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quinta-feira, 24 de março de 2016

Antropologia da Familia e Parentesco

Elaborado por: Hélder Luís

Introdução

O presente trabalho cientifico irá debruçar-se sobre o estudo do parentesco em antropologia e sua
importância. O trabalho foi feito baseiado conhecimentos obtidos nas aulas anteriores e a leitura
minunciosa de algumas obras por nós solicitados, e depois fez-se o cruzamento das informações. No
entanto, para realização do presente trabalho, fez-se uma confrontação bibliográfica desde autores
clássicos da Antropologia até aos autores dos nossos dias. Este trabalho reveste-se de grande relevância
pelo que, em antropologia o parentesco é uma unidade de analise bastante essencial para compreensão
das sociedades. Para melhor compreensão do assunto aqui abordado, irá se fazer de maneira
hierarquizada a exposição e explanação dos vários aspectos que compõem o parentesco.

Numa primeira fase far-se-á contextualização do parentesco como forma de situar o leitor, assim como
mostrar o funcionamento do parentesco nas diferentes sociedades, tendo em conta a influência
comportamental dos indivíduos, pois, ele também contribui neste sentido. É importante antes de mais,
salientar que o parentesco molda a vida dos indivíduos, organiza os socialmente e lhes confere uma
identidade.

O trabalho esta dividido em dois subtemas o primeiro correspondente a parte onde será feita a
conceitualização, e contextualização do surgimento do parentesco os tipos de parentesco e as suas
principais concepções teóricas. O segundo subtema ira focalizar-se na importância do estudo do
parentesco em antropologia e sua operacionalização nos contextos das sociedades tradicionais e
industriais.

O Parentesco

Desde há muito que a questão do parentesco vem sido discutida por vários cientistas, que segundo
estes chegaram a conclusão de que os sistemas primitivos de parentesco tem sido uma forma de
organização social destas sociedades, por isso careçe de um estudo de extrema importância e
desempenha um valor social dentro das mesmas sociedades ( Bernardi 1974:257). O parentesco é
universal no sentido de que não existe uma sociedade desprovida de um sistema de parentesco, uma
vez que cada sociedade define quem é parente e o grau de parentesco que cada indivíduo desempenha.
Os estudos do parentesco desenvolveram-se segundo Revière (1995: 61) em três etapas sucessivas; a
primeira etapa em 1861 com, o jurista Sir Henry Maine quando publica a obra pioneira Ancient Law que
abre caminho as reflexões dos evolucionistas, uma liga política das famílias soberanas teria invocado
uma genealogia comum, para elaborar os primeiros grupos de descendência, ilustrados, entre outros,
pelas gentes romanas. A segunda etapa que começa a partir da controvérsia entre Rivers e Kroeber
(1909) a propósito de terminologias de parentesco e a distinção operada por Rivers entre os laços de
sangue (kinship) traduzido por “descendência” referido ao sistema domestico, e a pertença da linhagem
(descent) traduzido por filiação. E a terceira etapa em 1949, o aparecimento simultâneo de três obras
(Fortes [A Dinâmica da pertença ao Clã entre os Telensis], Murdock [Estrutura Social] Lévi-Strauss [As
Formas Elementares do Parentesco]) que renovam o conjunto das perspectivas sobre as estruturas do
parentesco.

No contexto das sociedades o parentesco desde o princípio constitui uma construção social de forma a
regrar os indivíduos. Bernardi (1974:260) “ principio o parentesco surge no fundamento biológico radical
e o significado social que emergem dos factos da vida, ou seja, as relações sexuais, em ordem à geração
e que os transformam em causas eficientes da estrutura social”. Estes princípios vem para regrar a
ordem dos comportamentos e das relações entre os indivíduos ao passo que partem da primeiramente
das condições favorecidas pela natureza no sentido da divisão dos sexos e das suas relações. Entretanto,
nas relações de parentesco as distinções feitas entre homem e mulher, para alem de indicar tarefas dão
ênfase a papéis específico de cada um (divisão de trabalho), assim como estabelecer uma linha de
descendência ou como meio de aliança dentro das relações mantidas entre eles.

