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da Psicopatologia
As Bases da Psicopatologia
Revisão Textual:
Prof.ª M.ª Marcia Ota
As Bases da Psicopatologia
• Introdução;
• Normal e Anormal;
• A Tradição Sobrenatural;
• Tradição Biológica;
• Tradição Psicológica.
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Discutir os conceitos de normal, anormal e transtornos psicológicos;
• Refletir sobre as transformações dos conceitos a partir da dinâmica social e histórica;
• Estudar as questões da tradição sobrenatural e seus meandros;
• Observar as mudanças sociais significativas a partir dos critérios da tradição biológica;
• Investigar a tradição psicológica em sua variedade de acepções e práticas.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas: Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveitee as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha ha o foco!
focco!
rair co
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
hidratado.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer
parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar
um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua inter-
pretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de dis-
cussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar
o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE As Bases da Psicopatologia
Introdução
A psicopatologia se estrutura como uma ciência que estuda patologias psicológicas
chamadas por Barlow e Durand (2015) de transtornos psicológicos. Para esses autores,
o transtorno psicológico, também conhecido como comportamento anormal, é “uma
disfunção psicológica em um indivíduo, que está associada a sofrimento ou prejuízo no
funcionamento, bem como a uma resposta que não é típica ou culturalmente esperada”
(BARLOW; DURAND, 2015, p. 3).
A definição dada pelos autores lança mão de duas questões fundamentais para a reflexão
que serão analisadas historicamente no restante da unidade: normalidade/anormalidade
e atividade clínica.
A primeira delas é que a condição para a definição do transtorno passa pela defini-
ção da anormalidade e, consequentemente, da normalidade. Nessa perspectiva, há uma
noção de que o transtorno é um desvio de princípios de normalidade regulamentados
por uma certa cultura. Estudaremos, portanto, como se formam esses princípios, quais
as dinâmicas que os constituem e como as transformações históricas forjaram conceitos
de normalidade e anormalidade.
O outro ponto de destaque que será abordado e estudado no interior desta unidade
é que esses transtornos psicológicos preveem sofrimento humano e, nesse sentido, a
atividade clínica se revela fundamental. Analisaremos como essa atividade clínica se or-
ganiza a partir da não dissociação das instâncias práticas e teóricas, levando em conta,
portanto, como a pesquisa e o tratamento são elementos essenciais e conectados, e
como sua estrutura se modificou ao longo do tempo.
Normal e Anormal
Os conceitos, em geral, são produzidos em contato com o conhecimento científico
de sua época e com as condições de vida social e cultural das sociedades em questão.
Esse processo leva em conta fatores econômicos, sociais, culturais e históricos.
Não é incomum, por exemplo, que as pessoas enxerguem algum tipo de desvio de um
determinado comportamento padrão como anormal. Essa visada conceitual é notada-
mente marcada por uma expectativa de normatização da sociedade e de seus indivíduos.
Há, nessa perspectiva, uma forte homogeneização social, que cria tipos e modelos
a serem seguidos e condiciona o comportamento, os hábitos e a cultura de modo geral.
Esse processo normativo tende, portanto, a criar cisões sociais, processos discrimi-
natórios e sofrimento, na medida que classifica e qualifica indivíduos como normais e
outros como fora dos padrões dessa normalidade.
Esse contexto produz estereótipos, sedimenta estigmas e funda modelos a serem copia-
dos. Essa teia de sentidos que configura hábitos empurra qualquer desvio à marginalida-
de, tratando-o como um elemento não pertencente àquele contexto, como alguma coisa
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que precisa ser “consertada”; porém, para tanto, é preciso que se encontre as causas
desse desvio e se efetive o tratamento de reparação e recondicionamento à norma.
Diante deste cenário, várias perguntas tomam a frente da cena: o que é normal e o
que é normal? É possível definir critérios para estas definições? Essas definições são ne-
cessárias para as relações sociais? É possível a convivência entre o que se nomeia como
normal e anormal?
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físicas e psicológicas que não são coincidentes com a média de um determinado local,
ou violações de normas sociais, mesmo que esses violadores tenham razão.
Nesse sentido, passamos agora a estudar um pouco como esses conceitos de normalida-
de e anormalidade se desenvolveram ao longo do tempo em parte das sociedades ocidentais.
Barlow e Durand (2015) dividem essa história em três grandes momentos: a tradição
sobrenatural, a tradição biológica e a tradição psicológica.
A Tradição Sobrenatural
Esta tradição se funda nas bases de divisão moral do mundo, a partir de critérios de
bem e mal forjados em larga medida por dogmas religiosos. E, nesse sentido, os com-
portamentos que desviavam dos padrões eram tratados como malignos.
Importa salientar que, em muitos casos, nos vilarejos medievais, as pessoas com
transtornos psicológicos eram cuidadas, em revezamento, pelos próprios vizinhos.
