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UNIDADE I

Políticas Públicas
e Psicologia

Prof. Dr. João Coin


Apresentação: Políticas Públicas e Psicologia

Temas abordados:
 Fundamentos das políticas de Estado.
 Introdução ao campo das políticas públicas do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Sistema
Único de Assistência Social (Suas).
 Possibilidades de atuação em diferentes contextos, considerando as necessidades sociais e
os direitos humanos, assim como o exercício da cidadania, tendo em vista a promoção da
qualidade de vida dos indivíduos, grupos, organizações e comunidades.
 Papel do psicólogo na concretização das políticas públicas, a partir dos determinantes éticos
e técnicos da profissão.
Importância

Assegurar o desenvolvimento de competências que possibilitem:


 intervenções nos fenômenos e processos humanos, que se caracterizam pelo estudo da
teoria do método, e da aplicabilidade dos conhecimentos psicológicos em diferentes
contextos institucionais e sociais;

 uma visão ampla e crítica da atuação profissional do psicólogo articulada com a dimensão
ética, as políticas públicas e o compromisso social da Psicologia.
Fundamentos das políticas de Estado

Leitura obrigatória

 BEHRING, E. R. Fundamentos da Política Social. Serviço Social e Saúde: Formação e


Trabalho Profissional. Disponível em: https://www.geplage.ufscar.br/audiotextos-e-videos-
1/audiotextos-1/fundamentos-de-politica-social.pdf. Acesso em: 06 jun. 2022.
Fundamentos das políticas de Estado

Pergunta que articula


Estado, sociedade e
bem-estar:

O Estado é um
mediador civilizador
ou um mal necessário?
Concepções de Estado

 Thomas Hobbes (Inglaterra, século XVII) – Estado mediador-civilizador


 Leviathan (1651).
 Primazia da razão: renúncia à liberdade individual em favor do soberano, do monarca
absoluto. A sujeição seria uma opção racional no sentido dos homens refrearem
suas paixões.
 “O homem é o lobo do homem”.
 Sujeição ao Estado para controlar as paixões e apetites (natureza X sociedade).
 John Locke (Inglaterra, século XVII)
 Segundo Tratado sobre o Governo Civil (1690).
 Sociedade: defesa na guerra de todos contra todos.
 Poder político nas mãos de corpos coletivos de homens.
 Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder Judiciário.
 Contrato social: direito à vida, à liberdade e, sobretudo, à
propriedade – pai do liberalismo.
Concepções de Estado

 Jean Jacques Rousseau (França, século XVIII) – Estado mediador-civilizador


 O bom selvagem.
 Sociedade civil:
 como os homens vivem realmente x construção ideal (Locke);
 corrompida pela propriedade.
 O Estado tem servido para proteger os interesses dos mais ricos e poderosos e não para
defender o bem-comum.
 Necessidade de um contrato social que guarde o poder e o interesse do povo.
 Contrato social: o poder reside no povo, na cidadania, por
meio da vontade geral.
 Estado democrático de direitos (contra a pobreza,
incentivando a educação).
Concepções de Estado

 Adam Smith (Escócia, século XVIII) – Estado como mal necessário.


 Contra um Estado opressor (nobreza e clero).
 “Desejo natural de melhorar as condições de existência, tende a maximizar o
bem-estar coletivo”.
 Antiestatismo, utopia, Estado mínimo, liberalismo (darwinismo social), natureza humana.
 Ética do trabalho.
 O poder do mercado (encoberto pelo valor do trabalho individual e transformador)
estabelece o fim da política e da necessidade de políticas sociais.
 Estado mínimo, com apenas três funções: defesa contra os
inimigos externos, proteção de todo o indivíduo de ofensas
dirigidas por outros indivíduos e obras públicas que não
possam ser executadas pela iniciativa privada.
 O Estado não pode estar a serviço da subsistência, mas do
mérito de quem consegue colocar as leis naturais a seu favor.
A crise do liberalismo

 Segunda metade do século XIX, início do século XX.