O parentesco vem para definir regras de relacionamento dos indivíduos dos diferentes grupos (os
parentes do primeiro grau não têm relações sexuais entre si); estabelece valores culturais e sociais
tendo em conta regras de controlo económico, autoridade política e domestica dos grupos.

Estes papéis implicam expectativas sociais, pois determinam o modelo do nosso comportamento, tendo
em conta as proibições. A problemática do incesto constituiu um dos factores primordiais do surgimento
do parentesco, pois vem impor regras de relações onde o homem passa a saber com quem manter
relações sexuais ou laços de aliança.

Tipos de parentesco

Dependendo do tipo de sociedade o parentesco pode adquirir-se por via de consanguinidade, por
afinidade ou por adopção.

Parentesco por consanguinidade


Este remete a uma relação biológica dos progenitores que se manifesta na descendência genealógica.
Esta liga indivíduos singulares por via natural, onde atribui representações dos laços de parentesco um
poder de coação e de normatividade (Bernardi 1974:259 e Rivière 1995:63). A consanguinidade alem da
sua formação natural, tem um dever de ser reconhecido socialmente, como forma de dar aos indivíduos
uma integração e um estatuto aos indivíduos dentro do grupo pertencente, assim como estruturar os
laços existentes entre os mesmos; por exemplo a adopção de uma criança. Entretanto, os progenitores
nem sempre desempenham os papéis de pai e mãe, mas eles detêm um papel de pais sociais, visto que
estes ascendem a este individuo não tem uma ligação natural, contudo a sociedade reconhece os seus
papeis de pais adoptivos apesar de não existir uma ligação consanguínea.

Parentesco por afinidade

Esta é de ordem social que se baseia nas normas sociais conhecidas ou por lei. O parentesco por
afinidade esta relacionado com o matrimónio, mas por laços de afinidade entre duas pessoas no
processo de socialização entre os indivíduos. O processo de afinidade é durável por muito tempo até
chegar a definição de parente; contudo, cada indivíduo vai determinar quem é parente de acordo com o
grau de afinidade existente.

Contribuições Teóricas Sobre Parentesco

O Evolucionismo

Nasceu na segunda metade do século XX, tendo como seu principal defensor Lewis Henry Morgan
(1881-1881) que é igualmente o fundador da antropologia social, teoria fortemente influenciada pela
ideia da evolução para os evolucionistas na selvajaria os povos eram nómadas e não tinham nenhuma
organização social e não há proibição do incesto. Afirma que o sistema de parentesco só aparece no
segundo estágio de evolução a barbárie, onde o homem evoluiu o seu pensamento e torna-se
sedentário (prática a agricultura) e existe uma necessidade de cooperação entre os indivíduos. Copans,
et al afirma que “ Os evolucionistas denominavam o sistema um estádio, e era seu objectivo ordenar os
estádios relacionando-os numa serie evolutiva”.

O evolucionismo de Morgan contribuiu na antropologia do parentesco com a introdução dos conceitos


termos classificatórios que diz respeito a categorias de parentesco (primo, irmão) e termos descritivos
referentes a laços de parentesco (irmão do pai, filho do irmão da mãe). Contudo, estes dois sistemas
definidos por Morgan levariam a compreender os seus estudos de parentesco.
A classificação dos parentes por categorias reflectia segundo Morgan o estado original da família
consanguínea, ignorante da proibição do incesto. Entretanto, o erro de Morgan foi o facto de não ter
entendido a natureza e a função terminológica classificatória, ele associou demasiadamente os termos
de parentesco com as relações biológicas e não compreendeu que os termos revelavam antes de mais
representações culturais. Os fenómenos de parentesco não são senão um dos aspectos da transmissão
cultural, na qual uma sociedade dispõe para moldar os indivíduos ate chegar a tradição (Copans, et al). A
atribuição do mesmo nome ao pai e ao irmão do pai não traduz um desconhecimento biológico, mas
antes um respeito para com os dois parentes. Morgan não compreendeu que os termos de parentesco
se referem antes de mais tipos de e papeis sociais desempenhados por estes indivíduos.