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Figura 2 – GOODNOUGH, R. – Nomads (1960)
Fonte: wikiart.org
Outro fenômeno importante entendido como desviante que atravessou a Idade Média
foi a histeria em massa.
Hoje, estuda-se que esses fenômenos, nos quais se alastram determinados com-
portamentos podem ser causados por uma espécie de contágio emocional em que a
sensação de uma emoção se dissemina num determinado raio, ou seja, emoções, sensa-
ções, comportamentos estão num processo relacional entre as pessoas, configurando,
refletindo e estimulando modos de ser, estar e sentir.
Tradição Biológica
Tendo por base Barlow e Durand (2015), esta tradição tem seu ponto de partida oci-
dental no médico grego Hipócrates (460-377 a.C.). Hipócrates e seus discípulos deixa-
ram como legado um conjunto de obras chamado Corpo Hipocrático no qual debatem
e discutem, dentre outras coisas, os assim chamados transtornos psicológicos.
Para esses gregos, tais transtornos poderiam ser tratados como qualquer outra do-
ença. Além disso, em suas investigações e especulações, acreditavam que as causas das
psicopatologias poderiam advir de traumas na cabeça ou patologias cerebrais, sendo
influenciadas inclusive pela hereditariedade. O cérebro assumia centralidade na pers-
pectiva hipocrática, sendo o responsável pela emoção, a sabedoria e a consciência, e,
portanto, qualquer transtorno dessas funções teria no cérebro a sua causa.
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Alguns séculos depois, por volta de 129-198 d.C., o médico romeno chamado Galeno
aprofundou e desdobrou as ideias hipocráticas, deixando um legado para a tradição
biológica que gerou influência até o século XIX.
A sífilis, doença sexualmente transmissível, tem semelhança entre alguns seus sinto-
mas com a psicose, como por exemplo delírios persecutórios, e delírios e fantasias sobre
o tamanho de suas realizações. Durante muito tempo, a sífilis era tomada, portanto,
como um transtorno psicológico, com um nível alto e rápido de letalidade, designada
como paresia geral.
Por volta de 1870, a partir da teoria de germe de doença de Louis Pasteur, conseguiu
comprovar-se que a causa da sífilis era um microrganismo bacteriano. Posteriormente,
descobriu-se que a penicilina podia curar a doença. Em paralelo, para pacientes com
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paresia geral, a malarioterapia passou a ser indicada. No entanto, como nem sempre os
diagnósticos eram precisos, alguns médicos deduziram que todos os transtornos psico-
lógicos poderiam ser tratados e curados.
O psiquiatra norte americano John P. Gray foi outro importante marco da tradição
biológica. Para ele, as causas dos transtornos psicológicos – entendidas como insanidade
– eram de ordem física; logo, qualquer problema de ordem psicológica-mental deveria
ser tratado como um problema físico. Sendo assim, os tratamentos recomendados pelo
psiquiatra passavam pelo repouso, por uma dieta específica, permanência em ambien-
tes arejados etc.
O legado de Gray foi fundamental para que as condições dos hospitais fossem apri-
moradas, ampliadas e qualificadas a partir de uma perspectiva mais humanizada.
Tradição Psicológica
A tradição psicológica tem referenciais variados e muito distintos entre si, mas é na
modernidade que ela alça voos maiores e consegue se estabelecer como um importante
elemento de reflexão e tratamento das psicopatologias. Uma de suas grandes contribui-
ções é a integração dos fatores sociais e culturais aos fatores psicológicos, como causas
das patologias. Essa visada amplia os transtornos para além dos indivíduos e coloca a
discussão no interior da vida social.
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Apesar de consolidada no século XIX, essa perspectiva tem como percussor o psi-
quiatra francês Philippe Pinel (1745-1826). Pinel é um dos responsáveis por promover
propostas humanizadas, a partir de uma instituição psiquiátrica que valorizasse a po-
tência dos pacientes com transtornos, contribuindo para o bem-estar de sua estadia no
hospital e estimulando as mais variadas formas de produção e relação social. Essa linha
psiquiátrica se confronta fortemente com os manicômios criados no século XVI que
restringiam contundentemente a liberdade dos pacientes e os submetiam a práticas e
tratamentos degradantes.
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Para o comportamentalismo, a psicologia como ciência do comportamento deveria
se deter nos “atos passiveis de descrição objetiva em termos de estímulo e resposta,
formação de hábito ou integração de hábito.” (SCHULTZ; SCHULTZ, 1981, p. 247).
Para Watson, todo comportamento humano pode ser descrito a partir dessas carac-
terísticas, sem a necessidade de acesso aos conceitos e terminologias que descrevem os
processos e as dinâmicas da mente.
