupção da gravidez de maneira provocada pelo ser
humano, cuja consequência é a destruição do produto da concepção.
“Produto da concepção”: é acertado o uso dessa expressão técnica. Isso porque nem
todo produto da concepção é feto, a depender do mês gestacional em que o aborto é
praticado. Mostram a medicina e a biologia:
Até 2 meses ovo ou zigoto;
De 2 a 4 meses embrião;
De 4 meses até o parto feto;
O aborto é um crime que pressupõe resultado duplo:
I. INTERRUPÇÃO FORÇADA DA GRAVIDEZ
II. DESTRUIÇÃO DO PRODUTO DA CONCEPÇÃO, IMPEDINDO-O DE SE TORNAR UMA
VIDA VIÁVEL.

BEM JURÍDICO TUTELADO


É a vida humana intrauterina.
Disso, pode-se concluir que a vida humana extrauterina é tutelada por outros tipos
penais, que não o crime de aborto.
E no caso da fertilização in vitro?
O descarte indevido dos bebês de proveta não caracteriza aborto, pois o legislador,
nesse crime, quis proteger a vida que se desenvolve no útero da mulher
(intrauterina). Pode, talvez, caracterizar algum crime de biomedicina, mas não de
aborto.

A partir de quando pode se falar em aborto?


Há duas correntes:
I. A mulher pode ser considerada grávida a partir do momento da consumação.
II. A mulher pode ser considerada grávida a partir do momento da nidação
(quando o óvulo fecundado se fixa na parede interna do útero). Esse é o
entendimento majoritário.

E quando não se pode mais cogitar de crime de aborto?


I. A maioria da doutrina entende que a vida extrauterina começa com a
expulsão do feto do ventre materno.
II. No entanto, há uma posição minoritária que entende que começa com a
deslocação do colo do útero.

FORMAS OU MODALIDADES (ARTS. 124 A 126 DO CP)


O direito penal não cuida de todas as formas de aborto que podem existir, pois nem
todo aborto é criminoso.

Existe aborto culposo?


Existe, mas não é crime. O aborto culposo deve ser compreendido no sentido de que
por uma imprudência isso veio a acontecer.
Exemplo: a mulher grávida, ao tentar pegar um pote que se encontra em cima da pia,
assim o faz nela tentando subir, sem se utilizar de escada própria, vindo a cair.

ART. 124
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento

Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque;
AUTOABORTO
A gestante pode realizar o aborto em si, valendo-se de manobras abortivas. Nessas
situações, a própria mulher grávida ingere medicamentos abortivos ou insere
dentro de si algum objeto.

ABORTO CONSENTIDO
A gestante autoriza que realizem nela os procedimentos abortivos. Nessas situações,
o simples ato de consentir com as manobras abortivas já tipifica o crime de aborto.

CLASSIFICAÇÃO: CRIME PRÓPRIO


É um crime próprio, ou seja, exige um sujeito ativo específico. Aqui, somente a
gestante pode ser a autora do crime, não se admitindo a coautoria, no entanto, se
admite a participação.

CLASSIFICAÇÃO: ADMISSÃO DA FIGURA DO PARTÍCIPE


Partícipes são aqueles que não realizam diretamente nenhum elemento do tipo, mas
com suas atitudes, de alguma maneira, contribuem para que o resultado criminoso
seja alcançado. Portanto, haverá participação desde que a pessoa atue de maneira
secundária, consistente no induzimento, instigação ou auxílio, sendo a
consequência penal a de incorrer nas mesmas penas que o autor do crime.
Se a pessoa atuar diretamente para causar a interrupção da gravidez, não será
partícipe, mas autora do delito, nos termos do art. 126.
Exemplos: o namorado que instiga a namora a realizar o autoaborto, é partícipe; a
amiga que presta solidariedade à amiga grávida e a acompanha numa clínica
clandestina para realizar o procedimento médico, é partícipe.
CLASSIFICAÇÃO: SUJEITO ATIVO E PASSIVO
É o sujeito ativo a gestante e, o passivo, o produto da concepção.

CLASSIFICAÇÃO: ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO


É o dolo. Não se pune a forma culposa.

DEMAIS CLASSIFICAÇÕES
I. COMISSIVO OU OMISSIVO: provar ou consentir.
II. MATERIAL: exige resultado naturalístico para se caracterizar.
III. DE DANO: deve haver efetiva lesão ao bem jurídico tutelado.
IV. DE FORMA LIVRE: a lei não exige nenhuma forma específica para sua
prática.
V. ADMITE A TENTATIVA.

Art. 125 e 126


Aborto provocado por terceiros

Aborto provocado por terceiro

        Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:

        Pena - reclusão, de três a dez anos.

        Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:  

        Pena - reclusão, de um a quatro anos.

        Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos,
ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou
violência.

CONDUTA DE TERCEIROS
É uma exceção da teoria monista, que prevê que os coautores e partícipes respondem
pelo mesmo crime quando contribuírem para o mesmo resultado típico. Nesse caso,
quis o legislador punir mais severamente o terceiro que provoca o aborto, aplicando
a teoria pluralista do concurso de pessoas.
Logo,

GESTANTE TERCEIROS
- Sempre responderá pelo art. 124 - Responderá pelo art. 125 ou art. 126

ART. 125 – ANÁLISE DAS PECULIARIDADES


SUJEITOS ATIVO E PASSIVO
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
O sujeito passivo, no entanto, não é somente o produto da concepção, mas também a
gestante, pois a agressão foi dirigida contra a sua pessoa e sem o seu consentimento.

CLASSIFICAÇÕES
I. CRIME COMUM
II. CRIME INSTANTÂNEO: não se protrai no tempo.
III. COMISSIVO OU OMISSIVO: será omissivo quando houver o dever jurídico de
impedir o resultado, como o médico que, contratado para acompanhar uma gravidez
problemática, não o faz adequadamente.
IV. MATERIAL E DE DANO
V. DE FORMA LIVRE
VI. ADMITE A TENTATIVA
VII. DOLOSO

TENTATIVA DE ABORTO E MORTE DE RECÉM NASCIDO


Há uma lacuna na lei quanto à situação envolvendo o agente que, tentando matar o
feto (aborto), agride a gestante. Entretanto, ocorre o nascimento com vida, mas em
decorrência das lesões provocadas ainda na fase intrauterina, vem a falecer.
Deve se considerar a principal característica do dolo: a atualidade. A vontade do
agente era matar o produto da concepção, de modo que incabível enquadrá-lo em
homicídio, tipo penal destinado a tutelar outro bem da vida, qual seja, a vida
extrauterina.
O fato de ter a criança nascido para, depois, falecer, não descaracteriza o aborto.

ART. 126 – ANÁLISE DAS PECULIARIDADES


É o caso, por exemplo, dos abortos realizados em clínicas clandestinas.

Qual crime é cometido quando a gestante realiza o aborto numma clínica clandestina?
Dois são os crimes. A mulher grávida comete o crime previsto no art. 124 (em razão
de seu consentimento), e o médico comete o crime previsto no art. 126 (provocação
do aborto com o consentimento da gestante). Importante mencionar que eventuais
auxiliares do médico nas mesmas penas incorrerão, em razão de figurarem como
partícipes.