O Funcionalismo

O termo funcionalismo impôs-se na Grã-Bretanha entre 1930-1950 tendo como os principais


defensores, Bronislow Malinowski (1884-1942) e Alfred R. Radcliffe-Brown (1881-1955). Esta teoria
privilegia o estudo empírico dos factos sociais no terreno e apreende-os como uma totalidade, procura
segundo Ghasarian (1999: 30) procura as relações causais, relações funcionais, e interdependência entre
os fenómenos sociais e instituições de uma sociedade. Não se pode compreender o funcionamento de
uma sociedade sem antes entender as relações de parentesco. Os sistemas de parentesco são um
fenómeno social total, na medida influenciam o funcionamento de todas as esperas sociais, isto é, que
estes sistemas são pluridimensionais, multifuncionais e multidimensionais, pois tem uma função
económica, simbólica e politica, não podem ser analisados num e único sentido. Para estes os sistemas
de parentesco continham varias funções e concorriam para o funcionamento de uma sociedade.

O Estruturalismo

Segundo Martinez (2007: 108) como corrente de pensamentos estruturalismo pertence a década dos
anos sessenta do século XX, que tem como seu maior defensor Claude Lévi-Strauss (1908). Esta teoria
preconizava a apreensão da estrutura social como um sistema de comunicação no qual todos elementos
estão em relação uns com os outros. Se retirarmos um elemento, o conjunto altera-se, o que muito
frequentemente provoca ruptura da força invisível que a mantém.

O estruturalismo teve como principal contributo enunciação da primeira lei de marcava a passagem do
homem do estado biológico ao estado cultural “o tabu do incesto”, que definia para o homem os seus
parceiros sexuais possíveis e proibidos, evitando assim os casamentos endogámicos. Para Lévi-Strauss o
tabu do incesto tem por função alargar as relações sociais e impedir a explosão de conflitos no seio da
família, promove um intercâmbio cultural entre durante o processo de casamento fora da sua linhagem.
O Parentesco na Antropologia e sua importância

O estudo do parentesco na antropologia é considerado uma aprendizagem tão necessária como o


estudo da lógica na filosofia ou do nu na arte (Bernardi, 1974: 258). Para a compreensão de qualquer
aspecto da vida social de uma determinada sociedade é essencial conhecer a organização de
parentesco. Contudo, as relações de parentesco estruturam (regulam) todas as relações sociais e de
produção: a vida social, económica, religiosa, politica e as sucessões; entretanto não se pode
compreender diferentes sociedades sem antes olhar-se para as formas de organização do próprio
parentesco, pois este constitui a base para se compreender os outros elementos (cultura,
comportamentos, sucessões, etc.) que compõem a sociedade. Brown e Forde (1950) afirmam que “um
sistema de parentesco pode ser considerado como um arranjo que permite as pessoas viverem juntas e
cooperarem umas com as outras segundo a ordem social”.

O parentesco na vida social tem um papel importante pois confere ao indivíduo a identidade social
perante ao grupo, de forma que este seja reconhecido pelos outros como membro pertencente ao
grupo, isto é, dentro de uma sociedade pode definir a sua posição por meio de termos de parentesco
com qualquer pessoa com quem se encontre a tratar socialmente, quer pertença á própria tribo quer
pertença a outra. Para Rivière (1995:69) “o grupo de parentesco supõe um ou diversos critérios de
pertença, assim como normas comuns, e ligações sociais activas”. Contudo, o parentesco confere os
primeiros elementos do nosso estatuto como individuo, assim como confere a sua personalidade social
integrando os indivíduos que fazem parte do grupo e distinguindo os que não fazem parte, dai que o
parentesco integra e também exclui, visto que ao mesmo tempo confere uma posição social dentro
desse grupo e esta posição é de maior destaque de acordo com o papel que a pessoa desempenha, por
exemplo pai, mãe, filho.

