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UNIVERSIDADE LICUNGO

FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS

CURSO DE GEOGRAFIA

CHAMILA PEDRO ADRIANO

DEMIDIO OTILIO GORDINHO

EDILSON JOÃO MAWISSA

FERNANDO JOÃO ZIMBUCA

FIDEL CARLOR OMAR

CRÍTICA DO PARANTESCO: O LOBOLO EM MOÇAMBIQUE

Beira

2021
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CHAMILA PEDRO ADRIANO

DEMIDIO OTILIO GORDINHO

EDILSON JOÃO MAWISSA

FERNANDO JOÃO ZIMBUCA

FIDEL CARLOR OMAR

Antropologia cultural de Moçambique

Trabalho a ser presentado ao curso de Licenciatura


em ensino de geografia, Faculdade de ciências e
tecnologias como requisito parcial do 2º trabalho da
cadeira de Antropologia Cultural de Moçambique, 2º
ano, regime laboral.

Docente: Mestre Paulino José

Beira

2021
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Índice

Introdução ....................................................................................................................................... 4

Objectivos ....................................................................................................................................... 5

Metodologia .................................................................................................................................... 6

O Parentesco ................................................................................................................................... 7

Relações de parentesco ................................................................................................................... 7

Tipos de parentesco......................................................................................................................... 9

O lobolo ........................................................................................................................................ 10

Como ocorre o lobolo?.................................................................................................................. 10

Factores da dissolução do casamento ........................................................................................... 11

Significação histórica da prática do lobolo. .................................................................................. 11

Vantagens e desvantagens do costume do lobolo para as famílias moçambicanas ...................... 12

Considerações finais ..................................................................................................................... 13

Referências bibliográficas ............................................................................................................. 15


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Introdução

Neste trabalho iremos apresentar em forma de descrição as relações de parentesco.


Pretende-se que com este trabalho se inicie o processo de convergência epistemológica sobre o
parentesco e com ela as ramificações ou laços constituintes. Bem como, falar do lobolo, no que se
refere a sua forma de ocorrência, os factores da dissolução, significação histórica da prática do
lobolo e um pouco das vantagens e desvantagens do mesmo.
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Objectivos

Objectivo geral

– Fazer uma análise do parentesco: o lobolo em Moçambique.

Objectivos específicos

– Definir o parentesco;

– Conhecer as suas relações no contexto de construção da sociedade;

– Identificar os tipos de parentesco;

– Definir lobolo;

– Descrever como ocorre o lobolo;

– Mencionar os factores da dissolução do lobolo;

– Indicar as vantagens e desvantagens do lobolo.


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Metodologia

Para a realização do referido trabalho baseamo-nos num levantamento bibliográfico, onde


foram considerados livros, artigos, além dos materiais que eram de relevância para a pesquisa e
que foram adoptados neste trabalho académico, da cadeira de Antropologia Cultural de
Moçambique. Os dados da pesquisa foram escritos seguindo as normas de elaboração de trabalhos
académicos vigentes na Universidade Licungo.
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O Parentesco

Relações de parentesco

De acordo com Augé (2003), o parentesco é o vínculo por consanguinidade, adopção,


aliança (através do casamento), afinidade ou qualquer relação estável de afectividade. Trata-se,
portanto, de vínculos podendo ser ou não biológicos e que se organizam de acordo com linhas que
permitem medir ou qualificar diversos graus de parentesco.

Duas pessoas podem estar emparentadas de três formas básicas: por consanguinidade, por
afinidade ou por adopção.

O parentesco por consanguinidade estabelece-se através de um vínculo de sangue,


quando existe pelo menos um ascendente em comum. A proximidade deste parentesco mede-se de
acordo com o número de gerações que separam ambos os pais (AUGÉ, 2003). Ainda nas palavras
de Augé, a linha de parentesco consanguíneo pode ser directa (a série de graus que existe entre as
pessoas que descendem uma da outra) ou colateral.

