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Noções Jurídicas e Bioética

Brasília-DF.
Elaboração

Veríssimo Nascimento Ramos dos Santos

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7

UNIDADE I
VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS.................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
CONCEITO, FONTES E RAMOS DO DIREITO................................................................................ 9

CAPÍTULO 2
NOÇÕES DE LEGISLAÇÃO SOCIAL E TRABALHISTA.................................................................... 20

CAPÍTULO 3
NOÇÕES DE PROCESSO JUDICIAL.......................................................................................... 28

UNIDADE II
FONOAUDIOLOGIA FORENSE............................................................................................................... 35

CAPÍTULO 1
NOÇÕES DE PERÍCIA.............................................................................................................. 35

CAPÍTULO 2
NOÇÕES PROCEDIMENTAIS PARA A ATUAÇÃO EM PERÍCIA...................................................... 39

CAPÍTULO 3
FONOAUDIOLOGIA E PERÍCIA................................................................................................. 46

UNIDADE III
INTRODUÇÃO À ÉTICA E BIOÉTICA........................................................................................................ 49

CAPÍTULO 1
NOÇÕES SOBRE ÉTICA............................................................................................................ 49

CAPÍTULO 2
ÉTICA E PRÁTICA PROFISSIONAL............................................................................................... 54

CAPÍTULO 3
CONCEITOS E PRINCÍPIOS DA BIOÉTICA.................................................................................. 61

PARA (NÃO) FINALIZAR...................................................................................................................... 68

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 70
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao
profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução
científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

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Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução

O presente estudo visa contemplar noções jurídicas gerais importantes aos profissionais
das mais diversas áreas, que porventura venham a trabalhar em processos judiciais ou
extrajudiciais.

Inicialmente, traçamos os mais relevantes aspectos da Introdução ao estudo do Direito,


explorando o seu conceito enquanto ciência, suas fontes e seus principais ramos.

Desta forma, o profissional poderá refletir para o Direito enquanto um sistema, dotado
de múltiplas fontes, mas que convergem com o intuito de se alcançar o bem comum e
manter a ordem jurídica.

Além das noções introdutórias, passamos a compreender o processo judicial e seus


procedimentos ordinários no âmbito penal e civil.

Posteriormente, trabalhamos importantes conceitos e definições introdutórias do


Direito do Trabalho, destacado segmento jurídico, cujas ferramentas são utilizadas no
dia a dia de trabalho de diversos profissionais.

A segunda unidade voltou-se para o estudo da perícia e de seus procedimentos jurídico-


processuais. Ao tratar do tema, buscamos fazer aproximações da perícia na área da
saúde, em especial na área de Fonoaudiologia, trazendo informações aos profissionais
do segmento que desejam atuar no ramo forense.

Por fim, na última unidade, propusemos uma análise sobre ética e bioética. Verificamos
que tais conceitos devem ter campo de estudo e reflexão, inclusive aos profissionais da
área de saúde e área pericial.

Objetivos
»» Obter bases teóricas sobre a ciência do Direito.

»» Compreender noções de processo judicial.

»» Estudar os principais aspectos jurídicos da perícia nos processos cíveis,


penais e trabalhistas.

»» Refletir sobre ética profissional, moral e bioética.

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VISÃO GERAL
DO DIREITO: UNIDADE I
CONCEITOS
BÁSICOS

CAPÍTULO 1
Conceito, fontes e ramos do Direito

“O Direito é um poder passivo ou pacificado pelo Estado e é sinónimo de poder,


pois sem esta participação e legitimação democrática, só resta à violência, a
descrença e a barbárie”.

Hannah Arendt.

“Mas a Justiça continuou e continua a morrer todos os dias. Agora mesmo, neste
instante em que vos falo, longe ou aqui ao lado, à porta da nossa casa, alguém
a está matando. De cada vez que morre, é como se afinal nunca tivesse existido
para aqueles que nela tinham confiado, para aqueles que dela esperavam o que
da Justiça todos temos o direito de esperar: justiça, simplesmente justiça. Não
a que se envolve em túnicas de teatro e nos confunde com flores de vã retórica
judicialista, não a que permitiu que lhe vendassem os olhos e viciassem os pesos
da balança, não a da espada que sempre corta mais para um lado que para o outro,
mas uma justiça pedestre, uma justiça companheira quotidiana dos homens,
uma justiça para quem o justo seria o mais exato e rigoroso sinônimo do ético,
uma justiça que chegasse a ser tão indispensável à felicidade do espírito como
indispensável à vida é o alimento do corpo. Uma justiça exercida pelos tribunais,
sem dúvida, sempre que a isso os determinasse a lei, mas também, e sobretudo,
uma justiça que fosse a emanação espontânea da própria sociedade em ação,
uma justiça em que se manifestasse, como um iniludível imperativo moral, o
respeito pelo direito a ser que a cada ser humano assiste”. (José Saramago).

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UNIDADE I │ VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS

Conceito de Direito
Para adentrarmos o ramo da ciência jurídica, devemos inicialmente analisar os
principais conceitos de Direito vigentes.

Cabe esclarecer que não há um conceito unívoco do Direito. Porém, juristas, filósofos e
cientistas sociais buscam trazer definições que tentam compreender o Direito e todos
os seus fenômenos, seu objeto e seus reflexos perante a sociedade.

Lyra Filho (1982), alerta que lei é a palavra mais frequentemente associada a Direito,
inclusive na língua inglesa, em que law designa as duas coisas. Entretanto, em várias
outras línguas, Direito e lei são indicados por termos distintos, a exemplo de: lus e lex
(latim), Derecho e léy (espanhol), Diritto e legge (italiano), Droit e loí (francês), Recht
e gesetz (alemão), Pravo e zakon (russo), Jog e tõrveny (húngaro) e assim por diante.

Para melhor entender o Direito e suas nuances, leia o livro:

O que é Direito? De Toberto Lyra Filho.

Informações adicionais: FILHO, Roberto Lyra. O Que é Direito. 11. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1982.

Entretanto, o conceito de Direito ultrapassa a simples noção de lei, tendo em vista que
existem outros aspectos que abrangem sua concepção.

Dentre os conceitos consagrados pelos juristas pátrios, está o do professor Miguel Reale,
que trabalha a Teoria Tridimensional do Direito. Na visão do autor, o Direito apresenta
múltiplas formas e em função de múltiplos campos de interesse.

Segundo ele, o Direito é uma “ordenação bilateral atributiva das relações sociais, na busca
do bem comum”. Explica o autor que, o Direito estabelece relações de exigibilidade, com
o objetivo de realizar uma convivência ordenada, isto é, uma composição harmônica do
bem de cada um com o bem de todos. (REALE, 2004)

Ao analisar os sentidos da palavra Direito, Reale demonstra que eles correspondem a


basicamente três aspectos básicos: um aspecto normativo (o Direito como ordenamento
e a sua respectiva ciência), um aspecto fático (o Direito como fato, ou em sua efetividade
social e histórica) e um aspecto axiológico (o Direito como valor de Justiça). Nesse
sentido, fatos, valores e normas se implicam e se exigem reciprocamente.

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VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS │ UNIDADE I

Figura 1. Valor, Fato e Norma.

Valor

Fato Norma

Fonte: Autor.

Para Vicente Ráo (1997), o Direito é tido como um sistema social fundado na natureza
humana que, estabelece na relação entre os homens uma proporção de reciprocidade
nos poderes e deveres que lhes atribui, regula as condições existenciais e evolucionais
dos indivíduos e dos grupos sociais e, em consequência, da sociedade, por meio de
normas coercitivamente impostas pelo poder público.

Na visão de Tércio Sampaio Ferraz Júnior, a Ciência do Direito tem por objeto central
o próprio ser humano que, pelo seu comportamento, entra em conflito, cria normas
para solucioná-lo, decide-o, renega suas decisões etc. Já a norma, diz respeito a uma
proposição (proposição jurídica), mas uma proposição de natureza prática, isto é, uma
orientação para a ação humana, sendo, portanto, uma regra, conforme a qual devemos
nos guiar. (FERRAZ JUNIOR, 1980).

Fontes do direito

Para José Cretella Júnior (2005), fonte significa “o vocábulo que designa concretamente
o lugar onde brota alguma coisa, como fontes d’agua ou nascente, a expressão fontes do
direto significa o lugar de onde provem a norma jurídica, donde nascem regras jurídicas
ainda não existentes na sociedade humana, retornar a fonte do direito é buscar a origem
de seus enunciados”.

Na ótica de Miguel Reale (2004), as fontes do Direito são os fatos jurídicos de que
resultam normas, não sendo objetivamente a origem da norma, mas o canal no qual
ela se torna relevante. Segundo ele, as fontes do Direito seriam os modos de formação e
revelação das normas jurídicas, isto é, o ponto de partida para a busca da norma.

Vejamos, portanto, as principais fontes do Direito:

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UNIDADE I │ VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS

Leis

As leis são tidas como as principais fontes do Direito. A Lei em sentido amplo traz a
ideia de uma regra que institucionaliza a entrada de uma norma no sistema, dentro do
qual ela será reconhecida como legal ou lei no sentido estrito.

Observação: É preciso evitar ainda a confusão entre lei e norma. A norma é uma
prescrição. A lei é a forma de que se reveste a norma ou um conjunto de normas dentro
do ordenamento. Desta forma, a lei é fonte do direito, isto é, o revestimento estrutural
da norma que lhe dá a condição de norma jurídica. As normas, por exemplo, podem ter
cunho moral jurídico ou de trato social.

Conforme Ferraz Júnior (2003), a legislação é fonte de inúmeras normas que requerem
procedimentos regulados por outras normas que, por sua vez, são também produto
de atos competentes. Neste âmbito, a primeira competência é estabelecida conforme
normas primeiras, quais sejam, as normas constitucionais.

A Constituição é a lei fundamental de um país, que contém normas respeitantes à


organização básica do Estado, ao reconhecimento e à garantia dos direitos fundamentais
do ser humano e do cidadão, às formas, aos limites e às competências do exercício do
Poder Público (legislar, julgar, governar).

A Constituição de 1988 é a atual carta magna da República Federativa do Brasil. Foi a


sétima constituição da história do país, sendo promulgada no dia 5 de outubro de 1988.
É conhecida como constituição cidadã, em razão da intensa participação na elaboração
do texto e é considerada até hoje uma das mais avançadas e democráticas do planeta,
na seara dos direitos e garantias individuais do cidadão.

Figura 2. Constituição de 1988.

Fonte: <www.petiçãopublica.com.br>.

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VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS │ UNIDADE I

Assim, reza o preâmbulo do texto constitucional:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia


Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado
a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade,
a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem
interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias,
promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

Ainda no texto constitucional, estão presentes as demais espécies legislativas, esculpidas


pelo art. 59, que diz:

Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:

I – emendas à Constituição;

II – leis complementares;

III – leis ordinárias;

IV – leis delegadas;

V – medidas provisórias;

VI – decretos legislativos;

VII – resoluções.

Todos os atos ali presentes são infraconstitucionais, com exceção das emendas, tendo
em vista que após serem promulgadas se incorporam ao texto constitucional e possuirão
o mesmo status da constituição.

Hans Kelsen (1998), importante jurista e filósofo austríaco, organizou uma estrutura
normativa escalonada, pois acreditava que a norma que regula a produção é a norma
superior e a norma produzida segundo as determinações daquela é a norma inferior.
Segundo ele, a ordem jurídica não é um sistema de normas jurídicas ordenadas no
mesmo plano, situadas umas ao lado das outras, mas é uma construção escalonada de
diferentes camadas ou níveis de normas jurídicas.

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UNIDADE I │ VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS

Figura 3. Nesse âmbito, podemos visualizar as espécies normativas por meio de uma pirâmide hierárquica, que

no processo legislativo brasileiro representaria a seguinte ilustração.

CF
Emendas Constitucionais

Leis complementares
Leis ordinárias
Leis delegadas
Medidas Provisórias
Decretos Legislativos
Resoluções
Atos Infralegais:
Portarias
Decretos
Regulamentos

Fonte: Autor.

Por sua vez, os atos infralegais são as normas inferiores às normas infraconstitucionais/
legais. Representam um comando geral do Poder Executivo visando à correta aplicação
da lei, detalhando o que diz a norma infraconstitucional. São exemplos os decretos,
regulamentos, portarias etc.

Costumes

Os costumes também representam importante fonte do Direito. Difere da lei, pois esta é
certa e determinada, além de ser revestida de segurança e certeza. Já o costume não tem
origem certa, nem se localiza ou é suscetível de localizar-se de maneira determinada.
Isto porque, geralmente não sabemos de onde veio determinado hábito ou uso social
que, aos poucos, se converte em uso jurídico. (REALE, 2004)

Segundo Tercio Sampaio Ferraz Júnior (2003):

O costume é uma forma típica de fonte do direito nos quadros da


chamada dominação tradicional no sentido de Weber. Baseia-se, nesses
termos, na crença e na tradição, sob a qual está o argumento de que algo
deve ser feito, e deve sê-lo porque sempre o foi. A autoridade do costume
repousa, pois, nessa força conferida ao tempo e ao uso contínuo como
reveladores de normas, as normas consuetudinárias. Aqui, também,
temos que distinguir entre costume como regra estrutural e norma
costumeira como elemento do sistema do ordenamento.

O costume enquanto fonte do direito é considerado uma norma aceita como obrigatória
pela consciência social, sem que o Poder Público a tenha estabelecido. Na ótica de

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VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS │ UNIDADE I

Rizzato Nunes (2002), “o costume jurídico é norma jurídica obrigatória, imposta ao


setor da realidade que regula, possível de imposição pela autoridade pública e em
especial pelo poder judiciário”.

Silvio Venosa (2014) explica que, em que pese à prevalência da lei no nosso sistema, o
costume desempenha papel importante, principalmente porque a lei não tem condições
de predeterminar todas as condutas e todos os fenômenos. O autor explica que o uso
reiterado de uma conduta ou atividade ganha status de costume. Transforma-se,
portanto, em costume quando a prática reiterada torna-se obrigatória na consciência
social. Isso indica que nem todo uso é costume, posto que este nasça da consciência
coletiva, de um grupo social mais ou menos amplo. Tem por característica a amplitude,
isto é, que seja largamente disseminada no meio social.

O Código Civil brasileiro de 2002 faz várias referências aos usos, que se colocam na
base dos costumes. Essa legislação também indica a utilização do costume como fonte
subsidiária de interpretação em vários dispositivos (arts. 569, II, 596, 599, 615, 965, I,
1.297, § 1o). O costume pode servir como um instrumento precioso para o preenchimento
de lacunas no Direito escrito, ou seja, quando a lei não oferece resposta.

Exemplo da utilização de costumes como fonte na legislação brasileira:

CC/2002: Art. 599. Não havendo prazo estipulado, nem se podendo inferir da natureza
do contrato, ou do costume do lugar, qualquer das partes, a seu arbítrio, mediante
prévio aviso, pode resolver o contrato.

Os costumes possuem maior aplicação em determinados ramos do Direito, tais como o


Direito Comercial e o Direito Internacional.

Jurisprudência

Ainda no âmbito das fontes do direito, cabe analisarmos a jurisprudência, dada a sua
importância para o ramo jurídico.

