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Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 9
UNIDADE I
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS E FERTILIDADE DO SOLO....................... 11
CAPÍTULO 1
CONCEITO DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS E DE FERTILIDADE DO SOLO........................... 12
CAPÍTULO 2
PROPRIEDADES FÍSICAS E QUÍMICAS DOS SOLOS.................................................................... 17
CAPÍTULO 3
PH E CORREÇÃO DO SOLO.................................................................................................... 27
UNIDADE II
MATÉRIA ORGÂNICA E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES ESSENCIAIS PARA AS PLANTAS.................................. 37
CAPÍTULO 1
MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO............................................................................................... 38
CAPÍTULO 2
CRITÉRIOS DE ESSENCIALIDADE............................................................................................... 45
CAPÍTULO 3
ABSORÇÃO, TRANSLOCAÇÃO E REDISTRIBUIÇÃO DE NUTRIENTES............................................. 49
UNIDADE III
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES
E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS....................................................................................................... 55
CAPÍTULO 1
MACRONUTRIENTES................................................................................................................. 56
CAPÍTULO 2
MICRONUTRIENTES.................................................................................................................. 68
CAPÍTULO 3
USO DE FERTILIZANTES PARA SUPRIR AS NECESSIDADES NUTRICIONAIS DAS PLANTAS................. 77
UNIDADE IV
ANÁLISE DO SOLO E DIAGNOSE FOLIAR UTILIZANDO A AGRICULTURA DE PRECISÃO.............................. 84
CAPÍTULO 1
DIAGNOSE FOLIAR E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DA ANÁLISE FOLIAR............................ 86
CAPÍTULO 2
ANÁLISE DA FERTILIDADE DO SOLO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS.................................. 94
CAPÍTULO 3
NUTRIÇÃO MINERAL E FERTILIDADE DE PLANTAS UTILIZANDO A AGRICULTURA DE PRECISÃO...... 98
REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 105
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
5
6
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
7
Saiba mais
Sintetizando
8
Introdução
Nesta apostila serão abordados alguns tópicos relevantes à nutrição mineral de plantas
e fertilidade do solo. Os capítulos que compõem essa apostila são, em grande parte,
compilações de materiais didáticos e artigos referentes às áreas da Ciência do solo e
Nutrição de plantas.
Diante disso, a agricultura de precisão (AP) vem para minimizar esses efeitos do mal
manejo da adubação e da fertilidade do solo. É uma ferramenta que vem crescendo
na nutrição de plantas e na fertilidade do solo com o intuito de auxiliar nesse controle
da aplicação de fertilizantes. O geoprocessamento (confecção de mapas de fertilidade)
e o uso de sensores mais tecnificados são cada vez mais utilizados na diagnose de
sintomas referentes à nutrição, objetivando aumentar a eficiência e a sustentabilidade
da aplicação desses fertilizantes.
Com essas ferramentas o produtor terá uma maior probabilidade de aumentar sua produção
por utilizar o mínimo de insumos para isso, alcançando, assim, menores custos por ha.
9
Objetivos
»» Sistematizar as informações disponíveis e compatibilizá-las ao enfoque
da disciplina, procurando auxiliar no processo de ensino-aprendizagem,
uma vez que planejamento e organização são fundamentais para uma
boa aprendizagem.
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INTRODUÇÃO AO
ESTUDO DE NUTRIÇÃO UNIDADE I
MINERAL DE PLANTAS E
FERTILIDADE DO SOLO
Nessa unidade falaremos um pouco sobre a fertilidade do solo e a nutrição mineral
de plantas. Elas são estudadas em todo o mundo com o intuito de determinar como
deve ser feito o manejo dos nutrientes de forma que se obtenha a maior produtividade
econômica para o sucesso da agricultura.
Estes fatores fazem com que desde a sua formação, a partir da rocha, no geral pobre
em nutrientes, em milhões de anos, os nutrientes sejam perdidos principalmente por
erosão e lixiviação, deslocando da superfície do solo para camadas mais profundas ou
sendo removidos do sistema, formando, assim, solos com baixo teor de nutrientes e
com maiores teores de caulinita e óxidos de ferro e alumínio.
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CAPÍTULO 1
Conceito de nutrição mineral de
plantas e de fertilidade do solo
Mesmo que no solo alguns dos principais nutrientes estejam presentes, a planta ainda
precisa de um complemento para crescer de forma mais saudável. Uma série de elementos
minerais são individualmente necessários à medida que o crescimento das plantas
somente ocorrerá se todos esses nutrientes estiverem adequadamente disponíveis.
O fator limitante ou deficiente para o crescimento da cultura muitas vezes pode ser a
água, a radiação solar ou até mesmo o dióxido de carbono, mas na maioria das vezes a
falta de um nutriente essencial para a planta vai fazer com que ela não consiga atingir
seu potencial máximo de produção.
Por isso é importante que a planta tenha uma adubação equilibrada que contemple
todos seus requerimentos e que permita que o produtor tenha uma boa produção e
qualidade, gerando os melhores rendimentos. Para isso é importante saber qual a
função dos nutrientes e suas interações com outros elementos minerais, bem como
a identificação dos sintomas de deficiência ou excesso destes nas plantas.
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS E FERTILIDADE DO SOLO │ UNIDADE I
Sabemos, hoje, que essa melhor condição se deve à abrupta mineralização da matéria
orgânica, levada pelo processo de combustão, deixando em formas disponíveis elementos
como o fósforo, potássio, cálcio, magnésio e micronutrientes. Entretanto, essa prática
não deve ser incentivada, pois erradica a vida do solo, por reduzir a população de fungos,
bactérias, actinomicetos, minhocas e outros.
Após a primeira queimada, a produção de uma cultura será maior pelas razões apontadas
acima, entretanto queimadas sucessivas levam o solo a ficar praticamente estéril. Para a
recuperação de um solo nessas condições, se faz necessário que este fique sob “pousio”
por largo período de tempo e que sejam fomentadas práticas conservacionistas como:
adubação orgânica corretiva e adubação verde, devolvendo a matéria orgânica que foi
extinta pela queimada.
A segunda hipótese sugeria que a água era o agente responsável pela produção, pois
após precipitações pluviométricas, os campos melhoravam. Hoje sabemos que a água
exerce papéis importantes no ambiente do solo e no metabolismo da planta, por ser o
agente solubilizador de alguns adubos, levando os nutrientes até às raízes para serem
absorvidos, além de ser responsável pela turgescência das plantas.
A terceira hipótese, a humística, foi levantada pela observação de que em solo com
maior quantidade de resíduos orgânicos aumentava a produção agrícola. Just Von
Liebig (1803-1873) “pai da nutrição mineral de plantas” estabelecia que os alimentos
de todas as plantas verdes são as substâncias inorgânicas ou minerais. Ele contribuiu
no progresso da fertilidade e fertilização do solo, com as leis do mínimo e da restituição
de elementos ao solo.
Com base em trabalhos que Liebig efetuou em fisiologia vegetal e nutrição de plantas,
e alicerçado pelos conhecimentos existentes de química inorgânica e orgânica da
época, afirmou que a planta se alimentava de elementos químicos e não de moléculas
complexas. Estava então estabelecida a teoria da nutrição mineral de plantas.
Dessa forma, segundo a teoria desse pesquisador, a planta vive de ácido carbônico,
amoníaco (ácido azótico), água, ácido fosfórico, ácido sulfúrico, ácido silícico, cal magnésia,
potassa (soda) e ferro. Definindo-se, assim, a exigência das plantas aos macronutrientes.
Além disso, Liebig contribuiu para o surgimento das indústrias de adubos. Só no século
XX é que se definiu o conceito de micronutrientes, ou seja, aqueles igualmente essenciais,
porém exigidos em menores quantidades pelas plantas.
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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS E FERTILIDADE DO SOLO
Completando a lista dos 16, temos ainda: ferro (Fe), cobre (Cu), zinco (Zn), manganês
(Mn), boro (B), molibdênio (Mo) e o cloro (Cl), que recebem o nome de micronutrientes.
Chamamos atenção que tanto os macro como os micronutrientes desempenham papéis
importantes na vida vegetal, logo nenhum elemento é mais importante que o outro
(MALAVOLTA, 2006).
Com isso, a alta produção agrícola depende fortemente da fertilização com elementos
minerais, já que a maioria dos solos brasileiros tem pouca fertilidade, como já foi
discutido anteriormente. No entanto, as plantas cultivadas, tipicamente, utilizam
menos da metade dos fertilizantes aplicados.
O restante pode ser lixiviado para os lençóis subterrâneos de água, tornar-se fixado
ao solo ou contribuir para a poluição do ar. Assim, torna-se de grande importância
aumentar a eficiência de absorção e de utilização de nutrientes, reduzindo os custos de
produção e contribuindo para evitar prejuízos ao meio ambiente.
Diante do que foi falado, resume-se que o estudo de como as plantas absorvem,
transportam, assimilam e utilizam os íons é conhecido como Nutrição Mineral.
Enfatizando que esta área do conhecimento busca o entendimento das relações iônicas
sob condições naturais de solo (salinidade, acidez, alcalinidade, presença de elementos
tóxicos, como Al3+ e metais pesados, etc), porém o seu maior interesse está ligado
diretamente à agricultura e à produtividade das culturas, sem perdas e excesso.
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS E FERTILIDADE DO SOLO │ UNIDADE I
Fertilidade do solo
Solos férteis permitiram o desenvolvimento de civilizações e a criação de riquezas
em muitas regiões do mundo. A existência da fertilidade natural para solos
produtivos não é mais uma necessidade, já que a tecnologia no uso de insumos como
corretivos e fertilizantes tornou produtivos solos antes considerados impróprios para
a produção agrícola.
A fertilidade do solo pode ser considerada como o ramo da ciência que estuda a
capacidade dos solos em suprir nutrientes de plantas. Para cada nutriente procura-se
aprofundar os conhecimentos para melhorar o entendimento das transformações, da
mobilidade e da disponibilidade de cada elemento para as plantas.
genético), manejo mais eficiente do solo, entre outros; tendem a aumentar ainda mais
a importância do manejo da fertilidade do solo na produção vegetal.
Quando a fertilidade do solo foi definida como sendo a disciplina que estuda a capacidade
dos solos em suprir nutrientes de plantas, estava implícito o fato de que “suprir” implica
em o solo ter o nutriente e, ao mesmo tempo, fornecê-lo às raízes. Em outras palavras,
o nutriente em forma capaz de ser suprido é considerado disponível às plantas. Com
isso, o termo nutriente disponível é muito usado em fertilidade do solo, mas precisa ser
melhor entendido.
A fertilidade do solo tem relação com outras disciplinas, pois esta é uma subdivisão
da ciência do solo que trata da nutrição de plantas cultivadas no sistema solo-planta.
O manejo adequado de nutrientes depende cada vez mais do apoio da física, química,
mineralogia, microbiologia do solo, fisiologia vegetal, melhoramento genético,
estatística, fitotecnia e economia. Logo, quanto maior for o conhecimento de todas
essas outras áreas, melhor será o manejo da fertilidade do solo (RAIJ, 2011).
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CAPÍTULO 2
Propriedades físicas e químicas
dos solos
Solo
Solo só se conceitua vida. É a parte superficial intemperizada não consolidada da crosta
terrestre, contendo matéria orgânica e organismos vivos. É o meio em que se desenvolvem
as plantas, que dele obtêm, através das raízes, água e nutrientes. Resumindo, solo é
um recurso natural notável com propriedades e atributos que lhe permitem sustentar
desde microrganismos até organismos superiores.
Então, é preciso buscar alternativas que sejam sustentáveis ao longo do tempo, de forma
que melhorem ou mantenham uma estrutura física capaz de exercer as suas funções
para o crescimento e ancoragem das raízes, bem como favorecer o suprimento de água,
oxigênio e os outros nutrientes (BLAINSKI et al., 2008).
