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A Ética e a Pesquisa
Revisão Textual:
Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos
A Ética e a Pesquisa
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Aprender um pouco mais sobre a Ética e a pesquisa, conhecer a
importância da conduta e tomada de decisão ética em seu ambiente
profissional.
· Entender o que é a Bioética e a sua importância na pesquisa com
seres humanos e animais, conhecendo os códigos internacionais que
se originaram após atrocidades acometidas com seres humanos no
período pós-guerra e suas atualizações até a atualidade.
· Apresentar a importância dos Comitês éticos de pesquisa e do Termo
de consentimento livre e esclarecido.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE A Ética e a Pesquisa
Segundo Oguisso e Zoboli (2006), a pessoa até sabe qual deve ser o seu modo
de agir para atender às suas necessidades, no entanto para tomar a decisão ética
em grupo, é necessário um método reflexivo e crítico, e com isso alcançar um
consenso ético.
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Sá (2015) afirma que tudo o que forma opinião tem condições de contribuir ou
de destruir modelos de condutas, de acordo com as diferentes estruturas mentais,
mas que sempre podem motivar ações. Os problemas se acumulam e se agravam,
destruindo bons costumes, durante toda a vida, mas quando as bases são fortes, a
tendência é a prevalência sobre as demais.
Tomada de Decisão
Estando diante de uma série de fatos, em determinados momentos da nossa
vida, seja ela pessoal ou profissional, nos deparamos frente a situações que nos
impõem uma tomada de decisão. O mais importante neste momento é tomar a
decisão mais correta possível, e para isso não se deve abandonar os julgamentos
éticos e o bom senso.
Figura 1
Fonte: iStock/Getty Images
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UNIDADE A Ética e a Pesquisa
Atualmente existe uma tendência vital que para se estudar os problemas éticos;
é necessário avaliar as características de forma interdisciplinar. Os problemas éticos
devem ser analisados em razão da sociedade como um todo, lembrando que a vida
digna e humana é inseparável da ética (OGUISSO e ZOBOLI, 2006).
A partir daí, faz-se necessário conhecer um pouco sobre a Bioética, ciência bem
recente, mas não com menor importância.
Bioética
Ciência que estuda a ética da vida, possui características que transitam e
se unificam por conceitos envolvendo várias disciplinas, também conceituada
como transdisciplinar.
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Na década de 60, há uma mudança social que os estudiosos do tema chamam de
pluralismo moral, definido como explosão do consenso social, jurídico e religioso
tradicional, relacionado a valores morais, promovido pelo desenvolvimento da
educação, cultura e deslocamento populacional (RAMOS, 2007).
E por fim, por justiça entende-se que o indivíduo deve ser respeitado de forma
igualitária, independentemente de gênero, classe social, cor ou religião.
Essa resolução 01/88 foi revista em 1995, culminando com a Resolução 196,
de outubro de 1996, que foi aprofundada em junho de 1997 pela resolução 251
(publicada no DOU em 05/08/97), que tratou especificamente da área temática
de pesquisa com novos fármacos, medicamentos, vacinas e testes diagnósticos.
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UNIDADE A Ética e a Pesquisa
Acesse os links a seguir e conheça um pouco mais a história das atrocidades e desmandos
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Código de Nuremberg
1. O consentimento voluntário do ser humano é absolutamente essencial. Isso
significa que as pessoas que serão submetidas ao experimento devem ser
legalmente capazes de dar consentimento; essas pessoas devem exercer o
livre direito de escolha sem qualquer intervenção de elementos de força,
fraude, mentira, coação, astúcia ou outra forma de restrição posterior;
devem ter conhecimento suficiente do assunto em estudo para tomarem
uma decisão. Esse último aspecto exige que sejam explicados às pessoas
a natureza, a duração e o propósito do experimento; os métodos segundo
os quais será conduzido; as inconveniências e os riscos esperados; os
efeitos sobre a saúde ou sobre a pessoa do participante, que eventualmente
possam ocorrer, devido à sua participação no experimento. O dever e a
responsabilidade de garantir a qualidade do consentimento repousam sobre
o pesquisador que inicia ou dirige um experimento ou se compromete nele.
São deveres e responsabilidades pessoais que não podem ser delegados a
outrem impunemente.
2. O experimento deve ser tal que produza resultados vantajosos para a
sociedade, que não possam ser buscados por outros métodos de estudo, mas
não podem ser feitos de maneira casuística ou desnecessariamente.
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3. O experimento deve ser baseado em resultados de experimentação em
animais e no conhecimento da evolução da doença ou outros problemas
em estudo; dessa maneira, os resultados já conhecidos justificam a condição
do experimento.
4. O experimento deve ser conduzido de maneira a evitar todo sofrimento e
danos desnecessários, quer físicos, quer materiais.
5. Não deve ser conduzido qualquer experimento quando existirem razões
para acreditar que pode ocorrer morte ou invalidez permanente; exceto,
talvez, quando o próprio médico pesquisador se submeter ao experimento.