 Dois processos importantes que sustentaram a crise:


 Movimento operário.
 O monopólio (concentração) do capital.
 A Revolução Russa.
 A crise de 1929 (crise de legitimidade do capitalismo).
Autocrítica burguesa

 John Maynard Keynes (Inglaterra, século XX).


 Teoria Geral (1936): o capitalismo não se autorregula, é preciso a ação do Estado.
 O Estado tem o papel de estabelecer o equilíbrio econômico:
 nos períodos de depressão com uma política fiscal, creditícia e de gastos; realizando
investimentos que atuem como estímulo à economia (déficit sistemático no orçamento);
 nas fases de prosperidade. Ao contrário, o Estado deve manter uma política tributária alta,
formando um superávit, que deve ser utilizado para o pagamento das dívidas públicas e
para a formação de um fundo de reserva a ser investido nos períodos de depressão.
 A volta do mediador civilizador.
 Estado de Bem-estar Social.
 T. H. Marshal (cidadania e liberdades individuais: direitos
civis, direitos políticos e direitos sociais).
 Tentativas de “civilizar” o capitalismo.
Fórmula neoliberal

 Década de 1960.
 Oposição ao modelo keynesiano e ao Estado de Bem-estar Social.
 Políticas de renda mínima com teto baixo.
 Efeitos: pobreza e acumulação.
Questão

O Estado hoje: defesa do lobo?


Interatividade

O Estado de Bem-estar Social é uma tentativa de “civilizar o capitalismo” e responde às


demandas políticas, econômicas e sociais do pós-guerra na Europa. Nas décadas seguintes,
no entanto, esse modelo vai ser atacado tanto pela perspectiva neoliberal quanto pela
perspectiva crítica. Em relação ao Estado de Bem-estar Social (Ebes), indique a alternativa
abaixo que corresponde a uma dessas críticas:

a) Nos momentos de crise econômico-financeira, próprias do capitalismo, as políticas sociais


públicas e protetoras que ele sustenta são sempre preservadas.
b) O Ebes ataca as condições que sustentam a desigualdade.
c) O Ebes compreende a desigualdade como consequência indesejável do capitalismo.
d) O modelo se destina a garantir a igualdade como princípio
básico no capitalismo.
e) O modelo sustenta uma lógica redistributiva mínima, isto é,
oferece apenas parte da riqueza detida pelo Estado por meio
de taxas e impostos.
Resposta

O Estado de Bem-estar Social é uma tentativa de “civilizar o capitalismo” e responde às


demandas políticas, econômicas e sociais do pós-guerra na Europa. Nas décadas seguintes,
no entanto, esse modelo vai ser atacado tanto pela perspectiva neoliberal quanto pela
perspectiva crítica. Em relação ao Estado de Bem-estar Social (Ebes), indique a alternativa
abaixo que corresponde a uma dessas críticas:

a) Nos momentos de crise econômico-financeira, próprias do capitalismo, as políticas sociais


públicas e protetoras que ele sustenta são sempre preservadas.
b) O Ebes ataca as condições que sustentam a desigualdade.
c) O Ebes compreende a desigualdade como consequência indesejável do capitalismo.
d) O modelo se destina a garantir a igualdade como princípio
básico no capitalismo.
e) O modelo sustenta uma lógica redistributiva mínima, isto é,
oferece apenas parte da riqueza detida pelo Estado por meio
de taxas e impostos.
Histórico das políticas públicas no Brasil

Leitura obrigatória

 BACELAR, T. As Políticas Públicas no Brasil: heranças, tendências e desafios. In: SANTOS


J. O. A. et al. (Orgs.). Políticas Públicas e Gestão Local: programa interdisciplinar de
capacitação de conselheiros municipais. Rio de Janeiro: FASE, 2003. Disponível
em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4401959/mod_resource/content/1/Bacelar%20Ta
nia%20politicas%20publicas.pdf. Acesso em: 06 jun. 2022.
Histórico das políticas públicas no Brasil

Para saber mais:

 GONÇALVES, M. G. M. O campo social das Políticas Públicas e sua dimensão subjetiva.


