Você está na página 1de 8

Kurt Lewin e a Dinâmica de Grupos

Biografia:

Kurt Lewin nasceu a 9 de setembro de 1890 em Mogilno,


na Prússia (hoje Polônia).

A primeira e única informação que possuímos de sua


juventude é que fez seus estudos universitários
sucessivamente nas Universidades de Friburgo
(Alemanha), Munique e Berlim.

Kurt Lewin (1890-1947) constituiu a passagem das


Relações Humanas para o movimento seguinte e
orientou e ou inspirou a maior parte dos
pesquisadores dedicados à Administração e à Psicologia
Industrial de década de 1960.

Kurt Lewin – o acadêmico

Seu interesse pela Psicologia aparece gradualmente. Ele se foca inicialmente à


Química e à Física, depois à Filosofia para finalmente dedicar -se à preparação de
uma tese de Psicologia.

Doutora-se em Filosofia pela Universidade de Berlim em 1914, apresentando e


defendendo com sucesso uma tese sobre “A psicologia do comportamento e das
emoções”. Kurt Lewin começaria sua carreira na Universidade de Berlim em 1914.

Mas a guerra tem início no verão de 1914. É convocado e servirá durante toda a
guerra, dela saindo ileso.

No outono de 1921 torna -se professor assistente do Instituto de Psicologia da


Universidade de Berlim. Do outono de 1918 ao de 1921 não sabemos praticamente
nada de Lewin salvo que durante esse período de pós-guerra, publica três artigos sobre
a medida dos fenômenos psíquicos.

Em 1926 torna-se professor titular de Psicologia na Universidade de Berlim.


Conservará suas funções e este status acadêmico até a tomada do poder pelos
nazistas em 1933. Nesse ano, Lewin, por ser judeu, é obrigado pelos nazistas a deixar
a Alemanha com sua família e m 24 horas, pagando um resgate para não ser encarcerado
em um campo de concentração. Passa pela Inglaterra onde permanece alguns meses,
emigrando depois para os EUA, onde é convidado a ensinar na Universidade de Stanford
(Califórnia).
Permanece um ano em Stanford, tornando -se depois professor de Psicologia da
Universidade de Cornell, Nova York. É convidado a lecionar sobre a Psicologia da Criança
na Universidade de Iowa e assumir a direção de um centro de Pesquisas ligado a um
departamento de Psicologia até 1939. Durante este período, Lewin publica dois
trabalhos teóricos, que logo o tornarão celebre: “A dynamic theory of personality” e
“Principles of topological psychology”.

Em 1939, ele volta a Universidade de Stanford e em 1940 torna -se professor na


Universidade de Harvard.

Em 1945 continuando seu magistério funda, a pedido d o M.I.T. (Massachussets


Institute of Technology), um centro de pesquisas em dinâmica de grupos. Para Lewin
é a ocasião de criar e introduzir no vocabulário dos psicólogos o termo “Dinâmica dos
Grupos”. No momento em que Lewin funda Dinâmica dos Grupos, o M.I.T. É o centro
mais celebre dos EUA que se consagra em pesquisas em ciências nucleares.

Kurt Lewin morreu súbita e prematuramente a 12 de fevereiro de 1947, com 56 anos,


em sua residência de Newtonville, situada próxima aos dois centros que trabalhava:
Harvard e o M.I.T.

Após sua morte, os professores Apport, de Harvard, e Cartwright, da Universidade de


Michigan, em colaboração com sua filha, Gertrud, editam e publicam vários artigos de
Lewin sobre dois temas complementares tratando de psicologia social e de dinâmica dos
grupos.

O primeiro destes volumes intitulado “Resolving social conflicts" e o segundo como


"Field theory in social science".

Kurt Lewin – o homem

Kurt Lewin era, ao primeiro contato, um homem tímido e por isso mesmo sem
flexibilidade e mostrava uma certa dificuldade em abordar as pessoas. Mas para
aqueles que trabalhavam diretamente nas pesquisas tornava-se extremamente
atraente por sua probidade intelectual e sua humildade.

Outro traço da personalidade de Lewin era o fato de exigir que tudo fosse discutido
explorado e decidido em grupo: hipóteses, objetivos, metodologia e etc. Sempre atento
às opiniões e sugestões de onde quer que viessem, respeitoso e disponível, sempre
pronto a ajudar seus alunos nos primeiros passos da preparação de suas pesquisas.

