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Desligue o celular e ligue o seu cérebro: manipulação, controle e destruição do ser humano

Pablo Muñoz Iturrieta


1ª edição — março de 2024 — cedet
Título original: Apaga el celular y enciende tu cerebro: Manipulación, control y destrucción del
ser humano
© 2023 Pablo Muñoz Iturrieta.
Publicado em acordo com HarperCollins Christian Publishing, Inc.
Gra a atualizada segundo o Acordo Ortográ co da Língua Portuguesa de 1990, adotado no
Brasil em 2009.
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Editores:
Ulisses Trevisan Palhavan
Gabriella Cordeiro de Moraes
Assistente editorial:
Lucas Gurgel
Tradução:
Natan Sales de Cerqueira
Revisão:
Julio Cesar Camillo Dias Filho
Preparação de texto:
Daniela Aparecida Mandú Neves
Capa:
Luis Henrique de Paula
Diagramação:
Virgínia Morais
Revisão de prova:
Natalia Ruggiero
Victor Helder Corrêa Figueiredo
Tamara Fraislebem
Conselho editorial:
Adelice Godoy
César Kyn d’Ávila
Silvio Grimaldo de Camargo
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Iturrieta, Pablo Muñoz.
Desligue o celular e ligue o seu cérebro: manipulação, controle e destruição do ser humano /
Pablo Muñoz Iturrieta; tradução de Natan Sales de Cerqueira — 1ª ed., Campinas, sp: Editora
Auster, 2024.
Título original: Apaga el celular y enciende tu cerebro: Manipulación, control y destrucción del
ser humano.
ISBN: 978-65-80136-28-5
1.Tecnologia 2. Mídia / Meios de comunicação
i. Título II. Autor
CDD — 306.46 / 302.23
   
1. Tecnologia — 306.46
2. Mídia / Meios de comunicação — 302.23

Reservados todos os direitos desta obra.


Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer meio ou forma, seja ela
eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer outro meio de reprodução, sem
permissão expressa do editor.
Sumário
I

U 

C I: A   

C II: A     

C III: C      

C IV: R    :  


 

C V: U    : 


    

C VI: T   :  


 

C VII: V  :      




C: U    

A

B

N  R
A meus pais.
Obrigado por me presentearem com uma infância sem televisão,
com muitos livros, ao ar livre, e por fazerem todo o possível para
que meu cérebro fosse ligado.

A geração que nasceu imediatamente após a Segunda Guerra
Mundial é provavelmente o grupo humano que experienciou mais
mudanças ao longo da vida. Nesses 70 anos, os lares que não tinham
aparelho de televisão ou máquina de lavar passaram a viver sob
controle da internet das coisas, submersos em uma realidade virtual,
adictos à tecnologia e já imersos em trabalho e educação virtuais
dentro do metaverso. Inclusive, a tecnologia promete um futuro que
pode soar alarmante: nada mais cômodo do que a aquisição de um
bebê virtual por uma assinatura mensal de baixo custo, que podemos
cancelar a qualquer momento, caso a criança perca o encanto ao
chegar à terrível fase dos dois anos... Você não tem amigos? Não
importa, pois a comunidade virtual lhe abrirá os braços e nela você
será bem-vindo e aceito. Mas isso nos faz mais humanos?

Essa é a pergunta que estará por trás de toda abordagem que zermos
neste livro. Os benefícios que a tecnologia nos trouxe são inegáveis,
mas até que ponto estamos dispostos a abandonar nossas capacidades
distintivas de seres humanos? Por acaso, a nós seria positivo perder a
memória em troca do serviço de uma nuvem virtual que “se lembra”
de tudo e está ao alcance de nossos dedos? Até que ponto seria parte
de nossa essência trocar toda a conexão real humana por um mundo
virtual onde tudo é feito sob medida para nossos sentimentos e nossas
necessidades? Até que ponto sabemos que essas são nossas
necessidades reais? Ou, melhor ainda, como saberá o algoritmo que
isso é o de que necessitamos psicologicamente para crescer como
pessoa? Como saber se não estamos sendo, na verdade, objeto de uma
total manipulação? E o que dizer de como a tecnologia tem afetado
nosso comportamento, nossa psicologia, nossas relações afetivas e
sociais? E se a tecnologia, em vez de nos libertar, estiver nos
transformando em prisioneiros de um mundo imaginário?
Nós vivemos em um mundo onde é quase impossível escapar da
tecnologia. Por isso, é mais do que necessário re etir sobre essa
variável, que irrompeu em nossas vidas e que as está condicionando de
uma maneira única. A tecnologia não é neutra em si mesma, pois seu
caráter ético não depende somente de seu conteúdo. Há algo ainda
mais profundo aí. “O meio é a mensagem”, disse Marshall McLuhan,
com razão, em 1964. Ou seja, a chave não está tanto no conteúdo, mas,
sim, no meio que o transmite. 1 Nesse sentido, a discussão deve
ultrapassar a questão do conteúdo ou da “democratização do
conhecimento” que a internet nos trouxe, por exemplo, e re etir sobre
o modo pelo qual as novas tecnologias (as novas mídias) têm
in uenciado as formas de agir, pensar e viver, o controle e a
manipulação, as emoções e tudo aquilo que signi ca ser humano.
Essas novas tecnologias nos ajudam a ser mais humanos? Ou há um
risco real de nos desumanizarmos cada vez mais? O celular, por
exemplo, um ponto culminante de décadas de pesquisa em aparatos de
tecnologia, tem facilitado enormemente as comunicações. Mas ele
apresenta graves perigos não tanto pelo conteúdo que possa transmitir,
mas pela forma como está modi cando as relações sociais, isolando-
nos uns dos outros. Paradoxalmente, aquilo que nos comunica
também é o que nos desconecta e isola.

No geral, aqueles que propõem uma nova tecnologia estão tão


focados em resolver um problema que, muitas vezes, negligenciam as
consequências de seu trabalho. Por exemplo, desconsideram o fato de
que a tecnologia implica um profundo juízo sobre como as coisas
deveriam funcionar e como a realidade deveria parecer. Por isso, a
intenção principal deste livro será abordar uma pergunta fundamental:
se o avanço tecnológico é inevitável ou, para ser mais preciso,
praticamente impossível de impedir, por que pôr freio à tecnologia e
re etir sobre ela? Por ora, nós oferecemos três motivos. O primeiro é
que você com certeza não quer ser dominado nem quer que dominem
os seus lhos. O segundo é que você foi chamado a ser o melhor ser
humano que possa ser, mas a mesma tecnologia que auxilia em tantas
coisas também pode estar refreando o seu desenvolvimento pessoal. O
terceiro é que nós podemos deduzir a existência de um claro propósito
de “desconstruir” aquilo que nos caracteriza como seres humanos,
com o intuito de podermos dar uma espécie de salto evolutivo por
meio da tecnologia.

Você já pensou nisso? Você já parou, em algum momento, para


analisar como, concretamente, a tecnologia que você usa o ajuda?
Parou para se perguntar: “Em que ela pode estar me prejudicando
como ser humano?”, levando em conta que ela afeta suas funções
cerebrais, sua vida afetiva e até mesmo sua constituição genética? Se
você ainda não parou para pensar nisso tudo, você não está sozinho.
Eu também não havia meditado sobre isso com profundidade até que
tive que pensar nas medidas que poderíamos tomar para proteger
nossos lhos dos perigos da internet e das redes sociais. Essa pausa e
essa re exão me foram de grande ajuda, tanto porque me zeram
valorizar ainda mais alguns aspectos de minha vida quanto porque
entendi muito melhor a importância de estabelecer certos limites.
Esses limites podem ajudar a potencializá-lo como ser humano, além
de livrá-lo da possibilidade de ser manipulado por outros, já que o
avanço tecnológico não ocorre sozinho, mas, sim, em um contexto de
marco ideológico concreto.

A manipulação e o controle constituem um tema geralmente


negligenciado por aqueles que propõem a in uência da tecnologia em
nossas vidas. As explicações simplistas abundam. São explicações que
ou se limitam a denunciar o uso mercantilista das tecnologias de
vigilância por mineração de dados pessoais, ou nos convidam a entrar
no mundo prometido e aceitar que não há como voltar na marcha do
progresso. No entanto, há outra realidade mais profunda. As grandes
empresas de tecnologia são, neste momento, as mais ricas e poderosas
do planeta (possuem cerca de 80% da riqueza corporativa) 2 graças a
uma variedade de fatores, entre os quais podemos mencionar:

a comercialização da inovação que o Estado custeia com os


impostos de seus cidadãos (, internet, telas touch), a
praticidade dos aplicativos (Waze, Kindle);
os componentes viciantes (jogos eletrônicos, TikTok, reels);
a facilidade de busca de informação (o Google responde por
90% das buscas); 3
o alcance populacional (74% dos usuários da internet no
mundo usam algum serviço da Meta); 4
o manejo da publicidade (Google e Facebook respondem por
90% em todo o mundo); 5
o uso de seus sistemas operacionais em nível mundial (95%
dos computadores usam sistemas da Microso e da Apple e
99,1% dos celulares usam sistema da Apple e do Google); 6
o comércio on-line (49,1% das vendas nos  no ano de
2021 ocorreram pela Amazon); 7
os serviços de informática e de armazenamento em nuvem (a
Amazon detém 33% do mercado mundial, à frente da
Microso, que detém 20%, e do Google, que detém 9%); 8
a internet via satélite e o futuro das comunicações (SpaceX)
etc.

Esses fatores levaram à concentração da economia e à desaparição de


metade das empresas de capital aberto, 9 em razão, em parte, de as big
techs terem usado seu tamanho para absorver ou destruir a
concorrência, terem empregado o sistema de publicidade em benefício
próprio (Google, Facebook e Amazon) e terem evadido o pagamento
de grandes somas em impostos mediante a relocação de fundos para
paraísos scais. 10 Mas esse não é o único problema.

Esses fatores não deveriam reduzir nossa análise do Grande Irmão 11


tecnológico a um mero efeito do consumismo, cuja ocupação principal
é o capitalismo, ou seja, a geração de riquezas por meio do sistema de
vigilância que ele mesmo criou e implementou. Uma crítica assim
reduziria o problema a um aspecto meramente mercantilista; ou seja,
por não considerar algo ainda mais profundo, seria super cial. A
realidade é que essas grandes plataformas tecnológicas se
transformaram em ferramentas tanto para manipular o tabuleiro
geopolítico internacional quanto para controlar as sociedades à sua
mercê e impor comportamentos especí cos a cada um de nós, muitos
dos quais perigosíssimos psicológica e siologicamente, conforme
analisaremos mais abaixo.

Esse capitalismo de vigilância, termo cunhado por Shoshana Zuboff,


12
alimenta-se da grande quantidade de informação e da extração de
dados pessoais, os quais são então analisados por algoritmos
(mineração de dados), que são capazes não apenas de prever o
comportamento futuro de uma pessoa, como também de transformá-
la e moldá-la com o intuito tanto de condicionar seu consumo quanto
de submetê-la a um determinado paradigma ideológico, conforme
argumentaremos neste livro. É aí que está o perigo do controle e da
manipulação do ser humano por meio da tecnologia. Zuboff expressa
uma crítica certeira porém super cial, pois reduz o problema a uma
questão mercantilista. Rod Dreher vai muito mais a fundo: “Porém, as
formas mais profundas do capitalismo de vigilância são muito mais
sinistras. Os mestres dos dados não estão apenas tentando descobrir
do que você gosta; agora, eles estão trabalhando para fazer com que
goste do que querem que goste, sem que suas manipulações sejam
detectadas”. 13 Mas o que é que esses gênios querem? E se o objetivo da
manipulação for a imposição de uma ideologia ou a desconstrução do
ser humano?

Na obra A dialética do sexo (1970), 14 a feminista canadense


Shulamith Firestone já havia sugerido que a tecnologia tinha um
objetivo cultural supremo: construir um mundo ideal dentro do
mundo real. Mas qual seria esse mundo ideal? Quem estabelece os
termos e as características desse mundo ideal que será trazido à
existência por meio da tecnologia? Que tipo de ser humano se
adaptaria a esse mundo futuro? E se nesse mundo futuro já não houver
lugar para o homo sapiens? O que será de nossos lhos? E se a base
ideológica sobre a qual a tecnologia atualmente se desenvolve apontar
para um mundo em que o ser humano não tenha lugar? É indiscutível
que a automatização está removendo o ser humano da maioria dos
postos de trabalho. Como será uma sociedade sem trabalho, com
renda básica universal e estupidi cada no metaverso? Seria possível
alcançar a plenitude pessoal em um contexto assim?

Para contextualizar a problemática, é importante conhecer a base


teórica sobre a qual se move grande parte do desenvolvimento
tecnológico atual. Hoje em dia, o problema central é a mudança
antropológica e a consequente destruição do ser humano, tanto pela
ideologia de gênero e o consequente reset cultural — problema de que
já tratei em obras anteriores — quanto pela transformação tecnológica
do ser humano sugerida pelo pós-humanismo e pelo transumanismo.
15
Na obra citada, Firestone propunha que o feminismo procurava
mudar uma condição biológica fundamental do ser humano: usar a
gestação arti cial para eliminar a procriação natural. 16 No entanto,
para que essas mudanças tecnológicas ocorram, é necessário um reset
cultural. O objetivo disso é, sem dúvida, uma nova visão do ser
humano, uma visão que busca destruir o próprio homem a m de
transcendê-lo. Essa é precisamente a proposição de Sergey Brin,
cofundador do Google, que, numa entrevista de 2004, propunha a
possibilidade de juntar toda a informação disponível na nuvem e
colocá-la no cérebro humano, de tal maneira que já não seria nosso
cérebro a realizar as funções cognitivas, mas, sim, “um cérebro
arti cial muito mais inteligente que o seu cérebro”. 17

As redes sociais e a internet irromperam em nossas vidas com uma


aparência de liberdade e espontaneidade, no entanto, sob essas
qualidades se esconde um mecanismo invisível, o algoritmo, que
favorece uma certa visão do ser humano. Por isso, é fundamental
re etir tanto sobre as consequências negativas do uso desmedido do
celular quanto sobre a possibilidade de sermos objetos de manipulação
ideológica. Hoje, estamos passando por um processo de manipulação
intelectual em grande escala, efetuado mediante a imposição de certas
mentiras, que se apresentam como verdade absoluta. Mesmo quando
nós conseguimos identi car os males ou perigos que nos rodeiam,
como evitar um nível de manipulação que, na maioria das vezes, é
inconsciente? Essa pergunta me levou a apontar, ao nal de um de
meus livros, uma série de conselhos a pais, jovens, adultos e líderes.
Entre essas recomendações, incluí uma frase que acabou viralizando:
“Tem que desligar a televisão e ligar o cérebro”. 18 A frase explodiu nas
redes sociais, um sinal de que eu não era o único que via um
problema. Não se passou muito tempo para que começassem a chover
para mim mensagens de estudantes, pais de família e pro ssionais que
haviam posto em prática o conselho e haviam experimentado
mudanças muito positivas em sua vida. Uns disseram que desde então
tinham mais tempo para estudar, outros estavam mais produtivos no
trabalho e já não se cansavam tanto, outros viram mudanças muito
positivas dentro da família: mais diálogo, menos brigas, mais
criatividade. Desligue o celular e ligue o cérebro.

É interessante assinalar que os que conhecem a indústria da


tecnologia por dentro — os que trabalham em empresas como
Microso, Google, Facebook, Twitter 19 ou Instagram — não
permitem que seus lhos usem redes sociais, bem como limitam o
tempo de tela, além de recomendarem que não sejam dados aparelhos
eletrônicos a menores de 16 anos. Inclusive, muitos desses engenheiros
sequer possuem esses aplicativos em seus próprios aparelhos celulares.
20
Steve Jobs criou o iPad, mas nunca permitiu que seus lhos o
tivessem enquanto fossem menores de idade, segundo revelou, em
2010, numa entrevista ao New York Times: “Nós limitamos o uso de
tecnologia em nossa casa”. 21 Bill Gates se vale da mesma loso a: raras
vezes deixou que seus lhos passassem tempo com os produtos que ele
mesmo ajudou a criar. 22 Enquanto milhares de crianças e adolescentes
cam presos ao Snapchat por horas todo dia, Evan Spiegel, fundador e
 da empresa, só permite 90 minutos semanais de tempo de tela
para seu lho. 23 A mesma história se repete no lar de Sundar Pichai,
 do Google: seu lho não tem celular, e o tempo que passa em
frente à televisão é limitado e acontece sob a condição de que faça
exercício físico primeiro. 24 Como isso pode acontecer se Pichai é
quem dirige a empresa que está situada na vanguarda da revolução
tecnológica? O que é que eles sabem sobre seus próprios produtos
tecnológicos que os consumidores desconhecem? Ou, por trás desses
produtos, há qual agenda, já que eles a conhecem e não querem que
seus lhos sejam vitimados por ela? Ou será que eles seguem a regra
básica do narcotra cante: “Nunca se vicie na própria mercadoria”? 25
Falaremos disso ao longo deste livro, mas, se você já estiver
começando a se preocupar, saiba que os executivos do Vale do Silício
têm os mesmos dilemas e preocupações acerca de seus lhos.

Nós devemos questionar algo mais profundo do que a hipocrisia


daqueles que dirigem as big techs, criando produtos que sabem fazer
mal a nossos lhos. A re exão de nossa parte deve tomar um critério
central quando usamos a tecnologia: como nos manter humanos?
Como não perder o bom senso? Como não ser manipulados? Isso foi o
que me levou a pensar na importância de “ligar o cérebro” e re etir.
Ou seja, em que circunstâncias a tecnologia busca “desligar o cérebro”?
Existiriam mesmo mecanismos tecnológicos que buscam não apenas
nos vigiar, mas também manipular o ser humano, ou não passaria isso
de teoria da conspiração? Existiria uma espécie de “tirania” dos
algoritmos e da inteligência arti cial? 26 É nesse contexto em que o
convido a desligar a televisão, desligar o celular e desconectar-se
conscientemente de toda distração para poder adentrar nestas páginas
e, sobretudo, a não esquecer de ligar o seu cérebro.

Se você se encanta com a tecnologia, não se preocupe. Isso é normal.


Esta não será uma análise em que a tecnologia e as redes sociais serão
demonizadas, em que você será convidado a viver em isolamento de
estilitas. 27 Contudo, desde já, este livro, sim, tem a intenção de fazer
você reconsiderar muitas coisas; inclusive, ele o convidará a
redesenhar sua vida se isso for o melhor para você, para sua família ou
para sua comunidade. São incalculáveis os benefícios que a tecnologia
nos oferece, mas você também está ciente de que ela lhe rouba tempo
valioso? Se você é pai ou mãe de família, você gostaria que seus lhos
fossem manipulados ou talvez até mesmo fracassassem no futuro?
Obviamente não, razão pela qual eu lhe ofereço aqui conselhos que, se
forem aplicados, farão com que seus lhos tenham a oportunidade de
desfrutar de uma infância mais feliz e de um futuro que, na medida do
possível, esteja sob o próprio controle deles.

A pergunta, então, é a seguinte: somos nós que impomos nossos


termos à tecnologia ou, em vez disso, são os avanços tecnológicos que
se impõem sobre nós e nossos lhos sem nenhum questionamento? O
que vamos fazer a seguir, portanto, é uma re exão losó ca e
psicológica sobre a tecnologia, mas também sobre quem somos como
seres humanos e sobre como ela talvez possa estar afetando nosso
desenvolvimento, nossas emoções, nossa racionalidade, nosso controle
pessoal e caráter. Esses são alguns elementos que nos distinguem como
humanos, motivo pelo qual é de vital importância estarmos
conscientes de nossa humanidade, da realidade que nos rodeia e das
tentações e dos enganos do mundo virtual, que, muitas vezes,
mostram-se a nós como o escape fácil das di culdades típicas da
experiência humana.

O que você vai aprender com este livro? Nós ingressaremos numa
re exão losó ca que, espero, levará à tomada das medidas
necessárias para que a tecnologia não controle você. Assim, você
poderá experimentar uma nova faceta da liberdade que, pouco a
pouco, estamos perdendo como seres humanos.

Desligue o celular, ligue o cérebro e desfrute.

 
E ulivrolhe eproponho realizar este experimento enquanto for lendo o
eu o convido a voltar para esta página quantas vezes for
necessário para re etir sobre ele.

Primeiro. Antes de começar, faça um acordo consigo mesmo: quanto


você quer avançar todo dia? Talvez você queira estabelecer como
objetivo um certo número diário de páginas para concluir o livro em
determinada data. Talvez você pre ra lê-lo pausadamente,
independentemente de quanto você avança. Nesse caso, por quanto
tempo você prefere ler sem pausa a cada vez? Pense nas duas opões e,
qualquer que seja a sua escolha, anote-a aqui mesmo com um lápis e
revise-a a cada vez que retomar a leitura.

Segundo. Re ita todo dia e tome nota de quanto lhe custou cumprir o
objetivo. Inclusive, você pode deixar um registro de sua luta interior.
Anote quais são as coisas que o impulsionam a parar a leitura. A
internet, as redes sociais e o celular estão afetando processos
cognitivos, ainda que seja custoso reconhecer isso. Você notará isso
enquanto estiver querendo cumprir o propósito que você acaba de
estabelecer. Seu cérebro experimentará processos químicos que
exigirão mais doses de dopamina, o mesmo elemento químico que seu
cérebro libera toda vez em que você está diante de uma tela. Isso o
forçará a se distrair, a não poder se concentrar, a esquecer do que
acabou de ser lido porque sua mente estava em outro lugar. Por isso, é
importante realizar esse “contrato pessoal”. Ele será a chave no
momento de sua luta interior pelo cumprimento de seus objetivos.

Terceiro. Talvez a única solução aos problemas cognitivos que você


esteja experimentando seja desligar o celular durante o espaço de
tempo proposto. Não queira se convencer de que talvez seja melhor
deixá-lo ligado para poder “lutar” e vencer. Você deve entender que,
quando o cérebro já foi “formatado” pela tecnologia, é necessário
desintoxicá-lo se ausentando dela. Assim como um alcoólatra não luta
contra seu vício com uma garrafa diante de seus olhos, assim também
o melhor modo de lutar contra a inclinação do uso excessivo do
celular é deixá-lo ausente. Também não acredite que, por já ser adulto,
você está imune à transformação causada pela tecnologia. Nosso
cérebro tem uma plasticidade tal que ele não está imune a nenhuma
mudança.

Quarto. Você tem lhos? Se sim, enquanto você lê estas páginas,


também pense neles e no desenvolvimento humano deles. Aplique o
aprendizado em seu lar. Eles só terão a agradecer-lhe no futuro, assim
como eu hoje agradeço a meus pais.
 :   

A tecnologia está tão presente em praticamente todos os aspectos de
nossas vidas, que ela se tornou uma variável indiscutível dentro
das dimensões que se estendem ao longo do tempo e do espaço: a
economia, a política e a cultura. 28 A tecnologia está tão imbuída na
economia, que não há nenhum elemento da cadeia produtiva que
prescinda dela — uma pane na tecnologia representaria o colapso
nanceiro de um país. 29 A tecnologia também realiza hoje um papel
importantíssimo na política e na cultura de uma nação, como veremos
mais adiante. No entanto, em um nível mais pessoal, a tecnologia está
impactando fortemente o indivíduo, tanto que ameaça destruir
elementos caracteristicamente humanos em cada um de nós. Certos
avanços tecnológicos representaram uma transição no modo de pensar
do homem e tiveram um efeito negativo em nossas funções cognitivas
e volitivas. É nisso que nos aprofundaremos ao longo deste capítulo.

O que é a tecnologia?
Para começar, é necessário primeiro perguntar: o que é a tecnologia?
Ainda que pareça óbvio, a grande maioria das pessoas não sabe de nir
o termo e limita-se a apontar para algum exemplo concreto. Quando
z essa pergunta, mais de uma pessoa já me respondeu apontando
para o próprio aparelho celular, dando mostras de que jamais havia
re etido sobre o tema.

Os gregos nos legaram a palavra tecnologia, bem como a maioria dos


termos técnicos de nosso idioma, graças a esse afã losó co de pensar
e re etir sobre tudo o que faziam. Esse intento intelectual de aplicar o
conhecimento à produção se traduziu na linguagem como tecnologia,
que signi ca o discurso ou ciência sobre a arte, o construir, o técnico.
30
Nesse sentido, a tecnologia se entende como a transformação do
saber em uma aplicação concreta de algo considerado útil e funcional,
uma ferramenta física ou virtual que facilita a realização de uma
operação.

O Dicionário da Real Academia de ne tecnologia como o “conjunto


de teorias e de técnicas que permitem o aproveitamento prático do
conhecimento cientí co”. 31 Obviamente, essa de nição ressalta a
aplicação do conhecimento resultante do método cientí co, mas nós
não podemos deixar de lado a aplicação do conhecimento
experimental das pessoas comuns. De fato, o primeiro e mais claro
exemplo de tecnologia são as ferramentas, pois elas foram as primeiras
aplicações técnicas do conhecimento. Esses instrumentos são
característicos e distintivos do ser humano, que, desejoso de
simpli car processos e realizar tarefas mais facilmente, inventou
artefatos e mecanismos para cumprir funções especí cas. 32 Dentro
desse campo entra também a escrita, uma tecnologia que permitiu
revolucionar o conhecimento, mas que em seguida sofreu outra
revolução quando da invenção da imprensa. Esta revolução está, ela
mesma, sendo deslocada pela revolução trazida pela internet e pela
realidade virtual.

Segundo Aristóteles, que é a quem devemos a invenção do termo


tecnologia, o intelecto humano interage com dois tipos de realidades:
aquelas que não mudam, por serem verdades imutáveis (por exemplo,
os princípios matemáticos), e aquelas que mudam, como as
vicissitudes de cada dia. 33 Pensar em coisas abstratas que não mudam
(como a tabuada) não é o mesmo que ter de decidir quais refeições
preparar para a semana, como projetar o design interior de uma
cozinha ou, mais importante ainda, escolher se devo ou não me casar
com certa pessoa. Visto que o intelecto humano consegue realizar
operações tão distintas entre si, Aristóteles diferencia intelecto
especulativo ou teórico de intelecto prático. 34 A tecnologia, segundo
Aristóteles, pertence a essa segunda atividade do intelecto, que tem a
ver com realidades contingentes (ou seja, mutáveis, que podem
ocorrer ou não). Para ser ainda mais preciso, Aristóteles distingue dois
tipos de virtudes, ou modos de atuar, características do intelecto, o que
nos ajudará a entender o que é a tecnologia e como enquadrá-la no
modo de ação humano.

A primeira virtude do intelecto prático é a prudência, ou seja, a


sabedoria prática no momento de agir, de tal maneira que, por meio
da re exão e da experiência, escolhemos a melhor opção e agimos da
melhor maneira em cada circunstância. 35 A prudência tem a ver com
o proceder humano, não com a feitura ou a construção de algo. Essa
primeira virtude é a capacidade que desenvolvemos toda vez que
discernimos, raciocinamos e nos damos conta de que, por exemplo, é
melhor construir uma casa sobre a rocha do que sobre a areia.
Entretanto, quando é hora de erigir essa casa, de planejá-la, de
conceber mecanismos para cortar a madeira, ligar vigas e fazer telhas
para o teto, também vamos precisar de outra virtude prática, uma que
tenha a ver com “fabricar” algo.

Essa segunda virtude apontada por Aristóteles é a técnica, uma


disposição da inteligência que nos leva a produzir algo com base no
raciocínio. 36 A aplicação da inteligência e do raciocínio à produção de
algo é o que Aristóteles chama de tecnologia, a qual, em sua produção,
algumas vezes imita a natureza, ao passo que, em outras ocasiões,
aperfeiçoa e leva a cabo aquilo que a natureza não pode realizar por si
mesma. 37 Por exemplo, um carpinteiro constrói uma casa, a exemplo
das aves construtoras de ninhos. No entanto, em outro caso, um
médico aplica um remédio para acelerar o processo de cura em uma
pessoa ou, então, elabora um antibiótico para ajudar o corpo a
eliminar uma bactéria e, assim, curar-se mais rapidamente. A
tecnologia é, portanto, o conhecimento aplicado ao campo da
produção de um artefato distinto daquilo que é naturalmente
produzido pela natureza. 38 A técnica, contudo, é uma virtude ou
capacidade que, no esquema aristotélico das virtudes, deveria estar
submissa à prudência, de tal maneira que o ser humano use a
tecnologia para o próprio bem, não que ele seja controlado e
dominado por ela, como aprofundaremos mais adiante.

Com base nessas distinções que se fundamentam na realidade e na


natureza do ser humano, Aristóteles categoriza os três ramos da
aprendizagem, os quais ele chama de ciências, de onde ele especi ca o
lugar da tecnologia. A ciência teórica busca o conhecimento por seu
próprio valor, sendo dividida, segundo seu objeto de estudo, em
metafísica, matemática, física e loso a da natureza: biologia,
botânica, astrofísica etc. A ciência prática tem a ver com
comportamentos e ações humanos, entre os quais encontramos a ética
e a política. Finalmente, a ciência produtiva tem a ver com a
elaboração e a criação de objetos úteis e belos. Aqui, nós encontramos
não somente a construção de navios, a agricultura, a medicina e a
arquitetura, mas também as artes (música, teatro e dança) e a retórica,
que estuda os princípios da fala e da persuasão. 39

A tecnologia, portanto, é uma das várias ciências práticas, por meio


da qual elaboramos métodos para construir artefatos físicos ou virtuais
e, assim, expandir nossas capacidades de controlar nossas
circunstâncias e limitações naturais, temporais, geográ cas e sociais.

Os tipos de tecnologia
Uma análise de todos os avanços tecnológicos da história da
humanidade nos leva a agrupá-los, segundo Nicholas Carr, um crítico
de tecnologia, em quatro categorias básicas, que têm como
fundamento a pretensão de superar certas limitações humanas. 40

Em primeiro lugar, há tecnologias que buscam expandir nossas forças


e habilidades físicas, que vão desde a invenção das ferramentas mais
primitivas às ferramentas mecânicas e eletromecânicas, desde a
máquina de lavar e outros eletrodomésticos aos veículos elétricos,
desde a indústria armamentista aos sistemas de defesa aérea (como o
Iron Dome) 41 e à automação de processos industriais.
Um segundo grupo de tecnologias nos ajuda com nossas limitações
sensoriais, como os óculos de grau, o microscópio, os detectores de
movimento, de calor e de fumaça, os sistemas infravermelhos e os de
visão noturna, a tecnologia avançada de imagens (scanner corporal em
aeroportos) etc.

Outro grupo de tecnologias tem a intenção de moldar a natureza, e é


aqui que nos encontramos com as tecnologias que têm a ver com a
reprodução humana, a biotecnologia e a bioengenharia, o biohacking e
a engenharia genética somática e seminal etc.

Um quarto grupo de tecnologias está relacionado àquelas


ferramentas que estendem nossas capacidades intelectuais, que vão
desde o relógio e o mapa até a escrita, a imprensa, os livros, os jornais,
a máquina de escrever e o Kindle, 42 do código Morse ao
reconhecimento de voz da Siri e da Alexa, do ábaco à calculadora, do
telégrafo às ondas de rádio, jornais, a internet e a comunicação via
satélite.

A essa classi cação nós poderíamos acrescentar outro tipo de


tecnologia, as chamadas tecnologias convergentes, ou seja, aquelas
desenhadas para cumprir diferentes funções e propósitos e que,
embora separadas sejam pertencentes a algum dos quatro grupos, se
unidas, oferecem “novas aplicações para a solução de problemas
transversais, ou comuns, que, gradualmente, acabam integrando-as
tanto que as uni cam”. 43 Essas tecnologias estão no centro da
revolução tecnológica atual, e sua categorização foi proposta por
William Bainbridge e Mihail Roco, na obra Converging technologies
for improving human performance [Tecnologias convergentes para
melhorar o desempenho humano]. 44 As tecnologias convergentes, por
sua vez, combinam-se em quatro grupos de ciências e tecnologias: a)
nanociência e nanotecnologia; b) biotecnologia e biomedicina
(engenharia e edição genética ); c) tecnologia da informação
(informática avançada e comunicações); e, nalmente, d) a ciência e a
neurociência cogni tivas. 45 Exemplos dessas tecnologias convergentes
são a inteligência arti cial e a aprendizagem automática (machine
learning), a biologia sintética, 46 a robótica, a computação quântica, o
blockchain, a internet das coisas, a impressão 3, o desenvolvimento
de próteses e o chip cerebral, a engenharia de dados (o big data) e a
computação na nuvem digital, a computação quântica, as
humanidades digitais etc.

Todos esses exemplos são parte dessa grande história que,


seguramente, não culminará com o metaverso e com a realidade
virtual imersiva, mas cujos avanços poderiam signi car um retrocesso
e até mesmo a terceirização ou destruição de características próprias
do ser humano. 47 Isso se deve ao fato de que a tecnologia tem
tradicionalmente se limitado a melhorar o entorno do ser humano, no
entanto um número de tecnologias convergentes já está tendo um
enorme impacto nas nossas vidas, alterando não apenas a maneira
como nos comunicamos, produzimos, consumimos e nos
reproduzimos, mas também a nossa própria identidade, segundo a
visão de Klaus Schwab e sua Quarta Revolução Industrial. 48

Contribuições positivas da tecnologia


À primeira vista, parece inegável que o ingresso da tecnologia na
história da humanidade deixou nossa vida mais fácil. Isso ca evidente
ao considerarmos a industrialização da produção, as comunicações e o
transporte, além de ela ter melhorado notavelmente nossa qualidade
de vida em termos materiais. A tecnologia nos tornou mais efetivos,
pelo menos à medida que empregamos bem esses avanços
tecnológicos, e que eles funcionem (todos nós podemos nos lembrar
de algum momento em que o sistema operacional falhou, consumindo
horas de nosso tempo e, em muitos casos, ao se tratar de uma empresa
ou de um país inteiro, causando perdas milionárias). No entanto,
quando o economista inglês John Maynard Keynes previu, em 1930,
que, graças aos avanços tecnológicos, no século , nós só
trabalharíamos 15 horas por semana, ele não levara em conta que as
maiores mudanças signi cariam um impacto real não tanto nas horas
do ambiente de trabalho, mas principalmente no ambiente doméstico.
49
Quem bene ciar-se-ia seria a família, graças à introdução das
tecnologias no lar, que, segundo o economista Ha-Joon Chang,
mudaram o mundo muito mais do que a internet. 50

Embora, num primeiro momento, a observação de Chang possa soar


um pouco exagerada, ninguém poderá negar, por exemplo, que a
invenção da máquina de lavar e a introdução dos eletrodomésticos, do
forno a gás, do aspirador de pó e do ferro de passar signi caram uma
gigantesca economia de tempo e energia para a família, sobretudo para
as mães, tendo reduzido os afazeres do lar entre 4 e 8 horas semanais
desde 1965 até o dia de hoje. 51 Basta notar que, em 1930, eram
necessárias cerca de 60 horas semanais de trabalho doméstico para
manter o lar em forma. 52 Além de desmentir a acusação feminista de
que a mulher era relegada aos trabalhos domésticos por um simples
capricho masculino, quando, na verdade, era a própria realidade do lar
que se impunha com todas as tarefas que ela exige, a introdução das
tecnologias do lar signi cou uma força libertadora para a mãe, que
desde então poderia dispor de mais tempo, seja para estar com seus
lhos, seja para ir trabalhar ou realizar outras atividades. 53 E não foi
exatamente o feminismo que introduziu os eletrodomésticos, nem foi
seu clamor que deu lugar a essas tecnologias.

A geladeira é hoje considerada um artigo de absoluta necessidade.


Mas pensemos como seria não termos ao alcance esse grande
elemento tecnológico, que adentrou os lares dos  a partir de 1920.
54
Não muito longe de minha cabana, aqui nos bosques canadenses,
tenho um testemunho vivo dessas épocas muito mais difíceis, que
nossos antepassados tiveram de suportar há apenas 100 anos. Sozinha,
e como testemunho do passado, ergue-se uma pequena cabana sem
nenhum tipo de janela ou sistema de ventilação. Seu nome testi ca seu
passado: é a casa de gelo. Assim funcionavam os refrigeradores do
passado, embora somente nas regiões em que era possível congelar
água em certas épocas do ano. Durante o frio do inverno, retiravam
água da encosta e a derramavam dentro de estruturas quadrangulares
de madeira para que, ao longo da noite, a água se transformasse em
gelo sólido. Quando completamente congelados, os blocos de gelo se
transportavam ao interior da cabana, onde eles eram empilhados entre
palha e sacos de pano junto à comida, que seria, então, conservada ao
longo do ano. O gelo tinha que durar até o inverno seguinte; do
contrário, tudo o que estava armazenado seria perdido. Isso era
impossível de ser feito em lugares quentes ou, pelo menos, não
su cientemente frios para formar gelo. Imagine estar subitamente
desprovido de tudo o que você guarda em sua geladeira: você verá
como era difícil a vida antes da invenção de outra tecnologia que veio
revolucionar nossas sociedades: a eletricidade.

A produção e a centralização da corrente elétrica, somadas à criação e


à adoção das tecnologias domésticas na primeira metade do século ,
além da irrupção da internet em praticamente todos os lugares de
nossas vidas, são, sem dúvida nenhuma, um testemunho de como a
tecnologia pode facilitar imensamente a vida em muitos aspectos. No
entanto, isso também é um alerta de que o progresso em questões
tecnológicas não signi ca necessariamente progresso humano. Seria
possível que, em algumas circunstâncias, a tecnologia também tenha
um lado desumanizador?

O mito de Tamos
Quando comecei a planejar a estrutura do presente livro,
imediatamente me veio à memória um texto que li pela primeira vez
na adolescência e que então passou a fazer mais sentido do que nunca.
Na Antiguidade, os gregos já haviam sugerido que avanços
tecnológicos poderiam signi car retrocesso humano. É interessante
que, mesmo antes de McLuhan, Platão já havia indicado que uma
tecnologia poderia não somente ser um meio de comunicação de
ideias, mas também, na qualidade de meio, afetar as capacidades
cognitivas dos seres humanos, especialmente, a memória. Tudo tem
seus prós e contras; a questão é re etir, discernir e agir de modo
consequente. É quanto a isso que Platão já advertia no famoso diálogo
com Fedro, no decorrer do qual o lósofo grego tenta assentar os
verdadeiros princípios da arte da palavra, que havia sido transformada
pelos so stas na arte da enganação e em instrumento de cobiça e
dominação. O relato de Platão, pela boca de Sócrates, refere-se à arte
da linguagem e da escrita, mas a sua re exão não deixa de ser
importante para nossa análise da tecnologia e do processo de
desumanização, vigilância e controle de que podemos ser vítimas. O
diálogo entre Sócrates e Fedro nos é relatado por Platão:

Sócrates: Posso revelar alguma coisa que ouvi dos antigos, embora se
é verdadeiro só eles sabiam. Entretanto, se pudermos descobri-lo nós
mesmos, haverá razão para continuarmos a nos importar com
opiniões humanas?

Fedro: Essa seria uma pergunta ridícula. Mas relata-me o que


declaras ter ouvido.

Sócrates: O que ouvi foi que em Náucratis, no Egito, havia um deus,


um dos mais antigos do país, ao qual a ave consagrada é chamada de
Íbis. O nome desse deus era oth. Foi ele que primeiramente
concebeu os números, o cálculo, a geometria e a astronomia, além do
jogo de damas, os dados e — o mais importante de tudo — as letras.
Ora, o rei de todo o Egito naquela época era Tamos, que vivia na
megalópole da região superior chamada pelos gregos de Tebas
egípcia, a qual estava sob a proteção do deus que eles chamavam de
Amon. A este dirigiu-se oth para mostrar suas invenções, alegando
ele que deviam ser distribuídas entre outros egípcios.

Tamos, entretanto, perguntou-lhe acerca dos usos de cada uma delas


e à medida que oth indicava seus usos exteriorizou louvor ou
censura, com base em sua aprovação ou reprovação. A história relata
que Tamos declarou muitas coisas a oth, elogiando ou censurando
as várias artes, o que seria excessivo aqui repetir; todavia, quando ele
apresentou as letras, disse oth:
— Isto, ó rei, uma vez aprendido tornará os egípcios mais sábios e
aprimorará suas memórias: trata-se de uma poção para a memória e a
sabedoria por mim descoberta.

Tamos, contudo, respondeu:

— Sumamente engenhoso oth, uma pessoa é capaz de conceber as


artes, mas a capacidade de julgar de sua utilidade ou nocividade aos
que farão uso delas cabe a uma outra pessoa. E tu, agora, pai das
letras, foste levado pelo afeto a elas a conferir-lhes um poder que
corresponde ao oposto do poder que elas realmente possuem. O fato
é que essa invenção irá gerar esquecimento nas mentes dos que farão
o seu aprendizado, visto que deixarão de praticar com sua memória.
A con ança que passarão a depositar na escrita, produzida por esses
caracteres externos que não fazem parte deles próprios, os
desestimulará quanto ao uso de sua própria memória, que lhes é
interior. O que descobriste não é uma poção para a memória, mas
sim para a evocação; proporcionarás aos teus discípulos a aparência
da sabedoria, mas não a verdadeira sabedoria, porque lerão muitas
coisas sem se instruírem, com o que parecerão conhecer muitas
coisas, mas na realidade permanecerão majoritariamente ignorantes,
incapazes de acompanhar essas matérias, visto que não são sábios,
mas tão só parecem ser sábios. 55

Alguma vez já lhe ocorrera que a escrita poderia signi car um


retrocesso da memória ou já se considerou um sabe-tudo depois de ler
algum dado desconhecido? Esse diálogo de Platão ocorre num
momento em que a escrita era, de fato, uma nova tecnologia. Por isso é
que o mito egípcio referenciado por Platão é uma defesa da loso a
como atividade que somente se pode alcançar verdadeiramente por
meio do diálogo e da vida em comum, cara a cara. As obras de Platão
estão compostas em forma de diálogo e deixam em evidência que a
loso a afeta a pessoa humana em sua totalidade, cultivando a
memória, a capacidade de abstração, a agilidade mental, moral e
política, o que só se consegue com tratamento direto. 56 Segundo
Platão, quem aprende loso a pela leitura não chegará muito longe,
pois lhe faltará esse elemento essencial que só se pode alcançar pela
dialética.