In: Psicologia, subjetividade e políticas públicas. São Paulo: Cortez, 2010, p. 65-76.​

 YAMAMOTO, O. H.; OLIVEIRA, I. F. Política Social e Psicologia: uma trajetória de 25


anos. Psic.: Teor. e Pesq., 2010, v. 26, n.spe., p. 9-24. Disponível
em: http://www.scielo.br/pdf/ptp/v26nspe/a02v26ns.pdf. Acesso em: 15 maio 2022.​
Políticas sociais

 Políticas sociais são estratégias públicas para tratar de problemas sociais​.


 Questão social: “conjunto dos problemas políticos, sociais e econômicos postos
pela emergência da classe operária no processo de constituição da sociedade capitalista”
(YAMAMOTO e OLIVEIRA, 2010, p. 10). É condição constitutiva.​
 Programas sociais públicos:
 Universais: educação e saúde;
 Seguridade social, emprego e renda – previdência social, capacitação e
inserção produtiva;
 Pobreza – assistência social, combate à pobreza, subsídios monetários às famílias.
História

 O que caracteriza o Estado brasileiro no período que vai do início do século (1920) até os
anos 1980 é seu caráter desenvolvimentista, conservador, centralizador e autoritário.
 Política pública é política econômica.
 Esse perfil autoritário e conservador também se traduz na maneira como tradicionalmente
são pensadas as políticas sociais, pensadas para a “média” e a média não diz quase nada
do Brasil, que é um país muito heterogêneo.
 Estado realizador. Estado regulador.
Segundo Bacelar, o que herdamos dessa história é um país que consegue ser uma das
maiores economias do mundo (12ª) e que tem, ao mesmo tempo, a maior fratura social dentre
os países de perfil semelhante:
 84º no ranking do IDH;
 9º país mais desigual do mundo – Índice de Gini.
História

 Anos 1980: globalização​.


 Internacionalização do capital​.
 Conglomerados multinacionais que planejam olhando para o globo e operam no âmbito do
globo (telecomunicações, energia, eletrônicos/computadores, indústria mineradora,
alimentos, água etc.).
 Interferência local nas regras do jogo.
 Movimento de financeirização​.
 Hegemonia da visão neoliberal: menos Estado, mais mercado.
Estado e políticas sociais pós-1985

 Diretas Já (1984)​.
 Constituição cidadã (1988).
 Marco de mudança: SUS (Conferência Nacional de Saúde, 1986)​.
 No Brasil (BACELAR, 2003):
 com FHC, inserção submissa (integração competitiva);
 financeirização das riquezas por meio da privatização, com aumento da dívida pública;
 sem recursos, o governo não tinha dinheiro para investir em políticas públicas.
Ajuste neoliberal, desajuste social (1985-2002)

 Estado mínimo, reforma do Estado (Collor e FHC).


 Esboço do Welfare State (Estado de Bem-estar Social).
 País de médio desenvolvimento humano, desigualdade social alarmante​.
 Agenda neoliberal tem impacto devastador para um país tão desigual.
 Precarização e privatização dos serviços públicos: ONGs e terceirização.
 Desmontagem das políticas públicas: processo de alívio da pobreza (ao invés de combate às
questões estruturais).
Novas perspectivas (2003-2014)

 “Carta aos Brasileiros”: manutenção de privilégios do capital financeiro.​


 Diálogo com os movimentos sociais.​
 Aumento real do salário-mínimo​.
 Incremento da Educação Superior (pública e privada)​.
 Pnas e Suas (2004)​.
 MDS (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome)​.
 Unificação das políticas de renda: Bolsa Família.​
 Programa compensatório x programas redistributivos​.
 Questão estrutural x assistencialismo​.
 Diminuição da pobreza estrutural (nova classe média​).
O Estado a partir de 2015

 O Estado hoje: refundação neoliberal.


