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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2

2 RELIGIÃO ................................................................................................... 3

3 ABORDAGEM DO FENÔMENO RELIGIOSO ............................................ 5

3.1 Modelos tipológicos de ensino religioso ............................................... 7

Catequético....................................................................................................... 8

Teológico .......................................................................................................... 9

Ciências da religião......................................................................................... 10

Confessional e interconfessional .................................................................... 10

Ecumênico ...................................................................................................... 12

Inter-religioso (“pluralista”) .............................................................................. 13

Fenomenológico ............................................................................................. 14

3.2 Secularização ..................................................................................... 15

3.3 Pós-secularização .............................................................................. 19

3.4 Laicidade ............................................................................................ 21

3.5 Laicismo ............................................................................................. 25

4 PENTECOSTALISMO E NEOPENTECOSTALISMO ............................... 27

5 O ENSINO RELIGIOSO E A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR


(BNCC) ...................................................................................................................30

6 A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA NO BRASIL ............................................ 34

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 38

1
1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

2
2 RELIGIÃO

Fonte: img1.gratispng.com

Considerando a religião como um dos fundamentos mais antigos da


humanidade, e considerando que sua existência é garantida pela sociedade, após
sua plena realização, dada sua presença ativa nas relações e funções sociais, faz-
se necessária à sua análise sociológica. Esse tipo de atuação ocorre principalmente
quando se depara com os traços que permeiam a vida humana. A incerteza do
futuro, a ansiedade do presente e os arrependimentos do passado são comuns na
vida pessoal. Discursos ou hipóteses científicas, quando não estão disponíveis para
a maioria dos indivíduos, ou mesmo indisponíveis, quando não podem responder a
essas qualidades, a religião aparecerá como uma resposta completa.
(VASCONCELOS, 2012).
Antes que houvesse uma sociedade secularizada, a religião determinava
completamente o ritmo de todas as atribuições humanas. A elaboração de leis é um
exemplo óbvio, pois, ao se tentar entendê-las, muitas vezes é necessário recorrer à
religião. Esse tipo de influência ainda existe hoje, por exemplo, quando as pessoas
tentam modificar conceitos jurídicos que foram "sagrados" por novas interpretações,
tentam se livrar do conceito desses termos, que estão cheios do que hoje se
considera preconceito e significado absoluto. Isso comprova a influência da religião,
“não apenas como sistema ideológico, mas também como sistema de poder”
(SANCHIS, 2011).

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Portanto, para Sanchis (2011), não se trata apenas de uma ideologia, mas de
uma ação direta e influência na relação entre o ser humano e a sociedade. Esse
poder se manifesta por meio do coletivo, onde a religião prevalece e se materializa
por meio de objetos que se tornam sagrados.
Portanto, mesmo em uma sociedade secularizada, apesar de sua pequena
escala agora, a religião ainda consegue construir as relações sociais de tal forma
que “transforma o ‘assim é’ em ‘assim deve ser’, ou em ‘assim não pode ser’”
(OLIVEIRA, 2011, p. 179,180). Ou seja, mesmo que seu impacto não seja percebido
por todos, ainda assim consegue se tornar imprescindível nas relações sociais.
Mas antes de imaginar a religião como único motor do desenvolvimento social
sustentável, é preciso lembrar que ela é legalizada ou racionalizada pela própria
sociedade. São os membros do grupo ou comunidade que tornam a religião
importante. A necessidade contínua de transcendentes que se comunicam com a
natureza reflete a criatividade que os humanos criam para si próprios (e, portanto,
para os outros), os meios para obter respostas ou favores às suas perguntas ou
necessidades. Portanto, Danièle Hervieu-Léger fez considerações importantes
sobre a necessidade de os humanos criarem "deuses":

Os homens têm necessidade dos deuses para existir em sociedade, mas os


deuses dependem dos homens, que se dedicam, por meio do culto que lhes
prestam, a preservar sua existência. As práticas religiosas e as crenças que
racionalizam teologicamente sua necessidade social têm como função
reativar regularmente e perenizar a “emoção das profundezas”. Elas
relançam a própria dinâmica da vida coletiva, garantindo a “restauração
moral” dos indivíduos que retornam à vida profana com mais coragem e ardor.
(HERVIEULÉGER, 2009, p. 194)

Dessa forma, a religião é entendida como uma construção social necessária


à existência humana, que por sua vez cria subsídios para sua sobrevivência. Para
tanto, é criada pelo próprio homem, e tem por objetivo confirmar os requisitos
religiosos, legais e outros que constituem a doutrina religiosa. Essas normas
estabelecidas só terão efeito quando “ficarem gravadas na consciência pessoal e
nela se fundirem naturalmente, para depois se tornarem hábito” (OLIVEIRA, 2011,
p. 181). Portanto, os mais diversos desafios enfrentados pelas religiões na
sociedade justificam o papel da sociologia na análise desses eventos. É
precisamente por causa da intervenção direta da religião na sociedade que é fácil
de explicar e analisar.

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Embora a sociedade atual seja secularizada, a intervenção da Igreja como
representante oficial e concreta da religião é mínima, mas na teoria, na prática, ainda
podemos ver alguns traços de santificação social. Em eventos históricos recentes
no Brasil, como a eleição presidencial de 2010, em função das demandas dos
próprios eleitores conservadores, principalmente no que se refere às posições
desses candidatos no pleito, pode-se observar a importância da religião na definição
das propostas dos candidatos. Ou seja, mesmo que o “dossel sagrado” que outrora
utilizava os costumes e as leis de tradição religiosa para proteger a sociedade seja
rompido (TEIXEIRA, 2011), ainda existem alguns vestígios que podem suscitar
discussões e até decidir apoiar a religião.
Como resultado da secularização da sociedade, também houve um
acirramento da competição religiosa, que eliminou a posição de monopólio das
religiões que antes ocupavam a maioria e abriu espaço para o advento de novas
religiões com novas crenças e costumes religiosos. Como resultado, uma nova
"estrutura razoável" foi finalmente estabelecida na sociedade e passou a buscar
respostas principalmente na sociologia do conhecimento. Por sua vez, devido à
“diversificação sistêmica da modernidade” (TEIXEIRA, 2011, p. 236), outro
fenômeno relacionado à pesquisa sociológica, essas estruturas capciosas passam
a sofrer instabilidade.

3 ABORDAGEM DO FENÔMENO RELIGIOSO

Fonte: image/png

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A historicidade do Ensino Religioso (ER) no Brasil recente não se constitui
somente por fatos, controvérsias, disputas políticas e religiosas em torno da sua
presença nas redes oficiais de ensino, mas também pelos diferentes modelos
tipológicos de ER –catequético, confessional, interconfessional, fenomenológico etc.
– que almejam conferir uma “cidadania epistemológica” e consolidá-lo enquanto área
do conhecimento (FIGUEIRA, 2012, p. 13).
Muitos autores insistem que o objeto de estudo do Ensino Religioso (ER), é a
leitura e decodificação de símbolos e expressões de crenças religiosas existentes
em diferentes culturas e sociedades. Tal objeto ainda se desdobra em um segundo:
o estudo dos “fenômenos religiosos como patrimônio imaterial do povo brasileiro” é
reconhecido como plural em termos de pertença e prática religiosa (CARNIATO,
2010, Vol. 9, p. 10).

A disciplina ER se diferencia das demais disciplinas por ser a única disciplina


da escola pública que envolve os dois campos da educação do ensino (escolas) e
da religião. "Inclui não só uma dimensão humana comum, mas também as
manifestações das tradições religiosas". No entendimento de Maria Inês Carniato, é
uma disciplina diferenciada, pois além de seus objetivos, conteúdos, estratégias e
procedimentos próximos à religião, a ER é o único componente do currículo que trata
de questões humanas universais.
É justamente diante dessa questão: o sentido da vida ou o absurdo da
existência que Eulálio Figueira (2012, p. 2) sugeriu que o ER deveria ser
posicionado, mas também deveria ser combinado com outras disciplinas
educacionais para contribuir com a tarefa da educação integrada. Se o campo
científico se baseia em encontrar conhecimento factual sobre a natureza ou o mundo
empírico, em que consiste e como funciona, então a religião abrangerá moralidade,
valor ético, origem, destino e sentido da vida, transcendência e desenvolvimento
espiritual.
Essa defesa do RE como conteúdo curricular do “mistério da fé” ao não
religioso está em consonância com a jurista católica Ives Gandra da Silva Martins à
Federação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ao avaliar os regulamentos que
regem o RE em nível federal, ele destacou que o "ensino religioso" é um "fenômeno
cultural e histórico" e "a atuação sociocultural é obrigatória e incluída em várias
questões de penetração religiosa" (MARTINS, 2012, p. 218).
6
Não se pode estudar, prossegue o jurista, filosofia, sem se estudar Tomas de
Aquino ou Agostinho. Não se pode (...) estudar a Idade Média, sem estudar
as Cruzadas e sem examinar a sua inspiração predominantemente religiosa.
Não se pode estudar sociologia, sem se pesquisar o papel da formação dos
povos através da religião. Não se pode estudar Astronomia, sem referência
aos estudos dos primeiros astrônomos sacerdotes – Copérnico, por exemplo.
Não se pode estudar genética, sem se referir às experiências do Padre
Mendel. Não se pode estudar arquitetura, sem se referir às catedrais
construídas pela Igreja Católica. Não se pode estudar matemática, sem fazer
referência aos grandes matemáticos da Igreja Católica. Não se pode estudar
geologia, sem aludir ao Padre Nicolau Steno, que estabeleceu a maior parte
dos princípios da geologia moderna eassim por diante.
Tal ensino é obrigatório e pode ser ministrado por professores não
confessionais.
Facultativo é o ensino confessional. É aquele em que o professor versado na
fé explica tais fundamentos a seus alunos, que completam sua formação
humana com a formação religiosa. (...). (MARTINS, 2012, p.219).