Essa redução do comportamento aos seus elementos básicos que seriam os estímu-
los e as respostas tinha como intenção a possibilidade de previsão e controle. E apesar
de ser redutiva, segundo Watson, essa metodologia era capaz de dar respostas sobre o
comportamento geral do organismo total. As respostas, que se mais complexas pode-
riam ser denominadas como “atos”, eram classificadas em apreendidas ou não apreen-
didas; e implícitas ou explícitas.
De acordo com Watson, era fundamental que se investigasse os processos das res-
postas apreendidas, para extrair possíveis leis de aprendizagem. Ao introduzir a cate-
goria implícita, esse autor fez-se valer de instrumentos a fim de poder observar o seu
funcionamento, isto porque essas respostas se manifestavam no interior do organismo
e, portanto, necessitavam de um instrumento para sua observação.
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A psicanálise tem seu nascimento no final do século XIX, assim como outras escolas
de pensamento no ramo da psicologia; contudo, suas semelhanças se dão mais em as-
pectos temporais, do que propriamente epistemológicos.
Importa notar que a psicanálise se confunde em seus primeiros passos com a história
de Sigmund Freud, que desenvolveu um sistema em termos de conteúdos e métodos mui-
to distintos dos demais sistemas que eram desenvolvidos no interior dos estudos psicoló-
gicos. A base de sua pesquisa era pautada pela relação clínica entre analista e paciente.
Em consonância com o defendido por Freud, portanto, era importante que se enfren-
tasse essas experiências ocultas que custam a aparecer na realidade. Era por meio desse
enfrentamento que essas perturbações poderiam vir à tona para serem elaboradas.
Diante desse quadro de exclusão forçada, para Freud, o psicanalista deveria trabalhar
junto ao paciente em favor da retomada desse material reprimido de volta à consciência.
Essa relação entre analista e paciente deveria se dar, nas ideias de Freud, de maneira
íntima, capaz de despertar a possibilidade de transferência do paciente para o analista.
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Figura 6 – TANAHASHI, K. – Timeless Spring
Fonte: wikiart.org
Conforme pondera Freud, os sonhos têm natureza dupla, uma manifesta e outra
latente. Os conteúdos manifestos são aqueles que o paciente é capaz de narrar, já os
conteúdos latentes são aqueles ocultos, aqueles que residem nas entrelinhas do material
narrado. O trabalho do analista é o de partir do material manifesto pelo paciente ao
material latente, procedendo por meio de interpretações desse material oculto.
A tarefa da interpretação dos sonhos é complexa porque esse material latente, em geral,
aparece nos sonhos de modo cifrado por meio de símbolos, metáforas, representações.
Portanto, para apreender o significado desse material, é necessário um trabalho esmiuçado,
detalhado que guarda relação com organizações simbólicas genéricas, mas sobretudo é
pautado por uma interpretação que se vincule às questões específicas do paciente.
Em linhas gerais, podemos dizer que, na concepção traçada por Freud, o id é a parte
mais primitiva e de mais difícil acesso da personalidade humana, nele estão manifesta-
dos instintos sexuais e agressivos. O id busca sua satisfação completa, sem se preocupar
com as normas e regras que regulamentam as dinâmicas sociais, ou seja, o id está sem-
pre em conflito com as posições morais estruturadas pela sociedade.
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Essa dinâmica de relação entre o id e a realidade é mediada por outro elemento, que
Freud chamou de ego. O ego, portanto, tem uma relação de dependência com o id, é
um elemento que emprega sua força a partir dessa derivação.
Para Freud, nessa relação de dependência, o ego se submete ao id, tentando propor-
cionar-lhe prazer, ou seja, tentando reduzir a tensão da energia libidinal.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
Maria Rita Kehl e Freud | Episódio 1
Na websérie Maria Rita Kehl e Freud, a autora do posfácio de “Amor, sexualidade, feminili-
dade” (livro da coleção Obras incompletas de Sigmund Freud), fala sobre o pai da psicaná-
lise, seus conceitos e sua relação com o feminino e a sexualidade.
https://youtu.be/OK0fH3jQCCY
Luta Antimanicomial no Brasil
Breve explicação do que é a Luta Antimanicomial e de como ela surgiu como resistência
aos horrores praticados pelas Instituições Psiquiátricas.
https://youtu.be/rQPCfNsHExo
Leitura
O normal e o patológico: contribuições para a discussão sobre o estudo da psicopatologia
Artigo que reflete sobre a dificuldade de conceituação do normal e do patológico, dada a
fluidez destes conceitos em suas apreciações e aplicações no ambiente social.
https://bit.ly/35PeoDz
Maria Homem: O que a Pandemia nos revela
A psicanalista avalia o impacto do momento que estamos vivendo em nossa saúde mental,
na vida sexual e na compreensão da morte
https://bit.ly/3qmgWm6
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Referências
AMARAL, M. Fundamentos e Semiologia Essencial. Disponível em: <https://www.
ipub.ufrj.br/wp-content/uploads/2017/11/Livro_17_12_2020.pdf>.
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