Além disso, está claro que alguém só sabe verdadeiramente algo


sobre qualquer questão em particular quando é capaz de explicá-la
com suas próprias palavras e de maneira clara e convincente. Ou não é
verdade que aulas ou conferências nas quais o preletor meramente lê
seu discurso não nos produzem um grande tédio? Será que realmente
sabem do que estão falando? Foram eles mesmos que o escreveram?
Os discursos políticos são, em maioria, tediosos graças ao fato de que
são escritos por terceiros, limitando-se os governantes a ler algo que
lhes é alheio (ou a gritar se não têm nada que dizer). 57 Pior ainda são
aqueles acadêmicos falastrões, que, com um linguajar complexo e
contraditório, dão aparência de sabedoria, mas cujo único propósito
com tanta obscuridade é esconder o fato de que não sabem nada.
Platão nunca entenderia como chegaram a assumir a posição em que
se encontram... Acerca deles, diria o sábio:

Sócrates: A escrita, Fedro, apresenta esse estranho aspecto, e nisso


verdadeiramente muito se assemelha à pintura. De fato, os rebentos
da pintura se colocam como se fossem seres vivos, mas se alguém lhes
indaga alguma coisa, permanecem num solene silêncio. O mesmo
ocorre com as palavras escritas: é possível que imaginasses que falam
como se possuíssem algum entendimento, mas se tu as interrogares,
no anseio de conhecer o que dizem, se limitarão a dizer sempre uma
só e mesma coisa. 58

Por ser a escrita uma tecnologia nova para a época, Platão chegou a
apelidar Aristóteles de o leitor, talvez pejorativamente, em virtude da
avidez com que ele devorava os livros da Academia. 59 Na Antiguidade,
a escrita auxiliava a palavra falada, mas nunca a substituía. As grandes
obras da Antiguidade eram escritas apenas para serem memorizadas.
Pensemos, por exemplo, na Ilíada e na Odisseia, ambas de Homero,
que, inseridas numa cultura na qual o conhecimento e os relatos eram
transmitidos oralmente, eram memorizadas do início ao m. Sócrates,
por sua vez, não precisava da escrita para losofar e transmitir seu
pensamento, já que seus alunos memorizavam suas palavras. Por isso,
é possível entender por que o rei egípcio critica a criação da escrita
como invenção que melhoraria os homens. Ela não os deixará mais
sábios, diz o rei, pois quem xa sua atenção nas palavras não exercita a
memória e, portanto, só obterá o esquecimento.

A transição tecnológica e o ser humano


Platão (427–347 a.C.) viveu em um momento crucial de transição
tecnológica, no qual “a relação entre o logos falado e o logos escrito se
tornou tema de calorosas discussões”. 60 Essa tensão é evidente no
próprio Platão, que, ao mesmo tempo em que relata o mito egípcio
como crítica à escrita, põe seus diálogos e suas obras losó cas por
escrito, o que é uma prova clara de que o lósofo não rechaçou a nova
tecnologia da escrita. Mas a realidade é que, há até pouco tempo, a
tradição oral gozava de certa prioridade sobre a palavra escrita. A
escrita era mais uma técnica de suporte à palavra, além de ser uma
técnica bastante recente na época de Platão, uma vez que o primeiro
alfabeto fonético completo não fora desenvolvido na Grécia até o ano
750 a.C. 61 Inclusive, a transição tecnológica à palavra escrita não
ocorreu senão muitos séculos depois disso, tendo sido esse mesmo
alfabeto grego o modelo para o alfabeto latino e para o cirílico, os
quais abarcam todas as línguas ocidentais. E assim é que a
compreensão da escrita como “meio” acabou sendo fundamental na
transformação intelectual do Ocidente, passando de uma cultural oral
para uma cultura escrita.

Para apreciar isso, devemos entender como a língua é natural à


espécie humana, embora não o sejam a escrita e a leitura, tornadas
possíveis apenas pelo emprego de tecnologias, tais como o alfabeto, os
hieróglifos e os caracteres. E aqui se entende melhor o que McLuhan
dizia a respeito de como os efeitos da tecnologia afetam a percepção
humana de uma maneira imperceptível e sem resistência. 62 Nossa
inteligência foi condicionada para traduzir as letras e palavras para a
língua que usamos todos os dias, ou seja, é necessário aprender a ler e
escrever, algo que se aperfeiçoa tanto lendo quanto escrevendo. Além
disso, a leitura nos condiciona de tal maneira que é possível comprovar
empiricamente que os sistemas neurais de uma pessoa analfabeta
diferem dos de uma pessoa que sabe ler, assim como os circuitos
neurais de pessoas que usam caracteres para a escrita (o mandarim e o
cantonês) diferem dos de pessoas que usam um alfabeto. 63

A palavra escrita acabou se impondo durante o Medievo, época em


que a palavra, oral ou escrita, passou a ser concebida como signo, ou
seja, como um intermediário cognitivo entre o sujeito e o objeto e
entre aquele que narra e sua audiência. Por isso, o ensino elementar
dessa época se concentrava sobretudo em disciplinas como a
gramática, a retórica e a dialética, por meio das quais se ensinava a ler,
a escrever e a pensar em latim, seguindo uma ordem lógica que viria a
ter um grande impacto no desenvolvimento intelectual e cultural do
Ocidente. 64 Ainda não existia a imprensa, mas a técnica de escrever
livros se expandiu nessa época, o que facilitou tanto a transmissão de
conhecimento, que a leitura se transformou num meio de instrução
pessoal. Era notável o impacto dessa tecnologia no córtex visual do
leitor, o qual passou a ser capaz de até mesmo reconhecer, em um
milésimo de segundo, as formas de letras, palavras e seus sentidos. 65

Essa transformação intelectual em favor da tradição escrita liberou,


de certa maneira, o ser humano da dependência da memória
individual e das estruturas linguísticas necessárias para poder recordar
uma grande quantidade de informação. Além disso, ela também
aperfeiçoou a capacidade de prestar atenção e de se concentrar. E é
aqui, num contexto de radicais mudanças culturais, que entra em cena
uma das tecnologias mais importantes da história: a imprensa.

Johannes Guttenberg (1400–1468) foi o visionário que, durante dez


anos, projetou uma máquina para automatizar a produção de folhas
escritas, substituindo para sempre o trabalho milenar dos escribas.
Lamentavelmente, seu negócio foi um fracasso porque, após três anos,
cou sem dinheiro para pagar os juros do empréstimo, uma vez que,
até então, só havia impresso 200 cópias da Bíblia. 66 No entanto, a sua
invenção abriu a porta para a possibilidade de comunicação em massa
e para as transformações culturais re etidas pelo Renascimento, pela
reforma e pelo iluminismo, os quais, com o tempo, mudaram até
mesmo a maneira de pensar e conceber a realidade. 67

Cinco séculos depois, a imprensa deixou de ocupar esse especial


lugarchave dentro da vida intelectual do Ocidente para dar lugar à
“revolução eletrônica”, 68 ou seja, a uma série interminável de produtos
que já não buscavam, acima de tudo, formar o ser humano, senão
meramente entretê-lo e mantê-lo distraído. Foi a combinação de
corrente elétrica (introduzida em 1882), invenção da máquina
fotográ ca (1839) e ondas de rádio (1895) que introduziu a primeira
onda de meios eletrônicos: o fonógrafo (1877), o cinema (1895), o
rádio (1897) e a televisão (1927). Assim, bastaram 100 anos de
bombardeamento propagandístico e visual para transformar
profundamente não somente a cultura mas também o modo de viver e
de se comportar dos humanos. No entanto, quando essa revolução
eletrônica pensava estar no apogeu de seu esplendor, a introdução da
internet veio para transformar absolutamente tudo. É importante
notar que a transformação produz a si mesma, propriamente falando,
de forma que a internet acabará substituindo os meios tradicionais,
mas em si mesma constituirá uma continuação das tendências
intelectuais e sociais que apareceram com os meios eletrônicos do
século , vindo para aprofundar a cultura da distração e da imagem,
que surge na pós-modernidade, convertendo-se em uma espécie de
hipermídia. 69

Hoje, a transição cultural é totalmente oposta à experimentada na


época de Platão: de uma forma de aprendizagem que soube ser escrita
— com suas bibliotecas e grande quantidade de livros que hoje quase
ninguém lê — às redes sociais e ao mundo virtual e das imagens, nos
quais toda uma geração parece haver esquecido totalmente o passado.
Não estamos regressando a uma cultura oral (com a exceção do auge
dos podcasts), mas a uma cultura centrada na imagem, ou seja, a uma
cultura visual, ou, melhor ainda, a uma cultura hipervisual, que parece
padecer de uma hipertro a visual enganosa no tocante ao signi cado
da realidade, onde o que não existe como imagem parece não existir. 70

Certamente, esse problema não foi introduzido pela internet ou pelas


redes sociais (a televisão e o cinema tiveram parte nisso), mas as novas
aplicações, possibilitadas pelo aumento da capacidade da internet,
exacerbaram o problema que vinha sendo gestado há décadas. De fato,
este livro originalmente era destinado a se chamar Desligue a  e
ligue o cérebro, mas uma olhada rápida nas últimas mudanças
tecnológicas e nos hábitos na geração do iPhone (nascida após 1995)
nos fez mudar de ideia. A realidade nos faz ver que é quase impossível
ansiar pela capacidade de concentração e memorização de outrora, a
qual Sócrates temia que perdêssemos como fruto da introdução da
tecnologia. 71 Estaríamos perdendo nossa condição de humanos?

Até mesmo os livros passaram por uma transformação extrema: os


eletrônicos, saturados de hiperlinks que di cultam a leitura, a partir
dos quais é muito fácil se distrair com a possibilidade de abrir uma
nova aba e buscar informação que, embora correlata, provavelmente
nos desviará a atenção por uma grande quantidade de tempo , zeram
com que a internet acabasse por absorver o livro e por recriá-lo à sua
imagem e semelhança. Isso havia sido notado por McLuhan: “Um
novo meio nunca é adicionado a outro anterior, embora também não o
deixe tal e qual; ele não deixa de oprimir os meios mais antigos até lhes
dar novas formas e posições”. 72 Assim como a introdução da imprensa
acabou por eliminar as disputas orais tão características da
universidade medieval, imbuída na cultura do manuscrito, a internet
acabou transformando o livro. Não é sem razão que o Kindle tem sido
considerado um aparato que vem marcando uma revolução cultural. 73

A transição à internet não nos está levando necessariamente a um


crescimento de cultura e de conhecimento que não apenas nos
informe mas que também exercite capacidades intelectuais que nos
desenvolvam como pessoas. É um fato que a internet, como veremos
no próximo capítulo, surgiu como o último golpe de misericórdia
numa função cerebral característica das culturas de antigamente: a
memória. Estamos diante de uma ruptura em nossa história intelectual
e cultural, um momento de transição crucial e perigoso pelo fato de
que não nos encontramos simplesmente frente a diferentes modos de
pensar (pensemos nas culturas orais e escritas), mas diante de
tecnologias que buscam substituir o ser humano. Ligar o celular é,
muitas vezes, sinônimo de desligar o cérebro, algo cujos efeitos são
empiricamente comprovados, como veremos a seguir.

 :    


 
uem nasceu no novo milênio veio parar não somente num mundo
que está saturado de tecnologia, mas num mundo que prende suas
vítimas com força numa nova espécie de escravidão. Se não
considerarmos o tempo que uma criança ou adolescente passa em
frente a um computador na escola ou na execução de suas tarefas, nós
veremos que, nos Estados Unidos, um jovem de idade entre 13 e 18
anos passa quase 9 horas diárias diante de uma tela, ao passo que o
grupo de idade entre 8 e 12 anos o faz por 6 horas diárias. Além disso,
no ano de 2019, 69% das crianças de 12 anos já tinham um celular. 74 O
uso das redes sociais re etia esses números: em 2010, 63% dos
adolescentes estavam em uma plataforma de rede social; esse número
aumentou para 80%, em 2014, e para 95%, em 2022. Isso coincide com
o aumento de uso de celulares, pois, enquanto 36% declararam passar
tempo demais nas redes (principalmente, no TikTok), 58%
reconheceram que lhes seria difícil demais abandonar as redes. 75 Esses
números são replicados em muitos países. No Chile, no Uruguai e na
Argentina, mais de 90% da população é usuária de alguma das redes
sociais, ao passo que, no México, calcula-se que o número de usuários
ativos em redes sociais ultrapassará a marca dos 90 milhões no ano de
2023. 76
O problema do uso indiscriminado das redes, no entanto, não é
exclusivo de crianças e adolescentes. Basta analisar como o celular
pode estar impactando a vida e o desempenho dos adultos. Do ponto
de vista nanceiro, nos , as perdas anuais relativas à falta de
produtividade graças ao uso da internet e do celular no trabalho foram
estimadas, em 2017, em cerca de 54 bilhões de dólares. 77

A quantidade de tempo que hoje se perde ao celular é sintoma de um


grave problema cultural. Assim como Sócrates temia que a excessiva
abundância de livros acabaria afetando a memória e criando um tipo
de sabe-tudo que na verdade não sabe nada, assim também nosso
problema jaz no fato de que a internet e as redes sociais representam
um grande perigo, uma vez que afetam as faculdades cognitivas do ser
humano. Portanto, a internet e o celular não são meras ferramentas
sob nosso controle; antes, ambos estão alterando características
profundamente humanas. Vejamos um exemplo. A internet se
propunha a “democratizar” o conhecimento, a deixá-lo sem barreiras e
limites aparentes para que todos nós pudéssemos ler e estar
informados. No entanto, a realidade é que, quando começamos a ler
um artigo on-line, nós nos deparamos com frases com hiperlinks, o
que torna inevitável o dilema de clicar ou não clicar neles. Nicholas
Carr, crítico do efeito da tecnologia em nossas vidas, diz claramente:

O redirecionamento de nossos recursos mentais, da leitura de livros à


formação de juízos, [é] imperceptível para nós — temos um cérebro
muito rápido — mas está demonstrado que ele impede a
compreensão e a retenção, principalmente quando se repete com
frequência. 78

Há alguma maneira de evitar esse problema? A torrente de


informação solta, desconexa e muitas vezes sem importância acaba
intoxicando o cérebro. Isso mostra a importância do controle pessoal e
do discernimento na hora de buscar conhecimento por meio das
possibilidades da internet e da nova forma de comunicação oral e
visual (como o YouTube). É surpreendente e inegável como o
conhecimento está se transferindo a uma nova modalidade de
aprendizado, aquela em que é possível se informar acerca dos mais
variados temas: mudar o ltro do óleo, instalar encanamento,
substituir ladrilhos de revestimento da parede ou fazer um curso de
loso a política ou inteligência arti cial. Nós estamos diante de uma
grande transição tecnológica no modo como nos comunicamos e
como aprendemos, o que nos leva a questionar se isso nos torna mais
sábios ou somente tem aparência de conhecimento.

Se Sócrates vivesse entre nós, sua postura certamente seria a mesma:


assim como alguns são destinados a criar tecnologia, outros são
destinados a re etir sobre seu dano ou proveito. O interessante é que,
no relato de Platão, o lósofo grego está se referindo a algo tão
importante como a escrita com base em uma perspectiva tecnológica.
O que diria Sócrates da internet e da facilidade de encontrar qualquer
tipo de informação dentro do sistema de buscas elaborado pelo
Google? A esse deus que ontem prometia a escrita e hoje promete os
benefícios da internet o faraó responderia com estudos a respeito dos
efeitos negativos que o celular e a internet têm sobre as funções
cognitivas do ser humano e sobre a própria estrutura cerebral.

Investigações recentes sugerem que o uso excessivo de internet


durante períodos prolongados pode afetar negativamente algumas
funções cognitivas, particularmente a atenção, a memória e o que é
chamado de conhecimento social. Aparentemente, concluímos que o
rei egípcio tinha razão, embora hoje sejam a psiquiatria e a
neurobiologia que nos deem uma pista do porquê. Um estudo de 2019,
publicado pela Associação Mundial de Psiquiatria, analisa o impacto
da internet sobre o cérebro e o modo como as funções cognitivas
podem estar sendo afetadas, tais como a capacidade de prestar
atenção, os processos da memória e a capacidade de armazenar e
avaliar o conhecimento, além dos processos de socialização, algo que
veremos mais adiante. 79 Os investigadores ressaltaram que a internet
tem afetado seriamente essas três áreas cognitivas e que já vemos essas
mudanças re etidas no cérebro.
Entretanto, antes de nos aprofundarmos nessas mudanças, é
necessário explicar como é possível que a internet esteja afetando um
órgão tão importante como o cérebro humano, o qual, no caso de
pessoas adultas, já está completamente desenvolvido.

A plasticidade cerebral
Já foi demonstrado convincentemente o fenômeno conhecido como
“neuroplasticidade”, que mostra que o cérebro tem uma capacidade de
mudança e adaptação constante, principalmente no que concerne ao
aprendizado de novos processos. 80 Essa neuroplasticidade não apenas
é possível como também está ativa o tempo todo, de tal maneira que
poderíamos dizer ser esse o estado normal do sistema nervoso ao
longo de nossa vida. 81 Há mudanças cerebrais que respondem a
estímulos positivos e aprofundam a capacidade cerebral de realizar
tarefas, como aprender uma nova língua, desenvolver novas
habilidades motoras (tocar o piano) ou até mesmo receber educação
formal ou preparar-se para um exame. 82 É por isso que quase todos os
circuitos neurais podem se adaptar a novas experiências,
independentemente de envolverem a visão, a audição, a memória, o
pensamento ou o sentido do tato. Nossos neurônios estão sempre
formando novas conexões e desfazendo outras, de tal maneira que o
cérebro pode reprogramar a si mesmo, alterando por completo o
próprio funcionamento. 83 O principal a ter em consideração é que
essa predisposição não é elástica no sentido de recuperar sua forma
anterior, sendo, antes, como uma plastilina que toma nova forma, às
vezes melhor; às vezes, pior. Assim como esse mecanismo permite o
aprendizado de novas habilidades e conhecimentos, ele também pode
causar mudança patológica no ser humano. 84 E é nisso que queremos
nos aprofundar aqui em relação à internet, uma vez que já foi
empiricamente observado como a internet está, de certa maneira,
atro ando diferentes capacidades cognitivas.
O processo de declínio cognitivo na idade adulta se deve, em parte, a
um processo de atro a das distintas funções cerebrais. 85 No entanto,
foi observado que a imersão no mundo virtual também induz
mudanças neurais e cognitivas semelhantes ao processo de
envelhecimento. Bastam seis semanas de imersão no mundo virtual de
um videogame para causar reduções signi cativas na matéria cinzenta
do cérebro, dentro do córtex orbitofrontal, algo causado também pelo
uso excessivo de internet. 86 Isso é realmente preocupante quando se
leva em conta que a função dessa região cerebral está relacionada ao
controle dos impulsos e à tomada de decisões. Portanto, “desligar o
videogame” e “ligar o cérebro” não é apenas uma frase de efeito, mas
uma necessidade real. Já de início, esse dé cit cognitivo explicaria os
problemas de comportamento de muitas crianças com problemas de
autocontrole, as quais, coincidentemente, passam horas jogando
videogame. A infância e a adolescência são um momento-chave para o
desenvolvimento e o amadurecimento do cérebro, razão pela qual
essas consequências afetariam não somente os processos cognitivos do
presente, mas também os do futuro. 87 A solução para evitar e como
evitar esses problemas está mais do que clara.

No nal de 2022, contudo, uma manchete sensacionalista parecia


contradizer o que foi a rmado acima: “Crianças gamers teriam um
melhor rendimento cognitivo”, a rmava uma dessas publicações. 88 O
estudo em questão, conduzido por membros da Faculdade de
Psiquiatra da Universidade de Vermont, analisou a relação entre o uso
de videogames e o desempenho cognitivo de 2.217 crianças. 89
Enquanto a mídia acalmava os pais a respeito dos impactos nocivos de
videogames em crianças e prometia benefícios cognitivos pelo seu uso,
a realidade é que o referido estudo avaliou apenas tarefas simples, além
de os próprios autores terem reconhecido uma série de limitações. A
primeira tarefa apontava respostas imediatas, quase de re exo,
segundo a direção de echas que apareciam em uma tela. Se a echa
apontava para a esquerda, deveriam apertar um botão; se para a
direita, deveriam apertar o botão oposto; se aparecesse uma imagem
de pare, não deveriam apertar nada. Tudo isso para analisar se as
crianças conseguiam controlar seus re exos. Obviamente, esse
experimento não analisava mais do que re exos que pouco têm de
“cognitivos”, além de estar mais do que evidente que alguém que passa
todo o tempo diante de jogos eletrônicos desenvolve esse tipo de
re exo no córtex cerebral, mas ao custo de outras funções cognitivas
muito mais importantes, como veremos mais adiante. A segunda
tarefa era ver uma série de rostos e reconhecer quais deles se repetiam.
O objetivo era provar a memória de trabalho. No entanto, os autores
reconheceram que esse estudo não conseguia analisar os problemas de
comportamento ou o desenvolvimento neurocognitivo, nem como
estes poderiam ser afetados pelo uso prolongado de videogames ou
como a plasticidade cerebral da criança é afetada. 90 A única coisa que
conseguiram provar de modo de nitivo é que, em alguns casos, jogos
eletrônicos conseguem ajudar no aperfeiçoamento de habilidades
triviais, mas que jamais ajudarão alguém a se desenvolver como
pessoa.

A introdução da internet e de seu ecossistema tecnológico em todos


os aspectos de nossa vida é um risco real no que diz respeito ao
comportamento humano, uma vez que afeta o próprio
desenvolvimento do cérebro, forçando o órgão (em muitos casos, por
várias horas todo dia) a adaptar-se a uma nova situação. Os dados
analíticos do celular nos revelam muito acerca de nosso
comportamento e do uso dessas tecnologias. Basta revisar a métrica de
“tempo de tela” para notar quantas vezes nós abrimos o celular, quais
foram os aplicativos mais visitados e quantas horas passamos ao todo
em frente à tela, além de indicar em que tipo especí co de atividade
passamos esse tempo: redes sociais, produtividade, criatividade,
leitura, informação ou mensagens. Segundo dados da Apple, o usuário
médio abre o celular umas 80 vezes ao dia, embora os mais apegados
cheguem a abri-lo umas 130 vezes diárias. 91 Com relação aos jogos
eletrônicos, um censo de grande escala dos Estados Unidos e do
Canadá, baseado na projeção de dados fornecidos pelos próprios
consoles e plataformas e publicado no ano de 2022, revelou que 71%
das crianças e adolescentes entre 2 e 17 anos de idade passam em
média 10 horas por semana diante de uma tela. 92 Isso indica sérios
problemas de dependência, algo que é o foco de investigações no
campo do comportamento humano, como analisaremos no próximo
capítulo. 93

Muitos de nós crescemos com grande liberdade e sem a invasão tec


nológica simplesmente porque o celular não existia, o que nos
permitiu, em grande medida, desenvolver-nos com normalidade e ser
espectadores da transição a uma sociedade onde a internet está em
todas as partes. Hoje, a situação é muito diferente para as novas
gerações, que cresceram imersas em um mundo hiperconectado e são,
literalmente, formadas por “nativos digitais”, 94 o que lhes deixa mais
propensas a adotar todos os avanços tecnológicos (muitas vezes, de
modo irre etido). É nesses casos que a in uência da internet é
especialmente preocupante, graças aos danos cognitivos que ela
ocasiona.

Os problemas de atenção
Uma das consequências mais evidentes da internet no cérebro é a
erosão da capacidade de prestar atenção e poder se concentrar em algo
por muito tempo. O uxo constante de informação, as mensagens, as
imagens e as noti cações constantes competem por nossa atenção e,
como só conseguimos nos concentrar em uma coisa por vez, isso força
o indivíduo a deslocar sua atenção por múltiplos uxos de informação,
o que resulta no enfraquecimento da capacidade de prestar atenção e
se concentrar em algo de maneira constante. O problema é tão grande
que até mesmo em ambientes universitários é difícil encontrar
estudantes que tenham terminado de ler um livro todo. 95

As redes sociais parecem estar afetando a capacidade de prestar


atenção porque o uxo de vídeos reduz a capacidade de ignorar
distrações e focar a atenção em algo concreto. Isso é algo que, dentre
outros efeitos prejudiciais que analisaremos mais adiante, afeta
negativamente nossas capacidades cognitivas. O mecanismo do
TikTok e seu algoritmo-base fazem com que a experiência se torne
mais adictiva para o usuário, algo que forçou a concorrência a se
adaptar a essa nova situação: o Instagram introduziu os reels em 2020
e redesenhou os algoritmos para que favoreçam esse formato em
detrimento do das imagens, pois os vídeos conseguem fazer o usuário
permanecer mais tempo na plataforma. 96 O Snapchat e o YouTube
seguiram o mesmo rumo, introduzindo o spotlight em 2020 e os
shorts em 2021, respectivamente.

Alguém pode objetar que isso é mera coincidência. E se as redes


sociais não forem a causa de os jovens terem mais problemas de
atenção? E se os problemas de atenção dos jovens já vierem de antes?
Se fosse assim, seria possível argumentar que o TikTok obteve um
grande sucesso em comparação às outras redes sociais, uma vez que
oferece aos usuários um sem-número de vídeos projetados com a
duração adequada para a atenção do público. Mas é realmente isso?

Os problemas de atenção são facilmente comprováveis em nossa vida


diária. Quantas vezes acontece de começarmos a fazer algo e, de
repente, nossa atenção se desviar daquilo que fazíamos para o celular?
Nós buscamos nos justi car internamente e nos convencer de que são
somente alguns segundos, mas a verdade é que acabamos envoltos na
rede social por muito tempo. Por que essas distrações constantes?
Porque o uso do celular introduziu um “comportamento de
conferência” constante, caracterizado por inspeções rápidas e
frequentes para ver se temos noti cações de mensagens, além das
informações que recebemos das notícias e das redes sociais. 97 Esse
comportamento, por sua vez, é uma resposta à exigência hormonal
criada pela saturação de informação e mensagens, que ativa o uxo de
dopamina no córtex cerebral e que exige de nós um uxo de
informação constante para satisfazer a necessidade hormonal. 98 Dessa
maneira, a cada vez que nós conferimos o celular, a necessidade que
experimentamos é acalmada com um novo uxo de dopamina,
criando um círculo vicioso e viciante, que será analisado no próximo
capítulo.

O próprio uso do computador implica a realização de múltiplas


tarefas entre diferentes con gurações: passar de um programa a outro,
fazer mudança de telas, abrir diferentes “abas” no navegador, escutar o
som das noti cações que entram sem cessar e responder a mensagens
em diferentes plataformas. Inevitavelmente, isso adapta nosso cérebro
para deslocar o centro de atenção rapidamente de uma operação a
outra e para o uxo de informação a cada minuto, o que resulta em
uma nova capacidade: a de pular de uma coisa para outra em frações
de segundos. O problema com essa habilidade é que ela, de fato,
interfere em nossa capacidade de manter o foco em uma única tarefa
cognitiva particular durante um maior período porque ela reduz a
importante habilidade de ignorar distrações. Isso signi ca que a
capacidade de se concentrar é inversamente proporcional à capacidade
de fazer muitas coisas ao mesmo tempo no campo tecnológico.
Quantas vezes, por exemplo, após já ter começado a ler um livro,
chegou, dentro de poucos minutos depois, uma mensagem de
WhatsApp que jogou por terra sua intenção de ler um capítulo do
início ao m? Essa habilidade não é na verdade uma nova capacidade
de realizar várias tarefas de uma vez, pois ela é algo meramente
super cial, não sendo mais do que um padrão de comportamento,
muitas vezes, viciante. 99

Um interessante experimento, realizado com 262 estudantes


universitários acostumados a realizar várias tarefas ao mesmo tempo
em seus computadores, teve o objetivo de avaliar a capacidade de
concentração cognitiva em algo. Os pesquisadores não apenas
observaram uma deterioração no controle cognitivo das pessoas
estudadas, que se distraíam facilmente diante de estímulos externos e
internos (a imaginação), mas também, para sua surpresa, notaram
que, na verdade, os estudantes não tinham uma grande capacidade de
mudar de atividades rapidamente (o que se supunha desde o início). O
que foi averiguado é que a série de tarefas não era nada mais que uma
sequência de distrações. 100 O que se supunha é que o uso da internet,
pelo menos, fortaleceria a capacidade cerebral de mudar de atividade,
mas os estímulos irrelevantes se sobrepuseram nos indivíduos
estudados. Outro estudo, lamentavelmente limitado por se reduzir a 12
estudantes universitários, mediu o tempo de concentração de cada
indivíduo em um único afazer em seu laptop. Os investigadores
observaram que, em 75% dos casos, a média não passava de 1 minuto,
chegando a haver passagem a um conteúdo novo a cada 19 segundos.
101
Essa propensão à distração pode ser empiricamente fundamentada
ao se observar como a internet está afetando a densidade de massa
cinzenta no córtex cerebral, o que se traduz em menor controle
cognitivo ao se concentrar em algo. 102 Isso nos aponta a necessidade
de tomar medidas a m de resguardar e fortalecer a capacidade de
manter a atenção em uma só coisa, principalmente se temos que usar
necessariamente o celular ou o laptop.

E o que dizer do uxo constante de imagens e música, que prende


nossa atenção e nos obriga a perceber novas experiências a cada
poucos segundos? O algoritmo do TikTok está afetando seriamente a
atenção de crianças e adolescentes. Os executivos da empresa chinesa
admitiram que, em 2021, os vídeos que duravam mais de 60 segundos
causavam estresse em 50% dos usuários da rede social. O motivo?
Segundo muitos usuários admitiram, eles não conseguiam se
concentrar por tanto tempo... 103 Dados internos da empresa revelaram
que o uxo constante de vídeos estava afetando a capacidade de
concentração, razão pela qual o algoritmo de 2022 favorecia os vídeos
com duração entre 31 e 40 segundos, apesar de o algoritmo priorizar
vídeos com duração entre 9 e 15 segundos se nestes houvesse algum
produto sendo promovido. 104

O problema é tão sério que educadores do mundo todo são


testemunhas do impacto negativo que a tecnologia está tendo nos
estudantes. O impacto é tal que a geração de crianças e jovens nascidos
depois da introdução do celular bem poderia ser chamada de geração
distraída. 105 Isso foi demonstrado por meio da ressonância magnética
funcional, com imagens das regiões pré-frontais do cérebro, a zona
que se ativa em resposta a uma distração. Assim, uma criança
habituada a manusear um iPad e a saltar de um aplicativo a outro vai
precisar de um esforço cognitivo maior para poder manter a atenção.
106
No entanto, não se trata de um problema exclusivo de crianças e
adolescentes. Se levarmos em conta que o principal grupo
demográ co do TikTok é de pessoas entre os 13 e os 40 anos, 107 os
problemas de atenção também afetam os adultos, algo que é
totalmente possível, já que o uxo de informação oferecido por essas
plataformas in ui nos processos cognitivos, no comportamento e na
arquitetura neural de cérebros completamente desenvolvidos. 108

A perda da memória
A perda de atenção não é a única consequência negativa. Assim como
Sócrates, com base no mito egípcio, advertiu sobre a perda da
memória por causa da escrita, numerosos estudos cientí cos nos
con rmam que a internet está tendo um efeito negativo no processo
de conhecimento e na memória. É surpreendente como a pessoa tende
a aceitar qualquer coisa que acha na internet. Isso se torna perigoso,
dado o nível de manipulação que se pode sofrer quando a internet vira
o principal recurso de informação. Mas esse processo também afeta a
memória, já que a internet impacta a forma como proces samos novas
recordações e como avaliamos nosso conhecimento interno. Vejamos
ambos esses aspectos.

Um dos maiores impactos da internet em nossas vidas se vê em como


foi mudada a maneira pela qual nos informamos. 109 Pela primeira vez
na história, nós temos a nosso alcance praticamente toda a informação
disponível que já foi produzida. O projeto Google Books é uma mostra
clara disso. No entanto, embora seja indubitável que o acesso a toda
essa informação traga grandes vantagens, nós nos encontramos diante
do factível risco de que a internet esteja substituindo certas estruturas
cognitivas necessárias, como a memória semântica, cuja função é
recordar palavras, conceitos e números. 110 Ou seja, com tanta
informação disponível, já não temos necessidade de recordar muitas
coisas porque sempre podemos recorrer ao nosso celular, algo que
pode ser facilmente comprovado se repararmos que muitas pessoas
perderam a capacidade de se lembrar de números, quando há não
muito tempo era comum se recordar de um grande número de
contatos telefônicos.

O efeito exercido em nossa memória por plataformas como o Google


foi que não nos lembramos mais de um fato concreto, mas nos
lembramos de onde podemos obtê-lo, o que evidentemente signi ca
perda de memória e consequente dependência de internet. 111 Esse
fenômeno foi observado também em tecnologias tais como a
fotogra a, já que reduz nossa recordação dos objetos ou lugares que
fotografamos porque nós inconscientemente sabemos que sempre
poderemos voltar a essa imagem. 112 Essa dependência tem uma base
psicológica, já que não guardamos informações apenas dentro de
nossa memória, mas também tendemos a coletar informação em
dispositivos externos, no papel onde anotamos a lista de compras, na
biblioteca repleta de livros, na música de nosso celular, nos livros do
Kindle e na quantidade de canções, lmes e podcasts que sempre estão
acessíveis na nuvem mediante algum aplicativo. Contudo, antes da
introdução dessas tecnologias, sempre existiram nas sociedades
humanas aqueles indivíduos dentro de uma família ou comunidade
que recordavam e transmitiam a informação, servindo como uma
espécie de memória externa; é o caso da professora, do médico, do
historiador, do sacerdote, do ancião da comunidade. Mas isso também
ocorre dentro da família, quando o pai esquecido precisa da ajuda de
um lho para se lembrar das datas de nascimento dos irmãos, ou
quando a narração de uma história familiar se vê enriquecida pelos
dados que diferentes membros trazem para a conversa. Na psicologia
social, esse tipo de memória foi chamado de memória transativa. 113

A internet, contudo, afeta a memória transativa, pois, se entendemos


que sempre temos uma espécie de memória externa a nosso alcance,
não teremos necessidade de recordar informação. 114 Isso gera uma
espécie de irresponsabilidade cognitiva no usuário. Nenhum pai de
família vai achar que não é importante se lembrar da data de
aniversário dos lhos só porque a esposa sempre se lembra dela. Mas a
internet, pelo contrário, cria a con ança de que não fará falta se não
nos recordarmos de nada: a informação está sempre disponível, razão
pela qual nem mesmo faz falta saber onde encontrá-la, pois o Google a
encontrará para nós, já que na nuvem consta tudo. Isso é o que se
conhece como um estímulo supranormal. Ou seja, quando nossas
tendências cognitivas naturais se encontram com uma nova tecnologia
(neste caso, a internet), o que ocorre é que o cérebro é inundado por
uma quantidade de estímulos intensos e muito superiores à sua
capacidade cognitiva, consequentemente, provocando respostas muito
mais intensas do que um estímulo normal. 115 O problema imediato
desses estímulos é que eles costumam ser resultado de manipulação
experimental e, no geral, fazem com que o sujeito seja vítima desse
mesmo processo manipulativo. 116 Os estímulos informativos são tão
fortes e geram tal dependência da internet, que o primeiro impulso do
processo cognitivo é o de não fazer um esforço para se memorizar o
que se viu, já que essa informação é percebida como algo recordado
para sempre na internet. 117

As consequências da internet nos processos cognitivos e na memória


são o efeito Google, como informa um estudo publicado em 2011 na
revista Science. 118 Quando uma pessoa se encontra diante de uma
pergunta difícil, ela tende a pensar imediatamente no computador
como solução. Além disso, quando alguém estima que vai ter acesso a
certa informação no futuro, costuma-se esquecer instantaneamente
essa informação concreta, pois se recorda que ela pode ser obtida no
Google. Essa dependência de internet para obter informação nova foi
mostrada também em estudos de 2017, que mostram como, diante de
coisas que não se sabe, a pessoa experimenta um impulso direcionado
à internet, o que se vê re etido nas regiões cerebrais requeridas para a
conduta e o controle dos impulsos. 119 Isso nos diz que, de certa
maneira, o ser humano está, nesse processo de adaptação a novas
tecnologias, se desumanizando numa espécie de “simbiose” com as
ferramentas virtuais. 120 De certa maneira, portanto, como a rma o
estudo da Science, nós estamos nos tornando uma unidade com a
máquina e com as ferramentas tecnológicas, “convertendo-nos em
sistemas interconectados que se lembram de menos informação
porque sabemos onde elas podem ser encontradas”. 121

O efeito desumanizador da internet se torna preocupante em crianças


e adolescentes, mas também em adultos, quando seu uso impossibilita
a formação de uma boa memória. Ter tantos dados ao alcance da mão
e ter a consciência de que o Google nos dará imediatamente tudo o
que precisamos saber di culta a formação dos esquemas cognitivos
necessários para aprofundar o conhecimento da realidade. Nós somos
conscientes de que, ao nascer, não conhecemos nada, embora essa
capacidade natural vá se aperfeiçoando e sendo carregada de
informação a cada nova experiência. Assim, o conhecimento sobre
algo em particular me fornece uma estrutura (chamada de “esquema”)
que vai se aprofundando e acrescentando a cada nova informação. 122
O problema grave para uma criança ou adolescente é que, se ela
depender da internet para tudo, há o risco de perder sua capacidade de
memória a tal ponto que se torne quase inevitável que lhe faltem os
esquemas cognitivos para formar novas recordações e, assim,
aprofundar seu conhecimento da realidade. Inclusive, isso é algo
empiricamente observável na estrutura cerebral de quem usa a
internet com assiduidade.

Os pesquisadores de um estudo publicado em 2018 apresentaram o


escaneamento cerebral de 42 estudantes universitários antes e depois
de realizar uma série de buscas na internet ao longo de 6 dias. Com
essas imagens cerebrais, eles puderam comprovar como o uso da
internet reduz a conectividade funcional de diferentes áreas cerebrais
relacionadas à formação e à recuperação de memórias a longo prazo.
123

Embora todos esses dados pareçam ser mais do que su cientes,


alguém poderia argumentar que os métodos rápidos de aquisição de
informação e a constante disponibilidade que a internet oferece
superam muito quaisquer efeitos negativos que talvez haja sobre nosso
cérebro. No entanto, cou demonstrado que uma busca de informação
na internet não leva necessariamente a recordar e integrar
conhecimentos adquiridos on-line. Basta comparar dois grupos de
pessoas concentradas em encontrar a mesma informação, sendo um
grupo mediante o uso da internet e o outro em livros físicos, para
notar a grande diferença. Foi isso que zeram Guangheng Dong e
Marc N. Potenza, em um estudo experimental de 2015, que buscava
analisar o efeito da internet na memória. 124 O grupo que trabalhou
com a internet, obviamente, encontrou a informação mais
rapidamente, mas os que conseguiram lembrar da informação com
mais precisão foram os do grupo que trabalharam com livros. A razão
é que, como mostraram as imagens de ressonância magnética
funcional, as regiões do cérebro relacionadas ao armazenamento de
informação especí ca foram muito menos ativadas em comparação
aos que trabalharam com livros. 125 No entanto, a região que foi
realmente ativada no grupo que usou a internet é a que está associada
à ansiedade que um drogadicto sente. 126 Isso é muito informativo, por
exemplo, na hora da educação dos lhos: aprender com os livros
desenvolve o cérebro, ao passo que a internet nos deixa viciados nesse
recurso. “Ligar o cérebro”, portanto, não é uma metáfora, mas algo que
podemos observar nas imagens geradas por uma ressonância
magnética. Quem pega um livro literalmente liga o cérebro, mas quem
navega na internet o apaga.

Outro exemplo que podemos ver diariamente é a perda de memória


espacial, que é o tipo de esquema cognitivo pelo qual podemos
navegar distintos espaços por onde nos mobilizamos. 127 Eu me lembro
de minhas viagens da juventude, na Europa ou ao longo dos ,
quando o  não estava disponível ao público e o Waze era algo
inconcebível, o qual ainda demoraria mais de uma década para
aparecer. Naquela época, nós usávamos mapas enormes e nossa
memória! Num estudo publicado em 2020, um grupo de
pesquisadores escaneou o cérebro de taxistas de Londres e comparou
os resultados com um grupo de controle. 128 O resultado foi
surpreendente: o hipocampo posterior dos taxistas, que desem penha
um papel-chave no armazenamento e na manipulação da memória
espacial, era muito maior do que o normal. O constante exercício do
cérebro enquanto levavam seus clientes havia feito com que fossem
potencializadas as funções cerebrais relativas à memória espacial, algo
que foi con rmado ao se comprovar que, quanto mais tempo o taxista
já tinha na função, maior tendia a ser seu hipocampo posterior.

Sócrates enxergava um grande perigo na crença de que, apenas por


ter lido algo, um indivíduo já o saberia ou seria um perito no assunto,
ou de que, pior ainda, esse conhecimento teria procedido de sabedoria
própria, crença esta que transforma todo leitor em um pretenso sabe-
tudo. Essa exortação é mais válida do que nunca com relação à
internet, pois ela não só é o maior compêndio de conhecimento que
existe, como também tem conteúdo atualizado continuamente e, de
certa maneira, a informação que ela contém sobre qualquer tema
especí co é maior do que a que qualquer especialista no tema tem. É
por isso que tantas pessoas buscam a resposta no Google em vez de
irem ao médico quando têm alguma doença. Acessar a internet é
entendido como “entrar em um campo cheio de especialistas”, 129 mas
que pode nos transformar nessa espécie de sabe-tudo que não sabe
nada além de repetir o que se encontra na Wikipédia, onde é possível
editar a informação que não seja do agrado.