Especificamente, o autor desta defesa quer nos convencer de que a ciência


moderna faz parte do pensamento cristão, e é impossível ensinar / aprender
qualquer coisa sem se referir aos ídolos e pensadores associados à Igreja Católica.
Além disso, propõe-se distinguir os saberes escolares proporcionados nos diferentes
campos mencionados, da filosofia à geologia, e os saberes da natureza penitente
transmitidos pelo "mestre de fé", condizentes com as crenças pessoais e religiosas
declaradas pelos alunos. (SANTOS, 2016).

3.1 Modelos tipológicos de ensino religioso

No processo de "evolução" teoria-método do ER, podem ser encontrados


diversos tipos desse ensino, frequentemente citados na literatura acadêmica sobre
o assunto. Eles surgiram junto com as mudanças políticas, educacionais e sociais
no Brasil. Essas mudanças nos permitem, como Junqueira e Nascimento (2013),
vincular “o aumento da diversidade de crenças religiosas com a consolidação da
vida democrática e o desenvolvimento descentralizado de países e regiões”
(LOPES, 2013).
Em sua descrição, Junqueira (2001) descobriu três variantes do ER
recorrente: confissão, inter-fé e fenomenologia. Passos (2007) também sistematizou
três modelos: modelo orientado para o catecismo, modelo teológico e modelo das
ciências religiosas. Sem excluir essas mudanças, mas com base em pesquisa
realizada em escolas públicas da região metropolitana de Belo Horizonte / MG,
Dantas (2007) descreveu quatro “modos de compreensão” para o assunto:
7
confissão, generalização, Mundo ("irênico") e inter-religiosos ("pluralismo"). Para
Becker, teologia e ciências religiosas são as áreas de referência para a maioria dos
modelos de ER mostrados.
Para sintetizar os modelos de ER mencionados em seu livro de caráter
introdutório, Passos recorreu à “estratégia weberiana dos tipos ideais”, a fim de
justificar que os

[...] tipos são mapas mentais extraídos da realidade a partir de práticas


concretas, não puras. As práticas são sempre impuras,contêm misturas de
elementos diversos que a tipologia ideal não expressa em seus esquemas
unívocos e simples. Contudo, os modelos esquemáticos visam
fornecer referências para a visualização e análise das práticas concretas
(2007, p. 52).

Modelos de ensino religioso

Fonte: Adaptado de: PASSOS, 2007, p. 59, 63, 66

Esta síntese “geral e comparativa” visa revelar cada conceito da “cosmovisão


religiosa” que o sustenta e o “pano de fundo político” da relação entre a Igreja e a
sociedade civil, mas também menciona o conteúdo da fonte do professor de ER.
Também visa mostrar os “métodos” e “semelhanças” ou aproximações utilizadas,
bem como certas tendências de ensino. Observa-se também que cada modelo
possui um “objetivo” que indica o sujeito responsável por sua gestão e execução,
podendo ocultar alguns riscos, conforme observado em qualquer prática educativa
(PASSOS, 2007, pp. 54-55).
Diferentes modelos de Ensino Religioso:

Catequético
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“O catecismo é definido como a educação permanente e sistemática da fé.
Pressupõe que a pessoa (...) ingressou num grupo religioso que faz parte da
comunidade de fé e aí celebra, cresce espiritualmente e participa” (1997, p. 13). O
modelo derivado dessa experiência - o Catecismo - é o "mais antigo" de todos os
modelos e está relacionado ao pano de fundo de "a religião goza de hegemonia na
sociedade", mas é ainda "nas muitas práticas atuais que continuam a apostar nessa
hegemonia. “Sobreviver e usar o método moderno de (...)” (PASSOS, 2007, p. 54).
O ER catequético se baseia na ideia de relegere, a partir do entendimento da
seleção, a fim de formar seguidores e propiciar a formação do cristianismo. Também
reflete a linguagem simbólica da comunidade religiosa, suas próprias características,
razões de existência, conceitos, textos sagrados e doutrinários. Adotada durante os
períodos colonial e imperial, tem um claro caráter penitente e católico, pois a Igreja
e o Estado ainda não são domínios independentes.
Uma vez que não pode ter efeito nas circunstâncias modernas em que a
divisão da Igreja e do Estado se tornou uma realidade, a RE doutrinária só pode
existir por meio de um acordo entre esses dois poderes. Tal acordo visa se adaptar
aos seus valores fundadores de uma forma, mas não “um poder sobre outro poder”
(PASSOS, 2007, p. 59).
O catecismo é mais comum em escolas particulares, mas ainda é amplamente
utilizado por professores de escolas públicas, o que reforça as acusações de que
uniformes de ensino religioso e domesticação se tornaram os braços estendidos da
igreja cristã nas escolas (DANTAS, 2007, P. 58).

Teológico

Este paradigma assume a concepção de religare, significando religar as


pessoas a si mesmas, aos outros, à natureza e a Deus, visando torná-las mais
religiosas. Nesse contexto, o RE caracterizou-se como pastoral, ensino de ética e
valores. Sustenta-se na ideia da educação da religiosidade um valor antropológico, no
qual a dimensão transcendente marca o ser humano na sua profundidade,
independentemente de sua confissão religiosa.
Com base em uma visão de mundo multirreligiosa, sua fundação visa superar
a fé, o missionarismo e promover o diálogo com outras denominações religiosas.
Mesmo que se tenha interesse em dialogar com uma sociedade laica de religiões
9
diversas, o risco do modelo teológico está em se transformar em um “catecismo
disfarçado”. Este risco não advém da disponibilização do seu conteúdo, mas sim da
responsabilidade e do comportamento das crenças religiosas. Estes, após
assumirem a implantação da ER, podem “estender sua comunidade de confissão e
cópias de seus ensinamentos às escolas” (PASSOS, 2007, p. 61).

Ciências da religião

Para se livrar da armadilha do ensino, da confissão e da conversão, os


especialistas da área acreditam que o modelo científico da religião é "o mais ideal"
e pode manter a autonomia epistemológica das ER. Eles acreditam que a ciência
religiosa é um campo do conhecimento, “fundado em seus princípios e métodos, no
âmbito tradicional da ciência moderna” possuindo um saber próprio e sendo
compatível com a educação laica. Apesar de seu caráter científico, especialistas da
área reclamam que o ER não foi assimilado pelo sistema oficial de ensino
(MENEGHETTI, 2003, p. 94),
É neste campo do conhecimento que as pessoas devem buscar
recomendações, objetivos de orientação, vocabulário e conteúdo dos cientistas
religiosos. Eles admitem que “as crenças religiosas e as religiões são dados
antropológicos e socioculturais” (PASSOS, 2007, p. 65) são resolvidos no sistema
de ensino, mas seguem as mesmas regras ou requisitos das demais disciplinas
escolares. Para Passos (2007), isso permitirá que o ER seja retirado das disputas
entre igrejas e instituições do Estado e, portanto, fora das estruturas eclesiásticas
ou penitentes. Propõe uma "visão inter-religiosa" que transcende "religiões
específicas", a fim de buscar "uma visão ampla que possa tolerar a diversidade e ao
mesmo tempo capturar a singularidade desse fenômeno”.
Segundo Becker (2010), a proposta de um ER cientificamente neutro,
utilizando a ciência religiosa como modelo epistemológico, é quase hegemônica no
campo acadêmico atual, aparecendo em centenas de publicações profissionais e,
portanto, sujeita a diversas entidades de ensino Superior Institucional, como uma
voz discordante, Becker se opõe fortemente ao uso da ciência religiosa como um
campo de referência para o ER. Ele acredita que é impossível para professores e
pesquisadores abstrair da "participação pessoal" da disciplina de ER.

10
Para ele, o “modelo interteológico”, também conhecido como “modelo inter-
religioso” e “real”, indica a possibilidade do ER ser tematizado sob o ponto de vista
“das próprias religiões” e “responsabilizado por teólogos, membros das próprias
religiões que conhecem e valorizam sua religião”. Porém, ele mesmo admite que é
impossível implementar essa forma inter-religiosa. Afinal, no Brasil, não há
quantidade e qualidade suficientes para compensar Professor e teólogo de todos os
grupos religiosos do seminário - africanos, aborígines e orientais (BECKER, 2010, p.
291).