Humanismo para o desabrochar da civilização global, onde deveríamos pensar globalmente


e agir localmente. Estamos portanto, diante do desafio de construirmos uma nova sociedade, a qual
deverá ser adequada aos nossos interesses e às nossas necessidades. Estar voltada para o futuro,
sem negar o passado. Tomando como seus fundamentos as nossas raízes culturais, respeitando os
valores e as tradições locais, afirmando a nossa identidade, respeitando as diversidades existentes.
Para Toledo (2008) a questão da identidade e diversidade cultural voltam a compor um quadro
actual de preocupações, representativo da com plexidade dos resultados das inteiras acções sociais
que se operam ao nível da sociedade actual.

Sobre ela deveremos reflectir, procurando apontar os desafios a serem transpostos na


aspiração colectiva por dias melhores, realizar estudos com o propósito de melhor conhecer e
valorizar a “ nossa gente”, e a “ nossa terra”. Para isto é mister resgatar criticamente a nossa
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História, avivar a memória, mesmo quando ela nos faz recordar momentos difíceis do nosso
passado, reflectir sobre nós mesmos, dando asas à imaginação, à criatividade, para sonhar belos
sonhos que queremos ver transformados em realidade num futuro próximo. Ainda de acordo com
o mesmo autor, o pensamento discriminatório para com os africanos é remetido como uma raça
inferior, incapaz de terem um grau de intelectualidade igual ao do branco. Nessas condições, não
teriam condições de jamais aprenderem sozinhos a língua portuguesa, cabendo ao português
conduzi-los a civilização. Um dos grandes problemas acentuados para o moçambicano era a falta
de oportunidade para que ele conseguisse alcançar índices satisfatórios de alfabetização. Além
desse, seria a intenção colonizadora de transformá-lo em um cidadão com princípios distantes de
sua cultura original.

A busca pela assimilação ocorreria por meio da imposição da língua estrangeira, uma das
principais maneiras de se infligir aos nativos as características dos colonizadores, Uma forma de
mostrar uma imposição de poder, caracterizando que não se importavam com a língua que falavam,
mas que tinham que aprender a deles, ou seja, a língua portuguesa.

Para Toledo (2008) os nativos começam a sentir que a ultima coisa que os une em torno
dos seus é o clã, e este é esfacelado pelo sistema que lhes é imposto, gerando um forte motivo para
serem levados pela revolta. Devido a isso o Exercito foi formado para fazer a conquista e ocupação
colonial, depois com o intuito de manter o poder sobre os colonizados, pois previam que para
manter o controlo tinham que usar a força.

Estabelecimento de pontes de análise crítica comparativa (a série de graus que existe entre
as pessoas com um ascendente comum, mas que não descendem uma da outra. Por exemplo:
irmãos, primos).

A linha directa de parentesco consanguíneo pode ser ascendente (cada uma das pessoas
relativamente a quem descendem de forma directa: bisavô-avô-pai) ou descendente (vincula o
antepassado com quem descendem de forma directa e sucessiva: tetraneto-bisneto-neto).
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Tipos de parentesco

Augè (2003) também define os tipos de parentesco, sendo que para ela, existe o parentesco
por afinidade e por adopção.

Por afinidade é aquele que tem lugar entre o cônjuge e os parentes consanguíneos do outro
ou entre uma pessoa e os cônjuges dos seus parentes consanguíneos.

O parentesco por adopção ou parentesco civil é aquele que existe entre o adoptante
e o adoptado e entre o adoptado e a família do adoptante. Outra particularidade apresentada
por Augé (2003) e partilhada com Granjo (2005) a união ou o elo que existe entre as coisas
também se pode considerar parentesco: “O futebol e o rugby têm um certo parentesco”.

Dessa perspectiva, surge como definição do Parentesco: é a relação que vincula


entre si as pessoas que descendem do mesmo tronco ancestral. Assim sendo, pode
caracterizar de várias e muitas maneiras: Parentesco biológico ou consanguíneo. Temos
em linha recta e em linha colateral.