Em que medida essa in uência da internet nos desumaniza? Por


acaso não estamos conscientes de que a internet é uma entidade
externa a nós? O problema é que a internet não se apresenta como
uma entidade externa, já que ela nos dá informação de maneira
simultânea, invisível, sem os componentes externos que caracterizam a
comunicação humana. Quantas vezes, conforme você começava a
escrever uma frase no Google, bastou escrever a primeira palavra para
que, surpreendentemente, o sistema de inteligência arti cial
reconhecesse o que você estava pesquisando? Nesse contexto, uma
série de estudos e experimentos levados a cabo na Universidade de
Harvard observou como as qualidades “não humanas” da internet
podem fazer com que uma pessoa não saiba distinguir entre a
informação guardada em sua memória e a informação que se encontra
na nuvem. Isso se deve a esse sentimento de “saber” que acompanha a
busca em plataformas como o Google. 130 Essas pessoas, como indica
Adrian Ward, “tornam-se uma com a nuvem, crendo que elas próprias
são espetacularmente aptas para pensar, recordar e localizar
informação e que elas continuarão a possuir esses atributos mesmo se
estiverem desconectadas da internet”. 131 Se nós duvidávamos de que a
internet não conseguiria apenas nos desumanizar mas também nos
transformar em grandes idiotas, a evidência é clara.

Um estudo de 2018 analisou como dois grupos de indivíduos


avaliavam a si mesmos após responder a uma série de perguntas. 132
No primeiro experimento, um grupo podia responder o questionário
pela cópia das respostas da internet, ao passo que o outro grupo não
tinha acesso a fonte alguma. Curiosamente, os que usaram a internet
relataram avaliações cognitivas muito mais elevadas de si mesmos
quando, na realidade, não sabiam a resposta e tinham de buscá-la na
rede, copiá-la e colá-la. Num segundo experimento, um dos grupos
usou o próprio celular, ao passo que o outro teve acesso a um laptop.
Novamente, os que usaram o celular relataram avaliações cognitivas
mais elevadas de si mesmos do que os demais, demonstrando, uma vez
mais, “a ilusão de ter conhecimento por meio do uso da tecnologia”. 133
A internet nos levou a interiorizar conhecimento externo como se
fosse nosso, perpetuando a ilusão de sabedoria, quando nem mesmo
se é capaz de distinguir conhecimento interno e informações externas.
134

Conclusão
É indubitável que há uma correlação entre o processo de
desumanização e a tecnologia. A tecnologia, em muitos casos, nos
ajuda na realização pessoal, mas, em outros, ela nos desumaniza. É
claro, como o grande número de investigações recentes comprovam
empiricamente, que os modos como a internet é desenhada e funciona
estão mudando tanto a estrutura quanto as capacidades e funções do
cérebro humano. Isso se comprova com facilidade ao notar o uxo
ilimitado de mensagens e noti cações, que nos obrigam a manter
constantemente uma atenção dividida. Não poder controlar nossos
pensamentos e nossa atenção é um problema relativamente sério. O
autocontrole é uma característica distintiva do ser humano. No
entanto, se o uso indiscriminado do laptop e do celular nos leva a nos
desumanizar, isso tem de nos levar a re etir sobre essa situação.

Inclusive, saber que temos à nossa disposição, em qualquer momento,


qualquer informação que seja, poderia, de fato, estar alterando
profundamente a maneira como o cérebro armazena a informação.
Por que realizar o esforço de aprender e memorizar algo se, no m das
contas, temos o Google e a Wikipédia? O grande problema surge
porque a riqueza da inteligência humana depende de uma memória
potente e da capacidade de saber relacionar essa informação, de
distinguir o essencial do acidental, a causa dos efeitos, além de
depender também de uma aceitação sem dúvidas da objetividade da
realidade externa. Se passar horas na internet e nas redes sociais
implica inevitavelmente uma dispersão negativa das mentes, o que
diminui nossa capacidade de concentração e aptidões cognitivas, a
conta chegará mais cedo ou mais tarde. Daí a importância de re etir
sobre o custo que têm os avanços tecnológicos, que nos levam a perder
um elemento humano na sociedade, e sobre o que podemos fazer para
remediar os efeitos nocivos em nossa pessoa. Isso é mais do que
necessário, graças à velocidade cada vez maior das mudanças
tecnológicas, o que signi ca que o processo de decomposição e
declínio da humanidade se acelerará. E o que dizer sobre as
consequências no comportamento, sobre a possível manipulação tanto
comportamental quanto ideológica, e sobre a gama de problemas
psicológicos que se exacerbaram em razão do uso indiscriminado das
redes sociais?
 :    
  
A sporestatísticas sobre o uso massivo e adictivo das redes sociais já são,
si sós, preocupantes, mas elas cam ainda mais aterradoras se
levarmos em conta o impacto da internet não apenas no cérebro, mas
também no comportamento e na psicologia da pessoa, conforme
veremos neste capítulo.

As redes sociais, particularmente o Instagram, o Snapchat e o TikTok,


estão deslocando outras formas de interação física necessárias entre os
adolescentes. A nova interação virtual é praticamente ilimitada e não
está circunscrita a nenhum lugar geográ co. Por isso é que, entre os
tantos problemas que se podem vislumbrar para um adolescente,
observamos como as redes expõem em público o tamanho de seu
grupo de amigos e submetem sua aparência física à fria quantidade de
likes e ao número e à qualidade dos comentários, os quais são, na
maioria das vezes, feitos para denegrir. Nós bem poderíamos dizer que
as redes sociais intensi cam o que há de pior no comportamento
adolescente. Isso não poderia ser mais catastró co para a psicologia,
sobretudo em relação às adolescentes que estão passando (ou
acabaram de passar) pela puberdade e estão experimentando um
profundo problema de autoestima, o qual, muitas vezes, levará anos
para ser sanado. 135 O Instagram, por exemplo, é, em si mesmo, uma
plataforma tóxica porque, como a rma o reconhecido psicólogo
Jonathan Haidt, uma menina publica fotogra as na plataforma
simplesmente para se expor ao julgamento público de uma multidão
de outras meninas, que não farão mais do que ampliar sua insegurança
de maneira tal que não podemos esperar outra coisa senão um dano
massivo de grande escala. 136

Uma primeira di culdade ao analisar o impacto da tela no


comportamento é estabelecer uma relação causal entre os altos níveis
de uso da internet (especialmente, o uso de redes sociais) e os
problemas de saúde mental observados em tantos usuários
(especialmente, em adolescentes e crianças). Também se questiona se
o vício à internet é concomitante a esses distúrbios ou se estes são
anteriores àqueles, ou seja, se a internet só exacerba os problemas
mentais que já estão presentes. 137 O mais provável é que, na realidade,
exista uma interação complexa entre vários fatores causais, tais como a
redução de horas de sono, menos interações sociais em pessoa, o
aumento do comportamento sedentário e a sensação de solidão. 138 No
entanto, como se pode observar, todos esses problemas podem ser
reduzidos ao uso excessivo e adictivo do celular como problema
causante. Esse problema se mantém ao longo do tempo graças à
facilidade com que acessamos o mundo virtual a partir de um
pequeno dispositivo que podemos levar para todo lugar e usar a
qualquer momento.

Está comprovado que as crianças e os jovens que dedicam mais


tempo às redes sociais e gastam muitas horas no celular têm maior
prevalência de problemas de saúde mental, depressão e suicídio do que
aqueles que dedic am mais tempo a atividades não relacionadas a telas.
139
Um dado-chave é que os sintomas de depressão e o número de
suicídios dispararam entre os adolescentes dos Estados Unidos a partir
do ano de 2010, coincidindo com a introdução do smartphone e das
redes sociais em suas vidas. Jovens que passavam mais de 5 horas
diárias em redes sociais tiveram 66% mais risco de cometer suicídio do
que os jovens que não passavam mais que 1 hora diária em frente ao
celular. 140

E que dizer das mortes causadas indiretamente por esse hábito de


conferir o celular constantemente? Há pessoas que não conseguem
controlar o hábito de dar uma olhada na tela, que não conseguem se
conter nem mesmo quando estão dirigindo seu carro, embora isso
ponha em risco a própria vida, além da de seus acompanhantes e
demais transeuntes. Nos Estados Unidos, 60% dos motoristas admitem
ter usado o celular ao volante alguma vez, enquanto 26% dos acidentes
de trânsito entre os anos 2011 e 2020 estiveram relacionados com
distrações causadas pelo celular. Só no ano de 2020, faleceram 3.142
pessoas em território americano devido a acidentes de trânsito
causados pelo uso do celular. 141 Qualquer pessoa de bom senso se
daria conta do perigo que é dirigir e ao mesmo tempo enviar
mensagens de texto. Por que isso não é mais considerado um perigo?
Seria mais forte a necessidade de ver as mensagens do que de conduzir
em segurança?

O problema é muito sério e difícil de dimensionar. Também é séria a


complexidade de uma realidade que trataremos de destrinchar ao
longo destas páginas.

O poder adictivo do celular


Se tivéssemos que apontar a raiz de todos os problemas decorrentes do
uso da internet e, em especial, das redes sociais, o melhor termo seria
adicção. De fato, a palavra adicção surge no contexto jurídico do
período romano da República: o termo fazia referência a um ato
judicial pelo qual um devedor era tornado escravo do credor. Dessa
maneira, pagava-se a dívida por meio do “pertencimento”, ou da
servidão, a outra pessoa por ordem judicial, ou seja, era-se escravo por
causa da sentença de um juiz (addictio: “dizer-lhe a”, “adjudicar”). Os
adictos (addicti), então, eram condenados à escravidão, que podia ser
temporária ou vitalícia segundo a gravidade da dívida. 142

A aplicação especí ca desse termo ao álcool ou às drogas data do


século , quando Benjamin Rush e omas Trotter estabelecem um
signi cado médico para essa dependência. 143 Mas não foi senão até
1998 que a psicóloga Kimberly Young notou o surgimento de um novo
distúrbio clínico: a dependência de internet. 144 No ano seguinte, o
doutor David Green eld, fundador do Center for Internet and
Technology Addiction [Centro para as Adicções à Internet e à
Tecnologia] e professor de psiquiatria na Universidade de
Connecticut, aprofundou o tema com seu livro Virtual addiction. 145
Assim como as drogas e o álcool causam um momento de êxtase e
prazer, a internet produz algo semelhante nos mecanismos hormonais
do cérebro, fazendo com que a pessoa se torne dependente da
experiência. Green eld notou que, de fato, os efeitos da internet eram
semelhantes a uma espécie de “heroína virtual”. Se já em 1999, quando
as conexões ainda eram muito lentas, não havia redes  nem wi- nos
lares, muito menos smartphones ou iPads, a internet já apresentava
um problema sério para muitas pessoas, hoje em dia, com a facilidade
de acesso e os potentes aparatos tecnológicos, o problema se agravou.

Martha Shaw e Donald Black, professores do Departamento de


Psiquiatria da Universidade de Iowa, caracterizaram a dependência de
internet como preocupações, impulsos ou comportamentos excessivos
ou mal controlados em relação ao uso do computador e ao acesso à
rede, que conduzem à deterioração ou à angústia da pessoa. 146 A
adicção propriamente dita se manifesta quando a pessoa já não resiste
a determinado comportamento que lhe proporciona sensação de
calma imediata mas que gera dano signi cativo a longo prazo. No caso
da dependência de internet, ela se caracteriza por causar complicações
neurológicas, transtornos psicológicos e problemas sociais na pessoa
afetada, além de mudanças no comportamento, con itos, síndrome de
abstinência e recaídas. 147

Se levarmos em conta a extensão do problema, ele é bem alarmante.


Se em 2010 a porcentagem de pessoas dependentes estava entre 1,5% e
8,2% da população dos Estados Unidos e da Europa, 148 o número
calculado em 2015 foi que até 40% da população padecia de algum
tipo de dependência de internet (incluindo videogames, aplicativos e
pornogra a). 149 A maior prevalência de dependência de celular foi
vista entre jovens de 16 a 25 anos na Espanha (20,5%) e entre jovens
de 18 a 34 anos no Líbano (27 %). 150 Nos últimos 20 anos, o número
de pessoas que foram enviadas a tratamento clínico aumentou em mil
porcento. Enquanto isso, existem na China 300 clínicas especializadas
e calcula-se que haja cerca de 24 milhões de dependentes tecnológicos,
10 milhões dos quais são adolescentes. 151

A adicção, ou escravidão, à tecnologia é algo real e constitui um


problema que não conhece fronteiras, o que certamente foi exacerbado
pelas quarentenas e pela transferência massiva de nossas atividades ao
mundo virtual. 152 Talvez não estejamos acostumados a considerar o
uso do celular dentro da categoria das dependências, mas as
consequências do uso abusivo da tecnologia são similares a muitas das
características de dependência de substâncias perigosas: síndromes de
abstinência, emoções negativas (como ocorre depois de passar várias
horas no Instagram ou TikTok, por exemplo), mudanças cerebrais,
liberação de dopamina que se quer repetir a cada ocasião, piora de
outras áreas da vida, di culdades para cumprir obrigações pessoais
(distrações no trabalho, estudos e aulas), piora do comportamento e
consequências para o aprendizado e para as relações familiares.

Os comportamentos adictivos produzem as mesmas respostas


hormonais e cerebrais que o abuso de drogas, pois, em ambos os casos,
o cérebro libera dopamina, e os receptores produzem uma sensação
intensa de prazer. 153 O problema é que, com a repetição de
experiências, o cérebro interpreta a saturação de dopamina como um
erro e começa a secretar cada vez menos o hormônio do prazer. A
única maneira de alcançar uma experiência passada é aumentando a
droga ou intensi cando a experiência (passando mais tempo no
TikTok ou no Instagram, ou jogando mais videogame). Isso também
leva a pessoa a experimentar baixas muito grandes entre cada
experiência porque as regiões que produzem dopamina se retraem
cada vez mais quando não estão sendo motivadas por drogas ou
experiências, o que gera um ciclo de dependência que, se não houver
mudança radical, colocará a pessoa numa situação lamentável. 154

Isso deveria nos levar a re etir. Como reage a criança quando se lhe
retira o iPad? Como o uso do celular está afetando a convivência
familiar na hora de comer? Basta observar atentamente as famílias no
restaurante para notar que, durante a refeição, a maioria está imersa
nas telas, sem nenhum tipo de contato real. Quanto tempo passam
realmente juntos? Elas realmente se conhecem? Como essas crianças
amadurecerão psicoafetivamente se o ponto de referência for uma
babá on-line? Como você se sente após mais de uma hora vendo uma
sequência interminável de reels e de vídeos do TikTok? Além disso,
essa dependência de telas é, por sua vez, a porta para muitos outros
problemas psicológicos preocupantes, como transtornos alimentícios,
transtornos de identidade, ansiedade, depressão e suicídio, como
veremos mais adiante, além de abuso de álcool e drogas, fobias,
esquizofrenia, transtorno obsessivo-compulsivo (), transtornos do
sono e problemas de agressividade. 155

Quando a Associação Americana de Psiquiatria publicou, em 2013, a


última versão de seu manual para o diagnóstico de transtornos
psicológicos, ainda não haviam sido realizados muitos estudos
cientí cos sobre os efeitos nocivos que a internet tem sobre as pessoas.
156
As redes sociais eram bastante recentes, o iPhone surgira no
mercado em 2007 e, portanto, ainda não havia transcorrido tempo
su ciente para corroborar empiricamente o que estava para chegar.
Contudo, apesar da curta idade do fenômeno, já havia motivos o
bastante para os especialistas terem incluído no apêndice uma seção
sobre a adicção à internet e sobre os comportamentos adictivos em
geral. 157

Diante desses casos, estaríamos falando de uma consequência


impensada da tecnologia? As principais empresas tecnológicas têm
sido acusadas de obter intencionalmente benefícios graças ao
componente adictivo da internet. 158 Um documentário, O dilema das
redes sociais, trouxe à tona a responsabilidade das empresas
tecnológicas no controle e na manipulação de usuários. 159 Segundo
essa investigação, nossos cérebros estão sendo manipulados e,
inclusive, reprogramados por algoritmos desenhados para captar
nossa atenção. Sua função não é somente fazer-nos comprar coisas,
senão também transformar nossa maneira de pensar e gerar ideias
distorcidas sobre a realidade, sobre nós mesmos e sobre os demais.
Dessa maneira, a tecnologia que nos conecta também nos controla,
manipula, monetiza, divide, polariza e distrai.

A adicção à internet não é fruto de coincidência, mas, sim, algo que


foi estudado, provado, re nado em tempo real e em milhões de
pessoas, de tal maneira que o produto, as fontes, a cor, o áudio e o
algoritmo sejam cada vez mais aptos para captar a atenção dos
usuários que navegam em um site ou usam um aplicativo de celular. O
objetivo é atingir níveis extremamente altos de participação, sem que
lhes importe em absolutamente nada o bem-estar dos usuários. Como
a rma Tristan Harris, um especialista em ética da tecnologia, o
problema não está na força de vontade do usuário, mas no fato de que,
por trás da tela, “há mil pessoas cujo trabalho é quebrar o autocontrole
que ele tem”. 160 Isso faz com que o entorno e as circunstâncias de nossa
era digital sejam muito mais propícios à dependência do que qualquer
outra coisa que o ser humano já tenha experimentado no passado.

A con guração predeterminada das redes sociais consiste no uxo


in nito de entretenimento, de tal maneira que a vida digital nos
mantenha presos, se possível, para sempre. Seria possível alguém
passar toda uma vida no Instagram, Facebook e TikTok, porque essas
plataformas nunca deixariam de oferecer conteúdo. A Net ix passa
automaticamente ao episódio seguinte, e o Tinder ativa mecanismos
biológicos que levam a pessoa a continuar buscando com quem se
reproduzir. Se não houvesse um limite para o número de vezes que se
pode deslizar a tela, o usuário caria preso por horas, embora também
se possam aumentar as possibilidades de match mediante pagamento.
161
O YouTube produz 500 horas de vídeo por minuto, o que signi ca
que, para assistir a todo o conteúdo postado em um único dia, uma
pessoa precisaria de cerca de 82 anos ininterruptos. 162 Não é
coincidência que os executivos e os engenheiros das empresas de
tecnologia promovam a abstinência tecnológica em seus próprios
lares, pois estão conscientes do perigo que isso signi ca para seus
lhos. 163
Mais acima, nós explicávamos como o hábito de conferir
constantemente o celular tem base biológica no fato de que a internet
tem moldado nosso cérebro e nosso uxo hormonal, e como isso se
deve à saturação de informações e mensagens que ativam o uxo de
dopamina no córtex cerebral cada vez que olhamos a tela. 164 Esse uxo
de dopamina acostuma o cérebro a receber uma “recompensa” como
consequência desse ato, o que então redunda num mecanismo de
reforço que leva a perpetuar um comportamento compulsivo. 165 Esse
seria um primeiro nível de dependência, um em que o usuário
encontra satisfação simplesmente por conferir o celular. No entanto,
há outros tipos de adicções mais profundas, que se formam a partir
dessa primeira, tais como sexo virtual e pornogra a, dependências
compulsivas (apostas pela internet, compras on-line, trading de ações
e criptomoedas), relacionamentos virtuais (redes sociais, encontros
on-line e busca compulsiva por parceiros sexuais), videogames e,
nalmente, busca compulsiva de informação na internet. 166

Como saber se sou adicto à internet e preciso buscar ajuda para mim
ou para um ente querido? Se você concordar com as a rmações que
aparecem abaixo, possivelmente, é hora de pedir ajuda. 167

Alguma aplicação do celular me distrai constantemente. Se


não estou conectado, estou pensando na próxima vez que
possa estar ou na última em que estive.
Preciso estar conectado cada vez mais tempo para satisfazer o
desejo.
Já tentei controlar, reduzir ou deter meu uso da internet, mas
não consegui.
Sinto-me irritável ou deprimido quando trato de reduzir a
quantidade de tempo que passo na internet ou quando não
posso me conectar.
O meu uso de internet já ameaçou meu relacionamento com
alguém importante para mim, o meu trabalho ou o
desempenho escolar.
Perco a noção do tempo quando estou na internet (no TikTok
ou vendo reels, por exemplo).
Às vezes, minto para pessoas importantes de minha vida
sobre a quantidade de tempo que passo ao celular, ou sobre os
tipos de atividade que realizo na internet.
Estar conectado é uma espécie de escapatória que ajuda a me
esquecer de meus problemas ou a melhorar meu estado de
ânimo, quando me sinto triste, ansioso ou sozinho.

Há um debate a respeito da dependência de internet: alguns


especialistas a consideram como um tipo de obsessão compulsiva;
outros a enquadram dentro de um distúrbio de controle dos impulsos.
168
A obsessão e o comportamento compulsivo estão relacionados com
o comportamento adictivo. 169 No entanto, a grande diferença é que a
dependência traz consigo a promessa de satisfação imediata, enquanto,
na obsessão compulsiva, o que traz um grande mal-estar é não fazer
algo. Outra categoria relacionada com a dependência é a paixão
obsessiva, que pode produzir um comportamento adictivo, como a
paixão por videogames, que, em muitos casos, controla e causa
con itos graves com outras atividades da pessoa, tais como dormir,
estudar ou trabalhar. 170 Contudo, mais importante do que isso é saber
distinguir as atividades totalmente supér uas na internet e que podem
conduzir a uma dependência daquelas outras atividades que implicam
necessariamente o uso da rede (pagar as contas do banco etc.) mas que
não têm um componente adictivo.

O ponto-chave com a tecnologia é não perder jamais o controle


pessoal. Se as grandes plataformas tecnológicas dependem da
quantidade massiva de dados que extraem de todos os aparelhos
conectados à internet, é importante perceber por que gerar um
comportamento adictivo signi ca maior ganho nanceiro e por que,
então, não há motivação real nenhuma para refrear esse problema. Por
isso, àqueles que são adictos à internet, desligar o celular e, em alguns
casos, mudar completamente o seu entorno e fazer terapia é a única
solução drástica que funciona. Quando se trata de um aplicativo
particular a que se é adicto ou que é a causa de sérios problemas, o
melhor conselho é simplesmente eliminar seu per l, deletar o
aplicativo, distanciar-se totalmente dessa armadilha virtual e, caso a
dependência seja profunda e esteja afetando a vida pessoal, buscar
ajuda. 171 Curiosamente, o esporte é um grande remédio natural que já
se provou acalmar a necessidade experimentada pela falta de
dopamina no cérebro, uma vez que se restringe o uso do celular. 172

No entanto, com respeito ao esporte, aqui é importante esclarecer


também o efeito adictivo que têm exercido relógios e sensores
corporais que monitoram nosso corpo 24 horas ao dia, que medem o
ritmo cardíaco, que contam os passos diários, o número de degraus
subidos, as calorias, quanto falta para chegar ao objetivo diário e que
dão alertas constantes para você se movimentar, após alguns minutos
sem atividade. Esse fenômeno foi classi cado como dependência de
exercício e ele está, muitas vezes, unido a distúrbios alimentares. Isso é
uma consequência direta do uso da tecnologia que encoraja o
monitoramento excessivo, prende a pessoa num ciclo que piora a cada
dia e pode chegar a ser prejudicial para a saúde e, devido à
supersaturação de exercícios, produzir lesões severas. 173

O problema do sono
Uma consequência direta do excessivo e persistente uso de celulares,
leitores eletrônicos, iPads e outros dispositivos emissores de luz é a
privação crônica do sono. Esse é um problema mundial que afeta dois
terços dos adultos. Entre os sintomas estão di culdade para pensar e
raciocinar, propensão a car doente, ganho de peso, problemas
cardíacos, enfermidades pulmonares, enfermidades renais, supressão
do apetite, mal controle do peso, funcionamento imunológico
debilitado e, consequentemente, menor resistência a doenças, maior
sensibilidade à dor, oscilações de humor, função cerebral reduzida,
depressão, obesidade, diabetes e certas formas de câncer. 174
Ariana Huffington, em sua obra A revolução do sono (2016),
denuncia uma crise de privação de sono, que está tendo consequências
profundas em nossa saúde, em nossas obrigações pro ssionais, em
nossas relações sociais e familiares e em nossa estabilidade emocional.
175
Basta apenas o dado de que as pessoas hoje passam mais tempo
diante do celular do que dormindo para fazer soar o alarme,
especialmente quando se trata de crianças e adolescentes. Segundo um
estudo publicado, em 2016, por investigadores da Universidade de
Pittsburgh, dentre todos os fatores que estão contribuindo para os
problemas de sono, o uso excessivo das redes sociais é um dos
principais. 176 O celular é a razão principal para os adolescentes
estarem dormindo menos de 7 horas, quando deveriam dormir uma
média de 9 horas por noite. 177

Além disso, há uma razão biológica pela qual não deveríamos olhar
uma tela emissora de luz azul de 2 a 3 horas antes de dormir. Essa luz
não é em si danosa para a vista, já que é uma luz que o sol emite de
forma natural e constitui um dos diversos fatores que ajuda a regular
nosso relógio biológico (o ciclo circadiano). 178 O problema está no
fato de a luz azul ser um sinal do amanhecer, motivo pelo qual o
cérebro entende que é momento de se levantar quando, na verdade, é
hora de ir dormir. A luz azul interage com os fotorreceptores, que são
os que nos permitem ver. No entanto, ela interage também com outras
células fotossensíveis de nossa retina, as células ganglionares, que
permitem regular o ciclo circadiano. O normal, portanto, é que,
quando o dia escurece, a glândula pineal secrete um hormônio
chamado melatonina, o hormônio do sono, graças ao qual nós
dormimos. Aí está o problema com a luz azul das telas, pois ela
impede que o cérebro secrete melatonina, desregulando o ciclo
circadiano e afetando o sono da pessoa. 179 Quem dorme pouco não
vai apenas se sentir cansado, mas também vai, mais cedo ou mais
tarde, em razão do uso excessivo de tecnologia, ter a saúde afetada.
Quando é para o cérebro ligar uma função-chave para o descanso, o
celular a desliga.
O celular e a autoestima
Há não muitos anos, fomos testemunhas de uma transformação
tecnológica que teria grande impacto psicológico no ser humano,
principalmente nos adolescentes: nós saímos do envio de somente
mensagens a nossos amigos e chegamos às publicações de fotogra as
cuidadosamente editadas, à espera de comentários e uma grande
quantidade de likes a cada postagem. No começo, ninguém estava
consciente de que estávamos nos expondo sem querer a um
julgamento público que, para muitos, poderia ser devastador. O
problema foi tal que, a partir de 2014, essa referida transição havia
alterado a con guração da vida social em quase todos os rincões do
planeta. O que a princípio foi visto como uma oportunidade para se
reconectar com velhos amigos e companheiros perdidos (Facebook)
acabou, em muitos casos, se degenerando em danças e coreogra as
estúpidas para outros (TikTok). Mas há outro elemento que pode ser
psicologicamente devastador. Há casos em que uma postagem chegou
a levar uma adolescente a sofrer escárnio não somente na escola, mas
também, às vezes, em nível nacional, sofrendo o assédio virtual de
estranhos, além de gerar uma cicatriz emocional que aparentemente
durará toda a vida (na verdade, as pessoas se esquecem bem rápido,
mas a impressão que essas experiências dão são uma espécie de
recordação permanente). Essas experiências podem causar um grande
dano não somente à reputação das pessoas, mas também ao bem-estar
emocional e às relações sociais da vítima desses ataques.

O bom senso talvez nos diga que, se essas plataformas são nocivas
para alguém, o melhor é sair dali. No entanto, as redes sociais
implicam um tipo de atuação pública que apresenta às adolescentes
um dilema e uma espécie de armadilha: quem escolher não participar
está imediatamente separada do restante. Isso ocorre porque a
transição ao mundo virtual foi tão radical que transformou o espaço
de brincadeira e socialização de uma criança e de um adolescente em
algo majoritariamente digital. Como a rma Haidt, tanto o Instagram
quanto o TikTok se transformaram numa engrenagem necessária à
maneira de interagir dos adolescentes. 180 Poderíamos ainda dizer que
eles são o mecanismo pelo qual um jovem hoje mede o seu status
social e sua popularidade.

Essa exposição ao julgamento público tem base psicológica no ser


humano e é parte do processo de socialização e adaptação. Além disso,
ela tem muito a ver com a autoestima. O problema com as redes
sociais é que, por tentar manter ou aumentar a autoestima pela busca
de oportunidades para obter validação, é possível perder o controle
sobre ela. 181 O que queremos dizer com o termo autoestima? A
autoestima é um traço da personalidade que se desenvolve na primeira
infância e começa a se estabilizar durante a adolescência. Ela é
entendida como uma avaliação global do valor que alguém tem de si
mesmo. 182 No entanto, a valorização pessoal de si mesmo não pode ser
medida como se faz com uma quantia de dinheiro, como se faz com a
altura ou o peso de alguém. Talvez seja por isso que, nessa tentativa de
se avaliar e comparar a outros, a geração que cresceu com um iPhone e
um iPad vive obcecada pela resposta social que recebe das redes.
Então, se unimos essa necessidade de validação social à exposição e ao
julgamento público a que alguém se submete, o resultado pode ser
potencialmente desastroso. Essa é a conclusão atingida por um grupo
de pesquisadores que, em 2022, publicou uma meta-análise de 31
estudos com mais de 27 mil participantes, sobre a relação entre os
problemas de autoestima e o uso desmedido do celular. 183

É praticamente inevitável que uma adolescente tenda a buscar


mecanismos para se autoavaliar no espaço virtual oferecido pelas redes
sociais e pela internet, mesmo com todos os perigos que isso
represente. Isso explica, em parte, o porquê da necessidade de
validação externa, que pode levar uma jovem a ter atitudes extremas
para receber atenção e validação por meio da viralização. Os
comentários recebidos em postagens também formam parte desse
mecanismo, embora, no caso de menções negativas, eles possam não
apenas ser prejudiciais, mas também reforçar tanto a avaliação
negativa de si mesmo (“não sou atraente o su ciente”) quanto os
pressupostos disfuncionais (“a menos que eu obtenha êxito em tudo o
que eu faça, sou um fracasso total”). Desse modo, a avaliação negativa
que a jovem faz de si mesma é reforçada a cada episódio crítico em
que seus padrões pessoais não são atingidos. 184

Se as redes sociais afetam seriamente a autoestima, podemos ver com


clareza como a internet está fazendo mal a crianças e jovens. Um
número elevado de problemas de saúde mental e de diagnose
psiquiátrica é caracterizado por baixa autoestima, 185 que é um fator
relacionado, por exemplo, à depressão, 186 à ansiedade, 187 aos
distúrbios alimentares, 188 ao transtorno dismór co corporal, 189 ao
transtorno obsessivo-compulsivo 190 e ao abuso de substâncias e de
álcool. 191 A baixa autoestima também está relacionada a um maior
estresse acadêmico, 192 a um menor bem-estar psicológico, 193 a maior
solidão e a menos capacidade de estabelecer relacionamentos com
outros indivíduos. 194 Não é de surpreender, portanto, que as redes
sociais tenham aberto a porta a uma epidemia de problemas
emocionais, que foram profundamente exacerbados, sobretudo por
redes como o Instagram e TikTok. Além disso, a autoestima de
meninas adolescentes está muito relacionada à imagem corporal, razão
pela qual não é surpresa a epidemia de distúrbios alimentares que foi
ocasionada.

Os distúrbios alimentares
Quando uma criança ou adolescente entra numa rede social como o
TikTok, imagens e vídeos aparecem em sequência diante de seus olhos,
seguindo um algoritmo que busca prendê-los pelo máximo de tempo
possível. As coisas vistas nos vídeos levam a pessoa inevitavelmente a
um processo próprio do comportamento social humano: comparar-se
aos outros. Quando vê essas imagens, a criança ou o jovem vai se
comparar com quem vê na tela em termos de imagem corporal, beleza
física, habilidade ou destreza, riquezas materiais, o quanto a pessoa
viaja etc. Essas comparações sempre são ascendentes: ver alguém
medíocre no que faz não causa interesse, o que se traduz em
“penalização” da parte do algoritmo. 195 No entanto, um homem ou
uma mulher não vão fazer essas comparações sociais ascendentes da
mesma maneira. Quando um homem vê outro homem cujo corpo é
musculoso ou que realiza provas de muita destreza e habilidade, ele
celebra e talvez se motive a imitá-lo e passe horas chutando uma bola
para ser outro Messi. Contudo, quando uma adolescente vê alguém a
quem percebe como “superior”, ela facilmente pode sentir inveja e
ciúmes. Ou seja, quando uma menina ou uma adolescente é exposta a
alguém cujas características pareçam inatingíveis, há uma tendência de
sofrimento na autoestima e na visão de si mesma. Esse tipo de
comparações sociais ascendentes, que estão amplamente estudadas em
contextos reais, foi exacerbado com a introdução das redes sociais e
afeta de maneira especial mais a mulher do que o homem. 196

Além disso, esse problema se potencializa pelo fato de que, na


maioria das vezes, a imagem de si mesmo que um in uencer expõe nas
redes sociais é irreal e ctícia, nada mais que um produto de
marketing e Photoshop. Esses enganos arti ciais acabam sequestrando
o processo cognitivo de comparação do adolescente, o qual se
deslumbra por um entorno arti cial e orquestrado que mostra
indivíduos muito bem-sucedidos na suposta vida pessoal. O resultado
lamentável é um uso muitas vezes patológico das redes sociais não
apenas por parte de crianças e adolescentes, mas também de adultos,
resultando em exigências e expectativas pouco realistas de si mesmo, o
que, por sua vez, conduz a uma má imagem corporal e um conceito
negativo de si mesmo. 197

Num artigo apresentado no e Wall Street Journal, em setembro de


2021, é relatada a história de Anastasia Vlasova, uma adolescente que
estava em tratamento por ter desenvolvido um distúrbio alimentar no
ano anterior. 198 Esses tipos de distúrbios são um conjunto de
condições de saúde mental, caracterizados por comportamentos
alimentares inadequados e por preocupações com a imagem corporal
que afetam seriamente o peso, e ocorrem com mais frequência em
mulheres com idades entre 15 e 24 anos. 199 O interessante no caso de
Anastasia é que ela tinha uma ideia clara de onde provinha seu
problema: o Instagram. Tendo ingressado na plataforma aos 13 anos,
ela passava três horas por dia fascinada com as vidas e os corpos
aparentemente perfeitos e esculpidos das in uencers tness que
apareciam em seu feed. Mas isso estava destruindo sua autoestima, e, o
que é pior, como denunciou o artigo em questão, é que o Facebook
estava ciente.

As investigações lideradas pela própria empresa mostravam


problemas signi cativos na saúde mental dos adolescentes que
estavam no Instagram. Em uma apresentação interna da empresa, em
março de 2020, os investigadores declararam que “32% das
adolescentes disseram que, quando se sentiam mal em relação a seus
corpos, o Instagram as fazia se sentir pior”. 200 Em seguida, zeram
referência à comparação social que mencionamos mais acima: “As
comparações no Instagram podem mudar a maneira como as jovens se
enxergam e se descrevem”. 201 Em outra investigação interna do
Facebook, em 2019, os documentos revelaram que eles estavam
conscientes do problema: “Nós pioramos os problemas de imagem
corporal de uma em cada três adolescentes”; “As adolescentes culpam
o Instagram pelos aumentos na taxa de ansiedade e depressão”. 202 Mais
ainda, as investigações internas do Facebook que foram ltradas,
inclusive, mencionavam a comparação social ascendente como um
problema especí co do Instagram, uma vez que essa plataforma, muito
mais que as demais, põe o foco no corpo e no estilo de vida.

A doutora Angela Guarda, diretora do programa de distúrbios


alimentares no Hospital Johns Hopkins e professora de psiquiatria da
Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins, a rmou,
numa entrevista para o e Wall Street Journal, que é comum que seus
pacientes aprendam nas redes sociais técnicas para restringir a
ingestão de alimentos. Segundo ela, o Instagram e as outras redes
sociais têm um papel fundamental em metade dos pacientes que ela
atende. 203 É aqui que o algoritmo é fundamental para entender esse
problema.

O Facebook comprou o Instagram por 1 bilhão de dólares, no ano de


2012, em parte porque, pela primeira vez, a empresa havia notado um
decréscimo de usuários adolescentes na plataforma. Imediatamente, a
empresa que contava somente com 13 empregados à época da
aquisição virou a maior aposta do Facebook para o crescimento entre
adolescentes. Quando se tornou propriedade de Mark Zuckerberg, o
Instagram pôs o foco de atenção nas fotos, com ltros que facilitavam
para o usuário a edição de imagens. Mais tarde, foram acrescentados
vídeos e reels, principalmente por causa do súbito surgimento do
TikTok, cujo conteúdo era exibido segundo algoritmos que tinham
como objetivo prolongar a permanência do usuário e fazê-lo regressar
uma e outra vez, como se fosse um tipo de jogo adictivo, conforme
vimos mais acima. É aqui que se percebe o problema subjacente.
Quando uma jovem começa a indagar sobre maneiras de emagrecer
ou de controlar sua alimentação e a exercitar-se de modo exagerado
para se parecer com uma princesa de Instagram, o algoritmo se
encarregará de introduzi-la num mundo virtual onde abundam vídeos
sobre como perder peso (e como fazê-lo rapidamente), qual é o corpo
ideal, o que comer e o que evitar etc. E assim, pouco a pouco, sem se
dar conta, a jovem começa a desenvolver um distúrbio alimentar a
partir de comportamentos que vai incorporando sem fazer ideia do
drama que está começando a viver.

Um desa o que surgiu no TikTok e no Instagram consistia em pegar


o cabo do fone de ouvido e tentar dar duas voltas ao redor da cintura
para ver se os extremos se tocavam. 204 O desa o da cintura, como foi
chamado, acabou exaltando corpos enfermos, os quais, no entanto,
eram apresentados como a imagem corporal desejável — isso fez com
que muitos adolescentes se comparassem de modo doentio e
ingressassem no mundo das dietas extremadas e do exercício físico
compulsivo, já que percebiam que seu “êxito” social seria maior ou
menor segundo a quantidade de voltas que o cabo dava ao redor da
cintura. Nós devemos lembrar que um desa o (challenge) só é possível
quando o algoritmo o promove, razão pela qual é tecnicamente
impossível que as plataformas não saibam o que está acontecendo. Por
essa razão é que nós nos animamos a denunciar esse nível de
manipulação provocadora de adicção, que pode até mesmo ser mortal
para um adolescente. O TikTok e o Instagram estão repletos de
conteúdos que viralizam e que promovem comportamentos de risco
vinculados a dietas extremas e ao exercício físico compulsivo. Basta
ver que as hashtags promotoras de magreza extrema (#thinspiration;
#thinbody) obtiveram mais de 2,5 bilhões de visualizações. 205

As buscas sobre distúrbios alimentares aumentaram


exponencialmente e são um fenômeno global crescente. 206 Nos
Estados Unidos, calcula-se que 24 milhões de pessoas sofram de
algum desses transtornos, os quais são, depois da adicção a opioides, a
segunda causa de morte por doença mental: 10.200 mortes anuais. 207
Na Argentina, esses transtornos aumentaram cerca de 100% e vieram
acompanhados de depressão, ansiedade, automutilação e tentativas de
suicídio, inclusive em menores de 12 anos. 208 As redes sociais têm uma
grande responsabilidade nisso. Num estudo publicado no Italian
Journal of Pediatrics, em 2022, os pesquisadores estudaram a
associação entre o uso do TikTok e o desenvolvimento de distúrbios
alimentares em adolescentes com idade média de 14 anos. 209 O tema
mais pesquisado por 21% dos participantes tinha a ver com dietas e
centrava-se em conteúdos que levavam a distúrbios alimentares. Além
disso, 59% das adolescentes manifestaram autoestima muito baixa,
graças ao uso da rede social, e 26,9% informaram que haviam mudado
sua alimentação em consequência dos vídeos que viam.

Embora os distúrbios alimentares sejam fenômenos complexos e


tenham múltiplas causas, não podemos deixar de lado o fator
tecnológico e a função do algoritmo no desenvolvimento dessas
psicopatias. Obviamente, as quarentenas e os con namentos
in uenciaram tremendamente nessa explosão de casos, mas as redes,
em vez de amenizarem a situação, exacerbaram negativamente o
problema e são, de fato, um risco a ser considerado. 210
Depressão e suicídio
Uma revisão dos estudos mais importantes que foram publicados
sobre a saúde mental dos adolescentes nas últimas décadas nos fornece
um panorama aterrador da situação atual. 211 É normal que os níveis de
depressão e ansiedade entre adolescentes aumentem e diminuam com
o tempo. O que jamais foi observado, contudo, é um ponto de in exão,
a partir do ano de 2010, relativo à depressão entre adolescentes
nascidos depois de 1996, que é, no geral, muito mais grave entre as
meninas. Um exemplo concreto é como, entre os anos 2010 e 2014, os
níveis de internação em hospitais dos Estados Unidos por
automutilação não aumentaram nem entre mulheres acima dos 20
anos, nem entre crianças e adolescentes do sexo masculino, mas eles
duplicaram entre as meninas com idade entre 10 e 14 anos. 212 Além
disso, a partir de 2010, os sintomas depressivos, as hospitalizações por
tentativa de suicídio e as mortes por suicídio entre adolescentes
aumentaram de forma exponencial, após um período em que os
problemas de saúde mental haviam diminuído ou se mantinham
estáveis. Entre 2009 e 2015, 33% a mais de adolescentes apresentaram
níveis elevados de sintomas depressivos, 12% a mais relataram ao
menos um problema relacionado com o suicídio e 3% a mais
cometeram suicídio. 213

No Grá co 1, nós observamos como há uma quebra a partir de 2010


principalmente entre as adolescentes de 14 a 17 anos, entre as quais,
em 2020, 25% haviam sofrido episódios depressivos sérios cuja
duração era de mais de 2 semanas. 214 Também houve um aumento
correspondente de suicídios para ambos os sexos nesse grupo etário.
215
Dados semelhantes foram observados no Canadá, onde há um salto
signi cativo, a partir de 2010, nos distúrbios psicológicos e nas
hospitalizações por automutilações em meninas de 14 a 17 anos,
seguidas pelas meninas de 10 a 13 anos e, em menor medida, pelos
meninos da mesma idade (ver Grá co 2). 216 Na Inglaterra, os dados
mostram um panorama igualmente grave: um aumento exponencial
de distúrbios psiquiátricos, depressão e automutilação em crianças e
adolescentes a partir de 2010, especialmente em meninas de 10 a 19
anos de idade. 217 Com relação às automutilações por cada 10 mil
habitantes, nota-se um grande aumento de casos entre as adolescentes
de 13 a 16 anos (Grá co 3)
Grá co 1: Porcentagem de hospitalizações por lesões em razão de
automutilações intencionais, por sexo e grupo de idade, Canadá, (excluído
Québec), 2009–2010, 2013–2014.