 PARÁGRAFO ÚNICO
Caracteriza o aborto provocado com o consentimento inválido. O terceiro responde
como se incorresse no art. 125, isso porque o consentimento inválido significa, em
termos práticos, o não consentimento.

 São os casos de não maior de 14 anos (ou seja, até 14 anos); alienada ou débil
mental; consentimento obtido mediante grave ameaça, violência ou fraude.

Se a mulher está grávida e é menor de 14 anos ou débil mental, ela não é vitima de outro
crime?
Sim, é vítima do crime de estupro de vulnerável. No entanto, a gravidez resultante
de estupro é uma das hipóteses de aborto legal. Logo, deve-se entender que o
consentimento exigido tem que partir dos pais ou representantes legais, e não da
gestante em si. De modo que a vontade da gestante menor ou débil é absolutamente
irrelevante à luz da estrita legalidade penal, sendo que, querendo os pais ou
representantes legais, será feito, ainda que tenha que sedar a gestante para tanto.

Forma qualificada
Art. 127
  Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do
aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são
duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.

O legislador, por vacilo formal, colocou tal hipótese como uma qualificadora, no
entanto, como opera por meio de frações em cima do preceito normativo secundário
original, trata-se, em realidade, de causas de aumento de pena. São duas as hipóteses
que causam o aumento da pena:
I. LESÃO GRAVE
II. MORTE
Também por opção legislativa, não englobou em tais causas de aumento os
partícipes do crime previsto no art. 124. Por tal razão, para que não fiquem sempre
impunes no caso de tais consequências – lesão grave ou morte à gestante –
responderão por homicídio culposo ou lesão corporal culposa.

HIPÓTESES DA FIGURA “QUALIFICADA”


A. LESÃO GRAVE OU MORTE DA GESTANTE E FETO EXPULSO VIVO: tentativa de aborto
qualificado;
B. ABORTO FEITO PELA GESTANTE, COM LESÕES GRAVES OU MORTE, HAVENDO
PARTICIPAÇÃO DE OUTRA PESSOA: essa outra pessoa responde por lesão corporal ou
homicídio culposo, em concurso com o autoaborto.

CRIME QUALIFICADO PELO RESULTADO


Aqui, o agente quer matar o produto da concepção, mas termina causando lesões
graves ou a morte da gestante. A doutrina entende, que, por tal razão, tais lesões ou
morte são oriundas de uma conduta culposa do agente, de modo a constituir uma
conduta preterdolosa do crime (dolo no antecedente e culpa no consequente).

Exemplo de aborto provocado com consentimento mediante fraude: Uma menina,


de 16 anos, acaba por ficar grávida e pretende levar tal gestação adiante. Seu pai,
conservador, não concorda com isso. Movido pela raiva, vai a uma clínica
clandestina e diz ao médico que lá levará sua filha e que deve praticar o aborto, sem
que ela saiba, devendo para tanto fingir que estarão realizando um exame rotineiro.
Nesse caso, o aborto ocorrerá mediante fraude e o médico responderá pelo art. 126,
parágrafo único, figurando o pai como seu partícipe.

PROVA DO ABORTO
Quando um crime deixa vestígios, deve ser realizado o exame de corpo de delito (no
caso, no produto da concepção), mas é mais raro “deixar vestígios”.
No entanto, o Código de Processo Penal diz que se não houver como realizar o
exame de corpo de delito, a prova testemunhal pode suprir, caso seja robusta.

DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA OU ARREPENDIMENTO EFICAZ NO CRIME DE ABORTO


É o conteúdo do artigo 15 do Código Penal: "o agente que, voluntariamente, desiste de
prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já
praticados"  que insere em nosso ordenamento jurídico as figuras do arrependimento
eficaz e da desistência voluntária. É o que comumente a doutrina chama de
hipóteses de tentativa abandonada.

Considerando a materialidade da conduta prevista no artigo 124 do Código Penal,


externada pelo próprio nomem iuris daquele tipo, é de se aceitar o cabimento de tais
institutos, quando na sala do terceiro contratado para a realização do aborto, após este
inserir no canal vaginal da gestante o instrumento para realizar a sucção do produto da
gravidez, esta determina que o terceiro interrompa sua conduta, pois não mais deseja alcançar
o resultado previsto na norma; ou a gestante que após ingerir por sua conta e risco os
comprimidos de citotec, esgotando os atos executórios necessários à realização da conduta,
procura médico para evitar o resultado, no que obtém êxito. Nessas hipóteses, deveria a
gestante responder até o limite dos atos por ela praticados e não pelo crime
consumado.

OUTRAS CONSIDERAÇÕES
Caso hipotético do cara atirar na cabeça ou coração de uma mulher grávida.
Para solucioná-lo, deve sempre se pensar na intenção do agente. Ele responderá
pelo homicídio e pelo dolo eventual (se a gravidez for perceptível), no aborto não
consentido. Se não for perceptível ou se ele não sabia, não pode responder
penalmente por isso.

Existe possibilidade de crime impossível no aborto?


Sim. Há duas modalidades de crime impossível.
I. Quando os meios empregados para a consumação do delito são
completamente ineficazes.
Exemplo: quer a mulher grávida abortar e, por simplicidade, toma litros de chá de
camomila para isso. Essa mulher jamais poderá ser responsabilizada pelo crime, nem
na modalidade tentada, porque ele não haveria nenhuma possibilidade dele se
consumar.
II. Por absoluta impropriedade do objeto.
Exemplo: tentativa de aborto em caso de gravidez psicológica ou um golpe na
barriga com jato forte de água. Trata-se de hipóteses de crime impossível porque o
aborto nunca vai se consumar.

O art. 288 do CP trata da associação criminosa. Esse crime é perfeitamente possível


de se acontecer conexo ao crime de aborto, podendo por ambos responder todos
aqueles que contribuam para que o crime de aborto seja cometido de forma reiterada
ao longo do tempo (caso de clínicas clandestinas).
Exemplo: numa clínica clandestina, o segurança, a secretária, os médicos e as
enfermeiras podem no art. 288 também incorrer. Todavia, deve-se ter o cuidado de
que, tendo em vista que a responsabilidade é subjetiva, precisa o funcionário saber
da existência do crime, consentimento sem o qual não pode ser responsabilizado.

Art. 128
Hipóteses de aborto legal
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: 

        Aborto necessário

        I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

        Aborto no caso de gravidez resultante de estupro

        II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou,


quando incapaz, de seu representante legal.

 Consiste numa norma penal permissiva.


 A lei estabelece duas hipóteses e, jurisprudência, dotada de efeito vinculante,
mais uma.
 Importante mencionar que todas essas hipóteses, para que estejam
acobertadas pela excludente de ilicitude, devem ser praticadas por médicos.
ABORTO NECESSÁRIO OU TERAPÊUTICO
Nesses casos, sabe-se que a gestação não pode prosseguir sem a morte da mulher, e
o aborto é o único meio de salvação.
Exemplo: gravidez ectópica. Se a gestante estiver já em hemorragia, ou seja, já
correndo risco de vida, pode qualquer um realizar esse aborto, mas acobertado pela
excludente de ilicitude de estado de necessidade de terceiro, e não pelo aborto legal.

