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CAPÍTULO XI
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De acordo com Higgins (2000), a “psicologia social da cognição” corresponde à pergunta de G. Allport (1968): o que
acontece à vida mental do indivíduo quando este entra em relação real ou simbólica com um outro. A “cognição da
psicologia social” ou a abordagem cognitiva da psicologia social pode ser ilustrada por outra pergunta de Allport: como é
que a vida mental do indivíduo influencia a sua relação com os outros.
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CAIXA 1
MANIFESTAÇÃO
pública
mundo social
LOCALIZAÇÃO
individual colectiva
mundo pessoal
privada
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(que justificam as desigualdades sociais) e os grupos. Dito de outra forma, os estereótipos são
valores igualitários (que se opõem às desigual- associações entre categorias sociais e traços ou
dades) coexistem e são ambos idealizados como atributos.
fundadores da ordem social democrática. No Por exemplo, um estereótipo muito associado
mesmo sentido, Sidanius e Pratto (1999) defen- aos grupos minoritários é o de que são violen-
dem que as sociedades contemporâneas são tos. De facto, é recorrente a comunicação social,
sustentadas por mitos legitimadores de orienta- a polícia e a comunicação quotidiana informal
ção oposta: os que legitimam a desigualdade associarem os membros de grupos minoritários
entre grupos sociais (como as teorias raciais, o a comportamentos delinquentes. Muitos se
sexismo ou as teorias nacionalistas) e os que se lembrarão que no Verão de 2008 ocorrerem uma
lhe opõem e promovem a igualdade entre gru- série de assaltos violentos na região de Lisboa.
pos, como a ideia de direitos humanos univer- Em consequência, a polícia, para que a popula-
sais (Spini e Doise, 1998; 1995). ção se sentisse mais segura, desencadeou uma
grande operação nos chamados “bairros proble-
A importância dos processos associados ao
máticos” onde habitam imigrantes e pessoas de
pensamento social, para compreendermos a acção
origem africana. Embora nenhuma prisão rela-
social e o próprio funcionamento do sistema
cionada com aqueles assaltos tivesse sido
cognitivo, foi sublinhada por Moscovici quando
efectuada, preservou-se a crença de que é nesses
propôs o conceito de “sociedade pensante”: assim
bairros que residem os delinquentes. Como
como a sociedade pode ser considerada um sis-
explicar esta associação recorrente entre mino-
tema económico e um sistema político, também
rias e comportamentos delinquentes? De onde
pode ser considerada um sistema pensante virão estas crenças colectivas? Da “natureza
(Moscovici, 1988; ver Augustinos, Walker e real” dos seus objectos, isto é, no caso presente,
Donaghue, 2006). Quer dizer, um espaço de inte- “as pessoas de grupos minoritários”? Vamos
racção social onde as pessoas se interrogam e assumir que essas crenças decorrem de proprie-
procuram encontrar respostas para as questões dades dos indivíduos que as partilham, e dos
que, em conjunto com outras, se colocam. Mas contextos em que são enunciadas, e não de
quais são os processo sociais e psicológicos que propriedades dos seus objectos. Esta hipótese
acompanham a produção de pensamento social? abre uma nova pergunta. Que propriedades dos
É esta a questão que abordamos a seguir. indivíduos estão implicadas na produção de
crenças sobre os grupos ou objectos sociais?
Parte dessas propriedades poderão decorrer do
2. Processos cognitivos, contextos sociais funcionamento do sistema cognitivo. Outra parte
e pensamento social poderá decorrer do contexto social em que os
indivíduos pensam.
Tomemos como exemplo a construção social
dos estereótipos (ver Capítulo IX, Estereótipos:
antecedentes e consequências das crenças sobre 2.1. Processos cognitivos e pensamento social
os grupos). Os estereótipos sobre grupos sociais
são crenças largamente partilhadas pelas pessoas A importância dos processos cognitivos,
sobre os respectivos grupos e sobre outros enquanto, tais na manutenção de crenças colec-
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tivas pode ser ilustrada com base num estudo de No ponto seguinte, vamos analisar uma outra
Hamilton e Gifford (1976) sobre correlações teoria que nos ajudará a compreender, não o
ilusórias e estereótipos sobre grupos minoritá- papel dos factores cognitivos nas crenças
rios. As correlações ilusórias referem-se a uma colectivas, mas o papel de factores sociais na
sobre-estimação da co-ocorrência de dois acon- produção dessas mesmas crenças.
tecimentos (ver Capítulo IX, Estereótipos: ante-
cedentes e consequências das crenças sobre os
grupos). No estudo referido os participantes 2.2. Factores socais e pensamento social
eram confrontados com um certo número de
frases em que indivíduos de dois grupos dife- Mostrou-se, numa pesquisa realizada há
rentes (Grupo A e Grupo B) eram descritos alguns anos, que a maioria dos jovens univer-
como tendo realizado comportamentos posi- sitários europeus pensa que os alemães são
tivos e negativos. Além disso, era dito que o competentes, embora não sejam simpáticos, e
Grupo A tinha o dobro dos membros do Grupo que os portugueses são simpáticos, mas pouco
B, sendo deste modo criada a ideia de que o competentes (Cuddy et al., 2009). Este resultado
pode ser explicado no quadro da teoria de Fiske
grupo A era maioritário relativamente ao Grupo
e co-autores (Fiske, Gluck, Cuddy e Xu, 2002)
B. Eram enumerados mais comportamentos
como decorrendo, não de características dos
desejáveis (27) do que indesejáveis (12) para
portugueses ou dos alemães, mas do contexto e
ambos os grupo. Para o Grupo A: 18 comporta-
das relações sociais em que são gerados os traços
mentos desejáveis para 8 indesejáveis; para o
atribuídos aos grupos humanos.
Grupo B: 9 comportamentos desejáveis para 4
De facto, no modelo a que chamaram Teoria
indesejáveis. Ou seja, a proporção de compor-
Estrutural do Conteúdo dos Estereótipos, Fiske e
tamentos desejáveis (69%) e indesejáveis (31%)
colaboradores (2002) argumentam que é pos-
era a mesma em ambos os grupos. Contudo,
sível predizer os traços estereotípicos de um
quando era pedido aos participantes que recor- exogrupo a partir de dois factores: o estatuto
dassem o número de comportamentos desejáveis que lhe é atribuído e a natureza das relações
e indesejáveis, estes lembravam-se correctamente percebidas (cooperação vs. competição) entre o
do número de comportamentos desejáveis, mas endogrupo e o exogrupo (ver Capítulo VIII,
subestimavam o número de comportamentos Estruturas e dinâmicas de grupo). Assim, os estu-
negativos do grupo maioritário e sobrestimavam dos desta equipa de investigação mostram que
o número de comportamentos negativos do as crenças estereotípicas se organizam em torno
grupo minoritário. Ou seja, os participantes de duas dimensões fundamentais (competência
estabeleceram uma correlação ilusória, asso- e simpatia) e que o estatuto atribuído por um
ciando os comportamentos negativos (menos endogrupo a um exogrupo e a natureza da inter-
frequentes) ao grupo minoritário (menos fre- dependência (competitiva ou cooperativa) per-
quente). Um mecanismo cognitivo (a correlação cebida nas relações entre grupos determinam a
ilusória) pode contribuir assim para os estereó- forma como um exogrupo é posicionado nessas
tipos negativos associados aos grupos minoritá- dimensões pelo endogrupo. Um grupo perce-
rios, com consequências pessoais e sociais gra- bido como tendo alto estatuto e como sendo
víssimas. cooperativo é também visto como competente e
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simpático (por exemplo, no estudo referido, os colectivas de pensamento, neste caso – o con-
endogrupos e os seus aliados são definidos teúdo dos estereótipos sobre grupos sociais.