 Privatizações.
 Precarização das políticas públicas.
 ​Polarização.
 Aumento da concentração da riqueza e – paradoxalmente – aumento da pobreza.
Políticas sociais no neoliberalismo

 “Refuncionalização”: a “precarização” e a “privatização” dos serviços.

 A precarização é operada por meio de dois mecanismos: a descentralização dos serviços


(que implica a transferência, aos níveis locais do governo, da responsabilidade pela oferta de
serviços, deteriorados e sem financiamento) e a focalização (introduzindo um corte de
natureza discriminatória para o acesso aos serviços sociais básicos pela necessidade de
comprovação da “condição de pobreza”, resgatando a lógica da “cidadania regulada”).
(YAMAMOTO; OLIVIERA, 2010, p. 11)
Políticas sociais no neoliberalismo

 A privatização (total ou parcial) dos serviços se processa pela (re)mercantilização (com


a transformação dos serviços sociais em mercadorias, “oferecidos” no mercado ao
consumidor, configurando uma nova forma de apropriação de mais-valia do trabalhador)​.

 E a (re)filantropização das respostas à “questão social”, ou seja, a transferência para o


âmbito da “sociedade civil” de parte da responsabilidade pela oferta de serviços (voluntários),
sobretudo, para as parcelas “excluídas” – processo no qual o chamado “terceiro setor”
desempenha papel fundamental.
(YAMAMOTO; OLIVIERA, 2010, p. 11)
O trabalho da psicologia

 O que está em jogo na oposição entre a perspectiva neoliberal para a perspectiva de


direitos nas políticas públicas é o entendimento de serviços (como os da
psicologia) ou mercadoria ou numa outra apresentação, justamente, como direito.
Interatividade

Conforme o discutido por Yamamoto e Oliveira (2010), o neoliberalismo é “um conjunto de


proposições políticas conjugando uma atualização do liberalismo com formulações
conservadoras e oriundas do darwinismo social”. Esse modelo econômico predominou no Brasil
ao longo da década de 1990 e hoje em dia vem sendo (novamente) apresentado como saída
para a crise do Estado brasileiro, como importante consequência para as políticas públicas. Em
relação a essas consequências, indique a alternativa que contraria o modelo neoliberal:
a) Corte dos gastos sociais e desmontagem dos serviços públicos.
b) Amplo programa de privatizações, tendo como premissas o estabelecimento do mercado
como instância mediadora e um “Estado Mínimo”.
c) Controle e repressão do movimento sindical.
d) Desconstrução dos serviços dentro das políticas públicas
como mercadorias e sua apresentação como direitos.
e) Fomento de organizações não governamentais (ONGs) ainda
na perspectiva beneficente, tendo como consequência a
despolitização dos conflitos sociais.
Resposta

Conforme o discutido por Yamamoto e Oliveira (2010), o neoliberalismo é “um conjunto de


proposições políticas conjugando uma atualização do liberalismo com formulações
conservadoras e oriundas do darwinismo social”. Esse modelo econômico predominou no Brasil
ao longo da década de 1990 e hoje em dia vem sendo (novamente) apresentado como saída
para a crise do Estado brasileiro, como importante consequência para as políticas públicas. Em
relação a essas consequências, indique a alternativa que contraria o modelo neoliberal:
a) Corte dos gastos sociais e desmontagem dos serviços públicos.
b) Amplo programa de privatizações, tendo como premissas o estabelecimento do mercado
como instância mediadora e um “Estado Mínimo”.
c) Controle e repressão do movimento sindical.
d) Desconstrução dos serviços dentro das políticas públicas
como mercadorias e sua apresentação como direitos.
e) Fomento de organizações não governamentais (ONGs) ainda
na perspectiva beneficente, tendo como consequência a
despolitização dos conflitos sociais.
ATÉ A PRÓXIMA!

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