Miguel Reale (2004) nos ensina que a palavra “jurisprudência”, em sentido estrito, traz
a noção de “revelação do direito que se processa através do exercício da jurisdição, em
virtude de uma sucessão harmônica de decisões dos tribunais”. No âmbito do Poder
Judiciário, os juízes são chamados a aplicar o Direito aos casos concretos, a dirimir
conflitos que surgem entre indivíduos e grupos. Para aplicar o Direito, o juiz deve,
evidentemente, realizar um trabalho prévio de interpretação das normas jurídicas, que
nem sempre são suscetíveis de uma única apreensão intelectual, já que a fundamentação
de cada caso concreto poderá variar.

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UNIDADE I │ VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS

Para o autor, esta é a razão pela qual o Direito jurisprudencial não se forma mediante
a uma ou três sentenças, mas exige uma série de julgados que guardem, entre si, uma
linha essencial de continuidade e coerência. Desta forma, para que se possa falar em
jurisprudência de um Tribunal, é necessário certo número de decisões que coincidam
quanto à substância das questões objeto de seu pronunciamento, isto é, uma quantidade
significativa de decisões com o mesmo ponto de vista.

O jurista observa, ainda, que a Jurisprudência muitas vezes inova a matéria jurídica,
estabelecendo normas que não se contém estritamente na lei, mas resultam de
uma construção obtida graças à conexão de dispositivos, até então considerados
separadamente, ou, ao contrário, mediante a separação de preceitos por largo tempo
unidos entre si.

Princípios gerais do direito

Os princípios são tidos com são verdades fundantes de um sistema de conhecimento,


como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas também
por motivos de ordem prática de caráter operacional, isto é, como pressupostos exigidos
pelas necessidades da pesquisa e da práxis (REALE, 2004)

Os princípios gerais do direito eram utilizados apenas como técnica de integração das
lacunas. Para Dworkin (1978), os princípios são todos aqueles padrões morais e políticos
a que as decisões jurídicas recorrem para decidir os casos que não são suficientemente
solucionados pelas regras do direito positivo (a exemplo das leis).

Simioni (2012) esclarece que os princípios são muito diferentes das regras em vários
aspectos. Explica que: “Princípios não estabelecem as condições prévias de sua
aplicação, tal como fazem as regras. E por isso os princípios não são questões de tudo
ou nada. O seu cumprimento não é uma questão de correção, mas de adequação, de
coerência. Os princípios não são válidos ou inválidos, mas, sim, questões de peso, de
importância, questões de fundamento, de justificação adequada. Para Dworkin (1978),
os princípios enunciam razões que conduzem a interpretação e a argumentação jurídica
para certa direção”.

No entanto, para Norberto Bobbio (1993), os princípios gerais de direito são, de fato,
normas fundamentais ou generalíssimas do sistema.

Na definição de Robert Alexy (1997), os princípios são normas que ordenam que algo
seja realizado na maior medida possível, dentro das possibilidades reais e jurídicas
existentes, na forma de mandados de otimização. Já as regras ou são cumpridas ou não.

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VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS │ UNIDADE I

Independentemente de consenso por parte da doutrina, os princípios são diretrizes


que norteiam todo o sistema jurídico, sendo observados tanto para preenchimento de
lacunas do direito, quanto sopesados no conflito entre normas, quando o intérprete
aplica o direito com base na equidade, justiça, boa-fé, dentre outros.

Doutrina

A doutrina é outra importante fonte do direito, bastante utilizada pelos profissionais


que operam neste ramo. Segundo Maria Helena Diniz (2011), a doutrina é o resultado
de uma atividade científica dos juristas, portanto, uma forma de expressão jurídica.

Ferraz (2003) salienta que posições doutrinárias dominantes (doutrina dominante) não
chegam, no sistema romanístico, a serem fontes do direito. Entretanto, sua autoridade
como base de orientação para a interpretação do direito, é irrecusável.

Ainda acerca da doutrina, Reale (2004) assevera que não se trata de fonte do Direito,
mas nem por isso deixa de ser uma das molas propulsoras, e mais racional das forças
diretoras, do ordenamento jurídico.

Dentre as funções da doutrina, Franklin (2015) destaca três:

»» Caráter Criador

A doutrina é responsável por acompanhar as transformações sociais que


ocorrem no dia a dia da vida, que afetam diretamente o direito. Na medida
em que a sociedade evolui, o Direito deve seguir o mesmo ritmo de evolução.
Nesse sentido, a Ciência Jurídica deve suprir as antigas ideias por novas e
modernas, sendo a doutrina responsável por essa transformação.

»» Papel Prático da Doutrina

Outra importante função da doutrina consiste em sistematizar o direito,


levando em consideração a grande quantidade de leis, processos, ou novas
normas que o Direito compreende em seu conteúdo. Faz-se necessário,
portanto, um grande estudo doutrinário para sistematizar, e dessa forma
melhorar a interpretação jurídica do objeto tratado.

»» Atividade Crítica

A doutrina deve, ainda, apresentar a qualidade de crítica. Os autores devem


avaliar as doutrinas já existentes, buscar uma análise das obras e procurar

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UNIDADE I │ VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS

defeitos, para que, desse modo, ocorra o conflito de ideias para se chegar a
uma concepção realística da sociedade.

Analogia

Alguns autores indicam a analogia enquanto fonte do direito, outros apenas como um
método de integração de normas.

Na analogia, existe a aplicação de dispositivos legais relativos a casos análogos, ante a


ausência de normas que regulem o caso concreto.

Sabe-se que a lei nunca é suficiente para regular todos os fenômenos que podem ocorrer
na vida em sociedade. Neste momento, então, revela-se o papel da analogia no sistema
jurídico. Não o de fonte formal do Direito, mas de método de integração das normas no
caso concreto.

Assim é o entendimento do professor César Fiuza:

Alguns juristas incluem dentre as fontes do Direito a analogia. Reputo


equivocada essa opinião. Ora, analogia é método, seja de interpretação,
seja de integração do Direito. Momentos há em que a lei não regulamenta
determinado instituto, como é o caso do contrato de fidúcia. Teremos,
então, lacuna na lei. Como resolver questão envolvendo fidúcia se não
há lei regulando a matéria? Usa-se processo analógico, aplicando-se
normas que, por analogia, possam enquadrar-se ao caso. Com base
nisso, vários juristas dizem ser a analogia fonte de Direito. Na verdade, a
fonte, no caso, não foi a analogia, mas sim a própria Lei, que se integrou
ao fato concreto por processo analógico. (FIUZA, 2004)

Ramos do direito

Desde o Direito Romano existe uma classificação básica entre os ramos do Direito
em Direito Público e Direito Privado. Passamos agora, a saber, um pouco sobre as
características de cada ramo e as subáreas do direito que fazem parte de cada ramo.

Direito Público

Este ramo do Direito é voltado para as relações públicas, isto é, entre o Estado e seus
administrados.

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VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS │ UNIDADE I

Direito Privado

Já o Direito Privado tem por base as relações entre os particulares.

Para melhor visualizarmos os ramos do direito, bem como as suas subáreas divididas
por disciplinas jurídicas, observem a seguinte ilustração:

Figura 4. Direito Público – Direito Privado.

Direito Público Direito Privado

Direito
Direito Civil
Constitucional

Direito
Direito Comercial
Administrativo

Direito Penal Direito Trabalhista

Direito Tributário

Direito Financeiro

Fonte: Autor.

Neste capítulo vimos que:

»» O Direito é classificado como uma “ordenação bilateral atributiva das


relações sociais, na busca do bem comum”.

»» As principais fontes do Direito são: as leis, a jurisprudência, a doutrina,


os costumes, a analogia, os princípios gerais do direito.

»» Os principais ramos do Direito se dividem em: Direito Público e Direito


Privado.

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CAPÍTULO 2
Noções de legislação social e
trabalhista

“Todo o Homem que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória,
que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a
dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de
proteção social”.

Declaração Universal dos Direitos do Homem.

A criação da CLT
Dia 1o de maio de 2013 a Consolidação das Leis do Trabalho completaram
70 anos. A CLT foi criada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, e
sancionada pelo presidente Getúlio Vargas, durante o período do Estado Novo.
A Consolidação foi assinada pelo então presidente no Estádio de São Januário
(Club de Regatas Vasco da Gama), que estava lotado para comemorar o feito. Dois
anos antes, em 1941, Getúlio havia assinado a criação da Justiça do Trabalho, no
mesmo local e mesmo dia do ano.

A Consolidação unificou toda a legislação trabalhista então existente no Brasil e


foi um marco por inserir, de forma definitiva, os direitos trabalhistas na legislação
brasileira. Seu objetivo principal é regulamentar as relações individuais e coletivas
do trabalho, nela previstas. Ela surgiu como uma necessidade constitucional,
após a criação da Justiça do Trabalho.

Em janeiro de 1942, o presidente Getúlio Vargas e o ministro do trabalho,


Alexandre Marcondes Filho, trocaram as primeiras ideias sobre a necessidade
de fazer uma consolidação das leis do trabalho. A intenção inicial foi criar a
“Consolidação das Leis do Trabalho e da Previdência Social”.

Foram convidados para fazer parte da empreitada os juristas José de Segadas


Viana, Oscar Saraiva, Luís Augusto Rego Monteiro, Dorval Lacerda Marcondes
e Arnaldo Lopes Süssekind. Na primeira reunião ficou definido que a comissão
seria dividida em Trabalho e Previdência, e que seriam criadas duas consolidações
diferentes.

20
VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS │ UNIDADE I

Entre as fontes materiais da CLT, podem ser citadas três. Em primeiro lugar, as
conclusões do 1o Congresso Brasileiro de Direito Social, realizado em maio de
1941, em São Paulo, para festejar o cinquentenário da Encíclica Rerum Novarum,
organizado pelo professor Cesarino Júnior e pelo advogado e professor Rui de
Azevedo Sodré. A segunda fora às convenções internacionais do trabalho. A
terceira, a própria Encíclica Rerum Novarum (em português, “Das Coisas Novas”),
o documento pontifício escrito pelo Papa Leão XIII a 15 de Maio de 1891, como
uma carta aberta a todos os bispos sobre as condições das classes trabalhadoras.

Os pareceres dos consultores jurídicos Oliveira Viana e Oscar Saraiva, aprovados


pelo ministro do Trabalho, também foram importantes. O código foi ainda
fortemente inspirada na Carta del Lavoro, do governo de Benito Mussolini, na
Itália.

Em novembro de 1942, foi apresentado o anteprojeto da CLT, publicado


posteriormente no Diário Oficial, para receber sugestões. Após estudar o projeto,
Getúlio Vargas deu-o aos coautores, nomeando-os para examinar as sugestões e
redigir o projeto final, assinado em 1o de maio de 1943.

Dois fatores tornaram a CLT um código de vanguarda para a época em que foi
instituída: a ebulição dos movimentos sindicais dos operários na cidade de São
Paulo, inspirados pelos imigrantes anarquistas vindos da Itália, e o fato do Brasil
ser, à época, um país predominantemente agrário. De acordo com especialistas,
o código foi visionário, ao antecipar a urbanização do país.

Fonte: <www.tst.jus.br>

Noções de direito do trabalho


Após realizarmos a primeira análise acerca das noções jurídicas gerais e mais relevantes,
passamos a explorar uma importante faceta do mundo jurídico, que é o Direito do
Trabalho.

É uma matéria de extrema importância para todos os profissionais das mais diversas
áreas, levando em consideração que muitos possuem relação empregatícia, tanto como
empregado quanto empregador. Os direitos trabalhistas são essenciais para a garantia
da dignidade do trabalhador no dia a dia do seu labor, o que contribui, portanto, para
uma sociedade mais justa e equânime.

Para o autor trabalhista Maurício Goldinho Delgado (2008), o Direito do Trabalho tem
por sua categoria fundamental a relação empregatícia e possui duas subcategorias:

21
UNIDADE I │ VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS

o Direito Individual do Trabalho, que consiste no complexo de princípios, regras e


institutos jurídicos que regulam as relações laborais entre empregados e empregadores,
no tocante às pessoas e matérias envolvidas, a relação empregatícia de trabalho, além
de outras relações laborais normativamente especificadas; e o Direito Coletivo do
Trabalho, que pode ser definido como o complexo de princípios, regras e institutos
jurídicos que regulam as relações laborais de empregados e empregadores, além de
outros grupos jurídicos normativamente especificados, considerada sua ação coletiva,
realizada autonomamente ou mediante as respectivas associações (ex.: sindicatos).

Princípios do direito do trabalho

Os princípios gerais do direito, já trabalhados no capítulo anterior, são importantes


diretrizes para todos os ramos do direito, inclusive para o Direito do Trabalho. Entretanto,
nesta seção, nos propomos a analisar os princípios específicos que regulam as relações
trabalhistas e que são mais explorados pela doutrina pátria. Na visão de Vieira (2010) e
Delgado (2008), assim são definidos alguns princípios do Direito obreiro:

Princípio do “in dubio pro operario”

Este princípio reflete a orientação do Direito do Trabalho de que, cabe ao juiz, quando
se deparar com a pluriexistência de sentidos da norma, interpretar a norma em favor
da parte mais fraca na relação jurídica trabalhista, isto é, o empregado. Isto se dá
em razão da hipossuficiência do trabalhador, que geralmente detêm menos recursos
quando comparado ao aparato de uma grande empresa, por exemplo, no âmbito de um
processo trabalhista.

Princípio da norma mais favorável

Esta diretriz indica que, na existência de duas ou mais normas versando sobre o mesmo
assunto, deve-se aplicar a que melhor servir para o empregado. Da mesma forma, isto se
dá levando em conta sua posição hipossuficiente na relação de emprego. O princípio da
proteção do trabalhador resulta das normas imperativas, e, portanto, de ordem pública,
que caracterizam a intervenção básica do Estado nas relações de trabalho, objetivando
opor obstáculos à autonomia da vontade.

22
VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS │ UNIDADE I

Princípio da irrenunciabilidade das garantias legais


do trabalhador

Este princípio reflete o comando constitucional inserido no art. 5o, XXXVI, direito este
já alcançado pelo trabalhador pela Carta Magna. Consiste em assegurar uma série de
garantias absorvidas com seu trabalho. Dessa forma, para a ordem justrabalhista não é
valida a renúncia ou transação de direitos que importe em prejuízo ao trabalhador. Por
trás do princípio, está a tentativa de equilibrar a relação socioeconômica de emprego.

Princípio da primazia da realidade

Informa tal princípio que a realidade de fato (fática, presenciada somente em virtude
dos fatos da vida real) deve ter prioridade em relação às cláusulas pactuadas entre
seus signatários. Isto porque, pode ocorrer das partes compactuem de uma forma e a
prática demonstrar outra realidade. Ou seja, o princípio se comunica com o princípio
da verdade real. O Direito do Trabalho deve pesquisar, preferencialmente, a prática
concreta efetivada ao longo da prestação de serviços.

Princípio da irredutibilidade salarial

Estabelece este princípio que a prestação dada em contrapartida aos trabalhos


empreendidos pelo empregado não pode ser reduzido ao bel prazer do empregador, não
podendo este, por exemplo, fazer descontos aleatórios. Uma vez que se trata de caráter
alimentar, o salário deve ser preservado a fim de atender as necessidades essenciais
do ser humano. Ressalte-se que, é possível flexibilizar este comando, quando houver
descontos somente em virtude de lei, a exemplo do art. 462 da CLT ou ainda em leis de
natureza privatista como acordo ou convenção coletivos (art. 7o, VI, da CF/1988).