desta forma); um grupo visto como tendo baixo O processo que estamos a descrever torna-se
estatuto e como sendo cooperativo é percebido ainda mais claro se evocarmos a hipótese de
como incompetente e simpático (e. g., as pes- Moscovici (1976) de que na produção de
soas idosas, os deficientes); um grupo de alto pensamento intervêm dois sistemas cognitivos
estatuto e competitivo é percebido como com- (ou um sistema e um meta-sistema): “um sis-
petente e antipático; e, finalmente, um grupo de tema que procede a associações, inclusões, dis-
baixo estatuto e competitivo é percebido como criminações, deduções, ou seja, o sistema opera-
incompetente e antipático. tório; e outro que controla, verifica, selecciona
com a ajuda de regras lógicas ou não; trata-se de
um meta-sistema que trabalha o que o primeiro
2.3. A articulação psicossociológica produziu” (p. 254).
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das estimativas dos outros participantes. Esta 4.3. Identidade, consenso e diferenciação
experiência poderá ser associada ao processo de de crenças colectivas
construção de conhecimento, ilustrando como
este depende de factores grupais e, ao mesmo A teoria da identidade social de Tajfel (1972)
tempo, em certas circunstâncias, envolve ajus- e Tajfel e Turner (1979) é recorrentemente invo-
tamentos mútuos, convergências que resultam cada para explicar os fenómenos de discri-
de uma negociação implícita. Aliás, esta orienta- minação e antagonismo entre grupos. Mas esta
ção para a convergência é mais provável quando teoria oferece igualmente bases para o enten-
os membros do grupo experienciam algum sen- dimento da construção do pensamento social,
timento de identificação com o grupo (Abrams, normalmente, a partir da hipótese segundo a
Wetherell, Cochrane, Hoff e Tuner, 1990). qual os grupos procuram uma diferenciação
A negociação é fundamental na construção positiva entre si, o que levará os seus membros
do conhecimento colectivo e é nesta linha que a diferenciarem e investirem de mais valor as
pode ganhar sentido o facto de alguns estudos suas crenças comparativamente às dos exo-
terem mostrado que a simples partilha de grupos (e.g., Jetten, Spears e Manstead, 2001).
informação aumenta a percepção de validade Da mesma forma, a partir da teoria da auto-
subjectiva dessa informação (Hardin e Higgins, categorização (Turner et al., 1987), uma refor-
1996). Da mesma forma, a experiência clássica mulação da teoria da identidade social original,
de Lewin (1943) sobre a mudança de hábitos foram desenvolvidos modelos que ajudam a
alimentares mostra também que a partilha de compreender as bases grupais e intergrupais do
informação e a discussão são fundamentais para pensamento social. É o caso, por exemplo, do
mudar e cristalizar novos comportamentos. conceito de meta-contraste, segundo o qual o
Esta dimensão de negociação associada ao protótipo (de atitudes, sentimentos, comporta-
pensamento social não pode porém deixar mentos) que define um grupo procura maximi-
esquecer a dimensão de poder e coercividade que zar as diferenças entre o endogrupo e outros
está igualmente presente na construção e manu- grupos e, ainda, a minimizar as diferenças den-
tenção do conhecimento colectivo. As normas tro do endogrupo (Turner, 1987). No quadro da
que regem a dinâmica dos grupos (e. g., França e análise da identidade como um dos princípios
Monteiro, 2004; Marques e Paéz, 1994) e as organizadores do pensamento social, importa
várias modalidades de poder (ver French e então discutir duas questões: a) as categorias
Raven, 1959) constituem limites à negociação sociais e os grupos a elas associados como um
social do significado e impõem-se ao conhe- produto do pensamento social; e b) a identifi-
cimento emergente (e. g., Batel e Castro, 2009; cação com os grupos sociais como determinante
Howarth, 2006). As representações colectivas da diferenciação social de crenças2.
no sentido de Durkheim (1898), quer dizer, Tomemos, como ponto de partida, o pro-
representações em larga medida indiscutíveis, cesso de categorização social e a génese psico-
são um tipo de representações que dificulta a lógica dos grupos sociais. É no quadro da
emergência de novas representações sobre os relação entre a categorização e a identidade que
objectos sociais. Tajfel (1972) define a identidade social como o
2
Retomamos aqui uma proposta teórica já enunciada na 4.ª edição desta obra (Vala, 2000).
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O primeiro texto publicado em que Moscivici fala de “um esboço de uma teoria das representações sociais” data
de 1981.
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“A casa encantada”, na tradução portuguesa.
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culturais relativamente estáveis – que incluem, que ainda não tiveram tempo para sedimentar,
por exemplo, as representações sociais do que é por serem “novas”. Muitas destas “novas”
ser pai ou mãe, as quais são alvo, quer de representações são continuamente fornecidas à
reforços, quer de negociações e contestações sociedade pela ciência, pelos seus saberes e
contextuais (Castro e Batel, 2008; Monteiro e pelos seus praticantes. O conceito de represen-
Castro, 1996). O resultado destas negociações tação social vai ser, assim, um instrumento para
vai assegurando, nalguns casos, a estabilidade, e analisar como se modifica o senso comum ao
noutros a mudança social, que pode por sua vez ser alimentado pelas inovações científicas, e
ser mais lenta ou mais radical. para examinar como as representações de certos
Uma síntese das ideias acima expostas pode objectos – como a infância, a doença mental ou
ser encontrada na seguinte afirmação: “As a sexualidade – se vão modificando por influên-
pessoas perguntam: em que é que o conceito de cia de determinadas ideias científicas.
representações sociais é diferente entre Moscovici Porém, como foi sendo tornado claro com o
e Durkheim? Espero, assim, que a resposta a tempo, o interesse desta abordagem pelas
esta pergunta esteja agora clara. Ao estudar as representações em construção não se esgota no
representações sociais é necessário estudar, estudo da forma como a ciência transforma o
tanto a cultura como a mente individual” senso comum. Pelo contrário, o projecto das
(Moscovici e Marková, 2000, p. 255), e ainda as representações sociais é examinar como se
“redes de pessoas e das suas interacções” (p. 256). modifica o senso comum ao ser alimentado, não
Se tomarmos em conta estas precisões, vemos só pela ciência, mas também por todos os outros
que estudar as representações sociais nos obriga sistemas sociais; e analisar como tudo isto
a articular, em simultâneo, três níveis de análise: ocorre por meio da comunicação, que põe as
o cultural, o interactivo e o individual (Castro e novas ideias ou propostas em circulação na
Batel, 2008). Moscovici considera que esta sociedade e, ao mesmo tempo, as vai alterando.