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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS E FERTILIDADE DO SOLO
Se pensarmos no solo como uma casa, as partículas sólidas são os tijolos com os quais
a casa é construída. A textura do solo descreve o tamanho das partículas. As frações
minerais mais grosseiras são normalmente cobertas por argila e outros materiais
coloidais (SILVA, 2010).
Na construção de uma casa, a maneira como os tijolos estão dispostos determina a natureza
das paredes, quartos e corredores. A matéria orgânica e outras substâncias atuam como
agente cimentante entre as partículas, formando os agregados do solo. A estrutura do solo
descreve a maneira como as partículas são agregadas. Esta propriedade, portanto, define a
configuração do sistema poroso do solo.
Logo, as propriedades físicas do solo mais estudadas são: textura, cor, porosidade,
densidade e estrutura do solo. Abaixo falaremos um pouco mais sobre cada uma delas.
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS E FERTILIDADE DO SOLO │ UNIDADE I
A cor é um dos mais úteis atributos para caracterizar solos e sua determinação constitui
importante fonte de informação para a pedologia, pois identifica e auxilia na distinção
de classes de solos e na delimitação de horizontes nos perfis.
A cor é determinada no campo pela sua comparação visual com padrões existentes
em cartas de cor do Munsell Soil Color Company, em 1975. A cor do solo é função,
principalmente, da presença de óxidos de Fe e matéria orgânica, além de outros fatores,
tais como: a umidade e a distribuição do tamanho de partículas.
Fonte: http://solosfilipe.yolasite.com/dados.php.
Esta fase sólida mineral do solo, composta de partículas de areia, silte e argila estão
reunidas pela ação de agentes cimentantes, formando as unidades estruturais do solo,
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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS E FERTILIDADE DO SOLO
Logo, a textura do solo é definida pela proporção relativa das classes de tamanho de
partículas de um solo. A Sociedade Brasileira de Ciência do Solo define quatro classes de
tamanho de partículas menores do que 2 mm, usadas para a definição da classe de textura
dos solos: areia grossa (2 a 0,2 mm ou 2000 a 200 µm), areia fina (0,2 a 0,05 mm ou 200
a 50 µm), silte (0,05 a 0,002 mm ou 50 a 2 µm) e argila (menor do que 2 µm).
Porosidade do solo
Segundo Curi et al. (1993), o espaço do solo não ocupado por sólidos e ocupado pela
água e ar corresponde ao espaço poroso, definido como sendo a proporção entre o
volume de poros e o volume total de um solo. A porosidade é inversamente proporcional
à densidade do solo e de grande importância direta para o crescimento de raízes e
movimento de ar, água e solutos no solo. Este volume resulta na porosidade total do
solo, subdividida em microporos e macroporos.
A microporosidade é uma classe de tamanho de poros que, após ser saturada em água, a
retém contra a gravidade. Os macroporos, ao contrário, após serem saturados em água
não a retém, ou são esvaziados pela ação da gravidade.
Segundo Lima e Lima (1996), a funcionalidade desses poros fica evidente quando se
considera que os microporos são os responsáveis pela retenção e armazenamento
da água no solo e os macroporos responsáveis pela aeração, maior contribuição na
infiltração de água no solo, movimentação de água e penetração de raízes.
A densidade do solo (Ds) é outro importante atributo físico deste, pois fornece indicações
a respeito do estado de sua conservação, sobretudo em sua influência em propriedades
como infiltração e retenção de água no solo, desenvolvimento de raízes, trocas gasosas
e suscetibilidade deste solo aos processos erosivos, sendo muito utilizada na avaliação
da compactação dos solos (GUARIZ et al., 2009).
Essa densidade expressa a relação entre a quantidade de massa de solo seco por
unidade de volume do solo. No volume do solo é incluído o volume de sólidos e o de
poros do solo. Entretanto, havendo modificação do espaço poroso haverá alteração
da Ds.
Relacionando com as classes texturais de solos, Sá e Junior (2005) afirmam que os solos
arenosos apresentam valores de densidade naturalmente mais elevados em relação aos
solos argilosos, exemplificando uma densidade de 1,5 g cm-3, que em solo argiloso pode
significar um elevado grau de compactação, enquanto que em um solo arenoso não
significa este problema.
Os valores médios para solos arenosos variam de 1,2 a 1,9 g cm-3, enquanto solos
argilosos apresentam valores de 0,9 a 1,7 g cm-3 (RAIJ, 2011). Segundo Klein (2008), a
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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS E FERTILIDADE DO SOLO
Estrutura do solo
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS E FERTILIDADE DO SOLO │ UNIDADE I
Logo, um requisito muito importante para se manter um solo agrícola bem estruturado
é fazer o seu manejo de forma adequada. Por isso, a importância de se conhecer as
propriedades físicas do solo, pois com esse conhecimento a escolha do manejo será
mais rápida e eficaz.
Logo, as principais características químicas do solo são: capacidade de troca catiônica (CTC),
matéria orgânica (M.O.), pH e elementos minerais (micronutrientes, macronutrientes,
alumínio, silício, entre outros). Variáveis como matéria orgânica e acidez do solo (pH)
serão discutidas nos próximos capítulos, como também os elementos mineirais.
Falaremos um pouco sobre a CTC, em que ela representa a medida do poder de adsorção
e toca de cátions do solo. A CTC é a quantidade de cátions que um solo é capaz de reter
por unidade de peso (em cmolc kg solo-1). Constitui-se numa propriedade fundamental
para a caracterização do solo e avaliação de seu potencial agrícola.
Como em solos ácidos o número de cargas negativas aumenta com o aumento do pH,
a CTC potencial será maior que a CTC efetiva. Como a CTC efetiva e potencial do solo
representam, respectivamente, a quantidade de cátions que estão ou que podem ser
adsorvidos, elas podem ser estimadas. Ao conjunto dos cátions que estão ocupando a
CTC do solo, saturando-a, juntamente com as cargas negativas dos coloides denomina-
se complexo sortivo do solo.
A CTC efetiva (t) pode ser estimada somando-se as quantidades trocáveis dos cátions
Ca2+, Mg2+, K+, Na+ e Al3+, os quais são normalmente determinados nas análises químicas
do solo. Existem outros cátions trocáveis no solo, como NH4+, Mn2+, Cu2+, Zn2+, Fe2+,
entre outros, mas considera-se que os teores destes são baixos e pouco afetam o valor
da CTC. A CTC potencial do solo pode ser estimada através do “valor T”, que é a soma
dos cátions trocáveis Ca2+, Mg2+, K+, Na+, Al3+ e H+.
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS E FERTILIDADE DO SOLO │ UNIDADE I
A acidez trocável é representada pelo Al3+ mais o H+ que faz parte da CTC efetiva.
Como, em geral, a participação do H+ é pequena em relação ao Al3+, este valor é também
chamado de alumínio trocável. O alumínio é considerado como acidez porque, em
solução, por hidrólise, gera acidez, de acordo com a seguinte equação simplificada:
A soma de bases (SB) é calculada somando-se os teores de Ca2+, Mg2+, K+, Na+ e NH4+
trocáveis. Nos solos ácidos de regiões tropicais, como os do Estado de Minas Gerais, os
cátions trocáveis Na+ e NH4+ geralmente têm magnitude desprezível.
A saturação por alumínio (m) corresponde à proporção de Al3+ na CTC efetiva. O teor de
alumínio trocável tem sido usado como indicador do potencial fitotóxico do alumínio
no solo. Todavia, considerando a variação de CTC entre solos, um melhor indicador tem
sido a percentagem de saturação de alumínio. Essa variável é calculada pela expressão
a seguir:
Al��
����) � �����
��� � � Al�� )
A saturação por Bases (V) é a participação das bases na CTC a um pH 7,0. É expressa
em porcentagem.
SB
�� �����
�
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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS E FERTILIDADE DO SOLO
Chegamos a essa conclusão pelo fato de que o solo 1 apresenta um leve grau de
compactação (densidade do solo = 1,8 g cm-3), além do agravante de ter textura argilosa,
podendo apresentar problema de drenagem, além de valores elevados de argila natural,
pH e Na+, apresentando um grau de floculação baixo.
Além disso, o solo é classificado como sódico, pois tem CE (condutividade elétrica)
< 4, pH > 8,5 e PST (porcentagem de sódio trocável) > 15. Observa-se que o solo contém
55% de argila e grau de floculação de 27%, evidenciando que o sódio está atuando como
dispersante das argilas. Problema de infiltração, erosão (‘’run-off”) e plantas raquíticas
são tipos de observações de campo necessárias para comprovar toda essa avaliação.
Qual seria então o principal problema apresentado pelo solo 1 e que técnicas seriam
necessárias para sua correção? O principal problema seria o excesso de Na+; e técnicas
como adição de matéria orgânica, correção química (gesso – substituição de Na+ por
Ca2+), subsolagem/escarificação (descompactar) e lâmina de irrigação para lavar o
excesso de Na+ seriam essenciais para melhoria desse solo.
Lembrando que o gesso é mais utilizado pelo baixo custo, podendo também utilizar
enxofre, ácido sulfúrico, sulfato de ferro ou cloreto de cálcio.
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CAPÍTULO 3
pH e correção do solo
Acidez do solo
A condição desfavorável de reação do solo mais comum nos solos brasileiros é a acidez
excessiva. O solo será mais ácido quando menor for a parte da CTC ocupada por cátions
básicos (cálcio, magnésio, potássio e sódio). A acidificação do solo consiste na remoção
desses cátions do complexo de troca catiônica, substituindo-os por alumínio trocável e
hidrogênio não dissociado.
A distribuição quantitativa dos íons de hidrogênio nessas duas formas segue o mesmo
princípio dos elementos nutrientes, ou seja, há uma pequena quantidade de H+ na
solução e, quando estes são consumidos, a fase sólida os repõe, manifestando o poder
tampão do solo.
Em que o HCO3- (bicarbonato) pode reagir com H+, formando o H2CO3, em que esse
ácido vai formar CO2 + H2O novamente, transferindo a acidez do solo para atmosfera.
Os íons sulfato oriundos da mineralização da matéria orgânica também acidificam o
solo, mas as quantidades envolvidas são muito menores que as de nitrogênio.
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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS E FERTILIDADE DO SOLO
A principal forma de avaliação da acidez do solo é pelo valor de pH, que representa
a concentração (atividade) de íons hidrogênio na solução do solo e que é o logaritmo
inverso da concentração de H+ na solução (pH = log 1/[H+]). A escala de pH varia de
zero a 14, sendo o pH 7,0 a neutralidade. Esta informação apresenta efeito prático muito
importante para a avaliação da fertilidade do solo, porque está diretamente relacionada
à disponibilidade dos nutrientes às plantas.
Soluções com pH menor que 7,0 são considerados ácidas e as com pH maior são
consideradas básicas. Como é expresso em escala logarítmica, para cada variação na
unidade do pH, a concentração de íons hidrogênio varia 10 vezes e, por isso, uma
pequena diferença de pH pode ser bastante significativa (RAIJ, 2011).
Assim, a acidez dos solos é dividida em dois tipos: acidez ativa (na solução do solo) e acidez
potencial (hidrogênios adsorvidos). Por mais ácido que seja um solo, é extremamente
fácil corrigir a acidez ativa. Bastaria alguns quilos de calcário por hectare. Entretanto, à
medida que se neutralizam os íons H+ da solução, a fase sólida direta ou indiretamente
libera H+ para a solução. Os íons H+ (diretamente) e os íons AI+3 (indiretamente),
adsorvidos nos coloides da fase sólida, resultam na acidez potencial.
Quando em excesso, a acidez do solo é nociva para as plantas, pois há aumento das
quantidades de elementos tóxicos, diminuição da disponibilidade de nutrientes
(Figura 2), dentre outras consequências (MALAVOLTA, 2006).
