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Eficiência Energética e Sustentabilidade

Brasília-DF.
Elaboração

Alberto Hernandez Neto

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação................................................................................................................................... 4

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa...................................................................... 5

INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 7

Unidade única
Eficiência Energética....................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
Princípios de eficiência energética .................................................................................. 9

Capítulo 2
Uso de energias renováveis.............................................................................................. 22

Capítulo 3
Comissionamento, operação e manutenção................................................................. 35

Capítulo 4
Simulações de Desempenho Energético de Edificações............................................... 44

Para (não) finalizar....................................................................................................................... 49

Referências..................................................................................................................................... 50
Apresentação
Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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INTRODUÇÃO
Prezados Alunos,

Estamos juntos nesta disciplina, contem comigo para auxiliá-los no decorrer das atividades. Você
poderá encaminhar perguntas, tirar dúvidas e propor sugestões sempre que achar necessário,
utilizando o ambiente virtual onde utilizaremos principalmente o Fórum I e o Memorial.

A agenda da disciplina, com as datas de início e término das atividades e de entrega de cada um dos
trabalhos está disponível na plataforma. Organize-se para cumprir os prazos, pois caso as datas não
sejam cumpridas poderá ocasionar redução na nota final de cada atividade no memorial.

O valor total das atividades dessa disciplina terá nota final com 4,0 pontos, sendo um para cada
Atividade e um para participação em todos os fóruns. Ressalto que os prazos para entrega das
atividades deverão ser cumpridos, pois valem pontos na avaliação final. Não deixem de participar
também dos fóruns de discussão, comentando os textos colocados para reflexão.

Leiam o Caderno de Estudos e Pesquisa que será base de todas as nossas discussões e reflexões.
Não deixem para tirar as dúvidas ou enviar o material no último dia, pois dessa forma após a minha
correção vocês não terão tempo para corrigir os possíveis erros apontados por mim. Portanto, não
deixem acumular as leituras nem os trabalhos. O caderno está dividido em quatro capítulos que
cobrem tópicos como: princípios de eficiência energética e os usos finais mais comuns em edificações,
energias renováveis e seus usos, conceitos de comissionamento e de operação e manutenção e
tópicos relacionados à simulação do desempenho energético de edificações. Peço atenção especial
aos itens “Praticando”, que enfocarão atividades para consolidação dos conceitos aqui abordados,
bem como das atividades propostas no ambiente do Actor II. Serão realizados fóruns para abordar
tópicos relacionados à disciplina e que permitirão uma troca de informações mais ampla entre nós.

Ao longo da disciplina serão indicadas leituras complementares livros, artigos, textos e visita a sites
que serão disponibilizadas através do Fórum para enriquecer nossas discussões e o conhecimento
de vocês. É muito importante que você, aluno de pós-graduação, crie uma biblioteca para o
desenvolvimento de seus estudos e aperfeiçoamento de suas atividades profissionais Isso ajudará
na elaboração do seu trabalho de conclusão de curso TCC.

Prof. Dr. Alberto Hernandes Neto

Bons Estudos!

Objetivos
»» Apresentar os conceitos de eficiência energética e os principais usos finais em uma
edificação.

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»» Conceituar as fontes de energia renováveis e seus usos.
»» Apresentar os conceitos relacionados ao comissionamento, operação e manutenção
de edificações.

»» Conceituar o desempenho energético de edificações e as ferramentas para sua


avaliação.

»» Introduzir o conceito de auditoria energética.


»» Realizar auditorias energéticas localizadas para utilizar a metodologia proposta e
consolidar o seu conhecimento.

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Eficiência Unidade única
Energética

CAPÍTULO 1
Princípios de eficiência energética

A população mundial vem crescendo continuamente e com uma velocidade bastante alta como
mostra a Fig. 1, sendo acompanhada por crescimento semelhante do consumo de energia e das
emissões de CO2.

Figura 1. Consumo de energia, emissões de CO2 e população com referência a 1984

Fonte: IEA apud Perez, 2008.

Projeções realizadas pelo EIA (Energy Information Administration) mostram no setor comercial,
o consumo energético de edificações vem crescendo de forma acentuada, como mostra a Fig. 2.
Apesar dos dados apresentados na Fig. 2 terem sido avaliados para a Europa e Estados Unidos,
pode-se inferir que tendência semelhante também é encontrada nas edificações brasileiras.

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UNIDADE única │ Eficiência Energética

Figura 2. Consumo de energia em edificações com referência a 1994

Fonte: IEA apud Perez, 2008.

Portanto, as edificações que representam um grande consumidor de energia pelas ações


desenvolvidas para aumentar a sua eficiência energética possuem um grande potencial para auxiliar
na redução do consumo de energia nas cidades. Acrescente-se o fato que o consumo de energia
constitui uma parcela significativa dos seus custos de operação e sua redução promove melhorias
nas suas condições financeiras das edificações, tornando a sua operação economicamente viável.

Projeto da edificação eficiente


Para um projeto de edificações eficientes deve-se focar nos seguintes aspectos (SANTAMOURIS,
2009):

»» atendimento das normas técnicas vigentes tanto na fase de projeto como de


operação/manutenção;

»» busca de melhorias na eficiência energética da edificação em usos finais específicos


(iluminação, climatização etc.) ou na edificação como um todo;

»» melhorias na qualidade do ambiente interior (conforto térmico, qualidade do ar


etc.);

»» redução do impacto ambiental da edificação no aquecimento global;


»» redução dos custos relacionados ao consumo de energia.
Esses aspectos, na maioria dos projetos, impõem critérios e decisões de projeto conflituosas por
exemplo: aumento da área envidraçada permite maior aproveitamento da iluminação porém pode
aumentar o consumo de energia do sistema de climatização. Jones (2004) apresenta também, na
Fig. 3, a interface entre os diversos parâmetros envolvidos no projeto de uma edificação enfatizando
que esse processo é multidisciplinar e deve ser encarado como uma solução integrada.

10
Eficiência Energética │ UNIDADE única

Figura 3. Interface dos sistemas e ocupantes de uma edificação

Fonte: Jones,2004.

A preocupação com o projeto e operação de edificações eficientes e sustentáveis levou os diversos


setores técnicos envolvidos a se organizarem e desenvolverem diretrizes voltadas para esses
aspectos como as constantes norma na ASHRAE 189 (ANSI/ASHRAE/USGBC/ IES, 2009). Essa
norma propõe práticas relacionadas ao uso racional dos recursos de uma edificação no seu projeto,
construção, operação e manutenção de forma integrada buscando o aumento do desempenho global
da edificação.

Será que as atuais práticas de projetos podem ser consideradas boas práticas.

Avalie suas decisões e/ou critérios de projeto que sejam conflituosas e como você
resolveria o conflito.

Desenvolvimento de estratégia para projeto


O desenvolvimento de estratégias para o projeto de uma edificação eficiente e sustentável passa
pela discussão dos critérios de projeto e seus respectivos impactos na edificação. Essa discussão
deve ser conduzida entre o proprietário da edificação e a equipe de projeto integrando as diversas
demandas dos ocupantes a serem atendidas pela edificação e seus sistemas. Esse processo tem sido
denominado de projeto integrado ou mesmo de projeto baseado em desempenho (JONES, 2004).

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UNIDADE única │ Eficiência Energética

Integração dos usos finais e os ocupantes


As decisões a serem tomadas durante o processo de projeto são caracterizadas pela existência de
critérios e condições de contorno muitas vezes conflitantes e que envolvem diferentes sistemas e/
ou componentes da edificação. Cada um desses sistemas e/ou componentes são afetados por um
conjunto de parâmetros bastante extenso e que devem ser considerados para obter-se o melhor
desempenho destes sistemas para a edificação analisada. Isto implica que não existem soluções para
todas edificações com um determinado tipo de ocupação.

O desafio está em levar todos esses aspectos em consideração e ponderar o conjunto de soluções
mais adequadas. Nesse sentido, a equipe de projeto e o proprietário da edificação enfrentam um
problema de otimização multidisciplinar deve lançar mão de técnicas de simulação e de tomada de
decisão com grande diversidade de critérios. Dentro deste contexto, sistemas de apoio à decisão para
este tipo de projeto têm sido desenvolvidos com sucesso (JONES, 2004; BECKER, 2008) sendo que
um exemplo de fluxograma baseado nestas técnicas é apresentado na Fig. 4.

Figura 4. Fluxograma de projeto integrado de uma edificação

Fonte: Jones,2004.

