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 Questão Social: definição

Conjunto de expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que têm uma raíz
comum: a produção social enquanto a apropriação dos seus frutos se mantém privada,
monopolizada por uma parte da sociedade.

Unanimidade em relação ao conceito. Divergência sobre a origem.

Relação capital/trabalho

 Questão social do século XIX

De acordo com Castel (1998), a questão social surge:

➢ Num momento essencial aquele que pareceu ser quase total o divórcio entre uma
ordem jurídico-política, fundada sobre os direitos dos cidadãos, e uma ordem
económica que acarreta uma miséria e uma desmoralização de massa.

A expressão “Questão Social”, vai abranger o fenómeno da pobreza, que é decorrente do


surgimento do capitalismo, a partir do século XIX, que atinge, principalmente, a classe
trabalhadora na Europa Ocidental.

Durante a Revolução de 1848 (Revolução Industrial), surge a perspetiva determinista/naturalista


sobre a questão social, isto é, as situações de pobreza eram vistas como algo que ocorrem de
modo natural na sociedade.

• Kar Marx:
✓ Obra “O Capital”, publicada em 1867;
✓ Contribuiu para a compreensão da Questão Social.
• Capitalismo Industrial
✓ Objetivo: lucro sobre os bens produzidos, conseguindo-o através da separação
da população dos seus meios de produção;
✓ Forma-se uma classe que, sem ter meios de subsistência, se vê obrigada a
vender a sua força do trabalho como uma mercadoria, a fim de conseguir um
salário que lhe permita sobreviver;
✓ A relação fundamental do capitalismo industrial, é o trabalho assalariado.

Para se compreender a dimensão/impacto social da Questão Social do século XIX, é importante


ter em conta:

Revolução Industrial (1848)

• Processo composto pelo conjunto de transformações (tecnológicas, socioeconómicas,


ideológicas), caracterizadas pela substituição da energia física pela mecânica; da
ferramenta pela máquina; da manufatura pela máquina.

Palavras-chave:

A. Crescimento demográfico da Europa a partir do século XIX;


B. Progressos da agricultura;
C. Melhoria das vias de comunicação;
D. Progressos técnicos que permitiram a mecanização.

Levou a:

A. “Promessa de melhores condições de vida”;


B. Provocou a deslocação massiva e descontrolada de potenciais trabalhadores da
agricultura;
C. As pessoas provenientes do meio rural, deslocavam-se para as grandes cidades,
levando assim, a um crescimento populacional.
• Crescimento económico: só foi possível devido à elevada capacidade empreendedora
de grupos sociais e economicamente dominantes.
• Ocorreu na Inglaterra, na segunda metade do século XVIII e encerrou a transição entre
o feudalismo e o capitalismo.
• Esta revolução, foi uma das mais importantes verificadas, uma vez que, transformou
radicalmente a história mundial.
• Não foi um evento singular, isto é, foi um processo contínuo que passou por várias fases,
envolvendo também, vários países.
• A Industrialização que decorre deste processo, reduziu a pobreza, mas não a eliminou,
gerando assim, crises.
• A Revolução Industrial, gerou transformações no modo de produção que antes ocorria
no núcleo familiar, de maneira artesanal, e que agora passa a ser concentrada em
grandes fábricas, com empregados assalariados, com uma produção mecanizada e em
série, tendo transformado significativamente quase todos os setores da vida humana.
• A Revolução Industrial foi, talvez um dos acontecimentos mais importantes na história
da humanidade e sempre esteve relacionada com algo fundamental: A FÁBRICA.

 Modelos de proteção social

Richard Titmuss Esping-Andersen


Residual Liberal
Meritocrático-particularista Conservador
Institucional-redistributiva Social democrata

▪ Titmuss, apresenta estes modelos de acordo com o sei surgimento, com


a evolução cronológica. O nome dos mesmos tem haver com a forma
como o Estado encara a proteção social.