Grá co 2: Porcentagem de hospitalizações por ferimentos em razão de


automutilações intencionais, por sexo e grupo etário, Canadá (excluído
Quebec), 2009–2010, 2013–2014.
Fonte: Canadian Institute for Health Information. Tabelas de dados: agressão
intencional e automutilação entre crianças e jovens no Canadá, 2009-2010 a
2013-2014 - panorama das hospitalizações.

Grá co 3:

Quais variáveis explicam esse salto terrível nos problemas de


depressão, suicídio e automutilação na população adolescente de 2010
em diante? Um dado notável é que, a partir de 2010, ocorreu uma
migração massiva da população adolescente ao mundo digital, mas
com diferenças a depender do sexo. Desde então, adolescentes do sexo
feminino têm estado muito mais inclinadas às plataformas visuais. Em
seu primeiro momento, a primazia foi do Instagram e do Snapchat,
mas já em 2022 o lugar primordial era do TikTok. Os do sexo
masculino, por outro lado, embora passem muito tempo diante de
telas, não o passam tanto nas redes sociais, mas em videogames ou em
plataformas como YouTube, Twitch e Reddit. 218 Essas diferenças entre
ambos os sexos poderiam explicar a relação que se estabeleceu entre
uso excessivo das redes e resultados preocupantes relativos à saúde
mental, principalmente em relação à depressão e ao suicídio em
meninas adolescentes. 219 E há aqui um elemento importante para a
repercussão psicológica do usuário: se um jovem acaba de jogar um
videogame, não vai car o tempo todo pensando sobre o que os outros
rapazes pensam sobre seu desempenho. Contudo, o Instagram ou o
TikTok podem torturar psicologicamente uma adolescente, mesmo
que ela sequer tenha um celular em mãos, pelo simples fato de que
cada postagem é uma espécie de julgamento público, no decorrer do
qual o que os outros dirão as perseguirá como um fantasma. Por quê?
Porque a adolescente dá uma importância muito maior a suas relações
sociais e ao que se pensa dela, o que a leva muitas vezes a pensamentos
obsessivos, preocupação e vergonha de si mesma. 220

O uso das redes sociais foi associado, signi cativamente, ao aumento


de depressão entre a população jovem adulta (19–32 anos), num
estudo publicado em 2016 e patrocinado pelo Instituto de Saúde
Mental dos Estados Unidos. 221 Em outro relatório, publicado em 2017,
pesquisadores britânicos pediram que 1.500 adolescentes
classi cassem como cada uma das redes sociais afetava a relação deles
com a ansiedade, a solidão, a imagem corporal e o sono. O Instagram
obteve a classi cação mais prejudicial, seguido pelo Snapchat e, logo
depois, pelo Facebook. 222

A própria investigação interna feita pelo Facebook e vazada à


imprensa em 2021 revelou que “os adolescentes culpam o Instagram
pelos aumentos nos níveis de ansiedade e depressão”. 223 Além disso, os
próprios investigadores sinalizaram que “a comparação social é pior”
no Instagram, graças ao foco no corpo e no estilo de vida, o que
aponta a responsabilidade da plataforma no dano psicológico em
tantos adolescentes. O TikTok tem efeitos semelhantes, tanto que
pesquisadores na China já trabalham com o conceito de transtorno
por uso de TikTok. Um estudo publicado em 2021, de cuja
investigação participaram 3.036 adolescentes chineses, conclui que o
uso do TikTok está, sem dúvida, relacionado à perda de memória, à
depressão, à ansiedade e ao estresse. 224 As adolescentes manifestaram
o transtorno por uso de TikTok em maior número. No entanto, os
homens manifestaram mais depressão, ansiedade e estresse do que as
mulheres.

O sono é também outro fator importante para se considerar. Mais


acima, nós mencionamos como as redes sociais e o uso do celular, em
geral, estão afetando a qualidade do sono toda noite. A depressão e o
sono têm uma relação complicada e bidirecional, uma vez que elas
podem in uenciar-se entre si. Frequentemente, as pessoas com
depressão têm problemas para dormir e vice-versa: as pessoas com
problemas de sono são mais vulneráveis à depressão. 225 Segundo Jean
Twenge, a geração iPhone é mais suscetível a sofrer de depressão e,
possivelmente, uma das causas seja a falta de sono resultante do uso
excessivo do celular. Os adolescentes que não dormem o su ciente têm
31% mais probabilidade de exibir sintomas depressivos. Em jovens que
dormem menos de 7 horas diárias, a probabilidade de haver um fator
de risco relativo ao suicídio aumenta a 68%. 226

Conclusão
É notável o paralelo entre o incremento do uso do celular — com a
resultante migração massiva para o mundo digital, especialmente para
as redes — e a quantidade de problemas psicológicos sérios entre a
população adolescente. Apesar de correlação não implicar causalidade,
como reza o ditado, Jonathan Haidt é muito certeiro quando a rma
que ninguém conseguiu encontrar ainda uma explicação alternativa à
deterioração massiva, repentina e multinacional da saúde mental dos
adolescentes a partir de 2010. 227 Esses problemas de comportamento e
de saúde mental são tão generalizados que não podem ser reduzidos a
causas locais (tiroteios em escolas dos Estados Unidos), pressão
escolar (as exigências hoje são muito menores) ou questões culturais,
pois esses problemas se manifestam na população adolescente geral de
todo o planeta na medida em que se aumenta o uso do celular.

Além disso, o uso do celular e das redes sociais é a única atividade


que aumentou de maneira signi cativa desde 2010, razão pela qual nós
di cilmente poderíamos atribuir a outra coisa a falta de sono, a
depressão, a ansiedade, os problemas de autoestima e os distúrbios
alimentares. A única explicação racional até o momento é que as
causas de grande parte desses problemas podem ser reduzidas ao uso
excessivo e adictivo de um telefone celular, que podemos levar para
todo lado e usar a qualquer momento. E o pior é que não somente
esses problemas não se reduzirão nos próximos anos, mas também
ainda desconhecemos o alcance e o dano que as redes sociais e o uso
excessivo do celular estão produzindo, pois os últimos membros da
geração iPhone farão 18 anos por volta de 2030. Certamente, nessa
altura, os pais re etirão e se perguntarão em que estavam pensando
quando renunciaram a suas obrigações paternas e maternas em favor
da tecnologia.

No estudo sobre sintomas depressivos, publicado em 2018 por Jean


Twenge e seus colegas, ca claro que as únicas atividades realizadas
por adolescentes que previram maiores sintomas depressivos ou
resultados relacionados ao suicídio, e que aumentaram desde 2011, são
o uso de dispositivos eletrônicos, o uso das redes sociais e a leitura de
notícias na internet. 228 Por outro lado, as únicas atividades que
previram menores sintomas depressivos e que diminuíram desde 2011
foram a interação social em pessoa, o uso de meios de comunicação
impressos, os esportes e o exercício. Portanto, o problema da
sociabilidade ocasionada pelas redes é mais do que evidente, além de
os jovens já não lerem livros como antes e terem deixado de praticar
esportes. A resposta e a solução a esses problemas, portanto, são mais
do que óbvias.
 :   
 :  
 
A epidemia do século  é a solidão, um problema que já afeta não
apenas os idosos, mas também os mais jovens, a tal ponto que, em
países como os Estados Unidos, isso se tornou um verdadeiro
problema de saúde pública. 229 Nos países industrializados, essa doença
atinge a terça parte de todos os cidadãos, afetando de maneira severa
uma em cada 12 pessoas. 230 Jamais existiu, na história da humanidade,
cidades com populações tão grandes e tão hiperconectadas com redes
de comunicação de último nível. No entanto, o problema da solidão
cou mais profundo, como nunca antes, principalmente quando foram
introduzidas as redes sociais e quando a maioria dos adolescentes
obtiveram acesso a um celular em quase todos os rincões do planeta.
231
Isso ocorre apesar de tantas ferramentas tecnológicas que nos
“unem” ou, em grande parte, por culpa delas?

Um aspecto essencial da solidão é que o indivíduo se sente


socialmente isolado, mesmo quando se encontra entre outras pessoas
ou se acha hiperconectado nas redes sociais. 232 No entanto, é
importante considerar a solidão em si um mecanismo de
sobrevivência. Assim como a dor nos alerta quanto a um dano físico, a
solidão nos ajuda a identi car quando nossas conexões com outros em
busca de auxílio mútuo e proteção estão ameaçadas ou ausentes. 233
Nesse sentido, a solidão é um sinal de que devemos saber escutar, mas
nunca encobrir, já que ela é o equivalente social da dor física e, à
semelhança desta, funciona como motivador para aliviar a dor social
por meio da busca das conexões necessárias para nos sentirmos
seguros, protegidos e satisfeitos com nossas vidas. 234 Quem se sente só
está diante de um problema de sociabilidade que deve ser remediado.
Muitos otimistas esperavam que a internet, primeiramente, e o
surgimento das redes sociais, em seguida, pudessem satisfazer a
necessidade humana de conexão social. A evidência nos mostra o
contrário. As redes sociais e as comunidades virtuais não apenas não
satis zeram essa inata necessidade humana de conexão, como também
pioraram a situação por oferecer um escape da realidade. A solidão se
converteu numa epidemia; a internet, em sua escapatória. E quando a
tecnologia e as redes sociais são utilizadas para escapar da sociedade e
evitar a “dor social” que as interações humanas implicam, os
sentimentos de solidão se incrementam. 235

Isso é mais bem compreendido quando entendemos que a solidão é


um mecanismo essencial para a sobrevivência e para a reprodução de
nossa espécie, ou seja, a sensação de solidão é um sinal de que algo
não está bem conosco. 236 A internet, as redes sociais, os videogames e
o mundo virtual estão funcionando como uma espécie de anestesia,
que nos engana ao eliminar momentaneamente o sentimento
temporário de solidão. E aqui nós retomamos um dos problemas
centrais que enfrentamos com o uso da tecnologia. Seu uso é adictivo
não apenas por causa da liberação de dopamina, mas também porque
pode funcionar como anestesia diante da realidade de problemas de
inserção social, que logo se exacerbam ainda mais. Paradoxalmente,
essa fuga da solidão provoca um sentimento de solidão ainda mais
profundo, um ciclo de destruição psicológica para o ser humano.

Contudo, a tecnologia não é a única que deve ser culpada, pois ela
veio apenas exacerbar um problema anterior. No fundo desse
problema está o individualismo crasso das sociedades liberais e
seculares, que transformaram, na consciência pública, o conceito de
ser humano como ser social, tendo perdido de vista o sentido
transcendente da vida. Ser adulto se tornou em sinônimo de ser
independente. Mas a realidade é outra — e isso é algo que nós
compartilhamos com o restante dos mamíferos —, pois, assim como as
crianças dependem dos adultos (nossos pais, mestres etc.), a vida
adulta é caracterizada pelo fato de que outros podem depender de nós.
É por isso que o adulto ainda dependente dos pais ou da esposa para
sobreviver é profundamente imaturo. O indivíduo amadurecerá e
chegará à idade adulta não quando car independente, mas quando os
outros puderem depender dele. Chegar a essa pretensa independência,
em que não se depende de mais ninguém, acaba exacerbando o
sentimento de solidão. Não é, portanto, coincidência que a solidão seja
uma epidemia, especialmente naqueles países onde o individualismo e
o secularismo acabaram se impondo. 237

A transição ao mundo digital recrudesceu o individualismo, tendo


acarretado consigo problemas fundamentais no desenvolvimento do
ser humano, que implicaram uma transformação no modo de se
validar socialmente. O ser humano é um ser social e, portanto, tão
sensível às experiências de ostracismo e rejeição, que ser excluído e
ignorado pode ameaçar as necessidades fundamentais e o estado de
ânimo. 238 Mas, então, o que se passa quando não existe esse entorno
físico para se socializar? O que ocorre quando a realidade disponível
não é mais do que a de um mundo virtual, cuja permanência está
condicionada ao impacto das redes?

O problema da solidão
A tecnologia que supostamente nos conecta está, na verdade, nos
dividindo e isolado, criando um verdadeiro dilema social: quem
escapa da reali dade dos outros se esconde no mundo virtual. Esse
dilema social não é um problema limitado apenas às redes sociais, mas
estende-se também a todas as tecnologias que invadiram nossas vidas.
O celular acelerou o processo de fragmentação social, derivada do
consumo de produtos personalizados, de tal maneira que a
desconexão familiar é hoje muito maior. Basta sair para comer e
observar o nível de comunicação entre os comensais numa mesma
mesa. Em muitos casos, ele é completamente nulo, principalmente
entre famílias. Se agem assim em público, é possível supor que seja
diferente dentro do lar?
Quando Mark Zuckerberg introduziu a opção de dar like, em 2010, o
Facebook não estava apenas explorando um mecanismo psicológico
profundamente adictivo, pois também estava introduzindo uma nova
forma — básica e interativa — de apoio social. 239 Com esse simples
botão, o usuário estava se expondo a uma espécie de julgamento
público toda vez que compartilhava uma foto ou um link. Uma
imagem com poucos likes ou nenhum deles poderia ser não somente
algo psicologicamente devastador, mas também uma forma de
condenação pública: uma postagem não ter likes o su ciente era
sinônimo de não ter amigos o su ciente (impopularidade) ou, pior
ainda, de não impressionar ninguém... Isso, inclusive, levou a
comportamentos como o de apagar toda postagem que tivesse menos
de 100 likes, segundo documenta a psicóloga Jean Twenge. 240

Ser popular nas redes não é um problema em si, mas é, sim, um


problema não ter conexões reais no mundo físico. É a interação e a
presença física com outros amigos que causam a liberação dos
neuroquímicos que nos ajudarão a nos regular emocional e
psicologicamente, como seres sociais que somos. 241 E é aqui que
vemos como as redes sociais e o uso desmedido da internet
representam um problema grave, já que, a partir de 2010, foi vista uma
correlação entre o uso desmedido da internet e a ruidosa queda na
média das atividades sociais das pessoas, especialmente de
adolescentes. 242 Isso logo se vê re etido na ansiedade, no ostracismo e
em outros problemas psicológicos resultantes apenas do fato de não
ter sido considerado ou de não ter sido marcado numa fotogra a.

Num estudo sobre a exclusão social no Instagram, publicado em


2022, psicólogos da Alemanha e da Suíça descobriram que, para quem
vive no universo virtual, não ser marcado (com o arroba seguido do
nome) é visto como uma nova forma de ostracismo e de rejeição
social. 243 O mesmo foi observado em outros ambientes e interações
virtuais, como deixar de ser amigos no Facebook ou não ser seguido
numa rede social por algum conhecido, não receber uma resposta no
WhatsApp depois que a plataforma mostra que a mensagem já foi lida
ou não receber a quantidade habitual de likes em resposta a uma
publicação nas redes sociais. 244 Em todos esses casos, as pessoas
estudadas os interpretaram como uma forma de ostracismo, tendo
experimentado consequências negativas semelhantes às de serem
excluídos na vida presencial. 245 O mesmo ocorre quando se sofre
alguma espécie de rejei ção no mundo virtual: aumenta a atividade
cerebral nas regiões associadas ao conhecimento social e à rejeição na
vida física (o córtex pré-frontal medial). 246 O pior de tudo é que,
agora, o sentimento de rejeição pode ser quanti cado, diferentemente
da vida presencial, na qual as relações sociais são ambíguas e abertas à
interpretação (“talvez eu o tenha entendido mal”, “você não me
compreendeu” etc.). As redes sociais quanti cam diretamente o nosso
êxito ou fracasso a cada imagem e comentário, proporcionando
métricas claras na forma de amigos, seguidores, likes e dislikes a cada
postagem, aprofundando ainda mais o julgamento público a que a
pessoa voluntariamente se expõe. 247 Esse elemento quanti cador
também é parte desse processo adictivo das redes, que mencionamos
anteriormente e que leva a pessoa a conferir constantemente as
métricas de cada postagem.

É um fato que o celular está afetando o desenvolvimento das


habilidades sociais de toda uma geração, pois ele traslada toda a
interação ao mundo virtual e impossibilita, nesse entorno, as conexões
reais e cara a cara que são parte do processo de amadurecimento tanto
psicológico quanto cerebral das pessoas. Como elas aprenderão a
persuadir os outros, a escutar com mente aberta, a comunicar uma
mensagem de modo convincente, a negociar e resolver problemas e
discordâncias, a trabalhar e colaborar com outros visando a um
objetivo comum? Segundo o neurocientista Andy Doan, da
Universidade Johns Hopkins, o cérebro que cresce principalmente
com amizades virtuais, possivelmente, nunca se ajustará às interações
sociais da vida presencial. 248 E isso é algo muitíssimo sério se levamos
em conta a importância do desenvolvimento do cérebro humano na
infância e na adolescência.
Entre 1950 e 1970, Colin Blakemore e Grahame Cooper realizaram
uma série de experimentos com gatos para estudar como o
desenvolvimento do cérebro na infância afeta o restante da vida. 249 O
experimento consistiu em con nar gatinhos até os 5 meses de idade
numa habitação totalmente escura. Uma vez ao dia, metade deles era
tirada da escuridão e colocada num cilindro coberto de linhas brancas
e pretas horizontais. O mesmo se fazia com os gatinhos da outra
metade, exceto que estes eram postos num cilindro com linhas brancas
e pretas verticais. O interessante ocorreu quando, após 5 meses, eles
foram liberados do ambiente fechado: os gatos estavam totalmente
confusos com seus arredores, sendo-lhes quase impossível julgar
quando estavam longe de um objeto físico. Uma vez livres para
perambular, eles esbarravam em todo lugar, não conseguiam pular,
muito menos seguir objetos em movimento. Ou seja, o córtex visual
havia sido afetado durante o período-chave de maturação, de tal
maneira que os gatos expostos a linhas verticais não mostravam
atividade alguma em reação às linhas horizontais, ao passo que os
expostos a linhas horizontais não reagiam às linhas verticais. De certo
modo, seus cérebros eram incapazes de ver aquilo a que não haviam
sido expostos durante seus primeiros meses de vida.

Se isso é grave, pensemos em como a tecnologia pode afetar de


maneira parecida um bebê criado com um iPad ou um menino de 4
anos que, desde muito pequeno, teve uma babá on-line para entretê-lo.
Temos que nos dar conta de que o período da infância e da
adolescência é um momento-chave para o desenvolvimento humano,
quando o cérebro experimenta mudanças estruturais e funcionais
extensivas, que podem ser profundamente afetadas pela tecnologia. 250
Dado que as regiões cerebrais relacionadas aos distintos aspectos
sociais experimentam extensas mudanças durante a infância e a
adolescência, é provável que a in uência das redes sociais seja
particularmente forte no desenvolvimento cerebral. 251 O potencial
problema enfrentado pelas crianças é o mesmo que o dos gatos: se não
desenvolvem certas habilidades sociais para lhes ajudar a navegar na
complexidade desses relacionamentos, há uma grande probabilidade
de que nunca as desenvolvam na idade adulta por uma questão de
impossibilidade neurológica. 252 É precisamente isso que afetará sua
capacidade de se relacionar afetivamente com outra pessoa. Por isso,
não é de se estranhar que os membros da geração iPhone sejam tão
propensos a cair na pornogra a, pois eles, vendo-se incapacitados de
estabelecer um relacionamento baseado no amor e na intimidade,
podem acessá-la muito facilmente com os aparelhos que seus pais lhes
deram para que se “entretivessem”. A pornogra a, por sua vez,
recrudesce o problema, pois ela insensibiliza a criança e o adolescente,
que chegam a preferir as imagens a um relacionamento real no futuro.
253

No capítulo , nós zemos referência a um importante estudo de


2019, publicado pela Associação Mundial de Psiquiatria, sobre o
impacto da internet no cérebro humano e nas distintas funções
cognitivas. Um elemento desse estudo que nós deixamos para este
capítulo é: como a internet está afetando os processos de socialização e
a capacidade para o que é chamado de conhecimento social? 254 A
internet e, especialmente, as redes sociais evocam e imitam processos
de socialização do mundo real. Contudo, há uma grande quantidade
de estudos que mostram como o mundo virtual pode afetar nossa vida
social, o conceito que se tem de si mesmo, a autoestima, as interações
com outras pessoas e o status dentro dessas plataformas virtuais. Além
disso, os problemas psicológicos que abordamos no capítulo anterior
são produto de uma complexa interação de vários fatores. Entre eles,
nós mencionamos as di culdades provenientes do uso excessivo do
celular (ao que se seguem a adicção, os problemas de autoestima, a
depressão e os danos autoin igidos), ao que devemos acrescentar o
deslocamento das interações sociais ao mundo virtual, a conduta
sedentária ( car dentro do quarto o dia todo) e a percepção de solidão.
255

Por uma questão neurobiológica, equivocaram-se aqueles que viam


nas redes sociais um raio de esperança diante do problema da solidão.
Há uma diferença enorme entre as relações sociais pessoais e as
conexões virtuais nas redes sociais, uma vez que se orientar no mundo
presencial e no virtual exige funções cognitivas completamente
diferentes. 256 Embora seja possível ver semelhanças entre as amizades
virtuais e as presenciais, as diferenças em nível biológico são
fundamentais, porque nestas há um limite para o número de amigos
com quem podemos interagir de cada vez, mas a internet cria a ilusão
de que se pode interagir com milhões de amigos de modo simultâneo.
257
Fingir que uma rede social possa ajudar um jovem a sair de si
mesmo não passa de uma ilusão, que acaba sendo um mecanismo de
escape da realidade. Levando em conta que as relações sociais e a
sensação de conexão com outras pessoas são determinantes
importantíssimos para o alívio do estresse e para o bem-estar físico e
mental, isso é preocupante. 258

São as amizades presenciais, não as virtuais, que exercem um papel


vital no desenvolvimento psicológico da criança e do adolescente.
Além disso, a qualidade e a quantidade de amizades trazem
moderação a muitos problemas de comportamento. 259 As redes
sociais, contudo, favorecem laços totalmente super ciais e contribuem
para que o jovem tenha uma profunda sensação de solidão. 260 Além
disso, desde a infância, os amigos desempenham um papel que será
cada vez mais proeminente na adaptação e no desenvolvimento,
chegando a seu ponto máximo durante a adolescência. Esse papel dos
amigos chega, inclusive, a superar a relação entre pai e lho. 261 A boa
in uência dos amigos ajuda o adolescente a se desenvolver de maneira
harmoniosa e evita qualquer disfunção social, embora ocorra o
contrário quando as in uências são negativas. 262 É por isso que, nessa
etapa do desenvolvimento pessoal, é importantíssimo forjar amizades
tanto em quantidade como, o que é mais importante, em qualidade.
São essas amizades que se tornam uma fonte vital de apoio social para
o adolescente e exercem uma in uência crítica no processo de
amadurecimento. 263 Saber que tem o apoio de um grupo de amigos é o
que permite ao adolescente fazer frente aos acontecimentos
estressantes de sua vida com maior facilidade (por exemplo, a adicção
à internet, os sintomas de depressão ou o comportamento agressivo),
protegendo-lhe contra os efeitos nocivos dos transtornos e dos
distúrbios psicológicos. 264

A internet e as redes sociais estão prejudicando o desenvolvimento


emocional e social de toda uma geração, especialmente ao não
possibilitar desenvolver habilidades sociais autênticas. Mas essas
experiências agora são deslocadas pela virtualidade, a que se somam
tanto o fato de que as redes facilitam os sentimentos de exclusão
(quando um adolescente não é convidado a um evento) quanto a
pressão que se sofre quando se apresentam representações idealizadas
e ctícias, que ocasionam a inveja e a crença de que os demais têm
uma vida melhor. Tudo isso compromete o desenvolvimento de
habilidades sociais e leva a experimentar a solidão e uma série de
problemas psicológicos. 265 Desligar o celular deveria ser um
imperativo de bom senso para os que estão encarregados da educação
e formação das futuras gerações, sobretudo se estivermos conscientes
de que as redes sociais não reduzem o sentimento de solidão, antes,
elas o aprofundam e agravam. 266

O mito da caverna digital


Em sua obra mais conhecida, A República (380 a.C.), Platão sugere, no
conhecido mito da caverna, a ilusão de se viver num mundo ctício e
imaginário. 267 O relato se encontra registrado num diálogo entre
Sócrates e Glauco, seu irmão, enquanto conversam sobre o
conhecimento e a ignorância. 268 Além de Platão lançar ali sua teoria
do conhecimento e a diferença entre o conhecimento inteligível e o
sensível, a alegoria é mais do que apropriada para pensar sobre o
mundo virtual e o encanto das plataformas digitais, para onde o ser
humano solitário volta a sua atenção.

Sócrates pede a Glauco que imagine uma caverna subterrânea com


apenas uma abertura na extremidade superior, que dá passagem à luz.
No fundo dessa caverna, prisioneiros em grupo se encontram
acorrentados desde a infância, de tal maneira que não podem se voltar
nem olhar para outro lado por causa das correntes. Em suas costas,
arde um fogo e, entre o fogo e os prisioneiros, há um muro baixo,
como os que se encontram num teatro, atrás do qual os atores se
escondem e movimentam marionetes ou diferentes objetos de uma
apresentação. Mas os prisioneiros também não conseguem ver o muro
de trás, senão as sombras dos objetos manipulados por aqueles que se
encontram atrás dele e o muro à frente, no qual se projetam as
sombras desses objetos. Os prisioneiros veem guras de animais e
homens, crentes de que estão observando o mundo real, sem se darem
conta de que são somente sombras desses objetos. E quando esses
homens-atores falam, o eco ressoa na parede, fazendo com que os
prisioneiros pensem que estão ouvindo, numa espécie de engano
intelectual, as vozes das sombras. Essa caverna foi, de fato, imaginada
como um teatro de sombras, 269 mas seus espectadores não estão
conscientes de viver num mundo ctício, tornado possível pela
tecnologia de um fogo cuja luz arti cial projeta ilusões cênicas na
parede de cada um dos dispositivos móveis que des lam em procissão.

Um dia, um dos prisioneiros é nalmente libertado e obrigado a se


levantar, virar para trás e olhar para a luz do fogo, cujo resplendor o
cega, impossibilitando-o de ver os objetos reais até que sua vista se
acomode. “O que achas, pois, que ele responderá se alguém lhe vier
dizer que tudo quanto vira até então eram apenas vãos fantasmas, mas
que presentemente, mais perto da realidade e voltado para objetos
mais reais, vê de maneira mais justa?”, pergunta Sócrates. 270 Por acaso,
não crerá que “as sombras que via há pouco não lhe parecerão mais
verdadeiras do que os objetos que ora lhe são mostrados?”. 271 Eis o
primeiro passo do conhecimento. E, uma vez liberto da caverna e
diante da claridade do sol, depois de se acostumar à luz, ele “primeiro
distinguirá mais facilmente as sombras, depois as imagens dos homens
e dos outros objetos que se re etem nas águas, a seguir os próprios
objetos”. 272 No entanto, não será conhecimento até que possa já não
observar o re exo das coisas, mas, sim, olhá-las diretamente e “o
próprio sol em seu verdadeiro lugar [...]. Depois disso, há de concluir,
a respeito do sol, que é este que faz as estações e os anos, que governa
tudo no mundo visível e que, de certa maneira, é causa de tudo quanto
ele via na caverna”. 273

Assim, surge uma re exão mais que interessante para o mundo de


hoje. Sócrates sugere que esse homem não apenas sentiria compaixão
por seus companheiros de escravidão naquela caverna como também
não faria mais caso das “honras e louvores e recompensas àquele que
captasse com olhar mais vivo a passagem das sombras” naquele
mundo ctício. Pensemos na falsa glória do mundo virtual e das redes
sociais, ou daqueles que se gabam de avançar de fases num videogame,
mesmo que isso signi que não dormir por um mês ou perder todo o
contato com a realidade e que a própria existência não tenha sentido
fora de uma tela... “Sou de tua opinião: ele preferirá sofrer tudo a viver
desta maneira”, respondeu Glauco a Sócrates. 274 E se ele voltasse à sua
antiga prisão para despertar seus companheiros de letargia, diz
Sócrates:

[...] não provocará riso à própria custa e não dirão eles que, tendo ido
para cima, voltou com a vista arruinada, de sorte que não vale mesmo
a pena tentar subir até lá? E se alguém tentar soltá-los e conduzi-los
ao alto, e conseguissem eles pegá-lo e matá-lo, não o matarão? 275

Paradoxalmente, o que vive no engano preferirá antes matar quem se


atrever a libertá-lo a reconhecer que vive numa mentira.

Platão emprega, assim, o mito da caverna para explicar que nosso


conhecimento sensível é como o dos homens acorrentados que
somente veem sombras iluminadas pelo fogo. Apenas os que se elevam
até a esfera do inteligível e captam a ideia do bem, a “causa de tudo
quanto há de direito e belo em todas as coisas”, conhecerão de verdade
a realidade. 276 Os acorrentados, portanto, são destituídos de toda
referência à verdade, ao bem e à beleza, sendo portanto, testemunhas
de um engano que se projeta em toda uma parede, como uma tela que
aprisiona, mas na qual nós já não somos meros espectadores, o que
implica um perigo talvez muito maior. Platão não o diz, mas, nessa
alegoria, poderíamos considerar que os prisioneiros possivelmente
também produziam sombras, embora eles mesmos não tivessem como
sabê-lo, o que tornaria o engano ainda maior. Aqui, o mito da caverna
se transforma em algo que Platão jamais teria imaginado: numa
alegoria do mundo virtual, uma verdadeira caverna digital, onde
vivem presos aqueles nos quais a ilusão se sobrepôs à realidade, e,
como consequência dessas ilusões, sua adicção é uma realidade, mas a
sua vida é uma aparência. Por acaso, não notamos o impacto real do
celular naquelas crianças que têm acessos de birra quando os pais as
desacorrentam do smartphone, ansiando por essa condição de
escravidão? No mundo romano, os adictos eram os escravos. Hoje, os
adictos são também escravos do mundo digital, escravos não somente
de uma tela, mas também do relativismo, que é a consequência lógica
de negar um mundo transcendente. Curiosamente, embora o
relativismo seja enquadrado como liberdade, ele termina sendo prisão,
manipulação e domínio, já que o ser humano termina sendo escravo
de suas aparências, seus sentimentos e seus caprichos. 277 E uma
sociedade relativista é uma sociedade totalmente manipulável, já que o
primeiro passo de dominação e engenharia social consiste em
“despojá-la dos valores transcendentais que a dotam de estabilidade
moral e ontológica”, como assinala Laje. 278

Nas redes sociais, nós podemos ver a multidão como representada


pelos escravos acorrentados, que se entretêm, sob uma espécie de
encanto, com as sombras. O in uencer, aquele cujas sombras
prevalecem, não é uma sombra, mas apenas mais um escravo. Só que,
nesse ato teatral, ele se converte numa espécie de marionete disposta a
qualquer insensatez, contanto que sua sombra se sobressaia e, assim,
prenda ainda mais a massa nessa ilusão vã de viralizar suas loucuras e
de conquistar a atenção dos acorrentados. Do que ele não está
consciente é que sua viralização é manipulação, dele próprio e dos
outros, já que as redes precisam de bobos da corte para chamar
atenção, sendo tão melhores por quanto mais tempo puderem entreter
os usuários. O in uencer pensa que viralizou por mérito próprio,
inconsciente de que quem o viraliza é um algoritmo cuja intenção
primária não é premiá-lo (veremos mais sobre isso no próximo
capítulo). Ele é tão escravo quanto o restante, ou o é ainda mais, já que,
se ele deixar de coreografar e produzir sombras, o algoritmo da
caverna digital o penalizará. Para manter seu status, ele deve publicar
sem cessar, do contrário, o fogo deixará de iluminar e ele será apenas
mais um espectador da massa. E não se trata de publicar qualquer
coisa, mas conteúdo que o algoritmo imponha como “viral”. São as
métricas e os likes que, pouco a pouco, vão moldando seu
comportamento e, inclusive, sua identidade. Mas tudo é sombra
(apesar de avatar soar melhor) no mundo digital, e são as sombras,
não as ideias, que têm grande capacidade de viralização. Talvez seja
porque é nas sombras que os prisioneiros encontram uma linguagem
comum: não importa onde estejam acorrentados, todos as entenderão.
279

Poderíamos fazer uma analogia entre o mito da caverna e as


diferentes tecnologias da comunicação surgidas no último século.
Contudo, comparar a caverna com o mundo virtual é muito mais
apropriado do que compará-la com o rádio ou a televisão. As sombras
já não são somente as das estrelas do espetáculo e do gurante
ocasional que manda um cumprimento para sua mãe por trás da
câmera. Agora, todos têm a oportunidade de ser sombras fugazes na
era digital, sombras que rapidamente se desvanecem e são esquecidas
pela multidão. Além disso, à semelhança das sombras, essas imagens
precisam ser vistas rapidamente pelo exato fato de serem fugazes. O
que passou já perdeu o sentido. Mas isso também signi ca que, ao se
reduzir a própria identidade a uma sombra fugaz que muda, aquela
passa a ser percebida como fugaz, uida e totalmente inconsistente.
Talvez não deveríamos nos surpreender, então, com a proliferação de
adolescentes da geração iPhone que reclamam para si um status de não
binário e de gênero uido, empenhados em desenhar e redesenhar sua
imagem, independentemente de isso implicar bloqueadores
hormonais, hormônios sintéticos a vida inteira e a carni cina que é
amputar órgãos completamente saudáveis em decisões com
consequências não somente irreversíveis, mas também mortais. 280
Tampouco se deve estranhar a permeabilidade de propostas
ideológicas que prometem uma total transformação do ser humano:
ideologia de gênero, pós-humanismo e transumanismo, todos
apoiados em avanços técnicos sem nenhum critério bioético.

Obviamente, por trás dessas transformações pessoais, há toda uma


complexidade de causas e psicopatologias graves (nunca de verdadeira
liberdade), mas essa atitude cultural da imagem autoconstruída
também se manifesta no engano do cat sh, ou nos intentos “estéticos”
de redesenhar a imagem. 281 Hoje, todos competem com intuito de
serem sombras no teatro da caverna digital. E não se trata só de
Photoshop e imagens cuidadosamente modi cadas após horas de
tentativas para conseguir a foto desejada, 282 antes, há até os que, em
sua loucura, querem se parecer com a sombra, se ela não re etir sua
imagem corporal. Esse é o caso das cirurgias estéticas motivadas por
ltros de Instagram e TikTok que transformam o rosto (mediante
inteligência arti cial) de modo que ele pareça retocado com botox,
com lábios que parecem um bico de pato e maçãs do rosto
aumentadas. 283 O ltro Pillow Face animou muitas usuárias a
realizarem uma intervenção cirúrgica após lhes mostrar, na tela do
celular, não somente como elas cariam, mas também como caram
algumas famosas ao postarem imagens com o ltro... 284 Elas
preferiram a sombra à realidade, como manifestou uma usuária: “O
Instagram me deu o rosto que eu sempre quis”. 285 Ou seja, as sombras
estão exercendo uma in uência tão impensada na realidade da pessoa,
que se chega até o extremo de patologizar o comportamento. 286
Segundo o dizer do Facebook: “O metaverso será virtual, mas o
impacto será real”. 287

O metaverso
Em outubro de 2021, Mark Zuckerberg, numa tentativa de
transformar o Facebook numa plataforma de realidade virtual e tomar
a dianteira na próxima fase da internet, rebatizou a fusão entre o
Facebook e o Instagram com o nome de Meta e apresentou o Oculus,
um headset de realidade virtual utilizado para ingressar nessa caverna
digital. 288 A mensagem era clara: o Facebook deixaria de ser uma mera
rede social e se transformaria numa empresa do metaverso na nova era
da internet. Os outros gigantes tecnológicos não caram de braços
cruzados na conquista do espaço virtual. A Microso, por exemplo,
em 2022, adquiriu a Activision Blizzard, a desenvolvedora de jogos
eletrônicos que criou o Call of Duty, por 75 bilhões de dólares e, em
maio do mesmo ano, Satya Nadella,  da Microso, anunciou a
criação de um metaverso liderado pela empresa. 289 Jensen Huang, 
da Nvidia, a criadora de semicondutores, anunciou que sua companhia
estaria no coração da economia do metaverso, a qual “será maior que a
economia do mundo físico”. 290 Tencent, a principal empresa chinesa de
tecnologia, apresentou seu metaverso em maio de 2021, ao qual
chamou de realidade hiperdigital. 291 Esse anúncio provavelmente
apressou a Coreia do Sul, já que, no dia seguinte, o Ministério de
Ciência e Tecnologias da Informação e Comunicação anunciou a
criação da Aliança do Metaverso Sul-coreano, que envolve mais de 450
empresas tecnológicas, bancárias, automotivas (Hyundai) e de
telecomunicações. 292 As outras gigantes tecnológicas chinesas, Alibaba
e ByteDance (criadora do TikTok), registraram suas respectivas
patentes do metaverso e compraram várias empresas de tecnologia
focadas no desenvolvimento de realidade virtual e 3. 293 Já nos
primeiros cinco meses do ano de 2022, o investimento global no
metaverso havia ultrapassado os 120 bilhões de dólares. 294

Pelo que parece, nenhuma das grandes empresas de tecnologia quer


car para trás, apesar de, como veremos mais à frente, a ideia do
metaverso ainda ser mais cção cientí ca do que realidade, além do
perigo conseguinte de se exporem ao fracasso público se não
cumprirem o prometido. Contudo, todas essas empresas coincidem
em enxergar o metaverso como a plataforma virtual do futuro. E o
metaverso promete não apenas ser a internet do futuro como também
aspira à superação da realidade, tal como a conhecemos e vivemos
diariamente, por meio da virtualidade e da realidade aumentada, de tal
maneira que as gerações futuras se “moverão” e viverão dentro desse
mundo virtual, alterando por completo o modo como vivemos, como
trabalhamos e, até mesmo, como pensamos.

O termo metaverso apareceu pela primeira vez em 1992, numa


novela de Neal Stephenson. 295 Contudo, a ideia em si do metaverso
ainda é principalmente uma teoria, uma projeção do que se poderia
alcançar se sérios obstáculos nanceiros e tecnológicos fossem
superados. Então, o que é o metaverso? Como podemos ter uma ideia
mais ou menos completa dele? Esse termo descreve a combinação dos
mundos de realidade virtual tridimensional com a realidade mista, à
qual se pode acessar simultaneamente através de um navegador ou de
um headset, e que dá a um número ilimitado de usuários a
possibilidade de ter interações e experiências em tempo real à
distância. 296 O metaverso, contudo, não é um mundo meramente
digital, mas um mundo que inclui outros mundos digitais que, por sua
vez, se sobrepõem à realidade física por meio da realidade aumentada
e onde as pessoas poderiam se mover sem problemas, conservando
sua aparência e suas posses digitais aonde quer que fossem.

Entretanto, uma de nição mais completa do metaverso é a oferecida


por Matthew Ball, um de seus grandes promotores, autor do livro mais
completo sobre o assunto e executivo da Amazon. Segundo Ball, o
metaverso é:

[...] uma rede em enorme escala e interoperável de mundos 3


virtuais renderizados em tempo real que podem ser experienciados
de forma síncrona e persistente por um número efetivamente
ilimitado de usuários com um sentimento individual de presença e
continuidade de dados, como identidade, história, direitos, objetos,
comunicações e pagamentos. 297

Expliquemos um pouco os conceitos incluídos na de nição.


Os mundos virtuais foram criados originalmente para os jogos
eletrônicos. Um mundo virtual é qualquer simulação da realidade
gerada por computadores, seja em 3, com imersão 3, 2.5 (3
isométrico) ou 2, sobreposta ao que vemos por meio da realidade
aumentada (PokemonGo) ou puramente baseada em texto, como os
primeiros jogos da década de 1970. 298 Mas é crítico para o metaverso
que os entornos sejam tridimensionais, pois isso permitiria a transição
do mundo físico ao digital (do contrário, não diferiria da internet
atual), e que os modelos digitais incluam áudio e vídeo, especialmente
devido às mudanças na experiência virtual geradas pela introdução
das redes sociais. 299 Além disso, essa simulação da realidade pode ser
uma reprodução exata (um gêmeo digital, como no Flight Simulator),
uma versão ctícia (de uma cidade), ou diretamente uma invenção
ctícia (um mundo imaginário). Essa tecnologia é usada hoje também
para reproduzir virtualmente cidades ou aeroportos e, assim, medir
melhor o impacto do tráfego, a quantidade de passageiros, possíveis
construções, impacto no vento ou sol, a resposta da polícia e dos
bombeiros diante de uma emergência etc. O problema técnico é que a
maioria desses mundos virtuais foi criada para uma plataforma e
dispositivos especí cos. A Microso, com seu simulador de voo
(Flight Simulator) desenvolveu o metaverso mais completo que existe
até agora, mas o código desse simulador só pode ser lido por
dispositivos desenvolvidos por ela, não nos da Apple ou do Google,
pois, assim, não apenas se garante a venda do soware, mas também
do hardware. 300

A renderização e o processamento grá co em tempo real são outros


obstáculos tecnológicos que, no momento, impossibilitam o
metaverso. Por exemplo, para poder processar os grá cos de suas
produções, a Pixar teve que construir um centro de dados com 2 mil
computadores industriais conectados entre si, contando com 24 mil
núcleos (cores), o que representou um gasto milionário e impossível
não somente para um indivíduo que queira ter a experiência única do
mundo virtual, mas também para a maioria das produtoras
cinematográ cas. Se a Pixar não usasse esses recursos, demoraria 50
horas para processar cada um dos 120 mil fotogramas que, em média,
têm produções como Monstros .. Com o centro de dados, o tempo
pôde ser reduzido a 7 segundos por imagem. 301 E aqui nós estamos
falando de imagens pré-desenhadas, que não requerem nenhuma
alteração em tempo real. Imaginemos um metaverso desenhado pela
 para que pessoas do mundo todo possam experimentar um
mundial em tempo real, sentados num assento especí co dentro da
réplica do estádio no mundo virtual, juntamente com outros
torcedores de todo o mundo. Inclusive, supondo-se que cada jogador
esteja coberto de sensores e que haja câmeras de reconhecimento facial
e corporal analisando milhares de pontos do corpo para replicar
exatamente cada movimento, mesmo assim, os processadores mais
potentes da atualidade ainda demorariam horas para nos dar cada um
dos fotogramas, uma vez que seriam necessários dezenas de milhares
destes para replicar uma partida de futebol, o ambiente do estádio, os
movimentos dos jogadores, os cantos e movimentos dos torcedores,
tudo isso em tempo real. Para o que temos hoje, isso não passa de
cção cientí ca.