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Eficiência Energética │ UNIDADE única

A definição das estratégias de controle e respectivos controladores deve ser contemplada dentro
do conceito de projeto integrado sendo que pode-se considerar que um bom sistema de controle
mantenha os sistemas, o conforto e a segurança em níveis adequados e de forma eficiente (JONES,
2004). Dessa forma, um bom sistema de controle em uma edificação deve:

»» prover conforto aos seus ocupantes;


»» evitar que o sistema fique acionado quando não é necessário;
»» acionar o sistema somente para atingir as condições de conforto exigidas;
»» minimizar a manutenção por meio da redução do uso indevido e/ou de sobrecarga
dos sistemas;

»» reduzir os custos de operação.

Pesquise pelo menos cinco parâmetros que influenciem o desempenho da edificação


e seus respectivos sistemas

Usos finais

Iluminação

O uso eficiente da iluminação deve permitir (JONES, 2004):

»» a maior utilização de iluminação natural;


»» a redução dos níveis de luminosidade e ofuscamento;
»» a incorporação de sistemas eficientes de luminárias, lâmpadas e controles;
A iluminação pode representar em torno de 20% do consumo total de uma edificação climatizada e
em torno de 40% de uma edificação não climatizada. No caso das edificações climatizadas, tem-se
o impacto no consumo do sistema de climatização pois o calor gerado pelo sistema de iluminação
deve ser retirado do ambiente para manter a temperatura controlada.

Dessa forma, a escolha correta do sistema de iluminação pode representar ganhos bastante
significativos no desempenho eficiente de uma edificação. Pode-se citar como os parâmetros que
influenciam o desempenho de um sistema de iluminação e sua interferência com as condições de
conforto e consumo de energia (JAYAMAHA, 2006):

»» potência instalada;
»» luminosidade da lâmpada e da luminária;

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UNIDADE única │ Eficiência Energética

»» eficácia luminosa e
»» temperatura de cor da lâmpada.
Pode-se citar como principais tipos de lâmpadas:

»» incandescentes;
»» halogénas;
»» fluorescentes lineares ou compactas;
»» alta descarga (mercúrio e sódio);
»» diódos de emissão de luz (Light emission diodes - LED)
No caso da potência instalada, a norma 189 da ASHRAE (ANSI/ASHRAE, 2009) sugere níveis
máximos de densidade de potência de sistemas de iluminação, cujos valores para alguns tipos de
ambientes são apresentados na Tab. 1.

Tabela 1. Densidade de potência de iluminação

Tipo de ambiente Densidade de potência (W/m2)


Escritórios 11

Lojas 16

Teatros 17
Fonte: ANSI/ASHRAE, 2009.

Deve-se considerar no projeto de sistemas de iluminação, o tipo de distribuição a ser utilizado,


sendo que os tipos mais básicos são apresentados na Fig. 5 (KREITH, 2008):

Figura 5. Sistemas básicos de iluminação

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Eficiência Energética │ UNIDADE única

Fonte: Jones, 2004.

O sistema de controle a ser adotado deve levar em conta o tipo de ocupação dos ambientes, o sistema
de iluminação adotado, uso de iluminação natural etc. Jones (2004) sugere alguns arranjos, com
base nos aspectos mencionados anteriormente, que são brevemente descritos na Tab. 2.

Tabela 2. Sugestões de sistemas de controle

Com iluminação natural Sem iluminação natural


Ambiente Alta ocupação Baixa ocupação Alta ocupação Baixa ocupação
Salas pequenas »» Acionamento/ »» Acionamento/ »» Acionamento/ »» Acionamento com
(com uma a Desligamento Desligamento Desligamento sensor de presença
duas pessoas) manual manual manual
»» Dimmer manual
»» Dimmer manual »» Dimmer manual »» Dimmer manual
Escritórios com »» Acionamento »» Acionamento com »» Acionamento/ »» Acionamento com
planos abertos Manual sensor de presença Desligamento sensor de presença
manual
»» Controle com sensor »» Controle com sensor »» Desligamento
de luminosidade de luminosidade »» Desligamento manual
temporizado
»» Desligamento »» Desligamento
temporizado temporizado

Fonte: Jones, 2004

Avalie o sistema de iluminação no seu local de trabalho e proponha alguma ação


para redução do seu consumo de energia, mantendo as condições de conforto
lumínico.

Climatização, Ventilação, Refrigeração e Aquecimento

Os sistemas de climatização, ventilação, refrigeração e aquecimento são utilizados para promover


o conforto térmico dos ocupantes de uma edificação por meio de sistemas de controle que garanta
a regulagem da temperatura e umidade relativa do ar interior. Além disso, a qualidade do ar no
interior dos ambientes deve ser mantido por meio do uso de sistemas de filtragem. Deve-se prever,
mesmo que o ambiente não exija climatização, que seja fornecido aos ocupantes uma distribuição
de ar (por meio de ventilação natural ou mecânica) para a manutenção das condições de qualidade
do ar interior. Pode-se classificar os sistemas em função do tipo de função que desempenham na
edificação, como mostra a Fig. 5.

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UNIDADE única │ Eficiência Energética

Figura 5. Classificação de sistemas de ventilação e climatização

Fonte: Jones, 2004.

De maneira geral, o sistema de climatização e a sua ligação podem ser representado pela Fig. 6.
Dessa forma, pode-se verificar que existem diversos pontos em que se pode atuar para melhorar a
eficiência energética deste sistema.

Figura 6. Sistema de climatização e a ligação ao ambiente climatizado

Inicialmente, pode-se reduzir a transferência de energia proveniente do ambiente climatizado.


Nesse sentido, pode-se atuar em diversos pontos, a saber:

»» redução da potência instalada do sistema de iluminação;


»» redução de áreas envidraçadas e/ou da transmissividade do vidro;
»» otimização da orientação da edificação etc.
No tocante ao sistema de ventilação que promove a distribuição do ar nos ambientes climatizados,
pode-se citar como ações para o projeto mais eficiente:

»» seleção correta dos difusores;


»» dimensionamento adequado dos ventiladores;
»» correta definição do controle de admissão de ar externo etc.
16
Eficiência Energética │ UNIDADE única

Além disso, pode-se atuar no controle de vazão de ar que é distribuído por meio de sistemas de
volume de ar variável. Nesse tipo de sistema, controla-se a vazão do ar que é fornecido aos ambientes
por meio da temperatura do ar ambiente, de forma que se a temperatura do ambiente aumenta,
maior vazão de ar é fornecida e vice-versa.

Outra estratégia muito utilizada para reduzir o consumo de energia é o controle de ar externo,
responsável pela renovação do ar no interior dos ambientes climatizados. Como normalmente, o
ar externo encontra-se em níveis de temperatura e umidade relativa mais altos que o ambiente
interior, a sua introdução implica em aumentos de temperatura. Uma das formas mais comuns de
controle da vazão de ar externo é feita por meio do sensoreamento dos níveis de CO2 nos ambientes
climatizados. Inicialmente, não é realizada a entrada de ar externo e o nível de CO2 é monitorado.
Caso esse nível ultrapasse níveis aceitáveis de qualidade do ar (em torno de 1000 ppm), permite-se a
entrada de ar externo até que esse nível seja reduzido (em torno de 500 ppm). Dessa forma, garante-se
a qualidade do ar interior (introduzindo a quantidade de ar externo necessária) sem onerar o
consumo de energia do sistema de climatização pela entrada de ar a temperaturas e umidade relativa
maiores que o do ambiente climatizado.

Para o sistema de climatização, as alternativas para o aumento da eficiência desse sistema está
intrinsecamente ligado ao tipo de sistema a ser utilizado. Para sistemas locais ou autônomos, deve-se
selecionar equipamentos mais eficientes para que o consumo de energia seja o menor possível. A
eficiência desses sistemas é medida por meio do coeficiente de desempenho (COP), a saber:

Energia retirada do ambiente climatizado [W]


COP =
Consumo do sistema de climatização [W]

Dessa forma, quanto maior o valor do COP maior a eficiência do sistema e a norma 189 da ASHRAE
(ASHRAE,2009) sugere os níveis do COP em função do tipo de sistema e a sua capacidade de
resfriamento. A Tab. 1.3 apresenta alguns valores sugeridos pela norma 189.

Tabela 3. COP para diversos sistemas de climatização

Tipo de sistema Capacidade COP


Sistemas locais unitários Até 65.000 Btu/h 2,8
Resfriadores com condensador a ar Todas as capacidades 3,1
Resfriadores com torre de resfriamento e compressor alternativo Todas as capacidades 4,2
Resfriadores com torre de resfriamento e compressor centrífugo Todas as capacidades 4,9

Fonte: ASHRAE,2009.