Vejamos, portanto, o disposto no artigo 462 da CLT:

Art. 462 – Ao empregador é vedado efetuar qualquer desconto nos


salários do empregado, salvo quando este resultar de adiantamentos,
de dispositivos de lei ou de contrato coletivo.

Princípio da continuidade da relação de emprego

Este princípio objetiva a segurança do empregado mesmo havendo mudança estrutural


ou funcional no seu ambiente de trabalho. Isto indica que, mesmo que exista mudanças
significativas no aspecto de propriedade ou de alteração da estrutura jurídica da
empresa não pode haver afetação quanto ao contrato de trabalho já estabelecido. Este

23
UNIDADE I │ VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS

preceito fora resguardado no art. 5o, XXXVI, da CF/1988, bem como na Consolidação
das Leis do Trabalho nos arts. 10 e 448.

Princípio da nulidade da alteração contratual


prejudicial ao empregado

O presente princípio trata da inalterabilidade contratual lesiva. Reza que é nula, sem
gerar efeitos jurídicos, qualquer disposição contratual sem a prévia concordância das
partes envolvidas no certame, sendo que a alteração in pejus (para piorar) não gera
efeitos de órbita jurídica, pois produz danos diretos e indiretos ao empregado. Desta
forma, qualquer mudança contratual que piore a relação de emprego, com escopo de
prejudicar o empregado, não produz efeitos jurídicos e é vedada pelo ordenamento
jurídico trabalhista. Tal princípio encontra-se disposto na letra do art. 468 da CLT.

Acerca dos princípios do Direito Coletivo do Trabalho saiba mais em: Princípios
do Direito do Coletivo do Trabalho, por Amauri Mascaro Nascimento. Disponível
em: <http://www.tst.jus.br/documents/1295387/1334373/3.+Princ%C3%ADpio
s+do+Direito+Coletivo+do+Trabalho>

Fontes do direito do trabalho

Dentre as principais fontes do Direito do Trabalho está a Constituição Federal de 1988


e a Consolidação das Leis Trabalhistas (Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943).
Além da CLT, existem algumas legislações esparsas que também norteiam a ordem
justrabalhista brasileira, dentre elas:

»» Lei no 605/1949 – Repouso Semanal Remunerado.

»» Lei no 2.757/1956 – Porteiros, Zeladores.

»» Lei no 2.959/1956 – Contrato por Obra ou Serviço Certo.

»» Lei no 3.030/1956 – Desconto por Fornecimento de Alimentação.

»» Lei no 3.207/1957 – Empregados Vendedores, Viajantes ou Pracistas.

»» Lei no 3.857/1960 – Músicos.

»» Lei no 4.090/1962 – Gratificação de Natal.

»» Decreto no 1.232/1962 – Aeroviários.

»» Lei no 4.749/1965 – 13o Salário.


24
VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS │ UNIDADE I

»» Lei no 4.860/1965 – Regime de Trabalho nos Portos Organizados.

»» Lei no 4.886/1965 – Representantes Comerciais Autônomos.

»» Lei no4.950-A/1966 – Remuneração de Profissionais em Engenharia,


Química, Arquitetura, Agronomia e Veterinária.

»» Lei no 5.859/1972 – Empregado Doméstico.

»» Lei no 5.889/1973 – Trabalho Rural.

»» Lei no 6.019/1974 –Trabalho Temporário Urbano.

»» Lei no 6.494/1977 – Estagiários.

»» Lei no 6.533/1978 – Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões.

»» Lei no 6.615/1978 – Radialistas.

»» Lei no 6.919/1981 – FGTS de Diretores.

»» Lei no 6.932/1981 – Médicos Residentes.

»» Lei no 7.183/1984 – Aeronautas.

»» Lei no 7.210/1984 – Trabalho e Serviços do Preso.

»» Lei no 7.418/1985 – Vale-Transporte.

»» Lei no 7.644/1987 – Mãe Social.

»» Lei no 8.036/1990 – Lei do FGTS.

»» Lei no 8.906/1994 – Advogados.

»» Lei no 9.601/1998 – Banco de Horas e Contrato por Prazo Determinado.

»» Lei no 9.719/1998 – Trabalho Portuário.

»» Lei no 10.101/2000 – Participação dos Trabalhadores nos Lucros ou


Resultados.

»» Lei no 10.607/2002 – Declara Feriados Nacionais.

»» Lei no 10.748/2003 – Programa Primeiro Emprego – PNPE.

»» Lei no 10.820/2003 – Desconto de Prestações em Folha de Pagamento .

25
UNIDADE I │ VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS

Contrato e relação de trabalho

Contrato de trabalho

Segundo a CLT, o contrato individual de trabalho é o negócio jurídico em que uma


pessoa física se obriga a realizar atos, executar obras ou prestar serviços para outra e
sob dependência desta, durante um período determinado ou indeterminado de tempo,
mediante o pagamento de uma remuneração de forma voluntária.

Características

Desta forma, podemos verificar as seguintes características da relação empregatícia,


definidos por Delgado (2008):

Trabalho por pessoa física

A prestação de serviços que o Direito do Trabalho leva em consideração é aquela


pactuada entre pessoa física, isto é, a figura do trabalhador há de ser, sempre, uma
pessoa natural.

Pessoalidade

Esta característica indica a impossibilidade do empregado poder substituir-se por outra


pessoa. Difere da anterior porque o trabalho pode ser prestado por pessoa física, mas
não quer dizer que será prestado com pessoalidade.

Não eventualidade

Para que exista a relação empregatícia é necessário que o trabalho prestado tenha caráter
de permanência, ainda que por um curto período determinado, não se classificando
como um trabalho eventual ou esporádico.

Onerosidade

A onerosidade é essencial na relação empregatícia, tendo em vista que se trata de


uma relação de fundo econômico. O contrato de trabalho é um contrato bilateral,
sinalagmático e oneroso, que envolve prestações e contraprestações recíprocas entre as
partes, economicamente mensuráveis.

26
VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS │ UNIDADE I

Subordinação

A subordinação consiste na situação jurídica derivada do contrato de trabalho, pela


qual o empregado compromete-se a acolher o poder de direção empresarial no modo
de realização da sua prestação de serviços. Ocorre, portanto, uma limitação da sua
autonomia da vontade, para o fim de transferir ao empregador o poder de direção da
atividade que desempenhará.

Sujeitos da relação empregatícia

Empregador

Segundo a CLT, empregador é a pessoa física ou jurídica que, assumindo os riscos


da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços,
equiparando-se ao profissional liberal, à instituição de beneficência, às associações
recreativas e outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como
empregados.

Empregado

O empregado, na letra do art. 3 da CLT, é a pessoa física que prestar serviços de natureza
não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.

Trabalhamos neste capítulo os seguintes aspectos:

»» O Direito do Trabalho tem por sua categoria fundamental a relação


empregatícia e possui duas subcategorias: o Direito Individual do
Trabalho e o Direito Coletivo do Trabalho.

»» Dentre os Princípios do Direito do Trabalho estão: o Princípio do “in


dubio pro operario”; o Princípio da norma mais favorável; o Princípio
da irrenunciabilidade das garantias legais do trabalhador; o Princípio
da primazia da realidade; o Princípio da irredutibilidade salarial; o
Princípio da continuidade da relação de emprego e o Princípio da
nulidade da alteração contratual prejudicial ao empregado.

»» As características da relação de emprego são: trabalho por pessoa


física, pessoalidade, não eventualidade, onerosidade e subordinação.

»» Os sujeitos da relação empregatícia são: empregador e empregado.

27
CAPÍTULO 3
Noções de processo judicial

A ideia de acesso à justiça não mais se limita ao mero acesso aos tribunais. Nas
palavras lapidares de Kasuo Watanabe, não se trata apenas de possibilitar o
acesso à justiça enquanto instituição estatal, e sim de viabilizar o acesso à ordem
jurídica justa. E, segundo o mesmo autor, são dados elementares desse direito: o
direito à informação; o direito à adequação entre a ordem jurídica e a realidade
sócio econômica do país; o direito de acesso à uma justiça adequadamente
organizada e formada por juízes inseridos na realidade social e comprometidos
com o objetivo de realização da ordem jurídica justa; o direito a pré-ordenação
dos instrumentos processuais capazes de promover a objetiva tutela dos direitos;
o direito à remoção dos obstáculos que se anteponham ao acesso efetivo à
justiça com tais características. (ADA PELLEGRINI GRINOVER)

Noções processualísticas genéricas


Após conhecermos um pouco mais sobre algumas diretrizes jurídicas gerais e termos
contato com a legislação social e trabalhista brasileira, passaremos a analisar algumas
definições processuais, afim de que o leitor tenha conhecimento de como funciona o
andamento das normas e princípios estudados no âmbito jurisdicional do Estado, isto
é, como funciona o processo dentro do direito brasileiro.

O Direito processual se divide em dois grandes ramos: o Direito Processual Civil e o


Direito Processual Penal. Além deste, também se destaca o Direito Processual do
Trabalho, dada a sua importância nas últimas décadas. Para Freitas Câmara (2006),
esta divisão é feita para fins meramente didáticos e para fins de facilitação da atividade
legislativa.

Segundo Tourinho Filho (2008), a divisão leva em consideração o seu conteúdo e o


seu objeto, posto que se a lide for de natureza extrapenal, a regulamentação normativa
será do Direito Processual Civil. Já, se tratar de causas penais, será tarefa do Direito
Processual Penal.

O Direito processual está estruturado em três conceitos fundamentais, quais sejam a


Jurisdição, a Ação e o Processo, que na visão de Câmara (2006) são assim definidos:

28
VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS │ UNIDADE I

Jurisdição

A jurisdição é a função do Estado de atuar a vontade concreta do direito objetivo, seja


afirmando-a, seja realizando-a praticamente, seja assegurando a efetividade de sua
afirmação ou de sua realização prática. A função jurisdicional possui três características:
a inércia, a substitutividade e a natureza declaratória. Existem ainda, dois tipos de
jurisdição: penal (natureza punitiva) e civil (natureza civil, comercial, administrativa,
trabalhista, constitucional, tributária etc.).

Ação

A ação é uma posição jurídica capaz de permitir a qualquer pessoa a prática de atos
tendentes a provocar o exercício, pelo Estado, da função jurisdicional, existindo ainda
que inexista o direito material afirmado. Em linhas gerais, trata-se do poder de exercer
posições jurídicas ativas no processo jurisdicional, preparando o exercício, pelo Estado,
da função jurisdicional.

Processo

O processo é tido como o procedimento em contraditório animado pela relação jurídico


processual. No processo jurisdicional há uma relação jurídica de Direito Público,
estabelecida entre as partes (autor e réu) e o Estado-juiz, em que este exerce o poder,
em posição de equidistância em relação às partes (imparcialidade).

Visto isso, passamos agora a explorar algumas noções específicas do Processo Civil e
posteriormente do Processo Penal.

Processo Civil

Sujeitos do processo

Os sujeitos do processo são: o Estado-juiz e o Juiz, as partes, os auxiliares da justiça e


o advogado. Veremos cada um deles individualmente, a partir das definições presentes
no Código de Processo Civil:

Juiz

O juiz dirigirá o processo conforme as disposições do CPC, competindo-lhe assegurar


às partes igualdade de tratamento; velar pela rápida solução do litígio; prevenir ou

29
UNIDADE I │ VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS

reprimir qualquer ato contrário à dignidade da Justiça; bem como, tentar, a qualquer
tempo, conciliar as partes.

Dada a importância de sua função, a Constituição Federal reservou aos juízes as seguintes
garantias: vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de
exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a
que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em
julgado; inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público; irredutibilidade de
vencimentos; assim como a irredutibilidade de subsídio.

Dos auxiliares da justiça

O juiz conta com os auxiliares do juízo para o cumprimento de seu ofício. São eles: o
escrivão, o oficial de justiça, o perito, o depositário, o administrador e o intérprete.

Nesse âmbito, verifica-se a importância da figura do perito no processo civil, tendo em


vista que quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico, o juiz
será assistido por perito (art. 145 CPC).

Os peritos serão escolhidos entre profissionais de nível universitário, devidamente


inscritos no órgão de classe competente. Estes comprovarão sua especialidade na
matéria sobre que deverão opinar, mediante certidão do órgão profissional em que
estiverem inscritos.

O CPC dispõe ainda que, nas localidades que não houver profissionais qualificados que
preencham os requisitos dos parágrafos anteriores, a indicação dos peritos será de livre
escolha do juiz.

O perito tem o dever de cumprir o ofício no prazo que Ihe assina a lei, empregando
toda a sua diligência. Pode, todavia, escusar-se do encargo alegando motivo legítimo,
apresentando a escusa dentro de 5 (cinco) dias, contados da intimação ou do
impedimento superveniente, sob pena de se reputar renunciado o direito a alegá-la.

A legislação determina ainda que o perito que, por dolo ou culpa, prestar informações
inverídicas, responderá pelos prejuízos que causar à parte, ficará inabilitado, por 2 (dois)
anos, a funcionar em outras perícias e incorrerá na sanção que a lei penal estabelecer.

Além do perito, o art. 421, I, do CPC, permite que as partes nomeiem um assistente
técnico para atuar no processo, que também deve ser um profissional detentor de
conhecimentos técnicos para diligenciar durante a perícia, garantindo que ocorra
com imparcialidade na defesa das partes, apresentando, inclusive, um parecer sobre o
procedimento.

30
VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS │ UNIDADE I

Partes

As partes são aqueles que pleiteiam e em face de quem se pleiteia a tutela jurisdicional
do Estado, mas conhecidos como autor (polo ativo) e réu (polo passivo).

Advogado

Dispõe o art. 36 do CPC que a parte será representada em juízo por advogado legalmente
habilitado. Ser-lhe-á lícito, no entanto, postular em causa própria, quando tiver
habilitação legal ou, não a tendo, no caso de falta de advogado no lugar ou recusa ou
impedimento dos que houver.

O advogado possui o direito de examinar, em cartório de justiça e secretaria de tribunal,


autos de qualquer processo; requerer, como procurador, vista dos autos de qualquer
processo pelo prazo de 5 (cinco) dias; retirar os autos do cartório ou secretaria, pelo
prazo legal, sempre que Ihe competir falar neles por determinação do juiz.

Objeto do processo

O objeto do processo, na visão de Câmara (2006) é a pretensão processual, ou seja, é


a exigência do demandante no sentido de obter um atuar ou um fazer, ou com mais
precisão, a intenção manifestada pelo demandante de obtenção de um provimento
capaz de lhe assegurar tutela jurisdicional.

Processo Penal

Sujeitos do processo

Os sujeitos do processo são: o Estado-juiz e o Juiz, as partes processuais, os auxiliares da


justiça, o acusador e o ofendido. Vejamos suas características de acordo com o Código
de Processo Penal.

Juiz

Segundo o art. 251 do CPP, ao juiz incumbirá prover à regularidade do processo e manter
a ordem no curso dos respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a força pública.

É disposto ainda que o juiz não possa exercer jurisdição no processo em que:

a. Tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em


linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou

31
UNIDADE I │ VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS

advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da


justiça ou perito.

b. Ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido


como testemunha.

c. Tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato


ou de direito, sobre a questão.

d. Ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim em linha


reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente
interessado no feito.

Ressalte-se que os juízes que atuam na área penal possuem as mesmas garantias do
magistrado civilista.

