Você está na página 1de 7

Professor Alyson Barros

Roudinesco – A Família em Desordem - 2021

ROUDINESCO, Eli. A Família em Desordem. 1ª edição, Rio de Janeiro: Jorge Zahar


Editor; 2003;
Boa aula pessoal!
Professor Alyson Barros

1. Deus Pai
2. A irrupção do feminino
3. Quem matou o pai?
4. O filho culpado

35
5. O patriarca mutilado

8:
6. As mulheres têm um sexo

:0
13
7. O poder das mães

1
02
8. A família do futuro

/2
07
0/
Objetivo do ensaio (p.11) penetrar o segredo dos distúrbios da família.

-2
om
1. Deus Pai

l.c
ai
tm
Claude Lévi-Strauss – a vida familiar está em praticamente todas as sociedades
ho
humanas
7@

>> É em função de unir um homem e uma mulher, isto é, um ser do sexo masculino e
k9

outro do sexo feminino, que a família é um fenômeno universal que supõe uma
ic
er

aliança de um lado( o casamento) e uma filiação do outro( os filhos)


m
ae

A família repousa nessa concepção naturalista da diferença dos Sexos


el

A autora apresenta duas dimensões de análise da família.


-b
0

A primeira sociológica, histórica ou psicanalítica, privilegia o estudo


-1
96

vertical das filiações e das gerações insistindo nas continuidades ou


.4

nas distorções entre pais e filhos bem como na transmissão dos saberes
26
.0

e das atitudes herdadas de uma geração a outra.


31

A segunda, mas antropológica, ocupa-se sobretudo da descrição


-1

horizontal, estrutural comparativa das alianças, enfatizando que cada


s
de

família provém sempre da união - logo, do estilhaçamento - de duas


en
M

outras famílias. No primeiro caso usaremos a palavra família no outro


k
ic

parentesco.
er
Em

Existem duas regras básicas e praticamente universais em toda a família. A primeira é


a
el

a proibição do incesto e a segunda é a união de um macho com uma fêmea.


ab
Is

Segundo a autora, é preciso admitir que foi no seio das duas grandes ordens do
biológico (diferença sexual) e do símbolo (proibição do incesto e outros interditos)
que se desenrolaram durante séculos não apenas as transformações próprias da
instituição familiar, como também as modificações do olhar para ela voltado ao longo
das gerações.

1
Professor Alyson Barros
Roudinesco – A Família em Desordem - 2021

O conceito de família passa por uma série de evoluções ao longo do livro (e zilhões de
vezes). De Aristóteles até a formação da família baseada, atualmente, na clonagem e
na reprodução assistida.
Decorrente da visão mais antiga (aristotélica) temos três tipos de relações básicas: a
relação entre o senhor e o escravo, associação entre o marido e a esposa e, por fim, o
vínculo entre o pai e os filhos.

A autora identifica três grandes períodos na evolução da família


I. família tradicional: busca assegurar a transmissão de um patrimônio, os

35
casamentos são arranjados entre pais sem que a vida sexual e afetiva dos futuros

8:
esposos seja levada em conta. É inteiramente submetida a autoridade patriarcal. É

:0
13
uma verdadeira transposição da monarquia de direito divino.

1
02
/2
II. família Moderna: apresenta lógica afetiva recém incorporado no final do século 18

07
0/
e meados do século 20. É fundada no amor romântico valoriza a divisão do trabalho

-2
entre os esposos. A atribuição de autoridade está dividida entre o Estado e os pais e

om
do outro lado entre os pais e as mães.

l.c
ai
tm
III. família pós-moderna: ocorre a partir dos anos 1960. Esta família contemporânea
ho
7@

une ao longo de uma duração relativa dois indivíduos em busca de relações íntimas
k9

ou realização sexual. A transmissão da autoridade vai se tornando cada vez mais


ic

problemática à medida em que divórcios e separações e recomposições conjugais


er
m

aumentam.
ae
el
-b

Segundo a autora:
0
-1

Apesar de ser a instituição humana mais sólida da sociedade, a família foi


96

sendo cada vez mais dessacralizada e retraída pelas debilidades de um sujeito


.4
26

em sofrimento, segundo a autora a família autoritária de outrora, triunfal


.0
31

melancólica, você deu a família mutilada de hoje, feita de feridas íntimas de


-1

violências silenciosas e de lembranças recalcadas.