articulação tem como precursores clássicos das No presente capítulo consideramos que esta
ciências sociais não só Durkheim, mas também segunda reformulação introduzida pelo conceito
Weber e Simmel, como mostrou no seu livro, de representação social relativamente ao
hoje clássico, A Invenção da Sociedade conceito de representação colectiva – a impor-
(Moscovici, 2011). tância conferida à forma como ideias ou
acontecimentos inovadores afectam e alteram a
cultura e o conhecimento social – é muito
A segunda questão conceptual: relevante. De facto, é esta reformulação que
inovação e representações sociais em mutação possibilita ao conceito de representação social
tornar-se um instrumento de análise da mudança
A segunda transformação que Moscovici social e cultural, bem como da resistência a esta
introduziu face no conceito de representação (Castro e Batel, 2008; Howarth, 2006; Moscovici,
colectiva refere-se ao facto de as representações 1972).
sociais se interessarem pelo estudo das Assim, neste capítulo temos em conta que as
representações em construção (“in the making”) representações sociais e o conhecimento social
(Moscovici, 1984b). Estas são representações se modificam por acção de inovações oriundas
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nência sem a mudança e que, entre o novo e o Caixa 2). Em seguida, serão abordados: (1) os
velho, o pensamento social elabora um tecido processos de objectivação e ancoragem, através
contínuo de significados; dos quais se constituem as representações
– (2) o conceito de representação social sociais; (2) e as três formas de comunicação das
indica também que não se pode explicar o representações, que são também formas através
individual sem o social, nem vice-versa, e que das quais são elaboradas: difusão, propagação e
não há corte entre um e outro nível; propaganda.
– (3) esta abordagem interessa-se especifi-
camente pela forma como as fontes de inovação Um conceito e uma teoria
transformam o conhecimento social e as
culturas, e pelos processos que contribuem quer As definições da Caixa 2 apresentam a
para acelerar quer para resistir à mudança; representação social como um conceito que
– (4) esta abordagem confere particular remete para um fenómeno (Moscovici, 1984b),
relevo à comunicação e ao discurso quotidia- ou seja, como algo que está no mundo e que
nos, pois estes constituem os meios através dos procuramos entender e explicar. Indicam ainda
quais as representações se elaboram, difundem que esse fenómeno é o resultado das tentativas
e transformam. humanas de produzir sentido, utilizado para
comunicarmos e coordenarmos as nossas
acções de forma a podermos viver em comuni-
6.2. Representação social: definição dade (Wagner, 1998). No entanto, a expressão
e construção “representação social” refere-se também a uma
teoria (Jovchelovitch, 2008; ver também Castro,
Definição 2002). Enquanto teoria em sentido lato, este
quadro analítico indica quais os requisitos epis-
Vamos então apresentar algumas definições temológicos necessários para abordar e entender
clássicas do que é uma representação social (ver as representações.
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Claro que este não-fechamento não é característica exclusiva deste conceito. Um conceito tão central na antropologia
como o de cultura foi aceitando definições sucessivas e ainda hoje não há total consenso sobre ele. E mesmo sobre um
conceito como o de esquema, de uma corrente – a Cognição Social – mais preocupada com definições operacionais, é
dito: “O conceito geral de esquema é provavelmente o certo, mas ainda tem que ser apropriadamente caracterizado ou
formulado” (Markus e Zajonc,1985, p. 149).
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Hoje em dia a SIDA não é já tão simplisticamente personificada neste grupo, mas não há dúvidas que restam ainda
no pensamento social traços desta equivalência: um exemplo é o facto de, nosso país, os homossexuais serem ainda
impedidos de doar sangue.
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Objectivação
Num estudo sobre a forma como o processo de objectivação do suicídio ocorre na imprensa,
considerou-se como exemplares do suicídio as individualidades que se suicidaram, ou que fizeram
tentativas de suicídio. Nos artigos analisados, identificaram-se 14 personagens, referenciadas em 25
artigos, que foram agrupadas em três categorias: figuras públicas (Maxwell e Diana Spencer), artistas
(Marilyn Monroe, Romy Schneider, Miroslava, Elis Regina, Soares dos Reis) e escritores (Camilo
Castelo Branco, Florbela Espanca, Mário de Sá Carneiro, Hemingway, Jack London, Sylvia Plath e
Césare Pavese). Para conhecer a representação do suicídio que estes tipos de exemplares objectivam,
foi realizada uma análise factorial de correspondências.
O primeiro eixo desta AFC opôs os artistas, qualificados pelos atributos famoso, fascinante e lindo,
às figuras públicas, qualificadas pelos atributos desesperado e pressionado. O segundo eixo opôs as
figuras públicas (desiludido e pressionado) aos escritores (deprimido e apaixonado). Estamos, assim,
perante três tipos de suicídio caracterizados por dinâmicas diferentes: a depressão e a paixão, como uma
expressão de uma dinâmica interna perturbada; a pressão externa que faz do suicida uma vitima; e o
sucesso que, como sugerem outros resultados, é a expressão de alguém que se excede e é vítima deste
excesso.
Texto elaborado por Olga Ordaz, a partir do seu estudo sobre a representação social do suicídio na
imprensa (Ordaz e Vala, 1997).
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suicidas e de motivações para o suicídio, perso- significado antigas são usadas para conferir
nificados em figuras públicas, artistas ou sentido a uma doença nova e não familiar.
escritores emblemáticos (ver Caixa 3); Outro exemplo do estudo da ancoragem pode
ser encontrado numa pesquisa sobre a representa-
(b) a figuração – esta refere-se ao facto de ção da manipulação genética e dos Organismos
imagens e metáforas substituírem conceitos e Geneticamente Modificados (OGM) na imprensa
ideias complexas (ver Caixa 4); portuguesa (Castro e Gomes, 2005). O estudo
partia da ideia de que diferentes notícias e
(c) por fim, há ainda o sub-processo de jornais iriam também usar categorias diferentes
ontologização, que consiste em dotar de exis- para ancorar a novidade que os OGM represen-
tência concreta (ser) ideias, qualidades, ou tavam. Por sua vez, ancoragens diferentes iriam
conceitos que obviamente não a possuem. posicionar os OGM em campos de significado
diferentes, uns mais positivos, outros mais
negativos. Os resultados mostraram que a anco-
A ancoragem ragem dos OGM e da manipulação genética no
domínio da saúde era feita em categorias e
Vejamos agora o que é a ancoragem. Este noções positivas, como progresso e ciência. Já a
processo está implicado na classificação de manipulação genética aplicada à agricultura e
ideias, coisas ou pessoas em categorias. O que é aos alimentos estava ancorada em categorias
social neste processo é a escolha das categorias negativas, como a de ideologia e o contraste
para ancoragem, ou a escolha dos conteúdos, natural/não-natural; e face a ela as posições
que é determinada pelo grupo: “observa-se que eram mais negativas. Vemos assim que as cate-
a direcção inicial, o ângulo a partir do qual um gorias de ancoragem escolhidas são deter-
grupo vai tentar lidar com o que não é familiar minantes. Uma vez que algumas são social-
será determinado pelas imagens, conceitos e mente mais valorizadas do que outras, a sua
linguagens partilhadas pelo grupo” (Moscovici, escolha constitui uma forma de uma comunica-
1981, p. 189; ver também Joffe, 2003). Con- ção aparentemente neutra conseguir veicular
ceitos e imagens são portanto projetados sobre o também avaliações (Castro e Gomes, 2005).