Agora, vamos um pouco mais longe e suponhamos que esse fã saia de


seu assento e dirija-se para debaixo das arquibancadas, em direção à
área de alimentação ou do local onde vendem produtos e lembranças
do mundial, ou que, depois do encontro, decida se juntar a amigos
virtuais ou companheiros da escola para conversar sobre a partida
num bar ou piquenique virtual. Aí se entende melhor por que o
metaverso implica uma rede interoperável de grande escala e por que
motivo, para torná-lo factível, seria necessária uma reestruturação
total de como as redes e a internet funcionam. A ideia do metaverso
exige que, aonde quer que um usuário queira ir, todo o seu “histórico”
dentro do metaverso seja reconhecido por todos os mundos virtuais, à
semelhança do que ocorreria no mundo real. Voltemos ao exemplo da
partida: Messi está jogando sua última Copa do Mundo e decide
lançar sua camisa ao público, algo que é replicado na partida virtual, e
é um espectador da Costa Rica o que tem a sorte de obtê-la, dentre
tantos outros avatares que se digladiavam pela lembrança do camisa
10. O metaverso deve possibilitar que o usuário leve essa lembrança
aonde quer que vá, inclusive que ele vista a camisa em qualquer outra
partida ou situação futura. Para conseguir isso, o metaverso deve ser
“interoperável”, ou seja, os sistemas de soware deverão poder trocar e
usar informações enviadas de um mundo virtual a outro, assim como
ocorre hoje na internet, graças aos protocolos de comunicação
estabelecidos em 1986 (s), que foram adotados praticamente por
todas as redes, provedores de internet e empresas de soware e
hardware, ou como aconteceu com o estabelecimento do formato 
para imagens digitais e 3 para o áudio digital. 302

O problema da interoperabilidade é que praticamente todos os


mundos virtuais que existem usam formatos e sistemas totalmente
distintos, o que torna impossível, no momento, compartilhar qualquer
tipo de informação com outro mundo virtual. Se eu treino para o Tour
de France dentro do mundo virtual do Zwi, por exemplo, e consigo
adquirir uma certa roupa esportiva, eu não poderia levá-la ao Peloton,
outro dos mundos virtuais que lideram no âmbito do ciclismo. 303 Para
que possa haver um metaverso, também será necessário reescrever os
códigos de todos os mundos virtuais segundo um padrão comum,
além de ser necessário desenvolver um código capaz de entender e
modi car os bens virtuais obtidos em outras plataformas (por
exemplo, se essa camiseta do Messi é autografada por ele em outra
ocasião e dentro de outro mundo virtual). No entanto, como Ball
aponta, mais do que um gigantesco problema técnico, o problema da
padronização é principalmente um problema humano, já que há
muitos interesses nanceiros, com milhões de dólares em jogo, e, se se
adotar um formato comum, haverá grandes perdedores. Talvez aí
esteja o único motivo por que nunca se chegue a concretizar um
metaverso único, sendo mais provável que tenhamos muitas redes
virtuais competindo pela maior audiência possível. 304

Como mencionamos anteriormente, a palavra metaverso é um


neologismo criado por Stephenson. Sua etimologia faz referência a
meta (para além de, por cima de) e verso (uma contração de universo).
Ou seja, o metaverso se refere uma realidade virtual que se encontra
por cima e ao largo de todos os “universos” virtuais individuais, bem
como do próprio mundo real. 305

Mas isso supõe não apenas que tal rede seja interoperável como
também que funcione em larga escala, com acesso ilimitado de
usuários (na atualidade, os videogames limitam as salas a um número
determinado de usuários localizados em diferentes regiões para que a
rede e os servidores não colapsem). Além disso, ela deve contar com
dados sincronizados de tal maneira que todos os usuários
experimentem o mesmo e que os grá cos todos se renderizem em
tempo real para que todos participem da experiência. Contudo, a
realidade é que isso vai muito além do que a tecnologia atual permite,
sobretudo quanto a todos experimentarem tudo e de maneira
sincrônica. Essa é, segundo Ball, a maior e mais difícil di culdade que
o metaverso enfrenta, pois a internet não está desenhada para
experiências sincrônicas, mas, sim, para compartilhar cópias estáticas
de mensagens e arquivos. 306 Segundo Raja Koduri, vice-presidente da
Intel, para que o metaverso seja possível, é necessário aumentar em
mil vezes a e ciência computacional em comparação a seu estado
atual. 307

Na atualidade, o que nós temos é uma série de metaversos separados


e desconectados, com seus próprios acessos, avatares, interações e
moeda digital. Mesmo quando as limitações tecnológicas tenham
cado para trás (placas de vídeo, banda de internet etc.), sempre
subsistirá o problema de que plataformas do mundo virtual integrado
— como Meta (Facebook), Roblox, Fortnite e Minecra (Microso) —
não queiram se fundir pelo simples fato de que não têm nenhum
incentivo nanceiro para compartilhar suas bases de dados, muito
pelo contrário. Para o Facebook, o metaverso deveria ser único e
operado por uma única empresa, já que a existência de vários
metaversos signi ca que não teríamos propriamente um metaverso.
Basicamente, Zuckerberg sugere que o metaverso funcione de modo
uni cado, à maneira de como funciona a internet hoje em dia.
Entretanto, por trás desse conceito, está um desejo de que a Meta seja
quem controle a internet do futuro. No entanto, empresas como
Microso e Roblox não parecem concordar e falam, pelo contrário, de
um conjunto de metaversos, com uma clara intenção de não querer
mudar a situação atual e de não se arriscar a perder a base de milhões
de usuários que jogam em suas plataformas virtuais todos os dias. 308

Os proponentes do metaverso prometem reconstruir a economia, a


educação (por meio da imersão virtual), os concertos, as convenções, o
turismo e a estrutura de países inteiros no mundo de realidade virtual.
O Match Group (empresa mãe do Tinder) anunciou seus planos para
um metaverso de encon tros e experiências virtuais baseadas em
avatares. 309 Várias das mais poderosas empresas de tecnologia e dos
mais ambiciosos empreendedores do mundo estão numa espécie de
corrida virtual para construir a internet do futuro, um mundo virtual
paralelo destinado a nos fazer sentir uma imersão que nos leve a um
mundo muito mais “real”. O próprio Bill Gates “prevê” que, nos
próximos dois ou três anos, as reuniões virtuais mudarão do 2
(Zoom) ao metaverso. 310

No metaverso, será possível “possuir” objetos virtuais e até mesmo


propriedades e lotes de “terra”. Os metaversos de empresas como
Decentraland e Sandbox, por exemplo, vendem terrenos virtuais a
empresas que querem construir edifícios virtuais. A Sotheby’s, a
famosa casa de leilões, tem um edifício no Decentraland, que pode ser
percorrido com o avatar e onde pode ser visto o que está sendo
leiloado. Recentemente, a Republic Realm, uma incorporadora de
terrenos no metaverso, pagou 4,3 milhões de dólares por um terreno
virtual no metaverso da Sandbox. 311 Entretanto, somos realmente
donos desses objetos virtuais, que estão sob o poder das empresas que
criaram esse mundo virtual e que, portanto, podem tirá-los de seus
servidores ou eliminar nosso avatar se assim desejarem?

O que temos e teremos de mais próximo ao metaverso nos próximos


anos serão os jogos eletrônicos, os quais conformarão uma espécie de
metagaláxia virtual. A principal razão para o vanguardismo dessas
plataformas é que, por trás da inovação, há um aspecto comercial que
as motiva de um modo especial. Segundo Jensen Huang,  da
Nvidia, é muito raro a situação em que existam tanto uma enorme
demanda tecnológica quanto um mercado gigante, o que é o caso dos
jogos. 312 Huan fundou a Nvidia não com os jogos em mente, mas para
resolver com a informática grá ca certos problemas que não se
podiam resolver com a informática geral. Contudo, encontraram nos
videogames um mercado gigante, cujo valor que se calcula para 2026
ultrapassará os 321 bilhões de dólares e que, durante as quarentenas,
viu um crescimento de 26%. 313 Por isso é que os que têm mais
experiência em mundos virtuais são as desenvolvedoras de jogos, as
quais, portanto, estão na vanguarda do metaverso. “Se a humanidade
algum dia conseguir se transferir para uma rede interoperável de
escala massiva de mundos virtuais em 3 processados em tempo real”,
a rma Ball, “é a habilidade deles [dos desenvolvedores de jogos] que
vai nos levar até lá”. 314

No entanto, o metaverso virar realidade não depende somente da


resolução de um obstáculo tecnológico, mas de uma série enorme de
inovações e mudanças orgânicas, de uma legislação que force as
grandes empresas de tecnologia a mudarem como operam
(especialmente, Google e Apple) ou da adoção de um padrão comum
para objetos 3. Tudo isso torna muito difícil prever como funcionará
esse universo virtual, caso ele se concretize. A verdade é que, embora
as grandes empresas de tecnologia nos prometam um mundo virtual
determinado, no momento, elas estão idealizando algo que, na maioria
dos casos, não é possível materializar com a tecnologia disponível.

A grande pergunta que o metaverso oferece pertinente a todas as


possibilidades e experiências é: isso nos faz mais humanos? Para que
nos libertarmos da realidade? Por acaso, isso está relacionado com a
transferência da mente humana à nuvem virtual, tão buscada pelos
tecnocratas propulsores do transumanismo, de tal maneira que,
mesmo após a morte, nós persistamos num holograma dentro do
metaverso? 315 Por acaso, não existe um risco existencial de sermos
completamente manipulados? Claro que sim, principalmente quando
levamos em conta que, através do metaverso, a mineração de dados
será muito maior e muito mais fácil, além de que, graças às
complicações que uma rede global enfrentaria para entregar o mundo
virtual em tempo real, talvez seja impossível ter um metaverso
descentralizado. 316 Os perigos são reais, já que o metaverso pode fazer
com que a vigilância e o rastreamento das pessoas por meio de sua
atividade digital sejam ainda mais fáceis e, quanto mais se conhece
alguém, maior é a possibilidade de manipulação.

O Project Starline, do Google, por exemplo, é uma espécie de


metaverso desenhado para fazer com que as conversas por
videoconferência pareçam totalmente reais. 317 Isso exige, contudo, o
emprego de uma dúzia de sensores de profundidade e câmeras que,
em conjunto, produzem sete transmissões de vídeos de quatro pontos
de vista e três mapas de profundidade. 318 O que farão com a grande
quantidade de dados que serão registrados a cada segundo, incluindo a
conversa, o rosto, as expressões faciais e as conseguintes emoções etc.?
Um caso semelhante é o da Amazon, empresa que já utiliza câmeras de
rastreamento e reconhecimento facial em tempo real em sua cadeia de
supermercados automatizados, Amazon Go e WholeFoods, onde não
há necessidade de haver um operador de caixa para cobrar, já que os
sistemas de rastreamento registram absolutamente tudo. Ou seja, as
câmeras analisam o rosto e todos os movimentos do cliente, de tal
maneira que, independentemente do que ele pegue ou deixe nas
prateleiras, tudo ca registrado, efetuando o pagamento automático
com a conta Amazon por cada produto que o estabelecimento oferece.
319
Sem ir mais longe, a Apple lançou, em 2017, um iPhone com
sensores infravermelhos capazes de reconhecer 30 mil pontos faciais
no usuário, função essa que a empresa emprega como sistema de
autenticação, mas que também é usada para reproduzir o rosto em um
avatar e na realidade virtual aumentada. 320 Desde então, toda nova
edição do famoso celular vem com essa tecnologia.
Se a mineração de dados já é uma realidade da qual temos que nos
proteger (falaremos mais sobre isso no próximo capítulo), imaginemos
a quantidade de dados que estarão disponíveis no mundo virtual desde
as dimensões de sua casa até o detalhe de suas retinas, as expressões
faciais de cada um de seus lhos, como você está indo no trabalho até
o mínimo detalhe (pense em como isso pode afetar um futuro
emprego), onde você esteve, durante quanto tempo, por quê, com
quem e do que falaram. E tudo isso será acessível a outros: tudo o que
você diz e faz será capturado por dezenas de câmeras, microfones e
sensores, e logo será colocado num mundo virtual gêmeo, propriedade
de uma empresa privada, que poderá compartilhar tudo isso com
muitas outras empresas e até com o governo.

Essas indagações não são teorias da conspiração, mas preocupações


legítimas e compartilhadas por grandes especialistas no assunto. 321
Todos esses dados e informações que são registrados no mundo virtual
têm um grande valor, e seu uso é essencial para aperfeiçoar os
algoritmos, conforme veremos mais adiante. Quem será o dono desses
dados? O que acontece quando são vendidos ou compartilhados com
outros grupos interessados? Por acaso, as empresas que estão gastando
bilhões de dólares no metaverso teriam direito sobre tudo o que ocorre
dentro dele? Quem será o responsável em caso de perda ou, pior ainda,
de roubo de dados e de identidade digital?

O Fórum Econômico Mundial (na sigla em inglês, ) já


manifestou seu interesse em administrar e regulamentar a identidade
digital do metaverso e, assim, controlar essa tecnologia por meio de
um sistema centralizado e coordenado com a identidade do mundo
físico (passaporte, carteira de motorista, dados biométricos etc.), tudo
parte de seu projeto de Identidade Digital. 322 O  sugere que
alguém deve necessariamente ser dono do primeiro elo da cadeia de
autenticação, coordenando todas as identidades criadas por uma
mesma pessoa (pensemos em como podemos ter vários e-mails ou
usar a conta de diferentes plataformas para entrar num site: Facebook,
Google etc.). Essa identidade digital será necessariamente
administrada por uma corporação (como ocorre agora com as redes
sociais, por exemplo) ou pelo governo, mas como saber que estão
seguras, ou que não serão usadas contra nós? Quem administrará os
históricos e o rastro digital da pessoa? Como solução, o  propõe
criar uma identidade digital única, que represente ao longo do
metaverso tanto a identidade da vida real da pessoa (uma espécie de
“gêmeo digital”) quanto todas as outras identidades digitais que esse
usuário possa criar. Mas isso só servirá ao projeto de vigilância e
controle que há por trás da proposta. O problema das identidades
ctícias continuará existindo e, inclusive, cará pior com a introdução
de tecnologias como o deepfake — vídeos (ou avatares), nos quais a
imagem e a voz são digitalmente alteradas para se parecerem com uma
determinada pessoa —, o que facilmente pode ser usado de forma
maliciosa ou para desinformar. 323

Matthew Ball, contudo, defende uma espécie de neutralidade da


plataforma virtual, onde os usuários seriam os autores de seu próprio
futuro. 324 O metaverso promete um tipo de interação que seria
impossível por Zoom, já que, dentro da realidade virtual e aumentada,
será possível interagir de uma maneira que se imitem os encontros
reais. Um designer ou um arquiteto poderão desenhar num pedaço de
papel uma ideia e mostrá-la a seus clientes; poderão usar gestos com as
mãos, viajar a diferentes “lugares” juntos, assistir a uma cerimônia
religiosa; os cirurgiões poderão colaborar durante uma intervenção
cirúrgica de tal maneira que um especialista no tema não precisará
viajar grandes distâncias, pois poderá guiar todo o processo a partir do
metaverso. O impedimento da distância será eliminado com a
possibilidade de realizar atividades colaborativas.

Para além das vantagens prometidas pelo metaverso, Ball erra


quando defende a “neutralidade” deste, principalmente se levarmos
em conta que cada um será o “autor” de seu próprio futuro. Ou seja, se
as redes sociais já apresentam o perigo de falsi cação da própria
realidade para um público iludido pela falsa imagem do in uencer, o
metaverso apenas intensi cará esse problema. Se o meu avatar e cada
aspecto pessoal meu que os outros veem no metaverso é a
consequência de uma escolha, então, é inevitável que todos os meus
relacionamentos nesse mundo virtual sejam objeto de manipulação. O
mundo virtual em si já implica a ausência de uma conexão concreta e
pessoal com aqueles com quem me relaciono, razão pela qual eu
inevitavelmente estarei desconectado da realidade, já que a interação
se dará entre o avatar ctício de um com um conjunto de avatares
ctícios e pré-desenhados, que correspondem super cialmente a
outras pessoas. Que tipo de relacionamento é o que se dá entre duas
pessoas que se encontram no metaverso por meio de um
intermediário (o avatar)? Se eu nunca estive pessoalmente com o outro
indivíduo, mas somente com seu avatar num mundo virtual, posso
realmente dizer que conheço essa pessoa? A resposta é, evidentemente,
não. Se eu posso me transformar num monstro ou num guerreiro,
mudar minha voz ou controlar a personalidade de meu avatar segundo
meus desejos — e qualquer outro pode fazer o mesmo — é óbvio que,
na realidade, jamais estaremos presentes, um e outro, em nenhum
sentido profundo. Todo encontro será virtual e feito sob medida, o que
signi ca que será ctício.

Esposas e bebês virtuais?


O metaverso não implica somente a formação de uma identidade
digital, mas também a transformação da própria pessoa em um
indivíduo digital ou, até mesmo, em vários indivíduos digitais,
conforme se forem criando identidades mantidas em simultâneo. O
indivíduo já não é concebido em sua realidade ontológica (como
substância), pois ele é reduzido a algo que não é sequer acidental. O
problema losó co das diferentes teorias sobre identidade (gênero,
orientação sexual, raça, condição de refugiado, indígena) é que elas
reduzem o indivíduo a uma característica secundária — às vezes,
ctícia — de seu ser (sua autopercepção, peso, cor de pele, condição
migratória etc.). Mas o metaverso leva esse problema losó co ainda
mais longe porque ele implica, em si mesmo, a alienação do indivíduo
de toda a sua realidade, substancial ou acidental, e o reduz a um avatar
ctício e totalmente estranho a seu próprio ser, ou seja, a um conjunto
de códigos e algoritmos, que se reproduzem grá ca e vocalmente
segundo os desejos do usuário. O avatar se apresenta como a salvação
para aqueles que já não querem ser quem são. O avatar é a projeção da
sombra sobre o muro da caverna, apesar de agora no mundo virtual.

O holograma é outro exemplo do engano virtual a que os prisioneiros


da nova caverna digital se submetem. O holograma é entendido com
individualidade e existência própria tal que um japonês, Akihiko
Kondo, se casou com um, em 2018, numa cerimônia o cial. 325
Lamentavelmente para o noivo, a lua de mel acabou rapidamente em
virtude de uma atualização de soware que nunca ocorreu, pois o
Gatebox, a empresa fornecedora da inteligência arti cial do
holograma, descontinuou o serviço em 2020. No Japão, uma das vozes
do pop mais ouvidas é a de Hatsune Miku, um holograma que se
apresenta como uma adolescente de 16 anos e que, combinado a um
sintetizador de voz, gerou mais de 100 mil canções produzidas com
inteligência arti cial, além de já ter se apresentado em concertos em
Los Angeles, Hong Kong e Tóquio e também contar com quase um
milhão de seguidores nas redes sociais. 326

O mundo digital revela uma nova dualidade entre o mundo real (o


mundo do ser) e o mundo virtual (o de dados e imagens), o que abre
novas possibilidades para que aquilo que é apenas uma aparência de
socialização e realização pessoal como indivíduos, embora não como
humanos, mas como digitais. Não se trata tanto de uma dicotomia
entre a realidade e a chamada “hiper-realidade”, mas entre o ser e o
ctício, entre o conhecimento e a ilusão, entre o humano e sua sombra
ou imitação digital. Essa imitação, como veremos, depende de uma
grande quantidade de dados, da inteligência arti cial e da
manipulação de quem gera o algoritmo.

Um exemplo que se pode captar como extremamente desumanizador


é o da maternidade virtual. Se o ser humano pode se tornar um
indivíduo digital, então, podem ser digitalizados até mesmo aspectos
tão humanos quanto a maternidade e a paternidade. Essa é a proposta
dos “bebês digitais”, de Catriona Campbell, uma especialista em
inteligência arti cial e autora de um livro onde são apresentadas
diferentes possibilidades de sua disciplina. 327 Sua previsão é
arrepiante: “Dentro de 50 anos, a tecnologia terá avançado ao ponto de
os bebês existentes no metaverso serem indistinguíveis dos do mundo
real”. 328 Ou seja, existirão no metaverso bebês e crianças virtuais, o que
será um modo muito “comum” de ter lhos, sugere a autora inglesa.

Essa proposta possivelmente encontre resposta no medo de ter lhos,


que é um sintoma da geração iPhone, que foi criada sob o terror
apocalíptico do iminente cataclisma da mudança climática e das falsas
profecias de Greta unberg. 329 “Uma conversa na escola sobre o meio
ambiente me fez cair a cha. Eu não queria trazer uma vida ao mundo
para sofrer esses problemas”, revelou uma jovem argentina totalmente
manipulada pelo falso relato ambientalista. 330 Essa geração, que
cresceu totalmente manipulada e sob o controle do algoritmo desde
uma tenra idade — muitas vezes por culpa de pais irresponsáveis, que
preferiram uma babá on-line a passar tempo com seus lhos —
provavelmente seja a primeira camada da chamada geração
Tamagotchi, ou seja, a dos que preferirão uma maternidade virtual em
detrimento de uma real. Num mundo onde tudo deve ser ecofriendly
(respeitoso ao meio ambiente), a maternidade virtual se apresenta
como a solução que salvará o planeta...

No metaverso, segundo nos é prometido, as crianças virtuais se


parecerão com seu progenitor graças às maravilhas da inteligência
arti cial e da realidade aumentada. Será possível brincar com eles,
abraçá-los e acariciá-los graças a luvas sensíveis ao tato. Esses bebês
serão capazes de simular respostas emocionais e de voz, que vão desde
o balbuciar até uma conversa coerente, conforme forem crescendo.
Caso eles cresçam demais e passem a incomodar, você poderá
desconectá-los para sempre, bastando que se cancele a assinatura.
Você não terá que passar pelo suplício de viver com um adolescente no
mundo virtual. Ou, talvez, você goste mais de uma etapa particular da
vida do lho virtual e o deixe preso nela... Campbell quer nos
convencer de que as vantagens são enormes: desde o impacto
ambiental até o baixo custo de ter um lho assim. 331 Se o custo de
criar um lho até os 18 anos ronda os 217 mil dólares nos Estados
Unidos, a proposta virtual tem um custo de 25 dólares mensais, o que
certamente parece tentador. 332

Obviamente, gerar um avatar virtual que se assemelhe ao que seria


um lho real implicaria uma gigantesca mineração de dados sobre os
aspectos biológicos, genéricos, psicológicos, emocionais e intelectuais
do progenitor virtual. Tudo isso implica, em si mesmo, conforme
veremos no próximo capítulo, um conhecimento sem precedentes
acerca do usuário (o progenitor virtual) e, portanto, uma possibilidade
ainda maior de manipulação e controle.

O ser humano precisa de contato cara a cara para desenvolver


relações íntimas e profundas, que lhe ajudam a preservar a qualidade
de vida psicológica e física. Mais ainda, está demonstrado que os que
fazem um esforço para se conectarem em pessoa regularmente com
familiares e amigos têm menos probabilidade de demonstrar sintomas
depressivos. 333 Se o metaverso nos parece um risco para o
desenvolvimento social do ser humano, o que dizer, então, dessas
propostas que nos prometem inclusive poder ter uma família virtual?
Como deveríamos chamar esse fenômeno? Seria um caso de hiper-
humanidade, no sentido de que se pretende tirar o ser humano de sua
natureza e do que é caracteristicamente humano? Porque essa
proposta de bebês virtuais não objetiva nada mais do que “libertar” o
ser humano da maternidade e da paternidade, mas, por sua vez, tem
como inevitável consequência o adormecimento do ser humano como
uma espécie de experiência virtual da maternidade ou da paternidade.
O escravo enganado olhará para a sombra e pensará ser “pai” ou “mãe”
de um mecanismo arti cial de códigos, dados, algoritmos e
tridimensionalidade grá ca. Paternidade, maternidade e liação
reduzidas a dados. Podemos imaginar aqui como a manipulação será
total. E se o algoritmo só responder diante de certas motivações e tipo
de educação? Já não será o sistema que doutrinará a um lho, mas,
sim, o lho virtual que doutrinará a seus “pais”. Assim, nalmente, a
inteligência arti cial manipula rá os sentimentos e a ideologia
daqueles que voluntariamente se submeterem à caverna digital.
Não faltam, contudo, os que prometem benefícios sociais e
emocionais no metaverso. Um “humano virtual” poderá suprir a falta
de companhia, com o qual poderemos compartilhar nossas emoções e
nossos medos. Mas isso não deixará de ser uma ilusão, principalmente
se levarmos em conta que o mundo virtual é todo codi cado, razão
pela qual sempre ca um registro. Nesse sentido, jamais se pode
pensar no metaverso como um espaço seguro, onde o humano virtual
seja “capaz de estabelecer uma conexão emocional e, ao mesmo tempo,
fomentar o anonimato”. 334

A solidão e o controle social


Nós vivemos numa sociedade onde a padronização do pensamento é
um dos grandes objetivos dos programas políticos, educativos e
culturais. Por mais que se fale de multiculturalidade, diversidade,
inclusão e tolerância, essas palavras não são mais do que máscaras cujo
som vazio esconde uma uniformidade ideológica, que busca se impor
tanto pela força política e legal (Agenda 2030) como por qualquer
outro meio que afete a massa inculta e ingênua. Basta observar como,
em sua grande maioria, os meios de comunicação, as empresas,
instituições nanceiras, universidades, governos e partidos políticos
aderem aos novos princípios básicos do discurso globalista e
progressista: diversidade, inclusão e igualdade. 335 Uniformidade
ideológica absoluta.

A realidade do ser humano homogeneizado, vazio, sem história e


totalmente manipulável não é nova. Esse é o homem-massa, aquele de
quem Ortega y Gasset dizia, em 1930: “Crê que só tem direitos e não
crê que tem obrigações: é o homem sem nobreza que obriga”. 336 Esse é
o homem-massa que degenerou naquele a quem chamamos, em outra
obra, de homem idiota. 337 É o produto do empoderamento e do
individualismo crasso e sentimental,
[O] homem metido em si mesmo, sem nenhum limite moral na
concepção de sua própria vida, é o fazer e o deixar de fazer, com uma
vida focada na busca da satisfação individual, custe o que custar,
especialmente no plano genital, negando ao mesmo tempo a
estrutura biológica do ser humano, que agora pode ser transformada
por meio de uma solução meramente técnica, caso ela não se
acomode aos sentimentos da pessoa. 338

Esse homem de massas é produto do alinhamento ideológico


imposto pelos meios de comunicação de massa (especialmente jornais,
rádios e televisão), mediante os quais se cria e reformula a opinião
pública.

A sociedade moderna é uma sociedade de massas que foi precedida


pela atomização social e pela individualização extrema, o que levou
esses indivíduos à solidão que, antigamente, era mantida sob controle
pelos laços sociais. Não foi em vão que Hannah Arendt defendeu que a
característica principal do homem-massa é seu isolamento e a falta de
relações sociais normais. 339 Tal como podemos observar hoje em dia,
numa geração hiperconectada e con sumida pelas redes sociais, mas,
ao mesmo tempo, tremendamente solitária, estão todos reunidos em
um mesmo espaço virtual, mas à espera de que essas redes preencham
um vazio existencial. Assim como na sociedade de massas de
princípios do século , foram as novas tecnologias que permitiram
reuni-los todos em um mesmo espaço e tempo para que se lhes desse
uma forma, ou seja, para que se formasse a massa. Segundo nota de
Laje, 340 hoje em dia, essa “forma” vem predeterminada por um
algoritmo, que busca moldar o mais profundo do pensamento e o
comportamento do ser humano.

O problema que queremos assinalar fazendo um paralelo com nossos


dias é que foram o individualismo e a atomização social que
prepararam o caminho para os totalitarismos do século . Esses
movimentos e ideologias, na verdade, foram mais do que organizações
massivas de pessoas solitárias. 341 Como a rma Arendt:
[...] o que prepara os homens para o domínio totalitário no mundo
não totalitário é o fato de que a solidão, que já foi uma experiência
fronteiriça, sofrida geralmente em certas condições sociais marginais
como a velhice, passou a ser, em nosso século, a experiência diária de
massas cada vez maiores. 342

Essa atomização e essa solidão às quais se referia Arendt em 1951 e


que preparam o caminho a governos totalitários não são um fato do
passado, mas, sim, uma verdadeira epidemia e um problema social
crítico, como mencionamos mais acima, exacerbados pela introdução
da internet, das redes sociais e do mundo virtual. A sociedade e a falta
de sentimento de pertencimento estão levando muitos jovens a caírem
nas garras de comunidades virtuais, nas quais eles terminam sendo
vítimas das consequências mais radicais de uma ideologia. E o
problema em questão, então, é que, cedo ou tarde, a solidão terá um
efeito político, como assinala Rod Dreher. 343 Que tipo de totalitarismo
se imporá? Por acaso, o totalitarismo do século , que é de caráter
ideológico e empoderado com tecnologias de controle, já está entre
nós sob a aparência de uma nova normalidade, na qual “você não terá
nada, nem privacidade, mas será feliz”? 344

Conclusão
O aumento de problemas psicológicos clínicos, como a depressão,
caminha lado a lado de um aumento exponencial da percepção de
solidão entre adolescentes após o ano de 2012, o que já é um
fenômeno mundial, como demonstra a ampla literatura cientí ca. 345
Um dado interessantíssimo é que a solidão entre a população
estudantil aumenta mais quando os estudantes têm acesso a
smartphones e usam a internet por mais horas diárias durante a
semana. 346 Esse dado desmente, então, a falsa promessa de que o
mundo virtual nos conectaria como nunca antes e seria uma solução
ao problema da solidão. Se fosse assim, os adolescentes imersos nas
redes sociais seriam os que sentiriam menos solidão, mas é exatamente
o contrário que acontece. 347 Isso não é mera coincidência, ainda mais
quando a interação virtual e por redes sociais virou a norma e quando
os encontros sociais caíram estrondosamente, inclusive antes dos
con namentos de 2020, 348 os quais, como era de esperar, só
conseguiram piorar a situação. 349 Pelo que parece, as redes sociais
estão propiciando uma “cultura da exclusão” que aumenta o
sentimento de solidão, principalmente entre meninas adolescentes. 350

Nós seres humanos somos criaturas sociais por natureza. Uma


grande quantidade de estudos nos recorda uma e outra vez que, para
crescer e desenvolver um bem-estar físico e psicológico, nós devemos
manter conexões sociais cara a cara. Os con namentos de gente sadia
em 2020 foram um crime travestido de remédio, o que acabou sendo
pior que a doença, pois atentaram contra nossa natureza social
(numerosos estudos provam o atraso na fala e na sociabilidade das
crianças con nadas). O pior de tudo é que eles afundaram milhões de
pessoas num mundo virtual que pode ser destrutivo: mais de um terço
dos menores de 35 anos sofreram solidão durante os con namentos.
351
Mas a solução para esse problema do celular não se dará no nível
individual, antes, deve se concentrar no grupo, já que, embora o uso
pessoal da tecnologia impacte o bem-estar do adolescente, o uso do
celular e das redes sociais é tão generalizado que pode ter um efeito
nocivo independentemente de seu nível pessoal de uso. Por exemplo,
se fazem uma campanha em rede social contra uma jovem, isso vai
afetá-la independentemente de quanto tempo ela dedique ao uso do
celular. Se uma família impõe limites à tecnologia, os pais devem
liderar pelo exemplo. Uma solução real deve ser grupal, não apenas
individual, e deve nos levar a redesenhar o modo como interagimos na
família, na escola, com grupos de amigos etc., conforme veremos mais
adiante.

Parece inevitável, por outro lado, que o metaverso piore a


preocupante tendência do mundo atual rumo à desconexão e à
solidão. Transformar e trasladar à virtualidade quase todos os aspectos
não apenas de nossas vidas, mas também de nossa personalidade, só
conseguirá exacerbar os graves e preocupantes problemas de saúde
mental dos usuários, como mencionamos nos capítulos  e . Uma
sociedade solitária, submersa no engano da caverna digital, onde não
existe a transcendência e tudo é relativo, e onde toda comunicação,
ação, estado atual e relacionamentos é traduzível em dados é uma
sociedade completamente dominável. Isso é assim pelo simples fato de
que esses dados alimentarão algum dos algoritmos, esses “algoritmos
de destruição em massa” projetados por indivíduos com claros
interesses nanceiros, políticos e ideológicos. 352 A massa escravizada e
acorrentada a seu celular desliga seu cérebro e liga seu dispositivo
diariamente para alimentar o mesmo maquinário desumano de
vigilância e controle com todo tipo possível de dados, os quais, por sua
vez, retroalimentarão o algoritmo e a inteligência arti cial que
dominarão seu comportamento, suas emoções, seu consumo, seu
pensamento e, de modo de nitivo, a sua vida.

 :  
  : 
   


Q uando a Organização Mundial da Saúde () anunciou uma


pandemia global graças à -19, depois de rede nir o que
então signi cava uma pandemia, ocorreu uma série de
con namentos motivados por projeções que se revelaram exageradas,
sem qualquer base cientí ca, e que acabaram por afetar gravemente as
populações vulneráveis. 353 Por trás dessas decisões mais políticas do
que médicas estavam vozes que pediam que se aproveitasse a situação
para resetar o sistema, assim como vozes de governos, que viram a
oportunidade que esperavam para implementar sistemas de controle e
vigilância. 354 As empresas farmacêuticas não foram as únicas
bene ciadas pelo negócio multimilionário por trás de uma tragédia
que parecia planejada. 355 As empresas de tecnologia começaram
imediatamente a oferecer uma solução aos con namentos com
grandes campanhas de propaganda: um mundo virtual com um nível
de conexão que imitaria e aperfeiçoaria a vida real e, principalmente,
que era seguro (apesar de não faltarem pessoas que usavam máscara
 em videochamadas por Zoom, exemplo claro da manipulação
psicológica que tantos sofreram). 356 Esses anúncios foram apoiados
por uma série de estudos, tais como o liderado por um grupo de
pesquisadores da Universidade de Oxford, que sugeria que a
tecnologia digital nos ajudaria a lidar com a solidão das quarentenas.
357
Mas por que os con namentos foram uma gigantesca oportunidade
para as empresas tecnológicas?

O principal interesse das grandes empresas de tecnologia repousava


na oportunidade única que tinham, outorgada pela “conveniência” dos
con namentos, de se assegurarem ainda mais de possuírem a atenção
de seus usuários, o que resultaria numa maior quantidade de dados
para serem obtidos. O estratagema funcionou: 75% dos adolescentes
passaram muito mais tempo do que antes nas redes sociais, 358 além de
o uso das redes ter aumentado 61% em nível mundial. 359 O resultado?
As empresas agora dispunham de muitos mais dados, o big data, que
seriam usados para aperfeiçoar ainda mais os algoritmos e a
inteligência arti cial. No entanto, isso também teve consequências
devastadoras para a saúde mental da população, especialmente em
relação a dois fatores psicológicos mencionados mais acima: a
ansiedade e a solidão. 360

O efeito desumanizador de certas tecnologias é mais do que óbvio,


sobretudo nas circunstâncias de submissão, con namento e ausência
de contato pessoal presencial e real. Os estudos sérios mostraram uma
realidade totalmente diferente da promessa tecnológica de um mundo
mais conectado, mas o poder nanceiro que possibilita o big data e as
possibilidades que se abrem são grandes demais para que essas
empresas parem para re etir sobre as consequências na vida de tantas
pessoas.

Quando falamos de algoritmos, estamos falando de fórmulas


matemáticas que funcionam como modelos, preditivos ou diretivos,
cujo desenvolvimento e aperfeiçoamento depende de muita
informação. 361 É por isso que os programadores desses algoritmos
necessitam de que passemos uma grande quantidade de tempo
conectados à tecnologia, pois a razão de ser deles se baseia numa
espécie de equação tecnológica: para poder aperfeiçoar os algoritmos e
a inteligência arti cial, são necessários muitíssimos dados. Para que se
possa obter a maior quantidade de dados possíveis, são necessárias
não só grande quantidade de meios (aparelhos e aplicativos de
celular), mas também, e principalmente, enormes redes com uma
grande quantidade de usuários. Então, quanto maior for uma rede
social, por exemplo, mais se acrescenta a seu valor. Mas a rede não
deve ser apenas gigante, pois seus usuários devem também passar nela
a maior quantidade possível de tempo. Quanto mais tempo você
passar nela, mais dados elas lhe extraem: isso é o que dá forma ao que
se conhece como big data e que está sujeito a operações de mineração
de dados, ou seja, a análise de toda essa informação. E quanto mais
dados houver, mais se aperfeiçoa o algoritmo e a inteligência arti cial
mediante o que se conhece como machine learning (aprendizado de
máquina ou aprendizado automático). 362

Neste capítulo, nós vamos falar da manipulação, do condicionamento


do comportamento e do modo de pensar por meio das tecnologias de
vigilância, o que nos levará a falar de dados e big data, tráfego de
dados, inteligência arti cial e diferentes exemplos de manipulação por
algoritmos. Este último não é fácil de demonstrar, já que o algoritmo
das redes sociais é o “soware proprietário”; ou seja, ninguém, a não
ser certas pessoas dentro de uma empresa, pode acessá-lo e entender
como ele funciona. No entanto, graças a certos resultados que se
repetem de modo massivo — por exemplo, as mudanças de
comportamento e a adicção às redes sociais — e aos mesmos
resultados publicados pelos cientistas de dados trabalhando nesses
algoritmos, nós podemos entender o mecanismo matemático que há
por trás de um aplicativo. E não somente isso, mas também podemos
entender qual intenção e quais objetivos têm aqueles que manejam os
algoritmos de uma determinada plataforma, ou por que de repente um
algoritmo se transforma numa questão de segurança nacional, como
ocorreu com o algoritmo do TikTok, patrimônio do governo
comunista chinês. 363

Big data: extração e mineração de dados


A internet signi cou uma época de inovação sem comparações graças
à quantidade de aplicações em diferentes campos, especialmente desde
a propagação da web na década de 1990. 364 Consequentemente, a
internet e a tecnologia tiveram um impacto enorme em todos os
aspectos de nossas vidas e de nossa sociedade, uma vez que são
necessárias em praticamente toda atividade humana: transações
nanceiras, campanhas políticas, comunicações pessoais, amizades
(redes sociais), aprendizagem, entretenimento, mobilidade etc. No
entanto, mover-nos no mundo digital tem uma implicação muitas
vezes ignorada: em cada uso especí co sempre deixamos uma pegada
ou registro digital. E não somente isso: com o advento do smartphone
e dos dispositivos domésticos e corporais conectados à internet
providos de sensores, agora é possível registrar o comportamento, o
rosto, a voz, cada movimento, os estados de ânimo, as conversas e as
reações, que são todos traduzidos em dados. Todo esse registro de
nossa vida diária, somado aos registros que deixamos em nossas
interações digitais, dá forma à chamada identidade digital. Quando se
agrega aos registros e às bases de dados existentes (histórico de crédito,
registros de compra, histórico médico, material genético), toda essa
informação pode oferecer um panorama completo sobre cada pessoa.

A mineração de dados é um termo confuso porque não faz referência


ao processo de extração ou coleta de dados; antes, funciona com base
na grande quantidade de dados que já foram obtidos e compilados por
diferentes meios, que já foram armazenados digitalmente e dos quais
— aqui entra a mineração de dados — se “extraem” conhecimentos
que podem ser de grande utilidade, como os hábitos da pessoa,
padrões de comportamento, de consumo, suas relações pessoais etc. 365
Dessa maneira, a mineração de dados é uma técnica assistida por
computador utilizada nas análises que têm o objetivo de processar e
explorar grandes conjuntos de dados mediante complexos programas
de soware e algoritmos para, assim, descobrir padrões, relações
possíveis que passam despercebidas sem essas análises etc. Quando
falamos de mineração de dados, nós estamos inevitavelmente
incluindo os algoritmos, a inteligência arti cial, o processo de
aprendizado de máquina (machine learning) e as redes neurais que
vão assimilando todo esse conhecimento e aperfeiçoando suas funções
especí cas. Esse é o caso do Google, que começou a usar o uxo de
informação contínua proveniente das milhões de buscas diárias para
transformar o sistema numa máquina que pode aprender
continuamente (machine learning) e, dessa maneira, melhorar os
sistemas de inteligência arti cial, o que a empresa logo começou a
aplicar em muitas das inovações que usamos todo dia, tais como o
corretor ortográ co, o reconhecimento de voz ou a tradução de textos.
No ano de 2009, o Google já havia desenvolvido um sistema de busca
visual (Google Goggles), que, no lugar de texto, usava imagens ou a
câmera do celular (Nexus One), que identi cava e apresentava
resultados de objetos, lugares e até mesmo de reconhecimento facial
das pessoas que apareciam na tela. 366

Em de nitivo, em virtude da complexidade e da coordenação


operacional dessas funções, tanto a extração como a compilação de
dados mediante dispositivos tecnológicos (câmeras, celular,
aplicativos, internet das coisas) se dão, muitas vezes, simultaneamente
à análise algorítmica e à inteligência arti cial, o que, por sua vez, exige
que a transmissão de dados seja simultânea para, por exemplo, realizar
a análise de reconhecimento facial ou de placas de veículos ao vivo e
em tempo real. Essa transmissão de dados em simultâneo só é possível
com o melhoramento das redes de transmissão, razão principal para
terem começado a instalar antenas de  em todo o mundo (embora já
existam o 6 e o 7 e em breve vão existir também os sistemas de 8).
367

Hal Varian, o economista do Google, nos dá uma boa ideia do porquê


da mineração de dados e no que ela implica. Ele descreve em quatro
maneiras possíveis como as transações nanceiras por computador
impactam a economia do futuro. 368 Segundo Varian, a importância de
trabalhar a pegada digital que deixamos a cada atividade está em que
sua análise facilitará novas formas de contrato e possibilitará a
extração e a análise de dados, a experimentação controlada e,
nalmente, a personalização. Prossigamos agora a explicar cada uma
dessas possibilidades.