s
de
en

A autora inicia então um passeio pelo Direito Romano, entra na época medieval, segue
M

pelas tragédias gregas, cita uma dezena de grandes autores, retorna à era medieval, e
k
ic
er

conclui que essa evolução foi cruel na criação de um discurso misógino que perdurou
Em

ao longo dos séculos e traduziu o medo do feminino autenticamente masculino, além


a

de uma obsessão pelas feminilização do corpo social que só fará se agravar com
el
ab

declínio da monarquia e a deterioração da figura do pai.


Is

2. A irrupção do feminino
A partir de Freud, com o advento da psicanálise, o pai deixa de ser o veículo único de
transmissão e passa a dividir o papel com a mãe. Foi uma grande revolução para a
época.
A autora entende que nem o patriarcado nem o matriarcado existiram de forma
pura, porém o imaginário ligado essa bipolaridade sempre teve força de lei.

2
Professor Alyson Barros
Roudinesco – A Família em Desordem - 2021

Se na Era Industrial tínhamos o paternalismo europeu que extraiu da figura do José o


artesão Carpinteiro o ideal de pai, temos também um poder autocrata e desprovido
de atributos divinos que serviu aos anseios de correção de uma selvageria de um
capitalismo sem Limites.

Segundo a autora: a ordem familiar econômico burguesa repousa em três


fundamentos: autoridade do marido, a subordinação das mulheres e a

35
dependência dos filhos.

8:
Antes disso na Revolução Francesa era o estado que fazia o papel de avalista da

:0
13
autoridade paterna. O direito de correção do Estado tende a substituir os costumes

1
02
do direito de correção atribuída ao pai (como aplicar livremente medidas corretivas a

/2
esposa e aos filhos).

07
0/
-2
Após a Revolução Francesa e a Revolução Industrial o pai do período monárquico deu

om
lugar a um pai cidadão, baseado na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

l.c
ai
Surge o direito do divórcio em 1792.
tm
ho
7@

A autora, de forma sagaz, entende que a substituição do Poder de Deus pai pelo poder
k9

do Pater família abre caminho para o início da emancipação das mulheres, e depois
ic

delas as crianças.
er
m
ae
el

A partir disso autora faz uma longa jornada através de conceitos que variam de Engels,
-b

Bachofen e outros.
0
-1

Segundo a autora, o patriarcado é uma forma tardia de organização social e que


96

sucedeu a um estado primitivo de tipo matriarcal.


.4
26

Engels entendia que o patriarcado era a grande derrota do sexo feminino e a criação
.0
31

da luta de classes, pois a mulher havia se tornado, na família burguesa, o proletário


-1

do homem. Bachofen por sua vez entender que essa subversão foi absolutamente
s
de

necessária para que a humanidade não mergulhasse na decadência subvertida de


en

uma feminilidade selvagem .


M
k
ic
er

Em diversas ocasiões no livro a autora cita o medo do transbordamento feminino .


Em
a

Para a psicanálise, o regime patriarcal é necessário, apesar de sempre ser ameaçado


el
ab

por reminiscências, mesmo parecendo sólido há séculos. A lembrança recalcada do


Is

matriarcado persiste através dos mitos e lendas que habitam na sua memória. O
patriarcado cria, portanto, proteções contra a irrupção do feminino.

Para Freud a família é uma das grandes coletividades humanas da civilização, ela não
pode se distanciar do estado animal a não ser afirmando a primazia da Razão sobre
o afeto, e da lei do pai sobre a natureza.
Porém Freud jamais cederá ao medo fantasioso de uma possível feminilização do
corpo social. Ao contrário de muitos autores, também nunca acreditou que é
emancipação das mulheres significação Crepúsculo da razão.