objecto não familiar que pode, a partir de então, A ancoragem e a objectivação são processos
ser reconhecido como parte do tempo, tradição intrinsecamente ligados. Wagner e Hayes (2005,
e memória de um grupo social (Jesuíno, 2008). pg. 216) sugerem que eles têm uma relação
A análise das representações da psicanálise temporal: primeiro, as categorias escolhidas
irá levar Moscovici (1976) a concluir que a para ancorar o que não é familiar seriam aquelas
ancoragem constitui uma rede de significados que o grupo melhor conhece e são mais funcio-
em torno da psicanálise por aproximação a nais para o grupo; posteriormente, estas mesmas
categorias já existentes, e orienta as conexões categorias serviriam como fonte das metáforas
entre esta e o meio social. Analisando as para a objectivação.
representações da SIDA na imprensa, quando a Por fim, há ainda que considerar que a noção
doença começou a aparecer, Marková e Wilkie de “ancoragem” pode ser analisada a partir de
(1987) vão mostrar como categorias de uma outra perspectiva: como é que os grupos e
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CAIXA 4
A objectivação através da metaforização
Num estudo experimental pediu-se aos participantes que avaliassem as características de duas
células – o espermatozóide e o óvulo – numa escala bipolar, na qual metade dos itens estava claramente
relacionada com estereótipos de género (pequeno-grande, fraco-forte, submisso-dominante), e a outra
metade (importante-pouco importante, negativo-positivo, feio-bonito) não o estava.
O tipo de orientação dos respondentes em relação aos papéis de género – liberal ou conservadora – foi
também avaliado, por meio de uma escala. Tal como esperado, e como se mostra na Figura, as
avaliações que os respondentes fizeram das características do espermatozóide e do óvulo diferiam de
acordo com a sua orientação ideológica. Os conservadores avaliavam as características do esperma-
tozóide como mais estereotipicamente masculinas (i.e., mais forte, mais activo e mais dominante); e as
do óvulo como mais esterotipicamente femininas (i.e., fraco, mais passivo, mais submisso), compara-
tivamente aos liberais (por exemplo, na Figura, MConservadores = 5.0 e MLiberais = 4.65 para o atributo
“dominante” aplicado ao espermatozóide). Relativamente aos atributos não estereotípicos (e.g.,
estúpido-inteligente) não se verificaram diferenças. Assim se mostra como os papéis geralmente atri-
buídos ao homem e à mulher numa relação sexual são transpostos para as propriedades do
espermatozóide e do óvulo, respectivamente.
Impacto da orientação ideológica e do tipo de célula na avaliação das características das células
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discutem e justificam a psicanálise, pro- mento do papel que a contradição pode desem-
curando encontrar um denominador comum penhar na comunicação e apresenta diferentes
entre as bases do catolicismo e os da psica- formas de lidar com esta (Castro, 2005). Por
nálise. Uma visão da inovação que se ajuste exemplo, quando estamos perante um assunto
às normas do grupo seria o corolário deste relativamente ao qual existe a <crença A> e tam-
esforço. bém a <crença não-A>, as combinatórias lógicas
disponíveis são quatro, sendo três delas relevan-
• Propaganda – Na propaganda o estilo é tes. É possível argumentar a favor de uma e
concreto. De acordo com Moscovici contra a outra, ressaltando assim aspectos
(1976), este estilo aparece aquando da polémicos (Propaganda); é possível buscar a con-
existência de um conflito susceptível de ciliação e os aspectos mais consensuais, rede-
ameaçar a identidade de um grupo e a finindo as crenças <A> e <não-A> como não
unidade da sua representação do real. Esta sendo realmente contraditórias num nível super-
modalidade de comunicação desempenha, -ordenado (Propagação); e é possível reconhecer a
assim, uma função reguladora – afirmação diversidade, sem favorecer a <crença A> em
e procura do restabelecimento da iden- relação à <crença não-A>, apresentando ambas
tidade – e uma função organizadora do (Difusão) (ver Castro, 2002, 2005).
significado do objecto através de dicoto-
mias simplificadoras. Nestas dicotomias, a
situação é definida de forma a não apre- 6.4. O estudo das representações sociais:
sentar senão duas soluções possíveis – uma contributos para a compreensão do
boa e outra má – e a repetição é utilizada pensamento social sobre os problemas
como factor de homogeneização. A propa- do nosso tempo
ganda surge, então, como a modalidade de
comunicação de um grupo em situação de A partir dos anos 60/70 vários investigadores
conflito, tendo em vista a acção (pg. 442). franceses começaram a desenvolver a perspec-
No estudo de Moscovici mostra-se como a tiva das representações sociais – por exemplo,
imprensa comunista recorre a esta moda- Herzlich (1969), Doise (1972), Codol (1970),
lidade de comunicação para falar da Abric (Abric e Kahan, 1972), Flament (1967).
psicanálise, tratando-a como um corpo Moscovici divulgou-a também, quer em publi-
inimigo, e colocando-a num conjunto de cações de cariz mais reflexivo (por exemplo,
alternativas dicotómicas (França-América, Israel e Tajfel, 1972), quer em outras línguas
Ciência-Mito), que são mutuamente exclusi- (ver Farr e Moscovici 1984b; Forgas, 1981;).
vas e não se podem compatibilizar. A divulgação originou quer a expansão dos
trabalhos, quer algumas críticas (ver as críticas
Este entendimento das modalidades de de Jahoda, 1988; Potter e Litton, 1985; Potter e
comunicação assenta também no reconheci- Wheterell, 19987).
7
Para conhecer as respostas de Moscovici, ver os textos de 1989 e 1998; ver um sumário destes debates em Castro,
2003 e em Volklein e Howarth, 2005).
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CAIXA 5
Os investigadores das representações sociais têm examinado a variedade das representações sobre
questões prementes do quotidiano, como as formas de pensar e lidar com o corpo (Goetz, Camargo,
Bertoldo e Justo, 2008; Jodelet, 1984), a saúde e a doença em geral (Jovchelovitch e Gervais, 1999),
o envelhecimento (Coudin e Paicheler, 2002; Wachelke e Lins, 2008), a doença mental (Belleli, 1994;
De Rosa, 1987; Morant, 2006; Wagner, Duveen, Thelma e Vermel, 2000;), a droga e a toxicode-
pendência (Echebarria et al., 1992; Valentim, 1998), e a violência para com as crianças (Pascoal e
Poeschl, 2004). Têm também estudado factores que põem a saúde em risco (Breakwell, 2000), como
o stress e o burn-out (Marques-Pinto, 2001), a SIDA (Camargo, 2003; Camargo, Bertoldo e Barbará,
2009; Comby, Devos e Deschamps, 1996; Markova e Wilkie, 1997), ou as doenças emergentes (Joffe
e Haarhoff, 2002).