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS E FERTILIDADE DO SOLO │ UNIDADE I
»» Efeitos diretos: efeitos dos íons H+ que são absorvidos, podendo afetar
diretamente o crescimento das raízes por fitotoxidade.
Calagem e gessagem
A calagem é uma prática agrícola utilizada para corrigir a acidez do solo. A correção
da acidez superficial e subsuperficial do solo faz-se necessária para promover maior
eficiência de absorção da água e nutrientes pelas plantas e obter melhores produtividades
das culturas. Para essa correção, o insumo mais utilizado para a camada superficial do
solo é o calcário e, para a subsuperficial, em solos com argila de baixa atividade, é o
gesso agrícola (SOUZA; LOBATO, 2004).
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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS E FERTILIDADE DO SOLO
Calagem
Embora existam inúmeros materiais, os mais econômicos e de uso técnico correto são
os: calcários calcíticos ou cálcicos, dolomíticos e magnesianos. Em virtude de conter
nas suas constituições maiores teores de óxido de magnésio (MgO) e bons conteúdos
de óxido de cálcio (CaO), os calcários magnesianos e dolomíticos são mais usados que
os calcíticos (Tabela 3).
O calcário tradicional é o produto obtido pela moagem da rocha calcária, tendo como
constituintes o carbonato de Ca (CaCO3) e o carbonato de Mg (MgCO3). A sua reação no
solo ocorre da seguinte forma:
A eficiência do corretivo deve ser alta, a qual é definida por meio do poder relativo de
neutralização total (PRNT) ou poder de neutralização efetiva (PNE), que depende de
duas características básicas:
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS E FERTILIDADE DO SOLO │ UNIDADE I
Diante desses fatores, não devemos esquecer que as recomendações de calagem, pela
análise do solo, são para a utilização de um calcário agrícola com PRNT igual a 100% e
para ser incorporado na camada arável, ou seja, de 20 cm.
Logo, quando o calcário que vai ser utilizado apresenta um PRNT de 80%, por exemplo,
devemos fazer a correção da quantidade a ser empregada. Para corrigir esta quantidade
usa-se um fator conhecido na literatura como “f” (SOUZA; LOBATO, 2004).
Esse método visa aumentar os conteúdos de cálcio e magnésio no solo, que deve ser igual
ou superior a 2,0 cmol/dm³ de solo, e insolubilizar o alumínio trocável, tornando-o
igual a 0,0 cmol/dm³ ou bem próximo desse valor.
Em que:
NC = Necessidade de calcário.
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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS E FERTILIDADE DO SOLO
2,0 = fator de correção usado para solos tidos com “poder tampão normal” .
f = 100/PRNT.
Nos solos característicos dos tabuleiros costeiros e outros, com um baixo percentual de
argila, e com predominância de areia, solos tidos com “poder tampão normal”, usa-se
a fórmula abaixo:
Caso o solo seja extremamente arenoso, o fator de correção deve ser menor conforme é
indicado abaixo:
Lembrando que solos com maior concentração de areia e menor de argila, são solos
com menor poder tampão e bastantes susceptíveis a mudanças no seu pH, com uso
exagerado de produtos ácidos ou alcalinos, logo o fator de correção da fórmula deve ser
menor. Quando a concentração de argila aumenta, o pH do solo fica mais estável (solos
com poder tampão normal) (RAIJ, 2011).
Em relação à resistência que o solo oferece às mudanças de pH, que está intimamente
ligada ao teor de matéria orgânica e à textura do solo (poder tampão), temos como
exemplo dois solos:
Solo 1: Solo 2:
- pH 4,3 - pH 4,3
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS E FERTILIDADE DO SOLO │ UNIDADE I
NC (t ha-1) = cmol/dm³ Al3+ x 2,0 x f (2,0 = poder tampão médio – texturas mais arenosas).
NC (t ha-1) = cmol/dm³ Al3+ x 1,5 x f (1,5 = poder tampão baixo - textura média).
NC (t ha-1) = cmol/dm³ Al3+ x 3,0 x f (3,0 = poder tampão alto – texturas mais argilosas).
Para uma boa aplicação de calcário deve ser levada em consideração a dose e a
uniformidade de aplicação. A aplicação deve ser feita de dois a três meses antes do plantio
ou da primeira adubação em culturas perenes, pois trata-se de um material insolúvel em
água, necessitando consequentemente de maior permanência no solo e que esse fique em
pousio por algum tempo. No caso de uso de calcários mais reativos, a antecedência pode
ser reduzida para cerca de 15 a 20 dias (RAIJ, 2011).
O modo de aplicação deve ser a lanço, ou seja, cobrindo todo o solo, para maior contato
(maior uniformidade) entre as partículas do calcário e o solo, pois sendo insolúvel
em água a sua solubilização só ocorrerá através de contato de partículas (Figura 3).
Essa aplicação também pode ser feita utilizando o GPS agrícola em taxa variável, técnica
essa incluída na agricultura de precisão, em que será discutida ao longo da apostila.
Figura 3. Aplicação de calcário via mecanizada e equipamentos utilizados na agricultura de precisão, como o
GPS agrícola.
33
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS E FERTILIDADE DO SOLO
Logo, em suma, a calagem melhora a estrutura do solo pelo efeito cimentante das
partículas levado pelo íon cálcio, deixando o solo mais floculado, o que melhora a saída
de CO2 e CH4, entrada de O2 e a drenagem da água (incremento no tamanho da raiz)
(Figura 4).
Figura 4. Aplicação de uma colher de sopa com calcário agrícola em um vaso com plantas de feijão.
Fonte: http://www.sindical.com.br/espaco-do-agricultor/beneficios-do-calcario.
Gessagem
O gesso é um sal levemente solúvel em solução aquosa (2,5 g L-1), podendo atuar
significativamente sobre a força iônica da solução do solo, de maneira que haja contínua
liberação do sal para a solução por longos períodos de tempo. Essa característica
permite que o gesso seja utilizado para diferentes finalidades na agricultura, entre as
quais se destacam:
»» Fonte de Ca e S.
34
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS E FERTILIDADE DO SOLO │ UNIDADE I
Em solos com baixa CTC, muito arenosos, o uso de uma quantidade maior de 500kg
ha-1 de gesso leva a grandes perdas de cálcio por lixiviação (SOUSA; LOBATO;
REIN, 1995).
Figura 5. Uniformidade do sistema radicular com a aplicação de gesso: solo sem aplicar o gesso (A), solo com
aplicação do gesso – 3t/ha (B).
Fonte: file:///C:/Users/Laise/Downloads/Resposta-a-gesso-pela-cultura-do-algodao-cultivado-em-sistema-de-plantio-direto-em-
um-latossolo-de-Cerrado.pdf.
35
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS E FERTILIDADE DO SOLO
Para elevar o teor de cálcio trocável no solo em 1,0 cmolc/dm3, Malavolta (1991) propõe
que são necessárias 2,5 t de gesso ha-1 e que a necessidade de gessagem, com base na
análise da camada de 20 a 40 cm, pode ser dada por:
Entretanto, para reduzir perdas por escorrimento superficial da água e para acelerar
a descida do gesso, é recomendada também a incorporação com gradagem e aração.
Portanto, tanto para distribuição quanto para incorporação, as máquinas utilizadas na
gessagem são basicamente as mesmas utilizadas na calagem.
36
MATÉRIA ORGÂNICA
E ABSORÇÃO DE UNIDADE II
NUTRIENTES ESSENCIAIS
PARA AS PLANTAS
Nessa unidade falaremos um pouco sobre um dos parâmetros mais importantes
na melhoria do solo e no crescimento da planta, que é a matéria orgânica. É um
atributo importante principalmente do ponto de vista qualitativo, pois permite prever
características que auxiliam no manejo físico e químico do solo, como: maior ou menor
possibilidade de erodibilidade, permeabilidade, aeração, capacidade de troca de cátions,
poder tampão e disponibilidade de nutrientes.
37
CAPÍTULO 1
Matéria orgânica do solo
Fonte: autor.
Os fornecedores de matéria orgânica podem ser: plantas, resíduos vegetais (MO fresca)
em diferentes estágios de decomposição/resíduos de animais, biomassa microbiana e
de outros animais, resíduos sólidos (lodo de esgoto) e lixo urbano.
Ela não é constante em todo o processo de desenvolvimento das culturas, mas varia
com a idade das plantas. Matéria orgânica com baixa relação C/N decompõe-se mais
rápido e libera maior quantidade de nutrientes para o solo. Logo, restos vegetais que
apresentam alta relação C/N são de decomposição lenta.
39
UNIDADE II │ MATÉRIA ORGÂNICA E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES ESSENCIAIS PARA AS PLANTAS
Como já foi dito anteriormente, os solos do Brasil são pobres em matéria orgânica, os
principais fatores que ocasionam essa diminuição ou perda da MO são:
»» Textura do solo: os solos com textura fina contêm mais MO. Eles têm
uma melhor retenção de água e de nutrientes e fornece condições ideais
para o desenvolvimento das plantas. Lembrando que os solos do Brasil
são mais arenosos, dificultando essa retenção de água.
Adubação orgânica
“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” já disse Lavoisier. O adubo
orgânico é constituído de resíduos de origem animal e vegetal que se decompõem,
virando húmus. O adubo orgânico, como falado anteriormente, pode ser de origem
vegetal e animal, mas também pode ser advindo de resíduos da agroindústria, de
biodigestores e urbanos, entre outros.
40
MATÉRIA ORGÂNICA E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES ESSENCIAIS PARA AS PLANTAS │ UNIDADE II
Fonte: http://www.agrolink.com.br/fertilizantes/FertilizantesOrganicos.aspx.
Já como resíduos urbanos podemos citar o lodo do esgoto e o lixo urbano. O lodo de
esgoto é um material sólido orgânico, ou inorgânico, removido das águas residuais
41
UNIDADE II │ MATÉRIA ORGÂNICA E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES ESSENCIAIS PARA AS PLANTAS
Com uma produção de aproximadamente 1.200 refeições por dia, o RU utiliza cerca
de 400 Kg de alimentos (carne, arroz, feijão e verduras). Todo o lixo é dividido, entre
orgânico e reciclável, e tudo possui um fim específico, em que o lixo sujo (comida que
sobra das bandejas) é separado em baldes e coletado pela Prefeitura do Campus, que o
deixa nas proximidades da horta, espaço improvisado para o projeto (Figura 8).
Figura 8. Processo de produção de adubo orgânico: 1 - Restos vegetais oriundos do Restaurante universitário,
2 - Formação de pilhas ou leiras, com sobreposição dos resíduos orgânicos, 3 - Adubo em decomposição com
adição de minhocas e 4 - Adubo orgânico pronto para uso.
42
MATÉRIA ORGÂNICA E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES ESSENCIAIS PARA AS PLANTAS │ UNIDADE II
Fonte: http://empresaflorestaljr.blogspot.com.br/2014/11/adubo-organico.html.
O composto foi feito a partir da formação de pilhas ou leiras, com sobreposição dos
resíduos orgânicos. A montagem da leira é realizada com a alternância dos diferentes
tipos de resíduos em camadas, sempre acompanhados por restos de capim. Em seguida,
adiciona-se uma camada de serragem e depois outra com restos de comida novamente e
assim sucessivamente. O uso de esterco de qualquer animal também pode ser utilizado,
pois funciona como inóculo de microrganismos, para acelerar o processo.
Todo esse processo pode ser chamado de compostagem (conjunto de técnicas utilizadas
para controlar a decomposição de materiais orgânicos). Ela tem como finalidade obter,
no menor tempo possível, um material estável, rico em húmus e nutrientes minerais; com
atributos físicos, químicos e biológicos superiores (sob o aspecto agronômico) àqueles
encontrados na matéria-prima original. Lembrando que a temperatura e a umidade do
material devem ser monitorados em todo o processo de formação do composto.