ABORTO SENTIMENTAL OU HUMANITÁRIO


É o aborto realizado na mulher vítima de um estupro. Não é necessária autorização
judicial para tanto, bastando o convencimento do médico para a realização do
procedimento.

ADPF 54 – FETOS ANENCEFÁLICOS


Entendeu-se pela possibilidade, porque não haveria a tutela ao bem da vida, uma
vez que essa, por condições biológicas, se demonstra inviável.

ABORTO EM CASO DE MICROCEFALIA


Houve uma ação proposta que visava equiparar à anencefalia, mas foi julgada
improcedente, ao argumento de que a microcefalia é uma deficiência como qualquer
outra, de modo que a vida é viável e a inclusão deve ser promovida.
Portanto, o aborto nesse caso é crime.
ABORTO EUGÊNICO
Tipo de aborto preventivo executado em casos em que há suspeita de que a criança
possa nascer com defeitos físicos, mentais ou anomalias, implicando em uma técnica
artificial de seleção do ser humano.
Novamente, andar-se-ia contra a inclusão dos deficientes e a tutela ao bem jurídico
da vida humana, uma vez que, apesar de deficiente, é a vida viável.
Portanto, o aborto nesse caso é crime.

Infanticídio
(Art. 123)
        Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo
após:

        Pena - detenção, de dois a seis anos.

CONCEITO
É um homicídio cometido pela mãe contra seu filho, nascente ou recém-nascido, sob
a influência do estado puerperal. É uma hipótese de homicídio privilegiado em que,
por circunstâncias particulares e especiais, houve por bem o legislador conferir
tratamento mais brando à autora do delito, diminuindo a pena cominada.

SUJEITOS ATIVO E PASSIVO


O sujeito ativo será sempre a mãe e, o passivo, o ser nascente ou recém-nascido.

CONCEITO DE ESTADO PUERPERAL


É um estado que envolve a gestante, provocando profundas alterações psíquicas e
físicas.
O fato é que: (i) toda mulher gestante sofre o estado puerperal; (ii) algumas delas
sofrem influências relevantes do estado puerperal; (iii) algumas outras sofrem
influência de tamanha relevância que, por conta disso, acabam por matar o próprio
filho.

Análise da redação do artigo...


“Durante o parto”: se já foi iniciado o trabalho de parto, há infanticídio – se
praticado pela gestante etc. – ainda que esteja o feto, organicamente, dentro do
corpo.
Exemplo: está por sair, ainda, somente a cabeça ou pé. Já é considerado infanticídio.
“Logo após”: logo após quanto? A doutrina entende ser pelo tempo em que durar o
estado puerperal (de 90 a 120 dias).
É importante salientar que não basta a gestante estar em estado puerperal, ela deve
agir sob influência dele (discussão probatória).

ABORTO X INFANTICÍDIO
O infanticídio pode acontecer durante o parto ou logo após dele.
A polêmica está em se averiguar quanto a criança deixa de ser considerada feto e
passa a ser tratada como nascente. Entende-se que, iniciado o parto, torna-se o ser
vivo sujeito ao crime de infanticídio. Antes disso, é aborto.

ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO


É o dolo. Não se pune a forma culposa.

BEM JURÍDICO TUTELADO


A vida humana.
CLASSIFICAÇÃO DO CRIME
I. CRIME PRÓPRIO
II. INSTANTÂNEO
III. MATERIAL E DE DANO
IV. DE FORMA LIVRE
V. ADMITE A FORMA TENTADA
CONCURSO DE PESSOAS: COAUTORIA X PARTICIPAÇÃO
É a coautoria uma modalidade de concurso de agentes por meio do qual as pessoas
que participam na execução do crime realizam um ou mais elementos do tipo, mas
detém o domínio do fato.
“O pai que ajuda a mãe a matar o feto, é coautor ou participe?”
O óbvio seria que se respondesse que o pai responderia por homicídio, uma vez que
não sofre influência do estado puerperal e nem faz as vezes da gestante (o que
caracteriza ser um crime próprio). Por tais razões, não deveria ter, para si, o benefício
da pena abrandada.
Dispõe o art. 30: “Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter
pessoal, salvo quando elementares do crime”.
É possível extrair que as circunstâncias e condições de caráter pessoal não se
comunicam. Exemplo: um crime cometido por um réu primário e um réu
reincidente. Essas circunstâncias não se comunicam um ao outro para efeitos de
dosimetria da pena (que poderá ser maior para um deles em razão da reincidência
do segundo réu).
No entanto, continua o art. 30: salvo se forem elementares do crime. Isso significa
que as circunstâncias elementares, ainda que sejam de caráter pessoal, se
comunicam, uma vez que são elementares.
Exemplo: um crime cometido por um agente público e seu amigo, cuja conduta foi a
subtração de patrimônio do erário. Ambos responderão pelo crime de peculato,
ainda que o segundo amigo não seja funcionário público, porque sua conduta
configura uma elementar do crime, razão pela qual as circunstâncias elementares –
ainda que pessoais – se comunicam.

No caso, o “estado puerperal” e a condição de “mãe/gestante” são elementares de


caráter pessoal, isso significa que se comunicam. Logo, é de se concluir que o crime
de infanticídio admite a coautoria.
O professor Christiano sugere como solução prática para esse equívoco quase que
teratológica colocar o infanticídio como uma causa de diminuição de pena do
homicídio, porque aí não se configurariam os elementos do tipo como elementares,
inviabilizando a comunicação a terceiros.
Deve-se lembrar que o Coautor é quem executa os elementos do tipo, detendo o
domínio do fato. Se o indivíduo apenas fica, por exemplo, olhando para ver se não
há ninguém vindo enquanto os agentes praticam o infanticídio, não será considerado
coautor, mas sim partícipe.
Logo, coautores e partícipes respondem igualmente por infanticídio. Assim, embora
presente a injustiça, tanto a mãe que mata o filho sob a influência do estado
puerperal, quanto o partícipe que a auxilia, respondem por infanticídio.

Lesões Corporais
(Art. 129)

CONCEITO
É uma ofensa física voltada à integridade ou à saúde do corpo humano. Para a
configuração do tipo, é necessário que a vítima sofra algum dano a seu corpo,
alterando-o interna ou externamente, abrangendo modificações prejudiciais à saúde,
transfigurando qualquer função orgânica ou provocando séria perturbação mental.
Quanto à saúde, não configura lesão corporal apenas quem torna enfermo aquele
que não está, mas também aquele que agrava a enfermidade preexistente da vítima.

BEM JURÍDICO TUTELADO


É a incolumidade física da vítima, compreendida pelo corpo e da saúde.

Esses bens jurídicos são disponíveis, isso é, pode a vítima abrir mão dessa proteção?
Sim, desde que ela seja capaz (tatuagens, piercings, praticantes de alguns esportes).
Exemplo: médico que faz uma cirurgia de emergência num paciente que chega
acidentado. Ele pratica os elementos do tipo penal, mas não incorre no crime, pois
age munido pela excludente de ilicitude em razão do estado de necessidade de
terceiro.
E num caso de lesão corporal em razão de uma cirurgia plástica?
É necessário que o paciente assine que está ciente dos riscos. Isso é possível porque
está amparado pelo exercício regular do direito (da medicina), que é uma excludente
de ilicitude.