Os estudos têm também analisado as diferentes formas de pensar a relação entre ciência e senso
comum (Nascimento-Schulze, 2006; Sá, Souto e Moller, 1996), as inovações tecnocientíficas
(Bauer e Gaskell, 1999; 2002; 2008; Farr, 1993; Gaskell et al., 2001; Joffe, 2003; Wagner,
Kronberger e Seifert, 2002), as inovações tecnológicas (Christidou, 2004; Contarello, 2003), e
como são apreendidas noções de origem científica, como a de mudança climática (Smith e Joffe,
2009), ou os OGM (Allain, Nascimento-Schulze e Camargo, 2009; Castro e Gomes, 2005).
Outro conjunto de estudos tem incidido sobre a dinâmica da estabilidade e mudança na esfera
pública, examinando a recepção de novos partidos (Orfali, 2006), o desenvolvimento de movimentos
sociais, como o feminista (Amâncio e Oliveira, 2006), ou o ecológico (Arruda, 1998; Castro, 2002), o
desenvolvimento de comportamentos pro-ambientais (Buijs, 2009; Castro, 2006; Devine-Wright,
2009), e de novas práticas agrícolas (Flament e Rouquette, 2003; Michel-Guillout e Moser, 2004), a
resistência ao racismo e à discriminação (Howarth, 2006; Moscovici e Perez, 1999) e o processo de
globalização (Poeschl e Viaud, 2008). Outros estudos têm procurado entender a recepção e a resistência
a inovações políticas e legislativas (Castro e Batel, 2008; Jensen e Wagoner, 2009; Tuffin e Frewin,
2008), nomeadamente as que procuram regular a sustentabilidade e a protecção da biodiversidade
(Castro e Mouro, 2011; Hovardas e Stamous, 2006; Mouro e Castro, 2010), ou os direitos humanos
(Spini e Doise, 1998; 2005).
Um conjunto de estudos tem também examinado as marcas do encontro entre grupos de diferentes
culturas na memória social (Cabecinhas e Cunha, 2003; Haas e Jodelet, 1999; Licata e Klein, 2010; Liu
e Hilton, 2005; Sá e Castro, 2005).
Além disso, continuaram ser abordados temas como a inteligência (Amaral, 1997; Faria e Fontaine,
1993; Poeschl, 2001; Snellman e Raty, 1995), a morte (Oliveira e Amâncio, 1998), o suícidio (Ordaz e
Vala, 1997), os sistemas económicos (Belleli, Morelli, Petrillo e Serino 1983; Jesuíno, 2003), os
conflitos sociais (Deschamps, Vala, Marinho, Costa-Lopes e Cabecinhas, 2005; Kalampalikis, 2007) e
relações de género (Amâncio, 1995; Duveen, 2001; Oliveira e Amâncio, 2006; Poeschl, Múrias e Costa,
2004) e o poder social (Vala, 1990).
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Visto que ocorreram nos anos 80, altura em Um segundo princípio na pesquisa sobre as
que se tornou irrefutável a heterogeneidade de representações sociais é o de que os estudos
abordagens existente na psicologia social devem incorporar uma importante componente
(Rijsman e Stroebe, 1989), os debates e críticas descritiva, de modo a evitar abordagens expli-
com que esta perspectiva teórica foi recebida cativas prematuras. A importância de reabilitar a
ajudaram a situá-la com maior clareza, estimu- descrição como forma de abordagem científica
lando uma maior clarificação da sua posição decorre, em primeiro lugar, da natureza dos
epistemológica. Assim, no final dos anos 80 objectos de estudo cuja definição é socialmente
podia falar-se nas representações sociais como partilhada, que têm significados reconhecidos
um domínio em expansão, para recorrer à numa cultura de que os investigadores também
expressão de Jodelet (1989), que apresenta nessa fazem parte (ver também Gergen, 1973; Rozin e
época uma bibliografia muito exaustiva dos traba- Royzman, 2001). A importância de reabilitar a
lhos realizados em representações sociais. descrição decorre ainda do estado de
Nos anos 90 e seguintes aprofundou-se o desenvolvimento da psicologia social, que está
debate com outros quadros teóricos (ver Deaux e longe de possuir teorias de síntese, capazes de
Philogene, 2000; Sugiman, Gergen, Wagner e integrar um vasto conjunto de dados experimen-
Yamada, 2008), reviram-se os trabalhos publica- tais por enquanto fragmentados (Moscovici,
dos (ver Jovchelovitch, 2007; Wagner e Hayes, 1989).
2005) e a perspectiva expandiu-se para a América A partir dos anos 90, alguns autores (ver
Latina. Neste contexto, é difícil propor neste Breakwell e Canter, 1993) defenderão que o
capítulo um recenseamento exaustivo dos temas e foco do debate metodológico deve deixar de
problemas tratados com recurso a este quadro. discutir quais as metodologias mais apropriadas
Fazemos, então, somente um apanhado que tem e passar a discutir como integrar informações
por principal objectivo mostrar a abrangência das provenientes de metodologias diferentes. Neste
contribuições da perspectiva, patente na variedade sentido, e no de privilegiar a descrição, os méto-
de temas e problemas tratados nos últimos 20 dos de análise multidimensional passam a ter
anos (depois de 1990) a partir desta perspectiva. mais destaque (ver os trabalhos pioneiros de
Este sumário é mostrado na Caixa 5. DiGiacomo, 1980; Vala, 1981; Doise, Clémence
e Lorenzi-Cioldi, 1993)8.
Uma segunda tendência, mais recente, nos
6.5. Metodologias de estudo das estudos levados a cabo no âmbito das represen-
representações sociais tações sociais consiste no recurso sistemático à
triangulação metodológica (Apostolidis, 2006).
O quadro das representações sociais tem Alguns projectos dos anos 90 e do começo dos
recorrido a metodologias variadas, com base no anos 2000 passaram a adoptar um formato de
princípio de que as metodologias devem ser investigação que combina três métodos: a análise
ajustadas aos objectivos de estudo e não têm de imprensa, a condução de grupos de discussão
obrigatoriamente de ser de um ou de outro tipo. ou entrevistas aprofundadas e os inquéritos a
8
São exemplos de métodos multidimensionais (multidimensional scaling) o Indiscal e a Análise Factorial de
Correspondências.
