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UNIVERSIDADE ABERTA UNISCED

FACULDADE DE CIÊNCIAS DE EDUCACAO


CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA

A FUNÇÃO SOCIOCULTURAL DA RELIGIÃO EM MOÇAMBIQUE

Teófelo Cossa
Xai-Xai, Outubro de 2023
UNIVERSIDADE ABERTA UNISCED
FACULDADE DE CIÊNCIAS DE EDUCACAO
CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA

A FUNÇÃO SOCIOCULTURAL DA RELIGIÃO EM MOÇAMBIQUE

Trabalho de Campo a ser submetido


na Coordenação do Curso de
Licenciatura em ensino de
Portugues

Teófelo Cossa
Xai-Xai, Outubro de 2023
Índice

Introdução ..................................................................................................................... 4
Objectivos ..................................................................................................................... 4
Geral .............................................................................................................................. 4
Específicos .................................................................................................................... 4
1.2.Metodologia ................................................................................................................ 4
A religião como um fenómeno sócio-cultural .............................................................. 5
Características da religião ............................................................................................. 6
Funções Sociais da Religião ......................................................................................... 7
Processo histórico da religião em Moçambique ........................................................... 7
Presença da Religião Cristã em Moçambique .............................................................. 8
Conclusão.................................................................................................................... 10
Bibliografia ................................................................................................................. 11
Introdução
Este trabalho objectiva contextualizar e descrever a conduta organizacional da religião
na sociedade moçambicana. A descrição generalista sobre religião expressa pelo músico
azagaia: “a minha religião também é verdadeira. A minha catedral é a palhota da
curandeira. E África cura tudo, por isso é hospitaleira.” (Azagaia citado por Lopes,
2015, p. 1), representa a ideia na qual a sociedade moçambicana é fundamentada na
diversidade religiosa, sendo uma sociedade multicultural cujas peculiaridades são
relevantes para estudos e análises.

Definir, descrever e entender a Religião e seu papel no contexto moçambicano se torna


pertinente, tendo em conta os aspectos religiosos universais e, de forma particular, os do
contexto africano. Este procedimento tem como objecto de estudo a Religião em
Moçambique, objectivando entender o contexto sociorreligioso e o papel sociológico da
religião no processo da formação da nação e sociedade moçambicana. O pressuposto é
que nem todas as religiões e respectivas formas de religiosidades existentes no país são
incorporadas como participantes na formação da identidade moçambicana.

Objectivos

Geral
 Falar de função sociocultural da religião em Moçambique

Específicos
 Compreender a função sociocultural da religião em Moçambique
 Descrever o papel sociocultural da religião em Moçambique

1.2.Metodologia
Para a execução do presente trabalho, como metodologia, consistiu basicamente na
leitura de várias obras que retratam o tema em estudo, e no uso da internet cujos autores
e respectivas obras encontram-se citados dentro do trabalho e na ficha bibliográfica final
deste trabalho.
Após uma leitura textual, com o objectivo de formar uma visão geral da obra, uma
segunda leitura foi feita com o objectivo de aprofundamento e consolidação dos
principais conteúdo.

Foi feita a redacção do texto e por fim, foram feitas revisões para o aperfeiçoamento da
abordagem e verificação da correcta incorporação dos aspectos formais.
A religião como um fenómeno sócio-cultural

Durkheim (1996), embora se tenha baseado em estudos antropológicos de sociedades


primitivas, considerava a religião como um fenómeno universal; daí o facto de ter
estudado o sistema religioso em diferentes contextos históricos, sociais e culturais,
tentando entender a essência comum e as funções que a religião desempenha nas
diferentes sociedades e o que explica a sua origem.

Segundo este autor, não há sociedade sem religião e muito menos existe sociedade, por
mais primitiva que seja, que não apresente um sistema de representações colectivas
relacionadas à alma, à sua origem e ao seu destino. Para o autor, a realidade simbólica
da religião é o núcleo da consciência colectiva e como acto social, a religião transcende
o indivíduo e é a condição primordial da integração e da manutenção da ordem social.

Durkheim refere ainda que a religião é um sistema solidário de crenças e de práticas


relativas a coisas sagradas, ou seja, separadas, proibidas, crenças e práticas que reúnem
numa mesma comunidade moral todos aqueles que a ela aderem.

Portanto, por detrás de toda a manifestação religiosa (ritos, cultos, crenças adorações,
etc.) está a sociedade, pois foi ela que criou a sua concepção religiosa. Deus, por
exemplo, que é a concepção mais forte dentro do sagrado, é uma forma de mitificação
de meras leis, usos e costumes, valores e tradições de um grupo social. O culto a Deus é
no fundo um culto à própria sociedade e a religião é apenas uma forma suprema de
consolidar o social, perpetuar a cultura e reafirmar e actualizar simbolicamente os
valores colectivos.

A religião impõe respeito e é uma das formas de sanção social, pois trata-se de um
conjunto de normas super-humanas que controlam o social das tendências
constrangedoras da ordem social.