Vários materiais podem ser utilizados na compostagem, como já foi visto no projeto
acima, podendo citar (MALAVOLTA, GOMES; ALCARDE, 2002):
43
UNIDADE II │ MATÉRIA ORGÂNICA E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES ESSENCIAIS PARA AS PLANTAS
Fonte: http://flores.culturamix.com/dicas/adubacao-verde-como-fazer.
O nome adubação verde vem pelo fato de o processo consistir em cultivar espécies
vegetais, fazendo uma rotação entre as culturas cultivadas, de forma que as propriedades
biológicas, físicas e químicas do solo, tenham o seu potencial aumentado e melhorado.
As leguminosas são consideradas ótimas para adubação verde por serem ricas em
nitrogênio, possuírem raízes ramificadas e profundas e por ser uma família numerosa e
encontrada em grandes diversidades de clima e solo.
Lei do Mínimo
A Lei do Mínimo é umas das leis mais conhecidas no estudo de nutrição mineral de
plantas e fertilidade do solo. Ela foi formulada por Liebig e enunciada em 1843. Segundo
essa lei, o crescimento da planta é limitado por aquele nutriente que ocorre em menores
proporções, sendo este o único a limitar a produção. Logo, ela relaciona o crescimento
vegetal com a quantidade do elemento existente no solo (RAIJ, 2011).
Apesar de não ser considerada uma lei propriamente dita, essa proposição simples deste
químico alemão é de importância universal no manejo da fertilidade do solo, visando
uma recomendação equilibrada de fertilizantes.
No entanto, a lei do mínimo tem, na realidade, uma aplicação limitada. No caso em que
vários nutrientes são deficientes, a adição de qualquer um deles leva a um aumento na
produção. Além disso, o comportamento dos nutrientes de pouca mobilidade difere
daquele apresentado pelos nutrientes móveis no solo.
Sua aplicabilidade é complexa, porque em condições normais de campo muitas vezes são
vários os nutrientes ou fatores que limitam a produção, além da ação de suas interações
(falta de água, luz, nutrientes, altas temperaturas, entres outros). Esta lei estabelece
uma proporcionalidade direta entre a quantidade do fator limitante da produção, um
nutriente, e a colheita.
Como exemplo podemos citar que uma adubação com N e K não traria aumento algum
na colheita se o elemento mais limitante no solo fosse o P. Somente após aplicação do
P é que haveria possibilidade de resposta ao N ou a K. Frequentemente, há interesse
em estudar mais de um nutriente em conjunto, principalmente quando o efeito de um
influencia o outro, obtendo assim a “superfície de resposta”.
Essa lei tem sido ilustrada, tradicionalmente, por um barril, tendo algumas tábuas com
diferentes alturas, sendo a tábua com a menor altura a que representa o elemento mais
limitante (Figura 10).
O aumento dessa tábua permitirá aumentar o nível de líquido no barril até o limite de
outra tábua, agora a de menor altura. Ao se verificar as limitações do aspecto quantitativo
da lei do mínimo (resposta linear à aplicação de um nutriente) na representação de
45
UNIDADE II │ MATÉRIA ORGÂNICA E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES ESSENCIAIS PARA AS PLANTAS
uma função de resposta biológica, sua utilização atual tem sido por meio de constatação
apenas qualitativa.
Fonte: http://www.aducat.com.br/home/?Secao=NoticiasVer&id=MTA2.
Essencialidade de um nutriente
Diversos elementos químicos são indispensáveis para as plantas, logo, sem eles estas
não conseguem completar seu ciclo de vida. Esse é um dos critérios lembrados por
Epstein e Bloom (2006) para caracterizar se um elemento é essencial.
46
MATÉRIA ORGÂNICA E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES ESSENCIAIS PARA AS PLANTAS │ UNIDADE II
Logo, os nutrientes são importantes para a vida da planta por desempenhar funções
importantes no metabolismo dela, seja como substrato (composto orgânico) ou em
sistemas enzimáticos. De forma geral, tais funções podem ser classificadas como:
47
UNIDADE II │ MATÉRIA ORGÂNICA E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES ESSENCIAIS PARA AS PLANTAS
Logo, quando um dado nutriente desempenha tais funções na planta são afetados
diversos processos fisiológicos importantes (fotossíntese, respiração e etc) que têm
influência no crescimento e na produção das culturas.
48
CAPÍTULO 3
Absorção, translocação e redistribuição
de nutrientes
As raízes das plantas podem crescer continuamente ao longo do ano, mas esse aumento
depende da disponibilidade de água e nutrientes no microambiente que as circundam,
a chamada rizosfera. Se a mesma é pobre em nutrientes ou muito seca, o crescimento
das raízes é lento.
Lembrando que para que os nutrientes sejam absorvidos, eles têm que estar na solução
do solo e na forma iônica em que eles são absorvidos. Logo, para que ocorra a absorção,
é necessário o contato íon-raiz.
Mas sabe-se que a absorção de íons é mais pronunciada em raízes jovens. Nestas raízes,
tem sido observado, em geral, uma queda na taxa de absorção de íons à medida que se
distancia do ápice radicular. No entanto, esta tendência varia bastante, dependendo de
fatores como tipo de íon (nutriente), estado nutricional e espécie vegetal estudada.
49
UNIDADE II │ MATÉRIA ORGÂNICA E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES ESSENCIAIS PARA AS PLANTAS
Com isso, a absorção pelas raízes pode ocorrer por três processos: interceptação
radicular, fluxo de massa e difusão (BARBER; OLSON, 1968). Quando a planta cresce
e se desenvolve, o sistema radicular encontra os nutrientes que podem ser absorvidos
pelo processo de interceptação radicular (raízes crescem e interceptam os nutrientes).
A água do solo é absorvida para atender às necessidades das plantas e, durante este
processo, os nutrientes que estão na solução são absorvidos pelo processo de fluxo de
massa (movimento do nutriente junto com a solução do solo, causado pela transpiração).
50
MATÉRIA ORGÂNICA E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES ESSENCIAIS PARA AS PLANTAS │ UNIDADE II
Logo, a absorção de K+ (forma absorvida pela planta) pode ocorrer pela troca do H+ por
K+, embora a quantidade de K+ que entra na célula seja bem superior à quantidade de
H+ liberado ao meio ou pode ser por um processo passivo de difusão facilitada, através
de canais seletivos até o citoplasma (FOX; GUERINOT, 1998).
Segundo Malavolta (2006), com relação ao SO42- (forma absorvida pelo enxofre pelas
plantas), as evidências são de que este é absorvido ativamente pelas raízes, contra
um gradiente de concentração. No processo de absorção, o enxofre é pouco afetado
pelas variações no valor do pH; entretanto existem indicações que demonstram maior
absorção em pH próximo de 6,5.
Antes que ocorra a absorção propriamente dita do fósforo, é preciso ocorrer o contato
deste nutriente com a raiz, como já foi dito anteriormente. Especificamente para
o fósforo, pois este movimento do nutriente no solo é governado pelo fenômeno da
difusão, responsável por mais de 94% do contato P-raiz (MALAVOLTA, 1996).
Da mesma forma, entram pela epiderme o material seco ou úmido da poluição aérea
depositado na folha, substâncias de uso agronômico borrifadas para uma adubação
especial (adubação foliar com micronutrientes, principalmente com o Fe para o
tratamento da clorose condicionada pela indisponibilidade deste elemento no solo) ou
ainda substâncias utilizadas para proteção da planta (pesticidas).
51
UNIDADE II │ MATÉRIA ORGÂNICA E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES ESSENCIAIS PARA AS PLANTAS
Após o íon ter entrado no cilindro central através do simplasto, ele continua a se difundir
de célula para célula. Finalmente, o íon retorna para o apoplasto (cilindro central) e
difunde-se para dentro do xilema. Novamente, as estrias de Caspary evitam que o íon
retorne para o apoplasto do córtex (espaço livre aparente).
Assim, a planta pode manter uma maior concentração iônica no xilema do que no meio
em que a raiz está crescendo (solução do solo). Os nutrientes minerais, uma vez no
xilema, são carreados para a parte aérea por meio da corrente transpiratória. A etapa
limitante para a taxa de translocação dos nutrientes é a absorção e o transporte iônico
via simplástica na raiz (LARCHER, 2006).
Mesmo se a velocidade do fluxo transpiracional for pequena, ainda será suficiente para
mover os nutrientes absorvidos pela raiz para a parte aérea da planta. O floema, como
o outro sistema de transporte à longa distância, é tão importante quanto o xilema na
distribuição de nutrientes.
52
MATÉRIA ORGÂNICA E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES ESSENCIAIS PARA AS PLANTAS │ UNIDADE II
O nitrogênio, por exemplo, é absorvido pelas raízes e transportado para a parte aérea
da planta através dos vasos do xilema, via corrente transpiratória. O NO3- pode ser
transportado como tal para a parte aérea, mas isto depende do potencial de redução do
nitrato das raízes, logo o nitrato e aminoácidos são as principais formas de transporte
de N no xilema de plantas superiores (LARCHER, 2006).
Nas plantas fixadoras de N2, que falarei um pouco mais na próxima unidade, o
transporte do N fixado é feito em compostos como a glutamina, ureídeos e asparagina.
O N é facilmente redistribuído nas plantas via floema, na forma de aminoácidos.
O cálcio, macronutriente secundário, é um nutriente não móvel nas plantas, não sendo
transportado pelo floema. Um aspecto importante a ser mencionado é que as raízes das
plantas necessitam de cálcio no próprio ambiente de absorção de água e nutrientes para
sua sobrevivência, pois as plantas não transcolam o elemento pelo floema até as raízes
(RAIJ, 2011).
Na parte aérea, alguns nutrientes minerais podem ser redistribuídos pelo floema,
particularmente os que são móveis (que não é o caso do cálcio), em que são transportados
ativamente dos vasos condutores para as células parenquimáticas e a eles associadas.
Ainda segundo Raij (2011), a redistribuição interna do potássio é alta, dirigindo-se das
folhas velhas para as mais novas. Normalmente, o destino é para os tecidos meristmáticos
ou para o fruto que está crescendo.
53
UNIDADE II │ MATÉRIA ORGÂNICA E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES ESSENCIAIS PARA AS PLANTAS
Em suma, os nutrientes absorvidos vão ser transportados para a parte aérea da planta
para participar dos processos fisiológicos e bioquímicos, formando compostos e atuando
como ativadores enzimáticos, em que cada nutriente vai exercer o seu papel na planta.
54
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS,
FATORES QUE AFETAM A
DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO UNIDADE III
DOS MACRONUTRIENTES E
MICRONUTRIENTES
NAS PLANTAS
O estudo das exigências nutricionais (macronutrientes e micronutrientes) tem um
papel fundamental na produção das cultutas. Essas exigências estudadas por meio
de pesquisas em campo e em ambiente protegido. A hidroponia, feita em ambiente
protegido, é uma técnica muito utilizada nessa área por cultivar plantas em vasos e em
soluções nutritivas (sem solo), propiciando um ambiente de maior controle abiótico e
biótico para a planta.
Esses experimentos com soluções nutritivas (água e nutrientes) são feitos com o intuito
de aprender um pouco mais sobre o comportamento das plantas sem aquele nutriente
essencial, ou com excesso dele na planta. Como, também, estudar a influência da falta
ou do excesso de dois ou mais nutrientes no crescimento e desenvolvimento da planta,
já que o ambiente é mais controlado que o de campo.
Diante disso, falaremos um pouco sobre esses elementos e fertilizantes que têm um
grande impacto na nutrição e fertilidade mineral das plantas no Brasil e no mundo.
55
CAPÍTULO 1
Macronutrientes
Nitrogênio (N)
É o elemento essencial mais exigido pelas plantas e é constituinte de muitos compostos
da cultura, incluindo todas as proteínas (formadas de aminoácidos) e ácidos nucléicos,
em que os tecidos vegetais apresentam, de maneira geral, teores de N que variam de 2
a 5% da matéria seca (TAIZ; ZEIGER, 2013).