O COP aqui apresentado é avaliado em uma condição de operação específica onde a capacidade do
sistema nessa condição é denominada capacidade nominal. Usualmente, o sistema de climatização
opera apenas 5% do tempo nessa condição onde o COP é o maior possível. Quando o sistema opera fora
dessa condição (denominada condição em carga parcial), a sua eficiência cai e consequentemente o
seu consumo aumenta sendo que a Fig. 7 apresenta uma curva típica de um sistema de climatização
em diferentes capacidades.

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UNIDADE única │ Eficiência Energética

Figura 7. Curva de COP de resfriador para diferentes capacidades

Dessa forma, a correta seleção da capacidade é uma fator importante para o uso racional de energia
em sistemas de climatização. Em alguns casos, se a demanda de resfriamento for muito variável, o uso
de controladores e variadores de frequência deve ser adotado para melhor controlar o funcionamento
do resfriador. Alternativamente, pode-se selecionar mais de um resfriador para atender, em diferentes
momentos, níveis diferentes de resfriamento. Nesse caso, deve-se selecionar os diversos resfriadores
de forma que eles operem a maior parte do tempo na condição de capacidade nominal.

Pode-se atuar também nos parâmetros de operação do resfriador. No caso de sistemas centrais,
pode-se atuar, por exemplo, na temperatura da água gelada fornecida aos fan-coils e pode se
observar na Fig. 8 o aumento do COP devido ao aumento da temperatura de água gelada. Deve-se
ressaltar que esse aumento da temperatura implicara em aumentos da vazão de ar nos ambientes
para se retirar a mesma quantidade de calor. Dessa forma, deve-se avaliar se os ganhos líquidos
dessas ações resultarão em reduções globais de consumo do sistema de climatização. Resultados
semelhantes podem ser atingidos com reduções na temperatura da água de condensação nas torres
de resfriamento.

Figura 8. Curva de COP de resfriador para diferentes temperaturas de água gelada

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Eficiência Energética │ UNIDADE única

Um aspecto importante nos sistemas de climatização é a correta manutenção dos seus componentes.
Entende-se por correta a realização das ações de manutenção recomendadas na frequência adequada
tanto para os equipamentos de refrigeração bem como a limpeza de dutos e troca de filtros para
garantia da qualidade do ar interior e a operação mais eficiente.

De acordo com Afonso (2006) e Hughes (2011) pode-se lançar mão de outros sistemas e técnicas
para a climatização de ambientes internos e atingir reduções de consumo de energia tais:

»» ventilação noturna;
»» pré-resfriamento da edificação;
»» sistemas de absorção e/ou cogeração;
»» resfriadores com mancais eletromagnéticos;
»» termoacumulação;
»» recuperação de calor;
»» sistemas dessecantes;
»» resfriamento evaporativo;
»» “free cooling”;
»» sistemas economizadores para controle da vazão de ar externo;
»» sistemas dessecantes para tratamento dedicado do ar externo;
»» sistemas de climatização tipo ejetores;
»» sistemas de absorção com coletores solares (ar condicionado solar);
»» sistemas de climatização geotérmico.

Identifique o sistema de climatização/ventilação no seu local de trabalho e proponha


alguma ação para redução do seu consumo de energia, mantendo as condições de
conforto térmico.

Equipamentos de escritório

Os equipamentos em uma edificação podem variar desde computadores, monitores, impressoras


passando por máquinas fotocopiadoras e equipamentos para aquecimento de água. Esses
equipamentos podem representar até 20% do consumo total da edificação. Como os sistemas de
iluminação, geram energia que deve ser retirada pelo sistema de climatização, isso impacta também

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UNIDADE única │ Eficiência Energética

no consumo desse sistema (JONES, 2004). A geração de energia pelos equipamentos pode chegar a
50% do calor total a ser retirado do ambiente climatizado.

A definição da potência instalada na edificação depende fortemente do perfil de ocupação da


edificação (edifício comercial, hotel, hospital etc.). A norma brasileira NBR 16401(ABNT,2008)
bem como a norma ASHRAE 189 (ANSI/ASHRAE/USGBC/IES, 2009) oferecem valores típicos
para esse tipo de uso final, sendo que a Tab. 4. alguns destes valores para edifícios comerciais.

Tabela 4 Densidade típica carga de equipamentos em edifícios comerciais.

Tipo de Densidade Descrição do escritório


carga [W/m2]
Leve 5,4 15,5 m2 por posto de trabalho com computador e monitor em cada um, mais
impressora e fax. Faotr de diversidade de 0,67, exceto 0,33 para impressoras

Média 10,7 11,6 m2 por posto de trabalho com computador e monitor em cada um, mais
impressora e fax. Faotr de diversidade de 0,75, exceto 0,50 para impressoras

Média/Alta 16,2 9,3 m2 por posto de trabalho com computador e monitor em cada um, mais
impressora e fax. Faotr de diversidade de 0,75, exceto 0,50 para impressoras

Alta 21,5 7,7 m2 por posto de trabalho com computador e monitor em cada um, mais
impressora e fax. Faotr de diversidade de 1,0, exceto 0,50 para impressoras

Fonte: ABNT,2008.

Identifique os níveis de potência instalada de equipamentos de escritório no seu


local de trabalho e proponha alguma ação para redução do seu consumo de energia

Outros tipos de equipamentos

Na categoria de outros equipamentos podem ser incluídos todos os motores utilizados para a
movimentação do ar (ventiladores) ou água (bombas) e para movimentação de elevadores. Nesse
sentido, deve-se buscar selecionar os motores de forma adequada para atender as cargas necessárias
(JONES,2004).

Inicialmente deve-se buscar reduzir as potências dos motores por meio da otimização das suas
cargas. No caso de sistemas de ventilação ou de distribuição de água, deve-se reduzir as perdas de
pressão nos sistemas de dutos e tubulações. Além disso, deve-se incentivar o uso de motores de alta
eficiência (acima de 95%) reduzindo as perdas no sistema.

Uma outra possibilidade está relacionada com a variação da rotação dos motores por meio do uso de
variadores de frequência que permitem adequar os sistemas de ventilação e/ou de bombeamento a
variações de demanda ao longo do seu período de operação.

20
Eficiência Energética │ UNIDADE única

Outro uso final que se insere nessa categoria são os elevadores e escadas rolantes das edificação que
podem representar 5 a 15% do consumo total da edificação, dependendo do tipo da edificação e da
intensidade do uso desses equipamentos. O consumo de energia desses equipamentos é afetado por:

»» velocidade de movimentação:
»» capacidade de movimentação;
»» distância de viagem;
»» ciclo de trabalho (horas de operação, variação de carga etc.);
»» sistema de controle de velocidade;
»» perdas de energia (ineficiência do sistema de transmissão);
»» sistema de controle de tráfego.

Identifique os níveis de potência instalada de outros tipos de equipamentos no seu


local de trabalho e proponha alguma ação para redução do seu consumo de energia

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UNIDADE única │ Eficiência Energética

Capítulo 2
Uso de energias renováveis

Conceito e fontes de energia renovável


Pode-se definir energia renovável como a energia gerada de forma natural e repetitiva no meio
ambiente (JONES, 2004) a qual apresenta uma variedade de fontes, tais como:

»» eólica;
»» solar;
»» hidréletrica;
»» biocombustível;
»» mares;
»» biomassa;
»» geotermia.
No Brasil, a matriz energética está concentrada na geração hidrelétrica (TOLMASQUIM, 2007),
como pode-se observar na Fig. 9, porém verifica-se que há um aumento significativo do uso de
fontes como eólica e solar. A aplicação mais comum ainda é para o aquecimento de água para uso
residencial, seguido da geração de energia por turbinas eólicas. O uso de energia solar para geração
de energia ainda tem custos muito altos, limitando assim a sua aplicação. O uso de biocombustível
está sendo incentivado mas com aplicações restritas e ainda com baixa escala de produção e uso.

Figura 9. Evolução da estrutura de fontes de energia 1970-2030

Fonte: Tolmasquim, 2007.

22
Eficiência Energética │ UNIDADE única

Biocombustível

Define-se como biocombustível o uso de plantas criadas especificamente para geração de combustível.
Nessa categoria encontramos o etanol (cana-de-açúcar) e o biodiesel (soja) (JOHANSON, 2005).