Em primeiro lugar, com a mineração de dados, as corretoras de


seguros poderão estabelecer um contrato muito mais preciso e
dependente de variáveis que contenham grande quantidade de
informação extraída da pessoa (dados biométricos), do veículo
(dispositivos de monitoramento), do lar (extraído da internet das
coisas) etc. O monitoramento constante oferece possibilidades até
então impensadas, tais como o possível bloqueio de um veículo se
você não tiver efetuado o pagamento mensal do seguro ou se a pessoa
tiver excedido as emissões de 2 permitidas por mês, 369 ou como a
penalização ou recompensa de uma pessoa a depender de quanto ela
se exercita por dia, ou o cálculo do custo mensal, mediante algoritmos
que analisam risco pelo cruzamento de dados de milhares de outras
pessoas, sejam aquelas que vivem conosco, sejam aquelas com quem
nos deparamos todo dia. Se for detectado que um usuário convive com
um fumante ou cruza diariamente com outra pessoa que tem um
histórico de conduzir alcoolizada, o algoritmo do seguro médico ou do
veículo poderá penalizá-lo pelo risco que isso implica.

Em segundo lugar, a pegada digital abre a porta ao big data, ou seja, à


extração e à análise de dados que, certamente, “é utilizada para
melhorar o rendimento de transações futuras” 370 ou para melhorar um
produto, mas a realidade é que há um objetivo comercial mais
profundo, como a venda de dados ao melhor pagador, além de
alimentar os algoritmos e, assim, mediante o aprendizado de máquina,
melhorar a inteligência arti cial (). 371 Será ela, a , conforme
veremos mais à frente, que analisará uma grande quantidade e
complexidade de dados, num procedimento de retroalimentação
chamado aprendizado de máquina (machine learning), mediante o
qual o sistema ou algoritmo vai se aperfeiçoando cada vez mais e passa
a ser capaz de fazer previsões cada vez mais precisas. Isso acontece na
China, por exemplo, onde o algoritmo e a  manejam o tráfego de
uma cidade. Cada veículo emite um sinal, de tal maneira que o
algoritmo pode ir ativando os semáforos de uma cidade para que o
movimento do tráfego seja cada vez mais rápido. Por sua vez, os dados
permitem ir descobrindo novos padrões de condução em diferentes
horários do dia. Em caso de emergência, um sinal põe outro algoritmo
em ação, o que facilitará o percurso de uma ambulância até o hospital.
372

Em terceiro lugar, a extração e a análise de dados abrem a porta à


experimentação controlada em grande escala. Quando uma rede social
vai introduzir uma nova função ou mudança grá ca (a cor de um
botão), o que ela faz primeiro é introduzir diferentes opções a grupos
formados por milhões de usuários diferentes, daí ela escolhe a opção
mais satisfatória. Varian conta como o Google conduziu cerca de 6 mil
experimentos dessa natureza, tanto no buscador quanto em Ads,
durante o ano de 2008, o que levou a 500 modi cações no sistema, na
cor dos anúncios, no espaço entre os resultados de busca, no algoritmo
de busca etc. 373 Mais adiante, nós veremos como o Facebook realizou
experimentos semelhantes durante as eleições políticas e as campanhas
de vacinação. Um tipo de experimento que nos interessa aqui é aquele
que nos leva a compreender uma relação causal que logo pode ser
modelada no sistema ou algoritmo. Como é difícil estabelecer uma
relação causal com base em uma análise retrospectiva de dados, uma
maneira de conseguir isso é experimentando ao vivo e em tempo real
com milhões de usuários qual imagem, qual vídeo, qual sequência é a
que atinge com mais efetividade um determinado propósito. Quando
se consegue estabelecer uma relação causal, ela é alimentada no
algoritmo. É por essa razão, como veremos mais adiante, que
defendemos não apenas que a análise da  é preditiva, mas que
também deve ser considerada como direcionadora do comportamento
humano.

Em quarto lugar, a mediação do computador permite a


personalização de interações feitas sob medida para o usuário. Por
exemplo, quando fazemos compras na Amazon, o sistema conhece
todas as nossas compras anteriores e, se a isso se soma o conhecimento
de nossos interesses atuais (buscas, vídeos a que assistimos, conversas),
poderá nos oferecer o que buscamos sem que o peçamos a ele.
Quantas vezes você já não foi surpreendido ao abrir uma rede social
ou entrar numa página e ver que o anúncio é exatamente sobre o que
você estava falando com um amigo? Ou talvez você se depare com um
produto que você havia parado para ver no Walmart no dia anterior,
enquanto você era capturado por câmeras cujos dados foram
analisados por um sistema de reconhecimento facial, o qual detectou
não somente sua identidade, mas também seu interesse pelo produto,
levando-o, em seguida, a comercializar os dados, motivo pelo qual o
anúncio apareceu em seu celular. 374 Personalização até o mínimo
detalhe.

Num primeiro momento, os dados que a pegada digital deixava eram


empregados em nada mais do que a análise e a melhoria de um
sistema. Pensemos na quantidade enorme de dados que é coletada de
um veículo de Fórmula 1 durante uma competição, os quais são
analisados pela escude ria para melhorar o carro para a próxima prova.
Desse modo, os dados do comportamento dos usuários (matéria-
prima da mineração de dados) eram coletados para serem analisados
e, assim, melhorar a velocidade e a qualidade do buscador (Google), a
tradução de textos etc. O Google precisava de nós para melhorar o
aprendizado de máquina e os algoritmos, e nós precisávamos do
Google para poder acessar a quantidade de informação disponível na
internet. 375
A coleta e a análise dos dados para “reinvestimento” e melhoria de
um produto ou serviço foram a primeira aplicação prática do big data,
mas ela logo deu lugar a um novo uso: a análise preditiva, ou seja, com
base nos padrões de comportamentos, movimento, caráter da pessoa
etc., começam a ser utilizados os algoritmos que tentam prever como
uma determinada pessoa agirá. O usuário deixa de ser um m em si
mesmo: antes, seu comportamento se transforma em matéria-prima a
ser logo analisada a m de determinar previsões, que serão
comercializadas no que Zuboff chama de mercado futuro de
comportamento do capitalismo de vigilância. 376 Segundo nossa
opinião, contudo, o processo de mineração de dados não culmina com
a análise preditiva, pois é necessário considerar, em seguida, uma
terceira etapa ou uso, que nos parece importantíssimo trazer à
discussão: a etapa da análise diretiva, ou seja, a utilização de
algoritmos para direcionar a pessoa a um objetivo predeterminado, ou,
ao menos, imposto pela  e não pelo livre-arbítrio do usuário, o qual
é, inconscientemente, guiado numa direção concreta. Nós
aprofundaremos esse aspecto mais adiante.

A etapa da análise preditiva abre a porta dos ns comerciais à


mineração de dados. Quando abrimos as portas do lar e de nossas
vidas à tecnologia, nós contribuímos de maneira involuntária e
constante à extração de dados sobre absolutamente tudo o que
fazemos diariamente: nossa voz, nosso rosto, nossas emoções e
personalidade, nossas necessidades e desejos. Toda essa informação é
codi cada e transformada em dados que, uma vez acumulados, são
vendidos a anunciantes e a empresas de marketing. Para eles, o
resultado da análise de dados é uma ferramenta que lhes permite
conhecer nossos padrões de comportamento, gostos, emoções,
necessidades etc., de tal modo que eles podem, no momento,
direcionar nossa atenção justamente ao produto indicado. 377 Não é
coincidência que o Google e o Facebook controlam 90% do mercado
mundial de anúncios, pois eles conhecem seus usuários até os mais
meticulosos detalhes. 378
O Google é o pioneiro nas tecnologias de vigilância por ter
encontrado na informação fornecida em cada busca uma porta sem
precedentes para entender o comportamento humano. Douglas
Edwards, num livro que é uma espécie de con ssão, pois ele foi um
dos primeiros empregados do Google, relata que Larry Page,
cofundador da empresa, admitiu, numa reunião de 2021, que o
objetivo da empresa era:

[...] a informação pessoal [...]. Os lugares a que você foi. Co


municações. Incluiremos funções de personalização para que o
Google seja mais útil. As pessoas têm que con ar em nós para nos
dar sua informação pessoal porque nós temos uma grande
quantidade de dados e teremos muito mais em breve. [...] As pessoas
gerarão enormes quantidades de dados. Tudo o que já ouviram,
viram ou experimentaram poderá ser buscado. Toda a sua vida
poderá ser buscada. 379

Essa é uma das razões que motivou o Google a comprar, em 2006,


pelo valor exorbitante de 1.65 bilhão de dólares, uma empresa que
nunca havia gerado um único centavo. Ela estava quebrada desde o
início graças a seus muitos processos judiciais por violação de
propriedade intelectual, mas, ainda assim, tinha o potencial de
oferecer um gigantesco volume de dados para o aperfeiçoamento da
inteligência arti cial e para o aprendizado de máquina. Essa empresa
era o YouTube. 380

Essa busca pela informação pessoal motivou também uma série de


inovações no Google direcionadas à coleta e à conversão em dados de
todo tipo de experiência humana, mediante uma série de serviços
inovadores (Gmail), ao que se seguiu um sistema operacional
(Android) e toda uma série de aplicativos do lar (Nest). Muita gente
ignora, por exemplo, que o Google lançou o Gmail em 2004 com o
propósito de escanear e alimentar seus sistemas de inteligência
arti cial com todo e-mail que circulasse por sua rede e que seu
programa de “espionagem” só terminou agora em ns de 2017. 381 Se o
Google é uma empresa de buscas na internet, Zuboff se pergunta, por
que ele está investindo em eletrodomésticos, relógios, celulares, livros
digitais, mapas, imagens de satélite e veículos autônomos? A resposta é
evidente hoje: porque querem capturar seu comportamento e
convertê-lo em dados para, então, serem comercializados. 382 É o que
ela chama de o imperativo da extração, ou seja, os bens e serviços que
antigamente eram oferecidos por uma empresa agora se tornaram
meios de vigilância para a extração de dados sobre o comportamento
humano.

Inclusive, o projeto do Street View, camu ado como uma adição ao


Google Maps, foi e possivelmente ainda é um projeto de vigilância e
hackeamento de informação privado, algo que já foi con rmado pela
Comissão Federal de Proteção de Dados da Alemanha, quando ela
denunciou que os veículos do Google extraíam todo tipo de
informação das redes domésticas de wi- por onde passavam,
inclusive e-mails, senhas e histórico de internet de cada dispositivo
conectado a essa rede. 383 Isso motivou especialistas do Canadá, da
França e da Holanda a investigar a capacidade de um veículo que
parecia apenas fotografar as ruas por onde passava, a m de descobrir
se os dados extraídos em seu percurso incluíam nomes, números de
telefone, cartões de crédito, senhas, mensagens de celular, e-mails,
transcrição de chats, informação sobre aplicativos de encontros,
históricos de internet, dados de geolocalização e até mesmo fotos,
vídeos e áudios que armazenavam cada celular ou computador
conectado à mesma rede. 384 A Comissão Federal de Comunicações
lançou uma investigação em 2012, pedindo ao governo Obama que
processasse o Google, mas, por razões que carão claras no próximo
capítulo, o governo de então acabou por retirar todas as acusações,
razão pela qual o caso foi arquivado sem maiores consequências. 385 A
empresa recebeu apenas uma multa de 25 mil dólares por obstrução da
investigação, ou seja, um presente em troca dos milhões de dados que
eles extraíram por cada lugar por onde passavam.

Um projeto semelhante é o do Sidewalk Labs, o setor de inovação


urbana do Google. 386 Na cidade de Nova York, foram instaladas mais
de 4.500 estações de wi- gratuito para combater o problema da
desigualdade. 387 A realidade é que, só de passar por uma dessas áreas,
mesmo sem se conectar à rede, o sistema pode obter dados dos
celulares, os quais logo usa para vender anúncios localizados, além de
medir as vibrações, níveis de som e gravar as imediações. 388 Por esse
motivo, os projetos lantrópicos do Google e do Facebook que
prometem levar internet gratuita a cidades do mundo inteiro devem
ser vistos de uma perspectiva de vigilância e extração de dados.

Em outubro de 2017, o Sidewalk Labs anunciou junto de Justin


Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, um projeto de grande escala,
que prometia digitalizar e converter a cidade de Toronto em uma
cidade “inteligente”, ou seja, em uma cidade da vigilância, com
sensores que registrariam absolutamente todo movimento, desde por
onde cada habitante caminha até a velocidade em que caminha, quais
ruas atravessa e até onde ele vai. 389 O nível de vigilância proposto era
tal que o Google anunciou a instalação de sensores e câmeras em
praticamente todo lugar, inclusive no asfalto, no esgoto, nas lixeiras e
nos bancos dos parques. 390 O Sidewalk Labs prometia uma melhor
maneira de governar, mas o que ele realmente buscava era monetizar
cada um dos dados que iria extrair da cidade inteligente. Segundo
Zuboff, o experimento de Toronto signi cava uma nova fase do
capitalismo de vigilância, transformando a maior cidade do Canadá
num laboratório experimental onde toda experiência pública e privada
dentro de seu território seria considerada “dados urbanos”. 391 Ou seja,
o espaço público acaba se confundindo com o privado e o privado se
torna público, pois o espaço digital não discrimina: tudo é visto como
dados e somente dados. O projeto, como se era de suspeitar, gerou um
debate intenso na cidade, o que trouxe à tona os problemas éticos,
políticos e legais subjacentes ao que, na realidade, era um experimento
de vigilância e extração de dados de magnitude inusitada, no qual os
algoritmos substituiriam toda decisão humana. 392 Isso levou o Google
a encerrar o projeto em maio de 2020, apesar de Larry Page estar
prestes a realizar um de seus sonhos: transformar parte do mundo em
um laboratório experimental. 393
Com ou sem cidade inteligente, o Google tem acesso, mediante o
sistema operacional Android, a mais de 70% dos celulares do planeta,
segundo dados de 2022. 394 Em um experimento realizado em 2015,
um grupo de pesquisadores entregou 36 celulares que funcionavam
com Android, após instalar um soware que registrava toda a
atividade do sistema operacional e concedia acesso a funções
protegidas e reguladas por permissões concedidas na seção de
privacidade. O que eles descobriram ilustra perfeitamente o nível de
vigilância do Google: os celulares Android extraem dados mais de 100
mil vezes por dia por celular, mesmo quando o dispositivo está
“adormecido”, incluindo 6 mil dados de geolocalização por dia. 395 Isso
nos mostra que já faz tempo que o Google deixou a etapa de extração
de dados do usuário com o intuito de melhorar o serviço,
concentrando-se, desde então, em vigiar cada aspecto da vida dele —
seus movimentos, o que ele pensa, o que ele lê, como e com quem ele
interage — com o m de lhe apresentar anúncios que coincidam com
seus interesses e suas necessidades. Esse é o modelo que se impôs
como o mercado futuro de comportamento do capitalismo de
vigilância, que Zuboff tão bem denuncia.

As empresas de vendas de dados (data brokers) se tornaram um


negócio multimilionário que vive da vigilância e da extração de
informação com base em qualquer tipo de dispositivo tecnológico. O
Google e o Facebook são, sem dúvida, os principais e os maiores no
mercado de dados, mas eles não são os únicos. 396 A Acxiom, por
exemplo, é uma empresa de marketing com sede no Arkansas, Estados
Unidos, que compila, analisa e vende informações de clientes e
negócios para, em seguida, serem utilizadas em campanhas
publicitárias direcionadas. 397 Essas empresas compram informação
dos criadores de aplicativos para celulares (que, por sua vez, coletam
praticamente tudo o que se faz com um celular), de varejistas,
anunciantes e empresas que realizam sorteios ou operam em redes
sociais com o objetivo de coletar uma grande quantidade de dados
sobre cada usuário. Todos os dados são acumulados para chegar a um
per l nal de cada pessoa; por exemplo, se um consumidor tiver
diabetes ou artrite, se se exercita, se há um fumante na casa onde vive,
que tipo de veículo dirige, o que comprou com seu cartão de crédito
no último mês, quanto paga mensalmente por sua hipoteca, se tem
bicho de estimação, com quem se relaciona, que páginas segue, o que
assiste na Net ix, todo o seu percurso (), que aplicativos usa e onde
ele os ativa etc. A esses dados, produto da espionagem digital, são
acrescidos todo tipo de dados públicos do governo, tais como o
registro de voto, prisões e compra de imóveis. Em seguida, esse per l é
vendido a quem quiser pagar por essa informação.

A facilidade com que as pessoas instalam novos aplicativos em seu


celular sem revisar as condições de uso é indicativa de que, no geral,
ignora-se que a maioria dos aplicativos de nossos celulares rastreiam,
com grande precisão e frequência, todos os nossos movimentos, nossa
localização, nossas ligações, nossas atividades, nossos contatos, nossas
expressões faciais, nossas reações emocionais, entre outros. As
empresas de venda de dados recolhem toda essa informação dos
desenvolvedores de aplicativos e logo vendem os pacotes de dados
tanto para campanhas de marketing quanto para o uso por parte de
agências governamentais, serviços de inteligência e forças policiais,
como veremos mais a fundo no próximo capítulo. A grande pergun ta
é: como recolhem toda essa informação do seu celular?

As empresas de análise e comercialização de dados adquirem um


acesso direto ao celular por um tipo de “porta de trás” dos aplicativos,
mediante um acordo monetário anterior com os desenvolvedores. Esse
é o motivo pelo qual a maioria dos aplicativos da Play Store (Android)
e da App Store () é gratuita. Do contrário, não se entende por que
equipes de engenheiros desenvolveriam um aplicativo somente para
desfrutar do sucesso de milhões de downloads. O modelo comercial
seria insustentável se não houvesse interessados em acessar cada
celular para obter dados. A “porta de trás” são os códigos fornecidos
diretamente pela empresa de marketing (data brokers) ou pelo Google,
Facebook e Amazon (que conectam os desenvolvedores com grandes
empresas). Esses códigos são adicionados pelos próprios
desenvolvedores do aplicativo, que, em termos técnicos, são chamados
de kits de desenvolvimento de soware (). 398 Quando o aplicativo
é baixado e instalado num celular, o criador do código () tem
acesso direto a uma quantidade enorme de informação, dependendo
do aplicativo em questão. Às vezes, ele pode entrar somente enquanto
o aplicativo estiver aberto, ao passo que, em outros casos, basta que o
celular esteja ligado. E a maioria dos aplicativos pode ter dezenas de
 instalados no sistema; por exemplo, o Google e o Facebook
incorporam até 26  no Period Tracker, um aplicativo muito
popular entre as mulheres para acompanhar o ciclo menstrual. 399
Esses  não somente entram no celular pelos aplicativos como
também estão nas smart s e nos veículos. 400 Embora você
provavelmente não soubesse, você consentiu que o espionassem e
vendessem toda a sua informação possível quando aceitou sem ler as
cerca de 60 páginas dos termos de uso de cada aplicativo.

A empresa SafeGraph, por exemplo, oferece pacotes de dados


agregados com toda a informação pertinente a cada pessoa que vive
dentro de uma área geográ ca determinada. Assim, as empresas de
marketing podem oferecer produtos segundo os interesses ou
necessidade especí cos da pessoa. 401 O ganho dos desenvolvedores de
aplicativos que abrem a porta de trás para a SafeGraph são de entre $1
e $4 dólares por ano por usuário que baixa o aplicativo. 402 Também há
empresas que pagam pela quantidade de usuários, como a -Mode
(agora rebatizada como Outlogic), 403 uma empresa que vigia cerca de
65 milhões de celulares e que oferece 1.500 dólares mensais por 50 mil
downloads de qualquer dos 400 aplicativos “infectados” com . 404
Em 2020, o mercado de venda de dados foi estimado em 200 bilhões
de dólares. 405

Se um aplicativo é gratuito, o mais provável é que estejam espionando


você. E isso pode ter consequências que afetam a vida de uma pessoa.
A empresa -Mode inseriu  dentro do aplicativo do Alcorão para
coletar dados que, em seguida, eram vendidos às agências de
inteligência, 406 enquanto a Venntel coleta dados de aplicativos para
detectar imigrantes ilegais nos Estados Unidos e, então, vender essa
informação para agentes federais. 407 Num outro caso, que provocou
um escândalo eclesiástico, uma empresa de venda de dados teve acesso
ao aplicativo de encontros homossexuais, Grindr, e depois vendeu
esses dados para uma agência de notícias católica, que, por análise de
geolocalização, conseguiu determinar quais padres, com nome e
sobrenome, tiveram encontros homossexuais secretos, frequentaram
bares gays, em que endereços exatos moravam e que lugares e pessoas
visitaram entre 2018 e 2020. 408 Isso serve para entender que, embora
essas empresas argumentem que os dados não estão vinculados a
identi cadores pessoais, uma vez agregados é fácil descobrir a quem
pertencem. Um estudo publicado em 2013 analisou os dados
anônimos de movimentação de 500 mil pessoas e concluiu que os
percursos são tão particulares que 95% das pessoas são facilmente
identi cadas. 409

O alcance dessas empresas de coleta e venda de dados é abismal. Para


dar somente alguns exemplos, a Near se apresenta como a maior
empresa de dados do mundo, “conectando o mundo físico e o digital,
abrangendo 1,6 bilhão de pessoas em 44 países”; 410 a Mobilewalla
conta com acesso a celulares em “mais de 40 países, mais de 1,9 bilhão
de aparelhos, 50 bilhões de sinais móveis por dia e mais de 5 anos de
dados coletados”; 411 enquanto a .Mode tem acesso a 100 milhões de
celulares nos Estados Unidos através dos  instalados em diferentes
aplicativos. 412 Os milhões de dados extraídos e analisados não apenas
são usados para campanhas próprias ou para venda a clientes, mas
também para comercialização com outras empresas de vendas de
dados, numa cadeia de revenda que expõe cada vez mais a nossa
privacidade. 413

Um dos  possivelmente mais surpreendentes é o empregado pela


Affectiva, uma empresa de reconhecimento facial e ocular que,
mediante o código de soware in ltrado num aplicativo, mede as
emoções e reações de um usuário a uma imagem, um comercial, um
vídeo, uma série da Net ix etc. 414 Ou seja, a câmera frontal do celular
está ativada e gravando e enviando informação constantemente a um
centro de dados, onde um sistema de inteligência arti cial analisa as
reações para medir o êxito de um produto e, por sua vez, alimentar o
algoritmo para aperfeiçoá-lo. Segundo a Affectiva, sua base de dados
emocionais é a mais completa do mundo, com mais de 11,5 milhões de
respostas dos consumidores a mais de 60 mil anúncios, em 90 países,
no ano de 2022. Cerca de 70% das maiores empresas de marketing do
planeta usam esse sistema para entender as reações emocionais dos
consumidores a diferentes conteúdos e experiências. Dessa maneira,
por exemplo, podem ser feitas diferentes versões de um mesmo
produto, estudar as reações faciais em milhares de pessoas e, daí, optar
ou modi car o produto que obteve mais êxito segundo a emoção que
quiseram causar na pessoa. Os que cobrem a câmera de seus laptops e
celulares não são tão paranoicos...

O grande desa o é descobrir quais aplicativos usam os dados


simplesmente para cumprir sua função (navegação, previsão do tempo
etc.) e quais são, na verdade, os aplicativos que têm como objetivo a
espionagem e a venda de dados. 415 As empresas de venda de dados
(data brokers) não revelam em quais aplicativos eles se in ltraram
através de um . A desculpa para isso é a de ter vantagens
competitivas. 416 No entanto, calcula-se que cerca de 30% dos
aplicativos tenham sido in ltrados para transmitir dados. 417 O
Facebook desenvolveu um  que, segundo foi reportado, operava
dentro de aplicativos para grávidas, aplicativos para leitura da Bíblia e
até mesmo do Grindr e do Tinder. 418 Toda vez que um usuário abre
um dos aplicativos in ltrados por esse , se estabelece uma conexão
imediata com o Facebook, transmite-se uma quantidade enorme de
informação que o Facebook agrega ao per l pessoal que a empresa
tem dessa pessoa (usuária do Facebook ou não). 419 Por exemplo, há
aplicativos para o período menstrual que enviam toda a informação ao
Facebook, mostrando questões sensíveis como os dias e lugares nos
quais uma mulher teve relações e revelando dados sobre sua
menstruação, sobre como se sente etc. 420 Essa informação é logo
comercializada e pode chegar a qualquer um. Não é de se estranhar
que, se um evento coincidiu com a ovulação, comecem a chegar
anúncios de roupas de bebê... É assim que muitos pais descobrem que
suas lhas estão grávidas: a Target comprava a informação de dados e
sabia exatamente quando uma adolescente tinha relações e não
menstruava, contexto no qual começava imediatamente a enviar
informação e catálogos de produtos de bebê ao endereço onde a
usuária morava. 421

No caso do Grindr, esses dados não apenas eram transmitidos ao


Facebook como também, até o ano de 2020, o aplicativo era
propriedade de uma empresa chinesa, razão pela qual todos os dados
eram registrados nos servidores do Partido Comunista, com todas as
implicações políticas e chantagistas que isso poderia trazer. 422 Como
exemplo de extração de dados, se nos atentarmos apenas ao que o
Tinder o cialmente revela, uma olhada, em fevereiro de 2023, nos
termos e condições da App Store nos mostra que o aplicativo coletava
a seguinte informação vinculada à identidade do usuário: data de
nascimento, número de telefone, endereço de e-mail, cartão de crédito,
localização geográ ca, contatos, fotogra as e vídeos no dispositivo,
informação de todos os contatos, informação de compras, uso de
dados, integração de dados para anúncios, informação sensível (gostos
sexuais, crenças religiosas, estado de saúde, como  etc.), redes
sociais (conteúdo de Spotify, Facebook e Instagram), conteúdo das
mensagens, além de uma série de  incluídos no aplicativo, que não
sabemos o que mais extraem (explicitamente, os termos e condições
dizem que os dados serão usados para o marketing). 423 O Tinder, em
seguida, vende todos esses dados a centenas de empresas, conforme
revelou, em 2020, uma investigação do Conselho Norueguês do
Consumidor. 424 Caso você elimine seu per l, o Tinder ainda mantém
os dados por 10 anos. 425

O celular e os aplicativos não são os únicos métodos de espionagem.


Não devemos esquecer do conjunto de eletrodomésticos e dispositivos,
tomadas, utensílios “inteligentes”, câmeras de segurança, televisores,
caixas de som, termostatos, sensores de movimento e aspiradores que
fazem da nossa casa uma casa inteligente (smart home) e que são parte
da internet das coisas, ou, melhor dizendo, “a internet em tudo”. 426 O
impacto dessas tecnologias ainda é difícil de medir, pois até antes do
advento dos dispositivos inteligentes, cada dispositivo operava de
maneira independente (uma tomada era apenas uma tomada, o
mesmo se dava com o televisor, com o carro, a geladeira etc.). As redes
digitais alteraram tudo quando integraram cada dispositivo dentro de
um ecossistema muito maior. 427 De todas as consequências, só quero
me referir rapidamente a como o objetivo de cada produto foi
invertido: oferecer um determinado serviço passou a ser algo
secundário, dando lugar à espionagem digital, que é o objetivo
principal da internet das coisas, a qual também acelerará as redes de
6 a m de conseguir a integração digital de toda a informação sendo
gerada. Alguém pode a rmar que isso é paranoia de teoria da
conspiração, mas isso é descartado quando nos damos conta de que o
preço de venda de muitos desses produtos não tem praticamente
margem de lucro e, em alguns casos, representa até mesmo uma perda
nanceira, como é visto com grande parte dos produtos procedentes
da China: a margem de lucro é tão pequena que as empresas
comercializam os dados, ou mesmo o governo chinês subsidia os
produtos em troca dos dados, para que estes sejam mais competitivos
no mercado internacional. 428 O lucro está nos dados coletados 24
horas por dia, que são enviados constantemente a centros de dados (a
nuvem) para serem analisados e aperfeiçoarem os algoritmos e a
inteligência arti cial.

Durante uma investigação sobre o trá co de dados para a China,


Aynne Kokas, especialista em transações comerciais e de dados com
esse país, descobriu uma enorme quantidade de dispositivos que
transmitiam informação aos servidores do Partido Comunista. Entre
esses produtos, havia babás eletrônicas, aspiradores de pó automáticos,
que escaneavam e gravavam absolutamente tudo em seu caminho, e
até mesmo vibradores sexuais, que extraíam informação sobre a
temperatura corporal e o áudio do ambiente. 429 A nova economia está
baseada nos dados. Quem tem os dados controla toda iniciativa e todo
desenvolvimento tecnológico, como a rmou o presidente da China, Xi
Jinping, num discurso de 2013. 430 Por isso, para essa missão, são
fundamentais a introdução do conceito de casa inteligente e a
promoção de seus produtos. Em 2016, a Haier, a maior empresa
chinesa de eletrodomésticos, adquiriu a  Appliances por 5,4 bilhões
de dólares, tornando-se, assim, a líder da internet das coisas na linha
de eletrodomésticos inteligentes, os quais extraem e constantemente
enviam os dados de cada lar para servidores chineses, a m de
alimentar o sistema de dados nacional. 431

Já em 2022, o mercado global estava avaliado em quase 80 bilhões de


dólares. Para 2030, calcula-se que ele atinja 537 bilhões de dólares. 432
Contudo, se algo já está claro é que uma casa inteligente é uma casa
vigiada. Todos os assistentes de voz (Alexa, Google Assistente, Siri,
Bixby, Cortana) recolhem seu nome, número de telefone, localização
do dispositivo e endereço de , os nomes e números de seus contatos,
todo o histórico de interação e os aplicativos que você utiliza no
celular. Mas a espionagem não ca por aí. A Alexa (da Amazon), por
exemplo, recolhe mais dados do que qualquer outro sistema, incluindo
todas as conversas, imagens e vídeos, todas as suas compras, seu
histórico de navegação na internet e também dos demais dispositivos
conectados na rede wi- , incluindo os celulares conectados etc. 433

Outra série de produtos que se popularizou foi a de dispositivos Nest


(do Google), que recolhem informação sobre a casa, vídeos e
conversas, além de serem equipados com sensores que detectam
movimento (e, portanto, podem detectar quem é quem na casa). No
entanto, além disso, eles têm a capacidade de coletar dados de outros
dispositivos da família, como o carro, a cozinha, monitores de
atividade física e até mesmo colchões equipados com sensores. 434 O
Google já recolhia uma enorme quantidade de informação detalhada
sobre milhões de pessoas do mundo todo que se conectavam à rede,
mas depois, com a proposta da casa inteligente, o Google entrou no
lar, ou melhor, foi convidado por usuários que não sabem o que está
por trás disso... Dessa maneira, toda a experiencia humana é
convertida em dados que alimentam o algoritmo através do
aprendizado em máquina para, assim, prever o comportamento do
usuário.

Se você pensa que essa informação só é usada por quem a recolhe,


você deve saber que todas as previsões e todos os dados são
comercializados no que Zuboff chama de o mercado futuro de
comportamento do capitalismo de vigilância, 435 e esses dados são até
mesmo entregues aos governos que os solicitem, conforme veremos no
próximo capítulo. 436 E algo muitíssimo preocupante é que, embora se
argumente que os dados estejam no anonimato, isso é verdadeiro
apenas parcialmente, uma vez que, quando toda a informação
disponível é agregada, é muito fácil saber a quem ela pertence. Isso
carrega riscos enormes, pois, como demonstra a teoria da compilação
ou teoria do mosaico, um dado (ou certa informação) que, por si só,
parece inofensivo, pode, quando agregado a uma grande quantidade
de dados provenientes de outras fontes, dar uma imagem diferente do
todo, ou pode revelar uma imagem totalmente nociva para uma
pessoa, principalmente quando se tem em conta que os dados são
atemporais, não discriminando coisas ocorridas anos antes e eventos
atuais. 437 O hackeamento de bases de dados de empresas e de governos
só evidencia um risco já presente.

As diferentes maneiras pelas quais se podem empregar todos esses


dados combinados são enormes, mas, para dar alguns exemplos, nos
Estados Unidos, as universidades compram per s digitais com grande
quantidade de dados de jovens que se candidatam para tentar
ingressar nessas instituições. Uma empresa que se especializa na
comercialização desses dados é a RightStudent, que os compila e os
vende às universidades, a m de que elas possam selecionar os
candidatos mais promissores. 438 Cada estudante tem vantagens e
desvantagens: pode ser um grande atleta, mas cuja média escolar é
medíocre ou tem necessidade de ajuda nanceira; ou ser um grande
estudante, mas que se transferiria a outra universidade na metade do
caminho. Isso gerou toda uma indústria para otimizar o recrutamento
de alunos, como a ForecastPlus, um pacote de análise preditiva que
permite aos administradores da universidade classi car os candidatos
por geogra a, gênero, etnia, campo de estudo, posição acadêmica ou
qualquer outra característica. 439 Partindo de uma grande quantidade
de dados, emprega-se um algoritmo que funciona como um modelo
preditivo e que elimina aqueles alunos que não atendam a
determinado per l sem nem mesmo ter que entrevistá-los.

Os algoritmos
Os algoritmos são fórmulas matemáticas projetadas para realizar um
processo determinado e aplicadas ao funcionamento da tecnologia. Ou
seja, são ferramentas alimentadas por uma gigantesca quantidade de
informação e dados extraídos das redes socais, aplicativos de celular,
sites, e-mails (você entenderá agora por que os serviços do Google são
gratuitos), veículos (sistemas de rastreamento exigidos pelo seguro),
relógios (Garmin), eletrodomésticos (), televisores (Samsung),
termostatos (Nest), conversas (Siri e Alexa), 440 câmeras de segurança
(inclusive as que servem para monitorar o sono do bebê), os
dispositivos intradérmicos (chips) que rastreiam todo dado que se
possa obter de nosso organismo, 441 além de uma grande quantidade
de dispositivos conectados à rede (a internet das coisas).

Os algoritmos também são modelos dinâmicos, ou seja, eles vão se


adaptando e aperfeiçoando a cada nova informação, assim, quanto
mais informação relevante é fornecida, melhor ele se torna. No
entanto, deve-se notar que melhor não é o mesmo que bom. Um
algoritmo pode funcionar tremendamente bem, mas ser
completamente imoral. Por exemplo, se ele for usado para manipular e
convencer uma pessoa desesperada a pedir um empréstimo com juros
altos, ou se, como nos casos que mencionamos do TikTok, o algoritmo
levar um jovem a desenvolver distúrbios alimentícios ou transtorno de
identidade de gênero, ou ainda os inúmeros casos em que crianças e
adolescentes são levados a tentar desa os virais que terminam
tragicamente em morte.

Os algoritmos são utilizados em muitos âmbitos. Embora eles tenham


sido introduzidos pelos mercados nanceiros globais, nos últimos
anos, graças à quantidade de dados que a internet proporciona, eles
estão sendo empregados cada vez mais para analisar o comportamento
do ser humano, o que obviamente inclui sua maneira de pensar. Ou
seja, milhares de cientistas de dados, de matemáticos e de especialistas
em estatística têm acompanhado minuciosamente os nossos desejos,
gostos, conversas, movimentos e poder aquisitivo para, assim, prever
nossa capacidade nanceira e calcular nosso potencial como
estudantes, empregados, motoristas, amantes e até mesmo como
criminosos. As entidades nanceiras não são mais as únicas que fazem
um uso exaustivo do big data, pois também o fazem as universidades,
as empresas, as corretoras de seguro, os aplicativos de encontros e até
mesmo o sistema jurídico e a polícia. 442

Um algoritmo pode analisar milhares de dados sobre uma pessoa e,


assim, modelar o per l e analisar sua aptidão como estudante, os
anúncios que vai mostrar a ela, sua capacidade para um trabalho ou,
até mesmo, analisar milhares de s e identi car os candidatos mais
promissores. Os seguros de vida e planos de saúde empregam toda
uma quantidade de dados biométricos, os dados de nossos genomas,
os padrões de nosso sono, exercício e dieta (o que comemos e
quando), como dirigimos, toda nossa informação médica, o nosso
nível nanceiro e registro de compras para, em seguida, analisar tudo
isso através de um algoritmo que as empresas usam para calcular o
risco concreto do indivíduo (inclusive, essas empresas até distribuem
produtos Apple ou Garmin para monitoramento, recompensando
quem relata atividade esportiva e penalizando quem se recusa a
fornecer essa informação ou demonstra pouca atividade). 443 Em
muitos países, as corretoras de seguro de carro exigem uma espécie de
caixa preta, que analisa todos os movimentos e rotas cotidianas, a
velocidade e aceleração, o respeito aos semáforos, quão bruscamente
você freia, de que maneira você dobra, se você usa celular enquanto
conduz etc. Assim, o algoritmo combinará toda essa informação e a de
todos os veículos com que se cruza diariamente e nas áreas pelas quais
se passa regularmente para, no m, ser gerado um per l determinado.
444
Algumas empresas já usam o reconhecimento facial para analisar os
padrões de comportamento dos motoristas. 445 Nos Estados Unidos, os
algoritmos também são empregados para calcular a condenação de
uma pessoa no sistema judicial, analisando dados do passado e a
possibilidade de reincidência. Além disso, também são várias as forças
policiais que empregam sistemas de inteligência arti cial com
algoritmos projetados para prever quando e onde ocorrerá um crime.
A PredPol é uma empresa de big data com sede em Santa Cruz,
Califórnia, que oferece um algoritmo capaz de calcular qual delito,
onde e a que hora é mais provável que ele ocorra; consequentemente,
os esforços de vigilância e patrulha da força policial são
redirecionados. 446

Um obstáculo na hora de realizar uma análise sobre as motivações


por trás das so sticadas fórmulas matemáticas é que os algoritmos
trabalham da nuvem e com um soware cujo código não está
disponível, uma vez que tem um “proprietário”. Isso signi ca que a
propriedade intelectual da empresa criadora de um algoritmo nega ao
público e aos funcionários reguladores que agem em nome do público
qualquer direito de inspecionar as etapas da operação do algoritmo —
através do qual os computadores e outros dispositivos smart realizam
tarefas de cálculo, análises de dados e raciocínio automático — direito
este que é negado até mesmo quando esses algoritmos são usados para
ns públicos e têm importantes consequências sociais. Pensemos em
algoritmos empregados para calcular o custo do seguro, negar
empréstimos, demitir empregados ou em certa pessoa condenada cuja
pena em anos será calculada por um algoritmo em referência à sua
probabilidade de reincidência. Esses algoritmos se valem de dados
que, muitas vezes, são totalmente alheios à pessoa (sua passagem
diária por um local onde há muitos acidentes de trânsito, por exemplo,
ou ela ter parentes que já foram presos). Nenhuma dessas pessoas tem
acesso aos critérios utilizados ou à forma pela qual o algoritmo chegou
a essa conclusão. 447 Mas os resultados nos permitem especular — e,
em alguns casos, provar — qual é a intenção e qual é o objetivo que há
por trás de um algoritmo e quais são os critérios empregados.

O documentário O dilema das redes pôs o foco de atenção sobre os


problemas inerentes às redes sociais, especialmente, o Facebook. 448 O
foco da investigação visou mostrar como as grandes empresas
tecnológicas manipulam os usuários mediante algoritmos que
fomentam a adicção a suas plataformas, além do fato de essas
empresas coletarem dados pessoais de seus usuários, a m de
comercializar essa informação e personalizar os anúncios a tal ponto
que a efetividade da mensagem seja muito maior. De nitivamente, “a
tecnologia que nos conecta também nos controla”. 449 E esse controle
exercido por um algoritmo que decide qual imagem mostrar tem
impactos negativos muito preocupantes na saúde mental de crianças e
adolescentes, conforme vimos nos capítulos  e .

O algoritmo das redes sociais segue um princípio básico, que


poderíamos chamar de mecanismo de atração. 450 Isso signi ca que o
algoritmo não está projetado apenas para favorecer certo conteúdo em
detrimento de outros, mas também utiliza a capacidade de atenção
gerada pelo produto como elemento de categorização. O algoritmo
não é fechado, antes, tem em si a capacidade de se adaptar ao nível de
atenção de cada usuário. Dá-se, então, uma espécie de “seleção
natural”, de tal maneira que um conteúdo que não capte a atenção é
rapidamente perdido nesse oceano de informação constante, ao passo
que o conteúdo que captura nossa atenção é favorecido e “viralizado”.
Dessa maneira, embora sejam os usuários que publiquem um reels de
Instagram ou um vídeo no TikTok, quando apertamos o botão de
publicar, esse conteúdo pertence à plataforma, e serão os algoritmos
que decidirão como melhor empregá-lo (e isso no caso de uma conta
não ser alvo de algum tipo de cancelamento). 451 Aqui entra em cheio a
análise preditiva da , que tenta prever que tipo de imagem ou vídeo
prenderá a atenção do usuário. 452 Até mesmo os likes e comentá rios
estão determinados por um algoritmo que busca causar uma emissão
de dopamina para que o usuário passe a maior parte do tempo no
Facebook, buscando que se gere uma nova experiência, segundo
confessou Sean Parker, ex-presidente da empresa de tecnologia. 453

Embora pareça real a ilusão de vivermos numa esfera pública digital,


onde a internet “democratizou” todas as vozes para que todos
pudessem expressar a opinião ou acessar qualquer tipo de informação,
a verdade é que são as grandes empresas de tecnologia que, segundo
seus próprios interesses, determinam o que vemos nas redes sociais ou
o que encontramos numa busca na internet. Portanto, não podemos
falar propriamente de um espaço público digital, mas, sim, de um
espaço virtual em que o algoritmo decide o que é que cada um vê,
segundo os interesses preconcebidos e codi cados numa fórmula
matemática. Aqui é o momento em que devemos aprofundar o aspecto
acerca do qual pouco ou nada se tem falado: não se realiza apenas uma
análise preditiva com a mineração de dados, pois a inteligência
arti cial deu um passo a mais rumo àquilo que aqui chamamos de
análise diretiva — ou seja, com base num conhecimento exaustivo do
usuário, é possível condicionar e dirigir seu comportamento para um
objetivo determinado.