Este processo é denominado amonificação e o nitrogênio pode ser fornecido sob a forma
amônia (NH3+). Em geral, a amônia produzida por amonificação é dissolvida na água do
solo, onde se combina com prótons para formar o íon amônio (NH4+).
Logo, várias espécies de bactérias comumente encontradas nos solos são capazes de
oxidar a amônia ou amônio. A oxidação do amoníaco, conhecida como nitrificação, é
um processo que produz energia e a energia liberada é utilizada por estas bactérias para
reduzir o dióxido de carbono (TAIZ; ZEIGER, 2013).
O nitrato (NO3-) é a forma sob a qual quase todo o nitrogênio se move do solo para o
interior das raízes. Uma vez que o nitrato se encontra no interior da célula, é novamente
reduzido à amônia (RAIJ, 2011).
56
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS │ UNIDADE III
Logo, as formas absorvidas de N pelas plantas são: NH4+ e NO3-. Ambas as formas
minerais são rapidamente absorvidas pelas raízes das plantas. A preferência da planta
é pela forma nítrica. A “adsorção de amônia” ocorre rapidamente quando se aplica
amônia anidra (NH3+), ou quando a ureia é hidrolisada (MALAVOLTA, 2006).
A fixação de nitrogênio pelas plantas pode ser feita por fixação industrial, biológica
e atmosférica. A fixação industrial trata-se da produção dos adubos nitrogenados
industrialmente, a partir da quebra da molécula do nitrogênio (N2) e produção da
amônia (NH3), produto-chave para a obtenção dos adubos nitrogenados (ureia, sulfato
de amônio, entre outros) (RAIJ, 2011).
57
UNIDADE III │ EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS
Sabe-se que a clorofila é composta de carbono (C), hidrogênio (H), oxigênio (O),
nitrogênio (N) e magnésio (Mg); destes, somente o nitrogênio e o magnésio são oriundos
do solo (LARCHER, 2006).
Por isso que plantas deficientes em N apresentam as folhas com uma coloração
verde-pálida ou amarelada devida à falta de clorofila, sendo o primeiro sintoma de
uma inadequada nutrição da planta em nitrogênio. Em contrapartida, uma planta bem
nutrida de N acarreta em um incremento da fotossíntese.
Com isso, os sintomas de excesso de N nas plantas são: coloração verde-escura, folhagem
abundante, acamamento, atraso na maturação, sistema radicular pouco desenvolvido,
baixo transporte de açúcares para raízes e tubérculos, e aumento da suculência dos
tecidos (TAIZ; ZEIGER, 2013).
58
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS │ UNIDADE III
Fósforo (P)
Os solos tropicais apresentam, normalmente, baixa concentração de fósforo disponível
e alto potencial de “fixação” do P aplicado via fertilizantes. Este contexto coloca o
fósforo, junto com nitrogênio, como um dos nutrientes que mais limita a produção das
culturas no Brasil.
59
UNIDADE III │ EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS
Neste sentido, é difícil imaginar em qual fenômeno biológico o fósforo não esteja atuando
de forma direta ou indireta. O acúmulo de amido e açúcares nas folhas das plantas
deficientes em fósforo pode ser, indiretamente, o resultado de uma exportação menor,
devido às limitações no ATP para o transporte de próton-açúcares, no carregamento,
através do floema, e uma menor demanda nos locais de acúmulo (RAO et al., 1990).
60
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS │ UNIDADE III
Segundo Raij (2011), os sintomas de deficiência de fósforo, de modo geral, podem ser
assim resumidos: desenvolvimento reduzido; coloração verde mais escura de folhas
velhas; coloração roxa em algumas espécies (lembrando que estresse hídrico e danos nas
raízes também pode provocar a coloração roxa); ângulo estreito de inserção de folhas;
baixo florescimento; número reduzido de frutos e sementes e atraso na maturidade.
Potássio (K)
O potássio está presente na planta como cátion monovalente (K+) e executa importante
papel na regulação do potencial osmótico de células de plantas. É também requerido
para a ativação de muitas enzimas da respiração e da fotossíntese. O primeiro sintoma
de deficiência de K é a clorose marginal, a qual se desenvolve como necrose a partir do
ápice, inicialmente nas folhas maduras mais velhas (RAIJ, 2011).
61
UNIDADE III │ EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS
estrutural dos minerais, tem-se o K-fixado ou não trocável e o K-fertilizantes que supre
o compartimento K-trocável, e, por fim, o K-solução que por sua vez permite a sua
absorção pela planta (MALAVOLTA, 2006).
Assim, o potássio além de ser um potente ativador enzimático, exerce uma função física
fundamental à fisiologia das plantas, que seria na abertura e fechamento dos estômatos.
Logo, o K é o principal nutriente que afeta o potencial osmótico na planta, influenciando
desde a expansão celular, transporte de íons, pois gera potencial osmótico alto na raiz,
até na abertura e fechamento estomático.
62
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS │ UNIDADE III
As plantas com a cutícula túrgida oferecem maior resistência física a danos mecânicos
ou aos microrganismos. Assim, a baixa perda de água pelas plantas bem-supridas em
potássio é devido à redução na taxa de transpiração, a qual não depende somente do
potencial osmótico das células, mas também é controlada pela abertura e fechamento
dos estômatos.
63
UNIDADE III │ EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS
Macronutrientes secundários
O enxofre é um não metal e sua forma de ânion mais absorvida pelas plantas é a
SO42-. A fonte primária do enxofre são as rochas ígneas, nas quais o elemento ocorre,
normalmente, em pequenas proporções como sulfetos. No solo, a maior parte do
enxofre encontra-se na forma orgânica, combinado com carbono e nitrogênio, em que
a concentração de enxofre nos solos varia de 0,1% em solos minerais até 1% em solos
orgânicos (RAIJ, 2011).
Segundo Raij (2011), em condições aeróbicas, a forma que ocorre é o sulfato, já nas
condições anaeróbicas, de solos encharcados, ocorrem sulfetos. Sulfatos de cálcio,
magnésio, potássio e sódio podem ser importantes em solos áridos. Em solos ricos em
óxidos de ferro e alumínio, é comum haver adsorção de sulfato no subsolo.
Em solos que sofrem adições de sulfato, seja pelo processo da mineralização seja da
adubação (superfosfato simples, sulfato de amônio) e gessagem (sulfato de cálcio), o
mesmo por apresentar alta mobilidade no solo, pode sofrer também perdas consideráveis
pelo fenômeno da lixiviação.
64
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS │ UNIDADE III
Os teores em plantas totais são de 2g Kg-1 até 5g Kg-1 de matéria seca. O enxofre é
constituinte de compostos de planta (acetil-CoA, glutationa, etc) e, como o N, é
constituinte das proteínas (o S é encontrado nos 77 aminoácidos cisteína e metionina).
Logo, muitos sintomas de deficiência do S estão associados com a interrupção da síntese
de proteínas (TAIZ; ZEIGER, 2013).
Assim, muitos dos sintomas são semelhantes aos apresentados pela deficiência de N,
incluindo clorose, redução no crescimento e acúmulo de antocianina. A diferença é que
o S não é translocado das folhas velhas para as novas.
A clorose, no entanto, aparece primeiro nas folhas mais jovens, o que é consequência da
baixa mobilidade do S na planta. Todavia, em algumas plantas a clorose ocorre ao mesmo
tempo em todas as folhas ou pode até iniciar nas folhas mais velhas (MALAVOLTA, 2006).
Segundo Rai (2011), as plantas, no geral, são relativamente tolerantes a altos níveis de
SO42- na solução do solo. Em solos com alta concentração de sulfato (50mM), podem
ocorrer problemas, mas que se confundem com efeitos de salinidade, como pequeno
desenvolvimento da planta e intensa coloração verde-escura das folhas. Além disso,
pode ocorrer senescência prematura de folhas.
Cálcio e magnésio são elementos que, em solos e em minerais, ocorrem nas formas
catiônicas: Ca2+ e Mg2+. O cálcio tem sua origem nas rochas ígneas, sendo encontrado em
maiores proporções em minerais como dolomita, calcita, apatita, feldspatos cálcicos e
anfibólios, que ocorrem em rochas sedimentares e metamórficas (PREVEDELLO, 1996).
65
UNIDADE III │ EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS
40 g Kg-1 de matéria seca de Ca foliar para plantas normais. Os íons Ca2+ são usados na
síntese de novas paredes celulares, particularmente na formação da lamela média que
separa novas células após a divisão (MALAVOLTA, 1996).
Outros sintomas de deficiência são: cor esbranquiçada nas margens de folhas; formas
irregulares de folhas, com dilaceramento das margens; manchas necróticas internervais
nas folhas; morte de brotações a partir das pontas, podendo provocar perfilhamento
das plantas; baixa frutificação; baixa produção de sementes e colapso do pecíolo.
Em excesso, o cálcio é altamente tolerado pelas plantas, podendo atingir nas folhas velhas
cerca de 10% de Ca, sem sintomas de toxicidade. O excesso de Ca pode, eventualmente,
induzir deficiência de magnésio ou de potássio, especialmente se a concentração destes
estiver de média a baixa no solo (TAIZ; ZEIGER, 2013).
O cálcio trocável é mais retido no solo do que o magnésio trocável, por ser um íon
hidratado de menor diâmetro. Dessa maneira, em solos bem drenados que não
receberam calagem, os teores de Ca devem naturalmente superar os de Mg. Em alguns
casos, em solos rasos ou em horizontes profundos, o Mg supera o Ca, mesmo em climas
úmidos (MALAVOLTA, 1996).
Nas células das plantas, o Mg2+ tem papel específico na ativação de enzimas da respiração,
da fotossíntese e da síntese de ácidos nucleicos. Ele é também parte da estrutura da
molécula de clorofila.
66
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS │ UNIDADE III
Salienta-se que a clorose inicia com manchas que depois se juntam e espalham para
as pontas e margens das folhas. O acúmulo de carboidratos não estruturais (amido,
açúcares) também é uma característica de planta deficiente de Mg2+. Tem-se menor
translocação de carboidratos da parte aérea para a raiz, reduzindo o crescimento das
raízes (TAIZ; ZEIGER, 2013).
67
CAPÍTULO 2
Micronutrientes
Boro
A matéria orgânica do solo é a principal fonte de B para as plantas. Assim, solos com
baixo teor de matéria orgânica e/ou baixa taxa de mineralização da matéria orgânica
podem apresentar concentração de B no solo crítico, para a adequada nutrição da
planta. Além disso, regiões com alta pluviosidade, em solos arenosos, podem promover
altas taxas de lixiviação do B da solução do solo, provocando problemas de deficiência
nas culturas (EPSTEIN; BLOOM, 2006).
O boro é absorvido via raízes nas formas H3BO3 (preferencial) e H2BO3-, e, como
a absorção independe da temperatura e não é afetada por inibidores da respiração,
pensa-se que seja um processo passivo (RAIJ, 2011).
O B facilita o transporte de açúcares, uma vez que combina com o carboidrato, dando
um complexo borato-açúcar ionizável, mais solúvel às membranas (GAUCH; DUGGER
JR., 1953). O boro tem efeito positivo na manutenção da estrutura e funcionamento
dos vasos condutores. Sob condições de deficiência de B, ocorre redução no transporte
da sacarose das folhas para outras partes da planta, pela maior produção de calose
(polissacarídeo semelhante à celulose), a qual provoca a obstrução do floema, principal
via de transporte da sacarose (LOUÉ, 1993).
68
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS │ UNIDADE III
solo, por meio de adubos minerais, fica bastante susceptível a perdas por lixiviação,
principalmente em solos arenosos.
Cobre
O cobre apresenta-se no solo na forma de Cu2+, fortemente ligado aos coloides organo-
minerais. A proporção do cobre complexado pelos compostos orgânicos na solução do
solo pode atingir 98%. Assim, a forma orgânica tem papel importante na regularização
da sua mobilidade e disponibilidade na solução do solo.