Confessional e interconfessional

O modelo confessional é um dos mais antigos e duradouros, surgiu nas


escolas brasileiras desde o período colonial e adotou o "conceito de hierarquia
religiosa". Junqueira (2013) fez uma breve menção ao ensino da moral e da doutrina
católica atualmente na legislação de 1827. A natureza da confissão de RE pressupõe
que todos, professores e alunos, pertencem à mesma crença religiosa, têm sua
própria visão de mundo, adoração, rituais, princípios éticos, costumes e
organizações hierárquicas. A natureza do arrependimento de RE pressupõe que
todos, professores e alunos, pertencem à mesma crença religiosa, têm sua própria
visão de mundo, adoração, rituais, princípios éticos, costumes, organizações
hierárquicas, etc. A agência oral é responsável pela entrega do conteúdo acima e,
em alguns casos oficiais, ainda é responsável por certificar a confiabilidade e o
treinamento dos professores. Nesse caso, “o ensino confessional pode ser
confundido com a educação religiosa, semelhante à educação ministrada por grupos
religiosos para formar membros de um determinado grupo” (DINIZ E LIONÇO, 2010,
p. 14).
Em escola cristã, não necessariamente católica, pode haver separação entre
credos, mas os alunos matriculados sempre “submeterão o arrependimento da
escola”, escolhidos pelos pais ou responsáveis legais (DANTAS, 2007, p. 46). A
limitação desse modelo é que se aproxima do ensino dos ensinamentos cristãos, e
se pressupõe que todos os alunos cultivem crenças religiosas, tenham status
confessional exclusivo ou participem de determinada religião; isso nem sempre
acontece se a tendência contemporânea da religião o pluralismo é levado em
consideração. Mesmo após a secularização do país, no final do século XIX, o ensino
11
confessional ainda existia não apenas nas escolas confessionais, mas também
formal ou informalmente nas escolas públicas brasileiras.
Em teoria, o propósito da proposta interconfessional não é ensinar alunos ou
ensinar uma religião em particular. Tem como proposta uma evangelização de base
ampla, seguindo o “valor da existência humana, que é sujeito e agente da sua
história, se insere e participa numa comunidade de fé, e a sua consciência e
liberdade seja respeitado "(JUNQUEIRA; NASCIMENTO, 2013, p. 235). Mesmo que
se presuma que o aluno tenha uma identidade religiosa anterior ou assumida, o
objetivo a ser alcançado ainda é o de se tornar um seguidor. O que se pretende é
educar os alunos nas chamadas crenças religiosas, entendidas como uma atitude
dinâmica e aberta ao sentido fundamental da existência humana.

Ecumênico

O ecumenismo refere-se à comunhão, unidade, movimento aberto, diálogo e


“a proximidade da igreja cristã, buscando a aceitação mútua, superando as
diferenças, compartilhando patrimônio comum e construindo a unidade” (CRUZ,
1997, p. 14). Como um modelo curricular de RE, ele se concentra mais nas
semelhanças entre as religiões cristãs (catolicismo, Igreja Ortodoxa, Igreja Batista,
Igreja Presbiteriana, Igreja Luterana, Igreja Metodista e outros ramos do
Cristianismo) do que nas diferenças. Há uma visão de que o universalismo visa
favorecer o diálogo com as diferentes religiões, mas não se trata de uma "mistura"
ou "salada mista religiosa". Essa distinção não é um consenso, nem uma regra aceita
por todos: “Algumas pessoas aplicam o termo universalismo a todas as situações”
(CRUZ, 1997, p. 25).
A limitação a esse respeito é justamente a ênfase na matriz da confissão
cristã, que se baseia em "uma teologia que a considera uma forma privilegiada de
relação entre humanos e transcendentes, e outros modelos de credos" (DANTAS,
2007, p. 47). Para esse modelo, Carlos Steil também se opôs - citado por Dantas -
defendeu projetos de energias renováveis com base nas seguintes múltiplas
propostas:

Quando analisamos os currículos de Ensino Religioso das escolas públicas


podemos constatar que as religiões dominantes na sociedade acabam
impondo suas concepções. Do mesmo modo, quando se observa a prática
cotidiana da escola pública percebemos que nem todos os grupos religiosos
12
podem expressar, da mesma forma, o que sentem e pensam. Inserida numa
tradição científica de caráter racionalista, a tendência da escola é de
homogeneizar a diversidade religiosa dentro de uma única ‘religião humana
purificada’ que se colocaria acima das religiões e grupos religiosos concretos.
Partindo da premissa de que não há um só Deus, igual para todos, procura-
se reduzir as diferenças a um denominador comum. Este denominador, no
entanto, geralmente se apresenta como o ‘deus’ cristão das religiões
dominantes e mais racionalizadas. Para que se implante uma educação
religiosa pluralista é preciso que a escola se compreenda como um projeto
aberto, promotor de uma cultura de diálogo e comunicação entre os grupos
sociais e religiosos que se apresentam no seu cotidiano. O pluralismo é real
quando existe a possibilidade efetiva de manifestação da variedade das
crenças e concepções religiosassem restrições impostas por preconceitos e
proselitismos. O Ensino Religioso tem um compromisso com a mudança de
atitude e mentalidade de professores, administradores e alunos numa
Perspectiva de acolhida da diversidade religiosa que aparece no espaço
escolar (STEIL apud DANTAS, 2007, p. 49-50).

Inter-religioso (“pluralista”)

A proposta visa estreitar a distância entre as religiões, tanto na perspectiva


do discurso e da prática de cada congregação, a fim de conviver pacificamente e
solucionar os problemas que afligem a humanidade (SANCHEZ, 2010). Portanto,
não pressupõe que o aluno concorde com algum "credo" ou que pertença a uma
instituição religiosa. Com base nas categorias antropológicas de transcendência e
alteridade, cultiva o diálogo com a antropologia cultural, a psicologia, a
fenomenologia e a sociologia religiosa. Para essas disciplinas, a emoção religiosa e
sua institucionalização “é a expressão e sistematização das necessidades do grupo
humano, dos conceitos sagrados e da percepção do mundo em uma época e
contexto histórico específicos” (DANTAS, 2007, p. 54). De acordo com Steil, RE é
baseado em uma visão diversa e

[...] deve apresentar uma visão positiva da diversidade religiosa,situando-a


como parte de um contexto democrático onde a liberdade de pensamento e
de credo pode se expressar. Neste sentido, deve estimular o diálogo e a
interação entre os alunos de diferentes tradições religiosas, buscando
superar os preconceitos e revelar seus pontos de convergência. Uma
perspectiva histórica e sociológica das religiões pode ser importante para
desvendar as razões de muitos conflitos que dividem grupos e pessoas.
Muitos preconceitos e discriminações estão relacionados com fatos históricos
que, uma vez analisados, permitiriam construir uma outra imagem dos grupos
e pessoas que estão diretamente relacionados a eles. A educação religiosa
deve buscar ainda internalizar nos alunos uma ética de ação e de
comportamento dentro de um mundo plurirreligioso. Uma ética que deve se
traduzir em práticas e atitudes apropriadas para uma convivência humana
numa sociedade pluralista. Ou seja: que os impulsionem a comportar-se
responsavelmente no meio cultural democrático que se apresenta em
consonância com a afirmação da liberdade religiosa e respeito a outras
religiões diferentes da sua (STEIL apud DANTAS, 2007, p. 54-55).
13
A proposta deste ensino,

[...] dê-se a ele que nome for, traz consigo riscos de muitas violações de
direitos. Por exemplo, a afirmação frequente nesses casos deque a
divindade “é sempre a mesma”, esconde uma ânsia, ainda que inconsciente,
de submeter o outro a certa visão de fé, que não é necessariamente a dele
(FISCHMANN, 2004).

Fenomenológico

Os métodos fenomenológicos tomam como ponto de partida os fenômenos


religiosos existentes na sociedade, e todas as ciências humanas e ciências são
utilizadas como referência (JUNQUEIRA, 2001). No vocabulário das humanidades,
o fenômeno é “fazer aparecer a realidade que não pode ser percebida diretamente,
mas é alcançada por meio de sua expressão ou símbolo” (CATÃO, 1995, p.17). O
termo "fenômeno religioso" refere-se à expressão religiosa da religião. Conceito
fenomenológico

[...] reconhece o valor histórico-social e cultural da religião, assim como o


traço simbólico que confere aos sujeitos religiosos dispositivos para a
vivência da religião, pragmática e ontologicamente, promovendo entre os
educandos o conhecimento necessário para o fortalecimento de noções
como o reconhecimento da alteridade e o respeito pela diferença
(RODRIGUES, 2013, p.231).

Após a publicação dos "Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Religioso-


PCNER" (FONAPER, 2009), foi divulgada a proposta de ER com base na
fenomenologia religiosa. O documento foi originalmente redigido em 1995 e
encaminhado ao Ministério da Educação (MEC) um ano depois, mas não foi
institucionalizado ou incluído nas diretrizes oficiais das disciplinas da educação
básica.
No sentido processual, e também procurando se distanciar da confissão, da
doutrina e do RE teológico, os parâmetros Fonaper reúnem cinco blocos temáticos,
assim resumidos:
 Culturas e tradições religiosas: aspectos relacionados à função e valores da
tradição religiosa; relação entre tradição religiosa e ética; existência histórica e
destinação humana nas diferentes culturas, etc.;
 Escrituras Sagradas e/ou tradições Orais: registros escritos ou orais;
narrativas sagradas e seus contextos culturais;

14
 Teologias: conjunto de afirmações e conhecimentos elaborados pelas
tradições religiosas, seja a respeito das “divindades”,“verdades de fé” ou sobre “vida
além da morte” (ressurreição, reencarnação, ancestralidade ou nada após a morte);
 Ritos: celebrações rituais, seus símbolos e espiritualidades;
 Ethos: conjunto de valores éticos que orienta a conduta e o comportamento
dos fiéis pertencentes a uma determinada comunidade religiosa.
A complexidade dos fenômenos religiosos revela novas formas de
espiritualidade e laços religiosos cada vez mais pessoais, autônomos e menos
institucionalizados. A hipótese em torno do “transcendental” como dado anterior
“precisa ser relativizada”, porque ignora as necessidades e características atuais das
cenas sociais e religiosas. A complexidade do contexto contemporâneo transcende
normas, símbolos e discursos institucionais, o que não significa que esses aspectos
- menos institucionalizados - não tenham algum impacto na sociedade (DANTAS,
2007).