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amostras representativas, que, por vezes, são 2003; Moscovici, 1972), que se desenrola no
complementados por estudos experimentais. tempo (Bauer e Gaskell, 2008). Ou dito de outra
Este é o formato do abrangente projecto sobre forma, as representações expressam o sujeito, a
as representações de organismos geneticamente relação deste com Outro(s), e referem-se a um
modificados e modificação genética, que tem objecto, historicamente situado. Este posiciona-
estudado e comparado vários países europeus mento tem duas grandes consequências: a con-
(ver Gaskell et al., 2001; Bauer e Gaskell, sequência cultural e a consequência interactiva e
2008); é também o formato de um estudo sobre contextual, abordadas de seguida.
memória social e representações do descobri-
mento e colonização do Brasil (Sá e Castro,
2005); é ainda o formato de um estudo sobre o A consequência cultural
modo como comunidades e peritos portugueses
representam a biodiversidade e as formas de a Uma das consequências desta posição
proteger e de lidar com ela nas áreas protegidas epistemológica é que dela decorre que não há
da Rede Natura 2000 (Castro e Michel-Guillout, razão para supormos que “quando vimos ao
2010; Castro e Mouro, 2011; Mouro e Castro, mundo” “somos como Adão no dia da criação,
2010). abrindo os olhos para os animais e as coisas sem
dispor de uma tradição, sem ter conceitos parti-
lhados com os quais relacionar as nossas
6.6. Pontos de consenso actuais na impressões sensoriais” (Moscovici, 1998, p. 215).
abordagem das representações Ora, os conceitos partilhados que dão sentido ao
mundo, e são resultados emergentes de “rela-
Como foi mencionado, os debates sobre a ções triádicas” que ocorreram no passado e que,
abordagem das representação sociais, que se passando de geração em geração se constituem
têm desenrolado com interlocutores internos e em tradições, constituem as representações
externos, foram clarificando e estabilizando sociais. Desta forma, em primeiro lugar, as
como consensuais algumas premissas da perspec- representações inscrevem-nos na cultura e esta
tiva e do seu posicionamento epistemológico fornece-nos os primeiros filtros com que olhare-
(Castro, 2002; Jodelet, 1989a; Jovchelovitch, mos a realidade.
2008; Marková, 2008; Moscovici, 1972, 1998; É para esta premissa da teoria das repre-
Wagner, 1998; Vala, 1993;). Apresentamos de sentações sociais que a influência de Vygotsky é
seguida esses pontos de consenso. determinante e assumida (Moscovici, 1998).
Vygotsky é um psicólogo russo (1896-1934)
cujas ideias permaneceram desconhecidas da
A origem das representações é social psicologia ocidental até aos anos 80, mas foram
depois recuperadas (Van der Veer e Valsiner,
Como já foi dito, as representações sociais 1994) e têm influenciado a psicologia social e a
são concebidas como formas simbólicas emer- psicologia do desenvolvimento. Para Vygotsky,
gentes da interacção, pois a sua origem é defi- o desenvolvimento humano está dependente da
nida como resultando da relação triádica entre integração numa cultura, pois é sempre mediado,
um Ego, um Alter e um Objecto (Marková, quer pelo signo (como os da linguagem) quer
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pelos artefactos culturais. Vygotsky propõe são estruturas de conhecimento rígidas e imu-
ainda que as funções psicológicas de maior táveis repetidas ipsis verbis pelos indivíduos, de
complexidade são resultantes de um processo de contexto para contexto, de relação para relação.
internalização, no qual processos inicialmente Pelo contrário, elas carregam as marcas do con-
inter-pessoais se tornam intrapessoais: “Todas texto da sua enunciação e, portanto, são igual-
as funções do desenvolvimento cultural da mente fenómenos de comunicação interpessoal
criança aparecem duas vezes: primeiro no nível situada, para além de fenómenos de cultura.
social, mais tarde no nível individual; primeiro Uma forma sintética de formular esta ideia é
entre pessoas (interpsicológica), depois dentro dizer que, porque emerge da relação triádica, a
da criança (intra-psicológica). (...) Todas as representação incorpora sempre três dimensões
funções superiores se originam nas relações (Jovchelovich, 2007): a subjectiva (relativa ao
reais entre indivíduos humanos” (Vygostky, Ego), a objectiva (relativa ao Objecto) e a inter-
1978, p. 57). Esta internalização de actividades subjectiva (relativa à nossa relação com o Alter).
“socialmente enraízadas e desenvolvidas na his- Todos tivemos, já pessoalmente, a experiência
tória” cultural é a marca distintiva do humano de dizer coisas diferentes em contextos
(p. 57). Uma das tendências actuais da influên- relacionais diferentes, ou seja, a interlocutores
cia de Vygostky, e da premissa cultural, sobre a diferentes. Porém, e para além da observação
perspectiva das representações sociais, é a apro- casual da vida quotidiana, é de notar que a
ximação desta perspectiva à psicologia cultural pesquisa tem mostrado essa orientação pragmá-
(ver Valsiner, 2008; Valsiner e van der Veer, 2002; tica da comunicação, que a direcciona para o
Gergen et al., 2008; Jovchelovitch, 2008). contexto e a relação, fazendo-a variar com estes
(Billig, 1995; Castro e Batel, 2008; Jovechelovitch
e Gervais, 1999; Potter, Wagner et al., 2000).
A consequência interactiva e contextual Assim, a concepção de comunicação aqui presente
acentua a vertente pragmática e de orientação para
As relações triangulares Objecto-Ego-Alter o outro daquilo que é dito (Moscovici, 1999).
não ocorreram, porém, somente no passado, As representações que por estes processos se
constituindo as culturas, mas continuam a acumularam na cultura têm inevitavelmente que
produzir-se quotidianamente. Isto significa que ser variadas, heterogéneas, múltiplas e abrir a
as interacções face a face estão também envol- possibilidade da contradição. Esta complexi-
vidas na génese das representações e na sua dade e heterogeneidade são as marcas do senso
transformação no tempo. Por outras palavras, comum (Billig, 1991). É justamente por conter
para além de um Outro generalizado que repre- em si ideias contraditórias que o senso comum
senta a cultura, mantemos também interacções nos permite entender como é que o pensamento
com um Outro efectivamente co-presente. e o raciocínio se desenvolvem através do
Assim, outra das consequências do facto das confronto entre ideias opostas. Logo desde o
representações emergirem da relação triádica é início da formulação da sua teoria, ao procurar
que, para as entender, somos obrigados a ter em entender o pensamento quotidiano e a formação
conta o contexto relacional em que são e transformação do senso comum, Moscovici
expressas, pois elas ajustam-se à relação con- (1976) afirmava: “pensamos de maneira
creta. Por outras palavras, as representações não incessante ‘contra’ ou ‘a favor’, o que quer dizer
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que aceitamos ou rejeitamos o que é dito e, a activadas nesse mesmo contexto (Breakwell,
menos que se queira evitar o diálogo, forjamos 1993; Doise, 1990; Elcheroth et al., in press;
opiniões na e pela controvérsia” (p. 254). Vala, 1993). Por exemplo, Poeschl (2001)
Uma noção desenvolvida mais recentemente evidenciou as estratégias cognitivas activadas
para dar conta destes aspectos é a de themata para manter a positividade da identidade social
(Moscovivi e Vigneaux, 1994). Marková (2000) em situações em que os respondentes eram
define os themata da seguinte forma: “Os themata levados a comparar a inteligência do endogrupo
são categorias opostas que, no decurso da história, com diversos exogrupos (seres humanos versus
foram sendo problematizadas; por qualquer animais ou máquinas; homens versus mulheres).