Portanto, pode-se inferir que quanto maior o teor de matéria orgânica, menor será
a disponibilidade de cobre às plantas, em que a disponibilidade deste elemento está
fortemente relacionada ao valor pH do solo.
Segundo Raij (2011), é um elemento de transição similar ao ferro, com facilidade para o
transporte de elétrons sendo, portanto, bastante relevante nos processos fisiológicos de
oxirredução. Uma das principais funções do cobre é como ativador ou constituinte de
enzimas. Participa do metabolismo das proteínas e dos carboidratos.
A maior parte do Cu está presente nas folhas nos cloroplastos, e mais da metade ligado à
plastocianina, importante no transporte eletrônico no cloroplasto entre os fotossistemas
69
UNIDADE III │ EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS
II e I com mudanças de valência, embora outras enzimas também façam este transporte
de elétrons e que são ativadas pelo Cu (EPSTEIN; BLOOM, 2006).
O cobre pode ainda reter mais ferro nas raízes e, desse modo, aumentar a produção
da leghemoglobina. Normalmente, as culturas mais suscetíveis à deficiência de cobre
são os cereais (trigo, milho, arroz, aveia, cevada); entretanto pode ocorrer em outras
culturas (hortaliças e fruteiras) (GUPTA, 1997).
Ferro
Segundo Raij (2011), nos solos ocorre principalmente na forma de óxidos e hidróxidos.
Já em solos ricos em matéria orgânica, o Fe aparece como quelatos. Os teores totais
de ferro nos vários solos do mundo estão em torno de 5 g Kg-1 e 50 g Kg-1. Em solos
brasileiros esses teores podem ser mais elevados, podendo ultrapassar 100 g Kg-1.
Logo, o suprimento adequado de ferro às plantas depende muito mais das condições de
pH, da umidade e de aeração do que propriamente da quantidade presente no solo, que
é normalmente abundante.
70
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS │ UNIDADE III
A maior parte do ferro nas plantas, aproximadamente 80%, está localizada nos
cloroplastos, como fitoferritina (proteína de reserva), portanto com influência na
fotossíntese. Em geral, o ferro é importante na biossíntese de clorofila e proteínas, e nos
constituintes enzimáticos que transportam elétrons e também na ativação de enzimas.
Ele é essencial para síntese de proteínas e ajuda a formar alguns sistemas respiratórios
enzimáticos (TAIZ; ZEIGER, 2013).
Ainda segundo esses autores, o Fe participa de dois grupos principais de proteínas que
contêm ferro na planta: as hemoproteínas e as proteínas com grupos Fe-S. No primeiro
grupo tem-se citocromos, presentes na mitocôndria, que transporta elétrons para
respiração (PRADO, 2008).
Manganês
Logo, se os solos receberam altas doses de materiais corretivos para correção da acidez,
pode haver a indução da baixa disponibilidade de Mn, causando deficiências nas plantas,
especialmente em solos originalmente pobres (RAIJ et al., 1996).
O manganês está envolvido em sistemas enzimáticos das plantas, seja como constituinte
(co-fator) seja como ativador de enzimas. Ele participa diretamente na composição
química de duas enzimas (enzima S e dismutase de peróxido). Uma das funções que
essas enzimas desempenham é a de quebra fotoquímica da molécula de água (reação
de Hill) para liberação de elétrons para fotossíntese (FSII – fotossistema II) (TAIZ;
ZEIGER, 2013).
Ainda segundo esses autores, como o manganês ativa a RNA polimerase, tem-se um
efeito indireto na síntese de proteínas e na multiplicação celular, embora, em caso de
deficiência de Mn, a atividade enzimática seja mais afetada que a síntese de proteína.
Salienta-se, ainda, que o magnésio pode também ativar esta enzima, mas o manganês é
muito mais eficiente (PRADO, 2008).
Outro processo em que o Mn pode afetar é a resistência das plantas às doenças, visto
que este nutriente é ativador de uma série de enzimas importantes na biossíntese dos
metabólitos secundários. Sua deficiência resulta na queda de concentração de inúmeras
substâncias, como aminoácidos aromáticos, compostos fenólicos, cumarinas, ligninas,
flavonoides e ácido indolacético, o que podem inibir ou dificultar a proliferação de
patógenos (MALAVOLTA, 2006).
72
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS │ UNIDADE III
Molibdênio
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UNIDADE III │ EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS
Zinco
Ainda segundo esse autor, a solubilização por intemperização produz o cátion Zn2+,
adsorvido aos solos pelos minerais e pela matéria orgânica. Os teores totais médios de
zinco em diferentes países variam de 17 mg Kg-1 a 125 mg Kg-1.
O zinco não apresenta função estrutural definida. É, porém, ativador de várias enzimas,
embora possa fazer parte da constituição de algumas delas. Salienta-se que o zinco na
planta (Zn2+) não é oxidado e nem reduzido.
As funções mais conhecidas do zinco são: síntese do ácido indolacético (AIA), síntese
proteica (RNA) e redução de nitrato e estrutura de enzimas e atividade enzimática.
Normalmente, a deficiência de Zn nas diversas espécies é o encurtamento dos internódios,
e a folha torna-se pequena; entretanto têm-se faixas amareladas (ou brancas) entre a
nervura e bordas das folhas (LARCHER, 2006).
Cloro
O cloro não é fixado pela matéria orgânica do solo ou pelas argilas, é facilmente
lixiviado sendo um dos primeiros elementos removidos dos minerais pelos processos
de intemperização (acumulando-se nos mares).
O cloro, junto com o Mo, tem sua disponibilidade aumentada no solo com o aumento
do valor pH. No Brasil, normalmente, não se tem observado problema de deficiência de
cloro, uma vez que a fonte de potássio comumente utilizada (cloreto de potássio) (fonte
de menor custo) traz junto o cloro.
74
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS │ UNIDADE III
Altos níveis de cloro estão associados a solos sódicos, alcalinos ou salinos encontrados
em regiões áridas e semiáridas do Nordeste brasileiro. Dentre os micronutrientes, o
cloro é o mais exigido, apresentando alto teor nas plantas. Em geral, a maior parte
do cloro nas plantas não está ligado com a constituição de compostos orgânicos
(PRADO, 2008).
Sua principal função seria enzimática como cofator da enzima que atua na fotólise da
água (fotossíntese) e outras enzimas como as ATPases do tonoplasto e também efeitos
osmóticos no mecanismo de abertura e fechamento de estômatos e balanço de cargas
elétricas (TAIZ; ZEIGER, 2013).
Logo, o cloro atua na regulação da pressão osmótica da célula, sendo que o acúmulo
deste elemento no interior da célula diminui o potencial da água ficando menor que o
meio externo, dessa forma, tem-se gradiente de potencial da água que favorece a entrada
dela na célula, e, assim, tem-se hidratação dos tecidos (turgescência) e a abertura dos
estômatos (LARCHER, 2006).
Sendo que as plantas halófitas são conhecidas por apresentar alto teor do cloreto em
seus tecidos, e são plantas que desenvolveram diferentes mecanismos de tolerância à
75
UNIDADE III │ EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS
76
CAPÍTULO 3
Uso de fertilizantes para suprir as
necessidades nutricionais das plantas
Fertilizantes
A agricultura se sustenta com a ajuda dos fertilizantes químicos, logo, se não fosse
por eles, não seria possível produzir a grande demanda de alimentos necessária para
abastecer a população mundial. Ainda que essenciais, esses compostos químicos
contribuem para o agravamento de diversos problemas ambientais, poluindo fontes de
água utilizadas na irrigação de culturas rentáveis.
Os fertilizantes contêm em sua composição nitratos e fosfatos, e uma vez lançados nas
lavouras são posteriormente arrastados com a água das chuvas (lixiviação) para o leito
dos rios ou se infiltram no solo (infiltração), indo para os lençóis freáticos e mananciais.
É por esses e outros motivos que a agricultura deve ser uma atividade bem planejada,
não se tornando uma inimiga e sim uma atividade aliada da natureza. Logo, adubo ou
fertilizante é um produto mineral ou orgânico, natural ou sintético, fornecedor de um
ou mais nutrientes vegetais.
77
UNIDADE III │ EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS
Outra vantagem do produto é que, sendo granulado, ele não tem odor e pode ser
colocado junto com o adubo, de uma só vez, o que representa economia de trabalho da
maquinaria utilizada na agricultura.
78
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS │ UNIDADE III
A grande maioria dos fertilizantes agrícolas é composta por esses três elementos
combinados, o N, P e K, mas é sempre bom lembrar que os micronutrientes têm grande
importância no desenvolvimento das plantas. Desse modo, os fertilizantes minerais
mais utilizados são constituídos apenas por nitrogênio, fósforo e potássio de rápida
absorção. Essa classe é subdividida em (RAIJ, 2011):
A história do uso de adubos para aumentar a produção mostra que os primeiros produtos
utilizados foram naturais e de origem orgânica (esterco, ossos, cinzas de plantas, restos
de lã, etc.), insolúveis em água.
79
UNIDADE III │ EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS
Exemplos: ureia 45-0-0 (N – P2O5 – K2O), superfosfato triplo 0-45-0 (N – P2O5 –K2O)
e cloreto de potássio 0-0-20 (N – P2O5 – K2O).
Logo, como já foi falado nos capítulos anteriores, a adubação é de suma importância
para o bom crescimento e desenvolvimento da planta. Essa adubação pode ser feita de
várias formas: por aplicação direta no solo (contato direto com a raiz), pela aplicação
foliar ou parte aérea (adubação foliar) e, finalmente, via água de irrigação (fertirrigação).
a aplicação a lanço, a qual poderá ser seguida de incorporação com aração e gradagem,
quando em culturas a serem instaladas, como já foi falado nos capítulos anteriores.
De uma maneira geral, para os fertilizantes contendo nutrientes nos quais o processo
de difusão é o mais importante mecanismo de suprimento às raízes, a localização num
raio de ação passível de ocorrência desse fenômeno é crucial.
É importante destacar que mesmo para nutrientes onde o fluxo de massa é o principal
mecanismo de transporte, como é o caso do nitrogênio, o qual apresenta maior
susceptibilidade de perdas por lixiviação na forma de NO3-, a localização adequada do
fertilizante também assume grande importância.
Como a parte aérea das plantas também possui a capacidade de absorver água e
nutrientes, diversos estudos têm contribuído para que a prática da adubação foliar
possa ser mais intensivamente pesquisada.
Áreas que vêm sendo continuamente cultivadas, como, por exemplo, com plantas
perenes (cajueiro, mangueiras, goiabeiras), têm carência de nutrientes que muitas vezes
não é corrigida com adubações no solo. Nestes casos, a adubação foliar proporciona
melhores resultados. As pulverizações foliares com micronutrientes também têm sido
satisfatória com uma única aplicação foliar (MALAVOLTA, 2006).
Entretanto, essas não são regras gerais, pois há exceções como no caso de adubação
foliar de muda de viveiro ou logo depois do transplante.
81
UNIDADE III │ EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS
Segundo Bernardo, Soares e Mantovani (2006) o seu manejo requer pouca mão de
obra, já que o trabalho para fazer irrigação e adubar é feito ao mesmo tempo. A técnica
permite, ainda, a aplicação de fertilizantes no exato volume de solo ocupado pelas raízes,
abastecendo a planta com a quantidade de adubos necessária ao seu desenvolvimento.
Além disso, o seu emprego é flexível em sistemas de irrigação diversos, como o
gotejamento e microaspersão.
82
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS, FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE E FUNÇÃO DOS MACRONUTRIENTES E MICRONUTRIENTES NAS PLANTAS │ UNIDADE III
Logo, a aplicação de todo e qualquer fertilizante requer uma avaliação prévia das
condições do solo. Para isso, pode ser feita uma análise verificando a fertilidade, a
capacidade de armazenamento de água e as propriedades físicas do solo a ser cultivado.