Entendendo...
I. NEM TODA AGRESSÃO FÍSICA É LESÃO CORPORAL
Exemplo: um indivíduo deu uma facada no outro.
Que crime é esse? Depende. A primeira coisa a ser analisada é a intenção do agente
(o “animus”, sua motivação).
Se a intenção é matar, receberá o nome de animus necandi (lembrar de necrotério para
associar que tem a ver com morte); se é de ferir, receberá o nome de animus laedendi.
Se a intenção da facada for de matar, será um crime de tentativa de homicídio, se de
ferir, lesão corporal.

EM TERMOS DE VESTÍGIOS (ELEMENTOS MATERIAIS QUE RESULTAM DA AÇÃO CRIMINOSA):


I. Se o crime não os deixar ou deixar apenas um eritema (vermelhidão na pele),
não será crime de lesão corporal, mas apenas uma contravenção penal, prevista no
art. 121 da Lei de Contravenções Penais.
II. Porém, se resultar numa alteração corporal que não seja momentânea,
caracterizará a lesão corporal.
A mais comum das lesões corporais: hematoma (é o resultado do rompimento de
vasos sanguíneos – isso é um vestígio).

ANÁLISE DO NÚCLEO DO TIPO PREVISTO NO “CAPUT “ DO ART. 129


O núcleo é “ofender”, o que significa lesar ou fazer mal a alguém.
Exemplo: se você transmite a alguém uma doença intencionalmente, comete-se o
crime de lesão corporal, como uma DST.

SUJEITOS ATIVO E PASSIVO


Qualquer pessoa, com exceção de algumas figuras qualificadas para o sujeito
passivo, como no caso da lesão corporal com a aceleração do parto, que exige se
tratar de uma mulher grávida.

ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO


Na figura prevista no “caput”, que é a lesão corporal simples, é o dolo. Contudo, ao
longo do artigo, as lesões se subdividem pelo elemento subjetivo:
I. DOLOSA: é a lesão corporal intencionalmente causada (causada com
animus laedendi).
A lesão dolosa é, primeiramente, classificada com relação a sua gravidade.
A. LEVE OU SIMPLES (“CAPUT”)

Lesão corporal

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano.


São de gravidade menor.
A lesão leve é determinada pelo critério da exclusão (será leve se não for grave, nem
gravíssima e nem seguida de morte).
Leve e simples não são expressões sinônimas. As lesões simples sempre serão leves,
mas nem toda lesão leve será simples, em razão de circunstâncias específicas da
vítima, como nos §§9º, 11 e 12, que preveem causas de aumento.
A lesão simples, devido a pena, caracteriza o crime como sendo infração de menor
potencial ofensivo, pois a pena máxima não é superior a dois anos.

B. GRAVE (§1º)

 Lesão corporal de natureza grave

§ 1º Se resulta:

  I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;

É toda e qualquer atividade regularmente desempenhada pela vítima, e não apenas


sua ocupação laborativa. É, inclusive, as de lazer, mas para que seja a lesão
enquadrada nesse inciso é imprescindível a incapacidade por mais de trinta dias.

 A única e lógica exigência é que a atividade exercida seja lícita.

Importante lembrar que habitual tem a conotação de atividade frequente, não se


podendo reconhecer a lesão corporal grave quando a vítima ficar incapacitada para
ocupações exercidas raramente, como adiar viagem programada, por mais de 30
dias.

É absolutamente indispensável a comprovação da incapacidade por perícia médica:


uma para detectar a lesão e outra realizada a partir do 31º dia (para detectar se está
ou não a vítima capacitada para continuar com suas ocupações habituais).

  II - perigo de vida;

Exige da lesão, para aqui se enquadrar, concreta possibilidade da vítima vir a morrer
em razão das lesões sofridas.
Considera-se que nesse caso somente pode haver dolo na conduta antecedente, e
culpa na conduta consequente, pois o agente não agiu ideando causar perigo de vida
à vítima, caso contrário, ter-se-ia uma tentativa de homicídio. É, portanto, um crime
preterdoloso.

  III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;

Debilidade permanente é uma frouxidão duradoura no corpo ou na saúde, a qual se


instala na vítima após sofrida a lesão corporal.
 Não precisa ser uma debilidade perpétua, bastando ter longa duração.
Por membro, deve se compreender braços, mãos, pernas e pés. Logo, a perda de
dedos se caracteriza como debilidade permanente da mão ou do pé.
Por sentido, deve se compreender os clássicos cinco: tato, olfato, audição, paladar e
visão. É o caso, por exemplo, da perda da visão.
Por função, deve se compreender as funções próprias de um órgão humano, como a
função respiratória, digestória, excretória etc.

  IV - aceleração de parto:

Significa antecipar o nascimento da criança antes do prazo normal previsto pela


medicina. Nesse caso, é indispensável o conhecimento da gravidez por parte do
agente.
Se, em virtude da lesão corporal praticada contra a mãe, a criança nascer morta, será
o caso da lesão corporal gravíssima do art. 129, §2º, V.

C. GRAVÍSSIMA (§2º)

§ 2° Se resulta:

I - Incapacidade permanente para o trabalho;

Predomina o entendimento de que não se trata de incapacidade para exercer todo e


qualquer tipo de trabalho, mas sim de uma incapacidade que gere como
consequência a necessidade de mudar substancialmente o labor que outrora
exercia a vítima.
Exemplo: neurocirurgião que não mais poderá assim laborar. A jurisprudência
entende que se ele puder exercer a medicina sem ser cirurgião, não caracteriza esse
inciso. Para configurar, não pode mais a vítima exercer a profissão que exercia.
Exemplo: atleta de futebol que não pode mais correr.

II - enfermidade incurável;

É uma doença irremediável. É necessário que haja uma séria alteração na saúde da
pessoa.

III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função

Parecida com a situação grave, mas lá era debilidade, e aqui está-se falando de perda
ou inutilização. Nos casos de substituição por prótese ou órtese, isso não
desqualifica a lesão.
Exemplo: corte de um braço (membro); aniquilamento dos olhos (sentido); ablação
da bolsa escrotal, impedindo a função reprodutora (função).
A inutilização significa a falta de utilidade, ainda que fisicamente esteja presente o
membro ou órgão humano. É, por exemplo, a perda do movimento da mão ou a
impotência para o coito, embora sem remoção do órgão sexual.

IV - deformidade permanente;

Não está abarcada no inciso III?


Não. Isso porque esse inciso cuida da deformidade atrelada ao dano estético, que
causa condição vexatória ou constrangedora à vítima. Ainda que seja um corte
superficial, e que em tese configuraria leve, se causar esse dano estético
”humilhante”, será gravíssima.

V – aborto;

Aqui, é de suma importância que o aborto se dê de forma culposa, pois, se de forma


dolosa se desse, estar-se-ia diante da hipótese de provocação do aborto sem o
consentimento da vítima, em concurso formal de crimes com a lesão corporal
simples.
Por tal razão, trata-se de uma hipótese preterdolosa.