Edward Tylor (1871) afirmava que para o Homem primevo, tudo é dotado de alma, e
esta crença fundamental e universal não só explica o culto aos mortos e aos
antepassados, mas também o nascimento de deuses.
Para Radcliffe-Brown (1999) a religião estabelece normas consuetudinárias (sanções
legais), normais morais (sanção da opinião pública) e normas sobrenaturais (sanção da
consciência), são estas três maneiras de controlar o comportamento humano.

Max Weber (1997) considera que a religião tem desempenhado um importante papel de
controlo social. Para ele, a religião é universalmente uma reacção e a medo, proporciona
ao Homem explicações para os problemas angustiante com o mal, injustiça e a morte.

À semelhança de Radcliffe-Brown, para Talcott Parsons, a religião tem uma função


crucial que consiste em resolver três graves problemas da humanidade: as incertezas
cognitivo-emocionais, a escassez de recursos materiais e o desajustamento social.

Portanto, a religião pode ser entendida como crença sobrenatural que a sociedade
humana admite e celebra, sem provas ou evidências empíricas sobre a sua existência, e
envolve doutrinas, sentimentos e ritos socialmente institucionalizados (RAMOS, 1992)

Assim, a religião como um subsistema sócio-cultural é composta por dogmas (conjunto


de verdades inquestionáveis); moral (normas de comportamento) e liturgia (o ritual
relativo ao culto).

Características da religião

 Existência de entidades sobrenaturais que criaram e controlam o mundo natural e ordem


social.
 Em qualquer tempo (passado, presente e futuro) há uma efectiva intervenção
sobrenatural nos assuntos do mundo, ou seja, as entidades sobrenaturais comandam o
destino da humanidade.
 Procedimentos de reverências e de súplica por meio dos quais o grupo solicita protecção
de forças sobrenaturais. O grupo acredita que a vida e morte e os acontecimentos depois
da morte dependem da relação estabelecida entre o grupo e as suas entidades
sobrenaturais.
 Crenças, rituais, acções e comportamentos individuais ou colectivos, regras sociais ou
morais são prescritos e legitimados pela tradição religiosa ou pela revelação divina.
 Em expressão de obediência gratidão e devoção frequentemente na presença de
representações simbólicas de entidades sobrenaturais.
 Linguagem, objectos símbolos etc., são elementos particularmente identificados com o
sobrenatural e podem, eles próprios tornarem-se objectos de reverência/sagrada.
 Celebração romarias e eventos que marcam e comemoram episódios importantes:
nascimento ou morte de divindades, de profetas ou ídolos. Nestas ocasiões há
reprodução de ensinamento, sentimentos de comunidades e reconciliação entre os
devotos.

Funções Sociais da Religião

 Ajuda a superar incertezas quanto ao desconhecido, à impotência face à forças da


natureza, à vida, à morte e ao futuro.
 Serve para legitimar as desigualdades sociais, a divisão do trabalho, a dominação e a
subordinação.
 Ao dar respostas à interrogações e preocupações sobre o sentido da vida, o sofrimento,
as incertezas, as injustiças sociais e outros males do mundo, a religião contribui para o
equilíbrio psico-emocional do Homem e o estimula a uma acentuada participação na
sociedade, visando uma maior coesão social.
 Gera um conforto afectivo-espiritual, isto é, proporciona consolo, alívio e estabilidade
emocional nos momentos críticos e dolorosos da vida.

Em períodos de grandes comoções sociais, crises políticas, fome, instabilidades


financeiras, etc., a religião funciona como um importante factor de união, de identidade
cultural e religiosa.

Processo histórico da religião em Moçambique

Jostein Gaarder, Victor Hellern e Henry Notaker (2000), em suas contribuições,


apontam a existência de “três religiões que dominam a África moderna”: a) o
cristianismo, migrado com a colonização da África; b) o islã, religião caraterística da
“África setentrional árabe”, que migrou para o “sul do Saara” e; c) a religião tradicional,
originária, a essência tribal, familiar, ou “sinónimo de liderança política da tribo”,
anterior à invasão das duas primeiras, apesar de estarem actualmente se caracterizando
como “movimentos sincretistas” surgido com o processo das “missões cristãs” (2000, p.
89).
Essas religiões, o cristianismo, o islã e todas as que se caracterizam como “religiões
mundiais” ou presentes em todo o universo, são tipos de religião consideradas oriundas
do “Oriente Médio”, caracterizadas por serem “monoteístas” e criadas ou fundadas por
um certo mestre e ou profeta com nomes que os representam, tais como: Moisés, Buda,
Lao-Tse, Jesus, Maomé (GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2000, p. 37).

Essa conjuntura religiosa em África é a mesma que se faz presente na situação da


Religião em Moçambique, uma vez que se trata de um dos países da região sul da
África Subsaariana, que tinha seu litoral como um dos pontos principais do comércio
com os árabes, assim como, posteriormente, uma colônia portuguesa. De outro lado, a
Constituição de Moçambique declara que a sociedade moçambicana é “fundamentada
na diversidade da religião” (MOÇAMBIQUE/CRM, 2004; Art. 3 e 11, alínea f; g).