6. O grau de risco aceitável deve ser limitado pela importância do problema
que o pesquisador se propõe a resolver.
7. Devem ser tomados cuidados especiais para proteger o participante do
experimento de qualquer possibilidade de dano, invalidez ou morte, mesmo
que remota.
8. O experimento deve ser conduzido apenas por pessoas cientificamente
qualificadas.
9. O participante do experimento deve ter a liberdade de se retirar no decorrer
do experimento.
10. O pesquisador deve estar preparado para suspender os procedimentos
experimentais em qualquer estágio, se ele tiver motivos razoáveis para
acreditar que a continuação do experimento provavelmente causará dano,
invalidez ou morte para os participantes.
Fonte: UFRGS. Código de Nuremberg. Disponível em: https://goo.gl/v3pvWh
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UNIDADE A Ética e a Pesquisa
Para conhecer um pouco mais sobre o Tribunal de Nuremberg, assista ao vídeo disponível no
Explor
Declaração de Helsinque
Os abusos e escândalos decorrentes de pesquisas em seres humanos fizeram com
que a Associação Médica Americana se posicionasse e em uma reunião realizada
em Helsinque, na Finlândia, realizou uma revisão do Código de Nuremberg e depois
de longos debates, aprovou o documento que passou a ser intitulado “Declaração
de Helsinque”. É um documento com força normativa e de cunho deontológico
para a medicina. Tal documento já sofreu diversas atualizações (RAMOS, 2007).
Relatório de Belmont
Método complementar, promulgado em 1978, baseado em três princípios éticos
globais que deveriam prover as bases sobre as quais formular, criticar e interpretar
regras específicas:
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a) Autonomia (respeito pelas pessoas);
b) Beneficência (obrigação de não causar dano, maximizar benefícios e mini-
mizar riscos);
c) Justiça (imparcialidade na distribuição de riscos e benefícios, ou seja, os
iguais devem ser tratados igualmente).
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Tópicos abordados em cada uma das diretrizes vigentes
1. Valores sociais e científicos e respeito pelos direitos.
2. Orientações para pesquisas conduzidas em locais de baixo recurso.
3. Distribuição equitativa de benefícios e encargos na seleção de grupos
de participantes.
4. Benefícios e riscos potenciais das pesquisas.
5. Escolha do grupo controle nas pesquisas clínicas.
6. Cuidar das necessidades de saúde dos participantes.
7. Envolvimento da comunidade.
8. Parceria colaborativa e capacitação.
9. Consentimento informado individual.
10. Modificações e dispensas do consentimento informado.
11. Recolha, armazenamento e utilização de materiais biológicos e dados
relacionados.
12. Recolha, armazenamento e utilização de dados na investigação relacionada
com a saúde.
13. Reembolso e compensação para os participantes da pesquisa.
14. Tratamento e indenização por danos relacionados com a investigação.
15. Investigação envolvendo pessoas vulneráveis.
16. Pesquisa envolvendo indivíduos incapazes de dar consentimento informado.
17. Pesquisa envolvendo crianças e adolescentes.
18. As mulheres como participantes da pesquisa.
19. Mulheres grávidas e mulheres lactantes como participantes da pesquisa.
20. Investigação sobre catástrofes e surtos de doenças.
21. Ensaios clínicos randomizados.
22. Utilização de ambiente on-line e ferramentas digitais.
23. Comitês de ética em pesquisa e revisão.
24. Responsabilidade pública.
25. Conflitos de interesses.
Em 1988, foi dado o primeiro passo para uma regulamentação legal, com a
elaboração da Resolução 01/88, que aprovou as normas de pesquisa para a área
de saúde, mais tarde reformulada pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional
de Saúde e Ministério da Saúde (CNS/MS).
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UNIDADE A Ética e a Pesquisa
Esta resolução de 1996 determinou que toda pesquisa que envolvesse seres
humanos fosse submetida a um Comitê de Ética em Pesquisa, através de um protocolo
de pesquisa, que deverá conter importantes itens, dentre eles o consentimento livre
e esclarecido, informações sobre os riscos e benefícios, descrição completa da
pesquisa, pesquisador responsável, instituição/patrocinador.
Acesse neste link a versão mais recente da legislação sobre as diretrizes e normas regula-
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Pesquisa com Experimentação em Animais
No ano de 2008, foi criado o Conselho Nacional de Controle de Experimentação
Animal – CONCEA, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
(MCTI), como instância colegiada multidisciplinar de caráter normativo, consultivo,
deliberativo e recursal, a quem compete normatizar o uso de animais em ensino
ou pesquisa científica, principalmente no que concerne ao controle das instituições
que criam, mantêm ou utilizam animais para ensino ou pesquisa científica no País.
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UNIDADE A Ética e a Pesquisa
Essas diretrizes afirmam que quando os animais são mortos como parte de um
protocolo experimental e o método tiver de ser compatível com os fins científicos,
neste caso o método deve ser aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais
- CEUA da Instituição, sem conflito com as diretrizes estabelecidas.