motivo tornaram-se objecto de atenção e uma Para que estas questões sejam melhor com-
fonte de tensão e de conflito” (Marková, 2000, preendidas, a articulação entre as abordagens
p. 446). Exemplos de themata são as categorias das representações sociais e das identidades
vistas como opostas: natureza/cultura; razão/emo- sociais será fundamental. Ela será também uma
ção; comestível/não comestível; bonito/feio, etc. forma de fazer avançar um projecto de psicolo-
Os themata incorporam a ideia de que gia social e societal – ou seja, uma psicologia
pensamos de forma argumentativa, dilemática, social que seja capaz de abordar todos os níveis
sempre contra uma ideia e a favor de outra que de análise e não apenas os individuais e inter-pes-
se lhe opõe (Billig, 1988, 1991; Moloney e soais, uma ambição que existe desde os anos 70
Walker, 2002; Moscovici, 1976), em função de (Israel e Tajfel, 1972).
pares opostos que geram o desenvolvimento de
argumentos. É neste sentido que o estudo dos
themata pode ajudar a compreender o “velho e As representações constroem e constrangem
irritante enigma do senso comum: porque é que
ele afirma uma coisa bem como o seu contrário” Do que ficou dito nos parágrafos anteriores,
(Moscovici, 2001, p. 32), bem como o facto de podemos então sintetizar que, juntamente com o
que “as representações sociais surgem aos objecto, o contexto relacional co-determina a
pares, cada uma tendo a sua alternativa” (p. 33). representação. No entanto, alguma estabilidade,
que permita distinguir as culturas e os grupos
tem também que ser esperada das representa-
A articulação entre representações sociais ções e da forma como são utilizadas nas
e identidades sociais interacções concretas, ou elas de nada serviriam
como formas de orientar as relações e as
Importante para compreender os factores condutas e criar uma realidade comum a um
que estruturam os contextos e a dinâmica das dado conjunto social. Como compreender esta
representações sociais será a articulação entre aparente contradição?
estas e as identidades sociais. Uma vez que as Para responder à pergunta que acabámos de
identidades têm associadas a si conteúdos ou fazer, temos que levar em conta que a perspec-
representações que distinguem um grupo de tiva das representações sociais considera que
outro grupo, como se disse atrás, então as algumas representações sociais, porque incor-
representações activadas num dado contexto poradas em estruturas sociais, instituições,
relacional dependem das identidades também curricula escolares, leis, etc., (Farr, 1998;
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Moscovici 1998) têm um “papel causal e/ou Esta ideia de que as pessoas são seres activos
constrangedor” (Moscovici, 1998, p. 217). Isto e não simplesmente reactivos, está subjacente à
implica que as representações não só emergem metáfora de “sociedade pensante”, a qual recusa
das interacções, mas também são organizadoras a ideia de que os “indivíduos e os grupos
dessas mesmas interacções (Castro e Batel, 2008), estejam totalmente sob a influência de uma
construindo a realidade social de uma certa ideologia dominante” (Moscovici, 1981, p. 183),
forma e permitindo a génese de certas (novas) e pressupõe que, pelo contrário, estão envol-
representações, mas não de outras (Voelklein e vidos na produção de representações sociais,
Howarth, 2005). socorrendo-se para isso de todos os tipos de
Vamos a um exemplo da vida quotidiana. conhecimento como “ alimento para pensar”
A escola e a universidade enquanto instituições (food for thought) (Moscovici, 1981, p. 183).
são organizadas em função de um sistema de É com estes conhecimentos que os indivíduos
representações sobre o que é o conhecimento. vão improvisando e criando, como “numa da
Este sistema de representações define a apren- orquestra de jazz” (Vala, 1993, p. 907), e sendo
dizagem como algo valioso (por isso, por simultaneamente fonte e alvo de influência.
exemplo, parece legítimo a escolaridade até ao Porém, continuando esta metáfora, não pode-
12.º ano ser obrigatória em Portugal), indica mos esquecer que os instrumentos utilizados
quais os conhecimentos mais válidos, especifica constrangem o tipo de improvisação e a cali-
quem os detém e como devem ser transmitidos, bração de sons que é possível produzir, orien-
que tipo de relações devem existir para tando, assim, a música e as sonoridades obtidas.
assegurar esta transmissão, etc. Estas represen-
tações são detectáveis nos curricula, nas leis que
regem estudantes e professores, ou na forma de As representações sociais não têm todas
dispor as cadeiras nas salas de aulas. as mesmas características
Certas representações do que é o conheci-
mento estão, portanto, incorporadas em ins- O que ficou dito sugere que o conhecimento
trumentos institucionais e são bastante estáveis. social contém tipos diferentes de representações
Não estamos a dizer, nem que são as únicas – umas mais institucionalizadas, outras emer-
existentes, nem que são imutáveis, ou que não gentes – e que portanto, a vida social é orientada
podem ser contestadas, e que não permitem a por tipos diferentes de representações sociais.
negociação, ou adaptações contextuais. Apenas É portanto útil tentar perceber essas diferenças
afirmamos que, gozando de clara estabilidade e as suas consequências para os processos
num certo tempo e num certo espaço, há certas psico-sociais.
representações que foram institucionalizadas e Existe uma proposta de tipologia iden-
constroem a realidade social de uma certa tificando três tipos de representações ou três
forma, definindo margens de liberdade para maneiras de as representações sociais serem
além das quais a contestação se torna difícil, e partilhadas. As representações mais consensuais,
constrangendo as práticas efectivas. Mas dentro ou inquestionadas, e mesmo coercivas, objecti-
destas margens de liberdade, os sujeitos são vadas nas estruturas e instituições de cada
vistos pela abordagem das representações sociais sociedade, designa-as Moscovici (1988a) por
como seres activos e pensantes. hegemónicas. Estas são habitualmente vistas
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como informação, ou “um reflexo da realidade sociais algumas abordagens. Estas, filiadas
externa. (...) Por exemplo, a representação do embora nas mesmas premissas e pontos de
indivíduo “como ser autónomo e livre” está de consenso centrais, foram tentando responder a
tal forma objectivada nas instituições sociais perguntas específicas e desenvolvendo especifi-
que deixou de ser vista como uma percepção ou cidades próprias. Actualmente, pode considerar-se
um valor e passou a ser encarada como um facto que as diferentes abordagens desta perspectiva
incontroverso” (Vala, Garcia-Marques, Gou- incluem: (1) a perspectiva original de Moscovici
veia-Pereira e Lopes, 1998, p. 472). (1976), à qual o trabalho de Jodelet (1989)
As representações sociais emancipadas, por acrescentou a abordagem etnográfica; (2) a teoria
sua vez, são produzidas pela interacção e debate estrutural de Flament (1982; Abric, 1989;
de ideias, e são partilhadas em maior ou menor Flament e Rouquette, 2003; Moliner, 1995); (3) a
grau por diferentes grupos. Elas emergem da coo- análise genética e posicional de Doise e colegas
peração e da negociação e são muito plásticas. (Doise, Clémence e Lorenzi-Cioldi, 1993;
Finalmente, as representações sociais polé- Ribeiro e Poeschl, 2007; Spini e Doise, 1998);
micas são aquelas que resultam do conflito entre (4) um conjunto de abordagens que se con-
visões opostas de grupos opostos (Moscovici, centram de forma mais sistemática na análise da
1988, pp. 221-222). Em Wagner (1995) é possí- comunicação e discurso (Gillespie, 2008;
vel encontrar a demonstração empírica de que as Howarth, 2006; Jovchelovitch, 2007), de que a
representações polémicas contêm meta-informa- abordagem dialógica de Marková (2003; 2008)
ção sobre o grupo a que estão ligadas, o que con- constitui exemplo e impulso.