Etanol é um álcool produzido pela fermentação de produtos agrícolas, utilizando cana-de-açúcar no


Brasil e milho nos Estados Unidos, no Brasil aproximadamente 4 milhões de carros utilizam etanol
puro para seu funcionamento.

O biodiesel é um ester produzido a partir de óleos vegetais e gordura animal que pode ser usado em
estado puro ou misturado com óleo diesel convencional. Uma alternativa para biodiesel também são
os óleos vegetais não processados que podem ser utilizados em motores a diesel. No Brasil, estão
sendo feitas algumas tentativas de introduzir o biodiesel na matriz energética com o uso de uma
mistura B20 (20% ester e 80% óleo diesel) em ônibus urbanos, na construção de planta piloto para
produção em pequena escala utilizando óleo de palma e na gordura e laboratório para avaliação da
produção e testes de um biodiesel baseado na mistura de óleo de soja e etanol de cana-de-açúcar.

Biomassa

Biomassa pode ser definida como material gerado por organismos vivos que pode ser utilizado para
a geração de energia. Atualmente a produção dos combustíveis por meio de biomassa é realizada em
biorefinarias (JOHANSSON, 2005), cujo esquema simplificado é apresentado na Fig. 10.

Figura 10. Fluxograma simplificado de uma biorefinaria

Fonte: Johansson, 2005.

Muitas pesquisas têm sido desenvolvidas para a produção de biomassa para diversos usos: cana-
-de-açúcar, eucalipto, beterraba (extração de álcool); biogás (biodegradação anaeróbica existente no
lixo e dejetos orgânicos); lenha, carvão vegetal e óleos vegetais (amendoim, soja, dendê, mamona)
(RAMOS, 2003). Estima-se que a utilização da biomassa tenha uma participação crescente na
matriz energética mundial, devendo dobrar a sua participação até o ano de 2050 (FISCHER, 2001)

23
UNIDADE única │ Eficiência Energética

Hidráulica

O uso de energia hidráulica tem como suporte o uso de quedas de água que, pela ação da gravidade,
movimentam turbinas que promovem a movimentação de geradores que produzem energia com
alta eficiência (JOHANSSON, 2005) (vide Fig. 11). Como já mencionado.

Figura 11. Fluxograma simplificado de uma hidrelétrica

Fonte: http://www.geocities.ws/saladefisica5/leituras/hidreletrica.html

Solar

O uso da energia solar pode ser direcionada para diversos equipamentos, a saber:

»» células fotovoltaicas (geração de energia);


»» coletores solares (aquecimento de água);
»» sistema de absorção solar (climatização/refrigeração).
O uso de células fotovoltaicas pode ser bastante flexível devido a sua modularidade podendo variar
de miliWatts a megaWatts (vide Fig. 12). Esta produção pode ser armazenada com uso de baterias
ou ser devolvida à rede elétrica. Nos Estados Unidos e na Europa, a possibilidade de fornecimento
de energia elétrica pelo usuário está bem estruturada e o governo oferece incentivos para a produção
própria de energia. Já no Brasil, a possibilidade de geração própria deve, por enquanto, ficar restrita

24
Eficiência Energética │ UNIDADE única

para sistemas internos e sem devolução do excedente para a rede elétrica. Já existem projetos de
lei tramitando atualmente para permitir a regulamentação da geração própria de energia elétrica.

Figura 12. Esquema simplificado de geração de energia elétrica com células fotovoltaicas.

Fonte: http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/dezembro2008/ju419_pag04.php

Os coletores solares para aquecimento de água são bastante difundidos no Brasil (vide Fig. 13) e sua
aplicação tem crescido bastante no setor residencial.

Figura 13. Esquema simplificado de sistema de aquecimento solar.

Fonte: http://www.infoescola.com/energia/aquecimento-solar/

Os coletores solares para aquecimento de água podem ser de dois tipos: placas planas (vide Fig.
14) ou de tubos a vácuo (vide Fig. 15). Os coletores de placa plana tem uma eficiência menor que
os de tubo a vácuo, onde os primeiros permitem atingir temperaturas de saída em torno de 55°C
enquanto que os segundos permitem atingir temperaturas de até 95°C.

25
UNIDADE única │ Eficiência Energética

Figura 14. Sistema de aquecimento solar com coletores planos.

Fonte: http://www.dicico.com.br/blog/?p=565

Figura 15. Sistema de aquecimento solar com coletores planos

Fonte: http://www.soletrol.com.br/especiais/lancamentos/

Além da geração de aquecimento de água, a energia solar pode ser usada para o resfriamento quando
coletores solares aquecem a água que é utilizada para aquecer uma solução de água e brometo de
lítio em um sistema de climatização de absorção (vide Fig. 16).

26
Eficiência Energética │ UNIDADE única

Figura 16. Esquema simplificado de sistema de absorção com coletor solar.

Fonte: http://www.solarpanelsplus.com/yazaki-sola r -HVAC/

A eficiência desse sistema é baixa e muito dependente das condições climáticas, sendo que a sua
aplicação é mais eficiente quando feita em regiões com alta densidade de radiação solar, como a
região nordeste e norte do Brasil (vide Fig. 17).

Figura 17. Mapa de distribuição de radiação solar no Brasil.

Fonte: http://www.electronica-pt.com/index.php/content/view/272/203/

27
UNIDADE única │ Eficiência Energética

Eólica

O uso de energia eólica têm sido usada comercialmente para geração de energia desde 1980
(JOHANSSON, 2005). A Fig. 18 apresenta a evolução da geração eólica em diversas regiões do
mundo.

Figura 18. Evolução da geração de energia eólica

Fonte: Johanson, 2005.

Os sistemas de geração eólica podem ser de dois tipos: eixo vertical (vide Fig. 19) ou horizontal (vide
Fig. 20). Os componentes principais de sistemas de geração eólica são:

Figura 19. Turbina eólica de eixo vertical.

Fonte: http://www.dforcesolar.com/pt/turbinas-eolicas/

28
Eficiência Energética │ UNIDADE única

Figura 20. Turbina eólica de eixo horizontal.

Fonte: http://tymb.blogspot.com/2011/05/energia-eolica.html

Uma curva típica de geração de energia de uma turbina eólica pode ser observada na Fig. 21. Na Fig.
21 se verifica que há uma limitação da potência da geração e portanto a seleção desse equipamento
deve levar em conta a distribuição do vento e a sua frequência na região a ser implantada esse tipo
de tecnologia.

Figura 21. Curva típica de turbina eólica de eixo horizontal.

Fonte: http://www.merkasol.com/turbinas-eolicas-eixo-vertical-4Kw-UGE-4K

Os componentes principais de uma turbina eólica podem ser observados na Fig. 22. Da mesma
maneira que na geração de energia solar, a geração de energia eólica pode ser armazenada em
baterias ou devolvida para a rede elétrica.

29
UNIDADE única │ Eficiência Energética

Figura 22. Componentes principais de uma turbina eólica

Fonte: http://www.oocities.org/shazuga/html/antecedentes-br.html

Como no caso da energia solar, a produção de energia eólica depende da localização geográfica
e como se pode observar na Fig. 23 as regiões costeiras possuem as maiores velocidades e maior
frequência de ventos, sendo os locais mais adequados para a instalação dessa tecnologia.

Figura 23. Mapa eólico brasileiro.

Fonte: http://www.passeiweb.com/saiba_mais/voce_sabia/energia_eolica

30
Eficiência Energética │ UNIDADE única

Marés

A movimentação das marés é causado pelo efeito causado pela iteração das forças gravitacionais
entre a Terra e a Lua sobre as águas de oceano. Essa movimentação promove o fluxo da água de
oceano que pode ser, em determinadas localidades, represada e assim direcionar esse fluxo de
água (JOHANSSON , 2005). Esse direcionamento da água faz com que o fluxo de água passe por
uma turbina que movimenta um gerador, fornecendo assim energia (vide Fig. 24). Como esse fluxo
de água muda de direção ao longo do dia, o projeto da turbina deve levar em consideração essa
mudança de direção do fluxo. Como no caso da turbina eólica, podemos ter turbina de eixo vertical e
horizontal, sendo que esta última apresenta valores de eficiência mais altos. Além disso, pode-se ter
diversas alternativas para posicionar as turbinas para a geração de energia, como mostra a Fig. 25.

Figura 24. Esquema simplificado de geração de energia por marés

Fonte: Johansson, 2005.