Dos auxiliares da justiça

Dentre os funcionários da justiça estão o perito e o intérprete.

Na prática penal, existem dois peritos: um oficial do órgão e outro nomeado pelo
magistrado, de sua confiança, que não faz parte dos quadros públicos.

No âmbito do processo penal o perito, ainda quando não oficial, estará sujeito à
disciplina judiciária. Ainda fora determinado pela lei penal que as partes não intervirão
na nomeação do perito.

O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar o encargo, sob pena de multa
de cem a quinhentos mil-réis, salvo escusa atendível. Incorrerá na mesma multa o
perito que, sem justa causa, provada imediatamente:

a. Deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade.

b. Não comparecer no dia e local designados para o exame.

c. Não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja feita, nos prazos
estabelecidos.

Ainda dispõe a lei que no caso de não comparecimento do perito, sem justa causa, a
autoridade poderá determinar a sua condução.

32
VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS │ UNIDADE I

Na leitura do art. 279, podemos verificar que:

Art. 279. Não poderão ser peritos:

I – os que estiverem sujeitos à interdição de direito mencionada nos ns.


I e IV do art. 69 do Código Penal;

II– os que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado


anteriormente sobre o objeto da perícia;

III – os analfabetos e os menores de 21 anos.

Partes Processuais

As partes do processo penal são a parte acusadora e a parte acusada. Ordinariamente


o Ministério Público possui a legitimidade ativa, posto que a parte legítima é o Estado.
Porém, extraordinariamente, como nos crimes de alçada privada poderá a parte legítima
ser o ofendido ou quem o represente.

Acusador

Em regra, como já exposto acima, o papel do acusador é exercido pelo Ministério


Público. Ao MP cabe promover, privativamente, a ação penal pública e fiscalizar a
execução da lei.

O ofendido poderá ser acusador nas hipóteses de ação penal privada.

Ainda, no âmbito da ação penal popular, prevista na Lei no 1.079/1950 e na Constituição


Federal (art. 52, I e II), qualquer cidadão poderá ser acusador no âmbito dos crimes de
responsabilidade.

Ofendido

O ofendido, ou vítima, é o sujeito passivo da infração penal, ou seja, o titular do direito


lesado ou posto em perigo pelo crime (TOURINHO FILHO, 2008).

Finalidade do processo

Na visão de Tourinho Filho (2008), a finalidade do processo penal é assegurar a


paz social, por meio da realizabilidade da pretensão punitiva derivada de um delito,
utilizando a garantia jurisdicional, tornando realidade o Direito Penal.

33
UNIDADE I │ VISÃO GERAL DO DIREITO: CONCEITOS BÁSICOS

Deste capítulo podemos absorver que:

»» O Direito processual se divide em dois grandes ramos: o Direito


Processual Civil e o Direito Processual Penal.

»» O Direito processual está estruturado em três conceitos fundamentais,


quais sejam a Jurisdição, a Ação e o Processo.

»» Os sujeitos do processo civil são: o Estado-juiz e o Juiz, as partes, os


auxiliares da justiça e o advogado.

»» Os sujeitos do processo penal são: o Estado-juiz e o Juiz, as partes


processuais, os auxiliares da justiça, o acusador e o ofendido.

O caso dos exploradores de cavernas

Em Newgarth, 4299, cinco membros de uma sociedade espeleológica entram


em uma caverna e acabam soterrados. As vítimas conseguem entrar em contato
com as equipes de resgate que estão do lado de fora da caverna por meio de
um rádio. Depois de vinte dias são informados de que o resgate irá demorar e
podem morrer de fome. Um dos exploradores, Whetmore, convence os outros
de que um deve ser sacrificado para servir de comida aos outros e propõe um
sorteio para escolher o sacrificado. Whetmore resolve não participar desse
sorteio, e seus amigos se sentem traídos por ele, porém, consentem em sacrificar
alguém e o sorteado acaba sendo Whetmore aquele que deu a ideia. Depois que
são resgatados, os quatro sobreviventes vão a julgamento por homicídio. O juiz
Foster afirma que os exploradores estavam fora da sociedade, convivendo em
uma realidade diferente e que por isso não estariam sujeitos às leis de Newgarth.
O juiz Keen sustenta que as leis devem ser aplicadas a qualquer custo, afirmando
que os exploradores cometeram homicídio e, portanto devem ser condenados.

(Adaptado de <http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Caso_dos_Exploradores_de_Caverna>).

Com qual dos juízes em você concorda?

Aponte os fundamentos para a sua decisão, com base nas suas percepções
jurídicas iniciais, bem como de acordo com sua vivência social.

34
FONOAUDIOLOGIA UNIDADE II
FORENSE

CAPÍTULO 1
Noções de perícia

Palestrantes explicam o trabalho do


fonoaudiólogo perito
A sala cheia de profissionais e estudantes refletiu bem o interesse que o tema
da perícia fonoaudiológica desperta nos congressistas. Desde o ano passado,
quando foi abordado nas mesas do Sistema de Conselhos Federal e Regionais
de Fonoaudiologia pela primeira vez, o assunto suscita dúvidas de profissionais
e estudantes que estão ansiosos por informações.

A mesa trouxe dois fonoaudiólogos que atuam na área: Jovani Steffani, professor
da Universidade do Peste de Santa Catarina, e Mariene Hidaka, docente da
Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas. Ambos relataram como é
desenvolvido o trabalho do perito e do assistente técnico.

Jovani Steffani explicou sobre as bases legais que permitem a atuação do


fonoaudiólogo na área e fez uma leve crítica aos profissionais. “Temos respaldo
da Constituição para desenvolver a atividade. Não há o que discutir quanto a
nossa competência para realizar perícia. Não se deixem enganar pelo que dizem.
O fonoaudiólogo só não ocupa esse espaço por causa do mau hábito de acreditar
em tudo que nos falam, sem depois ir buscar informações oficiais”, diz.

A integrante do Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa), Nise Cardoso, que


mediou a mesa de debates, foi mais enfática.“O grande inimigo da Fonoaudiologia
é o próprio fonoaudiólogo. Muitos não assumem a responsabilidade de seus
atos, não atuam com autonomia e a autoridade técnica que o saber e a lei lhes
conferem. Exemplo disso é o mito do diagnóstico nosológico, cujas patologias
estão descritas na Classificação Internacional de Doenças e são largamente
utilizadas por fonoaudiólogos no âmbito de sua atuação”, avalia.

35
UNIDADE II │ FONOAUDIOLOGIA FORENSE

Perfil, mercado e ética

O profissional que pretender ingressar nessa área deve ter capacidade de


raciocínio espacial e lógico, conhecimento técnico e de leis trabalhistas,
concentração, controle emocional e ética. De acordo com os palestrantes, as
maiores solicitações de perícia estão nas áreas de Voz e Audição, por conta dos
processos trabalhistas. No entanto, há demandas não atendidas em Motricidade
Orofacial e Linguagem.

A perícia é a forma de o especialista demonstrar, por meio de laudo, a verdade


dos fatos contestados. Para isso, a ética profissional é imprescindível. “O
fonoaudiólogo precisa ser imparcial em seus laudos técnicos, ser idôneo, seja ele
perito ou assistente técnico. Deve colocar seus conhecimentos a favor da justiça
para que o magistrado dê a sentença da forma mais justa possível”, esclarece
Mariene Hidaka, fonoaudióloga perita.

A professora da PUC-Campinas diz que a área está carente de profissionais.


Ela disse que já soube de casos em que um ortopedista foi indicado para fazer
perícia em um caso em que seria o fonoaudiólogo o profissional habilitado para
exercer a atividade.

Como é o trabalho?

Há as funções de perito e de assistente técnico. O perito é indicado por um


juiz para esclarecer as provas técnicas fornecidas por ambas às partes de um
processo judicial: reclamante e reclamado. O advogado de cada uma dessas
partes pode indicar um assistente técnico, que, dependendo do caso, pode ser
também outro fonoaudiólogo.

O perito é quem faz laudo pericial, que contem as impressões resultantes


das investigações. O assistente técnico terá a função de levantar informações
específicas do cliente – reclamante ou reclamado – e encaminhá-las ao perito,
que vai analisar todas as provas.

O trabalho dos assistentes técnicos continua. Eles vão acompanhar, durante todo
o processo, o trabalho do perito para se certificarem da isenção e idoneidade da
avaliação. No entanto, o juiz é livre para tomar qualquer posição, independente
do teor da perícia.

POR COORDENAÇÃO CFFA FONOAUDIOLOGIA

Disponível em:<http://www.fonoaudiologia.org.br/cffa/index.php/2012/11/palestrantes-
explicam-o-trabalho-do-fonoaudiologo-perito/>

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FONOAUDIOLOGIA FORENSE │ UNIDADE II

Perícia no processo judicial


Segundo Tourinho Filho (2008) entende-se por perícia o exame procedido por pessoa
que tenha determinados conhecimentos técnicos, científicos, artísticos ou práticos
acerca de fatos, condições pessoais ou mesmo de circunstancias relevantes para o desate
da questão, a fim de comprová-los.

Áreas de atuação do profissional pericial


O campo da perícia e da Fonoaudiologia Forense tem tido grande expansão na área
de atuação dos fonoaudiólogos. Nesse sentido, os estudantes desta graduação já
vislumbram esta área como potencial espaço no mercado de trabalho.

Assim como relata Gorski (2013), a Fonoaudiologia é a ciência da saúde responsável pela
promoção, diagnóstico, orientação, tratamento, monitoramento e aperfeiçoamento de
questões relacionadas à comunicação humana, tais como audição periférica e central,
função vestibular, linguagem oral e escrita, articulação da fala, voz, fluência, deglutição
e sistema miofuncional orofacial e cervical.

Trata-se de uma ciência ainda nova se comparada a outras profissões da saúde, mas
com uma possibilidade de atuação bem ampla. Está presente em diversos segmentos
sociais, inclusive na justiça.

Gorski (2013) explica que, “o Fonoaudiólogo é um profissional que está apto a realizar
perícia que se relaciona ao seu campo de conhecimento, direito este não apenas
assegurados pelo CPC, como também pelo Código de Ética do Profissional Fonoaudiólogo
que prevê em seu art. 25: “Qualquer Fonoaudiólogo, no exercício de sua profissão, pode
ser nomeado perito para esclarecer a Justiça em assuntos de sua competência”. E não
obstante o Conselho Federal de Fonoaudiologia editou a Resolução no 214/1998 que
delibera: “É permitido ao Fonoaudiólogo atuar judicial ou extrajudicialmente como
perito em assuntos de sua competência”.

Relatam ainda, os autores, que pesquisas demonstram que o mercado de atuação


pericial e áreas afins ampliam-se significantemente a cada dia, mas ainda se observam
poucas incursões da Fonoaudiologia Brasileira no campo da perícia. Percebe-se que se
trata de uma área nova que, na realidade, ainda é pouco difundida e explorada pelos
fonoaudiólogos.

O Fonoaudiólogo forense atua nas situações em que a perícia depende de conhecimentos


técnicos que envolvam a comunicação humana em todos os seus aspectos, em ações
cíveis, criminais e trabalhistas, bem como durante o curso de investigações policiais
e ministeriais, podendo ser nomeado perito oficial, perito judicial, perito ad doc ou
assistente técnico.

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UNIDADE II │ FONOAUDIOLOGIA FORENSE

Este profissional pode realizar os seguintes exames:


»» Identificação Biométrica de Falante – Perícia de Voz, Fala e Linguagem.
»» Identificação Biométrica da Escrita – Grafotecnia.
»» Análise de Conteúdo de Áudio e Vídeo.
»» Análise do Perfil Comunicativo do Falante.
»» Biometria Facial.
»» Transcrição e Textualização de Áudios.
»» Verificação de Edição em Arquivos Audiovisuais.
»» Análise de Linguagem Criptografada.
»» Exames Ocupacionais e lides trabalhistas (MARIA, 2013).

Ressalte-se que o profissional em fonoaudiologia pode trabalhar no processo


judicial tanto como perito oficial ou como assistente, na forma do art. 421, I do
Código de Processo Civil, porém existem diferenças entre eles. A prova pericial
é produzida pelo perito nomeado pelo juiz. Já o assistente atua quando indicado
pelas partes e consequentemente defende seus interesses.

Segundo o perito Márcio Opliger Pinto, o exame pericial que mais abarca os conhecimentos
da Fonoaudiologia é a Verificação de Locutor, em que se busca determinar a autoria da
fala registrada em alguma mídia. Esse exame é realizado a partir da comparação da
fala de um suspeito, usualmente gravado em um procedimento chamado de Coleta de
Padrão de Voz, com a fala presente em uma gravação objeto do Inquérito (fase policial)
ou do Processo (fase judicial). (PINTO, 2012)

Observamos neste capítulo que:

»» Perícia é o exame procedido por pessoa que tenha determinados


conhecimentos técnicos, científicos, artísticos ou práticos acerca de
fatos, condições pessoais ou mesmo de circunstâncias relevantes para
o desate da questão, a fim de comprová-los.

»» O Fonoaudiólogo forense atua nas situações em que a perícia depende


de conhecimentos técnicos que envolvam a comunicação humana
em todos os seus aspectos, em ações cíveis, criminais e trabalhistas,
bem como durante o curso de investigações policiais e ministeriais,
podendo ser nomeado perito oficial, perito judicial, perito ad doc ou
assistente técnico.

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CAPÍTULO 2
Noções procedimentais para a
atuação em perícia

A prova é um recurso por meio do qual se constrói a convicção do juiz no


tocante a ocorrência dos fatos. Isto é, toda forma de entendimento empregado
pelo indivíduo com o objetivo de se evidenciar a veracidade de uma alegação.
A função fundamental da prova pericial é a de transformar os fatos técnico-
científicos referentes à certa alegação em certeza jurídica.

(DENISE B).

Procedimento da perícia no âmbito judicial


Neste tópico, iremos analisar as principais nuances legislativas e doutrinárias que
norteiam a perícia em três grandes campos de aplicação para o profissional que deseja
atuar nesta seara, quais sejam: no processo criminal, no processo civil e no processo
trabalhista.

Perícia no Processo Penal

No âmbito processual penal a autoridade policial, na fase de inquérito, possui o dever


jurídico de determinar, se for o caso, a realização de exames periciais (art. 6o, VII,
CPP). Já a autoridade judiciária, na seara do processo judicial, não possui este dever,
possuindo a liberdade de determinar que se procedam a exames periciais ou não.

As partes poderão requerer exames periciais e a autoridade deverá indeferir o pedido


caso verifique a desnecessidade do exame para o esclarecimento da verdade.

Conforme Tourinho Filho (2008), no Brasil vigora o princípio liberatório quanto ao juiz
ficar vinculado à perícia para seu julgamento. A realização da perícia fica a critério do
magistrado e, quanto à sua avaliação, o Juiz não fica adstrito ao laudo, podendo aceitá-
lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte.

Na última reforma do Código de Processo Penal, algumas modificações foram feitas,


no sentido de assegurar às partes maior possibilidade de exercer o contraditório (dizer
em contrário), em relação à prova produzida pelo expert, seja por intermédio de

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UNIDADE II │ FONOAUDIOLOGIA FORENSE

questionamentos em audiência ou por escrito, seja diante da possibilidade de nomeação


de assistentes técnicos. (MENDONÇA, 2008).