❖ Titmuss
I. Modelo residual
▪ Surgiu na Inglaterra, no século XVII, com a Rainha Elizabeth.
▪ A relação que o Estado estabelece com a proteção social é residual, é
mínima pois o Estado considera que quem está em situação de pobreza
é inapto e incapaz do ponto de vista social e económico.
▪ O Estado considera, também, que a sua intervenção só ia tornar os
indivíduos dependentes do mesmo, não sendo capazes de ser
autónomos, isto é, o Estado acha que o indivíduo vale por si só e acha
que quem o deve proteger são as redes informais e as instituições
privadas (Igrejas e família).
▪ Surgem 2 leis:
1. Lei dos pobres
o Conjunto de medidas administradas pela Igreja.
o Tinham como objetivo combater as situações de
pobreza numa perspetiva caritativa e redutora da
pobreza.
2. Lei do domicílio
o A Igreja tinha a função de não deixar que os indivíduos
pobres deixassem a sua área de residência porque se
considerava que se isso acontecesse, estes iriam
propagar a pobreza.
o Considera-se a pobreza como um fenómeno individual
e não social (hoje em dia, sabemos que é uma questão
social).
o Ideia de que os pobres seriam sempre pobres e que os
ricos seriam sempre ricos: o Estado não atuava porque
considerava que se o fizesse só iria aumentar as
desigualdades.
II. Modelo Meritocrático-Particularista (comutativo)
▪ Surgiu na Alemanha, no século XIX, por Bismark.
▪ Considera-se que apenas tem direito à proteção social quem merece,
isto é, quem tem utilidade social, quem contribui para a sociedade,
quem trabalha; quem não trabalha, não é útil para a sociedade e não
tem direito à proteção social.
▪ Surgem um conjunto de medidas direcionadas para a classe
trabalhadora, uma vez que, o desenvolvimento económico não
acompanhou o desenvolvimento social e que os trabalhadores foram os
que mais saíram prejudicados desta situação.
III. Modelo Institucional-Redistributivo
▪ Surge na Inglaterra, no século XX, através de Beveridge.
▪ Surge decorrente da segunda Guerra Mundial e pretendia-se criar um
modelo que fosse universal, direcionado a toda a população,
independentemente da sua capacidade contributiva (uma medida para
todos).
▪ Surge a Segurança Social e o Serviço Nacional de Saúde.
▪ O Estado acha que, para garantir a igualdade, deve ser ele a distribuir a
riqueza e considera que toda a gente deve ter acesso à proteção social.
▪ Atenua-se as desigualdades através dos bens e serviços públicos –
Estado-providência – garante que a proteção social vai ser “dada” a
todos.
 Esping-Andersen: apresenta estes modelos de acordo com a atualidade, tendo
influência de Titmuss. O nome dos mesmos tem haver com a forma como o Estado
encara a proteção social. Cada um dos modelos definidos por este autor existe
atualmente em função de cada país e daquilo que é a sua conjuntura social, política,
económica e mental.
I. Modelo Liberal
▪ Este modelo tem uma visão muito semelhante à do modelo residual
e associa-se a este (o indivíduo vale por si).
▪ Defende uma intervenção mínima do Estado, dizendo que a mesma
deve ser feita pelas instituições privadas e pelas redes informais.
▪ Considera-se que as situações de pobreza e de injustiça social são
criadas pelos indivíduos que se encontram nestas situações.
II. Modelo Conservador-Corporativo
▪ Tem uma visão muito semelhante à do modelo meritocrático e
associa-se a este.
▪ Considera-se que os indivíduos devem ser valorizados mediante o
seu estatuto social e económico.
▪ Não há qualquer intervenção do Estado e este ainda faz juízos de
valor acerca dos indivíduos.
▪ Considera-se que as situações de pobreza e de injustiça social são
criadas pelos indivíduos que se encontram nessas situações.

:. Os modelos liberal e conservador, bem como os modelos residual e meritocrático, são


modelos que criam, na atualidade, mais desigualdade e injustiça social, porque o Estado não cria
mecanismos de proteção social e acha que devem ser os indivíduos e as instituições privadas a
protegerem-se socialmente.

III. Modelo Social Democrata


▪ Este modelo tem uma visão muito semelhante à do modelo
redistributivo e associa-se a este.
▪ O Estado intervém e é ele que cria mecanismos de proteção
social através de bens e serviços públicos, como forma de
garantir o bem-estar e a qualidade de vida dos indivíduos.
▪ Considera-se que não deve ser o Estado a definir se os
indivíduos são ou não capazes.
▪ Portugal, é um misto de modelos, é mais social-democrata, mas
por vezes, um bocado liberal.

(Não se pode dizer que Portugal é um país verdadeiramente social-democrata, devido a não estarmos suficientemente desenvolvidos,
pois ainda não temos um desenvolvimento económico verdadeiro).

 Dicas para a identificação dos modelos:


1. Ter em atenção os séculos e as pessoas;
2. Contextualização histórica só se pode fazer em Titmuss;
3. Ao abordar os modelos, se falarmos de Titmuss, temos que os abordar por
ordem cronológica (residual, meritocrático e redistributivo); se falarmos de
Esping-Andersen, a ordem não interessa.
4. Modelo Residual: reinado, monarquia, lei dos pobres ou do domicílio;
5. Modelo Meritocrático: revolução industrial, trabalhadores, Marx, Engles,
Vítor Hugo, Papa Leão XIII, utilidade ou estatuto social;
6. Modelo Redistributivo: serviço social, serviço nacional de saúde, universal,
todos;
7. Modelo Liberal: desigualdade, injustiça, Estado mínimo;
8. Modelo Conservador: estatuto social, indivíduos que merecem;
9. Modelo Social Democrata: serviço social, serviço nacional de saúde, todos
direitos universais, projeto social europeu.

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