HIPÓTESES DOS §§ 9º, 11 E 12 CUMULADOS COM O §3º (LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE


MORTE)

Se a vítima se enquadrar em uma das hipóteses desses parágrafos, e dessa lesão


resultar sua morte, será o crime considerado hediondo.

ANÁLISE DO §9
Esse parágrafo guarda muitas complicações quanto aos termos empregados, e não
há consenso na doutrina sobre o que exatamente significa cada terminologia.
Sobre as questões de parentescos: protege relações consanguíneas ou por adoção;
cônjuge (pessoa casada dentro das normas previstas no Código Civil); companheiro
(aquele que detém um companheiro afetivo estável e duradouro. Não
necessariamente implica na coabitação); ou quem conviva ou tenha convivido
(necessário que se tenha uma relação de afetividade); relações domésticas (há quem
defenda necessitar também de laços consanguíneos, mas não é unânime. Ainda, o
professor acha que uma agressão contra “empregada/babá” também se encontra
aqui); coabitação (condomínio não se entende por coabitação, mas também há
divergências e é extremamente vago e abrangente. É de se entender, de acordo com o
professor, que são relações de proximidade); hospitalidade (a condição abusiva
violenta é por parte de quem está hospedando ou sendo hospedado? Por não estar
dito, se entende por essa duplicidade. É, por exemplo, o primo distante que vem
ficar em casa. É necessário que o hóspede pernoite? Também não está dito, causando
divergência);
Crítica: não há qualquer segurança jurídica, pois, o magistrado, movido pela
independência funcional e livre convencimento motivado, pode decidir de modo
abrangente ou restritivo, e uma mesma situação, cometida por duas pessoas, pode
ter resultados absolutamente diferentes. Esse é um defeito do direito brasileiro.

Atenção: o §9º é uma espécie de lesão leve, uma vez que não pode ser grave nem
gravíssima porque a pena máxima desse parágrafo é de 3 anos, ao passo que a
grave ou gravíssima já possui uma pena maior que essa, de modo que não há
compatibilidade para se encaixar dentro de “grave ou gravíssima”.

ANÁLISE DO §10
Ademais, prevê o §10 que se a lesão for grave, gravíssima ou seguida de morte,
dentro das circunstâncias do §9º, há causa de aumento específico.
E qual pena aumenta, a do §9º?
Não. A pena grave ou gravíssima.
Exemplo: irmão que provoca lesão grave, gravíssima ou seguida de morte a seu
irmão. Será aumentada a pena, nos termos do §10, em cima da pena da lesão grave
ou gravíssima ou da seguida de morte.

ANÁLISE DO §11
“Pessoa portadora de deficiência”: é aquela prevista como conceito no Estatuto da
Pessoa com Deficiência.
Esse parágrafo identifica uma hipótese dolosa, e não culposa (culposa necessita de
previsão), de modo que, para que incida nessa causa de aumento, é necessário que o
agressor saiba da deficiência.
Exemplo: se um primo distante me agride sem saber que tenho uma deficiência
(porque não aparente), não incorrerá nessa causa de aumento.

II. PRETERDOLOSA

Lesão corporal seguida de morte

§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem assumiu o
risco de produzí-lo:

Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

A hipótese preterdolosa é aquele que tem dolo no antecedente e culpa no


consequente.
É necessário que o agressor haja com animus laedendi.
“Não quis o resultado e nem assumiu o risco de produzi-lo”: não agiu com dolo
direto e nem indireto na modalidade eventual. Logo, por exclusão, é de se punir a
título de culpa.

Se um indivíduo dá um soco na cabeça da vítima e essa morre. Qual é o crime?


Depende da intenção do agressor, se era agir com “animus necandi” – vontade de
matar – ou “animus laedendi” – vontade de ferir. Se a primeira, será homicídio
doloso, se a segunda, lesão corporal seguida de morte.

III. CULPOSA (§6º)


Caso clássico que excepcionaliza um princípio penal: aperfeiçoamento do princípio
da legalidade. Como conquista histórica, o tipo penal não pode ser aberto (“caber
qualquer coisa”), ele deve ser taxativo, devendo, de forma mais minuciosa possível,
estabelecer as condutas a que diz respeito. Mas há uma exceção: a prática dos crimes
culposos, dada a amplitude dos casos que podem ocorrem.
Assim, optou o legislador por descrever a conduta dolosa, de modo quase que
taxativo, excepcionalizando-o ao dizer “se o crime é culposo...”.
Lembrando: se não está dito nada sobre o elemento subjetivo do tipo (“animus”),
subentende-se pela forma dolosa.

ANÁLISE DO §8º -PERDÃO JUDICIAL


Idêntico ao perdão judicial do homicídio culposo.
Qual a natureza jurídica da sentença que concede o perdão judicial?
Súmula nº 18 do STJ: sentença meramente declaratória, que declara a extinção da
punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.

ANÁLISE DO §4º
O “relevante valor social” é entendido como relevante para toda a sociedade.
Exemplo: aquele que mata o ditador do país (“inimigo da pátria, que no caso a caso
será analisado pelos julgadores).
O “relevante valor moral” é entendido como relevante para o agressor.
Exemplo: aquele que mata o estuprador da filha.

Ação Penal
(Art. 100 do CP)
Para saber de qual se trata, é necessário procurar no Código. No silêncio, será
pública incondicionada, uma vez que as outras modalidades precisam estar
expressamente previstas.
 Indicativo de que é de iniciativa privada: promovida “mediante queixa”.
 Indicativo de que é pública condicionada: promovida “mediante
representação/mediante requisição da vítima”.

O art. 88 da Lei nº 9099/95 previu que se a lesão corporal for leve ou culposa a ação
será pública condicionada.
Por que houve essa alteração legal?
Antes da lei, era um crime de ação pública incondicionada (independente da
vontade da vítima).
Exemplo: dois amigos numa moto que cai. Um dos amigos acaba se ralando. Se um
agente público presenciasse, era obrigado a prosseguir com o tramite penal em razão
da lesão corporal culposa, o que não se demonstra razoável sempre. Por isso, o
legislador criou a hipótese da ação pública condicionada (oferecimento de
representação).
A mesma coisa foi feita para a lesão leve, pensando num ambiente entre pessoas
conhecidas, que não se importaram tanto assim com o fato de terem sido agredidas
levemente e, em 1995, em casos de briga entre “marido e mulher” (comportamento
que antes se adotava, mas que hoje em dia é repudiado pela sociedade). Porém, o
“problema” de ser condicionado também nesses casos subsistiu, porque por vezes
pode a mulher agredida não querer oferecer a representação ou, oferecendo, se
retratar até o oferecimento da denúncia.
I. Determina o art. 88 da Lei 9099/95 que a lesão corporal leve – do “caput”
– é de ação penal pública condicionada.
II. Analisada em integração com o §9º do art. 129, é de se concluir também
que é a violência doméstica de ação penal pública condicionada.
Porém, vem o art. 41 da Lei Maria da Penha e afasta a aplicação da lei 9099/95.
Assim, nas hipóteses de lesão corporal doméstica ou familiar contra a mulher
(exclusivamente), a ação penal é publica incondicionada.