Essa declaração, junto com a contribuição de Gaarder, Hellern e Notaker (2000) em


relação ao tipo de religião presente em África, e na necessidade da descrição dessa
diversidade religiosa presente na sociedade moçambicana contemporânea, é viável
recorrer à análise processual da religião no país. Isso remete a olhar para três épocas
distintas, a saber: a religião dos povos bantos, a instalação da religião islâmica e, por
fim, a presença da religião cristã.

Presença da Religião Cristã em Moçambique

A 3ª Época se iniciou no século XV, com a chegada dos portugueses, e percorre entre
as fases da ocupação territorial, da exploração colonial, do marco inicial da época da
racionalização e da dita civilização dos moçambicanos por meio da religião cristã,
também tida como marco do “nascimento de uma hegemonia planetária” (CABAÇO,
2007, p. 27).

Com a religião católica outorgada, por meio do Direito do Padroado Régio Ultramarino,
em ter seus bispos na administração episcopal, enquanto representatividade do poder e
autoridade do Rei de Portugal, visando ao domínio colonial em nações sob sua
jurisdição (SANTOS, 2007). Essa é uma característica típica dos imperativos políticos
que se assemelham aos actuais dinamizadores da “mundialização da economia
ocidental” (CABAÇO, 2007, p. 33, 162, 300), ou da influência do sistema económico
do Norte Global como meio de aculturação dos nativos por meio do catolicismo
(SIBINDE, 2018, p. 80-81).

Segundo José Luís O. Cabaço, com a partilha de África, em 1884, conforme


Conferência de Berlim, ficou estabelecido que Portugal passaria a exercer o seu poder
colonial em uma parte dos territórios africanos, sendo uma delas a área geográfica da
actual República de Moçambique, antes Província Ultramarina Portuguesa, conforme o
poderio exercido pelos portugueses em sua missão civilizadora e assimiladora6 dos
nativos dessa região.

A ordem política foi estabelecida pelo Decreto n° 16. 199 de 6 de Dezembro de 1928,
com a instauração do “Estado Novo” e o enorme impacto causado pela primeira medida
tomada por Salazar, ao publicar o “Acto Colonial” do império de Portugal, decretado
em 18 de Junho de 1930 e consolidado pela “Lei Fundamental, artigo 133°, da
Constituição de 1933”. Sobre isso, cabe apenas destacar o declarado no “Título II – dos
indígenas”, especificamente a alínea e, que “reconhece “missões católicas portuguesas
no ultramar” como “instrumentos de civilização e influência nacional” concedendo-lhes
protecção e auxílio estatal como instituições de ensino (CABAÇO, 2007, p. 151).
Conclusão

Esta contribuição possibilita uma prévia ilação da existência de vários deuses no


mundo, originados e venerados pelo próprio ser humano; constatação inversa, ou
contrária, à teoria sustentadora de que o ser humano foi criado por certa divindade e
com o dever de se sujeitar em veneração a essa divindade. Em concordância com o
Vicente (2012), em relação ao estilo de religiosidade do povo banto, a RTA constitui,
até nesta contemporaneidade, uma unidade de crenças, um meio de harmonização e
coesão dos africanos, neste caso dos moçambicanos. É uma forma de socialização, uma
associação ou figuração (SIMMEL, 2006) dos grupos étnicos e tribais em terras
moçambicanas.

A RTA representa um certo perfil cabível na manutenção do “pensamento africano”


(MACAMO, 2002) ou do “conhecimento emancipatório” (SILVA, 2017), como forma
de resistência da população moçambicana. Também, constitui um estilo de religião
viabilizadora da manutenção do poder essencial dos africanos, estabelecida do ponto de
vista da “mesma concepção religiosa e espiritual do mundo e da vida, a mesma
concepção do homem, da sociedade e do destino final da pessoa humana” (VICENTE,
2012, p. 34).

A partir da análise dos dados Censo 2017, constata-se a exclusão da RTA como
categoria religiosa ainda que esta seja indispensável na harmonização e coesão dos
moçambicanos, assim como na unidade de crenças dos povos bantos (VICENTE, 2012).
Bibliografia
JUNOD, Henri Alexandre. Usos e costumes bantu. Editor Arquivo Hist. de
Moçambique, Tomo I, Maputo, 1996.

MEDEIROS, Eduardo. Os Senhores da floresta: ritos de iniciação dos rapazes Macuas


e Lómuè, p. 16-24.

RODRIGUES, Donizete. Sociologia da religião: uma introdução. Edições


Afrontamento, Porto, 2007.

TOMÁS, Adelino Esteves. Manual de Antropologia Sócio-Cultural. Universidade


Pedagógica Sagrada Família, s/d. p. 47-57

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