3.2 Secularização

Fonte: gestaoeducacional.com.br

A expressão “secularização” deriva de “secular” que, por sua vez, tem relação
com o chamado tempo presente, com a realidade terrena. Luchi relatou que, na Idade
Média, a palavra "secular" se opunha ao conceito de religião e

[...] a Cristandade medieval se entendia como dividida em dois âmbitos: o


mundo sacral-espiritual-religioso da redenção e o mundo temporal profano.
15
O termo secularização foi então empregado como passagem de pessoas e
coisas do âmbito sacro para o profano: como quando um frade ou monge
deixa o mosteiro para viver no mundo ou quando propriedades religiosas são
passadas ao domínio secular (LUCHI, 2014).

Quanto à expressão “secularização”, Berger destacou que há uma carga


ideológica, que pode se revestir de conotação positiva ou negativa de acordo com a
tendência dos autores que discutem o assunto. Para os seguidores da tendência
progressista, a secularização pode significar livrar-se das várias conexões impostas
pela religião. Quanto à parte relacionada ao clero, a secularização pode
corresponder a "paganização" ou "descristianização do mundo". Apesar dessas
explicações desarmoniosas, pode-se dizer que a secularização corresponde a um
fenômeno vivido no Ocidente. Nesse fenômeno, o cristianismo tem participado de
vários campos da vida social, incluindo a política e as instituições do Estado, depois
de muito tempo em grande número. A redução da coexistência humana em locais
públicos relegou o papel das instituições religiosas a um segundo plano, na melhor
das hipóteses semelhante ao papel de outros atores sociais. Nas palavras de Berger,

[...] por secularização entendemos o processo pelo qual setores da sociedade


e da cultura são subtraídos à dominação das instituições e símbolos
religiosos. Quando falamos sobre a história ocidental moderna, a
secularização manifesta-se na retirada das Igrejas cristãs de áreas que antes
estavam sob seu controle e influência: separação da Igreja e do Estado,
expropriação das terras da Igreja, ou emancipação da educação do poder
eclesiástico (BERGER, 1985).

A secularização da civilização ocidental promoveu profundas mudanças na


cultura, arte, literatura e filosofia. Ela não é mais atraída por fenômenos religiosos e
ganha autonomia em um novo mundo em desenvolvimento. Nesse novo mundo, a
argumentação científica e a racionalidade, não são mais religiosas dogma, ele se
tornará a força motriz da sociedade e um elemento de identidade e fundação
institucional. Parece que a estrutura social da secularização não é suficiente, pode-
se observar no sistema, na cultura, na economia e nas relações de poder público-
estado que essa alienação da religião também ocorre no nível individual. Para
Berger,

[...] assim como há uma secularização da sociedade e da cultura, também há


uma secularização da consciência. Isso significa, simplificando, que o
Ocidente Moderno tem produzido um número crescente de indivíduos que
encaram o mundo e suas próprias vidas sem o recurso às interpretações
religiosas (BERGER, 1985).

16
Portanto, a crença religiosa começou a se manifestar como uma das várias
possibilidades no pensamento e comportamento pessoal. Portanto, a secularização
produziu diferenças em dois campos distintos: objetivamente, no campo social, o
status quo da supremacia religiosa foi quebrado. A religião tem sido um verdadeiro
instrumento de coesão durante séculos e proporciona à sociedade transcendência e
absolutismo. O fundamento da sociedade pode estabilizar a sociedade.
Subjetivamente, a consciência pessoal dos cidadãos que aderem a esse processo
não é mais pautada por dogmas, preceitos e rituais relacionados ao sagrado, mas
pela aceitabilidade e pela ciência.
Casanova (2007) mencionou três possíveis conotações em torno do conceito
de secularização clássica, a saber: o declínio das práticas e crenças religiosas, a
privatização das religiões e a distinção entre as esferas sociais. Max Weber provou
sua visão do papel da religião no processo de racionalização, realizando
experimentos no Ocidente, especialmente na Europa após a Reforma Protestante.
Quanto à primeira conotação, pode-se dizer que a secularização é um forte influxo
de reformas protestantes, o que determina um certo grau de dessantificação,
acompanhado de dúvidas e negações dos cânones religiosos romanos. Utilizando-
se das lições de Berger sobre a comparação entre os âmbitos de relacionamento do
fiel católico e do fiel protestante com o sagrado, pode-se perceber tal influência
reformista:

No entanto, se olharmos para essas duas constelações religiosas mais de


perto, o protestantismo pode ser descrito como uma grande redução do reino
sagrado na realidade em comparação com suas contrapartes católicas. O
dispositivo sacramental foi reduzido ao mínimo, mas foi privado de suas
qualidades mais sagradas. O milagre da missa também desapareceu. O
milagre menos comum, embora não totalmente negado, perdeu todo o
verdadeiro sentido da vida religiosa (BERGER, 1985).

No entanto, a primeira conotação de secularização, o declínio das crenças e


costumes religiosos, mostrou sinais de esgotamento ao longo do tempo. Atualmente,
estamos vendo o surgimento de novas religiões e seitas, entre as quais elementos
que inicialmente eram negados pelo protestantismo estão sendo cada vez mais
reintegrados em cultos e práticas de fé. No Brasil contemporâneo, basta sintonizar
a TV em um canal religioso ou ir para a próxima esquina, onde há um templo
neopentecostal de plantão, e o interessado ficará exposto a um integracionismo que
até há pouco tempo não esperado em uma igreja surgida a partir do movimento
17
protestante. Rosas, lenços, ternos usados por missionários, tijolos, medalhas,
travesseiros e muitos outros tipos de itens são adquiridos pelos crentes após serem
ungidos por padres, bispos, missionários ou apóstolos e se tornam crenças
elementais externalizadas. Esses elementos são destinados a ser canais de contato
com o divino para resolver os mais diversos problemas do cotidiano.
Além disso, o movimento de oração e as cruzadas incluíam rituais como a
travessia do “Vale do Sal”, “banho de descarga” e “Fogueira Santa”, mostrando
finalmente quantos rituais, mágicas e encantamentos este protestante possuía. Esta
parte é o Novo Pentecostalismo. No reino católico, a renovação da graça divina, com
seus dons, cura e mistério, demonstra seu poder como um fator que pode impedir
os crentes de deixarem as fileiras de pentecostais e neopentecostais. Além do
universo cristão, também houve um renascimento espiritual. Por exemplo, no
movimento "Nova Era", a fusão de várias doutrinas metafísicas, espiritualismo e
experiência superscientífica, bem como a proposta de fusão com o meio ambiente,
natureza e o universo (SOUZA; VIEIRA, 2016).
A privatização da religião é a segunda parte da secularização, que decorre da
visão de que a religião perderá seu poder como um veículo para guiar o
comportamento de indivíduos, sociedade e estados políticos nos países ocidentais
que a vivenciaram. No plano individual, dadas as escolhas múltiplas trazidas pela
Reforma, pode-se escolher entre as várias partes religiosas que surgiram, apoiando
o determinismo prevalecente no Ocidente durante a Idade Média, em que existe a
hegemonia católico-romana. A possibilidade de escolha – marca do individualismo e
do liberalismo – seria uma das inovações trazidas e que acabariam por corroborar
para o florescer da secularização. No plano social, diante das ofertas multirreligiosas,
a competição acabará por dissolver as forças históricas e culturais determinadas
pela hegemonia milenar católica e, se não sair, pelo menos suas características
públicas institucionalizadas serão enfraquecidas (SOUZA; VIEIRA, 2016).
Inversamente, da perspectiva de um estado político, a institucionalização de
uma determinada religião não será mais concebível, ou seja, é impossível para um
estado-nação adotar uma religião oficial. Inicialmente, isso permitirá ao país garantir
sua soberania e reduzir a possibilidade de ingerência religiosa em questões de
natureza política do Estado. Portanto, o que antes era público e institucionalizado na
religião não é mais o caso, e é punido com discriminação prejudicial por parte do

18
Estado, que prejudicou outras instituições religiosas. Ao nível do sistema político,
esta consequência do fenômeno da privatização religiosa pode ser considerada
laicismo nacional.
Atualmente, alguns países reconhecem religiões oficiais, ou seja, são países
arrependidos e mantêm relações institucionais com as religiões, incluindo
contribuições financeiras públicas. É o caso da Igreja Anglicana, que, como
autoridade máxima, constitui o verdadeiro símbolo de unidade, o monarca britânico,
embora o país não tenha deixado de figurar na lista dos países europeus mais laicos.
Nesse sentido, Ranquetat Júnior assume a seguinte posição: “observam-se em
diversos países europeus sociedades altamente secularizadas, como a Inglaterra e a
Dinamarca, onde as práticas, os comportamentos religiosos declinam, mas que,
entretanto, não são estados laicos” (RANQUETAT JÚNIOR, 2007).
A terceira consequência da secularização apontada por Casanova, ou seja, a
distinção entre as esferas sociais, é totalmente válida na experiência ocidental. Até
hoje, em termos de direito, economia, política, arte, educação e outras esferas da
vida social, eles libertaram da autoridade da religião e não mais controlado pelo
sagrado. Antes considerada o núcleo em torno de outras partes da vida social, a
religião perdeu seu poder de persuasão e, na melhor das hipóteses, tornou-se um
dos elementos que ajudam a formar as relações institucionais e a satisfazer as mais
diversas aspirações da humanidade. Portanto, quando o racionalismo e a busca de
respostas científicas e utilitárias têm se tornado cada vez mais a chave para a
solução dos principais problemas humanos, a religião começa a desempenhar um
papel (CASANOVA, 2007).