Figura 25. Opções de sistemas de geração eólica horizontal

Fonte: Johansson, 2005

31
UNIDADE única │ Eficiência Energética

Deve-se ressaltar que esse tipo de tecnologia até o momento apresenta custos mais altos e um
retorno de investimento pouco atrativo. Acrescente-se ao fato que essa geração de energia está
vinculada a regiões costeiras e com baixa eficiência de transmissão e, portanto, restrita ao uso em
locais próximos da sua geração.

Geotermia

Geotermia pode ser considerado o uso do solo, lagos ou lençóis freáticos como reservatório térmico
para resfriamento e/ou aquecimento de um fluido para controle de temperatura em edificações
residenciais ou comerciais (EGG; HOWARD, 2011). Dessa forma, pode-se dividir os sistemas de
geotermia de acordo com o tipo de reservatório térmico e se o fluido a ser resfriado resfria diretamente o
ar que insuflado na edificação (resfriamento primário) ou indiretamente (resfriamento secundário).

Deve-se observar que, para qualquer tipo de sistema geotérmico, as características do solo afetam
significativamente o seu desempenho. Dentre as principais características, pode-se ressaltar as
propriedades térmicas do solo (condutividade e difusividade térmica) e o perfil de temperatura do
solo ao longo do ano.

Os sistemas com resfriamento primário são mais comumente aplicados em residências, servindo
como um complemento das estratégias a serem utilizadas para garantir conforto térmico dos
ocupantes da residência (vide Fig. 26).

Figura 26. Esquema simplificado de sistema de resfriamento geotérmico primário.

A aplicação desse tipo de sistema limita-se a condições climáticas nas quais a temperatura externa
média ao longo do ano fique abaixo de 28°C pois acima disto, a temperatura do ar fornecida a
edificação ficaria acima dos níveis desejados para se atingir as condições de conforto térmico.

A aplicação do sistema de resfriamento geotérmico secundário é mais utilizado para o rejeito de


calor em sistemas de climatização e/ou de bombas de calor nos quais o condensador do sistema é
exposto ao reservatório térmico (solo, lago ou lençol freático).

Na utilização do solo como reservatório térmico, encontra-se dois tipos de sistemas: horizontal ou
vertical (Figura 27).

32
Eficiência Energética │ UNIDADE única

Figura 27. Sistemas de resfriamento geotérmico secundário (reservatório térmico: solo) horizontal (a) e vertical (b).

(a)

(b)

Na utilização de um lençol freático ou lago como reservatório térmico, encontra-se dois tipos de
sistemas: circuito fechado ou circuito aberto (Figura 28).

Figura 28. Sistemas de resfriamento geotérmico secundário (reservatório térmico: lençol freático ou lago)
fechado (a) e aberto (b).

(a)

33
UNIDADE única │ Eficiência Energética

(b)

Deve-se ressaltar que o uso de sistemas de geotermia ainda não se consolidou mas deve ser
considerada como uma alternativa para ser utilizado tanto para climatização de ambientes ou
mesmo para resfriamento intermediário de sistemas de climatização tradicional.

Our Choice - Al Gore - Livro que apresenta um compêndio de diversas tecnologias


voltadas a fontes de energia renovável e sustentabildiade

34
Capítulo 3
Comissionamento, operação e
manutenção

Conceitos gerais de comissionamento


Uma instalação eficiente deve checar se os objetivos definidos na fase inicial do projeto foram
atingidos, bem como se forma atingidas as necessidades do solicitante do projeto. Essa checagem,
que deve ocorrer durante as fases de projeto, instalação e operação, é denominada comissionamento
(JONES, 2004). A ASHRAE 189 (ASHRAE, 2009) define os seguintes conceitos relacionados ao
processo de comissionamento:

»» autoridade de comissionamento (CA): entidade identificada pelo proprietário da


edificação que lidera, planeja e coordena a equipe de comissionamento para a
implementação do processo de comissionamento;

»» plano de comissionamento: documento que define a organização, programação,


alocação de recursos e documentação necessária para atender os requisitos do
processo de comissionamento da edificação;

»» processo de comissionamento: processo focado em qualidade para melhorar o


processo de projeto de uma edificação. Esse processo deve verificar e documentar se
a edificação e todos os seus sistemas bem como a sua montagem foram planejadas,
projetadas, instaladas, testadas, operadas e mantidas conforme os requisitos de
projeto demandados pelo proprietário da edificação.

Neste processo, dois documentos são essenciais, a saber:

»» Requisitos do projeto do proprietário (owner´s project requirements – OPR):


documento que detalha os requisitos funcionais de um projeto e as expectativas de
como esse projeto deve ser usado e operado. Nesse documento devem ser incluídos
as metas, critérios de desempenho mensuráveis, considerações sobre custo,
referências, critérios de sucesso e informações de apoio para o projeto.

»» Base do projeto (basis of design – BOD): documento que apresenta os conceitos,


cálculos, decisões e seleção de produtos a serem usados que devem atender o OPR
bem como satisfazer todos os requisitos de normas, regulamentos e diretrizes
aplicáveis ao projeto. Esse documento deve incluir uma descrição detalhada e listas
de itens individuais para auxiliar o processo de projeto.

35
UNIDADE única │ Eficiência Energética

Desenvolvimento das ações de comissionamento:


projeto, construção e operação
No processo de comissionamento os seguintes sistemas (se incluídos no projeto da edificação)
devem ser avaliados.

»» Sistemas mecânicos: sistemas (mecânicos e/ou passivos) de aquecimento, ventilação,


climatização, qualidade do ar interior e refrigeração e controles associados.

»» Sistemas de iluminação: controle automático ou manual de iluminação, sensores de


presença e controles automáticos de desligamento.

»» Sistemas com energia renovável.


»» Sensores para medição de consumo de água.
»» Sensores para medição de consumo de energia.
Durante as diversas etapas de elaboração do projeto, as seguintes ações devem ser conduzidas
(ASHRAE,2009).

»» Definição da autoridade de comissionamento (CA) antes da finalização do anteprojeto


para liderar, revisar e checar as atividades do processo de comissionamento.

»» O proprietário e a equipe de projeto desenvolvem o OPR no anteprojeto, e o


atualizarem durante a fase de projeto executivo, sendo que todos os envolvidos no
projeto devem ter uma cópia atualizada do OPR.

»» O desenvolvimento do BOD deve ser feito pela equipe de projeto.


»» A autoridade de comissionamento (CA) deve revisar o OPR e o BOD para garantir
que não hajam metas ou requisitos conflitantes e que ambos os documentos tenham
o nível de detalhamento adequado.

»» Nos documentos elaborados devem estar contemplados os requisitos a serem


atingidos durante a fase de construção da edificação.

»» A CA deve realizar pelo menos duas revisões do OPR: a primeira com 50% do
processo de projeto completo uma segunda na entrega dos documentos para
construção.

»» Deve ser desenvolvido um plano de comissionamento que contenha todos os


formulários e procedimentos necessários para testar todos os sistemas e seus
controles.

36
Eficiência Energética │ UNIDADE única

Antes da ocupação da edificação devem ser realizadas as seguintes ações:

»» verificação da instalação e desempenho dos sistemas a serem comissionados, que


deve incluir uma lista de checagem e verificação de construção destes sistemas;

»» checagem do OPR no tocante ao treinamento da equipe de operação ter sido


completado;

»» finalização do relatório preliminar de comissionamento;


»» avaliação do manual do sistema para incluir a documentação de operação e
manutenção, informações de garantia e também fornecer a equipe de operação
da edificação as informações necessárias para operar a edificação e seus sistemas
dentro dos requisitos definidos no OPR e BOD.

Após a ocupação da edificação devem ser realizadas as seguintes ações:

»» completar as atividades de comissionamento contidas no plano de comissionamento


que só podem ser realizadas após a ocupação;

»» checar o OPR e o BOD para verificação se foram realizados o treinamento da equipe


de manutenção necessários e que não puderem ser feitos antes da ocupação;

»» finalizar o relatório de comissionamento.

Retrocomissionamento
Pode-se definir o processo de retrocomissionamento como o processo de comissionamento de
edificações existentes que consiste em uma avaliação sistemática para melhorar e/ou otimizar as
práticas de operação e manutenção de uma edificação (Oregon Office of Energy, 2001). A enfâse
desse processo pode estar ou não em trazer a edificação para as suas condições iniciais de projeto,
pois os documentos do projeto original podem não existir ou mesmo serem irrelevantes neste ponto
do ciclo de vida da edificação. As metas a serem atingidas e o nível de rigor que essas metas serão
atingidas, dependerá muito das necessidades do proprietário, o orçamento disponível e as condições
dos equipamentos.

