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PSICOLOGIA SOCIAL:

ASPECTOS HISTÓRICOS E EPISTEMOLÓGICOS


PROF. EDUARDO FREITAS PRATES – MESTRE EM PSICOLOGIA SOCIAL PELA PUC/SP

CURSO DE PSICOLOGIA

UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO, UNINOVE


AULA 2 – AS ORIGENS DA PSICOLOGIA SOCIAL

FERREIRA, Maria Cristina. Breve histórico da moderna psicologia social. In: TORRES, Cláudio Vaz; NEIVA,
Elaine Rabelo (Orgs). Psicologia Social: principais temas e vertentes. Porto Alegre: Artmed, 2011. pp. 13-30

Complementar:

FARR, Robert. A individualização da Psicologia Social. In: CAMPOS, Regina Helena de Freitas; GUARESCHI,
Pedrinho. (Orgs). Paradigmas em Psicologia Social: a perspectiva latino-americana. Petrópolis: Vozes, 2009. pp.
11-26.

LANE, Silvia. A Psicologia Social e uma nova concepção do homem para a Psicologia. In: LANE, Silva e CODO,
Wanderley (Orgs). Psicologia Social: o homem em movimento. 13ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1984. pp. 10-19.
OBJETIVOS DA AULA

Objetivo: compreender a origem da Psicologia Social em seu contexto histórico nos Estados Unidos e
na Europa, assim como sua repercussão na América Latina.

Objetivos específicos:
• Apresentar os antecedentes da Psicologia Social na tradição europeia;
• Compreender o desenvolvimento da Psicologia Social nos Estados Unidos;
• Distinguir as especificidades da psicologia social psicológica e da psicologia social sociológica;
• Compreender a crise da psicologia social que afetou a América Latina e em especial o Brasil.
PRIMEIROS APONTAMENTOS

• A Psicologia Social é uma disciplina científica recente que se formalizou em meados do século XX,
no entanto, é possível notar que sua consolidação se dá sob a influência de ideias que remontam
influências europeias do século XIX;

• Desde o início, não há consenso em diversos aspectos da Psicologia Social, com exceção da
compreensão e ênfase dada ao indivíduo ou à sociedade;

• É no cerne desta discussão que se evidenciam duas correntes: a psicologia social psicológica e a
psicologia social sociológica.
PSICOLOGIA SOCIAL PSICOLÓGICA E
PSICOLOGIA SOCIAL SOCIOLÓGICA

“[...] A psicologia social psicológica, segundo a definição de Gordon Allport (1954), que se tornou
clássica, procura explicar os sentimentos, pensamentos e comportamentos do indivíduo na presença
real ou imaginada de outras pessoas. Já a psicologia social sociológica, segundo Stephan e Stephan
(1985), tem como foco de estudo da experiência social que o indivíduo adquire a partir de sua
participação nos diferentes grupos sociais, com os quais convive. Em outras palavras, os psicólogos
sociais da primeira vertente tendem a enfatizar principalmente os processos intraindividuais, enquanto
os da segunda tendem a privilegiar as coletividades sociais.” (FERREIRA, 2011, p. 13)
OS PRECURSORES DA PSICOLOGIA SOCIAL

• Inglaterra: Charles Darwin e Hebert Spencer

• Alemanha: Wilhelm Wundt

• França: Emile Durkheim, Gabriel Tarde e Gustav Le Bon


CHARLES DARWIN (1809-1882)

• Cientista, naturalista e biólogo britânico;


• A teoria da evolução;

• A origem das espécies (1859) e a tese da seleção natural:

“[...] na briga pelos escassos recursos da natureza, somente as espécies com maior capacidade de
adaptação às variações da natureza conseguiram sobreviver e reproduzir-se. [...]” (FERREIRA, 2011,
p. 14)
HERBERT SPENCER (1820 – 1903)

• Filósofo, antropólogo e biólogo inglês;

• Princípios de psicologia (1870);


• Darwinismo social e a tese de “sobrevivência do mais adaptado”:

• “[...] Seu principal argumento era o de que as nações e os grupos étnicos podiam ser classificados na
escala evolucionista de acordo com o seu grau de desenvolvimento, organização, poder e capacidade de
adaptação. Desse modo, os povos mais civilizados e avançados em termos culturais eram
hierarquicamente superiores aos povos mais atrasados no que tange à escala evolucionista. [...]”
(FERREIRA, 2011, p. 14)
WILHELM WUNDT (1832 – 1920)