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No mesmo ano, foi lançada a diretriz brasileira para o cuidado e a utilização
de animais para fins científicos e didáticos – DBCA, cuja finalidade é apresentar
princípios de condutas que permitam garantir o cuidado e o manejo éticos de
animais utilizados para fins científicos ou didáticos. Os princípios estabelecidos
nesta Diretriz são orientações para pesquisadores, professores, estudantes, técnicos,
instituições, Comissões de Ética no Uso de Animais – CEUAs e todos os envolvidos
no cuidado e manejo de animais para fins científicos ou didáticos.
Explor
https://goo.gl/nZOMzz
https://goo.gl/WF5gWI
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UNIDADE A Ética e a Pesquisa
Segundo Oguisso e Zoboli (2006), a resolução 196/96 não prevê nenhum tipo
de punição legal, mas existem mecanismos de controle; por exemplo, em muitas
revistas acadêmicas não é permitida a publicação de pesquisas realizadas sem a
aprovação do projeto por um CEP, ou em vários congressos a apresentação de
trabalhos já prevê a apreciação e aprovação por um CEP. Para as instituições
que possuem os CEP, é orientado que em caso de irregularidades sejam impostas
sanções administrativas.
Segundo informações obtidas junto à CNS, existem 778 CEP, sendo a região
Sudeste a de maior concentração, com 363 CEP (CONEP, 2017).
A partir deste projeto de lei, muita discussão vem ocorrendo e muitas são as
manifestações pró e contra o referido projeto. Cabe agora à sociedade brasileira
realizar a sua análise e manifestar-se.
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Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
A liberdade em participar ou recusar a participação de seres humanos em
pesquisas é uma exigência a partir do Código de Nuremberg e de todas as diretrizes
nacionais e internacionais seguintes.
Figura 3
Fonte: iStock/Getty Images
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UNIDADE A Ética e a Pesquisa
O TCLE deve ser redigido de forma clara, pelo próprio pesquisador, evitando
termos científicos que não sejam de conhecimento público. A estrutura do
texto deve ser simples e objetiva, compreendida para o nível de escolaridade do
participante da pesquisa. A finalidade da redação do termo é obter a manifestação
livre e esclarecida do convidado à participação da pesquisa e não deve ser encarado
apenas como uma formalidade burocrática, mas uma ferramenta para o exercício
ético da pesquisa (RAMOS, 2007).
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k) não exigir do participante da pesquisa, sob qualquer argumento, renúncia
ao direito à indenização por dano. O Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido não deve conter ressalva que afaste essa responsabilidade ou que
implique ao participante da pesquisa abrir mão de seus direitos, incluindo o
direito de procurar obter indenização por danos eventuais.
Em Síntese Importante!
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UNIDADE A Ética e a Pesquisa
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Filmes
O Jardineiro Fiel
O jardineiro fiel – 2005 – Filme dirigido por Fernando Meirelles, aborda a ética das em-
presas farmacêuticas nos testes de medicamentos em comunidades menos favorecidas.
Erin Brockovich, uma Mulher de Talento
Erin Brockovich, uma mulher de talento – 2000 – Filme com direção de Steven
Soderbergh, aborda a história de águas subterrâneas contaminadas por cromo
hexavalente e a empresa Pacific Gas and Electric (PG&E).
Filadélfia
Filadélfia – 1993 – Filme com direção de Jonathan Demme, apresenta com muita
sensibilidade o terrível efeito social da AIDS, a questão do preconceito, sua dor e suas
origens, contra homossexuais ou portadores do vírus HIV e a relação mútua e confusa
do preconceito frente a estas duas questões na sociedade americana da época.
Leitura
Normativas do CONCEA para Produção, Manutenção ou Utilização de Animais em Atividades de Ensino ou
Pesquisa Científica
BRASIL. Normativas do CONCEA para produção, manutenção ou utilização de
animais em atividades de ensino ou pesquisa científica. 2015.
https://goo.gl/cz1SMG
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Referências
Brasil. Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Gabinete
do Ministro. Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal. Guia
brasileiro de produção, manutenção ou utilização de animais em atividades de
ensino ou pesquisa científica: fascículo 1: introdução geral [recurso eletrônico]/
coordenador: Bruno Lourenço Diaz; Adriano da Silva Campos... [et al.]. Brasília:
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, 2016. Disponível em <http://www.
mct.gov.br/upd_blob/0239/239998.pdf> Acesso em: 30 jan. 2017.
CONEP (2017). Mapa com a distribuição dos CEP pelo Brasil. Disponível em
<http://www.conselho.saude.gov.br/Web_comissoes/conep/aquivos/MAPA_
CEP.pdf> Acesso em: 30 jan. 2017.
VAN DELDEN, J. J. M.; VAN DER GRAAF, R. Revised CIOMS International Ethi-
cal Guidelines for Health-Related Research Involving Humans. Journal of American
Medical Association. v. 317, n. 2, p.135-136. 2017. Disponível em: <http://jama-
network.com/journals/jama/article-abstract/2592245>. Acesso em: 30 jan. 2017.
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