Linha recta: é infinito, contado por graus. 1º Grau: pai e filho 2º Grau: avô e neto
3º Grau: bisavô e bisneto Ascendentes: pais, avós, bisavós Descendentes: filhos, netos,
bisnetos Linha paterna: parentesco como genitor e com os ascendentes deles, como avôs e
bisavós paternos.

Linha materna: diz respeito aos pais e avós da mãe, como avós e bisavós maternas.
Filhos: afora do Direito existe uma classificação quanto à origem dos filhos, pois que
distingui-los perante a norma jurídica é inconstitucional. Assim temos:

a) Por estirpe: se tem os mesmos pais, ou, se são filhos de um só deles;

b) Bilaterais ou germanos: filhos do mesmo casal;

c) Irmãos unilaterais: que tem em comum somente um os genitores, são tidos


como meios-irmãos.
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Linha colateral: são vínculos de parentesco que igualmente se estabelecem entre


duas pessoas devido a existência de um ancestral comum, daí dizer que provém de um
tronco comum, encerrando-se até o 4º grau.

O lobolo

O lobolo é uma prática cultural por meio da qual se unem duas pessoas (homem e mulher)
pelo casamento condicionado ao pagamento real ou simbólico de um dote. Este dote pode ser uma
enxada, uma cabeça ou várias de vaca, dinheiro em numerário ou outros bens de natureza ou
pecuniária.

Como ocorre o lobolo?

O jovem que tem a intenção de contrair o casamento informa os seus tutores (pais ou
padrinhos), sobre a sua intenção e estes marcam uma agenda de visita à família da pretendida noiva
com a finalidade de participar-lhes da pretensão do seu filho/afilhado. Uma vez recebidos os
hóspedes estabelecem-se garantias, designadamente uma lista contendo a descrição dos itens que
serão objectos do próprio lobolo. A lista incluir prendas para os pais da noiva, enxadas, dinheiro
para os encargos do cortejo nupcial, bem como a menção da data em que o próprio lobolo será
pago.

Chegado o dia marcado, a família da noiva prepara -se para a cerimónia de maneira
especial, pois cumpre-lhe garantir a hospitalidade ao noivo e aos seus acompanhantes. Na hora do
pagamento do lobolo, as prendas e todos os objectos descritos na lista são dispostos no meio de
uma praça visível. Logo, as duas famílias (a da noiva e a do noivo) reúnem-se para verificar se o
número dos objectos estam certos, indicado uns aos outros se está ou não completos. É
extremamente importante que haja numerosas testemunhas de modo que se o casamento for
malsucedido não haja dificuldades de o homem reaver os objectos do lobolo.
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Ultrapassada esta parte, segue-se o acto religioso, logo, o cortejo nupcial, e em seguida os
festejos com abundância de comidas e bebidas. Todos estes actos solenes selam para sempre a
união dos dois nubentes.

Factores da dissolução do casamento

No entanto, dois grandes factores podem ser preponderantes para a dissolução do


casamento: o adultério e a esterilidade da mulher.

Ora, embora a sociedade moçambicana consinta a poligamia (poligamia masculina) não


tolera que a mulher possa estabelecer relações extraconjugais ou adultérios, sendo estes actos
suficientemente justificativos para o homem exigir a dissolução do casamento.

A esterilidade feminina é um outro aspecto que legitima a dissolução do casamento. Ora,


visto que entre os africanos a finalidade procriava do casamento prima sobre as outras finalidades
(prazer, partilha, afecto, etc.), a dificuldade de procriação da mulher é tida como um impedimento
à manutenção do casamento, pelo que se declara divórcio.

Por conseguinte, o divórcio por adultério ou por esterilidade da mulher dá direito ao


marido de exigir de volta os objectos do lobolo.

Significação histórica da prática do lobolo.

O lobolo como símbolo de união matrimonial permite que uma das famílias envolvidas
adquira um novo membro, e a outra, o perca. Deste modo, a mulher adquirida, ainda que conserve
o seu apelido (o nome do seu clã) torna-se propriedade do novo grupo familiar, pertencem a este
grupo tanto ela como os filhos que gerar. Não é uma escrava, nem a propriedade individual do
marido, mas uma propriedade colectiva do grupo.