3
Professor Alyson Barros
Roudinesco – A Família em Desordem - 2021

3. Quem matou o pai?


Autora visita e revisita várias vezes o Édipo de sófocles.
Freud reconheceu e reivindicou essa invenção como um princípio essencial da
psicanálise.
A autora conta o complexo de Édipo nos mínimos detalhes e conclui que Édipo estava,
por seu duplo crime - o parricídio e o incesto - ao mesmo tempo e no mesmo tempo
sobre 4, sobre 2 e sobre 3 pés (lembra da esfinge?)

35
Resumo do Capítulo: não satisfeito em Darwinizar os mitos gregos, impõem uma

8:
:0
torção a peça de Sófocles

13
1
02
Freud inventou o mito do Édipo para responder de maneira racional ao terror da

/2
07
irrupção do feminino e a obsessão pela supressão da diferença sexual que haviam

0/
-2
tomado conta da sociedade europeia no fim do século.

om
l.c
Com ajuda do mito reconvertido em complexo, Freud restabelece simbolicamente

ai
tm
diferenças necessárias a manutenção de um modelo de família que se temia que
ho
estivesse desaparecendo na realidade.
7@

Ele atribuía ao inconsciente o lugar de soberania perdida por Deus Pai para nele Fazer
k9

Reinar a lei da diferença: diferença entre as gerações, entre os sexos, entre os pais e
ic
er

os filhos.
m
ae
el

4. O filho culpado
-b
0
-1

A autora adentra na análise de Shakespeare, mais especificamente em Hamlet,


96

para fazer uma análise dos personagens. Ela associa Hamlet ao Édipo.
.4
26

Após citar uma dezena de autores afirma que o complexo de Édipo não é nada mais
.0

do que a expressão de dois desejos recalcados: o desejo de incesto e o desejo de matar


31
-1

o pai, contidos nos dois tabus próprios do totemismo .


s

Segundo a autora:
de
en

Mais além do complexo, Freud propõe, com totem e tabú, uma teoria do Poder
M

centrada em três imperativos: necessidade de um ato fundador (o crime),


k
ic

necessidade da lei (a punição), necessidade de renúncia ao despotismo da tirania


er
Em

patriarquica encarnada pelo pai da Horda selvagem. A esses três imperativos


a

correspondem três estágios da história das sociedades das religiões e também três
el
ab

estágios da evolução psíquica do sujeito. No período animista o homem se atribui a


Is

onipotência e esta é então apenas o equivalente do narcisismo infantil. Na fase


religiosa delega seu poder aos Deuses, assim como aos pais no complexo de Édipo.
Na época científica ou espiritual projeta-o sobre um logos, dissociando assim a razão
de qualquer objeto fetiche

5. O patriarca mutilado

4
Professor Alyson Barros
Roudinesco – A Família em Desordem - 2021

As feministas achavam que Freud eram cara conservador e um defensor da família


tradicional (a família patriarcal). Os conservadores entendiam Freud como um
destruidor pansexualista da família e do Estado. E os psicanalistas entendiam Freud
como um sujeito que tentou restaurar uma ordem familiar normalizante na qual as
figuras do pai e da mãe seriam determinadas pelo primado da diferença sexual.
Para a autora, nesta última abordagem, cada filho era chamado se tornar o rival do
seu pai, cada filha a concorrente da sua mãe, e toda criança o produto de uma cena
primitiva, lembrança fantasística de um coito irrepresentável

35
Resumo: Freud foi atacado tanto pelos partidários da abolição da família como pelos

8:
conservadores que o recriminavam por atentar contra a moral civilizada e por reduzir

:0
13
o homem as suas pulsões genitais.

1
02
/2
Acredito que o patriarca mutilado seja o próprio Freud neste capítulo!

07
0/
-2
A autora segue, então, revisitando a história da Europa de forma não linear e com

om
diversas citações de autores que lhe convém.

l.c
ai
Ela informa-nos da importância que a psicanálise teve para inclusão no seio da família
afetiva de novos modos de parentalidade!!!
tm
ho
7@

Explicou a diferença de papéis dentro da família burguesa e também o medo da


k9

sociedade da época de que os homens se tornassem mulheres e as mulheres se


ic

tornassem homens.
er
m
ae
el

Para evitar tal Apocalipse a cultura da época dizia que era necessária uma interdição
-b

do prazer fora do casamento e a vontade de lutar dentro do casamento contra frigidez


0
-1

das mulheres a impotência dos homens.