• Médico, filósofo e psicólogo alemão;

• Desenvolveu sua teoria no período de unificação da Alemanha (1871);

• Criação do primeiro laboratório de Psicologia na cidade de Leipzig (1879);

• Evolução de sua teoria:


WILHELM WUNDT (1832 – 1920)

• Processos psicológicos básicos (sensação, imaginação e sentimentos) – Psicologia científica


encarada como uma ciência natural que utiliza o método experimental;
• Processos psicológicos superiores (memória e pensamento) – Psicologia dos povos
(Volkerpsychologie) que utiliza o método histórico-comparativo:

“Em sua Volkerpsychologie, Wundt toma a mente como um fenômeno histórico, um produto da
cultura e da linguagem de um determinado povo, que não poderia ser explicada em termos individuais,
mas sim em termos coletivos. Por essa razão, detém-se no estudo da língua, da arte, dos mitos e dos
costumes, como forma de compreender a mente humana. [....]” (FERREIRA, 2011, p. 15)
ÉMILE DURKHEIM (1858 – 1917)

• Cientista, sociólogo, antropólogo e filósofo francês;


• É considerado um dos fundadores da Sociologia como disciplina científica;

• Representações individuais e representações coletivas (1898);


“ [...] as representações coletivas (como a religião, os mitos, etc.) constituem-se em um fenômeno ao
nível da sociedade e distinto das representações individuais, que estão no nível do indivíduo. Nesse
sentido, postula que os sentimentos privados só se tornam sociais quando extrapolam os indivíduos e
associam-se, formando uma combinação que se perpetua no tempo, transformando-se na representação
de toda uma sociedade. [...]” (FERREIRA, 2011, p. 15)
GABRIEL TARDE (1843 – 1904)

• Filósofo, sociólogo e criminologista francês;


• As leis da imitação (1890);

• A imitação encarada como um mecanismo básico:


“[...] Desse modo, qualquer forma de uma invenção ou descoberta, propaga-se na vida social por meio
da imitação, uniformizando-a. Para ele, as iniciativas individuais constituem-se em uma invenção,
enquanto as uniformidades da vida social associam-se à imitação, que consiste, portanto, em uma
socialização da inovação individual. [...]” (FERREIRA, 2011, p. 16).
GUSTAV LE BON (1841 – 1931)

• Médico, sociólogo, antropólogo francês;


• A psicologia das multidões (1895);

• Le Bon lança a tese da psicologia das massas:


“[...] as massas ou multidões constituem-se em seres psíquicos de características diferentes dos
indivíduos que a compõem. Nesse sentido, quando eles se juntam às massas, perdem suas
características superiores e sua autonomia, passando a ser regidos por uma alma coletiva, com
características independentes das de seus membros, além de mais primitivas e inconscientes. [...]”
(FERREIRA, 2011, p. 16)
A FUNDAÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL

• A Psicologia Social ganha status de ciência no início do século XX;


• 1908 é considerado o ano fundador da Psicologia Social moderna que teve como marco a
publicação de dois livros:

Uma introdução à psicologia social, de William McDougall

Psicologia Social: uma resenha e um livro texto, de Edward Ross


EDWARD ROSS (1866 – 1951)

• Sociólogo norte americano;

• Foi influenciado por Gabriel Tarde e Gustav Le Bon;


• Compreendia a psicologia social como estudo da uniformidade de pensamentos, crenças e ações,
constituídas por meio da interação entre seres humanos:

“[...] Segundo Ross, os fenômenos subjacentes a essa uniformidade são a imitação, a sugestão e o
contágio, o que explicaria a rápida uniformidade verificada entre as emoções e as crenças das
multidões. [...]” (FERREIRA, 2011, p. 16)
WILLIAM MCDOUGALL (1871 – 1938)

• Psicólogo britânico;

• Foi influenciado por Charles Darwin e Hebert Spencer;


• Desenvolveu a teoria psicológica dos instintos, enfatizando as características inatas dos instintos:
“[...] Segundo ele, os instintos apresentam três componentes: a percepção, que leva o indivíduo a
prestar a atenção aos estímulos relevantes a seus instintos; o comportamento, responsável por levar o
indivíduo a manifestar condutas destinadas a satisfazer seus instintos; e a emoção, que faz com que os
instintos estejam associados a estados emocionais positivos ou negativos (Boeree, 2006b).”
(FERREIRA, 2011, p. 17)
PSICOLOGIA/ SOCIOLOGIA:
A CISÃO EM SEUS PRIMÓRDIOS
• A cisão entre psicologia social psicológica e psicologia social sociológica já se faz sinalizar em sua
fundação como disciplina em 1908;