Ele temia que as sementes do totalitarismo pudessem crescer e destruir a democracia


nos Estados Unidos e no mundo, a menos que as forças de pesquisa, educação e ação
pudessem se unir, eliminando a injustiça social e o auto ódio da minoria e na resolução
sábia de conflitos intergrupais.
Kurt Lewin – o cientista

Suas contribuições:
 Criação da Teoria de Campo
 Criação da Pesquisa Ação
 Considerado o fundador de Dinâmica de Grupo

A partir dele houve uma gradativa diversificação das ciências sociais. A partir de 1936,
interessa-se em fazer experiências em psicologia social.

Lewin considera que, cientificamente, não possuímos no presente técnicas de


exploração e instrumental para fazer experiências ao nível da sociedade global ou dos
grandes conjuntos sociais.

Para Lewin, o estudo d e pequenos grupos constituía uma opção estratégica que
permitiria, em um futuro imprevisível, esclarecer a psicologia dos grandes grupos.
Atualmente é preciso reconhecer três ciências sociais fundamentais: sociologia,
antropologia cultural e psicologia social.

Teoria de Pesquisa-ação

Kurt Lewin é citado como o “pai” da pesquisa ação. Ele tinha muito interesse na relação
da justiça social e a investigação rigorosa. (Especialmente após perder sua família na
Alemanha).

Inicialmente queria criar um mu dança social positiva. Desejava investigar algo que
fosse relevante para a realidade e imediatamente aplicável e útil. Estava interessado
nas forças (valências como chamava): o que instiga ou desanima alguém a ir para ação
ou a ter determinado comportamento?

Tinha interesse nas formas como representamos graficamente a realidade (como


percebemos o que está acontecendo ao redor de nós e dentro de nós? Queria
desenvolver modelos úteis de investigação – modelos úteis para fazer e responder
perguntas.

Baseado em seus interesses e trabalho de investigação prévio, conduziu com seus


estudantes (1946) o desenvolvimento de uma metodologia de investigação chamada
pesquisa-ação. A pesquisa-ação tem enfoque na informação, interação, colaboração.
Constitui-se de múltiplos passos para investigação e solução de problemas. Consiste
em quatro passo s: Planejamento, Ação, Observação e Reflexão. É um processo
colaborativo no qual os membros o membro de uma equipe de pesquisa -ação
trabalham juntos para solucionar um problema refletindo criticamente sobre suas ações
e suposições.

Se focou em pequenos grupos, analisando as variáveis de coesão, padrões grupais,


motivação, participação, processo decisório, produtividade, preconceitos, tensões,
pressões e formas de coordenar um grupo.
Teoria de Campo

Para Kurt Lewin “O comportamento em grupo é produto de um campo de


determinantes interdependentes (conhecidos como “espaço de vida” ou “ campo
social").

As características estruturais desse campo são representadas por conceitos extraídos


da topologia e d a teoria de conjuntos e as características dinâmicas são representadas
através de conceitos de forças psicológicas e sociais” (Zande, 1967).

A teoria do campo propõe que o comportamento humano é a função da pessoa e do


ambiente: expressado em termos simbólicos, C = f (P, A). Isto significa que o
comportamento (C) de uma pessoa está relacionado às características pessoais (P=
pessoa) e à situação social (A=ambiente) em que se encontra esta pessoa. Teoria do
Campo.

O comportamento é derivado de uma totalidade de f atos coexistentes. Estes fatos


coexistentes compõem “um campo dinâmico”, que significa que o estado de qualquer
parte do campo depende de cada outra parte dele. O comportamento depende do
campo atual mais que do passado ou do futuro.
Forças psicológicas – restritivas ou impulsionadoras

Um vetor tende sempre a produzir locomoção em uma certa direção. Quando dois ou
mais vetores atuam sobre uma mesma pessoa ao mesmo tempo, a locomoção são uma
espécie de resultante de forças.

Algumas vezes, a locomoção produzida pelos vetores pode ser impedida ou


completamente bloqueada por uma barreira, que é algum impedimento ou de fuga ou
repulsa em relação a um objeto, pessoa ou situação. Fontes das forças: Do “Eu”; dos
outros; do ambiente.