3.3 Pós-secularização

Voltando ao problema da secularização, por motivos diversos, muitas das


consequências esperadas não se concretizaram, devendo referir-se cada vez mais
as expressões nos estudos religiosos, isto é, a "pós-secularização". A pós-
secularização que Habermas disseminou em suas pesquisas incluiu um cenário
social marcado pelo retorno da religião ao campo do debate público, superando o
conceito de franca secularização de que a religião se limita ao espaço privado e à
prática religiosa. Longe das expectativas geradas pelo processo de secularização, o

19
que hoje se considera uma manifestação de uma sociedade "pós-secular" é que o
discurso religioso participa cada vez mais das vozes que participam do debate.
Habermas, ao tratar do que considera uma sociedade pós-secular, assim se
pronuncia:

A expressão “pós-secular foi cunhada com o intuito de prestar às


comunidades religiosas reconhecimento público pela contribuição funcional
relevante prestada no contexto da reprodução de enfoques e motivos
desejados. Mas não é somente isso. Porque na consciência pública de uma
sociedade pós-secular reflete-se, acima de tudo, uma compreensão
normativa perspicaz que gera consequências no trato político entre cidadãos
crentes e não-crentes. Na sociedade pós-secular impõe-se a ideia de que a
“modernização da consciência pública” abrange, em diferentes fases, tanto
mentalidades religiosas como profanas, transformando-as reflexivamente
(HABERMAS, 2007).

Portanto, para Souza e Vieira (2016), a sociedade pós-laica deve atribuir


àqueles que acreditam na religião e aos que não possuem a mesma legitimidade
atributos de expressões de cidadãos participativos nas discussões públicas. Em
particular, o primeiro requer a aceitação das divergências existentes em face de seus
conceitos religiosos e dogmas, e mesmo a diversidade de credos existentes, para
que um diálogo construtivo possa ser estabelecido entre os crentes que acreditam
na religião, diferentes daqueles que não acreditam. Em segundo lugar, é
especialmente necessário admitir que, em face de uma vida tão curta, a ciência não
pode explicar todas as doenças humanas e seus desejos. Relacionado a isso está a
posição de que os crentes precisam reconhecer a legitimidade dos outros como
portadores de diferentes discursos; no final, essa posição não irá compensar coisas
que contradizem suas visões sobre certos aspectos da existência humana e suas
mudanças.

No que diz respeito ao aspecto subjetivo, a prática religiosa dos fiéis, na era
pós-secular, novas experiências religiosas estão em ebulição, e a (re) invenção de
nuances teológicas doutrinárias pode satisfazer as mais diversas aspirações do
mundo de hoje. As tradições antigas foram reexplicadas e reinseridas no contexto
religioso e cultural de hoje, de modo a atender às expectativas contemporâneas
como se fossem produtos forjados em uma economia capitalista em rápida
expansão. Parece haver uma relação cada vez mais interna entre as necessidades
pessoais / de sobrevivência e a provisão do mercado religioso, que pode satisfazer

20
tudo, desde as necessidades seculares e extraterrestres até as mais diárias - por
que não falar sobre secular - para segurança, sucesso profissional, prosperidade,
lazer, saúde e até carinho familiar. Como se não bastasse, a possibilidade de
experimentar o êxtase tornou-se um elemento que atrai a multidão, e a experiência
pessoal é valorizada em detrimento da tradição e do dogma. (SOUZA; VIEIRA, 2016).
Nesse sentido, Silveira destaca alguns aspectos do religioso que evidenciam o
contexto pós-secular:

As ideias de felicidade, bem-estar e cura são cotidianamente ditas e reditas,


circulando inventivamente em livros, canções, cultos e pregações de padres,
pastores, lideranças umbandistas, candomblecistas, espíritas, new age e
terapeutas esotéricos, entre outros. Ser feliz é direito, mandato divino ou
quase obrigação. O corpo é festa e mais que um simples objeto de prazer, é
hierofânico ou teofânico. Por isso, letras de música gospel, mantras hindus,
pontos de umbanda, entre outros, expressam redefinições semânticas que
enfatizam a alegria, o bem-estar, a superação do sofrimento e da dor,
constituindo o corpo como índice e critério de espiritualização (SILVEIRA,
2014).

Portanto, o poder criativo da religião ainda é óbvio, é claro, para sobreviver


em um mercado competitivo que oferece bem-estar, saúde e autorrealização. Este
é um fenômeno típico das relações de consumo capitalistas. Portanto, o efeito
esperado de redução da prática religiosa em decorrência da secularização não
existe de fato na realidade contemporânea, o que sustenta e fortalece em certa
medida o argumento da pós-secularização (SOUZA; VIEIRA, 2016).

3.4 Laicidade

21
Fonte: image/jpeg

A partir de agora, partimos da análise da secularidade, como já defendemos,


podemos entendê-la como o desdobramento da secularização, portanto, há uma
relação causal entre elas. A secularização está relacionada à macro sociedade,
incluindo todos os aspectos da vida social, como cultura, educação, arte, economia
e política, enquanto a secularização envolve o tratamento jurídico e político da
relação entre a religião e o Estado. Essa é a distinção feita por Ari Pedro Oro entre
secularização e pesquisa de secularismo: na verdade, secularização é muitas vezes
considerada sinônimo de secularização. Mas aqui também não há alinhamento
conceitual. O termo secularização, usado preferencialmente no contexto anglo-
saxônico, e o de laicização ou laicidade, usados nas línguas neolatinas, não se
recobrem totalmente. A secularização também inclui a sociedade e suas formas de
crença, enquanto o secularismo se refere à forma como o Estado se liberta de
qualquer referência religiosa (ORO, 2008).
Para Souza e Vieira, (2016) assim, dizer que existe um país secularista é
chamar a relação de seu sistema político diante da religião de posição neutra e justa.
Afinal, dada a diversidade das religiões, o Estado laico não se baseia em múltiplos
dogmas religiosos, mas em um contrato entre indivíduos de convivência pacífica e
harmoniosa baseado em valores como a cidadania e a dignidade humana. Nesse
caminho, o contrato social estabelecido entre pessoas e indivíduos é a pedra angular
do país, e não é mais um deus, uma existência sagrada e transcendente, ou mesmo
uma religião que o cultua.
A partir das lições de Huaco pode-se estabelecer os seguintes consectários da
laicidade:
1ª) separação orgânica e de funções entre o Estado e as igrejas;
2ª) fundamento secular como fonte de legitimação do Estado e de seus
princípios e valores;
3ª) inspiração secular das normas legais e das políticas públicas estatais;
4ª) imparcialidade em face das diferentes orientações filosóficas ou religiosas
e suas cosmovisões e
5ª) abstenção do Estado em manifestações de fé dos diversos seguimentos
religiosos.

22
É de se dizer, contudo, que essas consequências da laicidade não podem ser
concebidas como algo dado, acabado, mas como algo em construção e em constante
evolução.
A separação orgânica entre o país e as várias igrejas que existem no seu
território é a face mais importante e evidente do laicismo. Na verdade, se não houver
separação orgânica, é impossível falar em secularismo, embora, como vimos, se
possa falar da experiência de países seculares como a Grã-Bretanha e a Dinamarca.
A separação orgânica se traduz em autonomia mútua entre a esfera do estado
político e as associações religiosas. Portanto, as decisões tomadas nessas duas
áreas são independentes e autônomas, não havendo necessidade de se falar em
recursos ou apelações ao tribunal da igreja diante da decisão da jurisdição da
agência, ou mesmo da agência judiciária, para intervir em sua decisão.
Esse é o magistério de Mouffe (2006),

Falar de separação Igreja e Estado, portanto, é uma coisa; outra é falar de


separação entre religião e política; e outra ainda é falar de separação entre o
público e o privado. O problema está no fato de que esses três tipos de
separação são às vezes apresentados como de algum modo equivalentes e
requisitando-se mutuamente. A consequência disto é que a separação entre
Igreja e Estado é vista como implicando a exclusão de todas as formas
religiosas da esfera pública (MOUFFE, 2006).

O segundo aspecto da laicidade é a base laica como fonte de legalização do


Estado e de seus princípios e valores, o que significa que as pessoas a quem é
concedida a soberania e, portanto, têm o poder fundador da própria entidade estatal
são a fonte de seu valor e sua padronização. Considerando a diversidade religiosa,
mesmo para aqueles que acreditam que a crença e a adoração de deuses não são
importantes, construir um país baseado em valores religiosos ainda é impraticável e
muitas vezes irreconciliável, pois a diversidade de crenças limitará os direitos de
quem discorda.
Dignidade humana, fraternidade, amor e respeito pelos outros, e a
inalienabilidade do direito à vida, bem como muitos outros valores relacionados às
mais diversas partes da religião, acabam se transformando em valores públicos ao
invés de valores exclusivo para a religião. Portanto, política e religião não devem ser
vistas como classes opostas, pois um diálogo saudável pode ser estabelecido entre
uma posição secularizada e uma cosmovisão religiosa para se chegar ao consenso
ou pelo menos o resultado da tolerância quando possível. Portanto, por exemplo, se
23
considerando a nova estrutura familiar, como a existência de relações entre pessoas
do mesmo sexo, não é razoável que o Estado adote o princípio cristão da unidade
familiar, que consiste em homens, mulheres e crianças. Não é razoável impedir o
Cristianismo. Também não é razoável espalhar sua fé e se opor a essa prática
pecaminosa e violar os preceitos bíblicos que eles admiram, porque essa
cosmovisão se tornará uma das possibilidades para moldar as relações familiares
na sociedade de hoje (WEBER, 2013).