• Edward Ross (sociólogo)/ William McDougall (psicólogo), refletem a ênfase de suas respectivas
disciplinas na compreensão da psicologia social;

• Cada uma das duas disciplinas passará por um desenvolvimento distinto nos Estados Unidos.
O DESENVOLVIMENTO DA PSICOLOGIA SOCIAL
PSICOLÓGICA NOS ESTADOS UNIDOS
• No início do século XX, o behaviorismo se sobressai nos Estados Unidos;

• Destaca-se a contribuição de Floyd Allport (1890-1978), sobretudo, com o seu livro texto de
Psicologia Social, publicado em 1924;

“[...] uma psicologia verdadeiramente científica deveria estudar e explicar apenas o comportamento
humano observável, sem considerar construtos mentais não observáveis, como a mente, a cognição e
os sentimentos (McGarty e Haslam, 1997). [...]” (FERREIRA, 2011, p. 17).
A FACILITAÇÃO SOCIAL

• Floyd Allport desenvolver desenvolve experimentos que tem como base teórica o fenômeno da
facilitação social;

• Este fenômeno já havia sido observado por Tripplett em uma experiência que pode ser considerada
como um experimento de Psicologia Social, em 1897;

• A experiência de crianças enrolando anzóis (1897): crianças sozinhas tem um empenho menos
eficiente do que as que exercem a mesma atividade em grupo, Allport e outros psicólogos chegam à
mesma constatação em estudos posteriores e mais sofisticados ao longo século XX.
A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E A IMIGRAÇÃO
DE PSICÓLOGOS EUROPEUS
• A Segunda Guerra Mundial (1939-1945);

• Imigração em massa de europeus em direção aos Estados Unidos, dentre os quais, os psicólogos:
• Muzar Sheriff (1906-1988);
• Kurt Lewin (1890-1947);

• Fritz Heider (1896-1988);


• Solomon Asch (1907-1996).
O GESTALTISMO
EM CONTRAPOSIÇÃO AO BEHAVIORISMO
• Entende-se como gestaltismo:
“[...] Para o gestaltismo, as propriedades perceptivas de um objeto formavam uma gestalt, isto é, um
todo que apresentava características distintas da soma das partes que o constituem (McGarty e
Haslam, 1997). [...]” (FERREIRA, 2011, p. 18)

• Robert Farr (2009) defende que apesar de contrapor-se ao behaviorismo vigente nos Estados
Unidos, os gestaltistas mantém a individualização da psicologia social, portanto, mantendo-se na
psicologia social psicológica.
BEHAVIORISMO X GESTALT

“A perspectiva behaviorista é a de um observador dos outros, enquanto a perspectiva do psicólogo


gestaltista é a de um ator na cena social. Isto corresponde, respectivamente, às abordagens da
‘consistência da resposta’ e da ‘visão do mundo’ no estudo das atitudes (Campbell, 2003). [...]”
(FARR, 2009, p. 20).

• Consistência da resposta (comportamento observável);


• Visão do mundo (percepção individual).
A CRÍTICA DA INDIVIDUALIZAÇÃO NA
PSICOLOGIA SOCIAL

“A perspectiva da Gestalt individualizou o social tão efetivamente quanto o behaviorismo já o tinha


feito. A individualização desta feita, era em termos de percepção, e não de comportamento. No
contexto do Behaviorismo, a abordagem da “visão de mundo” ao estudo das atitudes parecerá ser
subjetiva. A única maneira de eliciar a perspectiva dos outros é convidá-los a dizer como eles veem o
mundo. Isto envolve o uso de métodos que se baseiam em relatos individuais no levantamento de
atitudes e aferição de opiniões. A perspectiva do ator é tão individualizada quanto a perspectiva do
observador. [...]” (FARR, 2009, p. 20)
KURT LEWIN (1890-1947)

• Psicólogo alemão emigrou para os Estados Unidos em 1933;


• Fez pesquisas experimentais em grupos reais e em suas respectivas lideranças;

• Teoria dos campos (1943):