Como nota Cathy O’Neil, os algoritmos se baseiam em modelos


matemáticos, que, por sua vez, baseiam-se em critérios estabelecidos
por seres humanos falíveis. Por isso, inevitavelmente, esses modelos
codi cam preconceitos humanos, mal-entendidos e vieses cognitivos,
que são transmitidos aos sistemas de soware, os quais administram e
controlam nossas vidas cada vez mais. 454 Isso é problemático graças às
injustiças que se podem implicar desse contexto. No entanto, há outro
problema muito mais profundo, o qual parece escapar àqueles que
julgam tudo com base em critérios como os de igualdade, inclusão ou
diversidade. É fato que os algoritmos não buscam apenas prever, mas
também modelar nosso comportamento segundo um ideal
preestabelecido. 455 O’Neil parece perceber isso quando a rma que
esses “modelos, apesar de sua reputação de imparcialidade, re etem
objetivos e ideologias [...]. Em cada caso, devemos nos perguntar não
somente quem desenhou o modelo, mas também o que aquela pessoa
ou empresa está tentando alcançar”. 456 É claro que, para poder
in uenciar o comportamento, primeiro é necessário in uenciar o
modo de pensar. Esse elemento de manipulação da população por
meio do conhecimento obtido pelos dados dos consumidores de
tecnologia sugere um problema muito sério, o qual é mais que
necessário ressaltar: os algoritmos também parecem ser projetados
para impor não apenas um certo comportamento consumista como
também uma certa ideologia e moral coletiva, que nos conduzem aos
princípios fundamentais do globalismo progressista: a diversidade, a
inclusão e a igualdade, o que implica também, conforme veremos no
próximo capítulo, in uenciar em qual candidato ou modelo político
votar. Não é nenhuma teoria da conspiração a rmar que há algoritmos
que controlam e manipulam o comportamento.

Já foi demonstrado amplamente que uma das principais funções do


algoritmo é maximizar o tempo que a pessoa passa na internet e nas
redes sociais, com o intuito de mostrar mais comerciais e, ao mesmo
tempo, gerar a maior quantidade de cliques monetizados. Mas há
outro aspecto mais profundo e correlato, que tem a ver não apenas
com “prever” o comportamento, mas também conduzi-lo a um
objetivo determinado, chegando até mesmo a “propor” certas
ideologias com intuito de mudar a maneira de pensar e conceber a
realidade, a m de que o usuário se acomode ao modelo imposto (na
China, como veremos mais adiante, emprega-se o algoritmo do
TikTok para promover ideias socialistas). De nitivamente, os
algoritmos também podem ser empregados nas redes com motivações
profundamente ideológicas e políticas.

A quantidade de dados extraída de cada pessoa é tanta que não há


nenhuma paranoia conspiracionista em a rmar já ser possível que um
algoritmo in uencie o comportamento de algum usuário se este não
tomar as devidas precauções. Esse poder concedido pelo
“conhecimento” de cada aspecto de nossas vidas é preocupante, já que
plataformas como TikTok, Facebook, Google, Apple, Microso e
Amazon têm “os meios para nos conduzir do modo que quiserem”. 457
Em 2012, uma pesquisa realizada dentro do Facebook com 680 mil
usuários concluiu, de fato, que “os estados emocionais podem ser
transferidos a outros, levando pessoas a experimentar as mesmas
emoções sem estarem conscientes disso”. 458 Nesse caso particular, os
pesquisadores direcionaram os algoritmos do Facebook mediante um
soware linguístico que apresentava diferentes tipos de notícias no
feed, tendo por objetivo analisar se o que os usuários viam afetava seu
comportamento e seu estado psicológico, mas sem que essas pessoas
tivessem a menor ideia do que estava acontecendo. Dessa maneira, as
pessoas a quem eram mostradas publicações negativas manifestavam
um comportamento negativo pelo resto do dia, ao passo que aquelas a
quem eram mostradas publicações positivas mantinham uma atitude
correspondente. Então, é claro que os algoritmos podem afetar como
milhões de usuários se sentem sem que eles saibam o que está
acontecendo.

Em sua obra, Zuboff realiza uma análise muito completa sobre o


capitalismo de vigilância, conseguindo demonstrar contundentemente
o aspecto preditivo da , embora, por alguma razão, ela não explicite
o aspecto “diretivo”, que é o que parece mais óbvio. Relativamente ao
uso da mineração de dados para o marketing, a autora a rma:

A ideia de ser capaz de entregar uma mensagem particular a uma


pessoa real justamente no momento em que seria possível ter uma
alta probabilidade de in uenciar realmente em seu comportamento
era, e sempre foi, o Santo Graal da publicidade. 459

Aqui, nós notamos não apenas a capacidade “preditiva” de um


algoritmo, mas também o aspecto condicionador e direcionador do
comportamento do usuário para onde o algoritmo sugere.

A inteligência arti cial


A inteligência arti cial é um campo da ciência que inclui muitíssimas
disciplinas — como a informática, a análise de dados e estatísticas, a
matemática, a engenharia de hardware e soware, a linguística, a
neurociência e também a loso a e a psicologia — e é de nida como
uma inteligência simulada por algoritmos ou máquinas. 460
Tecnicamente, os programadores criam um ou vários algoritmos para
que um conjunto de computadores realize uma variedade de funções
avançadas que simulam a capacidade de ver, entender e traduzir a
linguagem (falada ou escrita), analisar dados, fazer recomendações,
reconhecer rostos, mover-se de modo autônomo etc. Como exemplo e
ilustração do que foi dito mais acima, a  usa algoritmos para
processar a enorme quantidade de dados (big data) extraída dos
diferentes dispositivos tecnológicos que são parte do sistema de
vigilância. Como seria humanamente impossível analisar essa grande
quantidade de dados constantemente coletados, o processo foi
automatizado mediante algoritmos, que vão analisando toda essa
informação para classi car dados (reconhecer vozes, por exemplo, e
até mesmo o assunto da conversa, detectar rostos, dirigir um veículo
automático etc.), identi car padrões de comportamento (por exemplo,
o que e quando se costuma comprar) ou estabelecer associações, além
de muitas outras coisas. Tudo isso vai alimentando a máquina para
possibilitá-la de prever cada vez melhor uma situação, um estado de
ânimo, a reação da pessoa, seus movimentos etc.

As aplicações para o uso da  são imensas, como robôs que podem


circular sozinhos dentro de um armazém ou de um restaurante,
sistemas de cibersegurança que se analisam e se aperfeiçoam sozinhos
para reconhecer um ataque, assistentes virtuais que podem “entender”
o que alguém está dizendo e agir com base nisso, informação que é
extraída do usuário a partir do reconhecimento de suas emoções (algo
que o Facebook usa para fazer publicidade direcionada) 461 e até
mesmo a criação de vídeos e sons totalmente arti ciais e muito difíceis
de distinguir dos reais (deepfakes). Entre outras aplicações da ,
temos o transporte, o marketing, a medicina, as nanças, os seguros,
os diferentes campos da ciência, a educação, o entretenimento, a arte, a
agricultura, a manufatura, a cibersegurança, a indústria militar e até
mesmo a redação de textos. 462 Mas a  também pode ser incorporada
a outros tipos de sistemas tecnológicos e dispositivos, por exemplo:
soware (chatbots, motores de busca, análise de imagens, para nos
manipular e motivar a comprar algo); veículos; dispositivos
inteligentes (a internet das coisas); boneca Hello Barbie, que grava
tudo o que se diz em seu entorno para ser analisado nos servidores, os
quais logo enviam uma resposta ao dispositivo. Assim, a Hello Barbie
responde com base no que “aprendeu” sobre cada usuário, além de
coletar uma grande quantidade de dados, que logo passam a fazer
parte do big data, razão pela qual ela deixou de ser fabricada graças às
implicações legais da coleta de informação de menores de idade. 463

Um primeiro tipo de  foi a chamada  simbólica. Trata-se de um


sistema que se baseia em representações simbólicas de tarefas
cognitivas superiores, como o raciocínio abstrato e a tomada de
decisões. O algoritmo emprega sentenças condicionais para as regras
decisórias, de tal maneira que, “se ocorre isto” — condições —, “então
acontece aquilo” — resultado. 464 Por exemplo, uma aplicação médica
desse tipo de  são os diagnósticos oculares a partir de uma base de
dados que contém milhares de imagens de cada condição. Assim, a 
pode detectar uma condição médica, ou o início de uma, nesse olho, o
que muitas vezes seria impossível a um médico humano. 465

Um segundo tipo de  é o das redes neurais, conforme a ideia de


redes interconectadas baseadas em unidades simples. 466 O
aprendizado de máquina (machine learning) é um elemento
particularmente importante deste tipo de , já que não precisa ser
reprogramada, pois ela incorpora os novos dados que recebe. Com
base nesses dados, a máquina “aprende” e gera novos modelos para
poder realizar previsões cada vez mais precisas ou para analisar vozes
e textos. Uma rede neural ainda mais profunda é a de aprendizado
profundo (deep learning), contexto no qual ela é constituída de vários
níveis. Esse é o tipo de  que se usa para o reconhecimento facial, por
exemplo.
Esses sistemas de aprendizado autônomo são chamados de
inteligência porque eles tomam decisões de maneira independente e
imitam, de certa maneira, a inteligência humana. 467 Um exemplo disso
é o  Duet, um soware de piano que responde aos sons que lhe são
proporcionados. 468 Com esse soware, uma pessoa pode tocar
distintas teclas do piano (não precisa saber tocar) para que o programa
responda com uma composição magní ca apenas com as notas das
teclas que foram pressionadas. No entanto, devemos esclarecer que
não é propriamente uma inteligência como tal, já que a  não
consegue replicar a mente humana, assim como ela não tem a
capacidade de tomar decisões ou de reagir em situações sociais, como
um ser humano faria, além de estar limitada a uma função especí ca.
No caso do  Duet, o que ocorre é que o sistema foi “alimentado” com
uma quantidade gigantesca de dados (composições musicais), a partir
dos quais ela foi “aprendendo” as relações entre as notas, sendo capaz
de compor com apenas um punhado delas, algo que só estaria ao
alcance de um Mozart. O que o aprendizado de máquina faz, então, é
realizar um processo estatístico para reconhecer padrões em dados e,
assim, realizar previsões futuras.

Também é importante notar que o que atualmente se considera  é a


 estrita, ou seja, aquela que só consegue realizar ações em um campo
limitado com base em programação e treinamento. Um algoritmo de
 para reconhecimento facial não consegue processar a linguagem
natural ou traduzir um texto. Há outras duas categorias de , que
possivelmente nunca serão alcançadas: a  “geral”, que teria a
habilidade de sentir, pensar e agir, e a “superinteligência arti cial”, que
poderia funcionar de maneira muito melhor que a inteligência
humana. 469 Por trás do projeto do Google, por exemplo, há toda uma
visão mecanicista e materialista do ser humano, que levou a empresa a
realizar projetos para desenvolvimento da  no campo da teoria da
mente e da autoconsciência. Segundo essa visão, bastaria recriar as
redes neurais do ser humano para que surgisse uma inteligência
autônoma e autoconsciente. 470
O Google sempre se valeu da inteligência arti cial “estrita” e do
aprendizado de máquina para seu buscador (embora o objetivo da
empresa seja chegar a alcançar uma  geral, que possa realizar
qualquer tipo de atividade cognitiva). Mais ainda, a empresa está na
vanguarda da inovação em inteligência arti cial, algo que nós
podemos comprovar quando abrimos o buscador e começamos a
escrever, pois o sistema muitas vezes já “sabe” o que queremos buscar.
Com a enorme quantidade de dados coletados, o Google pôde avançar
muito no desenvolvimento da  no campo da tradução de idiomas, do
reconhecimento de voz, do processamento visual, da classi cação de
dados, da modelagem estatística e da previsão. 471 No entanto, todas
essas aplicações estão dentro da  geral.

Embora a inteligência arti cial seja uma ferramenta valiosíssima para


uma grande quantidade de usos, ela também pode se tornar uma
ferramenta de dominação e modi cação do comportamento,
sobretudo quando se subordina o ser humano à arquitetura global de
vigilância e ao redesenho do modo de vida. “A  vai se aproximando
progressivamente até que não possamos mais viver sem ela. Todos os
dispositivos serão inteligentes. A  nos entreterá, nos dirá o que
comer e talvez até mesmo o que fazer”. 472 Parece uma cena de um livro
de cção cientí ca, mas, na realidade, é a visão futurista de Catriona
Campbell sobre a inteligência arti cial para o ano de 2023. O mundo
construído à imagem e semelhança da  será matematicamente
planejado até o mínimo detalhe, e, curiosamente, nele não parece
haver lugar para a liberdade. É a mesma visão que sugere Yuval Harari,
em Homo Deus: uma breve história do amanhã, um mundo onde o ser
humano entrega sua liberdade aos algoritmos para que estes ajam toda
vez que tivermos de tomar uma decisão. 473

Como seres livres que somos, nós constantemente temos de tomar


decisões sobre as coisas da vida, das pequenas às grandes. Mas o que
aconteceria num mundo onde todo fato fosse codi cado e convertido
em dado, analisado, comparado e, portanto, oferecesse a melhor
probabilidade (dentre os milhares analisados), como se fosse um jogo
de xadrez? Eis o cerne da questão, para os proponentes do futuro do
ser humano, futuro em que o humano, como veremos, já não será
humano. “Em algum momento, a  dominará todos os aspectos da
vida humana”, a rma Campbell com con ança, dando a entender que
tentar escapar disso será uma impossibilidade e uma loucura. 474 A
fusão com a inteligência arti cial será inevitável e, portanto, sugere a
autora, só nos resta decidir como vamos desenhá-la, já que ninguém
vai querer viver sem ela, uma vez que veremos como ela melhora
nossa vida. Quem perderia a oportunidade de ter uma vida mais longa
e um cérebro mais inteligente? A pressão social será um fator-chave,
segundo ela, pois quem vai se negar quando todos os demais estão
aceitando? Nós aceitaríamos até mesmo pelos nossos lhos. Se
queremos o melhor para eles, por que não os fundir com a tecnologia
e deixar que a inteligência arti cial guie suas vidas até o mínimo
detalhe? Quem recusar essa proposta será visto como louco, diz-nos a
autora, porque “não há base lógica para a humanidade evitar a
necessidade dessa fusão”. 475 Isso é o que se conhece como
transumanismo, uma ideologia que defende como princípio
fundamental que o ser humano deve realizar um salto evolutivo por
intermédio da tecnologia, abandonando todo vestígio limitante: a
morte, a doença, a ignorância. Neste caso particular, a inteligência
arti cial é que nos dará a resposta a todo problema humano, mas com
a consequência de que faríamos uma transição a um novo tipo de ser
humano (daí o nome transumanismo).

Contudo, essa automatização do comportamento humano e sua


substituição pela , incorporada até mesmo em nossos corpos, levará
inevitavelmente à destruição da criatividade e da liberdade humanas,
além de, de certo modo, à destruição de nossa natureza como tal,
mediante absolutos controle e manipulação. Assim, a abordagem da
automatização não está limitada a operações de manufatura ou do
trabalho humano, pois, de nitivamente, o próprio ser humano é, de
fato, o objeto e o sujeito nal do processo automático. 476 Aí se
cumprirão as palavras de Arendt, que, em crítica às teorias
comportamentais do momento — não porque eram errôneas, mas
porque poderiam se tornar realidade —, denunciou em tom quase
profético a automação do trabalho humano e a consequente
eliminação dessa atividade humana, que nos levaria a uma situação
que viria a “terminar na passividade mais mortal e estéril que a
história jamais conheceu”. 477 Seria o caso de a automatização do
trabalho humano implicar a automatização de todo aspecto humano,
incluindo o conhecimento e a decisão livre? Esse é um dos problemas
mais profundos, embora não o único, que há na possibilidade de
fundir o ser humano com a .

Zuboff certamente tem razão em notar a capacidade de análise


preditiva da . No entanto, em nossa opinião, a  pode ir ainda mais
longe, chegando ao ponto de estabelecer um mecanismo que
efetivamente modele e altere o comportamento da pessoa,
controlando-a totalmente. Nós vimos isso mais acima com os
mecanismos adictivos das redes sociais, com os problemas de imagem
corporal, com os transtornos alimentícios e, até mesmo, com o dano
físico e o suicídio, que são consequências da exposição a imagens e
vídeos cuja ordem é ditada por um algoritmo. É por isso que, em nossa
consideração, a  já não realiza apenas uma análise preditiva, mas
também realiza o que podemos considerar como análise diretiva, pois
ela tem como objetivo direcionar o comportamento para um interesse
determinado.

Tecnologia e a educação das emoções


O sistema escolar de nossos dias se transformou num centro de
ideologização a serviço do político do momento e de seu partido.
Basta ver como os programas de educação estão se transformando em
aplicações da agenda de gênero, do feminismo, do aborto, da Agenda
2030, da mudança climática etc. 478 Nenhum desses slogans
progressistas ensina a pensar, a raciocinar, a ler e escrever, a ter uma
memória mais potente, a falar bem e com lógica. O resultado não
poderia ser outro senão um sujeito totalmente ideologizado e inútil,
facilmente manipulável conforme o interesse do político do momento,
especialmente quando levamos em conta o efeito do celular e das redes
nas funções cerebrais das crianças e do adolescente. Por isso, não
podemos deixar de considerar como a tecnologia irrompeu como uma
variável muito perigosa nesse processo de doutrinação ideológica. 479
Numerosos são os projetos que empregam as novas tecnologias para
transformar o indivíduo mediante sensores, realidade virtual ou
aplicativos de reconhecimento facial. E, como veremos, não se trata de
uma “teoria da conspiração”, mas de algo que já está se incorporando
aos programas de educação dos países tecnologicamente
desenvolvidos e que não tardará a chegar ao resto do mundo, sob a
proposta da Agenda 2030 e do Fórum Econômico Mundial.

Mas, antes disso, uma pergunta losó ca: por que moldar e
manipular o ser humano mediante a educação? Por que a ideologia
libertária progressista que está por trás da tecnocracia atual aspira a
criar um novo homem, moldado a seus postulados ideológicos? 480 No
entanto, como o ser humano possui traços, desejos e convicções de
índole moral e religiosa que di cultam o sucesso desse modelo de
novo homem, os ideólogos, em vez de admitirem a pluralidade e a
verdadeira diversidade que compõem a sociedade, tentam moldar o
ser humano mediante a “reeducação” via tecnologia, com o objetivo de
transformá-lo numa engrenagem do sistema. 481 Tal é o plano de
educação mundial proposto pelo Fórum Econômico Mundial em
2016, chamado de Nova visão para a educação: Fomentando o
aprendizado social e econômico através da tecnologia. 482 Esse
documento apresenta os benefícios de uma educação social e
emocional e muito do que a tecnologia pode trazer ao aprendizado dos
estudantes, programa esse que começou a se materializar no ano de
2019.

Na seção intitulada “Expanda o campo do possível”, são introduzidas


“cinco tecnologias inovadoras que merecem atenção especial” para
adquirir uma “consciência social e cultural”: dispositivos vestíveis,
aplicativos de vanguarda, a realidade virtual, análises avançadas e
aprendizado automático, e, nalmente, a informática afetiva. 483
Vejamos em que consiste cada uma dessas tecnologias, as quais têm
como objetivo a implementação do programa de educação ideológica
num nível muito mais profundo do que o imaginado.

Entre os dispositivos vestíveis, temos pulseiras (smartbands), fones


de ouvido e roupas inteligentes (smart clothes), dotados de tecnologia
para monitoramento da atividade física, e relógios inteligentes
(smartwatches) que, além de oferecerem uma gama de usos, são
usados hoje para extração de dados (Garmin). No entanto, o
documento postula que, à medida que os sensores biométricos forem
evoluindo, os dispositivos serão cada vez mais capazes de rastrear as
respostas físicas, tais como as utuações no estresse e nas emoções da
criança. Já existem vários dispositivos que estão sendo usados para
“ajudar” estudantes a administrar suas emoções e a desenvolver
habilidades de comunicação. O Starling, da VersaMe, por exemplo, é
um pequeno dispositivo portátil projetado para melhorar as
comunicações em bebês. 484 O dispositivo, além de extrair dados do lar
constantemente, faz um acompanhamento do número de palavras que
um bebê escuta a cada dia, com o propósito de promover o
desenvolvimento da linguagem e melhorar os resultados educativos.
Um aplicativo adjunto ajuda a babá ou a professora a estabelecer
objetivos e a cumprir desa os, como realizar uma certa quantidade de
conversas por dia. O produto a rma conseguir prever o bem-estar
emocional da criança.

Também há dispositivos que proporcionam um registro minuto a


minuto do estado emocional da criança, o que pode ajudar a criar,
garantem-nos, consciência de si mesmo e até mesmo empatia, ambas
as quais são componentes críticos das habilidades sociais e emocionais
para as quais aponta o programa do Fórum Econômico Mundial. O
relógio Embrace, da empresa Empatica, é um dispositivo portátil que
monitora o estresse siológico e a atividade física. A empresa, vale
ressaltar, apresenta-se como a “plataforma de investigação mais
avançada de compilação de dados do mundo real”. 485 Embora o
objetivo principal do produto seja o monitoramento da saúde
mediante sistemas da , o Fórum Econômico Mundial destaca que ele
pode ser adaptado e programado para a educação da inteligência
virtual. 486 Por exemplo, o dispositivo pode ser programado para vibrar
quando o estresse alcança um nível especí co, ou para captar emoções
e reações relacionadas ao material de aula que são imperceptíveis ao
olho humano. Dessa maneira, a combinação da funcionalidade do
relógio Embrace com o treinamento dos pais e mestres pode melhorar
ainda mais as oportunidades para desenvolver (embora pudéssemos
dizer “manipular”) a inteligência social e emocional de uma criança.
Por exemplo, se uma criança reage negativamente a uma ideologia
proposta em classe, mesmo que de forma apenas interior, o sistema
vibra, mostrando-lhe que não está sendo empático, já que o sistema de
inteligência arti cial captou o sentimento e, por sua vez, informou o
educador. Manipulação total.

O Fórum Econômico Mundial também inclui aplicativos de


vanguarda para smartphone e tablets, utilizando o poder da nuvem e
os recursos de captura de som e vídeo 3 para transformar a
experiência do usuário e, assim, in uenciar suas habilidades sociais e
emocionais, como a criatividade e a curiosidade. A Plataforma de
Aprendizagem Adaptativa, da Kidaptive, por exemplo, conta com
algoritmos baseados em  que permitem que as empresas de
educação utilizem os dados compilados da aplicação para analisar o
progresso, as preferências e os interesses dos estudantes. 487

A realidade virtual do metaverso também é parte dessa Nova visão


para a educação. O objetivo de sua introdução, segundo o Fórum
Econômico Mundial, é simular a presença física num entorno digital
imersivo para, assim, forjar vínculos mais fortes com a vida real,
fomentar uma maior consciência de si mesmo e, assim, estimular a
criatividade sem o alto custo e o tempo necessários para viajar. 488
Embora tenhamos analisado a realidade virtual em profundidade no
capítulo anterior, vale a pena mencionar o projeto da  Reality, uma
plataforma 3 de aprendizagem interativa que usa ferramentas de
realidade virtual para a colaboração e o aprendizado por meio da
imersão virtual. 489 Essa plataforma, que já está sendo empregada em
escolas e universidades, tem grande potencial de impulsionar o
desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais, segundo o
Fórum Econômico Mundial, incluindo o fomento de uma maior
consciência cultural e curiosidade através de viagens virtuais. 490 A 
Reality promete, graças à extração e à análise de dados de todas as
experiências educativas do aluno, poder oferecer os “melhores
conhecimentos sobre o rendimento dos estudantes”. 491

O Fórum Econômico Mundial também promove o uso da análise


avançada de dados e do aprendizado de máquina, já que apresentam
um potencial signi cativo para o aprendizado social e emocional —
conforme vão incorporando dados e analisando as reações e respostas,
os educadores podem personalizar muito mais o ensino,
principalmente porque os algoritmos de análise preditiva podem
encontrar o melhor caminho para moldar gradativamente os
sentimentos e as emoções do estudante em questão. 492 A empresa
Civitas Learning utiliza big data e algoritmos que identi cam dados
que se correlacionam com o sucesso de um aluno, como aqueles que
indicam preparo, participação e frequência, proporcionando aos
educadores um painel, que pode ser utilizado para avaliar o
rendimento do aluno. 493 A empresa promete ao educador o acesso
“total” ao estudante, ou seja, o agregado de dados de todos os aspectos
de sua vida (acadêmico, de conduta, de dados nanceiros,
sentimentais etc.), a identi cação de diferentes grupos de estudantes
segundo o critério que se quiser incorporar, a análise do impac to dos
programas educativos e a utilização da inteligência preditiva () para
identi car causas de risco e poder intervir a tempo. Vale ressaltar que
o sistema analisa emoções como a empatia e a consciência social e
cultural, além de permitir elaborar um programa para ajustar as
emoções, caso elas não se adéquem ao plano de estudos.

Finalmente, o Fórum Econômico Mundial propõe a introdução da


chamada informática afetiva, ou seja, propõe a inserção de  e
reconhecimento facial para que os sistemas possam detectar,
interpretar e simular as emoções humanas, de tal maneira que,
mediante essa tecnologia, seja possível desenvolver habilidades sociais
e emocionais nos estudantes, como maior empatia, melhor consciência
de si mesmos e relacionamentos mais fortes. 494

A Affectiva, a empresa de análise emocional e reconhecimento facial


mencionada mais acima, utiliza uma webcam e algoritmos para
capturar, identi car e analisar as emoções humanas e as reações a
estímulos externos. 495 Utilizando dados de monitoramento ocular, o
sistema compara as expressões do usuário com uma base de dados de
bilhões de expressões faciais para avaliar as diferenças por
nacionalidade, idade, sexo e outras características físicas. Também é
possível distinguir entre as emoções, como felicidade, medo, surpresa
e confusão, o que auxilia o educador no momento de analisar se o
programa de educação está funcionando. Por exemplo, o sistema
analisa as expressões faciais dos estudantes enquanto assistem a um
vídeo do , a situações de suposta injustiça ou discriminação, a
paradas  etc., oferecendo em seguida um detalhado registro das
emoções que foram captadas nesse rosto. Dessa maneira, o educador
pode saber com certeza quem tem empatia e quem é tránsfobo (ou
“transfóbico”, como se ouve na gíria deles). No contexto do ensino
virtual, o sistema pode advertir em tempo real quem está prestando
atenção ou quem está fazendo outra coisa, uma função que, como já
mencionamos mais acima, a Affectiva comercializa também para
empresas que usam o trabalho remoto. 496

A tecnologia empregada para o controle e a manipulação ideológica


dentro da educação é um perigo real, que não somente condiciona e
amolda o ser humano para programas econômicos como o proposto
pelo Fórum Econômico Mundial, mas também, ao manipular os
sentimentos de uma criança num nível pré-re exivo, transforma a
criança em um ser totalmente manipulável, sem liberdade nem
capacidade re exiva para se desenvolver de acordo com as capacidades
únicas e pessoais. As possibilidades de controle são imensas quando a
tecnologia se põe ao serviço não da plenitude do ser humano, mas da
transformação do comportamento, a m de que este seja compatível
com o modelo que se busca impor.

Deepfakes: quando a manipulação se


torna realidade
Se formos falar de manipulação ou controle, ou, melhor ainda, de
manip ular para controlar, não podemos deixar de mencionar um dos
exemplos mais claros de manipulação, que ocorre quando a , o
aprendizado de máquina e as redes neurais se combinam: os deepfakes
(falsi cações profundas), ou seja, o uso de tecnologias de  para
produzir clips audiovisuais que são, muitas vezes, impossíveis de
distinguir de um vídeo tradicional. 497

Esses meios sintéticos criados por  são uma criação recente: os


primeiros surgiram em 2017, no contexto de um vídeo pornográ co
feito para atacar uma jornalista que estava realizando uma campanha
contra o abuso sexual infantil na Índia. 498 Desde esse momento, eles
têm sido utilizados por governos, empresas e indivíduos com o m de
simular vídeos aparentemente reais, que são usados seja para
produções cinematográ cas, seja para o claro propósito de enganar
nas redes sociais ou dar golpes. Em 2019, por exemplo, foi reportado o
primeiro incidente com um soware que imitou a voz de um executivo
alemão numa chamada telefônica para enganar um empregado da
empresa: ela pedia a transferência de 243 mil dólares de uma conta
corporativa a uma conta dos perpetradores do engano. 499 Em 2021,
em razão da morte repentina do chef Anthony Bourdain, o
documentário Roadrunner empregou essa mesma tecnologia para
completar as seções que ainda faltavam ser lmadas. 500 Também são
comuns os deepfakes que substituem um rosto por outro, por
exemplo, inserindo a face de uma pessoa qualquer numa produção
cinematográ ca, ou aqueles que manipulam a região dos lábios para
fazer parecer que uma pessoa está dizendo algo que, na verdade, nunca
disse, como ocorre com muitos dos vídeos que circulam por
WhatsApp para atacar políticos e confundir os incautos. 501

Essa tecnologia precisa de grandes bases de dados de áudio e vídeo


para se aperfeiçoar mediante as chamadas redes adversárias
generativas (), 502 modelos de aprendizado automático geradores
de novas imagens, texto, vídeo e áudio com base em imagens
fornecidas, as quais o sistema, então, discrimina por comparação com
os dados existentes. 503 Ou seja, um primeiro processo de
aprendizagem ocorre quando as redes generativas são treinadas com
uso de banco de dados, o que lhes permite criar expressões faciais e
vocais focadas em um assunto especí co (para isso, quanto mais
gravações houver da pessoa, mais ela “aprende”). As falsi cações são
criadas quando, por meio de um algoritmo de aprendizado profundo,
os dados compilados nessa primeira etapa do processo são cruzados
com um vídeo de outra pessoa. Alguém pode, por exemplo, lmar-se
dando um anúncio catastró co sobre um iminente ataque nuclear e a
rede geradora transforma-o no presidente da Rússia dizendo a mesma
coisa. Uma vez realizada a falsi cação do vídeo e do áudio, os
criadores devem corrigir manualmente algumas das falhas óbvias. Em
seguida, na segunda etapa do aprendizado automático, a rede
“adversária” funciona como discriminador, fazendo a prova com o
intuito de detectar qualquer tipo de falsi cação e manipulação.
Quando o segundo modelo já não é mais capaz de detectar
falsi cações, o deepfake está completo. 504

Quanto mais dados houver, mais so sticado se torna o sistema. Por


isso, a maioria dos deepfakes atuais se concentram em políticos e
celebridades, cujas imagens e vozes estão disponíveis on-line. Mas isso
também nos faz pensar que, quanto mais fotos e vídeos uma pessoa
põe nas redes, mais vulnerável ela se torna a um ataque de
manipulação. O perigo é tal que já agora é muito difícil detectar a
falsi cação da voz, mesmo que se apliquem algoritmos de detecção de
manipulação. 505 Nesse sentido, a China representa uma ameaça
concreta, uma vez que, conforme veremos no próximo capítulo, tem a
seu dispor toda a base de dados do TikTok, que é um repositório
gigante dos arquivos de vídeo, áudio e imagem necessários para que o
algoritmo treine uma rede adversária generativa. 506 É por isso que, em
razão dos problemas geopolíticos que o uso de vídeos falsos poderia
gerar, a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (,
na sigla em inglês), dos Estados Unidos, investiu mais de 68 milhões
de dólares em sistemas de análises forenses digitais para combater essa
emergente tecnologia. Nesse contexto também, no ano de 2019, o
Congresso dos Estados Unidos aprovou uma lei que exige que o
Departamento de Segurança Nacional (, na sigla em inglês)
reporte constantemente o estado atual das tecnologias de falsi cação
de conteúdo digital. 507

Por mais de 100 anos, era necessário que qualquer a rmação que
quisesse demonstrar algo contasse com um vídeo ou uma fotogra a.
Uma foto num cume, por exemplo, é prova de que este foi pisado, pois
a foto mostra uma relação causal entre a imagem e os raios de luz num
determinado espaço e tempo, xados por reações químicas ou
sensores digitais na imagem resultante. 508 Até mesmo em casos em
que uma foto é manipulada para reivindicar uma conquista, como
ocorreu com o casal da Índia que alegou ter sido o primeiro a subir o
Everest, foi fácil desvendar a tentativa de engano. 509 Com os deepfakes,
contudo, as redes de aprendizado profundo separam toda conexão
com um evento real, ainda com a particularidade de que é quase
impossível distinguir entre a realidade e a cção sem o uso de
so sticados algoritmos, que podem ser superados pela .

Conclusão
A maioria dos dados extraídos sobre nosso comportamento não tem
como objetivo melhorar algum serviço, mas, sim, como sinaliza
Zuboff, realizar uma análise preditiva de nossos comportamentos
futuros. Esse uxo de dados assenta as bases para uma nova e lucrativa
economia, também chamada de capitalismo de vigilância. Em
primeiro lugar, são extraídos dados pessoais e comportamentais por
todos os meios tecnológicos possíveis, especialmente de nossos
celulares e da internet das coisas. Essa informação é, então,
transmitida a centros de dados, onde os sistemas de inteligência
arti cial não somente os analisam com so sticados algoritmos, mas
também os incorporam em seu modelo (o aprendizado de máquina)
para aperfeiçoar cada vez mais a análise. Finalmente, segundo propõe
Zuboff, os resultados da análise preditiva são vendidos num “mercado
futuro de comportamento”, que comercializa exclusivamente os dados
de comportamento de cada ser humano e onde há grandes empresas
competindo pela qualidade de suas previsões, ou seja, vendem certeza.

Hoje, é inegável que se impôs um novo tipo de capitalismo de


vigilância, que é o principal modelo das empresas de tecnologia, mas
que logo migrou e se in ltrou em todos os demais setores, como
a rma Zuboff, incluindo educação, seguros, saúde, comércio, nanças,
transporte, justiça etc. No entanto, é necessário ir além e ver como esse
desfecho não é uma questão meramente mercantilista. Já é uma
possibilidade real que o algoritmo e a inteligência arti cial sigam
transformando e moldando a pessoa não apenas para condicionar o
seu consumo, mas também segundo um certo paradigma ideológico e
uma nova visão do ser humano. Zuboff vê o perigo real de moldarem
“nosso comportamento em escala”, 510 mas sua crítica se limita à
comercialização da conduta transformada em dados: “Processos de
máquina para moldar a conduta na direção do máximo ganho”. 511 O
big data surge com uma aplicação comercial da análise preditiva,
visando à manipulação inconsciente do comportamento consumista.
No entanto, a seguir, se estende a outros campos do comportamento e
do pensamento humanos, seja por alterar a arquitetura do processo de
decisão, seja por manipular convenientemente as mensagens, a m de
que o usuário acabe aceitando uma forma especí ca de pensar. 512

O maior perigo que nos acossa é aquele que se produz quando a


tecnologia se desprende do ser humano, convertendo-se numa
ferramenta de vigilância e de projeção de otimização do indivíduo e
das sociedades que habitamos. Segundo citávamos de Rod Dreher,
mais acima, “os mestres dos dados não estão apenas tentando
descobrir aquilo de que você gosta; agora, estão trabalhando para fazer
com que goste do que querem que você goste, sem que as
manipulações implementadas sejam detectadas”. 513 O controle, então,
será total.

Quando o ser humano se converte em objeto da inteligência arti cial,


a perda de liberdade é uma das possíveis consequências. Embora não
estejamos falando do tipo de coerção que obriga a pessoa a tomar uma
determinada decisão, a realidade é que todos os dados de nosso
comportamento foram integrados aos processos automatizados da ,
que pode nos conhecer até melhor do que nós mesmos, a qual nos
“empurra”, condiciona e, de certa maneira, obriga a aceitar uma
decisão tomada pelo algoritmo. 514 A tecnologia atual, de fato, registra
nosso comportamento por meio de sensores inteligentes, o qual depois
é analisado pela . Se necessário, a  busca um modo de moldá-lo
mediante condicionamento. Segundo o lósofo Byung-Chul Han, o
conhecimento fornecido pelos dados é um “conhecimento de
dominação”, que intervém na psiquê e a condiciona em nível pré-
re exivo. 515 É aí que o big data, a mineração de dados, os algoritmos e
a  se transformam em instrumentos de dominação, a serviço tanto
de grandes corporações quanto de agências governamentais, com o
objetivo de levar a cabo um novo projeto de dominação, conforme
veremos no próximo capítulo.

 :  


 :  
 
H oje, não se pode analisar o panorama geopolítico mundial sem
levar em conta a incorporação das novas tecnologias à ordem
social, especialmente se considerarmos que estamos diante de forças
globais que, mesmo de diferentes perspectivas, parecem estar em
busca da mesma coisa: uma sociedade de controle e vigilância total,
governada pela inteligência arti cial. 516 Esse será o “novo normal”
resultante do reset cultural, econômico e político vislumbrado para
2030. Esses modelos tecnocráticos que, à primeira vista, parecem
antagônicos, têm, na realidade, um objetivo semelhante que os torna
aliados. Por um lado, temos as grandes empresas de tecnologia e
metacapitalistas dos Estados Unidos: Google, Facebook, Amazon,
Microso, Apple e , as quais enriqueceram pela conversão do
comportamento humano em dados, os quais, por sua vez, foram não
apenas comercializados, mas também usados para liderar o
desenvolvimento da  e do aprendizado de máquina. Por outro lado,
temos o Partido Comunista Chinês e as empresas que operam sob seu
olhar e controle: Baidu, Alibaba e Weibo. 517 Neste capítulo, nós
veremos como a mineração de dados, o big data e a inteligência
arti cial estão sendo empregados não apenas com claros objetivos
políticos de vigilância e controle da população, mas também para o
molde do comportamento e para a imposição de certas ideologias,
como é o caso da China com respeito ao comunismo, mas também o
caso do Ocidente com respeito a ideologias de corte progressista. A ,
como defende Coeckelbergh, não é uma questão meramente técnica
porque ela não é neutra em questões de poder e política. 518 Pelo
contrário, a  é, de fato, profundamente política, conforme veremos
neste capítulo, uma vez que, por trás dessas tecnologias, há todo um
projeto comercial, social e político, que se enquadra numa visão
particular da realidade e do ser humano. 519

O big data e o Estado de vigilância


O Google é o pioneiro do big data e da vigilância, tanto na teoria como
na prática. Ele logo foi imitado, especialmente pelo Facebook, pela
Microso e pela Amazon. Em meados dos anos 1990, a internet era
um espaço totalmente desconhecido, onde subiam à rede todo dia
quantidades enormes de informação que não eram vistas por
praticamente ninguém. Foi aí que Larry Page e Sergei Brin, dois
estudantes de doutorado da Universidade de Stan ford, vislumbraram
uma solução: mapear e escanear absolutamente todos os sites da
internet, criar uma cópia virtual de cada um deles. Essa cópia, por sua
vez, seria guardada na nuvem e atualizada constantemente, para, em
seguida, mediante fórmula matemática (um algoritmo), poder realizar
uma busca de termos e estabelecer um ranking de páginas que
apareceriam segundo um critério de relevância. Assim começou a
empresa que, em 1998, eles chamaram de Google.

O grande problema inicial para o Google e seus investidores é que o


motor de buscas em si não conferia benefícios econômicos
signi cativos à empresa. Seu valor viria da quantidade de usuários e da
vastidão de dados gerados, o que faria do Google o sistema de
aprendizado de máquina mais avançado, pois ele seria retroalimentado
a cada busca. Amit Patel, um dos primeiros empregados, descobriu
que o buscador poderia ser transformado num “sensor” da conduta
humana. 520 Esse foi o pontapé inicial a partir do qual nós nos
tornaríamos cobaias da extração tecnológica de nosso
comportamento, mas desde então transformada em matéria-prima e
em dados, que seriam vendidos e revendidos no mercado. Mas esses
dados também ofereceriam uma porta à modelagem de
comportamento e à vigilância estatal com ns políticos e ideológicos.

Há um fato histórico que coincidiu com esse descobrimento e


catapultou o Google a operar praticamente sem nenhuma restrição
legal ou competitiva: os atentados das Torres Gêmeas, em 11 de
setembro de 2001, e uma nova lei para a luta contra o terrorismo, o
 Patriot Act. 521 Essas mudanças legislativas abriram as portas a um
estado de exceção e emergência em que o anormal e o extraordinário
viraram coisas comuns, o que favoreceu tremendamente o Google. 522
Desse momento em diante, a empresa começou a minerar dados não
apenas para ns comerciais, como também para auxílio às agências de
polícia e de inteligência, criando uma nova simbiose entre Estado e as
gigantes da tecnologia.

Já em 1997, George Tenet, diretor da , entendeu claramente que


deveriam incorporar as novas tecnologias surgidas no Vale do Silício,
que estavam recon gurando todos os aspectos de nossas vidas. Com
esse propósito, em 1999, foi fundada a In-Q-Tel, empresa dedicada à
tecnologia de vanguarda para ordenar todos os dados da internet que
utuavam sem nenhuma estrutura. Essa empresa era subsidiada pela
 e entrou numa parceria com o Google. 523 Contudo, com o 
Patriot Act, de outubro de 2001, o governo reivindicava soberania
sobre o mundo digital, o que deu início a toda uma operação de
espionagem massiva. 524

Pouco depois, em 2002, o Departamento de Defesa criou o Total


Information Awareness Program (), um programa que materializou
a ideia do Grande Irmão, sobre comando da , 525 que tinha como
objetivo obter a maior quantidade possível de informação sobre cada
pessoa, armazená-la em centros de dados e, pela mine ração de dados,
pôr a informação à disposição de qualquer agência do governo dos
Estados Unidos. 526 A justi cativa para esse programa foi a premissa de
que a melhor maneira de proteger um país contra o terrorismo é
coletar toda a informação possível sobre cada cidadão e analisar os
padrões de comportamentos “terroristas”. 527 Isso incluía e-mails, redes
sociais, 528 contas bancárias, chamadas telefônicas, histórico médico,
vigilância biométrica etc., sem a necessidade de obter uma ordem
judicial. O programa foi descontinuado no ano seguinte em razão das
críticas que o massivo sistema de espionagem gerou. Contudo, as
operações continuaram de maneira secreta nas mãos de dois
programas: um que Bush delegou à Agência de Segurança Nacional,
como Edward Snowden revelou em 2013, 529 e o programa , do
Pentágono, para a coleta de dados. 530 A , por exemplo, tem a
capacidade de acessar cabos de internet no fundo do mar e, por meio
de um sistema chamado , pode ler e-mails e visualizar pesquisas
na internet e todo tipo de comunicação que passe pela bra ótica. 531
Além disso, algumas empresas não negociadas em bolsa rmaram
contratos milionários com agências do governo, fazendo uso de
alguma lacuna legal para evitar a necessidade de ordens judiciais e,
assim, tornar possível um mecanismo de vigilância massiva por meio
de mineração de dados realizada por essas empresas, que lucravam
com o novo capitalismo de vigilância.