tribui para a coordenação da interacção social, A abordagem estrutural, ou abordagem do
pois esta meta-informação fornece-nos pistas para núcleo central, desenvolvida inicialmente em
o que podemos esperar dos nossos co-actores nas Aix-en-Provence, por Abric (1984) e Flament
situações quotidianas (Wagner, 1995). (1982) propõe que as representações sociais são
compostas por dois tipos de elementos – ou
sistemas – complementares: os centrais e os
6.7. Uma síntese das abordagens teóricas periféricos (ver Caixa 6). O sistema central, ou
das representações sociais núcleo central, corresponde à parte estável e
consensual da representação. O sistema perifé-
Ao longo do tempo foram-se diferenciando rico, que tem um carácter mais flexível, permite
dentro do quadro de estudo das representações o ajustamento a mudanças contextuais. Este
Willem Doise
Denise Jodelet
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sistema periférico ajusta-se assim a alterações e vista, então, as representações sociais englobam
mudanças, muitas vezes protegendo o sistema um conjunto de crenças, avaliações e atitudes que,
central da mudança. De acordo com este ponto de combinadas, formam uma estrutura hierárquica
CAIXA 6
Moliner (1995) mostra que, na representação de uma firma ou empresa comercial, as crenças de que
as empresas estão estruturadas de forma hierarquizada e que têm lucros são crenças centrais. Isso
implica que elas não podem ser dispensadas ou negadas sem alterar o carácter da representação. Outras
crenças, como as que se referem à importância da investigação e desenvolvimento, ou à realização
pessoal, são mais periféricas.
Porém, muitos dos estudos da perspectiva estrutural estabelecem ainda que os elementos cognitivos
de uma representação social não diferem apenas de acordo com o seu grau de centralidade, mas também
de acordo com a função que desempenham. Alguns elementos são funcionais, no sentido em que
orientam o comportamento, enquanto outros são normativos, no sentido em que permitem julgamentos
avaliativos (Abric, 1987; Moliner, 1992).
Os resultados apresentados na Figura mostram os dois elementos identificados como pertencendo
ao núcleo central da representação de uma empresa – existência de hierarquia e lucro. Mostram ainda
que a existência de uma hierarquia numa empresa é um elemento normativo – é considerada pela
maioria das pessoas como desejável para uma empresa. Contudo, o lucro é, para a maioria, o elemento
necessário da representação – isto é, o elemento funcional, ou constituinte.
600
601
2008). Existem certos assuntos, porém, que são O primeiro, responsável pela identificação de
abordados de forma “convencionalizada – são semelhanças e diferenças e pela validação do
mantidos por questionar, apresentados como conhecimento; o segundo, associado à nossa
não problemáticos, e como não requerendo localização, e à dos outros, dentro do mapa de
debate (Marková, 2008; Vala et al., 1998). Este semelhanças e diferenças de conhecimentos e
formato discursivo parece orientado para não significados; e a negociação, que nesse contexto
permitir que certas representações sejam de semelhanças e diferenças, permite o ajus-
identificadas com identidades sociais espe- tamento de formas partilhadas de conhecimento
cíficas (Castro, 2003; Vala et al., 1998). É o que e significados, criando zonas de entendimento
acontece com certas normas sociais actuais, sem necessidade de consenso absoluto. Nesta
como a norma anti-racista, ambientalista ou mesma linha teórica, pensar um objecto social
feminista, que o debate social já não aceita que implica um sistema de relações que envolve o
sejam identificadas com as minorias que as sujeito (individual ou colectivo), um alter
introduziram na esfera pública. Estas normas (individual ou colectivo; real ou imaginário) e o
recebem hoje elevados níveis de apoio (Castro, objecto. O conceito de representação social é
2006) e o que é tematizado são as formas de as paradigmático desta orientação teórica no
conciliar com outros interesses, que têm que ser estudo do pensamento social.
justificadas com argumentos percebidos como Na segunda parte do capítulo, apresentámos
não indo contra a norma. A orientação dialó- a génese do conceito de representação social e
gica, mais do que concretizar uma linha dife- dos princípios teóricos que lhe estão associados.
renciada, será então sobretudo uma orientação Enunciámos as principais características desta
que incentiva uma análise mais detalhada e abordagem teórica interessada em conhecer como
aprofundada de como a linguagem e a comuni- o senso comum absorve as inovações que vários
cação respondem aos contextos. sistemas sociais continuamente geram. Vimos
como algumas destas inovações são incorpora-
das em maior grau nas culturas e sociedades e
Resumo e conclusões outras permanecem objecto de debate e diver-
gência. Daí resulta, como assinalámos, que as
Neste capítulo começámos por mostrar como representações não são todas iguais – pois
o estudo do conhecimento e do significado tem enquanto umas se podem encontrar institucio-
sido uma preocupação central da psicologia nalizadas, estabilizadas e não são questionadas,
social. Referimos depois que este estudo tem outras passam por complexos processos de
sido conduzido a partir de duas grandes negociação e transformação, antes de estabiliza-
perspectivas meta-teóricas: uma que enfatiza os rem, e outras ainda são objecto de polémicas
processos cognitivos implicados no processa- entre grupos. Distinguimos, assim, as represen-
mento da informação social; outra que enfatiza tações sociais hegemónicas, emancipadas e polé-
a interacção entre processos sociais e processos micas. Descrevemos ainda os processos através
cognitivos e os seus impactos no pensamento dos quais a inovação é integrada no tecido
social. Nesta segunda perspectiva, podem ser preexistente de representações – a ancoragem e a
destacados como processos básicos: a com- objectivação. Importante na perspectiva desen-
paração social, a identidade e a negociação. volvida neste capítulo sobre o pensamento
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social, é ainda a tipologia de sistemas comuni- Moscovici, S. (2007). Psychoanalysis: Its image and
cativos que permitem elaborar representações its public. Cambridge: Polity Press.
com características diferentes: a propagação, a Sá, C. (1998). A construção do objeto de pesquisa
difusão e a propaganda. Finalmente, apresen- em representações sociais. Rio de Janeiro:
támos três abordagens teóricas complementares EdUERJ.
ao modelo original proposto por Moscovici
Artigos
sobre as representações sociais: a perspectiva
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