“[...] na qual o grupo era visto como um campo de forças que tinha primazia sobre suas partes, isto é,
sobre seus membros. Ele inaugurou ainda um programa a que denominou de pesquisa-ação, cujo
objetivo era avaliar o comportamento dos membros de grupos da comunidade e colaborar com sua
mudança de atitudes e comportamentos.” (FERREIRA, 2011, pp. 18-19)
FRITZ HEIDER (1896 – 1988)

• Psicólogo austríaco;

• Desenvolveu a teoria da atribuição e a teoria da consistência cognitiva:

“[...] ele estabelece os fundamentos das teorias de atribuição, ao defender a ideia de que, em suas relações
interpessoais, o indivíduo percebe o outro, como forma de tornar o mundo social mais organizado, estável e
previsível. Para tanto utiliza-se de fatores pessoais, internos (capacidade, esforço, etc.) ou de fatores impessoais,
externos (sorte, situação, etc.). [...]” (FERREIRA, 2011, p. 19)

“[...] Heider constrói os pilares das teorias da consistência cognitiva ao propor o princípio do equilíbrio cognitivo,
segundo o qual as pessoas tendem a manter sentimentos e cognições coerentes sobre um mesmo objeto ou pessoa,
de modo a obter uma situação de equilíbrio. [...]” (ibid, p. 19)
O PERÍODO DO PÓS-GUERRA
(1945 EM DIANTE)
• Período de intensa produção no campo da psicologia social;
• A psicologia social é convocada a contribuir na reconstrução do pós-guerra;

• Theodor Adorno (1903-1969), proveniente da Escola de Frankfurt, junto de colaboradores publica A


personalidade autoritária (1950):
“[...] defende a tese de que o preconceito contra as minorias sociais em geral (bem como o
antissemitismo, em particular) está associado a um tipo de personalidade autoritária, caracterizado por
traços de rigidez de opiniões, adesão a valores convencionais e intolerância.” (FERREIRA, 2011, p.
20)
A ATITUDE COMO OBJETO DE PESQUISA

• A atitude volta a ser objeto de estudo, no entanto, não somente como mensuração da atitude, mas na
mudança de atitudes;

• Ocorre a intensificação do estudo sobre grupos remetendo as bases dos estudos de influência social
e processos intragrupais;

• Entre 1960 e 1970, as pesquisas sobre a mudança de atitude foram sendo substituídas pelas teorias
de base cognitivista, dentre as quais a teoria da dissonância cognitiva de Festinger.
A TEORIA DA DISSONÂNCIA COGNITIVA

“De acordo com Festinger (1957), as pessoas tendem a buscar a harmonia ou a congruência entre suas
crenças e atitudes. Desse modo, quando são induzidas a emitir atitudes contrárias às suas crenças,
entram em dissonância cognitiva, o que lhes causa desconforto e as leva a mudar suas crenças ou
atitudes, de modo a alcançar novamente a congruência. Assim, por exemplo, se uma pessoa fuma e
sabe que isso é prejudicial à saúde, ela poderá resolver essa dissonância parando de fumar (mudança
de atitude) ou buscando informações de que fumar não é prejudicial à saúde (mudança de crenças).”
(FERREIRA, 2011, p. 21, destaques nossos)
DA TEORIA DA DISSONÂNCIA PARA
AS TEORIAS DA ATRIBUIÇÃO
• Entre os anos de 1970 e 1980, as teorias da dissonância ou equilíbrio decaem e se sobressaem os
estudos baseados nas teorias da atribuição:

“[...] Essas teorias desenvolveram-se a partir dos trabalhos de Heider (1944, 1958) sobre as relações
interpessoais e têm como principal objetivo a investigação acerca do modo pelo qual as pessoas
inferem causas sobre o próprio comportamento e sobre o comportamento das outras pessoas, isto é, o
que as leva a concluir que o responsável pelo comportamento é o próprio indivíduo ou a situação. [...]”
(FERREIRA, 2011, p. 21)
• Com as teorias da atribuição, consolida-se o cognitivismo a partir da década de 1980:

“[...] Tal abordagem focaliza-se na compreensão da cognição social, isto é, do processamento da informação social,
baseado no pressuposto de que o comportamento social pode ser explicado por meio dos pressupostos cognitivos a
ele subjacentes (Fiske e Taylor, 1984). [...]” (FERREIRA, 2011, p. 21)