Muitas edificações existentes operam abaixo das suas condições ótimas e o retrocomissionamento
pode ser justificado por (JONES, 2004):

»» evidências de insatisfação dos ocupantes da edificação;


»» custos de operação e/ou consumo de energia altos;
»» custos de manutenção altos;
»» mudanças no perfil de ocupação da edificação;
»» falhas frequentes dos sistemas da edificação.
37
UNIDADE única │ Eficiência Energética

As seguintes atividades devem ser contempladas no processo de retrocomissionamento:

»» Fase de pré-implementação
›› Seleção do projeto

·· Selecionar projeto.

·· Compilar informações sobre o projeto.

›› Planejamento

·· Definir escopo e metas do projeto.

·· Definir equipe.

·· Selecionar e contratar autoridade de comissionamento.

›› Análise

·· Revisar os documentos da edificação.

·· Definir o plano de comissionamento.

·· Avaliar as condições da edificação.

·· Desenvolver relatório preliminar.

·· Definir planos para testes e monitoramento dos sistemas da edificação.

·· Implementar os planos de testes e monitoramento.

·· Recomendar as oportunidades com melhor equilíbrio custo/benefício para


implementação.

»» Fase de implementação
›› Implementação

·· Implementar as recomendações.

»» Fase de pós-implementação
›› Ajustes finais

·· Testar e monitorar os sistemas para verificar se as condições desejadas foram


atingidas.

·· Atualizar a documentação da edificação, incluindo os manuais de operação e


manutenção, se aplicável.

·· Treinar a equipe de operação.

›› Finalização do projeto

·· Entregar o relatório final.

38
Eficiência Energética │ UNIDADE única

Pode-se considerar que o processo de retrocomissionamento tem uma importância muito grande
em face do grande número de edificações existentes que necessitam ações de retrofit pois ele
sistematiza as ações a serem desenvolvidas para atingir metas realistas de melhoria do desempenho
das edificações.

Comissionamento de edifícios verdes


O comissionamento de um edifício verde não difere essencialmente do comissionamento de um
edifício normal. O que se alteram são os níveis de exigência de atendimento dos requisitos definidos
no OPR e no BOD, principalmente no que se refere aos requisitos na operação e manutenção
(BAUER et al., 2010).

Para esse tipo de edificação, muitas vezes são utilizados sistemas inovadores que exigem uma
monitoração mais frequente para garantir os níveis de eficiência e atendimento de condições de
operação desejados. Sendo assim, as metas de construção desses edifícios devem ter uma grande
aderência com as especificações de produtos de alta qualidade e com as metas de consumo energético.
Dessa forma, técnicas de medição e análises com base em ferramentas de simulação devem ser
empregadas em todo o processo de projeto, construção e operação da edificação. Dentre as técnicas
de medição, pode-se citar avaliação de vedação de janelas, análise termográfica de fachadas,
checagem do conforto térmico e da qualidade do ar interior bem como dos níveis de ruído no interior
da edificação. Além disso, os sistemas de monitoramento e medição devem ser implementados para
garantir a operação dos sistemas da edificação e auxiliar na tomada de decisões em casos que hajam
alterações nas condições de operação da edificação.

Conceitos principais de medição e verificação


O uso de sistemas de medição e verificação fornece apoio para o gerenciamento da energia em
edificações e pode auxiliar na tomada de decisões para ações de melhoria da eficiência energética
da edificação (JONES, 2004). Nesse sentido, os sistemas de medição e verificação devem permitir:

»» estabelecer o perfil de consumo atual da edificação;


»» comparar o perfil de consumo atual com dados históricos e referências;
»» definir metas futuras;
»» comparar as metas de consumo com que efetivamente foi atingido;
Para a avaliação das condições de operação dos sistemas e equipamentos, o sistema de monitoramento
deve ter condições (quando aplicável) de medir as seguintes grandezas (MOSS, 2006).

»» Consumo total de energia, gás ou demais combustíveis usados na edificação e em


seus sistemas.

»» Temperatura de entrada e saída da água gelada do sistema central de climatização.

39
UNIDADE única │ Eficiência Energética

»» Temperatura de entrada e saída da água de condensação do sistema central de


climatização.

»» Pressões de entrada e saída de equipamentos de climatização e nos sistemas de


distribuição de ar.

»» Vazões de água gelada e de água de condensação.


»» Níveis de ruído e luminosidade nos ambientes ocupados.
»» Concentração de poluentes (CO 2
por exemplo) nos ambientes ocupados.

»» Consumo total de água na edificação e em seus sistemas.


Portanto equipamentos de medição devem ser instalados na edificação para atender a avaliação
dos parâmetros citados anteriormente como: medidores de vazão, temperatura, concentração
de gases, consumo de energia/gás etc. A freqüência das medições deve ser definida em função
do nível de detalhamento das análises requerido (horário, diário, semanal, mensal ou anual), e
preferencialmente, as medições devem ser realizadas simultaneamente.

Desenvolvimento de planos de medição e


operação e avaliação de desempenho
O desenvolvimento dos planos de medição e operação de uma edificação envolve (KREITH, 2008):

»» análise do histórico do perfil de consumo da edificação: utilizando levantamento de


faturas de energia elétrica, gás e demais combustíveis deve-se traçar um perfil de
consumo dos últimos doze meses da edificação;

»» realização de auditorias energéticas: deve-se desenvolver atividades de forma a


avaliar e documentar a distribuição dos usos finais de energia da edificação;

»» identificação de oportunidades para o aumento da eficiência energética: há uma


dificuldade grande nessa etapa pois muitas alternativas podem ser selecionadas
mas a escolha deve ser feita com base em comparações com edificações semelhantes
e o potencial de implementação, levando em conta a sua relação custo/benefício;

»» implementação das ações de aumento de eficiência energética: fase na qual as


mudanças selecionadas anteriormente são efetivadas;

»» monitoramento dos resultados e revisão de metas: após a implementação das


mudanças na edificação, deve ser feito um acompanhamento para a verificação das
metas atingidas e posterior verificação se os níveis previamente estabelecidos foram
atingidos. Em caso negativo, revisões das metas ou de mudanças adicionais devem
ser consideradas.

40
Eficiência Energética │ UNIDADE única

Auditoria energética
A auditoria energética é uma ferramenta que pode ser utilizada para apoiar decisões voltadas para
a avaliação do perfil de consumo energético e definição de ações para melhoria da eficiência de
edificações (KREITH, 2008; JAYAMAHA, 2006).

Durante a operação de uma edificação, alguns passos devem ser seguidos para o desenvolvimento
de uma auditoria energética.

»» Passo 1: Análise da edificação.


»» Passo 2: Levantamento das condições da edificação.
»» Passo 3: Definição de referências.
»» Passo 4: Avaliação de medidas para redução de consumo de energia.
O principal objetivo do Passo 1(Análise da edificação) é avaliar as características da edificação e
de seus sistemas bem como os seus padrões de uso de energia. Essas características podem ser
levantadas com base nas plantas relacionadas a arquitetura, sistemas mecânicos e elétricos bem
com consultas aos membros da equipe de operação da edificação. Os padrões de consumo de energia
podem ser obtidos por meio da análise das faturas de energia elétrica, gás e demais combustíveis
usados na edificação. Caso a edificação tenha sistemas de medição de energia, os perfis obtidos por
esses sistemas podem ser usados para fornecer um padrão mais detalhado do consumo de energia
da edificação. Sugere-se que as seguintes atividades sejam realizadas:

»» coletar faturas das diversas utilidades para períodos de 12 a 36 meses, dependendo


da variabilidade do perfil de consumo da edificação;

»» identificar os tipos de combustíveis utilizados (eletricidade, gás natural etc.) e


determinar a contribuição percentual de cada um deles, avaliando qual combustível
tem os maiores consumos. Caso hajam diferentes combustíveis sendo utilizados,
deverá ser realizada uma normalização energética dos combustíveis para uma
comparação adequada;

»» realizar uma análise tarifária (custos de demanda e consumo) para avaliar se a


edificação está sendo penalizada por ultrapassagens de demanda ou se a estrutura
tarifária a que está submetida é a mais adequada;

»» analisar os efeitos do clima sobre o consumo de combustíveis, visando verificar


ações que contemplem aspectos da sazonalidade da edificação.