Com a vitória do racionalismo jurídico formalista, surgiu no Ocidente o tipo


ideal de domínio, lado a lado com os tipos transmitidos. O governo burocrático
não era, e não é, a única variedade da autoridade legal, mas constitui a sua
forma mais pura. [...] na autoridade legal, a submissão não se baseia na
crença e dedicação às pessoas carismaticamente dotadas, como profetas e
heróis, ou na tradição sagrada, ou na devoção aos possíveis ocupantes de
cargos e prebendas legitimados por si mesmos, através de privilégio e da
concessão. A submissão à autoridade legal baseia-se antes num laço
impessoal a um ‘dever de ofício’ funcional e definido de modo geral. O dever
de ofício – como o direito correspondente de exercer a autoridade: a
‘competência de jurisdição’ – é fixado por normas estabelecidas
racionalmente, através de decretos, leis e regulamentos, de tal modo que a
legitimidade da autoridade se torna a legalidade da regra geral, que é
conscientemente desenvolvida, promulgada e anunciada com uma correção
formal (WEBER, 2013).

Nesse sentido, pode-se dizer que legisladores ou administradores não podem


estabelecer normas jurídicas e políticas públicas baseadas em dogmas ou princípios
religiosos, mesmo que existam nas principais crenças religiosas da sociedade e
sejam punidos com a proibição do livre exercício de seus direitos. Aqueles que não
aceitam essa crença religiosa. Afinal, a função do Estado não é salvar almas ou levar
pecadores ao arrependimento, este é o tom de muitas religiões, mas proporcionar
bem-estar, paz e segurança a todas as pessoas em seu território.
A quarta característica laicidade proposta por Huaco (2008) é a neutralidade
das questões religiosas, devendo ser dito que empiricamente falando, o Estado e as
questões religiosas não são estranhos. Ao estipular regulamentos como permitir a
assistência religiosa em locais de detenção coletiva, garantir a liberdade de culto e
organização religiosa e conceder isenções de impostos às igrejas, como na
experiência do Brasil, o Estado não deve ser considerado uma instituição indiferente,
e o contrário da religião é mesmo mais importante, não o suficiente. Ao contrário de
países que proíbem religiões como a Albânia e a extinta União Soviética, nos países

24
laicos a religião é considerada um importante fator de integração social e não pode
ser rejeitada por meio de políticas públicas nacionais.
A quinta característica do secularismo é que ele não permite que o Estado
participe da expressão da fé, o que significa a distinção entre os aspectos públicos
e privados das relações sociais e jurídicas estabelecidas. Ao contrário do que
aconteceu durante a monarquia brasileira, o estado não pode patrocinar templos ou
expressões religiosas. Nem pode a disciplina religiosa envolvendo uma única
religião, mesmo que seja opcional, ser incluída no currículo oficial da educação,
porque causará desigualdade odiosa e irracional na formação religiosa de um país
neutro. No entanto, vale ressaltar que isso não exclui a possibilidade de cooperação
entre o país e as diversas igrejas de seu território estabelecido, conforme preconiza
a Constituição Brasileira (art. 19, § 1º), desde que essa cooperação tenha por
objetivo a satisfação do público, interesse, em vez de espalhar os valores e dogmas
de uma tendência religiosa particular.
Os cinco sectários laicidade identificados por Huaco (2008) ajudam a
compreender melhor esse fenômeno e permitem que as pessoas reflitam sobre até
que ponto esse princípio foi implementado no Brasil. Observa-se que devido às
raízes históricas do país, as religiões, principalmente as religiões cristãs e católicas,
ainda são bastante comuns na esfera pública brasileira, impossibilitando a
concretização plena do laicismo.

3.5 Laicismo

25
Fonte: resistencia.cc/wp-content

O laicismo se identifica como uma espécie de militância antirreligiosa, numa


cruzada que busca a redução do papel da religião na sociedade.
Huaco, ao discorrer sobre as nuances do laicismo, afirma que,

O laicismo é uma expressão do anticlericalismo decimonômico, que propõe a


hostilidade ou a indiferença perante o fenômeno religioso coletivo que pode
acabar radicalizando a laicidade, sobrepondo-a aos direitos fundamentais
básicos como a liberdade religiosa e suas diversas formas de expressão.
Poderia se dizer que consiste em uma forma de sacralização da laicidade
que, por isso, acaba por negá-la. Por exemplo, como quando em benefício
de uma ‘neutralidade da escola pública’ se proíbe que os alunos crentes
portem livremente símbolos religiosos que definam sua identidade pessoal
(HUACO, 2008).

Portanto, o secularismo, mesmo que oculto por alguns de seus seguidores -


às vezes se intitulando seculares - tem uma forte conexão com a exclusão da religião
da esfera pública. Diferente do ambiente laico, no contexto laico a religião não pode
ter relação com a instância do poder estatal, sendo inclusive proibida ao Estado
cooperar com a Igreja para a satisfação do interesse público. Além disso, na visão
do secularismo, ele não apenas rejeita a relação entre religião e Estado, mas
também rejeita a expressão de qualquer forma de conotação religiosa na esfera
pública, difama o discurso religioso e o considera sem sentido. Portanto, entende-se
que o afastamento da religião da esfera pública – nítida proposta laicista – é medida
de viés antidemocrático e contrária à proteção da liberdade religiosa, garantia que
deve ser salvaguardada pelo Estado de Direito com todo empenho e vigor. Nesse
diapasão, pode-se inferir, agora a partir das lições de Habermas (2007), a proscrição
dessa concepção laicista:

O Estado liberal possui, evidentemente, um interesse na liberação de vozes


religiosas no âmbito da esfera pública política bem como na participação
política de organizações religiosas. Ele não pode desencorajar os crentes
nem as comunidades religiosas de se manifestarem também, enquanto tal de
forma política, porque ele não pode saber de antemão se a proibição de tais
manifestações não estaria privando, ao mesmo tempo, a sociedade de
recursos importantes para a criação de sentido (HABERMAS, 2007).

Desse modo, a proposta laica não é uma escolha razoável no contexto de um


país democrático de direito, pois não permite que as religiões participem das
discussões internas da sociedade, impedindo-a de se tornar uma das vozes
autorizadas a fazer uma proposta eficaz para a comunidade em geral.
26
4 PENTECOSTALISMO E NEOPENTECOSTALISMO

Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com

Atualmente 22,2 % da população brasileira é de denominação protestante


(BRASIL, 2019), crescendo 61% em número de adeptos nos últimos dez anos
(MUNDO CRISTÃO, 2020).
Dentre as muitas vertentes do cristianismo, o pentecostalismo tem se
destacado no Brasil pelo número de adeptos e mais recentemente por sua forte
influência política. A principal característica desse movimento é a importância dada
aos milagres divinos, ao combate à “demônios” e a ênfase dada ao bem-estar material
do indivíduo, o que chamamos de “teoria da prosperidade” (OLIVEIRA e ALVES,
2013).
De acordo com Mariano (1995) as igrejas surgidas a partir da década de 1970
que apresentam comportamento liberal, afastando-se do ascetismo protestante
original e com tendências a investir em atividades empresariais, políticas, culturais e
assistenciais, tendem a ser denominadas neopentecostais. No início da década de
1980, o neopentecostalismo que se encontrava circunscrito as grandes cidades e
capitais, começa a adentrar as cidades do interior do país, graças aos meios de
comunicação de massa. Com esses eventos, o neopetencostalismo já não era restrito
aos grandes centros, pois adentrou o interior do Brasil graças aos programas de rádio
e TV alugados e à ação de missionários que levavam a palavra e fundavam igrejas
(OLIVEIRA e ALVES, 2013).
O fato das igrejas pentecostais possuírem, além de igrejas posicionadas em
locais estratégicos da comunidade, editoras, gravadoras e estações de rádio e
27
televisão, alcançam locais onde ONGs, sindicatos e movimentos sociais não
alcançam (VITAL DA CUNHA, 2012). Para GGN (2019) esse aumento significativo de
contingente de neopentecostais na política reflete a perda de ligação da igreja católica
e das igrejas protestantes históricas com as camadas populares. Mostrando assim a
capacidade que estas igrejas têm de se adaptar, mesmo que momentaneamente, a
novas situações.
Quando estas denominações religiosas são colocadas em confronto com temas
polêmicos para as sociedades atuais, não existe consenso sobre esses temas e em
alguns casos mesmo dentro de uma mesma denominação não existe consenso
(VITAL DA CUNHA, 2012). Outra das características do neopentecostalismo é o forte
apego à “teologia da prosperidade”. Tornando a espiritualidade não somente mediada
pelo dinheiro, mas centrada no dinheiro (SILVA, 2009).
Uma das expressões da teologia da prosperidade percebida é o fato de que o
neopentecostalismo tem sido apontado como um segmento religioso fortemente
fomentador do consumo e de atividades de lazer, sendo na maioria das vezes,
perfeitamente adaptada a uma sociedade de consumo ocidental, tendo
descaracterizado totalmente o modo de pensar do segmento do qual se originou
(OLIVEIRA e ALVES, 2013).
A Bíblia é clara ao dizer que os cristãos devem devolver seu dízimo, ou seja,
de dez por cento de suas rendas. Porém:

Existe hoje, um número significativo de denominações cristãs que extrapolam


os ensinamentos bíblicos, transformando-se em verdadeiras empresas de
exploração financeira dos crentes. Certos pregadores da chamada “teologia
da prosperidade” chegam a prometer aos fiéis que, se forem generosos em
suas dádivas, poderão até escolher antecipadamente as “bênçãos” a serem
reivindicadas de Deus. Entre as opções, estão o tipo de casa e a marca de
carro que desejam ter, bem como o saldo da conta bancária que mais lhes
agrada. Agora, se a tal “bênção” não acontece como prometida, a culpa é
sempre atribuída aos próprios doadores que não exerceram a “fé” necessária
para isso! (TIMM, 2019)

Segundo Corrêa e Vale (2017), a secularização do Estado e a


desregulamentação do mercado religioso tem como consequência o surgimento de
opções religiosas, a maioria fortemente ativistas. Havendo uma ampla gama de
opções religiosas com as mais diversas orientações morais, possibilitando ao fiel
escolher aquela que mais lhe agrada. Isto segundo os autores é consequência natural
do racionalismo imposto pela modernidade.