“[...] Ela se volta para o estudo da categorização dos objetos sociais, ou seja, para a análise das estratégias que as
pessoas utilizam para formar impressões, crenças ou cognições sobre os estímulos sociais que as rodeiam (o
próprio indivíduo, bem como outras pessoas, grupos e eventos sociais), e do modo pelo qual tais categorias afetam
seu comportamento.” (ibid, pp. 21-22)
A CRISE DA PSICOLOGIA SOCIAL

• A Era de Ouro da Psicologia Social (1945 até década de 1970);

• O modelo de pesquisa-ação (Lewin, 1930) foi progressivamente substituído pela pesquisa de


processos intraindividuais de natureza cognitiva:
“Tendo como meta última a investigação das leis universais capazes de explicar o comportamento
social, a psicologia social psicológica estrutura-se progressivamente como uma ciência natural e
empírica, que desconsidera o papel que as estruturas sociais e os sistemas culturais exercem sobre os
indivíduos (Pepitone, 1981). [...]” (FERREIRA, 2011, p. 22)
A CRISE DA PSICOLOGIA SOCIAL

• Com a individualização excessiva da psicologia social psicológica, surge uma série de críticas em
relação às bases conceituais e metodológicas;

• Em fins da década de 1960 e início da década de 1970, o mundo passa por uma onda de
questionamentos (maio de 1968, movimentos feministas, crises sociais, etc.);

• O modelo experimental da psicologia social e sua desvinculação com a realidade social passam a
entrar em pauta das críticas.
O DESENVOLVIMENTO DA PSICOLOGIA SOCIAL
SOCIOLÓGICA NOS ESTADOS UNIDOS
• A psicologia social sociológica, surge com a iniciativa de sociólogos de se diferenciarem do modelo
behaviorista;

• A principal vertente da psicologia social sociológica é o interacionismo simbólico, cujos principais


responsáveis por seu desenvolvimento são:
• Charles Cooley (1864-1929)
• George Mead (1863-1931)
GEORGE COOLEY (1864-1929)

• Sociólogo, influenciado por Hebert Spencer (darwinismo social);

• Defendia uma concepção evolutiva da mente e da sociedade, privilegiando a linguagem e a


comunicação;
“Ao explicar a formação da identidade, Cooley usa a expressão ‘eu refletido no espelho’ [...] segundo
o autor, o indivíduo, ao interagir com as outras pessoas, torna-se consciente da imagem e dos
sentimentos que essas outras pessoas nutrem por ele, isto é, elas atuam como um espelho no qual o
indivíduo se vê.” (FERREIRA, 2011, p. 23)
GEORGE MEAD (1863-1931)

• Filósofo norte-americano;

• Realizou parte de sua formação com Wilhelm Wundt;

• Sua teoria se centra na linguagem e tem o ato comunicativo como a unidade básica de análise da psicologia
social:

• “Em síntese, para Mead, o indivíduo é produto do desenvolvimento das pessoas em sociedade e estrutura-se por
meio do processo de interação simbólica, que leva as pessoas a tomarem consciência de si próprias, mediante a
perspectiva dos demais membros de seu grupo social. Ele situa, portanto, a formação da identidade no campo
das relações interpessoais, da organização social e da cultura ao postular que o sujeito apropria-se do conjunto
de padrões comuns a diferentes grupos socioculturais para desenvolver seu próprio eu (Stephan e Stephan,
1985).” (FERREIRA, 2011, p. 23)
A ESCOLA DE CHICAGO E O
INTERACIONISMO SIMBÓLICO
• George Mead lecionou na Universidade de Chicago, mas em vida não conseguiu difundir
amplamente suas ideias;

• Coube a Hebert Blumer (1900-1987), um sociólogo que assumiu as aulas de psicologia social de
Mead, após a sua morte, continuar o trabalho de seu antecessor, tendo nomeado a teoria de Mead
como interacionismo simbólico, compreendendo-se que a interação entre as pessoas se dá por meio
de símbolos.
• A Escola de Chicago realizava suas pesquisas para responder aos problemas sociais que enfrentava
a cidade em meados das décadas de 1930 e 1940.
O DESENVOLVIMENTO DA PSICOLOGIA SOCIAL
NA EUROPA
• Foi criado em 1964, o Comitê transnacional, sob patrocínio do Social Science Research Councial, o
que permitiu, principalmente nos anos 1970 o crescimento da influência da psicologia social
europeia no mundo;
“[...] Suas primeiras iniciativas foram no sentido de fomentar o desenvolvimento da psicologia social
na Europa, razão pela qual promoveu a realização de vários encontros científicos e treinamentos para
os psicólogos sociais europeus, nos quais os conhecimentos por eles produzidos começaram a ser
divulgados. [...]” (FERREIRA, 2011, p. 25)
O DESENVOLVIMENTO DA PSICOLOGIA SOCIAL
NA AMÉRICA LATINA
• A psicologia social no Brasil até a década de 1970, basicamente era influenciada pela psicologia
social psicológica norte-americana;