No Passo 2 (Levantamento das condições da edificação) são determinadas as medidas potenciais


para redução de consumo de energia. Esse levantamento é realizado por meio de visitas técnicas
às dependências da edificação nas áreas ocupadas bem como nas áreas técnicas. Nesse sentido, as
tarefas envolvidas nessa etapa são:

»» identificação das necessidades e preocupações dos ocupantes da edificação;

41
UNIDADE única │ Eficiência Energética

»» checagem das condições atuais de operação e manutenção da edificação;


»» determinação das condições atuais dos principais equipamentos e sistemas da
edificação (iluminação, aquecimento, ventilação, climatização, elevadores etc.);

»» determinação do perfil de uso dos principais usos finais da edificação e sua ocupação.
Para o Passo 3 (Definição de referências), deve-se desenvolver uma edificação que servirá como
referência no tocante ao padrão de consumo de energia que será posteriormente empregada para
estimar os níveis de redução de consumo que poderão ser atingidos com as medidas a serem
selecionadas. Esta edificação de referência será concebida com base nas análises energéticas
combinadas com o uso de ferramentas de simulação. As principais atividades desenvolvidas nessa
etapa são:

»» obter e revisar as plantas de arquitetura, mecânicas, elétricas e de controle;


»» inspecionar, testar e avaliar os diversos sistemas da edificação para avaliação da sua
eficiência atual;

»» obter os perfis de ocupação e operação dos sistemas da edificação (climatização,


iluminação, elevadores etc.);

»» desenvolver modelo da edificação de referência com base nas informações levantadas


usando ferramenta de simulação;

»» calibrar o modelo da edificação de referência com base nos valores de consumo de


energia medidos ou levantados.

O Passo 4 (Avaliação de medidas para redução de consumo de energia) contempla a definição de


um conjunto de ações para redução do consumo de energia com base em avaliações técnicas e
econômicas baseadas nas reduções de consumo de energia verificadas por meio de simulações da
edificação referência com as ações de redução de consumo de energia implementadas. As atividades
a serem realizadas aqui são:

»» preparar uma lista de medidas para redução de consumo de energia com base nas
informações coletadas nos Passos 1 e 2;

»» determinar os potenciais de redução de consumo de energia decorrentes das


medidas avaliadas anteriormente utilizando o modelo da edificação referência
(desenvolvida no Passo 3) simulada com ferramenta de simulação;

»» estimar os custos iniciais para implementar cada medida;


»» avaliar a relação custo/benefício de cada medida deve ser considerada levando-
se em conta os custos iniciais de implantação das medidas em conjunto com as
reduções de custos de operação/manutenção obtidos, utilizando técnicas como
análise de retorno de investimento ou de custo de ciclo de vida.

42
Eficiência Energética │ UNIDADE única

Jones (2004) sugere que essas auditorias sejam feitas em intervalos de 3 a 5 anos, dependendo da
taxa com que a ocupação da edificação se altera ou se um ou mais de um dos seguintes aspectos
ocorrem:

»» mudanças no uso da edificação ou ocupação de novos usuários;


»» reformas ou modificações significativas na edificação;
»» racionalização de espaços , deixando várias áreas não ocupadas;
»» mudanças nos perfis de ocupação e de atividades;
»» mudanças substanciais nas tarifas ou na disponibilidade dos combustíveis;
»» significantes aumentos no consumo energético e/ou nos custos de operação.

Desenvolva uma auditoria energética em local do seu trabalho (uma sala, conjunto
de salas, andar inteiro etc.) e avalie potenciais ações para redução de consumo de
energia com respectiva análise econômica

43
Capítulo 4
Simulações de Desempenho Energético
de Edificações

Augenbroe (MALKAWI; AUGENBROE, 2004) infere que o espectro do termo simulação de


edificações é bastante amplo e varia de fluxo de massa e energia, passando por durabilidade
estrutural, envelhecimento e sítio da construção. Os primeiros desenvolvimentos de ferramentas de
simulação aconteceram nas décadas de 1960 e 1970, focando no campo do desempenho energético
da envoltória da edificação expandindo para os sistemas de iluminação, climatização, aquecimento,
ventilação e outros. Atualmente, esse escopo se ampliou para análises que avaliam transferência de
calor e massa combinados, acústica, sistemas de controle e várias combinações de simulações de
climas urbanos e microclimas.

As ferramentas de simulação tem como característica principal a tradução do comportamento de


um fenômeno (comportamento energético de edificações) por meio de equações e hipóteses que
geram o chamado modelo. Esse modelo é uma representação do fenômeno a ser analisado e, por ser
uma representação, tem associado uma incerteza entre o fenômeno real e o modelo (vide Fig. 29).

Figura 29. Representação do modelo e o fenômeno analisado

Fonte: Malkawi; Augenbroe, 2004.

Conceitos gerais de simulação energética de


edificações
Kaplan e Caner (1992) avaliam que as ferramentas de simulação têm limitações no que tange a
avaliações de valores absolutos dos resultados obtidos. Dessa forma, deve-se ressaltar que os
resultados de uma simulação para avaliação de medidas de redução de consumo de energia deve
ser feita por comparação com os resultados de simulação de edificação de referência simulada nas
mesmas condições de ocupação e de clima. Estudo realizado por Kaplan e Caner (1992) solicitou

44
Eficiência Energética │ UNIDADE única

a vários especialistas em simulação (com diferentes níveis de capacitação) que simulassem o


comportamento energético de escritórios pequenos e grandes. Nesse estudo, os especialistas não
realizaram a etapa de calibração do modelo na qual se tem acesso as faturas de energia e com isso
ajusta-se o modelo para melhor representar a edificação. A diferença entre o consumo de energia
avaliado pelos especialistas e o fornecido pelas faturas de energia variaram entre 66% a 127% para
os escritórios pequenos e entre 37% a 120% para os escritórios grandes. Dessa forma, ressalta-se o
fato que os resultados que são obtidos por ferramentas de simulação são uma estimativa que será
tão precisa quanto forem precisos os dados de entrada. Essas incertezas podem ser reduzidas até
8% a 10% se:

»» a ferramenta de simulação for escolhida em que são compatibilizadas a capacidade


da ferramenta e as análises a serem feitas;

»» o especialista que vai utilizar a ferramenta tiver grande experiência no seu uso;
»» os dados fornecidos sobre a edificação sejam os mais próximos da realidade;
»» for realizado, se possível, uma checagem dos resultados de simulação por um outro
especialista.

Deve-se ressaltar que o processo de entrada de dados em uma ferramenta de simulação exige uma
quantidade de dados imensa e o especialista da ferramenta não possui conhecimento suficiente para
a definição de todos os parâmetros. Dessa forma, essa entrada de dados é feita de forma colaborativa
onde diversos especialistas são consultados sobre os sistemas de sua competência e o especialista
traduz essas informações para realizar a entrada de dados na ferramenta de simulação (DONN,
2009).

Um outro desafio no uso de ferramentas de simulação é o equilíbrio entre o nível de detalhamento


a ser realizado na simulação e o tempo disponível para realizá-la. Dessa forma, dependendo do
estágio em que se encontra o projeto, um nível muito profundo de detalhamento não é possível e
poderia resultar em retrabalhos desnecessários.

No caso de erros grosseiros obtidos durante o processo de simulação, o especialista nesse processo
pode direcionar os seus esforços para verificar onde está o problema analisando os seguintes pontos:

»» presença erros grosseiros na entrada de dados na ferramenta de simulação;


»» diferentes dados de saídas para avaliação dos resultados alcançados ;
»» algoritmos de simulação para verificar possíveis entrada grosseira de dados;
»» melhoria do entendimento da edificação para melhorar a aderência dos dados de
entrada;

»» detalhes na entrada de dados;


»» grau de incerteza das informações relacionadas com a edificação.

45
UNIDADE única │ Eficiência Energética

Deve-se ressaltar que a tendência das ferramentas de simulação mostra-se cada vez mais no sentido
de incorporar mais a multidisciplinaridade e o trabalho em equipes em rede (Building Information
Modeling - BIM) e o uso de realidade virtual. Com isso busca-se reduzir o tempo de análise e avaliação
de alternativas com a colaboração dos diversos profissionais envolvidos no processo. Chlea et al.
(2009) apresenta metodologia baseada em técnica denominada Projeto de Experimentos (Design
of Experiments) que permite a otimização do número de parâmetros a serem variados quando do
uso de simulação para projeto de edificações eficientes. Clarke (2001) oferece uma visão semelhante
mas um pouco mais detalhada das tendências no desenvolvimento de ferramentas de simulação e
seu uso (vide Tabela 5).