83
ANÁLISE DO SOLO E
DIAGNOSE FOLIAR
UTILIZANDO A UNIDADE IV
AGRICULTURA DE
PRECISÃO
Para que uma cultura qualquer possa manifestar todo o seu potencial genético por meio
da produção de um alimento, é necessário que tenha à sua disposição todos os fatores
vitais otimizados (climáticos, genótipos, edáficos, luz, água, temperatura, nutrientes etc.).
Vários recursos são utilizados para avaliar a fertilidade do solo, no entanto, somente
a análise de solo serve para uso prático por técnicos e produtores para estabelecer
quantidades de fertilizantes e corretivos a aplicar. Também existe a avaliação do
estado nutricional das plantas pela análise química das folhas ou diagnose foliar, que
contempla, mas não substitui a análise de solo. Existem também testes de tecidos, testes
bioquímicos, aplicações foliares, teor de clorofila e diagnose visual.
A agricultura de precisão pode ser utilizada para esse diagnóstico, sendo uma técnica
de manejo da fertilidade do solo partindo-se de informações exatas e precisas sobre
faixas (grids) menores do terreno, tendo por objetivo aumentar a eficiência do uso de
corretivos e fertilizantes nas culturas agrícolas.
Segundo Ragagnin, Sena Junior e Silveira Neto (2010), entre as expectativas a serem
atendidas com o uso da AP podem-se citar a redução de custos, principalmente dos
fertilizantes e/ou corretivos, com possíveis superdosagens, que podem trazer danos
à cultura e ao meio ambiente, redução de perdas por subdosagens, que limitam a
84
ANÁLISE DO SOLO E DIAGNOSE FOLIAR UTILIZANDO A AGRICULTURA DE PRECISÃO │ UNIDADE IV
85
CAPÍTULO 1
Diagnose foliar e interpretação dos
resultados da análise foliar
Diagnose visual
A diagnose visual consiste em se comparar visualmente o aspecto (coloração, tamanho,
forma) da amostra (planta, ramos, folhas) com o padrão. Na maioria das vezes o órgão
de comparação é a folha, pois é aquele que melhor reflete o estado nutricional da planta.
Como nas folhas ocorrem os principais processos metabólicos do vegetal, estas são os
órgãos da planta mais sensíveis às variações nutricionais.
A chamada “fome ou toxidez oculta” ocorre quando a carência ou excesso são mais
leves. Assim, na diagnose visual, a sintomatologia de deficiência/excesso pode variar
com as culturas. Normalmente, a sintomatologia de deficiência ocorre em folhas velhas
(para os nutrientes móveis na planta) ou novas ou em brotos (para os nutrientes pouco
móveis na planta), e ainda pode ser visualizada na raiz, caracterizando diferentes tipos
de sintomas (PRADO, 2008).
Com isso, os sintomas visuais de deficiência nutricional podem ser agrupados em seis
categorias: crescimento reduzido; clorose uniforme ou em manchas nas folhas; clorose
entre as nervuras; necrose, coloração púrpura e deformações (MALAVOLTA, 2006).
86
ANÁLISE DO SOLO E DIAGNOSE FOLIAR UTILIZANDO A AGRICULTURA DE PRECISÃO │ UNIDADE IV
Cabe salientar que somente quando a planta apresenta uma desordem nutricional
aguda é que ocorre claramente a manifestação dos sintomas visuais de deficiência ou
excesso característico, portanto o uso da diagnose visual não deve ser a regra e, sim,
como um complemento da diagnose.
Diagnose foliar
A análise química do solo (falaremos sobre ela no próximo capítulo) é a mais utilizada
e a principal ferramenta para o diagnóstico da fertilidade do solo e estabelecimento da
necessidade de correção e adubação das culturas.
Mas o solo é um meio complexo, heterogêneo e nele ocorrem inúmeras reações químicas,
físico-químicas e microbiológicas que influenciam a disponibilidade e o aproveitamento
dos nutrientes aplicados com os fertilizantes.
Os tecidos das plantas, por sua vez, mostram o seu estado nutricional num dado momento,
de modo que a análise dos tecidos aliada à análise do solo permite um diagnóstico mais
eficiente do estado nutricional da cultura e das necessidades de alterações no programa
de adubação.
A análise foliar torna-se mais importante ainda no caso dos micronutrientes, para
os quais a análise do solo não está bem consolidada. Diante disso, a diagnose foliar
consiste na avaliação do estado nutricional de uma planta tomando uma amostra de um
tecido vegetal e comparando-a com seu padrão preestabelecido (MALAVOLTA, 2006).
As folhas constituem o tecido vegetal mais comumente empregado para a análise, pois
este órgão é a sede do metabolismo da planta (RAFIQUE et al., 2006). A utilização
87
UNIDADE IV │ ANÁLISE DO SOLO E DIAGNOSE FOLIAR UTILIZANDO A AGRICULTURA DE PRECISÃO
O teor de nutriente dentro da planta é um valor integral de todos os fatores que interagiram
para afetá-lo. Para fins de interpretação dos resultados de análise química de plantas, é
preciso conhecer os fatores que afetam a concentração de nutrientes, os procedimentos
padronizados de amostragem e as premissas básicas para o uso da diagnose foliar:
Na zona de transição ou deficiência leve, embora tenha sintomas de deficiência não visíveis
(fome oculta), existe uma relação direta entre o teor foliar e a produção. Assim, quando o
teor foliar proporciona 80 a 95% da produção máxima, corresponde o nível crítico.
Em seguida, tem-se o teor que reflete a máxima produção (100%). Assim, a planta que
apresenta o teor de um dado nutriente nesta fase corresponde à produção entre o nível
crítico e à produção máxima ou ótima.
Esse fato é observado em solos não deficientes do nutriente que recebem doses do
elemento. Nesse caso, a planta absorve, mas não responde ao crescimento, ocorrendo
aumento da sua concentração (teor) nos tecidos da planta.
Finalmente, na faixa de toxidez, ocorre uma relação inversa entre o teor foliar (dose
do adubo) e o crescimento da planta. Logo, o aumento do teor do nutriente diminui
significativamente a produção. Desse modo, quando um dado teor do nutriente promove
queda igual ou superior 5 a 20% da produção máxima, é interpretado como nível tóxico.
Essas fases ou zonas podem ser melhor visualizadas no gráfico da figura 13.
Figura 13. Relação entre a concentração do nutriente no tecido e crescimento ou produção das culturas (lei dos
rendimentos decrescentes).
Essa relação é observada em solos (ou substrato) com excesso do nutriente e que recebem
doses deste; a planta o absorve, aumenta o teor no tecido, mas decresce o crescimento
devido a sua toxidez ou deficiência induzida de outro nutriente, devido ao desequilíbrio.
Salienta-se que na diagnose foliar é necessário que a planta esteja em uma época de
máxima atividade fisiológica, como no florescimento ou início de frutificação. É oportuno
informar que somente será válido um resultado de análise foliar se houver um padrão
para que este seja comparado, como falado anteriormente.
Existem variações desses padrões entre e dentro das espécies, dificultando a adubação.
Assim, o controle rigoroso destes critérios é que garantirá a validade do resultado
da análise química foliar, sua interpretação e a correção das deficiências com as
futuras adubações.
89
UNIDADE IV │ ANÁLISE DO SOLO E DIAGNOSE FOLIAR UTILIZANDO A AGRICULTURA DE PRECISÃO
A época de amostragem deve ocorrer em estádios fisiológicos definidos, uma vez que
os nutrientes podem variar com a idade da planta. Segundo Fageria et al. (2004), por
exemplo, quando a planta de arroz está com 20 dias de idade, o teor adequado de fósforo
na parte aérea é de 4,0 g kg-1, já quando a planta atingiu a idade de 80 dias, o teor de P
é de 1,0 g kg-1 de matéria seca.
90
ANÁLISE DO SOLO E DIAGNOSE FOLIAR UTILIZANDO A AGRICULTURA DE PRECISÃO │ UNIDADE IV
Segundo Vieira et. al (2010), estudando a variabilidade espacial dos teores foliares de
nutrientes e da produtividade da soja em dois anos de cultivo em um latossolo vermelho,
viram que houve dependência espacial para os teores foliares de alguns nutrientes e
para a produtividade de grãos de soja passível de ser mapeada em uma área com cerca
de 2 hectares, adubada de maneira homogênea.
A interpretação da análise química dos tecidos da amostra é feita por meio da comparação
dos resultados emitidos pelo laboratório com os valores estabelecidos nos padrões da
literatura.
A análise química foliar pode ser interpretada tomando-se um único nutriente, por
meio do método do nível crítico ou da faixa de suficiência ou tomando como base a
relação entre os nutrientes feita pelo método denominado DRIS (Sistema Integrado de
Diagnose e Recomendação) e pelos fertigramas.
Nível crítico ou faixa de suculência pode ser definido por Malavolta (1997) como: teor do
nutriente na folha abaixo do qual a produção é reduzida e, acima, em que essa produção
não é econômica.
O nível crítico tem sido definido com o teor do nutriente com o qual a planta terá 10%
de redução na sua performance máxima (produção). Entretanto, há situações em
91
UNIDADE IV │ ANÁLISE DO SOLO E DIAGNOSE FOLIAR UTILIZANDO A AGRICULTURA DE PRECISÃO
que 10% de redução é inaceitável, por causa do valor da cultura em relação ao custo
de fertilizante.
Nesse caso, o nível crítico pode ser definido como o teor do nutriente com o qual a
planta apresentará performance muito próxima da máxima. A mudança no conceito
de redução de 10, 5, 1 ou 0,1% na performance da planta implica, na maioria das vezes,
a necessidade de quantidade muito maiores de fertilizantes, seguindo-se a lei dos
rendimentos decrescentes (BOUMA, 1983).
Logo, não adianta usar o fertilizante além de um dado nível ou quantidade, pois mesmo
que a produção continue a crescer (consumo de luxo), o aumento na colheita não paga
o adubo adicional aplicado. Mas, há situações em que esse critério deve ser analisado,
pelo valor da cultura em relação ao custo do fertilizante.
Diversos procedimentos podem ser utilizados para definir o nível crítico de um nutriente
na matéria seca da planta. Procura-se relacionar, geralmente, os teores do nutriente na
matéria seca de determinado órgão e a performance da planta (produção) com doses
crescentes do nutriente adicionado ao meio, buscando-se relações matemáticas entre
elas, geralmente modelos de regressão não lineares.
Uma das limitações deste método consiste na forma como os padrões de referência são
estabelecidos. Normalmente são definidos a partir de ensaios de adubação conduzidos
em casas de vegetação (vasos) ou a campo, com diferentes tipos de solos e de clima.
92
ANÁLISE DO SOLO E DIAGNOSE FOLIAR UTILIZANDO A AGRICULTURA DE PRECISÃO │ UNIDADE IV
Os fertigramas também podem ser utilizados para interpretar as análises químicas das
plantas, apesar do nível crítico e do DRIS serem os mais utilizados. Fertigramas são
gráficos construídos com círculos concêntricos com tantas divisões radiais quantos
forem os nutrientes a serem plotados. Na interseção entre o círculo mediano e os
segmentos radiais são alocados os valores dos níveis críticos determinados previamente
para a cultura estudada.
Os teores obtidos das análises foliares das culturas são, então, plotados no fertigrama,
no raio correspondente e, após a ligação dos pontos, origina-se um polígono, a partir
do qual se interpreta o estado nutricional da cultura. Picos a partir do círculo de níveis
críticos indicam excessos, e reentrâncias significam deficiência.
93
CAPÍTULO 2
Análise da fertilidade do solo e
interpretação dos resultados
Análise do solo
Solos são materiais heterogêneos que apresentam variação em suas propriedades até
mesmo em distâncias de alguns centímetros. A amostra que chega ao laboratório para
ser analisada representa uma pequena fração de todo o solo.