O Código de Processo Penal diferencia três profissionais que poderão atuar na perícia:

»» Perito oficial.

»» Perito não oficial (nomeado pelo Juiz).

»» Assistente técnico.

Para Dias (2010), o perito criminalístico possui inúmeras atribuições, entretanto,


pode-se dizer que este exerce a função principal de fornecedor de dados instrutórios
de natureza material destinados à descoberta da verdade, se dedicando à apuração de
fatos supostamente considerados delitivos, isto é, examinando situações fáticas que
tem minimamente aparência criminosa.

Explica ainda o autor que, na redação anterior do art. 159 do Código de Processo Penal
Brasileiro preconizava que a perícia deveria ser realizada por dois peritos oficiais, do
qual na falta destes, por duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior
e com habilitação técnica relacionada à natureza do exame pericial necessário.

Entretanto, com o advento da Lei no 11.690/2008, proporcionou-se uma nova redação


ao caput do mencionado artigo, passando a exigir apenas um perito oficial e que este
portasse diploma superior. Por outro lado, em se tratando de uma perícia complexa
a ser realizada, em decorrência de abranger mais de uma área de conhecimento
especializado, o magistrado poderá nomear mais de um perito oficial, e a parte possui a
faculdade de indicar mais de um assistente técnico, na forma do art. 159, parágrafos 1o
e 7o, do Código de Processo Penal Brasileiro.

Outra novidade diz respeito ao assistente técnico acima mencionado. A Lei no 11.690/2008
disponibilizou as partes, ao Ministério Público, ao querelante, ao assistente de acusação, e,
também ao acusado a prerrogativa de elaborarem quesitos e indicarem assistente técnico,
que passará a atuar a partir de sua admissão pelo juiz, e, somente após a conclusão dos
exames e elaboração do laudo pelo perito oficial, com intimação das partes.

A função do assistente é a de auxiliar a parte e também convencer o magistrado,


levando em consideração que este não é vinculado ao laudo do perito oficial. Deve o
assistente criticar a solução do perito, quando necessário, prestigiando a ampla defesa
e o contraditório. Ressalta-se que como o assistente é uma pessoa de confiança das
partes, não se aplicam as causas de suspeição e impedimento dos magistrados.

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FONOAUDIOLOGIA FORENSE │ UNIDADE II

Os peritos não oficiais deverão prestar seu compromisso de fielmente desenvolver


suas atribuições, por meio de um juramento. Para o perito oficial esta obrigação não é
necessária, posto que quando foi empossado em seu cargo já assumiu seu compromisso,
quando do ato de sua posse.

Os peritos elaborarão o laudo pericial, que descreverão minuciosamente o que


examinarem e responderão aos quesitos formulados.

Dias (2010) ressalta que todas as provas devem ser submetidas ao contraditório,
devendo também ser produzidas diante do juiz, na instrução. Porém, em algumas
ocasiões se faz necessária a imediata produção da prova pericial, antes do encerramento
da fase de investigação, a fim de comprovar-se cabalmente a materialidade do delito e
identificação de sua autoria. Desta forma, quando da realização das provas de natureza
cautelar não será possível à participação da defesa, sob o risco de ser inviabilizada a
persecução penal.

Nesse sentido, quando da produção da prova pericial, o contraditório só poderá ser


realizado em juízo, passada a primeira fase persecutória, limitando-se ao exame acerca
da idoneidade do profissional responsável pela perícia, e, também, das conclusões
alcançadas, quando já perecido o material periciado. Em consequência disso, o objeto
da prova, na maioria das vezes, será a qualidade técnica do laudo, e, especialmente,
o cumprimento das normas legais a ele pertinentes, por exemplo, a exigência de
motivação, de coerência, de atualidade e idoneidade dos métodos, dentre outros.

Outra novidade, trazida na lição de Mendonça (2008), diz respeito à possibilidade de as


partes, durante o curso do processo judicial e após a elaboração da perícia, requererem
a oitiva do perito em audiência, caracterizando uma expansão da ampla defesa no
processo penal.

Desta forma, para fazer valer o seu direito de ouvir o perito, a parte interessada nos
esclarecimentos deve enviar as perguntas ao juiz na forma de quesitos, com o intuito
de permitir que o perito possa se preparar adequadamente para esclarecer as questões.
A intimação deve ser feita em um prazo de 10 (dez) dias da audiência de instrução,
que as questões já deverão ser recebidas. As partes, portanto, devem envia-las com
a antecedência mínima necessária, sob pena de não estar obrigado a prestar os
esclarecimentos.

Além da oitiva do perito, as partes ainda podem apresentar quesitos complementares


para que sejam respondidos pelo perito em laudo complementar, a fim de esclarecer a
prova pericial que já fora produzida.

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UNIDADE II │ FONOAUDIOLOGIA FORENSE

Na forma do art. 159, parágrafo 6o do CPP, o material pericial analisado será


disponibilizado no ambiente do órgão oficial, desde que, possa ser conservado de maneira
correta e mantida sob a responsabilidade do órgão oficial, afim de que os assistentes
tenham acesso a ele, podendo, dessa forma, elaborar os pareceres pertinentes.

Observação 1: O analfabeto não pode ser perito em razão do disposto no art. 279,III do
CPP.

Observação 2: As partes não podem indicar o perito no Direito Penal, na ótica do art.
276 do CPP, somente podendo ser indicado pela Autoridade Judiciária.

Sobre a perícia em processo penal, adquira mais conhecimentos em:

Da Prova Perícial, por Rogério Tadeu Romano. Disponível em: <https://www.jfrn.


jus.br/institucional/biblioteca/doutrina/doutrina245_DaProvaPericial.pdf>

Perícia no Processo Civil

No procedimento civil ordinário, o requerimento de prova pericial será em regra


realizado na fase postulatória, isto é, na petição inicial ou na resposta do réu. Entretanto,
eventualmente poderá ocorrer no curso do processo, caso seja necessário. (MARINONI,
2007)

Sendo a produção de prova pericial deferida, será nomeado o perito e será fixado prazo
para a entrega do laudo.

O CPC determina, ainda, os casos de indeferimento da perícia, no parágrafo único do


art. 420, a seguir transcrito:

Parágrafo único. O juiz indeferirá a perícia quando:

I – a prova do fato não depender do conhecimento especial de técnico;

II –for desnecessária em vista de outras provas produzidas;

III – a verificação for impraticável.

Assim ocorrerá o procedimento, para os casos de deferimento da perícia:

»» O perito apresentará o laudo em cartório, no prazo fixado pelo juiz, pelo


menos 20 (vinte) dias antes da audiência de instrução e julgamento.

»» Os assistentes técnicos oferecerão seus pareceres no prazo comum de 10


(dez) dias, depois de intimadas as partes da apresentação do laudo.

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FONOAUDIOLOGIA FORENSE │ UNIDADE II

»» Quando o exame tiver por objeto a autenticidade ou a falsidade de


documento, ou for de natureza médico-legal, o perito será escolhido, de
preferência, entre os técnicos dos estabelecimentos oficiais especializados.
O juiz autorizará a remessa dos autos, bem como do material sujeito a
exame, ao diretor do estabelecimento.

»» A parte, que desejar esclarecimento do perito e do assistente técnico,


requererá ao juiz que mande intimá-lo a comparecer à audiência,
formulando desde logo as perguntas, sob forma de quesitos. O perito e
o assistente técnico só estarão obrigados a prestar os esclarecimentos
quando intimados cinco dias antes da audiência.

»» O juiz poderá determinar de ofício ou a requerimento da parte, a realização


de nova perícia, quando a matéria não Ihe parecer suficientemente
esclarecida. A segunda perícia tem por objeto os mesmos fatos sobre que
recaiu a primeira e destina-se a corrigir eventual omissão ou inexatidão
dos resultados a que esta conduziu.

Ainda conforme Marinoni (2007), a perícia só tem início com a intimação prévia das
partes e da dará e do local em que os trabalhos serão iniciados (art. 431-A CPC) Este
dispositivo objetiva permitir a adequada participação das partes e de seus assistentes
técnicos no desenvolvimento da prova pericial.

Para a realização da perícia, o perito e o assistente podem socorrer-se de todos os meios


de coleta de dados necessários, sendo possível, e inclusive, recomendável, que todos
esses elementos constem no laudo pericial.

Segundo nos ensina Marinoni (2007), a produção de prova pericial pode ser
absolutamente informal quando a natureza do fato o permitir, podendo consistir apenas
na inquirição pelo juiz do perito e dos assistentes técnicos a respeito do que foi avaliado
ou examinado informalmente.

Vale ressaltar que, a perícia judicial pode ser demandada nas instâncias federal e
estadual. Na federal, a perícia visa à produção de prova para auxiliar na resolução de
conflitos entre a União ou suas entidades vinculadas e os cidadãos e demais entidades
privadas. (MORAIS, 2000).

Perícia no Processo do Trabalho

Na lição de Amauri Mascaro Nascimento (2009), as perícias mais frequentes no


processo trabalhista versam sobre insalubridade, periculosidade, comissões, diferenças

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UNIDADE II │ FONOAUDIOLOGIA FORENSE

salariais, composição de salário básico acrescido de acessórios, verbas rescisórias e


horas extraordinárias.

Quanto ao procedimento da perícia, o processo trabalhista acompanha as normas do


processo civil.

No entanto, cabe destacar que, nos termos do art. 195 da CLT, a perícia é obrigatória
quando for arguida em juízo insalubridade ou periculosidade.

Assim, dispõe o § 2o do referido dispositivo legal:

Arguida em juízo insalubridade ou periculosidade, seja por empregado,


seja por Sindicato, em favor de grupo de associados, o juiz designará
perito habilitado na forma deste artigo e, onde hão houver, requisitará
perícia ao órgão competente do Ministério do Trabalho.

Segundo Schiavi (2015), a perícia no processo do trabalho pode ser realizada tanto
na fase de conhecimento como de execução. Na fase de conhecimento são típicas as
perícias de insalubridade, periculosidade, médica, grafotécnica e contábil. Já na fase de
execução, são comuns as perícias contábeis e de arbitramento.

Relata o autor que também no procedimento trabalhista, na elaboração do laudo pericial,


o perito ouvirá os depoimentos de informantes, de paradigmas ou mesmo de terceiros,
assim como se valerá de quaisquer outras fontes de informação, solicitando documentos
que estejam em poder da parte ou mesmo em repartições publicas, instruindo o seu
laudo, nos dizeres do art. 429 do CPC, com plantas, desenhos, fotografias ou outras
peças.

Quando presentado o laudo pericial, o magistrado do trabalho determinará a intimação


das partes para tomar conhecimento do mesmo, no prazo de cinco dias e, querendo,
impugná-lo.

O autor ressalta ainda que a delimitação do agente insalubre ou perigoso na petição


inicial não deverá ser considerada pelo perito na apuração das condições de trabalho
verificadas in loco, uma vez que se constatada a existência de outros elementos que são
adversos à saúde do trabalhador, quando da vistoria técnica, os mesmos deverão ser
levantados e apreciados na elaboração do laudo pericial.

Este entendimento se consubstancia no fato de que o autor não tem conhecimentos


técnicos suficientes para dizer qual é o elemento que lhe faz mal à saúde, dado que só o
perito terá condições de informar ao juízo, levando em consideração seus conhecimentos
técnicos.

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FONOAUDIOLOGIA FORENSE │ UNIDADE II

Ainda na lição de Schiavi (2015), nesta situação o juiz trabalhista poderá reconhecer
condição insalubre ou periculosa, por exemplo, se for constatado no local de trabalho
que há agente nocivo diverso do apontado na inicial, não configurando julgamento
extra petita (fora do pedido), pois o requerido foi o adicional de periculosidade ou
insalubridade, independente do agente causador.

Dentre alguns exames periciais realizados pelo Fonoaudiólogo no âmbito trabalhista


estão:

»» Perícias para análise de nexo de causalidade entre as alterações auditivas


e a atividade ocupacional.

»» Perícias para análise de nexo causal entre alterações de voz e a atividade


ocupacional.

Neste capítulo vimos que:

»» O Código de Processo Penal diferencia três profissionais que poderão


atuar na perícia: o perito oficial; o perito não oficial (nomeado pelo
juiz) e o assistente técnico.

»» Os peritos elaborarão o laudo pericial, do qual descreverão


minuciosamente o que examinarem e responderão aos quesitos
formulados.

»» As perícias possuem diferentes procedimentos no âmbito do processo


penal e do processo civil e trabalhista.

Estudo de caso

O juiz criminal responsável pelo processamento de determinada ação penal


instaurada para a apuração de crime contra o patrimônio, cometido em janeiro
de 2010, determinou a realização de importante perícia por apenas um perito
oficial, tendo sido a prova pericial fundamental para justificar a condenação
do réu. Considerando essa situação hipotética, esclareça, com a devida
fundamentação legal, a viabilidade jurídica de se alegar eventual nulidade em
favor do réu, em razão de a perícia ter sido realizada por apenas um perito.
(Exame de Ordem – Cespe)

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CAPÍTULO 3
Fonoaudiologia e perícia

A necessidade de Fonoaudiólogos atuando em perícia é fato, porém também há


carência de concursos para a inserção destes profissionais e necessidade de maior
divulgação desta atuação junto a juízes e promotores. Além disso, os próprios
Fonoaudiólogos devem buscar compreender melhor essa área de atuação, pois,
na ausência ou falta de fonoaudiólogos atuando em questões que envolvem a
comunicação, outros profissionais acabam preenchendo essa lacuna, como no
caso dos Estados que não contam com fonoaudiólogos atuando em perícias de
identificação de falante e, desta forma, engenheiros, físicos, químicos, biólogos
e músicos acabam exercendo a função.

(Leslie Palma Gorski; Suleny Gomes Lopes; Etienne Barbosa da Silva - Perícia fonoaudiológica:
conhecimento e atuação dos profissionais da fonoaudiologia de dois estados do Brasil)

Alguns requisitos ao fonoaudiólogo para o


exercício da atividade de perícia
No âmbito dos requisitos ao fonoaudiólogo no exercício da atividade de perícia, é
importante tecer comentários acerca do parecer do Conselho Federal de Fonoaudiologia
(Parecer CFFa no 36, de 30 de julho de 2014), levando em consideração que ele dispõe
sobre a competência do Fonoaudiólogo para atuar em Perícia de Voz, Fala e Linguagem
– Exame de Comparação Forense de Falantes.

Segundo o parecer, são necessárias as seguintes características ao perito:

a. Ser habilitado e capacitado tecnicamente.

b. Apresentar perfil psicológico compatível com a atividade profissional.

c. Ter disciplina, organização e ética na realização do trabalho pericial.

d. Estar aparelhado, tecnicamente, para o desempenho da Perícia em Voz,


Fala e Linguagem – Exame de Comparação Forense de Falantes.

e. Dominar o conhecimento específico e das áreas afins.

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FONOAUDIOLOGIA FORENSE │ UNIDADE II

Quanto à formação exigida, o parecer indica a necessidade de:

a. Ter, no mínimo, o Título de Especialista com pesquisa e resultados


direcionados à Perícia de Voz, Fala e Linguagem ou áreas afins.

b. Comprovar aperfeiçoamento na área pericial (Voz, Fala e Linguagem),


realizado em Sociedades, Associações, Academias, Entidades e
Instituições relacionadas à Perícia.

c. Adquirir conhecimentos sólidos em Fonoaudiologia, Fonética Forense,


Fonéticas Articulatória, Experimental, Perceptiva e Estilística, Análise
do Discurso, Acústica e Informática, com domínio dos métodos,
instrumentos e programas utilizados.

d. Conhecer os equipamentos e dominar os procedimentos de colheita de


material padrão, de digitalização de áudio, de filtragem de ruídos, de
autenticação da veracidade/fidelidade do material sonoro e de análise de
conteúdo e perfil do falante.