28
O homem pós-moderno é retratado por BAUMAN (2009) como possuindo as
características: pluralidade, secularização, racionalidade e imersão no universo. O
pentecostalismo, mais particularmente seus componentes humanos, possuem todas
essas características, exceto o racionalismo. Sendo “O retorno ao sagrado, ao
esotérico, ao demoníaco e o culto ao mal, são fenômenos da pós-modernidade.”
(MELCHIOR, 2009, p. 5). Nesse contexto, o neopentecostalismo se vê em contato
com religiões de outras matrizes. Por se tratar de um conjunto de crenças que tem
como argumento central a dualidade entre o bem e o mal, é muito comum ocorrerem
rituais de exorcismo no qual o sacerdote expulsa o demônio do corpo de um fiel. Na
maior parte das igrejas neopentecostais a entidade é denominada como sendo um
orixá da matriz afrobrasileira (OLIVEIRA e ALVES, 2013; DIAS e ANDRADE, 2011).
Para MORAES (2010), a capacidade de “ressignificação” é o elemento chave para o
sucesso das igrejas neopentecostais no Brasil:

O fulcro do Pentecostalismo é essa flexibilidade, que lhe permite insistir em


existir de forma criativa, adaptando-se às novidades que despontam de
tempos em tempos na estruturação da sociedade brasileira, mesmo que esta
se apoie em pilares antigos como o sentimentalismo, a perspectiva intuitiva e
o pensamento mágico, em matéria de religião. O Pentecostalismo aproveita
esses princípios e muda conforme a necessidade do momento. (MORAES,
2010, p. 12).

Essa dualidade se expressa de tal maneira, que é componente essencial para


a atuação de determinadas denominações neopentecostais. Ocorre nesse tipo de
culto a incorporação de práticas próximas àquelas encontradas em rituais das
religiões afro-brasileiras e espiritismo (OLIVEIRA e ALVES, 2013).

29
5 O ENSINO RELIGIOSO E A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR
(BNCC)

Fonte: i.ytimg.com

A Base Curricular Comum Nacional (BNCC) fez uma proposta para coordenar
a educação no Brasil. “Tanto no Brasil quanto em diversos países do mundo, o
processo de padronização dos currículos da educação básica está em constante
expansão” (SANTOS; DINIZ-PEREIRA, 2017, p. 282). Essa padronização é de
caráter federal, abrangendo instituições de ensino públicas e privadas, e para que
diferentes aprendizados se consolidem nas diferentes etapas da educação básica.
O BNCC é um documento normativo que define o conjunto de aprendizagem
básica orgânica e progressiva que todos os alunos devem desenvolver em todas as
etapas e modalidades do ensino básico, para que seja garantido o seu direito de
aprender e desenvolver-se de acordo com o previsto no Plano Educação Nacional
(PNE).
O ensino religioso no BNCC não é mais apenas um componente curricular,
mas sim uma área do conhecimento, assim como outras áreas que se consolidaram
no sistema educacional brasileiro (BRASIL, 2017, p. 27). Entre as idas e vindas das
diferentes versões da base, o espaço do ensino religioso é reconhecido na versão
aprovada deste importante documento nacional de educação. Embora faça parte do
currículo do ensino fundamental brasileiro há muitos anos, só recentemente adquiriu
características semelhantes a outros componentes curriculares.

30
O Ensino Religioso (ER), como disciplina no currículo escolar, passou nas
últimas três décadas, por processos de ressignificação e reestruturação pedagógica.
Uma complexa rede de relações políticas e interesses de grupos configurou o campo
do ER no sistema de ensino. Essa configuração de forças, todavia, ainda convive no
seio do aparelho estatal, com disputas pela hegemonia de suas crenças e conquistas
de legitimidade e poder (SILVA, 2018, p. 61).
No próprio texto do BNCC, no contexto histórico da educação religiosa,
descreve a natureza de confissão e doutrina da existência e comportamento dos
componentes curriculares que dominaram o campo da educação por muito tempo.
Como sabemos hoje, a educação religiosa é o resultado de grandes investimentos
históricos feitos por instituições gestoras de ensino e instituições que realizam
pesquisas acadêmicas no campo da educação religiosa (WACHHOLZ 2015, p. 19).
A construção histórica da educação religiosa não pode ser realizada da noite para o
dia e precisa de uma reflexão profunda.
Dentro da BNCC o Ensino Religioso passa a ter como objeto de estudo o
conhecimento religioso que, em um primeiro momento, não compactua com
tendências confessionais e catequéticas e permanece como oferta obrigatória para as
instituições de ensino público, sendo facultativo para o corpo discente (Art. 33, da Lei
9394|96). A Base propõe que o Ensino Religioso atinja os seguintes objetivos:
a) Proporcionar a aprendizagem dos conhecimentos religiosos, culturais e
estéticos, a partir das manifestações religiosas percebidas na realidade dos
educandos;
b) Propiciar conhecimentos sobre o direito à liberdade de consciência e de
crença, no constante propósito de promoção dos Direitos Humanos;
c) Desenvolver competências e habilidades que contribuam para o diálogo
entre perspectivas religiosas e seculares de vida, exercitando o respeito à liberdade
de concepções e o pluralismo de ideias, de acordo com a Constituição Federal;
d) Contribuir para que os educandos construam seus sentidos pessoais de vida
a partir de valores, princípios éticos e da cidadania (BRASIL, 2017, p. 436).
A Base Nacional Comum Curricular estabeleceu dez habilidades gerais que os
alunos precisam cultivar em todo o processo de ensino básico e ensino. Sabemos
que habilidade é uma palavra polissêmica, talvez por isso, o BNCC enfatiza o
significado de habilidade:

31
[...] competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos
e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais),
atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do
pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho (BRASIL, 2017, p.8).

Em termos de ser recomendado como habilidades, tem como objetivo


mobilizar e mudar ideias e atitudes ao longo do processo de formação dos alunos
da educação básica. Portanto, essa mobilização é para um exercício, uma prática
cívica. Ao analisar cada uma das dez habilidades propostas pela base, buscam-se
vários elementos com diferentes valores, a proposição do diálogo e a compreensão
dos diferentes aspectos culturais são muito claros. O termo "alteridade" é repetido
neste documento regulamentar. É importante frisar que mesmo que vislumbre os
últimos acontecimentos que estão a circular no mundo da educação, mas ao mesmo
tempo que apresentem uma tendência mais conservadora e fundamentalista, a
proposta do BNCC caminha também para um espaço de diálogo, convívio e
valorização cultural. Deve-se enfatizar que a competência geral perpassa todo o
currículo da educação básica. Aqui, não estamos falando sobre a particularidade do
ensino religioso, mas sobre todos os componentes curriculares que fazem parte do
processo educacional (COSTA FERREIRA, 2019).
Em termos de ensino religioso, o posicionamento da base preconiza a
pesquisa e o diálogo como forma de atingir habilidades específicas no ensino
religioso do ensino fundamental. Segundo Linz e Cruz (2017, p. 144), a educação
religiosa proposta pelo BNCC tem seus aspectos pedagógicos “baseados na
importância do aluno e de sua vivência, e nos princípios de compreensão, respeito
e convivência”. Podemos vislumbrar essa prerrogativa nas seguintes competências
estabelecidas para o Ensino Religioso:

1-Conhecer os aspectos estruturantes das diferentes tradições/movimentos


religiosos e filosofias de vida, a partir de pressupostos científicos, filosóficos,
estéticos e éticos.
2-Compreender, valorizar e respeitar as manifestações religiosas e filosofias
de vida, suas experiências e saberes, em diferentes tempos, espaços e
territórios.
3-Reconhecer e cuidar de si, do outro, da coletividade e da natureza,
enquanto expressão de valor da vida.
4-Conviver com a diversidade de crenças, pensamentos, convicções, modos
de ser e viver.
5-Analisar as relações entre as tradições religiosas e os campos da cultura,
da política, da economia, da saúde, da ciência, da tecnologia e do meio
ambiente.
6-Debater, problematizar e posicionar-se frente aos discursos e práticas de
intolerância, discriminação e violência de cunho religioso, de modo a
32
assegurar os Direitos Humanos no constante exercício da cidadania e da
cultura de paz (BRASIL, 2017, p. 437)

As habilidades específicas apresentadas são distribuídas no currículo do


ensino fundamental. Deve-se enfatizar que atualmente não há recomendações
sobre o ensino religioso nas escolas de ensino médio. Portanto, todas as questões
aqui estabelecidas classificam-se na educação básica do ensino religioso em sentido
estrito. Porém, no texto introdutório do ensino médio, a base contém a missão da
escola: “Promover o diálogo, a compreensão e a resolução não violenta de conflitos,
para que se expressem opiniões e pontos de vista diferentes, diferentes ou opostos
(BNCC, p. 467) Na escola secundária, também há tentativas de iniciar
pressuposições pacíficas.
É importante notar que existem diferenças nas expectativas da educação
religiosa nas diferentes fases da educação básica. Portanto, nos primeiros anos do
ensino fundamental - do 1º ao 5º ano - e nos anos finais - do 6º ao 9º ano, há
diferentes prioridades, objetivos e habilidades. Linz e Cruz (2017, p. 146) apresentam
um estudo sobre o Ensino Religioso na BNCC e, também, caracterizam seus objetivos
em duas fases distintas de complexidade:

[...] podemos enfatizar que esses objetivos contemplados no ER visam, num


primeiro momento, levar o educando e a educanda nos anos iniciais a
conhecer e identificar as diferentes linguagens, o sistema religioso e não
religiosos, assim como as manifestações nas diversas culturas como
fenômenos socioculturais presentes em nosso cotidiano e, por isso, enfatiza
o uso de verbos perceber, reconhecer compreender e identificar, entre outros.