Cap. III
Da Periclitação da Vida e da Saúde

CRIMES DE DANO X CRIMES DE PERIGO


O crime de dano é aquele que não se consuma apenas com o perigo, é necessário que
ocorra uma efetiva lesão ao bem jurídico penalmente tutelado.
O crime de perigo é aquele que se consuma com a mera situação de risco a que fica
exposto o objeto material do crime. Não há, no caso, a efetiva lesão ao bem jurídico.
Logo,
CRIME DE DANO CRIME DE PERIGO
- Efetiva lesão ao bem jurídico - Mera probabilidade de lesão ao bem
penalmente tutelado; jurídico, expondo o objeto material do
crime a risco;

O crime de dano (figura típica prevista no art. 163) é um crime classificado doutrinariamente
como um crime de dano?
Sim, uma vez que há lesão ao bem jurídico.

CLASSIFICAÇÕES DO CRIMES DE PERIGO


A classificação do crime de perigo pode se dar dentro de dois espectros: ser concreto
ou abstrato; ser individual ou coletivo.
PERIGO CONCRETO X PERIGO ABSTRATO
A. CONCRETO
Nesse caso, o dano deve ser devidamente provado pelo acusador.
Exemplo: dirigir sem habilitação é crime? Não. Isso é uma mera infração
administrativa.
O crime é dirigir sem habilitação gerando perigo. Aqui, é necessário provar o perigo.
Exemplo: delito consistente em expor a vida ou a saúde de uma pessoa a perigo
direto e iminente, o que necessita da prova fática, como dar um tiro na direção de
alguém e passar, o projétil, próximo ao corpo da pessoa.

B. ABSTRATO
É a conduta que independe da demonstração do perigo. O perigo é presumido pela
lei. Não vai se verificar, no caso concreto, se a vida de alguém estava de fato em
perigo, uma vez que é abstrato, ou seja, presume-se que as vidas estão em perigo.
No entanto, isso não significa que o crime de perigo não precisa de prova! Não é
necessário que se prove o perigo, mas o resto, sim (que o indivíduo indiciado de fato
era ele, que o porte de arma de fato era proibido porque não havia autorização, que a
arma de fato era de fogo etc).
Exemplo: crime de porte de entorpecentes, por representar um perigo abstrato à
saúde pública.

PERIGO INDIVIDUAL X PERIGO COLETIVO


A. INDIVIDUAL
Uma ou mais vítimas determinadas.
Exemplo: perigo de contágio de doença venérea (art. 130)
B. COLETIVO
Perigo de um número indeterminado de pessoas, não sendo possível individualizá-
las.
Exemplo: crime de incêndio (art. 250) cometido num barraco de madeira dentro de
uma favela, próximo a outros inúmeros barracos de madeira.

CRIMES EM ESPÉCIE – ANÁLISE DOS CRIMES PREVISTOS NO CAP. III


ART. 130 – PERIGO DE CONTÁGIO VENÉREO

Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de
moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:

        Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

        § 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:

        Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

        § 2º - Somente se procede mediante representação.

NÚCLEO DO TIPO
“Expor”, indicando claramente que se trata de um crime de perigo. Logo, não é
necessário que alguém tenha sido de fato contaminado, basta a “exposição”.
Ainda, é um crime de perigo concreto (é necessário provar) e próprio (só pode ser
cometido pelo agente portador de doença venérea).

ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO


“De que sabe ou deve saber”: configura o dolo direito, ao passo que o “deveria saber”, é
tido como dolo eventual.
Não se pune a forma culposa.

SUJEITOS ATIVO E PASSIVO


O sujeito ativo só pode ser aquele contaminado por DST. E, o passivo, pode ser
qualquer pessoa, inclusive quem exerce prostituição.
OUTRAS CONSIDERAÇÕES
“Doença venérea”: é um elemento do tipo normativo, o que significa dizer que é
necessário o conhecimento de outras áreas de estudo que não a jurídica.
“Qualquer outro ato libidinoso”: qualquer outro ato que não a penetração do pênis na
vagina.

AÇÃO PENAL (§2º)


A ação penal desse tipo é pública condicionada à representação, por se tratar de
crime cometido por meio de relacionamento sexual.

        § 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:

        Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Prevê um crime de dano, uma vez que se a intenção do agente é transmitir a


moléstia, “a contrario sensu”, a intenção não é meramente colocar em perigo.
O professor critica que não deveria estar aí, pois se trata de um crime de dano, e não
de um crime de perigo.
Criminalizou-se aqui, em tese, a conduta tentada, pois se trata de um crime formal
(não necessita a consumação). O crime formal é aquele que ocorre quando a intenção
do agente é presumida de seu próprio ato, que se considera consumado
independentemente do resultado.
AIDS: não é uma doença venérea, pois possui outras formas de transmissão sexual
que não as vias sexuais. Assim, caso o portador do vírus da AIDS mantenha relação
sexual com alguém, disposto a transmitir-lhe o mal, poderá responder pela figura
prevista no art. 131.

ART. 131 – PERIGO DE CONTÁGIO DE MOLÉSTIA GRAVE

Perigo de contágio de moléstia grave

        Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato
capaz de produzir o contágio.

Via de regra, não venéreas, mas em alguns casos, pode ser também.
É um crime de dano, pois já está praticando com o fim de transmitir.
Exemplo: A está infectado com uma doença grave e tosse num lenço. B pega esse
lenço e passa no garfo no C.
É o crime do art. 131? Não, pois se trata de um crime próprio (...“de que está
contaminado”...) e, no caso, não é B que está contaminado, mas o A.
ART. 132 – PERIGO PARA A VIDA OU SAÚDE DE OUTREM

 Perigo para a vida ou saúde de outrem

        Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:

        Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.

        Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da


saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em
estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. 

“Se o fato não constitui crime mais grave”: no âmbito do conflito aparente de normas,
se encaixa no princípio da subsidiariedade. Logo, se não se encaixar num crime mais
grave, subsidiariamente, para que se evite a impunibilidade, se encaixará aqui.

ART. 133 – ABANDONO DE INCAPAZ

        Abandono de incapaz 

        Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por
qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono:

        Pena - detenção, de seis meses a três anos.

        § 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:

        Pena - reclusão, de um a cinco anos.

        § 2º - Se resulta a morte:

        Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

        Aumento de pena

        § 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço:

        I - se o abandono ocorre em lugar ermo;

        II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima.

        III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos

O crime é próprio, pois o sujeito ativo é necessariamente alguém que tem o poder de
cuidar de outra pessoa. No entanto, é necessário que esse abandono caracteriza o
perigo. O perigo é concreto.
Esse crime é um crime preterdoloso (dolo de perigo para abandonar e culpa no
resultado causado).
CAUSA DE AUMENTO RELATIVA À PESSOA IDOSA
Introduzida pelo Estatuto do Idoso, buscando dar maior proteção ao idoso, punindo
mais severamente aqueles que praticam o crime contra maiores de 60 anos.

ART. 134 – EXPOSIÇÃO OU ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO

Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria:

        Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

        § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:

        Pena - detenção, de um a três anos.