Dinâmicas de grupo – Fatores Históricos

No final da década d e 30 a s condições culturais e econômicas dos EUA favoreciam o


aparecimento e o desenvolvimento da D.G. Atribuía-se grande valor à ciência, a
tecnologia, à solução racional dos problemas e ao progresso. Ainda na década de 30
destinavam recursos significativos para Ciências Sociais.

A utilização de testes de inteligência durante a Prime ira grande guerra, estimulou a


pesquisa da capacidade humana e aplicação de programas de testes nas escolas, na
indústria e n o governo. Começava a crença de que a solução de "problemas sociais"
poderia ser facilitada pela pesquisa sistemática dos fatos.

Experiência de Hawthorne
Dinâmicas de grupo – Campos de estudo

 Serviço Social
 Psicologia – Freud, Moreno, Kurt Lewin
 Educação
 Administração – Mayo
 Kurt Lewin fez uma pesquisa sobre os tipos de liderança em educação – 1939
 Tipos de liderança – autoritária, democrática e laissez faire
 Criou a expressão "dinâmica de grupo"

Dinâmicas de grupo no Brasil

Iniciou em 1960, pelo Prof. Pierre Weil que introduziu o Laboratório de Sensibilidade
Social, que tem como principal objetivo desenvolver a qualidade de atuação do
indivíduo como membro e como líder.

Esse trabalho foi realizado na Rede Comercial Banco Lavoura de Minas Gerais. Em 1975,
Fela Moscovici lança a primeira edição do livro “ Desenvolvimento Interpessoal“ Em
1986, foi fundada a Sociedade Brasileira de Dinâmica de Grupo.

Dinâmicas de grupo – aplicações

 Recrutamento e seleção;
 Treinamento;
 Integração
 Motivação
 Combate ao estresse
 Avalia o candidato frente a situações que exigem as competências necessárias
para o cargo
 Exigência do mercado – Economia de tempo e dinheiro
 É mais fácil perceber como a pessoa realmente é
 Pode-se analisar a pessoa em grupo

Dinâmicas de grupo – O que visa

Identificar competências necessárias na descrição de cargo:


– Liderança, negociação, resolução de conflitos, apresentação, quebra gelo, etc.

Dinâmicas de grupo – sugestões

 Controle sua ansiedade, manter a tranquilidade ajuda em quase todas as


situações;
 Evite falar em excesso ou impedir que o s outros também participem;
 Vista-se discretamente, a apresentação pessoal é muito importante;
 Seja o mais claro possível; Iniciativa, determinação e criatividade;
 Seja natural na dinâmica de grupo, os comentários preconceituosos e as ironias
não caem bem;
 Dormir bem nos dias que antecedem a dinâmica é essencial para que não se
apresente aparência de cansaço ou abatimento;
 Chegar ao local marcado 15 minutos antes do horário marcado;
 Não se preocupar com os "vexames";

Considerações finais

Kurt Lewin (1890-1947) trabalhou durante 10 anos com Wertheimer, Koffka, Kohler na
Universidade de Berlim, e dessa colaboração com os pioneiros da Gestalt nasceu a sua
Teoria de Campo. Entretanto não podemos considerar Lewin como um gestaltista, já
que ele a caba seguindo um outro rumo. Lewin parte da teoria da Gestalt para construir
um conhecimento novo e genuíno. Ele abandona a preocupação psicofisiológica
(limiares de percepção) da Gestalt, para buscar na Física as bases metodológicas de sua
psicologia.

O principal conceito de Lewin é o do espaço vital, que ele define como “ a totalidade
dos fatos que determinam o comportamento do indivíduo num certo momento". O que
Lewin concebeu como campo psicológico foi o espaço de vida considerado
dinamicamente, onde se levam em conta não somente o indivíduo e o meio, mas
também a totalidade dos fatos coexistentes e mutuamente interdependentes.

Segundo Garcia-Roza, o “campo não deve, porém, ser compreendido como uma
realidade física, mas sim fenomênica. Não são apenas os fatos físicos que produzem
efeitos sobre o comportamento. O campo deve ser representado tal como ele existe
para o indivíduo em questão, num determinado momento, e não como ele é em si. Para
a constituição desse campo, as amizades, os objetivos conscientes e inconscientes, os
sonhos e os medos são tão essenciais como qualquer ambiente físico".