Tabela 5. Tendências de ferramentas de simulação

Tema Escala do Tempo


Atual Curto prazo Longo prazo
Tecnologia »» PEAC parcial »» PEAC total »» Interface com linguagem
natural
»» Sistemas dedicados simples »» Sistemas dedicados
completos »» SIBC

Aplicações »» Avaliação de variável única »» Avaliação de múltiplas »» Aplicações para pós-


variáveis ocupação
»» Visualização tri-dimensional
»» Análise de ciclo de vida »» PEAC orientado ao cliente
»» Regulamentos

Treinamento »» Treinamento especializado »» Treinamento para graduação »» Projeto assistido por


de pós graduação computador

Pesquisa »» Sistemas RV »» Sistemas para projetistas »» Comunicação não


com pouca experiência tradicional
»» Sistemas baseados na Web
»» Otimização de projeto

Impacto »» Escassez de habilidades »» Quebra das fronteiras »» De-profissionalização


profissionais
»» Desempenho melhorado de
produtos

Adaptado de: Clarke, 2001.

Obs.: PEAC = Projeto de Edificações Auxiliado por Computador


SIBC = Sistemas Inteligentes com Base em Conhecimento
RV = Realidade Virtual

Aplicação de ferramentas de simulação


Os principais usos de ferramentas de simulação são apresentados por Hong et al. (2000), a saber:

»» cálculo de cargas de resfriamento/aquecimento de edificações: os valores de pico e


o perfil das cargas de aquecimento/resfriamento são a base para dimensionamento
e seleção de sistemas de climatização, aquecimento, ventilação e refrigeração;

»» análise de desempenho energético para projeto e retrofit: a ferramenta de simulação


pode oferecer os perfis de consumo de energia da edificação e o desempenho dos
principais sistemas em carga nominal e parcial;

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Eficiência Energética │ UNIDADE única

»» auxílio no projeto de sistemas de gerenciamento de energia e controle: sistemas de


gerenciamento de energia e controle monitoram, controlam e fornecem relatórios
sobre os diversos sistemas da edificação. Utilizando a ferramenta de simulação
pode-se avaliar quais são as estratégias mais adequadas a serem utilizadas na
edificação e quais parâmetros devem ser monitorados.

»» adequação da edificação a normas, regulamentações e códigos: a simulação pode


fornecer subsídios quanto ao impacto no desempenho da edificação quanto essa
é submetida a determinada normas e regulamentos. Além disso, a ferramenta
de simulação pode auxiliar no processo de auditoria energética, fornecendo uma
análise energética da edificação no seu estado atual (“as-bulit”);

»» análise de custos: algumas ferramentas de simulação possibilitam a análise de


custos onde a estrutura tarifária pode ser simulada, verificando-se o impacto no
custo de operação de mudanças no desempenho da edificação;

»» estudo de estratégias passivas: ferramentas de simulação permitem avaliar o


impacto no desempenho energético da edificação pelo uso de estratégias passivas
como sombreamento, iluminação natural, geotermia etc.;

»» uso de ferramentas de Dinâmica de Fluidos Computacional (Computacional Fluid


Dynamics - CFD): este tipo de ferramenta permitem estudos de microclima urbano
e no interior de edificações, ventilação de edificações, segurança em incêndios etc.

A escolha da ferramenta pode ser bastante difícil e deve levar em conta os seguintes aspectos (HONG
et al., 2000).

»» Necessidade ou propósito: o entendimento da natureza do problema que precisa ser


resolvido é muito importante. A escolha de uma ferramenta mais poderosa que o
necessário pode incorrer em custos altos e desnecessários, além de correr-se o risco
de aumentar a possibilidade de erros devido a alta complexidade da ferramenta.

»» Orçamento: a avaliação do custo da ferramenta de simulação deve incluir os


custos de aquisição da ferramenta, o custo das suas atualizações e o seu custo de
manutenção bem como os custos da plataforma onde será operada a ferramenta e
os custos de treinamento.

»» Disponibilidade de instalações: o usuário deve escolher a ferramenta de simulação


que pode ser implementada nas instalações de computação disponíveis.

47
UNIDADE única │ Eficiência Energética

Para um uso adequado da ferramenta de simulação, Clarke (2001) sugere uma metodologia cujos
passos são descritos na Tabela 6.

Tabela 6. Tendências de ferramentas de simulação

Passo Atividade
1 Estabelecer uma representação computadorizada que corresponda a edificação de referência

2 Calibrar o modelo com técnicas confiáveis

3 Definir condições de contorno adequadas

4 Realizar as simulações com ferramenta apropriada

5 Expressar o desempenho de multi-variáveis com critérios adequados

6 Identificar áreas problemáticas em função de critérios aceitáveis

7 Analisar os resultados da simulação para identificar as causas dos problemas

8 Postular alternativas para os problemas encontrados com mudanças apropriadas de projeto

9 Para cada alternativa, definir um modelo de referência para avaliar um nível de incerteza adequado

10 Repitir a partir do passo 4, até se atingir um desempenho global satisfatório

11 Repitir a partir do passo 3, para estabelecer repetibilidade para diferentes condições climáticas (onde
aplicável)

Adaptado de: Clarke, 2001.

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Para (não) finalizar

A energia, tem, muitas vezes, dominado a discussão dos principais lideres governamentais e
empresariais nos foros internacionais, mobilizando tamvéma a sociedade civil. Isso ocorre porque
a forma como se produz, transporta e consome energia passou a ter implicações determinantes na
geopolítica mundial, com implicações sobre o desenvolvimento econômico e os padrões e níveis
de consumo dos diversos países e, de forma decisiva, na questão dos impactos ambientais global,
regional e local.

Eficiência Energética e Sustentabilidade apresenta a você uma base teórica e instrumental,


oferecendo-lhe subsídios que possam concorrer para sua reflexão sobre as vantagens desses
conhecimentos, concorrendo para que encontre as melhores soluções integradas para redução
de consumo de energia, transformando simples empreendimentos em verdadeiras construções
sustentáveis, atingindo resultados operacionais e ao mesmo tempo encontrando soluções eficientes
e sustentáveis que facilitem o dia a dia das pessoas.

Esperamos ter concorrido para sua reflexão sobre as vantagens desses estudos, reforçando sua
competência, qualificando-o para se tornar um participante ativo e preparado para prestar um
serviço diferenciado, colocando em prática o que aprendeu.

Por tudo isso, lembre-se de que o assunto não termina aqui. O que foi visto nesta etapa é um
caminho apontando para fontes inesgotáveis de estudos e experimentações, para que você continue
enriquecendo seus conhecimentos. Para isso, reflita, faça relações entre dados, informações e
pareceres, desafie o senso comum, pesquise, troque ideias.

Realizando o que propomos, em pouco tempo você estará surpreendido. Verá que, além de ter
alcançado maiores conhecimentos a aprendizagem foi um acontecimento natural e que a sua
capacidade de estudos está sendo cada vez mais ampliada pelo exercício e pela satisfação em sentir
o próprio crescimento.

Caminhe sempre, rumo à descoberta. Dessa forma, seus horizontes se ampliarão e,


consequentemente, seu desempenho profissional.

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Referências

ABNT. NBR 16401 - Parâmetros de projetos de sistemas de ar condicionado - Partes 1, 2


e 3. 2008.

AFONSO, C. F. A. Recent advances in building air conditioning systems. Applied Thermal


Engineering, v. 26, pp. 1961-1971, 2006.

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Green Buildings Except Low-Rise Residential Buildings, 128 págs., 2009.

BAUER, M.; MÖSLE, P.; SCHWARZ, M. Green Building – Guidebook for Sustainable Architecture.
Springer, 209 p. 2010

BECKER, R. Fundamentals of Performance-Based Building Design. Building Simulation, Vol. 1, pp.


356–371, 2008.

CHLEA, F.; HUSAUMMDEE, A.; INARD, C. RIEDERER. A new methodology for the design of low
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CLARKE, J. A. Energy Simulation in Building Design. Butterworth-Heinemann, 2ª edição, 373 p.,


2001.

DONN, M.; CRAWLEY, D.; HAND, J.; MARSH, A. The Provenances of your Simulation Data.
Eleventh International IBPSA Conference - Building Simulation 2009, Julho, Anais em CD-ROM,
2009.

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information sources. Building and Environment, v. 35, pp. 347-361, 2000.

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scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-33002007000300003&lng=en&nrm=iso>.
Acesso: 25/10/2011.

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