Em relação ao conhecimento acerca da legislação, é indicado no parecer ao profissional:

a. Observar o disposto sobre a matéria no Código de Processo Penal, Código


de Processo Civil e outras leis que tratam do assunto em questão.

b. Ter conhecimento e domínio das Leis, do Código de Ética da


Fonoaudiologia e das Resoluções cujos artigos embasam o exercício da
Perícia, a fim de fundamentar o Laudo Técnico sobre a Perícia em Voz,
Fala e Linguagem – Exame de Comparação Forense de Falantes.

c. Ter conhecimento e domínio das Leis, do Código de Ética da Fonoaudiologia


e das Resoluções cujos artigos embasam o exercício da Perícia, a fim de
fundamentar o Laudo Técnico de Identificação Biométrica baseada em
Voz, Fala e Linguagem – Exame de Comparação Forense de Falantes.

Em relação à experiência para a atividade da perícia, no parecer é recomendado que o


profissional tenha:

a. Ter realizado Perícias em Voz, Fala e Linguagem – Exame de Comparação


Forense de Falantes em cursos de formação específica.

b. Ter participado de colheita de material padrão, observando-se os


procedimentos metodológicos consagrados para tal fim.

c. Ter vivenciado a digitalização de áudio em cursos de formação e


treinamentos específicos.

47
UNIDADE II │ FONOAUDIOLOGIA FORENSE

d. Ter trabalhado com programa(s) e método(s) utilizado(s) pelos Peritos


de Voz, Fala e Linguagem – Exame de Comparação Forense de Falantes.

e. Ter o domínio esperado da linguagem a ser empregada no Laudo Técnico


– concisa, objetiva e direta.

f. Ter experiência profissional em Perícia de Voz, Fala e Linguagem - Exame


de Comparação Forense de Falantes, preferencialmente.

Por fim, com relação ao Laudo Técnico (Laudo/Parecer do Assistente Técnico), o Perito
em Voz, Fala e Linguagem precisa atentar para:

a. o registro/identificação do Processo;

b. os dados do requerente/solicitante;

c. o local de tramitação;

d. o objetivo da Perícia;

e. a descrição pormenorizada do material periciado;

f. o método/metodologia utilizado;

g. os equipamentos obrigatórios/necessários;

h. as respostas aos quesitos apensados ao Processo;

i. a necessidade de inclusão de fotos, tabelas e gráficos;

j. a anexação do Currículo Vitae ou Lattes, contendo a comprovação da


formação exigida para a atuação em Perícia de Voz, Fala e Linguagem –
Exame de Comparação Forense de Falantes.

Visualizamos neste capítulo que:

»» O parecer do Conselho Federal de Fonoaudiologia (Parecer CFFa no 36,


de 30 de julho de 2014), dispõe sobre a competência do Fonoaudiólogo
para atuar em Perícia de Voz, Fala e Linguagem – Exame de Comparação
Forense de Falantes, trazendo diversos requisitos ao profissional para
o exercício desta atividade.

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INTRODUÇÃO À UNIDADE III
ÉTICA E BIOÉTICA

CAPÍTULO 1
Noções sobre ética

Ética: a conduta que faz a diferença.

“Princípios são dominantes nas ações. As pessoas podem duvidar do que você
diz, mas elas acreditarão no que você faz.”

À medida que a globalização se estende, torna-se cada vez mais latente a


necessidade de desenvolver uma visão do mundo pautada na civilidade. Nesse
movimento, cada um de nós tem sua parcela de responsabilidade no que cabe à
formação de uma sociedade mais humana e sustentável.

A ética visa garantir que nossas disposições ofereçam benefícios de forma geral
ao ambiente do qual vivemos e às pessoas com quem convivemos. À medida
que nos tornamos capazes de acatar o ponto de vista do outro, certamente
estaremos contribuindo com o propósito maior com o propósito maior de
construir relações interpessoais que sejam saudáveis e que produzam bons
resultados para os envolvidos. Cultivar uma conduta ética na vida pessoal e
profissional vai muito além de uma mera questão de opção, é uma obrigação.

Antes de manifestar nossas intenções, devemos pensar na forma como as


mesmas afetam a vida das pessoas ao nosso entorno, relevar determinados
comportamentos pelo fato de que devemos, sim, condescender quanto às
limitações e resistências dos nossos amigos, familiares, colegas e, inclusive,
desconhecidos, quando necessário. Não podemos garantir individualmente
todos os resultados das nossas interações, mas temos responsabilidades em
tudo que nos envolvemos.

É primordial que nossas ações sejam desenvolvidas em uma perspectiva de


grupo, exercendo a empatia e conciliando nossos valores com boas condutas,
tendo a absoluta certeza de que sozinhos não vamos longe, já que a criação de

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UNIDADE III │ INTRODUÇÃO À ÉTICA E BIOÉTICA

alianças é o caminho que nos libertará dos preconceitos e nos permitirá ter uma
vida consistente com o que acreditamos ser decente.

O modelo é o melhor aprendizado, muito mais que o ensino somente pelas


palavras e teorias. Talvez você tenha mais lembranças de ter aprendido algo por
ter se espelhado em ações e jeitos de seus pais, educadores, líderes ou amigos
do que nos “blá, blá, blás” pronunciados. Ainda que muitas vezes esses “blá, blá,
blás” fossem contundentes e cheios de razão.

Uma pessoa torna-se exemplo e é seguida ao ser ética, acima de tudo, consigo
mesma. Quando, com seu caráter, consegue melhores meios de conviver, ser
transparente e até se permitir mudar de opinião, rever conceitos ou condutas.

Blaise Pascal disse: “Não me envergonho de mudar de ideia porque não me


envergonho de pensar”. Seremos exemplos também enquanto nos mantivermos
ávidos por sermos melhores e continuarmos aprendendo.

Em um país que a cultura popular costuma valorizar quem é bom em “dar um


jeitinho” em tudo, sempre veremos esbarrões nos limites da ética, e isso é o maior
desvio de caráter na formação de nossa sociedade, pois se reflete em diversos
aspectos de nossas vidas.

Diariamente vemos denúncias de corrupção em vários cenários, com pessoas


dando suas opiniões indignadas e lamentando a qualidade de nossos políticos,
mas se esquecendo que, para todo corrupto, há um corruptor, e ignorando que
a corrupção se alimenta apenas de um fator – A OMISSÃO.

Se queremos ser éticos, jamais podemos adotar a omissão como atitude. Essa é
uma questão de caráter pessoal e, como diz a cultura popular: “Caráter é aquilo
que mostramos quando ninguém está olhando”.

Sidnei Oliveira

Fonte: Revista Exame <http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/sidnei-


oliveira/2012/09/24/etica-a-conduta-que-faz-a-diferenca/>

A ética
Ao adentrarmos a importante temática da bioética, é necessário que antes façamos uma
reflexão sobre o significado da ética, a fim de que possamos ter maior suporte teórico
para analisarmos os aspectos morais que envolvem a ética e a prática profissional nas
mais diversas áreas.

50
INTRODUÇÃO À ÉTICA E BIOÉTICA │ UNIDADE III

Primeiramente, é relevante traçarmos uma diferenciação entre ética e moral.

Pedro (2014) nos explica que esta confusão é recorrente e se dá em razão de que a ética
e a axiologia têm o mesmo significado, não estabelecendo quaisquer fronteiras e limites
entre cada uma delas.

Segundo a autora, uma das razões para tal acontecer reside no fato de existirem duas
palavras para mencionar o domínio valorativo da ética e da moral por meio da sua
origem grega e latina, de raiz etimológica distinta: “assim, o termo ética deriva do grego
ethos, que pode apresentar duas grafias – êthos – evocando o lugar onde se guardavam
os animais, tendo evoluído para «o lugar onde brotam os actos, isto é, a interioridade
dos homens» (RENAUD, 1994, p. 10), tendo, mais tarde passado a significar, com
Heidegger, a habitação do ser, e – éthos – que significa comportamento, costumes,
hábito, caráter, modo de ser de uma pessoa, enquanto a palavra moral, que deriva do
latim mos, (plural mores), se refere a costumes, normas e leis, tal como Weil (2012) e
Tughendhat (1999) referem”.

Para Neves (2007), a ética é considerada uma ciência por ter objeto próprio, ou seja,
leis e método próprios, sendo seu objeto a moral. O objeto da ciência é a moralidade
positiva, tida por Maynez como um “conjunto de regras de comportamento e formas de
vida através das quais tende o homem a realizar o valor do bem”.

Nesse sentido, para os autores os conceitos não se confundem, pois a ética é a ciência
dos costumes, já a moral não é uma ciência e sim o objeto da ciência. Portanto, cabe
a ética retirar dos fatos morais os princípios gerais a serem aplicados. Assim, a ética é
desconstrutora e fundadora, enunciadora de princípios ou de fundamentos.

Para Barroco (2009), a ação ética só tem sentido se o indivíduo sair de sua singularidade
voltada exclusivamente pra seu ‘eu’ para se relacionar com o outro; é condição para tal.
O ato moral supõe a elevação acima das necessidades, desejos e paixões singulares,
porque ele exige pensar no outro e sair da condição do indivíduo egoísta, voltado para
si mesmo.

Importante também tecer considerações sobre as diferenças existentes entre a Ética da


Moral e do Direito. Segundo Glock (2003), as três áreas de conhecimento se distinguem,
porém têm grandes vínculos e até mesmo sobreposições.

51
UNIDADE III │ INTRODUÇÃO À ÉTICA E BIOÉTICA

Figura 5. Segundo os autores, tanto a Moral como o Direito baseiam-se em regras que visam estabelecer certa

previsibilidade para as ações humanas. Porém possuem diferenças.

• Estabelece regras que são assumidas pela pessoa, como uma forma de garantir o seu bem-viver.
• Independe das fronteiras geográficas e garante uma identidade entre pessoas que sequer se conhecem, mas

Moral
utilizam este mesmo referencial moral comum.

• Busca estabelecer o regramento de uma sociedade delimitada pelas fronteiras do Estado.


• As leis têm uma base territorial, elas valem apenas para aquela área geográfica que uma determinada

Direito
população ou seus delegados vivem.

• É o estudo geral do que é bom ou mau, correto ou incorreto, justo ou injusto, adequado ou inadequado.
• Um dos objetivos da Ética é a busca de justificativas para as regras propostas pela Moral e pelo Direito.
• Ela é diferente de ambos ─ Moral e Direito ─ pois não estabelece regras. Esta reflexão sobre a ação humana

Ética é que caracteriza a Ética.

Principais fundamentos éticos

Passadas as noções iniciais sobre ética, moral e Direito, passamos a estudar alguns
fundamentos sobre ética, formação de valores e responsabilidade social. Leonardo Boff
(2003) explora alguns destes fundamentos, que relatamos a seguir.

Ética do cuidado

Para Boff, o afeto profundo que se revela na dimensão humana do cuidado é fundamental.
Para o autor, o cuidado é uma atitude amorosa para com a vida, protege a vida, quer
expandir a vida, e, toda vida precisa de cuidado. Se não cuidarmos da vida de uma
criança que nasce, ela acabará morrendo.

Avalia o autor que o mundo é atravessado por uma grande falta de cuidado em todos
os aspectos. Segundo ele “cidades abandonadas, crianças e jovens desassistidos, a
economia devastada por processos especulativos, ecossistemas descuidados, o planeta
entregue à própria sorte. É preciso elaborar uma ética do cuidado, que funciona como
um consenso mínimo a partir do qual todos possamos nos amparar e desenvolver uma
atitude cuidadosa, protetora e amorosa para com a realidade”.

Ética da solidariedade

Segundo o professor, junto com a ética do cuidado impõe-se uma ética da solidariedade.
Relata que o salto da animalidade para a humanidade ocorreu no momento em que

52
INTRODUÇÃO À ÉTICA E BIOÉTICA │ UNIDADE III

nossos ancestrais começaram a levar o que caçavam para o grupo, de modo a dividir o
alimento fraternalmente entre si.

Neste sentido, a solidariedade e a cooperação é que permitiram a sociabilidade, o


surgimento da linguagem, e definem o ser humano como sócio, como companheiro,
aquele que comparte o pão.

Pondera que “somos, portanto, seres de solidariedade. O que importa é transformar


esse dado objetivo da cooperação universal em um projeto pessoal, em um projeto
político. Uma sociedade, uma comunidade ou uma empresa só funcionarão se criarem
laços de cooperação, de inclusão. Só assim cada um se afinará com a lógica do Universo
e se tornará benevolente e não destrutivo”.

Ética da responsabilidade

Ainda segundo Boff, responsabilidade é dar-se conta das consequências que advêm de
nossos atos. Impõe-se uma ética da responsabilidade, da justa medida, da cautela e
da prevenção. Para o autor, essa ética diz o seguinte: “Aja de tal maneira que sua ação
não seja destrutiva. Aja de tal maneira que sua ação seja benevolente. Ajude a vida a se
conservar, a se expandir, a irradiar”.

Conclui o escritor, refletindo que responsabilidade, cuidado e solidariedade poderão


estabelecer, um patamar mínimo para que alcançarmos um padrão de comportamento
que seja humanitário.

O presente capítulo trouxe os seguintes destaques:

»» A ética é considerada uma ciência por ter objeto próprio, ou seja, leis e
método próprios, sendo seu objeto a moral.

»» Tanto a Moral como o Direito baseiam-se em regras que visam


estabelecer certa previsibilidade para as ações humanas, porém
possuem diferenças.

»» Para Leonardo Boff, são fundamentos sobre ética, formação de valores


e responsabilidade social: a ética do cuidado, a ética da solidariedade
e a ética da responsabilidade.

53
CAPÍTULO 2
Ética e prática profissional

Figura 6. Ética e prática profissional.

Fonte de imagem: <http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/talento-em-pauta/etica-profissional/>. Acesso em: 23 mar. 2015.

Sete dilemas éticos e como os profissionais reagem a eles

São Paulo – Todo profissional, em algum momento da trajetória de carreira,


pode “topar” com um dilema ético. E, pesquisa inédita, lançada hoje pela ICTS,
investigou como 3.211 pessoas de 45 empresas privadas do Brasil reagiriam em
sete casos que trazem o tema à tona.

O levantamento mostra que 11% dos entrevistados não agem de acordo


com o código de ética das empresas. Outros 69% oscilam de acordo com as
circunstâncias, podendo atuar de forma ética e antiética.

Ou seja, a pesquisa revela que a grande maioria, 80%, pode faltar com ética no
ambiente de trabalho, enquanto apenas 20% seguem o código de conduta à risca,
em qualquer situação. Confira os sete dilemas apresentados aos participantes da
pesquisa e como a maioria deles agiria em cada um dos casos:

1 – Denunciar um ato antiético cometido por um colega

Quando a falta de ética vive na baia ao lado, 56% dos profissionais disseram que
somente denunciariam os colegas se fossem incentivados pela empresa.