A realidade fenomênica em Lewin pode ser compreendida como o meio


comportamental da Gestalt, ou seja, a maneira particular como o indivíduo interpreta
uma determinada situação. Entretanto, para Lewin, esse conceito não está se referindo
apenas à percepção (enquanto fenômeno psicofisiológico), mas também a
características de personalidade do indivíduo, a componentes emocionais ligados ao
grupo e à própria situação vivida, assim como a situações passadas e que estejam ligadas
ao acontecimento, na forma em que são representadas no espaço de vida atual do
indivíduo. Como exemplo de campo psicológico e espaço vital, contaremos um breve
encontro:

Um rapaz, ao chegar à sua casa, surpreende os pais num final de conversa e escuta o
seguinte: "Ele chegou, é melhor não falarmos disso agora". Ele entende que os pais
conversavam sobre um problema muito sério, de que ele não deveria tomar
conhecimento. Resolve não fazer nenhum comentário sobre o assunto.

Dias depois, chegando novamente em casa, encontra seus pais na sala com dois homens
em ternos escuros. Imediatamente, associa esses homens ao final da conversa escutada
e entende que eles, de algum a forma, estariam relacionados às preocupações dos pais.
Ocorre que a conversa referia -se a uma surpresa que os dois preparavam para o seu
aniversário, e os dois homens eram antigos colegas de faculdade de seu pai, que
aproveitavam a passagem pela cidade para fazer uma visita ao colega que há tanto
tempo não viam.

Nessa história, o campo psicológico é representado pelas “linhas de força” (como no


campo da eletromagnética), que “atraem” a percepção e lhe dão significado. O rapaz
interpretou a situação pelo seu aspecto fenomênico e não pelo que ocorria de fato. A
sua interpretação ganhou consistência com a visita de duas pessoas que ele não
conhecia e, nesse sentido, as linhas de força estavam fazendo um corte n o tempo. Isso
foi possível porque o rapaz havia memorizado a situação anterior e a ela associado a
seguinte. A partir da experiência anterior, a nova ganhou significado. O espaço vital
esteve representado pela situação mais imediata, que determinou o comportamento.
Foi o caso do rapaz quando surpreendeu os pais conversando e procurou fingir que nada
havia escutado ou a surpresa ao encontrar aqueles homens na sua casa. O
entendimento desse espaço vital depende diretamente do campo psicológico.

Como Lewin considerava que o comportamento deve ser em sua totalidade, não
demorou muito para chegar ao conceito de grupo. Praticamente todos os momentos
de nossas vidas se dão no interior de grupos. Segundo Lewin, a característica
essencialmente definidora do grupo é a interdependência de seus membros. Isto
significa que o grupo, para ele, não é a soma das características de seus membros, mas
algo novo, resultante dos processos que ali ocorrem.

Assim, a mudança de um membro no grupo pode alterar completamente a dinâmica


deste. Lewin deu muita ênfase ao pequeno grupo considerar que a Psicologia ainda não
possui instrumental suficiente para o estudo de grande s massas. Transportando a
noção de campo psicológico para a Psicologia social, Lewin criou o conceito de campo
social, formado pelo grupo e seu ambiente.

Outra característica do grupo é o clima social, onde uma liderança autocrática,


democrática ou laissez-faire irá determinar o desempenho do grupo. Através de
um minucioso trabalho experimental, Lewin pesquisou a dinâmica grupal e foi,
sem dúvida alguma, um dos psicólogos que mais contribuições trouxeram para a
área d a Psicologia, contribuições que estão presentes até hoje, embasando as
teorias e as técnicas de trabalho com os grupos.

Referências
CARTW RIGHT, D & ZANDER, A – Dinâmica de Grupo, SP, EPU, 1967

Dinâmica de grupo - Pesquisa e teoria

MAILHOT, G – Dinâmica e Gênese dos grupos. SP, Duas Cidades, 1976

MOSCOVICI, FELA – Laboratório de Sensibilidade


Vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=AB51zC_2unE

Você também pode gostar