        § 2º - Se resulta a morte:

        Pena - detenção, de dois a seis anos.

É necessário que se entenda a contextualização em que tais tipos penais foram


criados para que não beirem, por vezes, ao absurdo.
“Para ocultar desonra própria”: pode ser cometido pela mãe ou pelo pai, mas é uma
previsão doutrinária.
“Recém-nascido”: enquanto estiver com o cordão umbilical, ainda é considerado
recém-nascido, mas isso não é absoluto na doutrina.
O crime é de perigo concreto.

Omissão de Socorro
(Art. 135)

Omissão de socorro

        Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança
abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente
perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:

        Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

        Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de
natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

        Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial


        Art. 135-A.  Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o
preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-
hospitalar emergencial:

        Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. 

        Parágrafo único.  A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão
corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte.

SUJEITOS ATIVO E PASSIVO


Como sujeito ativo, pode ser qualquer pessoa, e, como passivo, pessoa inválida ou
ferida que se encontre em situação de desamparo ou em grava e iminente perigo ou
criança abandonada ou extraviada,

ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO


É o dolo de perigo, não se punindo a forma culposa.

ANÁLISE DO NÚCLEO DO TIPO


“Deixar de prestar”: significa abandonar, largar. No caso, deixar de prestar assistência
significa não prestar socorro, daí a rubrica ser “omissão de socorro”.

“Não pedir socorro da autoridade pública”

 Importante perceber que há uma ordem de preferência. Em podendo fazer sem


risco pessoal, deve a pessoa assim agir, em primeiro lugar.
O restante das expressões é classificada como elementos normativos. A crítica específica a
esse artigo é que há muitos elementos normativos, o que é ruim, uma vez que deixa uma
gama de interpretação extremamente aberta.
 É um crime, via de regra, de menor potencial ofensivo, pois a pena maior não
ultrapassa dois anos.

REVISÃO DE TEORIA DO CRIME PARA ENTENDER A OMISSÃO DE SOCORRO


TEORIA DO CRIME: FATO TÍPICO, ILÍCITO E CULPÁVEL
ELEMENTOS DO FATO TÍPICO: conduta (comissiva ou omissiva; dolosa ou culposa),
resultado, nexo causal e tipicidade.
Dentro dos crimes omissivos, há a subdivisão entre crimes omissivos próprios
(como é o caso do art. 135, porque o elemento objetivo é expressamente taxativo,
indicando uma conduta omissiva própria), e crimes omissivos impróprios ou
comissivos por omissão (art. 13, §2º. Presente quando o indivíduo detinha o dever
jurídico de agir e não o fez).
Exemplo de comissivo por omissão ou omissivo impróprio: policial contratado que
se depara com a prática de um ilícito penal, deixando de dar o flagrante.
Qual o crime cometido? Não há um crime específico para isso, incorrendo, portanto, no
art. 13, §2º, o qual, por extensão, será penalmente responsabilizado pelo ilícito que
deixou de impedir.

BEM JURÍDICO TUTELADO


Proteção à vida e à saúde da pessoa.
No entanto, o professor e a doutrina entendem que o bem jurídico tutelado aqui é a
solidariedade com o ser humano, na medida em que existe um crime em que os
indivíduos deixam de se solidarizar para com o outro.
Logo, há uma divisão:
I. Parte da doutrina entende o bem jurídico tutelado ser o dever de
solidariedade;
II. Outra, entende que deve se atender ao que está no capítulo, ou seja,
“periclitação da vida ou da saúde”.

EXIGÊNCIA DE SUJEITO PASSIVO ESPECIAL


A. CRIANÇA (ECA ART. 2º)
É a criança até 12 anos.

A ideia majoritária é que se trata de um crime de perigo abstrato.

A.1. ABANDONADA
É aquela largada à sorte pelos responsáveis.
A.2. EXTRAVIADA
É aquela que se perdeu do seu protetor ao acaso.

B. PESSOA
A ideia, aqui, é que o perigo seja, ao menos, concreto, por uma questão até mesmo
social. O Brasil todo, por exemplo, está ao desamparo, de modo que se se
considerasse o perigo abstrato, todos praticariam o crime de omissão de socorro. Por
tal razão, deixa-se de ser penalmente relevante.
B.1. INVÁLIDA
É a pessoa deficiente, física ou mentalmente, em decorrência de idade avançada ou
doença, não mais possuidora da capacidade de se defender.
B.2. FERIDA
É aquela que efetivamente tem um ferimento apto a colocá-la pessoa em risco.
B.3. AO DESAMPARO
Doutrina indica uma ideia de abandono, de ausência de assistência.
B.4. EM GRAVE E IMINENTE PERIGO

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA NA OMISSÃO DE SOCORRO


Previsão legal no art. 14 do CP.
Iter Criminis

Cogitação Preparação Execução Consumação


Exaurimento

Quando há a consumação do crime de omissão de socorro?


O crime omissivo próprio não admite tentativa.
Outros exemplos: contravenções penais (porque está expresso no art. 4º); crimes
culposos, na medida em que não tem uma finalidade do agente em praticar o crime;
crimes classificados como habituais (arts. 229, 230, 282); crimes preterdolosos.

LEI Nº 10.741/2003 (ESTATUTO DO IDOSO)


Define como idoso aquele com 60 anos.
Nos termos do art. 97 do Estatuto, como se está diante de conflito aparente de
normas, pelo princípio da especialidade, aplicar-se-á o Estatuto do Idoso.

OMISSÃO DE SOCORRO NO CTB (ART. 304)

Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à vítima,
ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade
pública:

        Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de crime
mais grave.

        Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que a sua
omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos
leves.
Nos termos do art. 304 do CTB, como se está diante de conflito aparente de normas,
pelo princípio da especialidade, aplicar-se-á o CTB.

SITUAÇÃO HIPOTÉTICA

A B C

D
E

A – CAUSADOR DO ACIDENTE QUE SE EVADIU DO LOCAL


Responde pelo art. 303 do CTB (deu causa a esse crime). No entanto, o art. 303, §
único prevê que pela omissão, também responde pelo art. 302, §1º, III).
Deve se atentar aos incisos do §1º, e não à redação do §1º em si. Há uma crítica
quanto a isso, porque a redação é ruim.
Deve se perceber também que o crime de dano absorve o crime de perigo.

B – ENVOLVIDO NO ACIDENTE QUE SE EVADIU DO LOCAL


Responde pelo art. 304 do CTB. Aplica-se o princípio da especialidade.

C – VÍTIMA

D – CARRO NÃO ENVOLVIDO, MAS QUE PRESENCIOU E NÃO PAROU


Responde pelo art. 135 do CP, porque não está envolvido no acidente.

E – TRANSEUNTE QUE PASSAVA PELO LOCAL E NADA FEZ


Responde também pelo art. 135, porque não está envolvido no acidente.
Todavia, cabe a sensatez de perceber que, na prática do dia a dia, a responsabilização
do “D” e “E” não costuma acontecer.
Crime de Maus Tratos
(Art. 136)

Maus-tratos

        Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância,
para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados
indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de
correção ou disciplina:

        Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.