Na divisão por gênero e hierarquia, a pesquisa mostra que mais da metade das
mulheres (61%) e dos funcionários (60%) de níveis operacionais hesitariam em
delatar o colega antiético.

54
INTRODUÇÃO À ÉTICA E BIOÉTICA │ UNIDADE III

2 – Conviver com atos antiéticos

Pouco mais da metade dos participantes da pesquisa disse não ter restrições
à convivência com a falta de ética na empresa. O índice sobe para 55% e 59%
quando trata-se de profissionais sem curso superior que recebem até R$ 3 mil e
de funcionários operacionais, respectivamente.

3 – Adoção de “atalho” antiético para atingir metas

A pressão por metas pode levar 48% dos participantes do levantamento a


escolherem o caminho mais curto e que fuja ao código de ética para cumprir
os objetivos estabelecidos. Entre os homens, metade revelou que escolheria o
atalho antiético, assim como 53% dos maiores de 34 anos.

4 – Furto

Homens (24%) e não graduados (25%) são mais propensos a furtar valores ou
bens materiais consideráveis das organizações. Mas no geral, apenas 18% dos
entrevistados admitiram que fariam isso.

5 –Aceitar suborno

Dependendo da circunstância, quase metade dos homens adultos e não


graduados – 43% – aceitaria suborno para dar vantagem a um fornecedor.
Levando-se em consideração as respostas de todos os entrevistados, o índice
cai para 38%.

6 – Receber presentes

De acordo com a pesquisa, 40% admitiram que beneficiariam um fornecedor em


troca de brindes e presentes, sendo que a taxa sobe para 43%, se forem levadas
em conta somente as respostas dos funcionários operacionais.

7 – Usar informações confidenciais em benefício próprio

Gestores adultos e graduados são a parcela de entrevistados mais propensa


a incorrer neste tipo de conduta antiética. Deste grupo, 32% tendem a usar
informações secretas em benefício próprio ou de terceiros. Mas, no geral, o
índice registrado foi de 28%.

Fonte: Revista Exame <http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/7-dilemas-eticos-e-como-os-


profissionais-reagem-a-eles>

55
UNIDADE III │ INTRODUÇÃO À ÉTICA E BIOÉTICA

Ética profissional
Na visão de Glock (2003), a fase de formação profissional, o aprendizado das
competências e habilidades referentes à prática específica em uma determinada
área, deve incluir a reflexão, desde antes do início dos estágios práticos. Para ele, ao
completar a formação em nível superior, a pessoa faz um juramento, que significa sua
adesão e comprometimento com a categoria profissional que formalmente ingressa. Isto
caracteriza o aspecto moral da chamada Ética Profissional, esta adesão voluntária a um
conjunto de regras estabelecidas como sendo as mais adequadas para o seu exercício.

Pondera que é fundamental ter sempre em mente que há uma série de atitudes que
não estão descritas nos códigos de todas as profissões, mas que são comuns a todas as
atividades que uma pessoa pode exercer. São atitudes de generosidade e cooperação
no trabalho em equipe, mesmo quando a atividade é exercida de forma isolada, ela faz
parte de um conjunto maior de atividades que dependem do bom desempenho desta.

Ainda, uma postura proativa, ou seja, não ficar restrito apenas às tarefas que foram
dadas a você, mas contribuir para o engrandecimento do trabalho, mesmo que ele seja
temporário.

Ao tratar da ética profissional independente da existência das normas constantes


nos códigos, assevera que: “As leis de cada profissão são elaboradas com o objetivo
de proteger os profissionais, a categoria como um todo e as pessoas que dependem
daquele profissional, mas há muitos aspectos não previstos especificamente e que
fazem parte do comprometimento do profissional em ser eticamente correto, aquele
que, independente de receber elogios, faz a coisa certa”.

Corroborando com esta visão, Santiago (2002) acredita que a universidade teria que
contemplar, em sua atividade formadora e de investigação, a incorporação de conteúdos
éticos próprios para cada profissão, de forma que o futuro profissional, além de lograr
ser um expert em sua matéria, estivesse em condições de atuar com base em critérios
éticos.

Nesse sentido, aduz que a formação do futuro graduado ou profissional não poderia
reduzir-se a incrementar seu conhecimento deontológico, mas sim deveria incorporar
aprendizagens que permitissem o seu desenvolvimento ético e moral como pessoa,
tanto na dimensão individual como social.

Na visão de Barroco (2001), o ethos profissional é um modo de ser de uma profissão,


que resulta da relação complexa entre as necessidades socioeconômicas e ideoculturais
e as possibilidades de escolha inseridas nas ações ético-morais. Desta forma, a ética

56
INTRODUÇÃO À ÉTICA E BIOÉTICA │ UNIDADE III

profissional é uma resposta de um grupo profissional, relativa à moral profissional, à


moral do trabalho.

Segundo Arruda (2002), estas são algumas virtudes importantes para um bom
desenvolvimento ético no trabalho/negócio:

a. Ser honesto em qualquer situação: a honestidade é a primeira virtude


da vida nos negócios, afinal, a credibilidade é resultado de uma relação
franca.

b. Ter coragem para assumir as decisões: mesmo que seja preciso ir contra
a opinião da maioria.

c. Ser tolerante e flexível: muitas ideias aparentemente absurdas podem ser


a solução para um problema. Mas para descobrir isso é preciso ouvir as
pessoas ou avaliar a situação sem julgá-las antes.

d. Ser íntegro: significa agir de acordo com os seus princípios, mesmo nos
momentos mais críticos.

e. Ser humilde: só assim se consegue ouvir o que os outros têm a dizer e


reconhecer que o sucesso individual é resultado do trabalho da equipe.

Código de ética profissional do fonoaudiólogo

Dentro do contexto da ética profissional, passamos a destacar os principais dispositivos


acerca da ética profissional no âmbito da Fonoaudiologia, que é regulamentada pelo
Código de Ética da Fonoaudiologia, aprovado pela Resolução CFFa no 305/2004.

Segundo o artigo 4o do referido Código, constituem princípios éticos da Fonoaudiologia:

I – o exercício da atividade em benefício do ser humano e da coletividade,


mantendo comportamento digno sem discriminação de qualquer
natureza;

II – a atualização científica e técnica necessária ao pleno desempenho


da atividade;

III – a propugnação da harmonia da classe.

O Código traz ainda disposições acerca do relacionamento do fonoaudiólogo com o


cliente, destacando que o profissional deve:

I – respeitar o cliente e não permitir que este seja desrespeitado;

57
UNIDADE III │ INTRODUÇÃO À ÉTICA E BIOÉTICA

II – informar ao cliente sua qualificação, responsabilidades e funções,


bem como dos demais membros da equipe, quando se fizer necessário;

III – orientar adequadamente acerca dos propósitos, riscos, custos e


alternativas de tratamento, bem como das implicações de tratamentos
fonoaudiológicos equivalentes, praticados simultaneamente;

IV – esclarecer o cliente, apropriadamente, sobre os riscos, as


influências sociais e ambientais dos transtornos fonoaudiológicos e
sobre a evolução do quadro clínico, bem como sobre os prejuízos de
uma possível interrupção do tratamento fonoaudiológico, ficando o
fonoaudiólogo isento de qualquer responsabilidade, caso o cliente
mantenha-se neste propósito;

V – elaborar, fornecer relatório, resultado de exame, parecer e laudo


fonoaudiológico, quando solicitado;

VI – permitir o acesso do responsável ou representante legal durante


avaliação e tratamento, salvo quando sua presença comprometer a
eficácia do atendimento;

VII – permitir o acesso do cliente ao prontuário, relatório, exame,


laudo ou parecer elaborados pelo fonoaudiólogo, recebendo explicação
necessária à sua compreensão, mesmo quando o serviço for contratado
por terceiros.

A norma tipifica, ainda, nove condutas consideradas infrações éticas no relacionamento


com o cliente, quais sejam:

I – abandonar o cliente, salvo por motivo justificável;

II – executar ou propor tratamento desnecessário ou para o qual o


fonoaudiólogo não esteja capacitado;

III – exagerar ou minimizar o quadro diagnóstico ou prognóstico,


complicar a terapêutica ou exceder-se em número de consultas ou em
quaisquer outros procedimentos fonoaudiológicos;

IV – iniciar tratamento de incapazes, sem autorização de seus


representantes legais;

V – utilizar técnicas ou materiais no tratamento que não tenham eficácia


comprovada;

58
INTRODUÇÃO À ÉTICA E BIOÉTICA │ UNIDADE III

VI – garantir resultados de tratamentos através de métodos infalíveis,


sensacionalistas ou de conteúdo inverídico;

VII – emitir parecer, laudo ou relatório que não correspondam à


veracidade dos fatos ou dos quais não tenha participado;

VIII – obter qualquer vantagem indevida de seus clientes;

IX – usar a profissão para corromper, lesar ou alterar a personalidade


e/ou a integridade física e/ou psíquica dos clientes ou ser conivente
com esta prática.

Já em relação à ética entre os profissionais, no art. 12 são elencadas as seguintes


infrações éticas:

I – praticar ou permitir que se pratique concorrência desleal;

II – ser cúmplice, sob qualquer forma, de pessoas que exerçam


ilegalmente a profissão ou cometam infrações éticas;

III – emitir opinião depreciativa técnico-científica sobre outro


profissional;

IV – obter ou exigir vantagens indevidas de colegas nas relações


profissionais;

V – deixar de reencaminhar ao profissional responsável o cliente


que lhe foi enviado para procedimento específico ou por substituição
temporária, salvo por solicitação do cliente ou na iminência de prejuízo
deste, devendo o fato ser obrigatoriamente comunicado ao colega;

VI – utilizar-se de sua posição hierárquica para impedir, prejudicar


ou dificultar que seus subordinados realizem seus trabalhos ou atuem
dentro dos princípios éticos;

VII – alterar conduta fonoaudiológica determinada por outro


fonoaudiólogo, mesmo quando investido de função de chefia ou de
auditoria, salvo em situação de indiscutível prejuízo para o cliente,
devendo comunicar imediatamente o fato ao fonoaudiólogo responsável;

VIII – negar, injustificadamente, colaboração técnica ou serviços


profissionais a colega.

59
UNIDADE III │ INTRODUÇÃO À ÉTICA E BIOÉTICA

Sobre este tema sugerimos a leitura do livro:

FERIGOTTI, Ana Claudia Miguel. O fonoaudiólogo e questões éticas na prática


profissional. Annablume, 2001.

O capítulo abordou, sinteticamente, que:

»» O ethos profissional é um modo de ser de uma profissão, que resulta


da relação complexa entre as necessidades socioeconômicas e
ideoculturais e as possibilidades de escolha inseridas nas ações ético-
morais.

»» A ética profissional no âmbito da Fonoaudiologia é regulamentada


pelo Código de Ética da Fonoaudiologia, aprovado pela Resolução
CFFa no 305/2004.

60
CAPÍTULO 3
Conceitos e princípios da bioética

Por que pensar a bioética?

Claudio Cohen

Professor Associado da FMUSP, responsável pelas disciplinas de Bioética e Bioética Clinica e


Presidente da Comissão de Bioética do HC da FMUSP. ccohen@usp.br

Seguramente a ética, enquanto avaliação do comportamento individual e social,


é anterior aos gregos. Porém, devemos a este povo o fato de tê-la nomeado
e analisado como a filosofia do bem e do mal. Acredito que desde os nossos
primeiros ancestrais já deveria existir uma ética para as relações humanas. Assim
como já existiam Leis morais, transmitidas verbalmente, que regulamentavam o
comportamento humano, antes que fossem criados aos códigos escritos.

Gostaria de destacar algumas diferenças entre Ética e Moral. Por um lado, a


Moral está condicionada a três pressupostos: valores absolutos (são acolhidos
pela sociedade); são impostos (por uma determinada cultura) e sua transgressão
implica em um castigo. A Ética, por sua vez, vincula-se a três pré-requisitos:
percepção dos conflitos (consciência das contradições humanas); autonomia
para escolher (competência para se posicionar entre os sentimentos e a razão) e
a coerência na decisão (uma lógica entre pensamento e ação).

Entretanto, a Bioética é um dos tantos fenômenos criados pela cultura para


lidar com a complexa combinação de uma revolução científica, e da crise de
valores advinda das transformações sociais profundas. Portanto, a Bioética é um
fenômeno instituído na cultura que se iniciou a partir da segunda metade do
Século XX, tornando-se um evento cultural, pois se universalizou rapidamente
fazendo com que filósofos, cientistas, religiosos, profissionais, enfim a sociedade
como um todo, pudesse pensar ou repensar os valores humanos.

Esta revolução cultural pode ser notada por meio da análise bibliométrica,
realizada entre 1974 e 2004, na qual se observa que foram publicados em
revistas indexadas ao Medline 101.153 trabalhos a respeito de ética médica ou
Bioética, sem contar os livros ou debates a respeito do assunto. Outra evidência
da importância da Bioética pode ser notada na promulgação da Declaração
Universal sobre Bioética e Direitos Humanos pela UNESCO, em 2005.

61
UNIDADE III │ INTRODUÇÃO À ÉTICA E BIOÉTICA

Porém, se fizermos uma pesquisa histórica do ser humano no tempo,


perceberemos que a humanidade tende a repetir suas experiências. Esta visão
catastrófica do futuro pode ser sintetizada no que Einstein alertou: “não há
nada que seja maior evidência de insanidade do que fazer a mesma coisa dia
após dia e esperar resultados diferentes”. Desta “compulsão a repetição” o ser
humano aprende muito pouco, por este motivo a Bioética propõe uma análise
do comportamento humano frente às novas possibilidades que o conhecimento
científico nos traz, podendo pensar nas possíveis diferenças que surgem entre
a própria ética e a ética do outro. Destas diferentes éticas é que passa a existir o
que denominamos a Bioética das Relações Humanas.

Esta Bioética emerge da percepção simbólica da existência do outro (sujeito ou


objeto), do conflito que isto causa e da necessidade de nos relacionarmos com
as diferenças, sabendo que podemos atuar com autonomia e que a sociedade
irá responsabilizar os nossos atos.

O surgimento da Bioética, como consequência do progresso da ciência e do


conceito de autonomia, conduziu a uma revolução social além dos limites da
medicina. Por exemplo, a epidemia de SARS (Severe Acute Respiratory Syndrome)
reflete, assim como outras doenças infecto-contagiosas como a AIDS (Acquired
Immune Deficiency Syndrome), a fragilidade de todos os seres humanos diante
de um mundo globalizado, mas vulnerável ao agente etiológico da doença.
Isso traz à tona a necessidade de um trabalho educativo, deixando-se de lado
questões políticas, sociais, culturais ou econômicas, uma vez que o risco é tanto
individual quanto mundial.

Os bioeticistas mostraram até o momento a possibilidade de se refletir


qualitativamente a respeito dos novos desafios e dos limites humanos, porém
frequentemente, as discussões de Bioética se dão em torno dos grandes
casos de Bioética ou os “greats cases in bioethics”, aqueles casos de grande
repercussão científica ou jurídica, e que são divulgados pela imprensa. Por
exemplo, pesquisa com células-tronco embrionárias, a aceitação da eutanásia
ou da ortotanásia, a quebra de patentes de medicamentos, as questões éticas
sobre o aquecimento global etc.