Junod (1996:257) faz as seguintes considerações a respeito dos efeitos do lobolo:


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a) Toda a família do homem toma parte nas cerimónias do casamento, sobretudo no dia em
que o lobolo é levado pelo noivo. Os membros masculinos do grupo têm o direito de opinar
sobre os bois ou a soma entregue.
b) Os irmãos estão sempre prontos a ajudar um dos seus, mais pobre, ao lobolo. Trabalham
assim para o grupo.
c) A mulher adquirida desta maneira é esposa aparente deles, embora lhes não seja permitido
ter relações sexuais com ela. Recebê-la-ão em herança quando o marido morrer (o
kutchinga).
d) Os filhos pertencem ao pai, vivem com ele, usam o seu apelido (o nome do clã) e devem-
lhe obediência: os filhos masculinos fortificam o grupo e os femininos são vendidos em
casamento para o benefício desse grupo.

Vantagens e desvantagens do costume do lobolo para as famílias moçambicanas

O lobolo como uma prática costumeira de alguns segmentos da sociedade moçambicana


tem algumas vantagens, a saber:

a) Ajuda a fortificar a família, a patriarcal, o direito do pai;


b) Marca diferenças entre casamentos legítimos e casamentos ilegítimos e, neste caso,
substitui o registo oficial do casamento;
c) Dificulta a dissolução do casamento, pois a mulher não pode abandonar o marido sem que
a este lhe seja restituído o lobolo;
d) Obriga os nubentes a terem atenção, um para com o outro.

No entanto, o lobolo acarreta também algumas desvantagens. Ei-las:

a) A mulher é reduzida a uma situação de inferioridade pelo facto de ter sido paga;
b) A rapariga casa fica a mercê da família do marido. Em caso da morte do marido ela pode
ser entregue a um velho asqueroso por quem ela não sente qualquer atracção, por causa de
uma velha dívida de lobolo;
c) A mulher trabalha para o marido e para os parentes dele, que lhe dão muito pouco em troca;
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d) No que toca aos filhos, mesmo que ela sinta amor por eles, não lhe pertencem, são
propriedades do marido ou do seu grupo familiar.
e) O lobolo atribui quase todos os direitos ao marido sobre a mulher, incluindo os de ofendê-
la, e a mulher perde até mesmo o direito de protestar.
f) No caso de o lobolo e a suma do dinheiro envolvidos não tiverem sido totalmente pagos,
podem levantar-se tensões e irritações que muitas vezes criam sofrimentos para o casal e
para as respectivas famílias.

Por tudo o acima descrito, conclui-se que seja falso dizer que o lobolo é um contrato entre
duas famílias com a finalidade de garantir que a mulher seja tratada decentemente pelo marido e
vice-versa. Parece-nos que em vez de esta prática obrigar os nubentes a prestarem cuidados
recíprocos, serve para legitimar comportamentos androcêntricos e machistas de índole patriarcal.

Considerações finais

Contudo, neste trabalho falou-se sobre o parentesco, sua classificação e estruturação


familiar.

O lobolo é uma prática cultural por meio da qual se unem duas pessoas (homem e mulher)
pelo casamento condicionado ao pagamento real ou simbólico de um dote. Este dote pode ser uma
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enxada, uma cabeça ou várias de vaca, dinheiro em numerário ou outros bens de natureza ou
pecuniária. No entanto, dois grandes factores podem ser preponderantes para a dissolução do
casamento: o adultério e a esterilidade da mulher. O lobolo como símbolo de união matrimonial
permite que uma das famílias envolvidas adquira um novo membro, e a outra, o perca.
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Referências bibliográficas

VILANCULO, G. Manual de antropologia de Moçambique. UNIVERSIDADE


PEDAGÓGICA DE MOÇAMBIQUE. Disponível em https://www.passeidireto.com

ISCED. Manual do curso de licenciatura em gestão ambiental: antropologia de


Moçambique. Disponível em https://www.passeidireto.com

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