• Em fins dos anos 1960, a psicologia social europeia chega ao Brasil promovida pelo Comitê
Transnacional, surge a Associação Latino-Americana de Psicologia Social (ALAPSO);

• A iniciativa da ALAPSO, não dá certo, já em meio às críticas da psicologia social estrangeira não
responder ao contexto social dos países da América Latina.
O DESENVOLVIMENTO DA PSICOLOGIA SOCIAL
CRÍTICA NA AMÉRICA LATINA
• Surgem publicações voltadas à compreensão das particularidades de cada país;

• São fundadas novas associações atreladas à psicologia social crítica, como a Associação Venezuelana de
Psicologia Social (AVEPSO);

• Ignácio Martin-Baró (1942-1989), psicólogo e padre jesuíta, desenvolveu seus trabalhos em El Salvador,
defendeu a criação de uma psicologia social comprometida com a realidade latino americana;

“[...] a psicologia social crítica, grosso modo, caracteriza-se por romper com o modelo neopositivista de ciência e,
em consequência, com seus postulados sobre a necessidade de o conhecimento científico apoiar-se na verificação
empírica de relações causais. Em contraposição a tal modelo, defende o caráter relacional da linguagem e a
importância das práticas discursivas para a compreensão da vida social (Álvaro e Garrido, 2007).” (FERREIRA,
2011, p. 26)
A PSICOLOGIA SOCIAL NO BRASIL

• As primeiras publicações no campo da Psicologia Social no país se dão na década de 1930;

• No entanto, a formalização da Psicologia Social se dá com a regulamentação da profissão em 27 de agosto de


1962 e a obrigatoriedade desta disciplina no currículo da formação de psicólogos;

• É criada em 1980, a Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO);

• Os psicólogos brasileiros agregam o movimento de crítica dos modelos estrangeiros, formulando suas próprias
teorias, eis que surge a publicação de Psicologia Social: o homem em movimento, organizado por Silvia Lane e
Wanderley Codo.
SÍNTESE DA CRÍTICA BRASILEIRA VOLTADA AOS
MODELOS ESTRANGEIROS
“A relação entre Psicologia e Psicologia Social deve ser entendida em sua perspectiva histórica,
quando na década de 50 se iniciam sistematizações em termos de Psicologia Social, dentro de duas
tendências predominantes: uma, na tradição pragmática dos Estados Unidos, visando alterar e/ou criar
atitudes, interferir nas relações grupais para harmonizá-las e assim garantir a produtividade do grupo –
é uma atuação que se caracteriza pela euforia de uma intervenção que minimizaria conflitos, tornando
os homens ‘felizes’ reconstrutores da humanidade que acabava de sair da destruição de uma II Guerra
Mundial. A outra tendência, que também procura conhecimentos que evitem novas catástrofes
mundiais, segue a tradição filosófica europeia, com raízes na fenomenologia [Gestalt], buscando
modelos científicos totalizantes, como Lewin e sua teoria do Campo.” (LANE, 1984, p. 10)
CONSIDERAÇÕES FINAIS

• No século XIX, o campo da psicologia social, não estabelecia limites entre os campos da Psicologia e da
Sociologia;

• É no início do século XX, em especial, em 1908 que passa a se estabelecer limites que fundam a divisão entre
psicologia social psicológica e psicologia social sociológica;

• A psicologia social contemporânea é uma disciplina plural, marcada por diversas tendências, situada na
interface entre Psicologia e Sociologia:

“[...] buscando compreender a natureza e as causas do comportamento social humano, partindo do


pressuposto de que o contexto intraindividual e o social interagem mutuamente, influenciando e sendo
influenciado pelo comportamento individual. [...]” (FERREIRA, 2011, p. 28)

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