Em um segundo momento, estaria o desenvolvimento de outras habilidades e


competências mais complexas do que as expostas por primeiro, assim, Linz e Cruz
(2017) afirmam que:

[...] na segunda fase, nos anos finais, o ER busca fazer com que o educando
e a educanda reflitam criticamente sobre essas diversas manifestações,
linguagens, etc., justificando a utilização de verbos como analisar,
problematizar, construir, entender e construir (LINZ; CRUZ, 2017, p. 146)

33
6 A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA NO BRASIL

Fonte: vozdascomunidades.com.br

O conceito de intolerância religiosa é recorrente na história da humanidade e


ainda se faz presente na sociedade contemporânea. Seja em qualquer lugar ou classe
social, a intolerância, não obstante torna-se uma perseguição de extrema gravidade e
costuma ser caracterizada pela ofensa, discriminação e ações que afrontam o
indivíduo que têm em comum certas crenças. Para Von, “A intolerância religiosa
baseia-se na crença de que uma religião é superior as demais ou a única detentora
da verdade absoluta”. Os conflitos motivados por divergências religiosas são notórios.
A questão é preocupante, porque envolve um problema de larga escala social. Para
Guimarães: “O problema da discriminação é hoje um sério desafio à humanização da
espécie humana” (SANTOS, 2017).
Cada vez mais cresce o número de casos de intolerância religiosa no Brasil. O
país da diversidade passa a usar da própria diversidade como ponto de confronto, de
violência, de intolerância. Os discursos de ódio têm se espalhado até mesmo em
pregações religiosas que, ao invés de promoverem a dignidade e a valorização da
vida, buscam elementos confessionais e dogmáticos como forma de exaurir aquilo
que se torna diferente. Há relatos em jornais, periódicos, inquéritos policiais, desde o
Brasil Colônia aos dias atuais, passando pelos primórdios da República, onde se
constatam relatos discriminatórios, preconceituosos e abusivos contra as práticas
religiosas das mais variadas matrizes – todas de características minoritárias sem
termos da população nacional (JAGUM, 2016, p. 51).
34
Para Guimarães (2004),

A intolerância está na raiz das grandes tragédias mundiais. Foi ela que
destruiu as culturas pré - colombianas e promoveu a inquisição e a caça às
bruxas. Foi a intolerância religiosa que levou católicos e protestantes a se
matarem mutuamente na Europa, ou hindus e mulçumanos a fazerem o
mesmo na Índia. Foi à intolerância que levou países a construírem um
sistema de apartheid ou a organizarem campos de concentração. Por trás de
cada manifestação de barbárie, que a humanidade teve a infelicidade de
assistir e testemunhar o que redundou em numerosos massacres e
extermínios esconde-se a intolerância como arquétipo e estrutura fundante.

A sociedade brasileira, constituída por várias raças culturas e religiões, permeia


o preconceito manifestando toda forma de intolerância. Assim:

A intolerância religiosa é um conjunto de ideologias e atitudes ofensivas,


discriminatórias e de desrespeito às diferentes crenças e práticas religiosas
ou a quem não segue uma religião. Sendo como um crime de ódio que fere a
liberdade, a dignidade humana e a própria democracia, a intolerância
religiosa costuma ser caracterizada pela ofensa, discriminação, perseguição,
ataques, desqualificação e destruição de locais e símbolos sagrados, roupas
e objetos ritualísticos, imagens, divindades, hábitos e práticas religiosas. Em
casos extremos, há atos de violência física e que atentam à vida de um
determinado grupo que tem em comum determinada crença (BRASIL, 2013).

Pela lei consiste em crime, discriminar ou ofender pessoas por causa da crença
religiosa entre outros motivos. Segundo a constituição, o crime não permite fiança
como também não prescreve, conforme Artigo 5°, incisos XLI e XLII da Constituição
Federal onde afirma que “A lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos
e liberdades fundamentais.” “A prática do racismo constitui crime inafiançável e
imprescritível, sujeito a pena de reclusão, nos termos da lei” (BRASIL, 1988). No
entanto, apesar das intervenções supracitadas, as evidências apresentadas
anteriormente mostram que parte da população ainda resiste ao respeitar toda
liberdade de expressão e manifestação de crença.
De acordo com os PCNs:

Na escola, muitas vezes, há manifestações de racismo, discriminação social


e étnica, por parte de professores, de alunos, da equipe escolar, ainda que
de maneira involuntária ou inconsciente representam violação dos direitos
dos alunos, professores e funcionários discriminados, trazendo consigo
obstáculos ao processo educacional pelo sofrimento e constrangimento a que
essas pessoas se veem expostas (BRASIL, 1997).

Para enfrentamento do problema, a Lei nº 10.639/2003 alterou a Lei de


Diretrizes e Bases (LDB - 9.394/1996), que estabelece as diretrizes e bases da

35
educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade
da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” (BRASIL, 1996).
Não obstante, os adeptos de religiões de origem africana são as vítimas que
mais sofrem preconceito no Brasil.

O racismo, que nega por todos os meios a humanidade dos negros, buscou
sempre atingir os valores culturais e civilizatórios dos descendentes de
africanos no Brasil. Tratadas depreciativamente como “curandeirismo” o u
“espiritismos”,as religiões de matrizes africanas foram criminalizadas e
duramente perseguidas em diferentes momentos de nossa história
(COLETÂNEA CERIS, 2007).

Por este ângulo, é possível constatar que o respeito mútuo entre as religiões
ainda está invisível na sociedade, e consequentemente contribuem com situações de
violência em razão das divergências e crença defendida pelo ser humano. Mesmo
com a criação da Lei 11.635/2007 que institui o Dia Nacional de Combate a
Intolerância Religiosa, celebrado em 21 de janeiro percebe-se que essa problemática
ainda não extinguiu no Brasil (BRASIL, 2007).
Perante a lei, “o Brasil é um Estado laico”, aquele que acima de tudo tem um
compromisso de não favorecer, nem prejudicar as formas de práticas religiosas.
Conforme a Constituição de 1988;

Art. 19, Inciso I- É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvenciona-los, embaraçar-lhes
o funcionamento ou manter com eles ou suas representantes relações de
dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de
interesse público (BRASIL, 1988).

Como Estado laico, entende-se um Estado que concede liberdade religiosa aos
seus cidadãos representando uma democracia plena no âmbito religioso. Portanto
como cidadãos, se tem o direito de optar e escolher a religião que aprouver. No
entanto, isso representa um ganho qualitativo substancial se comparado a
Constituição de 1824, onde através da Lei do Padroado o Brasil era um considerado
um Estado Católico e assim oficializava o catolicismo como única religião nas terras
brasileiras. Segundo Costin (2010):

O Padroado funcionava como um instrumento jurídico claramente em seus


aspectos administrativos, jurídicos e financeiros. Padres, religiosos e bispos
eram funcionários da coroa portuguesa no Brasil colonia l durante o período
colonial e imperial.

36
Portanto, a Constituição de 1988 veio para mostrar ao brasileiro que a religião
não mais se constituía no empecilho para atividades políticas, econômicas entre
outras tantas como outrora. Neste sentido, é importante salientar que as instituições
públicas, na qual há uma representação do povo, necessita tomar cautela para não
exaltar e nem ofender aquilo que é de outra percepção religiosa, ou seja, o Estado
laico não é contra a religião, mais é um Estado que pressupõe uma organização da
máquina pública não submetida a nenhuma crença religiosa (SANTOS; SIMÕES;
SALAROLI, 2017).
Dessa forma, a liberdade de culto baseia-se no conceito que o sujeito acredita
ou cultua ou até mesmo desacredita, constituindo o princípio da liberdade individual.
Nesse caso, quando se tem o ato da intolerância religiosa, se tem a violação dessa
liberdade garantida por lei. No entanto, o princípio da laicidade do Estado consagrado
no artigo 19, inciso I, representa um valor considerado fundamental e importante, pois
visa compreender a liberdade de expressão num Estado democrático onde em
sociedade, os indivíduos lhes permitam toda forma de expressão e manifestação de
crença. Esse valor que envolve o princípio da laicidade está diretamente ligado ao
Ensino Religioso na escola pública, ou seja, quando o Ensino Religioso é ministrado
em bases confessionais ou interconfessionais, crianças e adolescentes são expostos
a visões dogmáticas, ferindo o princípio da laicidade consagrado na constituição
(SANTOS; SIMÕES; SALAROLI, 2017).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs aborda a questão da Pluralidade
Cultural e Orientação Sexual, mencionando o papel que a escola tem a desempenhar
no processo de superação dos preconceitos e combate às atitudes discriminatórias:

A escola tem um papel crucial a desempenhar nesse processo. Em primeiro,


porque é o espaço em que pode se dar a convivência entre crianças de
origens e nível socioeconômico diferentes, com costumes e dogmas
religiosos diferentes daqueles que cada um conhece, com visões de mundo
diversas daquela que compartilha em família. Em segundo, porque é um dos
lugares onde são ensinadas as regras do espaço público para o convívio
democrático com a diferença. Em terceiro lugar, porque a escola apresenta à
criança conhecimentos sistematizados sobre o País e o mundo, e aí a
realidade plural de um país como o Brasil fornece subsídios para debates e
discussões em torno de questões sociais. A criança na escola convive com a
diversidade e poderá aprender com ela (BRASIL, 1997).

37
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