Essa pena do “caput” pressupõe competência do Juizado Especial Criminal, pois é


um crime de menor potencial ofensivo.
        § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:

        Pena - reclusão, de um a quatro anos.

        § 2º - Se resulta a morte:

        Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

        §
3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14
(catorze) anos. 

 O perigo precisa ser concreto.

ANÁLISE DOS §§1º E 2º


Preveem condutas preterdolosas, cujo resultado é culposo.
Obs. o art. 129, §§1 e 2, preveem a lesão corporal de natureza grave e gravíssima, no
entanto, as lesões corporais ali previstas são dolosas. Portanto, como é possível, nos
maus tratos, classifica-las como culposas, se autonomamente são dolosas?
O legislador, no tipo penal dos maus tratos, não pretende punir a lesão corporal
propriamente dita, sendo essa apenas uma qualificadora do tipo penal central – os
maus tratos. Por tal razão, o que faz é utilizar objetivamente os elementos da lesão
grave e gravíssima, mas sem realizar esse juízo valorativo, da mesma forma que se
pune o crime de lesão corporal que resulta em aborto (que é preterdoloso).
Não existe, portanto, a lesão corporal grave ou gravíssima culposa autonomamente,
mas qualificada pelo resultado, sim.
Exemplo: Caso do velejador olímpico, treinando no barco a vela. Barco a motor
grande causou acidente náutico, precisando o velejador amputar. Essa lesão é de que
natureza? Grave, leve ou gravíssima? Nenhuma, pois é uma lesão culposa, uma vez
que o condutor da embarcação a motor agiu com culpa, e não se pune
autonomamente a lesão corporal na modalidade culposa.
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos .

Pai que deixa o filho rebelde sem jantar por não querer faze-lo com a família configura maus
tratos?
Depende. O crime somente será caracterizado se houver risco à saúde da criança.
Caso haja o efetivo dano à saúde, ultrapassar-se-á a previsão do 136, pulan para o
crime de lesão corporal, um crime de dano.

LEI Nº 9455/97 – LEI DE TORTURA


A lei de tortura prevê uma série de condutas que se caracterizam pela prática de
agressões físicas ou até mesmo psíquicas, causando intenso sofrimento.
É possível que se extrapole a tal ponto que os maus tratos ou lesão corporal sejam
encaixados em tortura.
Exemplo: mulher que adotou menina para ser empregada doméstica e a castigava
quando não achava que estava adequado o serviço.

Dos Crimes contra a Honra


Também se trata de crimes contra a pessoa. Aqui, o legislador está penalmente
tentando assegurar a prática de crimes contra um bem jurídico tutelado, qual seja, a
honra.

CONCEITO
A honra é o conjunto de atributos morais, intelectuais, físicos, que fazem com que
nós tenhamos determinada fama e avaliação sobre nós mesmos e dentro de uma
sociedade. A honra é um direito assegurado no art. 5º, X da CF, de modo que é um
direito fundamental. No entanto, há uma tendência de pretender descriminalizar os
crimes contra a honra.
“Fama”: é o conceito que a pessoa goza na sociedade.
A honra se subdivide em honra objetiva (calunia e difamação) e honra subjetiva
(injúria).
HONRA

OBJETIVA SUBJETIVA
(calúnia e difamação) (injúria)

FORMAS DE ATENTAR CONTRA A HONRA DE ALGUÉM


HONRA OBJETIVA
É o julgamento que a sociedade faz do indivíduo, ou seja, é a imagem que a pessoa
possui no seio social. Isso reflete no que a pessoa acha sobre si mesma,
caracterizando a “auto estima”.

Difamação
(Art. 139)

Difamação

        Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:

        Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

CONCEITO
Atentar contra a fama de alguém, atribuindo-lhe fato (pressupõe localização no
tempo e no espaço) ofensivo à sua reputação.
Difamar uma pessoa significa divulgar fatos infamantes à sua honra objetiva, sejam
eles verdadeiros ou falsos.
Exemplo: Alberto, quando foi prefeito de Jundiaí, era muito corrupto (localização de
tempo e espaço, daí a ideia de fato).

 A reputação varia de tempo a tempo (mulher solteira hoje e em 1930), de


lugar a lugar (gay em São Paulo e gay na Boa Vista), e de pessoa a pessoa
(drogado cantor de rock e drogado desembargador).

Calúnia
(Art. 138)

  Calúnia

        Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:

        Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.


        § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.

        § 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

CONCEITO
É uma específica forma de difamação que o legislador entendeu ser mais grave,
dando o nome de “calúnia”. Ocorre quando um indivíduo falsamente atribui a
outro, um fato – ofensivo por essência –, que se caracteriza por um fato definido
como crime.

 O fato deve ser falso, e o caluniador deve saber que ela é falsa para que reste o
tipo penal caracterizado.
Obs. Atenção quanto ao fato “definido” como crime: pensando, na teoria tripartite,
sobre o crime ser fato típico, ilícito e culpável.
Exemplo: falo que uma menina de 16 anos traficava drogas. Pensando na teoria
tripartite, seria o fato atípico, porque é a menina inimputável em razão da idade.
Nesse caso, portanto, não se puniria a calúnia porque não se lhe atribuiu um crime,
mas a punição é possível porque houve a atribuição de um fato definido como crime
(não importando aspectos subjetivos dos indivíduos).

ANÁLISE DO TIPO PENAL


ILÍCITOS PENAIS
I. CRIME = DELITO
II. CONTRAVENÇÃO PENAL

A imputação de fato tido como delito caracteriza a calúnia, porque delito é sinônimo
de crime.
No entanto, a imputação de contravenção penal não caracteriza a calúnia, mas sim
crime de difamação (levando sempre em consideração a intenção de ofender).
Se o legislador tivesse falado sobre a imputação de um ilícito penal (que abrange
tanto o crime como a contravenção penal, aí sim também poderia ser a conduta da
contravenção caracterizada como calúnia).

 § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.

Exige-se o dolo direto (“sabe” ser falsa).

 § 2º - É punível a calúnia contra os mortos.


A vítima não é o morto, mas sim os familiares (cônjuge, ascendente, descente, irmão
– CADI).

 Apenas a calúnia contra mortos é crime, a difamação e a injúria, não.

HONRA SUBJETIVA
Julgamento que o indivíduo faz sobre si mesmo, ou seja, é o sentimento de
autoestima, autoimagem.

Injúria
(Art. 140)

Significa ofender a honra subjetiva de alguém, atribuindo-lhe defeito (aspecto moral,


profissional, físico etc.), mas não um fato.

Não basta a intenção de ofender, precisa estar conjugada a intenção de ofender


(animus injuriandi) com a existência de uma palavra ou gesto objetivamente ofensivo
(e aqui entra o aspecto cultural).

CONSIDERAÇÕES GERAISJH
A doutrina fala sobre a injúria por omissão: se “deixa a pessoa no vácuo” com
intenção de ofender.
E sobre a injúria real (com agressão física): não houve a intenção de agredir, mas sim
de ofender.
Exemplo: ver o ex-namorado com outra e dar um tapa na cara dele; jogar copo de
bebida na cara do outro.

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