Por outro lado, ao analisarmos o panorama evolutivo geral das publicações


científicas de Bioética utilizando a base de dados da Medline, observarmos que
houve um aumento significativo: de 4.000 artigos, entre 1970 e 1974 para mais de
30.000 artigos entre 2000 e 2004. Outro ponto que nos chama a atenção é como
as questões de Bioética variam no tempo. Por exemplo, houve um decréscimo

62
INTRODUÇÃO À ÉTICA E BIOÉTICA │ UNIDADE III

muito grande de publicações a respeito do aborto induzido, mas nem por isso
podemos dizer que as questões éticas estejam resolvidas. No entanto, houve um
aumento enorme das publicações a respeito de Bioética e Conflito de Interesse
dos anos de 1970 para 2004. Isto nos permite pensar que nos anos de 1970 o
Conflito de Interesse era pouco valorizado ou existia dificuldade em observá-
lo, por exemplo, a indústria farmacêutica ou na pesquisa clínica. Uma terceira
observação surge quando verificamos que as publicações referentes ao ensino
da Ética Médica ou Bioética têm se mantido constantes no tempo, mostrando
quão importantes elas são independentes do momento político, econômico,
jurídico ou religioso.

Outra forma de pensar a Bioética é por meio da Bioética Clínica, que na prática
é a discussão realizada nas comissões institucionais de Bioética e tem a ver com
a reflexão para encontrar a melhor solução possível para o exercício ético do
profissional. Esta ponderação se dá pela identificação, avaliação e resolução das
questões éticas e morais que podem surgir frente ao cuidado singular de um
indivíduo que adoeceu.

Concluindo, a Bioética nasce dos conflitos trazidos pela transformação humana


e seus valores, por exemplo, quando colocamos a questão de a quem pertence
a nossa vida: ao próprio indivíduo, a sociedade ou a Deus. Podemos dizer que
socialmente este conflito deverá ser entendido desde uma visão pluralista,
sendo muito difícil afirmar o que deva ser aceito universalmente como certo ou
errado, pois sabemos que isto dependerá da situação e do momento histórico.
Por outro lado, individualmente cada um deverá resolver este conflito.

Nós, seres humanos, somos diferentes uns dos outros, o que nos dá a nossa
própria identidade, porém podemos observar que quando inseridos em um
determinado grupo ou família, estes têm os seus próprios valores que os irá
identificar. Esta é a razão pela qual as pessoas poderão questionar um fato ou
uma situação, tomando uma decisão que poderá ser ética, segundo o próprio
indivíduo, ou moral, dependendo da tradição de valores vinculada ao grupo que
julgar esse conflito.

A Bioética se apresenta nesta tentativa de apreender e compreender o verdadeiro


significado do novo, capacitando-nos a uma possível adaptação. Ela nos permite
expressar o nosso pensamento ético, o que nos possibilita encontrar consensos
de qual será o comportamento moral mais adequado frente a uma determinada
questão. Entendo que estes sejam os motivos de como deveríamos perceber,
pensar e agir sob a égide da Bioética.

Fonte: Por que pensar a bioética?. Rev. Assoc. Med. Bras. [online]. 2008, vol.54, n.6, pp. 473-474.
ISSN 0104-4230. <http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302008000600002>.

63
UNIDADE III │ INTRODUÇÃO À ÉTICA E BIOÉTICA

Conceito e histórico da Bioética


A Bioética pode ser conceituada como “a reflexão ética sobre os seres vivos, incluindo
o ser humano, assim como a maneira com a qual esses seres vivos se apresentam nas
relações cotidianas do mundo vivido e nos contextos teóricos e práticos da ciência e da
pesquisa, podendo atuar como um guia de decisões em relação ao nascimento, doenças,
tratamento, morte, meio ambiente, relações entre as espécies e entre as gerações
futuras”. (NASCIMENTO, 2009).

Surgiu no contexto da II Guerra Mundial, suscitando questionamentos quanto a temas


como práticas de eutanásia e experimentos médicos em grupos étnicos e raciais.

Facco (2010) descreve que o termo “Bioética” surgiu na década de 1970 quando o
biólogo e oncologista Van Rensselaer Potter publicou: Bioethics: The Science of Survival
e Bioethics: Bridge to the Future. Suas obras procuraram mostrar que os valores éticos
não podem estar separados dos fatos biológicos. Relata o autor que com o decorrer
avanço da medicina, especialmente da tecnologia biomédica, novos problemas foram
colocados frente ao homem, e Potter foi à defesa de que a necessidade de que uma ética
da vida teria que se fazer presente para além das universidades, tendo que estar mais
próxima das conquistas da ciência que afetavam a vida humana.

Nesse sentido, Potter compreendeu a necessidade de um novo paradigma de ciência que


pudesse unificar a biologia, as humanidades e a ciência social. Tal perspectiva teria que
considerar, em especial, a natureza do homem, e sua relação com o mundo biológico e
físico. Vislumbrou, portanto, uma ciência que possibilitaria a reflexão sobre os avanços
da ciência e seus limites, com o propósito de que o futuro da humanidade pudesse ser
seguro e a melhoria da qualidade de vida das futuras gerações alcançada.

Para isso, seria importante desenvolver a ciência da sobrevivência, e ela deve começar
com um novo tipo de ética, que seria “a bioética”.

Relata ainda que, no Brasil, a criação da Sociedade Brasileira de Bioética em 1995 e a


implementação de cursos de bioética em pós-graduação foram fatores determinantes
para agregar a esse campo de estudos profissionais de diferentes áreas do conhecimento,
circunstância que favoreceu ainda mais a reflexão desta matéria.

Princípios da Bioética

Loch (2002) elenca os princípios da bioética e disserta sobre seus significados,


especificamente aos profissionais de saúde, com base nas seguintes ponderações:

64
INTRODUÇÃO À ÉTICA E BIOÉTICA │ UNIDADE III

Princípio da não maleficência

Este princípio alerta o profissional de saúde para o dever de, intencionalmente, não
causar mal e/ou danos a seu paciente. Tal princípio é tido por muitos como o princípio
fundamental da tradição hipocrática da ética médica, tendo suas raízes em na ideia de
que: “socorrer (ajudar) ou, ao menos, não causar danos”.

Esta diretriz, mais conhecida em sua versão para o latim primum non nocere, é utilizada
frequentemente como uma exigência moral da profissão médica. Trata-se, portanto, de
um mínimo ético, um dever profissional, que, se não cumprido, coloca o profissional de
saúde numa situação de má-prática ou prática negligente.

Princípio da beneficência

O princípio da Beneficência traz o comando ao profissional de saúde de ir além da não


maleficência (não causar danos intencionalmente) e exige que ele contribua para o bem
estar dos pacientes, promovendo ações:

a. Para prevenir e remover o mal ou dano que, neste caso, é a doença e a


incapacidade.

b. Para fazer o bem, entendido aqui como a saúde física, emocional e mental.

Nesse sentido, a beneficência requer ações positivas, ou seja, é necessário que o


profissional atue para beneficiar seu paciente.

Ressalta o autor que, além disso, é preciso avaliar a utilidade do ato, pesando benefícios
versus riscos e/ou custos. Exemplifica, citando “se um pesquisador submete um
protocolo de investigação ao Comitê de Ética em Pesquisa de uma Instituição: se espera
que o investigador esclareça quais são os riscos para os sujeitos pesquisados e quais
são os benefícios esperados com o estudo, tanto para os participantes como para a
sociedade em geral, e, então, argumente porque os possíveis benefícios sobrepujam os
riscos, pois só neste caso a pesquisa é considerada eticamente correta ou adequada”.

Princípio do respeito à autonomia

A Autonomia é tida como a capacidade de uma pessoa para decidir fazer ou buscar
aquilo que ela julga ser o melhor para si mesma. Para o autor, para que a pessoa possa
exercer esta autodeterminação são necessárias duas condições fundamentais:

a. Capacidade para agir intencionalmente, o que pressupõe compreensão,


razão e deliberação para decidir coerentemente entre as alternativas que
lhe são apresentadas.

65
UNIDADE III │ INTRODUÇÃO À ÉTICA E BIOÉTICA

b. Liberdade, no sentido de estar livre de qualquer influência controladora


para esta tomada de posição.

Já o princípio do respeito à Autonomia, trata da consciência deste direito da pessoa


de possuir um projeto de vida próprio, de ter seus pontos de vista e opiniões, de fazer
escolhas autônomas, de agir segundo seus valores e convicções. Desta forma, respeitar
a autonomia é, em última análise, preservar os direitos fundamentais do homem,
aceitando o pluralismo ético-social que existe na atualidade.

Princípio da Justiça

A Justiça está associada preferencialmente com as relações entre grupos sociais,


preocupando-se com a equidade na distribuição de bens e recursos considerados
comuns, buscando, portanto, uma tentativa de igualar as oportunidades de acesso a
estes bens.

Bioética e ética profissional

Desta forma, percebe-se que para todo e qualquer profissional é importante estar em
sintonia com os valores éticos e bioéticos, levando em consideração que desta forma
estará garantindo o compromisso social do qual a profissão se dispõe, nas mais diversas
áreas e segmentos sociais.

Assim como destaca Arakawa (2009), o ensino da disciplina de bioética nos cursos de
graduação é um tema emergente cuja discussão é imperativa, especialmente na área
de ciências da saúde, a exemplo da profissão de Fonoaudiologia, que é a área da saúde
que atende o ser humano nos problemas relativos à comunicação como um todo, uma
vez que a comunicação influencia na qualidade de vida do paciente. Esta área merece
especial atenção, uma vez que a profissão envolve, não somente questões relativas às
pesquisas cientificas, mas também aspectos referentes ao atendimento de pacientes,
e por esse motivo apresenta muitas áreas de interesse bioético. Para os autores, o
fonoaudiólogo recebe em sua formação conhecimentos globais, incluindo aspectos
culturais, emocionais, físicos, ambientais e econômicos, a fim de formar um profissional
generalista, humanista, crítico e reflexivo.

Dentro desta perspectiva, também devem diligenciar os profissionais em perícia.


Como destaca Buriti (2009), “a postura bioética do fonoaudiólogo inserido ou não
em processos periciais caminha para o respeito ao indivíduo como um ser integral,
independente dos processos e provas que pesam sobre ele, até a finalização dos laudos
de sua competência, este profissional deve adquirir posição neutralizadora, de modo

66
INTRODUÇÃO À ÉTICA E BIOÉTICA │ UNIDADE III

a assegurar a preservação do biodireito do suspeito que assume uma escala superior a


escala puramente científica por meio da acústica e do tratamento da voz em criminalística
para uma escala excelsa de liberdade, sem pré-julgamentos do perito, seguindo-se as
evidências sem interferências pessoais ou de terceiros”.

Nesse sentido, a conservação do biodireito e da bioética em processos periciais forenses


garantem o pleno gozo dos direitos humanos para a construção de uma sociedade justa
e igualitária.

Verificamos neste capítulo que:

»» A bioética é tida como a reflexão ética sobre os seres vivos, incluindo


o ser humano, assim como a maneira com a qual esses seres vivos se
apresentam nas relações cotidianas do mundo vivido e nos contextos
teóricos e práticos da ciência e da pesquisa.

»» Dentre os princípios da bioética estão: o princípio da não maleficência;


o princípio da beneficência; o princípio do respeito à autonomia; e o
princípio da justiça.

Algumas questões para reflexão são levantadas por Goldim (2003). Dentre elas:

»» Qual a efetiva interação dos Fonoaudiólogos com os demais membros


da equipe de saúde?

»» Qual o nível de conhecimento dos múltiplos aspectos relativos ao


paciente e sua família que tem direito de acesso?

»» Qual o limite da privacidade dos demais envolvidos?

»» Quais as interfaces e limitações de atuação de cada um dos membros


desta mesma equipe?

»» O atendimento de pacientes com doenças genéticas é um exemplo


disto. Todas as informações obtidas pelos geneticistas sobre o caso
necessitam ser relatadas ao Fonoaudiólogo?

»» Quais as informações sobre aspectos psicológicos que os


Fonoaudiólogos devem compartilhar com os Psicólogos ou Psiquiatras
envolvidos?

»» Quais as informações que o fonoaudiólogo deve compartilhar com


empregadores que solicitam exames audiológicos?

Discorra seu posicionamento sobre as questões acima.

67
Para (não) Finalizar

Diretrizes éticas na prática pericial criminal


Paulo Enio Garcia da Costa Filho

Elias Abdalla-Filho

A perícia criminal, diligência prevista pela legislação brasileira quando da ocorrência de


fatos supostamente delituosos que deixam vestígios, tem a finalidade de estabelecer por
meio de provas a veracidade ou a falsidade de situações ou acontecimentos de interesse
da Justiça.

Como parte desse trabalho, estão incluídas a demonstração técnica e material da


existência do fato presumidamente delituoso, a reconstrução do local e da cena do fato
em apuração, e a identificação da vítima e dos autores de tal ocorrência. No desempenho
dessas funções, os peritos podem enfrentar diferentes dilemas morais que requeiram a
necessidade de discussão ética, em profundidade tal que possa gerar possíveis diretrizes
para o exercício profissional. A perícia materializa-se por meio de laudo, constituído de
peça escrita, que tem por base o material examinado.

Sempre e logo que uma autoridade policial, judiciária, militar ou administrativa tiver
conhecimento da prática de uma infração penal, deve solicitar as perícias cabíveis que,
por sua vez, têm a finalidade de instruir o devido processo, a fim de que o juiz forme sua
convicção pela livre apreciação da prova.

Os peritos são as pessoas qualificadas ou experientes em certos assuntos, a quem


incumbe à tarefa de esclarecer um fato de interesse da Justiça. O magistrado, por sua
vez, forma sua convicção a partir dos elementos probatórios disponíveis. Entre estes, a
perícia é de especial importância devido ao seu caráter de cientificidade, impessoalidade
e objetividade.

Por conseguinte, não se pode permitir ao perito uma ação irresponsável, ilícita ou
eticamente condenável. A aceitação, por parte de um indivíduo, de toda e qualquer
medida policial, representando o Estado, sem nenhuma justificativa ou consentimento
da sociedade, vem sendo paulatinamente substituída pela exigência do conhecimento
por aquele que vai ser examinado pelo perito das razões e do intuito do que se faz.
Essa nova postura inclui até mesmo o direito e a motivação de que o periciado cobre

68
PARA (NÃO) FINALIZAR

da instituição possíveis danos, se ficar manifesto o descumprimento dos deveres de


conduta ética ou de ofício.

Nesse contexto, é plenamente possível considerar que o perito criminal trabalha todo o
tempo, sem qualquer exceção, com pessoas vulneráveis, pelo simples fato de lidar tão
somente com indivíduos em estado de privação ou, no mínimo, de sofrimento. Por esta
razão, observa-se uma relação de desigualdade, sobretudo do ponto de vista emocional.

Além disso, sendo ele um policial, pode despertar temor na população, na dependência
do imaginário de cada um – o que só aumenta a sua responsabilidade no sentido do
cuidado ao lidar com essas pessoas. Ele pode agravar ou minorar o sofrimento delas,
dependendo de seu comportamento ético. O perito criminal tem do ponto de vista
técnico, um compromisso com a investigação policial. No entanto, o seu compromisso
social é fundamental para que se possa considerá-lo um verdadeiro profissional do
ponto de vista ético.

Trecho extraído do texto disponível em:

<http://asbac-ba.org/publicacoes/Diretrizes_eticas_na_pratica_pericial_criminal.pdf>.

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