Para a escolha das glebas a serem amostradas, há duas maneiras diferentes de abordagem.
A primeira é pela maneira tradicional, definindo-se glebas homogêneas (divide-se em
glebas de até 10 ha ou mais, no caso de solos bem uniformes); já a segunda busca identificar
a variabilidade espacial dos resultados das análises, dentro da chamada agricultura
de precisão.
A análise do solo pode ser precisa, mas se não obtiver um mapa que represente a
variabilidade e esta represente a variação da produtividade, não pode ser considerada
uma atividade destinada à agricultura de precisão, cuja técnica suscita questionamento
quanto à localidade da amostra.
Neste enfoque, não são consideradas áreas homogêneas, como falado na amostragem
feita pela maneira tradicional, pois a amostragem é que irá fornecer elementos para
avaliar a variabilidade dos atributos medidos.
94
ANÁLISE DO SOLO E DIAGNOSE FOLIAR UTILIZANDO A AGRICULTURA DE PRECISÃO │ UNIDADE IV
Figura 14. Geração do mapa de fertilidade por meio da interpolação de dados obtidos por amostragem em grade.
Fonte: http://www.agriculturadeprecisao.org.br/upimg/publicacoes/pub_boletim-tecnico-02---amostragem-
georreferenciada-03-02-2015.pdf.
Com isso, podemos falar que a análise química do solo é um dos recursos mais usados no
Brasil para avaliação da fertilidade do solo. Por meio de extratores químicos, procura-
se determinar o grau de suficiência ou de deficiência dos elementos no solo, além de
quantificar condições adversas que possam prejudicar o desenvolvimento das plantas
(RAIJ, 2011).
Alguns usuários de AP (26%) afirmam ainda que realizam análise de solo a cada 3 anos.
As recomendações realizadas sem os resultados da análise de solo utilizando doses e
formulações padronizadas podem não levar em consideração as reais necessidades das
culturas e a disponibilidade de nutrientes no solo, o que pode causar prejuízos (uso
indevido de insumos), e levar à degradação ambiental, desequilíbrio nutricional e baixa
produtividade.
Logo, a aplicação de fertilizantes à taxa variável é, hoje, uma necessidade, razão pela qual
se desenvolvem tecnologias para aplicações em taxa variada atuando-se diretamente
sobre as variações espaciais e temporais.
Isto torna possível que os fertilizantes e corretivos sejam aplicados em doses variáveis e
somente nos locais necessários, eliminando a aplicação de doses uniformes em área total.
Do ponto de vista prático, este pode ser considerado um dos maiores mercados para
viabilização imediata da agricultura de precisão, trazendo vantagens tanto do ponto de
vista econômico quanto ambiental.
A coleta de amostra pode ser feita com diversas ferramentas: enxadão, pá, tubo para
amostragem ou sonda, trado (mais utilizado), entre outros. Em qualquer caso, é necessário
que as subamostras sejam retiradas de maneira uniforme em volume e profundidade.
Lembrando que para formar a amostra composta, as subamostras devem ser bem
misturadas, ficando bem homogêneas.
Figura 15. Amostrador hidráulico automatizado montado em quadriciclo (A) e um amostrador manual com motor
de combustão interna (B).
Fonte: http://www.agriculturadeprecisao.org.br/upimg/publicacoes/pub_boletim-tecnico-02---amostragem-georreferenciada-03-02-2015.pdf.
96
ANÁLISE DO SOLO E DIAGNOSE FOLIAR UTILIZANDO A AGRICULTURA DE PRECISÃO │ UNIDADE IV
Para cada local (clima: umidade, temperatura), planta (dentro de cada espécie a
necessidade de nutrientes é diferente) e solo (vai variar de acordo com a textura) terá
uma recomendação de adubação diferente. Essa recomendação também vai variar com
o estádio fenológico da cultura.
Tabela 4. Fatores para conversão de unidades antigas em unidades do Sistema Internacional de Unidades.
No link: http://www.iac.sp.gov.br/produtoseservicos/analisedosolo/interpretacao
analise.php encontram-se tabelas do IAC com as recomendações de adubação
(N, P, K, acidez e micronutrientes) para as culturas cultivadas no Estado de São
Paulo.
Logo, para que o agricultor possa fazer uma boa adubação no solo da sua propriedade,
ele deverá procurar um profissional da área, o qual utilizará tabelas de recomendações
elaboradas por instituições de confiança (boletins técnicos e artigos), especificamente
para a região e cultura que o agricultor produz, e assim aumentar a produção da lavoura.
O site do IPNI, como já foi citado no capítulo anterior, mostra as instruções de como
proceder na coleta das amostras de solo, em que suas análises podem ser avaliadas
e interpretadas graficamente com a apresentação do Fertigrama, no qual podem ser
obtidas recomendações de adubação para as principais culturas.
97
CAPÍTULO 3
Nutrição mineral e fertilidade de plantas
utilizando a agricultura de precisão
Sensores
O uso de sensores diretos ou remotos, conforme haja ou não contato físico com o objeto
alvo, tem denotado grande potencial de aplicação no manejo das lavouras. São exemplos
de sensores voltados para nutrição e fertilidade do solo os utilizados na determinação
do pH deste, dos teores de matéria orgânica, da condutividade elétrica, da umidade
volumétrica do solo e do status de nitrogênio em plantas, assim como os sensores de
múltiplos propósitos instalados em satélites orbitando a Terra.
Ainda segundo esses autores, o clorofilômetro é bastante confiável pela alta correlação
entre as leituras da concentração relativa de clorofila e os teores foliares de N. Quando
determinadas em grade amostral adequada, as leituras possibilitam a geração de
informações especializadas sobre o estado nutricional das culturas.
As imagens obtidas, que podem ser por drones ou vants, são tratadas calculando-se
o NDVI a partir de sensores com resolução espectral nas bandas do vermelho e do
infravermelho próximo, contribuindo para a identificação de zonas de manejo nas
lavouras. A partir dessas imagens, são possíveis inferências sobre atributos do solo,
como a matéria orgânica.
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UNIDADE IV │ ANÁLISE DO SOLO E DIAGNOSE FOLIAR UTILIZANDO A AGRICULTURA DE PRECISÃO
Figura 16. Mapas da distribuição espacial do pH do solo mensurado em laboratório utilizando água (A) e solução
de KCl (B), e no campo com o equipamento MSP utilizando 27 (C) e 208 pontos (D).
Fonte: http://www.agriculturadeprecisao.org.br/upimg/publicacoes/pub_mapeamento-do-ph-do-solo-em-tempo-real---mateus-t-
eitelwein-rodrigo-g-trevisan-andrea-g-hernandez-michel-i-v-rudan-leonardo-f-maldaner-jose--p-molin--cbcs-2015-17-10-2016.PDF.
Figura 17. Medidor de condutividade elétrica do solo (Veris 3100) e um diagrama mostrando a CE na superfície e
em profundidade com o receptor de GPS e o disco de eletrodos.
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ANÁLISE DO SOLO E DIAGNOSE FOLIAR UTILIZANDO A AGRICULTURA DE PRECISÃO │ UNIDADE IV
Fonte: http://extension.colostate.edu/topic-areas/agriculture/field-ec-mapping-a-new-tool-to-make-better-decisions-0-568/.
Espectroscopia de reflectância
O uso da espectroscopia de reflectância, visando aplicações como a determinação
remota das propriedades químicas, físicas e composição mineralógica dos solos também
é outra técnica de medir a fertilidade e nutrição da planta, em que é demonstrada desde
a década de 70 (CHABRILLAT et al., 2013).
De modo geral, os principais constituintes dos solos que influenciam seu comportamento
espectral são a matéria orgânica, argilo-minerais, óxidos de ferro, além da distribuição
granulométrica e umidade. A quantidade de radiação refletida comparada com a quantidade
incidente sobre a amostra fornece a medida de reflectância captada por sensores.
Como os solos apresentam diferentes constituintes, estes podem ser qualificados pela
análise de sua resposta espectral (DALMOLIN et al., 2005). Em solos brasileiros,
trabalhos pioneiros como o de Demattê e Garcia (1999) já indicavam a relação entre
o comportamento de curvas espectrais no VIS-NIR (região espectral do visível ao
infravermelho próximo) e atributos como matéria orgânica e mineralogia do solo.
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UNIDADE IV │ ANÁLISE DO SOLO E DIAGNOSE FOLIAR UTILIZANDO A AGRICULTURA DE PRECISÃO
Logo, com todas as variáveis referentes à fertilidade do solo e nutrição de plantas (visto
nos capítulos anteriores), faz se o mapeamento da fertilidade dos solos. Através da
coleta e análise de uma ou mais amostras de solo por hectare, georeferenciadas com o
auxílio do GPS, é possível fazer um mapeamento por nutriente. Com os resultados de
análises de solo em mãos, por exemplo, realiza-se a interpolação dos dados, utilizando
técnicas geoestatísticas, obtendo, assim, os mapas de fertilidade.
O mapa indica o teor de cada nutriente no solo em cada ponto deste, permitindo verificar
a possibilidade de problemas devido à carência de algum deles, e se é necessário fazer
a correção.
Uma das vantagens é que, tendo-se o mapa, a correção é feita apenas na quantidade e no
local onde é necessário, evitando o desperdício de fertilizantes. Logo, a partir da análise
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ANÁLISE DO SOLO E DIAGNOSE FOLIAR UTILIZANDO A AGRICULTURA DE PRECISÃO │ UNIDADE IV
Figura 18. Mapas de fertilidade e de prescrição de calagem para uma mesma área gerados com diversas
densidades de amostragem.
Fonte: http://www.ipni.net/publication/ia-brasil.nsf/0/99F3F60DC307E31985257A84005CB8F6/$FILE/Jornal19-25-138.pdf.
Essa recomendação vai armazenada num cartão magnético, que será lido pelas máquinas
e equipamentos de aplicação localizada. Máquinas contam com controladores de
aplicação “inteligentes”, conectados ao DGPS (GPS com correção diferencial) e capazes
de seguir as instruções estabelecidas pelo mapa de aplicação.
É possível também fazer o mapa do que está sendo aplicado, para posterior avaliação do
desempenho real da aplicação. É só ir registrando as quantidades aplicadas a cada ponto
georreferenciado da operação. Logo, a agricultura de precisão tem grande potencial de
desenvolvimento, pois possibilita a maximização de lucratividade ao produtor, mesmo
envolvendo elevados custos com tecnologia, como máquinas, sensores e vants.
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UNIDADE IV │ ANÁLISE DO SOLO E DIAGNOSE FOLIAR UTILIZANDO A AGRICULTURA DE PRECISÃO
Por essas necessidades, muitos softwares foram desenvolvidos por entidades públicas e
privadas, até mesmo em conjunto, possibilitando ao usuário o aproveitamento máximo
dos dados obtidos na área (PIRES et al, 2004), em que o sistema de Informação
Geográfica (SIG) organiza essas informações por camadas temáticas, possibilitando um
trabalho mais rápido e prático.
Resende et al. (2005) estudaram amostragens em grids variando entre 0,25 e 9,0
hectares e obtiveram dependência espacial para todos os atributos ao utilizar grids de
até 2,25 ha, exceto para o nutriente P, que apresentou dependência somente em grids
de 0,25 ha ou quatro amostragens por hectare.
Portanto, para se ter uma boa amostragem do solo, incluindo o elemento P, o agricultor
deve trabalhar com grids menores, o que aumentaria os custos das amostragens.
Constatado o problema, deve haver a tomada de decisão para corrigir a fertilidade com
aplicação em taxa variável ou em zonas de manejo de calcário, fosfatados e cloreto de
potássio. Estas aplicações são realizadas por máquinas que utilizam sinal de satélite
para aplicar a dose correta em cada região da lavoura.
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Referências
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