O parentesco constitui uma forma de organização da vida humana, na qual se concentram relações de
laços entre dois indivíduos partindo de uma escolha recíproca, de troca de interesses comuns que
podem ser sexuais ou de trabalho e outros. Segundo Bernardi (1974:258) “ estas formas associativas que
emanam das relações para a geração e a sua continuidade da espécie, constituem o parentesco”.
Portanto, o parentesco na sua constituição é muito vasto e de difícil definição, pois abarca um conjunto
de elementos que necessitam antes de mais uma compreensão. Para Bernardi (1974:259) “o parentesco
é um vínculo que liga indivíduos entre si em vista da geração e descendência”.

Rivière (1995:63) define “ o parentesco como um conjunto de laços que unem geneticamente (filiação,
descendência) ou voluntariamente (aliança, pacto de sangue) um determinado número de indivíduos”.
Contudo, de dentre as várias definições existentes sobre o parentesco, o que pode constatar que o
parentesco é vasto e vai alem da consanguinidade, aliança, afinidade, relações biológicas e sexuais.
O Parentesco e sua operacionalização em sociedades tradicionais e industriais

O parentesco existe em todas as sociedades e serve de um instrumento de conduta dos indivíduos


pertencentes a esta mesma sociedade. Contudo, o parentesco não desempenha mesmas funções em
todas as sociedades, isto é, nas sociedades tradicionais traduz˗se na passagem e integração dos
indivíduos, efectivamente ele esta relacionado com a família, questão de direitos de sucessão e de
herança.

Nestas sociedades o parentesco tem uma função essencial porque alem das questões de passagem de
poderes para lembrar antepassados mortos, confere também ao individuo uma identidade, assim como
bens, terra; por exemplo dentro de uma família onde pratica-se a invocação de antepassados quando
morre o individuo que esta encarregue de falar com os espíritos deve˗se procurar um sucessor para
continuar a invocar.

Em sociedades industriais como diz Ghasarian o parentesco esta patente em questões relacionadas com
a afinidade, ou passagem de herança. Em outros na busca social de herdeiros ou mesmo proximidade,
defenindo os sentimentalmente os seus parentes, e construção da árvore.

Conclusão

Findo o trabalho e diante dos factos pelo grupo apresentados, pode se concluir que o parentesco é
dotado de grande poder regulador da vida social, pelo que rege todo o tipo de relações sociais
existentes numa determinada sociedade seja tradicional ou industrial.

O parentesco embora possa ser transmitido por consaguinidade e como Ghasarian afirma que nas
sociedades tradicionais tem um carácter sagrado e exclusivo na medida em que as pessoas que
partilham da mesma parentela à eles transmititida pela via consaguinea se vêm obrigadas a manter
certos sentimentos uns em relação aos outros, tem uma dimensão social que ultrapassa a biológica, pelo
que transmite certos estatutos sociais, permite a integração em grupos de actividades, em termos de
hierarquização o parentesco tem forte influência.

Em sociedades industrias embora a sua operacionalização não seja do mesmo modo operacionalizado
que em sociedades tradicionais tambem serve para unir e cria algumas esferas de influência. É um ponto
de analise de extrema relevância devendo ser levado em consideração durante as pesquisas em
determinadas sociedades no que toca a sua organização e disposições dessas mesmas sociedades.

Bibliografia
Bernardi, Bernardo. Introdução aos Estudos Etno-Antropologicos. Edições 70: Lisboa, 1974

Brown, Radclifee; Forde, Daryll. Sistemas Políticos Africanos de Parentesco e Casamento. Fundacao
Calouste Gulbenkian: Londres, 1950

Copans, J. et al. Antropologia Ciência das Sociedades Primitivas?. Lisboa: Edições 70: Lisboa, 1971

Ghasarian, Christian. Introdução ao Estudo do Parentesco. Terramar, 1999

Martinez, Francisco L. Antropologia Cultural: Guia para o Estudo. 5ª ed, Paulinas Editorial: Maputo, 2007

Revière, Claude. Introdução a Antropologia . Edições 70 :Lisboa , 1995.

Anonymous à(s) 3:26 PM

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