96
.4
26

A família tornou-se um objeto de política de controle centrado na prevenção das


.0
31

anomalias sociais e psíquicas. O pai passou a ser julgado em função da sua ausência
-1

do Lar conjugal.
s
de
en

Reclamação: A autora esquece que está escrevendo um texto para pessoas que
M

querem compreender as suas ideias e além de não respeitar a linha de raciocínio


k
ic
er

temporal do desenvolvimento das famílias começa a incorporar ideias de Melanie


Em

Klein, Donald Winnicott, Durkheim, Aristóteles, Lacan e até Moisés (motivo: não sei).
a
el
ab

6. As mulheres têm um sexo


Is

A autora dá um show de erudição ao concluir que após a revolução francesa as


instituições educativas, sociais, médicas e culturais organizaram a vida privada de
cada uma das famílias para torná-las um núcleo normativo de uma individualidade
cidadã e democrática.

7. O poder das mães

5
Professor Alyson Barros
Roudinesco – A Família em Desordem - 2021

Freud excluía a ideia que seria possível uma separação entre feminino e o materno,
entre o ser mulher e a procriação, entre o sexo e gênero. Lacan discordava disso.

A autora cita a evolução histórica no direito francês do direito das mulheres até o
direito de casamento e de família recomposta.
Para a autora, a família contemporânea não é mais divinizada ou naturalizada, mas
frágil, neurótica, consciente de sua desordem e preocupada em recriar entre homens
e mulheres seus papéis.

35
A autora faz Breves ponderações sobre inseminação artificial e o significado disso

8:
para psicanálise (sem concluir absolutamente nada). Também faz algumas

:0
13
ponderações sobre a clonagem da ovelha Dolly.

1
02
/2
De forma bastante peculiar responde a provocação Inicial que deu origem a este livro

07
0/
ao afirmar que:

-2
Os homens assumiram assim um papel maternalizante no exato momento em

om
que as mulheres não eram mais obrigadas a serem mães porque de tinham

l.c
controle da procriação. O modelo familiar oriundo dessa reviravolta se tornou

ai
tm
desde então acessível àqueles que dela eram excluídos: os homossexuais.
ho
7@

8. A família do futuro
k9
ic
er

O último capítulo do livro inicia fazendo uma breve avaliação dos movimentos gays
m

da Califórnia, e afirma que Freud jamais ignorou o papel desempenhado pela tradição
ae
el

judaico-cristã na longa história das percepções físicas e Morais infringidas durante


-b

séculos aqueles acusados transgredir as leis da família.


0
-1

Apesar disso nunca abandonou a ideia de uma predisposição natural biológica para a
96
.4

homossexualidade e permaneceu convencido de que tanto para o homem quanto


26

para mulher o fato ser educado por mulheres ou por uma única mulher favorecia a
.0
31

homossexualidade
-1

Freud não categoriza a homossexualidade como uma perversão. E também


s
de

acreditava que não deveria gerar vergonha. Considerava a homossexualidade como


en

uma variação da função sexual provocada por uma irrupção do desenvolvimento


M
k

sexual.
ic
er
Em

Lacan via a homossexualidade como uma perversão: não como uma prática sexual
a
el

perversa, mas a manifestação de um desejo perverso comum aos dois sexos. A


ab

perversão é uma estrutura Universal da personalidade humana. Aos seus olhos o


Is

homossexual é uma espécie de perverso sublime da civilização obrigado a endossar a


identidade infame a ele atribuída pelo discurso normativo. Com isso não consegue de
forma alguma alcançar o status de neurótico comum sem atentar contra seu ser.
Perversão para Lacan é analisável mas nunca curável.

E qual será a Família do Futuro?


- nem a autora responde.

Você também pode gostar