O Google iniciou um relacionamento uido tanto com a  quanto


com a , a partir de 2003. 532 Na atualidade, o Google se vale de um
sistema apelidado de Sensorvault, uma base de dados que guarda
todos os pontos de geolocalização de milhões de usuários do mundo
todo, enviados constantemente pelo aparelho celular (tanto com
sistema Android quanto Apple), até mesmo quando não se tem aberto
o Google Maps. Esse sistema registra todos os movimentos e
proximidade com outras pessoas, daí tudo é guardado numa base de
dados, que pode ser investigada retroativamente do ano de 2009 em
diante. 533 Ou seja, qualquer pessoa com acesso à base de dados pode
estabelecer um percurso preciso desde esse ano até o presente. O que
surgiu como um negócio de anúncios geogra camente personalizados
se transformou numa rede de vigilância digital para as forças de
ordem, que já está sendo utilizada pelas forças policiais dos Estados
Unidos para encontrar suspeitos de crimes não solucionados
ocorridos anos atrás. 534 Na era de coleta total de dados por parte das
empresas tecnológicas (aonde você vai, quem são seus amigos, o que
você lê, come, olha e quando faz essas coisas), a vigilância está
tomando uma direção que nos aproxima mais do modelo de 1984 do
que o da democratização que os visionários da internet nos
prometeram. Em 2016, James Clapper, que era então o diretor de
Inteligência Nacional dos Estados Unidos, declarou diante do
Congresso que os serviços de inteligência poderiam usar a internet das
coisas para a “identi cação, vigilância, monitoramento, rastreamento
de localização e seleção para recrutamento, ou para obter acesso a
redes ou credenciais de usuários”. 535 Lar inteligente é sinônimo de lar
vigiado.
No capítulo anterior, vimos como as empresas de venda de dados
(data brokers) ganhavam milhões de dólares anuais vendendo no
mercado privado os dados que coletavam pelos . Muitas dessas
empresas, contudo, também têm como clientes agências federais, a
polícia, o exército, as agências de inteligência e a indústria bélica. Nos
últimos anos, um grupo de jornalistas foi descobrindo os detalhes
sobre a compra clandestina de dados por parte dessas agências que,
nos Estados Unidos, incluem Serviço Secreto, , ,  (agentes
de fronteira),  (imigração),  (receita federal), Departamento de
Defesa, Comando de Operações Especiais etc. Os contratos e a venda
de dados estão disponíveis publicamente, alguns dos quais superam o
valor de meio milhão de dólares, o que mostra como, nos últimos
anos, as empresas de venda de dados e as forças armadas, as agências
federais, os serviços de inteligência e as forças policiais formaram uma
enorme e secreta associação para vigiar os movimentos de milhões de
pessoas. 536

A agência de imigração () compra dados da Venntel que


permitem identi car celulares em uma área determinada (zonas
desérticas na fronteira com o México, por exemplo) para, em seguida,
fazer um monitoramento de todos esses celulares, que pertencem a
pessoas que possivelmente cruzaram ilegalmente a fronteira. 537

O monitoramento do percurso diário é tão meticuloso que é


impossível a rmar que os dados sejam “anônimos”, uma vez que é
muito fácil determinar a quem pertencem. Esses dados são coletados
com base em qualquer um dos 80 mil aplicativos de jogos, clima e
comércio eletrônico, que obtêm informação exata sobre a posição
geográ ca de uma pessoa e que, em seguida, agências como o Serviço
de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos () utilizam para
efetuar detenções. 538 O , por exemplo, em 2019, adquiriu licenças
para acessar dados por um valor de 1,1 milhão de dólares. O
Departamento de Segurança Nacional (), por sua vez, pagou à
Venntel mais de 2 milhões de dólares em troca de dados de localização
de pessoas residentes nos Estados Unidos, mas também no México e
na América Central. 539 Esse é um claro exemplo de como o
“capitalismo de vigilância” descrito por Zuboff está alimentando todo
um sistema de vigilância estatal; em alguns casos, também para encher
os cofres do Estado. A Receita Federal dos Estados Unidos () usou a
Venntel para identi car e localizar pessoas que faziam depósitos em
dinheiro em caixas eletrônicos, a m de veri car a procedência do
dinheiro. 540

A Babel Street é uma empresa de dados que, por sua vez, os obtém da
Venntel. Ela usa tecnologia linguística em tempo real e é uma
contratista de forças policiais e agências de inteligência. 541 Contam-se
entre os seus clientes o , a , a , o Comando Cibernético dos
 e o Departamento de Justiça, assim como os governos do Canadá,
Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia, Cingapura e Alemanha. 542 Um
de seus produtos principais, o Babel , interpreta textos extraídos das
redes sociais e de outros sites da internet por meio de inteligência
arti cial linguística, em tempo real e com capacidade de análise de
mais de 200 idiomas, para alertar sobre potenciais perigos,
hackeamento e publicação de dados, fonte original de uma notícia
falsa, ameaça a infraestruturas, pessoas ou grupos de interesse, de tal
modo que as agências de segurança possam intervir antes que se
produza alguma situação de perigo. 543 Ao analisar constantemente as
redes sociais, a empresa pode até mesmo detectar a presença de forças
militares estrangeiras num país de interesse. 544 Em certa ocasião,
segundo foi reportado, um grupo de investigadores pode monitorar
em tempo real os movimentos de membros do exército russo em
países estrangeiros, simplesmente identi cando os celulares que
geralmente transmitiam dados de bases militares em território
nacional, mas que foram, então, ativados em bases militares ou pontos
estratégicos no exterior. 545 Esse sistema também pode ser usado para
detectar a liações partidárias ou ideológicas com base na atividade em
redes sociais.

O Synthesis, um dos produtos da Babel Street, é anunciado com a


promessa de poder escanear as redes sociais para representar
gra camente o sentimento da população sobre diferentes temas,
dentre outras funções. 546 Dado que o governo do Canadá é cliente da
Babel Street, nós podemos ver com exemplos concretos como um
governo pode vigiar e castigar a população mediante a tecnologia.
Quando o governo de Justin Trudeau anunciou que seriam congeladas
as contas bancárias dos que apoiaram a manifestação dos
caminhoneiros, no início de 2022, um sistema como o Babel 
ajudaria o governo na detenção de cada uma das pessoas que
ajudaram a caravana em qualquer um dos lugares do país onde ela
passou ou daqueles que mostraram seu apoio pelas redes sociais. 547
Com uma ferramenta assim, o governo pode detectar facilmente
mapas grá cos da população com informação sobre seu pensamento,
aceitação ou rejeição da atual administração e suas decisões,
motivações religiosas ou ideológicas. E se um governo insistir em usar
a  para modi car o pensamento de uma pessoa sobre um tema
especí co por meio das publicações que aparecem nas redes sociais?
Isso não é uma mera suposição. Na China, como veremos, algoritmos
já estão sendo empregados para alterar a ideologia política de jovens
inconformados com o modelo socialista.

O Locate , outro dos produtos da Babel Street, proporciona dados


de geolocalização extraídos da indústria de marketing a diferentes
agências de inteligência, órgãos militares e forças policiais, a m de
auxiliá-los no monitoramento em tempo real. 548 O Locate  pode ser
usado ao se estabelecer uma “cerca digital” ao redor de uma
localização ou determinada área, daí localizar todos os dispositivos
nessa localização e, então, fazer um rastreio retrospectivo para analisar
onde esses dispositivos estiveram nos meses anteriores. Podemos
supor, por exemplo, que o Serviço de Imigração e Controle de
Alfândegas dos Estados Unidos utiliza o sistema de  para identi car
pessoas que cruzaram ilegalmente a fronteira. Militarmente, ele foi
empregado também em tempo real para ataques com drones por parte
do Comando de Operações Especiais (), uma seção do exército
dos Estados Unidos encarregada de contrainsurgência e de luta contra
o terrorismo. 549 Já foi comprovado, por exemplo, que o Grupo de
Operações da Guarda Nacional conduz ataques no exterior com
drones -9 Reaper, que localiza as vítimas pelos dados fornecidos
pelo Locate . 550

Quanto às investigações policiais, o sistema pode ajudar a resolver


um crime. Por exemplo, no caso de um assassinato ou sequestro, os
investigadores estabelecem um perímetro digital ao redor do local
onde ocorreu o fato, em seguida identi cam todos os dispositivos
móveis que estavam dentro do cerco digital no dia e na hora do ataque
e, então, fazem um monitoramento do percurso de cada celular para
detectar os suspeitos, o que é algo similar ao serviço oferecido pelo
Google (Sensorvault). De fato, o Serviço Secreto dos Estados Unidos
utiliza essa tecnologia para apreender golpistas que instalam leitores de
cartão de crédito em bombas de postos de gasolina. 551 Apesar de essas
tecnologias terem, em casos particulares, um uso concreto para
solução de crimes, o fato de muitas agências federais obterem uma
massiva quantidade de dados de toda a população em tempo real
parece, do ponto de vista legal, pelo menos uma violação do direito
que cada pessoa tem à privacidade e uma vigilância injusti cada de
todas as suas atividades. 552

A Anomaly Six (6), outra empresa praticamente secreta (o único


conteúdo de seu site é um endereço de e-mail) 553 utiliza métodos
semelhantes aos da Babel Street (de fato, a 6 foi fundada por dois
empregados de lá) para depois comercializar os dados com agências
do governo e de inteligência, segundo descobriu um jornalista do Wall
Street Journal, em 2020. 554 Tal como foi reportado, a Anomaly Six
conseguiu inserir  em cerca de 500 aplicativos instalados em 3
bilhões de celulares, os quais vigia e deles extrai dados de usuários
para, em seguida, vendê-los por valores extraordinários a agências de
inteligência. 555 O Comando de Operações Especiais (), por
exemplo, pagou mais de meio milhão de dólares pelo acesso à
geolocalização de usuários. 556 Além disso, a empresa alega ter formado
uma base de dados com mais de 2 bilhões de e-mails e outros detalhes
pessoais que os usuários compartilham quando instalam um
aplicativo, o que a permite identi car a quem pertence cada celular
que ela espiona. 557

No ano de 2022, a Anomaly Six se associou à Zignal Labs, uma


empresa que oferece monitoramento de pessoas por intermédio de
“uma plataforma alimentada por  que analisa bilhões de pontos de
dados em tempo real”. 558 Para convencer agências do governo sobre a
capacidade e a precisão de seus serviços, a Anomaly Six realizou
demonstrações ao vivo, como mostrar num mapa satelital da Ucrânia
os movimentos dos soldados russos e, daí, mapear seu percurso ao
longo do tempo, assim como a parte da fronteira pela qual haviam
entrado. Além disso, quando se pressionava qualquer um dos pontos
que apareciam no mapa, o sistema fornecia o nome da pessoa e todos
os seus movimentos, a base militar na qual havia sido treinada, a
unidade do exército a que pertencia, o endereço de sua casa na Rússia
etc. O mesmo foi feito com um submarino nuclear chinês. Depois,
caso ainda restassem dúvidas, revelaram as movimentações de 183
celulares que haviam visitado as instalações tanto da  quanto da
, para lhes demonstrar que podiam monitorar e provar para onde
foram enviados esses agentes secretos. 559 Num dos casos, eles
monitoraram alguém que se supõe ser um agente de inteligência,
mostrando todo o seu percurso de um ano antes e provando até
mesmo que ele havia estado numa base de drones na Jordânia, além de
sua casa nos Estados Unidos, numa espécie de “nós vamos além da 
porque nossa especialidade é espiar até mesmo os espiões, sem que
saiamos de nosso escritório”. A particularidade do serviço oferecido
pela Anomaly Six é que os dados podem ser cruzados e agregados à
informação fornecida por fontes humanas clandestinas, interceptações
secretas, dados das redes sociais, imagens de satélites e dados de
consumidores obtidos no setor privado (por exemplo, os dados
obtidos de outros provedores de big data). 560

As forças policiais também estão usando ferramentas e técnicas que,


embora tenham começado a ser empregadas em nível global sob a
justi cativa da luta contra o terrorismo, agora se concentram em
cidadãos comuns sob uma nova desculpa: a luta contra o crime local.
É assim que em San Diego, no estado da Califórnia, a polícia começou
a não somente pedir identi cação pelas ruas, mas também tomar fotos
com iPads e subi-las para um sistema de reconhecimento facial na
nuvem, que compara as imagens com uma base de dados de
criminosos e de suspeitos, além de usar cotonetes orais para recolher o
 da população. 561

O monitoramento do comportamento se tornou coisa comum depois


de decretada a pandemia em 2020. A Apple e o Google desenvolveram
o programa de monitoramento sanitário, além dos diversos aplicativos
encomendados por governos com o objetivo de controlar o
distanciamento social e os con namentos obrigatórios através da
geolocalização. 562 O governo federal do Canadá admitiu a existência
de um programa de vigilância clandestino, começado em janeiro de
2019, quando 33 milhões de celulares ativos no país foram alvo de
monitoramento constante pelas torres de celular, principalmente
quando se decretaram as quarentenas e os con namentos obrigatórios.
563
Evidentemente, esses sistemas não serviram para prevenir a
transmissão de -19, embora o problema principal fosse poder
funcionar com perfeição caso se tratasse de vigiar e localizar alguém
que tenha opiniões ou ideias politicamente incorretas, incomodando,
assim, o olhar vigilante da tecnocracia reinante.

A aliança cívico-militar chinesa


Em 20 de agosto de 2020, Donald Trump emitiu uma proibição do
TikTok no território dos Estados Unidos, exigindo que, para poder
operar no país, a ByteDance, a empresa chinesa proprietária da rede
social, vendesse a plataforma a investidores nacionais em 45 dias. A
proibição também contemplava a Tencent, dona do WeChat, o
aplicativo de mensagens, rede social e pagamentos on-line com mais
de 1,24 bilhão de usuários. 564 O motivo era uma questão de segurança
nacional: pelo que parece, a China usava ambas as plataformas para a
extração de dados e geolocalização dos usuários. 565

Para milhares de tiktokers, a notícia foi devastadora, principalmente


para os que haviam desenvolvido uma profunda adicção à rede social
ou que dependiam dela economicamente, tendo em conta que, só nos
Estados Unidos, a plataforma tem 180 milhões de downloads. Uma
investigação privada con rmou que o aplicativo extrai grande
quantidade de dados até mesmo quando não está aberto, enviando-os
a servidores chineses, aos quais o governo chinês tem acesso. Entre
esses dados, estavam os per s faciais de crianças e adolescentes, os
contatos delas, sua geolocalização, seu estado de saúde, sua ideologia
política etc. 566 Microso, Walmart e Oracle mostraram interesse em
adquirir a rede social para os Estados Unidos, Canadá, Austrália e
Nova Zelândia, mas, quando a ByteDance estava disposta a realizar a
transação por um valor extraordinário, ocorreu algo impensado: o
governo chinês interveio e suspendeu a transação por motivos de
segurança nacional. O algoritmo era um ativo do governo comunista,
conforme explicaremos mais abaixo.

Embora a venda não tenha se realizado, um juiz federal dos Estados


Unidos bloqueou temporariamente a medida provisória de Trump.
Quando Biden chegou à Casa Branca, seu governo pediu à corte que
postergasse qualquer ação enquanto revisava a situação. 567 No entanto,
várias agências federais proibiram o uso do TikTok em redes e
celulares do governo, tendo o próprio presidente Biden ordenado, em
20 de dezembro de 2022, que os servidores federais não usassem a
rede social em dispositivos fornecidos pelo governo. 568 Essa decisão
foi apoiada e seguida pelo governo do Texas e por várias universidades
do país, que bloquearam a conexão de wi- para quem tivesse o
aplicativo em seus dispositivos, o que possivelmente se estenderá a
uma proibição total para seus alunos. 569 O TikTok respondeu dizendo
que os dados extraídos nos Estados Unidos não são enviados à China,
antes, são guardados em servidores do país e em Cingapura. Contudo,
esse esclarecimento é uma armadilha para os que não são versados no
funcionamento do sistema, pois, embora os dados sejam guardados
num centro de dados nos Estados Unidos, eles são processados nas
instalações que a ByteDance tem em Pequim. 570

Já em maio de 2019, Trump havia anunciado a cessação imediata de


negócios com uma série de empresas chinesas, entre as quais estava a
Huawei, uma das maiores empresas de telecomunicações do mundo.
Isso signi cava que nenhuma empresa que operasse dentro dos
Estados Unidos poderia estabelecer relações comerciais com quem
gurasse na lista negra (em inglês, entity list). O motivo principal era
limitar a espionagem do governo chinês feita por meio da
infraestrutura de redes  e de toda a tecnologia de telecomunicações
produzida por “adversários estrangeiros”. 571 Em ns de novembro de
2022, as proibições se estenderam às novas tecnologias da Huawei, da
, e às câmeras de segurança da HikVision, graças ao risco de
espionagem por parte do governo comunista chinês. 572

Aynne Kokas, numa investigação bem fundamentada sobre a


transferência de dados para China, analisa como o governo
estabeleceu uma política de soberania digital e uma fronteira
cibernética, iniciada nos anos 2000 com o projeto da Grande Muralha
Digital (Golden Shield Project), o que permitiu que o país asiático
montasse uma rede interna e centralizada para controlar, mediante
servidores proxy, tudo o que entra e sai do mundo digital. 573 Essa
Grande Muralha bloqueia endereços da internet e sites, além de ltrar
palavras-chave para restringir o uxo de dados. 574 Essa fronteira
digital permite que o governo desenvolva seu big data mediante
normas e leis que regulam e controlam o crescimento das empresas de
tecnologia, seja pelo acesso irrestrito aos dados que elas trazem, seja
pela nacionalização de certos componentes dessas empresas
(algoritmos,  etc.), seja pelo controle parcial de empresas por parte
do Estado ou pela fusão civil-militar. Ou seja, qualquer tecnologia
desenvolvida por empresas chinesas está submetida ao controle do
governo. 575 No plano internacional, o governo chinês também é muito
in uente, pois de nitivamente controla as plataformas chinesas e seus
produtos, os quais têm obtido in uência em nível global graças às
vantagens tecnológicas obtidas pelo tráfego de dados e seu manejo
massivo, o que também permite que a China produza ferramentas
tecnológicas antes dos outros. 576 Essa é, sem dúvida, uma enorme
vantagem no mercado global, que também lhe dá a possibilidade de
xar as normas internacionais em tecnologias fundamentais para a
vigilância e o controle, tais como o reconhecimento facial, a
inteligência arti cial, as telecomunicações e todos os produtos que se
enquadram na internet das coisas.

Já faz anos que as empresas de tecnologia dos Estados Unidos e da


China começaram toda uma campanha de extração de dados, o que
tem implicações na geopolítica e na segurança nacional para ambas as
potências. O setor tecnológico dos Estados Unidos impôs um padrão
para a exploração de dados que praticamente não tem nenhum tipo de
regulamentação. Isso tornou quase impossível que pessoas comuns e
até mesmo governos pudessem se prote ger contra a extração de
dados, sua venda e seu tráfego para a China. 577 Na direção contrária, o
país asiático estabeleceu toda uma política de soberania digital, ou
cibersoberania, mediante a qual ele tem controle da infraestrutura
digital, das tecnologias e dos dados, tendo tornado quase impossível a
extração de dados de seu território por parte de empresas estrangeiras,
ao mesmo tempo que são realizadas operações, através de plataformas
nacionais, de extração e transferência em larga escala de dados do
resto do mundo a servidores chineses. 578 Algumas das razões que
motivam a extração, o tráfego e o roubo de dados é que eles são
necessários para melhorar as diferentes aplicações da  (por exemplo,
95% da população chinesa pertence ao mesmo grupo genético, o
grupo han, o que di culta o desenvolvimento do reconhecimento
facial, a biotecnologia etc.), 579 mas também porque os dados dos
consumidores são uma fonte importantíssima para entender, controlar
e manipular uma população.

A China desenvolveu toda uma estratégia de fusão civil-militar, de tal


modo que ela tanto emprega o TikTok, o WeChat e os sistemas da
Huawei para a espionagem quanto dá a seu aparato militar o acesso a
todas as tecnologias e produtos dessas empresas. Isso é possível porque
o governo introduziu alterações legais, nacionalizando dados
especí cos, os algoritmos e a inteligência arti cial desenvolvida pelas
gigantes chinesas de tecnologia. 580 É por isso que o governo chinês
bloqueou a venda do TikTok, já que o algoritmo era de sua
propriedade por questão de segurança nacional na batalha para
conquistar o mundo digital. Além disso, enquanto, no resto do mundo,
os algoritmos são propriedade de cada empresa de tecnologia, na
China, as grandes empresas de tecnologia estão obrigadas a divulgá-
los à Administração do Ciberespaço a m de que se analise como
funcionam e se saiba para quais produtos são usados, pois o governo
proíbe, dentro de seu território, que algoritmos gerem adicção ou que
determinem os preços de uma transação em função dos hábitos do
usuário. 581 Tampouco é necessário dizer que o algoritmo do TikTok
para o público chinês é diferente do algoritmo empregado na versão
internacional, algo que cou evidenciado quando o governo ordenou
que apenas a versão chinesa operasse em Hong Kong. 582

Por outro lado, a China permite que as empresas estrangeiras de


tecnologia operem no país com a condição de que todos os dados
estejam ao alcance do sistema de vigilância centralizado do governo e
que sejam guardados nos servidores governamentais. 583 A Apple pode
operar na China e vender seus produtos porque suas políticas de
privacidade e sua App Store são diferentes neste país. Além disso,
todos os dados gerados no país são guardados em servidores locais e
controlados por empresas a liadas ao governo. 584 Até mesmo a versão
chinesa do iCloud é controlada pelo , que, por sua vez,
compartilha os dados de fotos, mensagens, chamadas, entre outros,
com o governo comunista. 585 O mesmo ocorre com a Tesla, empresa
que aceitou entregar todos os dados gerados pelo veículos elétricos aos
servidores chineses em troca de poder operar no país. 586 No entanto, a
realidade parece ser a de que a China ainda permite que essas
empresas operem em seu país porque ela ainda não atingiu esse
mesmo nível tecnológico. Quando uma empresa chinesa produz um
produto de primeiro nível, o governo chinês lhe dá prioridade no
mercado nacional, considerando, ainda, que o tamanho do mercado
interno garante sua expansão global. Esse foi o caso do WhatsApp,
aplicativo bloqueado na China em benefício do WeChat. Outra razão
para esse bloqueio era que o governo queria poder moderar as
mensagens e imagens que eram enviadas dentro da plataforma. 587

A colaboração com o governo é outra das várias maneiras de as


empresas ocidentais receberem permissão para operar em solo chinês,
algo que o governo permite com a óbvia intenção de cumprir seus
próprios objetivos de desenvolvimento tecnológico a longo prazo. 588
Basta recordar como o Google cooperou com o governo comunista no
Dragon y Project, um buscador desenhado especi camente para a
China, com algoritmos que censuravam todo os resultados
relacionados a direitos humanos, democracia ou protestos e que, por
sua vez, enviava uma mensagem ao governo com o número de celular
da pessoa que realizava a busca. 589 Mark Zuckerberg (Meta) e Tim
Cook (Apple) se reuniram tanto com Lu Wei, que foi diretor da
Administração do Ciberespaço da China, quanto com o presidente Xi
Jinping para colaborar em projetos tecnológicos do governo através de
sua participação no conselho consultivo da Universidade Tsinghua. 590
A Microso também trabalhou com uma universidade militar chinesa
no desenvolvimento de inteligência arti cial. 591 A Fundação
Open, uma organização sem ns lucrativos liderada por
executivos da  e do Google, estabeleceu uma colaboração entre a
, a empresa chinesa Semptian e o fabricante americano de chips
Xilinx para desenvolver os sistemas de vigilância de dados da
Semptian. 592 É fato que as gigantes de tecnologia do Vale do Silício
não apenas foram as pioneiras nesta rede de vigilância e controle
através da tecnologia, tendo sido bene ciadas pela falta de
regulamentação legal nos Estados Unidos, como também estão
exportando o modelo para a China. Por sua vez, o Partido Comunista
Chinês criou toda uma estrutura legal que lhe permite ter controle
sobre as corporações tecnológicas não somente quando operam dentro
do país, mas também quando operam no exterior. 593 Esse direito que a
China reivindica para si consiste num novo modelo de “soberania
digital”, com todas as suas implicações. 594 A China, por exemplo,
reivindica para si o direito de julgar qualquer pessoa que atente contra
seus interesses soberanos, contexto no qual, se qualquer pessoa criticar
a China no ciberespaço, o governo considera ter autoridade para julgá-
la. 595

Consequentemente, a dinâmica do relacionamento das empresas de


tecnologia com o governo e o aparato militar chinês implica sérios
problemas com respeito ao manejo de dados extraídos no exterior,
motivo pelo qual tanto os Estados Unidos quanto a Índia iniciaram
um processo de bloqueio digital. Não podemos con ar nas promessas
do TikTok porque, segundo Lizhi Liu, nenhuma empresa
multinacional chinesa pode se comprometer de forma credível a não
compartilhar dados pessoais com seu governo. Tampouco pode a
China se comprometer a não abusar dos dados pessoais para a
vigilância ou para outros ns políticos que invalidem a liberdade
individual. 596

A China como modelo do Estado de


vigilância
O modelo de soberania cibernética da China representa uma nova
dimensão da centralização, caracterizada pelo controle absoluto do
regime comunista sobre toda experiência digital dos habitantes do
país. 597 Câmeras e sensores, que, no passado, requeriam muito
trabalho manual para monitorar a população foram hoje simpli cados
por sistemas que empregam inteligência arti cial e algoritmos para
eliminar qualquer ine ciência humana. Na atualidade, uma pessoa que
for procurada pelo governo pode ser detectada em uma questão de
segundos, rápido o su ciente para que o procurado não consiga
escapulir das forças de segurança. Mas o perigo que isso representa
não se limita ao território chinês. A desculpa da pandemia, por
exemplo, potencializou ainda mais o programa de vigilância nacional,
estendendo em seguida essas práticas ao resto do mundo pela mesma
in uência global das empresas chinesas de espionagem. 598 É
preocupante, por exemplo, que estejam sendo exportadas a outros
países as tecnologias empregadas pela China, como as câmeras de
reconhecimento facial e os sistemas de reconhecimento de placa de
veículos instalados em mais de 700 cidades em 100 países. 599 Até
mesmo os edifícios construídos por empresas chinesas estão sendo
equipados com tecnologia de vigilância sem que os respectivos donos
saibam, como ocorreu com o edifício da União Africana, na Etiópia. 600

A China mantém sua soberania nacional, protege as fronteiras do


país e a segurança interna por meio de um sistema de vigilância e
supervisão da população chinesa com uso de . As cidades
inteligentes são um elemento central para a extração de dados por
sensores, câmeras e outros métodos eletrônicos, acompanhando cada
movimento de seus cidadãos. Segundo os números de ns de 2022, o
país contava com 540 milhões de câmeras de vigilância que analisavam
cada cidadão, os locais onde comiam e faziam compras, seus
movimentos, os horários em que saíam de casa e para lá voltavam etc.
601
O governo chegou inclusive a instalar câmeras em alguns lares para
vigiar cidadãos especí cos, bem como em banheiros públicos para
garantir que os trabalhadores não gastassem mais tempo do que o
necessário. 602 As crianças também são monitoradas nas escolas pelo
“sistema inteligente de gestão do comportamento na aula”. Isso
consiste num entremeado de câmeras que escaneiam o entorno a cada
30 segundos, a m de controlar a frequência e gravar as expressões
faciais dos estudantes, que são analisadas por  para determinar se
“eles parecem felizes, chateados, zangados, temerosos ou enojados”. 603
A vigilância é tanta que o sistema consegue detectar quando um
estudante tenta escapar do olhar da câmera, o que faz disparar um
alarme. Além disso, os próprios uniformes escolares são “inteligentes”,
uma vez que escondem microchips nos ombros para monitoramento
constante. 604
Um esforço combinado dos setores público e privado está sendo
levado a cabo para a coleta massiva de dados numa estrutura que não
negligencia nenhum canto da realidade. A cidade de Xangai, por
exemplo, tem um total de 10.631.102 câmeras, o que signi ca haver
uma para cada 2,8 habitantes. 605 A tecnologia de reconhecimento
facial gera bases de dados massivas, e os sistemas de  têm uma
precisão alarmante: conseguem detectar de quem é um rosto, estando
os olhos abertos ou fechados, use ou não uma máscara, o que permite
ao governo um monitoramento so sticado de cada pessoa que
simplesmente ponha o pé na cidade. 606 E quanto mais dados são
coletados e mais os novos sistemas se desenvolvem para processá-los,
mais próximo estará o Partido Comunista de seu sonho de uma
sociedade fruto da engenharia social. Segundo relatam Josh Chin e
Liza Lin em sua investigação sobre o controle social exercido na China
por um Estado de vigilância (2022), o Partido Comunista tem o poder
de rastrear cada um dos movimentos de seus cidadãos com sistemas
de  (que reconhecem não somente a face, mas também a cadência
particular do caminhar do indivíduo), com microfones (que
reconhecem a voz de cada pessoa) e com sistemas de  dentro do
celular (que transmitem a localização exata). Nessa sociedade
verdadeiramente distópica, os funcionários do governo terão as
ferramentas necessárias para esquadrinhar o histórico de conversas
privadas, os hábitos de leitura, as coisas que veem ou compram pela
internet ou os locais para onde viajaram. Com base em toda essa
informação, os sistemas de  “julgarão” a probabilidade de a pessoa
ser um obstáculo para a ordem pública, aquele que deve ser reeducado
ou aquele que deve ser publicamente envergonhado por caminhar
lentamente demais ao cruzar a rua (algo que já ocorre). 607 Por meio da
mineração de dados, o governo chinês poderá prever as necessidades
de seus cidadãos, poderá ocupar-se de um problema social antes de
sua ocorrência e poderá, inclusive, silenciar uma manifestação quando
ela ainda estiver sendo gestada em chats privados.

O caso do povo uigur é um dos exemplos atuais de reengenharia


social mais terríveis. Localizados na região de Xinjiang, no noroeste da
China, seu território cou sob controle da China comunista em 1949.
Por ser uma etnia muçulmana, seus membros estão sofrendo uma
brutal perseguição da parte do governo comunista, especialmente
depois que o governo os considerou aliados da Al-Qaeda, após os
atentados contra as Torres Gêmeas em 2001. 608 A realidade é que o
território uigur se transformou num campo de experimentação
tecnológica de vigilância e controle, unindo as técnicas totalitárias do
passado e as tecnologias futuristas. O intuito não é tanto erradicar
uma minoria étnica e religiosa, mas submetê-la a um processo de
reengenharia social, o que inclui a disseminação de câmeras,
microfones, sensores e drones, que alimentam constantemente a base
de dados e a análise com , a coleta de dados biométricos (tirada de
sangue e ), o escaneamento facial e o reconhecimento de voz em
centros policiais, as detenções e os desaparecimentos massivos, bem
como o envio a campos de reeducação. Os residentes não podem se
mover com liberdade pela cidade sem que seus cartões de identi cação
e seus rostos sejam constantemente escaneados. Em alguns casos, um
determinado rosto ativa alarmes, ação em razão da qual, em questão
de segundos, as forças policiais já estão sobre a pessoa, que é levada à
delegacia de polícia e, daí, para algum centro de detenção. 609 Além
disso, quando uma pessoa da lista de suspeitos passa por um ponto de
controle, a plataforma de reconhecimento facial envia um alerta à
delegacia mais próxima com uma cor determinada. O alerta amarelo é
para o caso de ser familiar de alguém que foi detido, indicando que a
polícia deve deter a pessoa para interrogá-la. O alerta vermelho é para
o caso de a pessoa ter participado de perturbações da ordem no
passado, indicando que o cidadão deve ser detido imediatamente sob
custódia da polícia e enviado aos campos de reeducação. 610

Mas o controle e a vigilância realizados pela inteligência arti cial não


se limitam à minoria uigur. O sistema alcança todo habitante com
acesso à internet. Sob pressão do governo, as empresas chinesas de
tecnologia construíram sistemas híbridos de ltragem de dados, ou
seja, a combinação de sistemas humanos e sistemas automatizados.
Para essa tarefa, foram projetados algoritmos que são alimentados
constantemente com montanhas de dados e que escaneiam milhões de
mensagens de texto (motivo principal para que o único aplicativo de
chat permitido seja o WeChat), de comentários nas redes, imagens,
arquivos em  e vídeos. Se algum conteúdo for contra as normas do
Partido, o sistema o detecta imediatamente. 611

O nível de manipulação por algoritmos e  foi posto em evidência


após contribuições de acadêmicos nos campos de educação ideológica
e política, pois estavam preocupados em como conseguir que as
gerações mais jovens abraçassem os ideais socialistas e as ideias
políticas dos líderes comunistas chineses. Esse dado é fundamental
para entender o modo pelo qual as redes sociais podem ser utilizadas
como instrumentos de manipulação e controle no mundo todo. Desde
2017, a Universidade Tsinghua vem recrutando especialistas em
diferentes campos a m de que se unam a seu laboratório de  com o
objetivo de otimizar cada aspecto da sociedade com base em modelos
matemáticos. Josh Chin e Liza Lin realizaram entrevistas com alguns
desses acadêmicos, que revelaram que um dos projetos consistia na
coleta massiva de dados das redes sociais, o que permitiria às escolas
criar um per l preciso sobre as inclinações políticas de cada estudante,
suas áreas de confusão, seus interesses etc. Essas informações seriam
utilizadas para elaborar mensagens e vídeos personalizados, a m de
deixar que o algoritmo tentasse persuadi-los da superioridade do
socialismo. 612 Isso certamente explica por que, quando um jovem
baixa o TikTok, ele se encontra com algo que foi observado por um
rapaz do México que propaga ideias socialistas: “O que eu gosto no
TikTok é que ele tem um algoritmo muito especí co, então, do nada,
eu tenho puro conteúdo anticapitalista em minha página”. 613
Coincidência?

O sistema de crédito social


A vigilância da população da China não é algo novo, nem é peculiar ao
Partido Comunista. Durante os períodos imperiais Ming e Qing, as
ações das pessoas eram registradas para determinar se elas avançariam
em seu status social ou se continuariam como estavam. Logo após a
fundação da República Popular da China, em 1949, foi estabelecido
um sistema pelo qual os cidadãos de Pequim se vigiavam uns aos
outros. 614 A partir da era Mao, os registros pessoais tornaram-se
comuns, na realização dos quais foi recolhida uma vasta gama de
informações pessoais, desde o histórico familiar e o estado de saúde
mental até ao progresso educacional e pro ssional. 615 Com a
tecnologia e o big data, as possibilidades de vigilância parecem ter
limite apenas na imaginação, levando à perfeição a ideia do panóptico,
que, embora não veja tudo, dá a sensação de que estamos sendo
vigiados a cada momento. 616

O sistema de vigilância sendo desenvolvido pelo governo chinês


culmina num sistema integral de crédito social, que integra extração e
mineração de dados do âmbito privado e controle autoritário do
Estado. Esse projeto encarna um verdadeiro totalitarismo digital
distópico, embora também dependa, em grande medida, da
propaganda estatal, porque, apesar de já existir toda uma
infraestrutura tecnológica que o possibilita, grande parte desse
programa consiste na propaganda exercida pelo Partido Comunista.
Isso nos faz lembrar do conceito de panóptico: basta que o povo sinta
medo de ser constantemente vigiado. O objetivo de tal sistema é
aproveitar a enorme quantidade de dados pessoais disponíveis graças
aos celulares, aos aplicativos e à internet das coisas para, dessa
maneira, melhorar o comportamento dos cidadãos. 617 Assim, o
sistema tem como objetivo monitorar a con abilidade das empresas, o
comportamento do usuário como consumidor, a sua conduta nas
redes sociais, as multas por excesso de velocidade, as brigas com seus
vizinhos ou a escolha de ter mais lhos do que lhe é permitido. 618 O
objetivo é sempre o mesmo: regulamentar a sociedade até os mínimos
detalhes. Se isso é possível de fazer, é outra conversa. O importante
aqui é dar a impressão a seus habitantes e persuadi-los de que estão
sendo vigiados a cada momento.
Por ora, contudo, há diferentes versões do sistema de crédito, de
iniciativa tanto privada quanto pública, que, segundo os especialistas
no tema, são ensaios iniciais para, algum dia, quando a infraestrutura
estiver pronta, integrar e centralizar os dados nacionais. 619 Em 2014,
iniciou-se um programa-piloto para avaliar os cidadãos chineses com
base em seu histórico de viagens, registros escolares, cargos
governamentais e também dados extraídos de aplicativos de encontros.
620
A Alibaba projetou o Sesame Credit, um sistema dependente de
milhares de variáveis que coleta dados sobre uma ampla gama de
comportamentos nanceiros e sociais com base no que lhe é
proporcionado pelo big data. 621 Para fazer com que se cumprissem as
restrições por -19, a Alipay e o WeChat desenvolveram um
aplicativo que vigia a saúde dos cidadãos. 622 Parte desse projeto é a
iniciativa da cidade inteligente, à semelhança do que o Google quis
fazer em Toronto, mas com a diferença de que o governo chinês não
tem nenhum tipo de restrição legal ou moral para montar um aparato
de vigilância. Tanto a Alibaba quanto a Huawei desenvolveram cidades
inteligentes, que combinam dados extraídos do sistema de vigilância
da cidades, assim como das antenas, das plataformas e das redes
sociais que essas empresas operam. 623

Parte desse entremeado é o sistema de crédito social dirigido por um


algoritmo, que compila todos os dados coletados e determina uma
pontuação de “sinceridade” da pessoa, ou seja, um índice numérico de
con abilidade e virtude — essa pontuação tem o poder de bloquear ou
de desbloquear absolutamente tudo. Esse número determina as
oportunidades oferecidas aos cidadãos, as liberdades de que disfrutam
e os privilégios que lhes serão outorgados, desde poder comprar uma
passagem de trem até receber uma autorização para abrir um negócio
ou para enviar os lhos à universidade. 624

Um elemento social a ser considerado é que o Partido Comunista não


conta com uma tradição religiosa para promover certos costumes
positivos e combater os costumes de impacto social negativo. Ou seja,
o governo não conta com uma moral constituinte do fundamento da
con ança entre seus cidadãos. Por isso, o Sistema de Crédito Social
deve ser entendido como uma tentativa do Partido de controlar a
conduta das pessoas de uma maneira e ciente, mediante recompensas
e punições, com base em dados (fatos) e com a exigência da reparação
(compunção) como condição para a sustação de uma pena. O objetivo
é uma reforma cultural que permita que as pessoas con áveis se
movam livremente enquanto aos descreditados se imponham sérias
limitações. 625

A mineração de dados e a democracia


Quando o espaço público é digitalizado, o algoritmo e a inteligência
arti cial adquirem uma função primordial no molde da opinião
pública. O caso do Facebook é paradigmático, especialmente em
relação a eleições passadas: várias de suas funções e algumas
mudanças no algoritmo foram fundamentais para alterar a balança
eleitoral. 626 Engenheiros e cientistas de dados da empresa têm se
dedicado com a nco para experimentar e pesquisar o efeito dos
algoritmos na conduta política das pessoas. Nos Estados Unidos,
durante as eleições de meio mandato de 2010 e nas eleições
presidenciais de 2012, por exemplo, o Facebook realizou experimentos
para aperfeiçoar uma ferramenta que foi chamada de “o megafone do
eleitor”. 627 A ideia por trás dessa funcionalidade era difundir a
mensagem de que haviam votado, algo muito semelhante ao ocorrido
em outras campanhas posteriores, tais como a do “Eu me vacinei
contra -19” e a do “Vamos nos vacinar” na foto de per l durante
o ano de 2021. 628 Embora parecesse uma função que apenas
incentivava o compromisso cívico de votar, no caso da política,
percebia-se um problema, pois, na realidade, o que o Facebook fazia
não era simplesmente encorajar o público a cumprir esse dever cívico,
mas, sim, pressionar aqueles que não votaram a irem votar. No
entanto, isso se destinava não a qualquer pessoa, mas àqueles que
tinham maior probabilidade de votar num candidato especí co. 629
De fato, os estudos realizados mostraram que não ativar o adesivo do
“eu votei” no per l acabava funcionando como uma espécie de juízo
público perante os amigos e conhecidos no Facebook. 630 Mais ainda,
quando vemos que foram “pressionadas” 61 milhões de pessoas, isso
adquire características até então impensadas. 631 Todas essas pessoas
viram no feed (o mural) do Facebook no dia da eleição uma
mensagem que os incentivava a ir votar, com um link para o lugar de
votação mais próximo, o botão “já votei” e o número de amigos que já
haviam votado. Segundo esse estudo, calcula-se que cerca de 282 mil
pessoas foram votar nesse dia motivadas pelos anúncios, um número
mais do que su ciente para reverter uma eleição acirrada. 632

Esses casos são importantíssimos para entender como os cientistas de


dados do Facebook estavam analisando ao vivo, em tempo real, com
base nos dados de milhões de pessoas, como as diferentes atualizações
da rede in uenciavam no comportamento eleitoral. Nunca na história
se havia trabalhado num laboratório humano dessa escala. Em 12
horas, o Facebook pôde coletar informação de milhões de pessoas,
além de medir o impacto que suas funções e links tiveram entre si.
Conforme percebe O’Neil, assim como se empregam algoritmos para
in uir no voto de uma pessoa, obviamente seria possível usar esse
conhecimento para in uenciar em muitas outras ações e
comportamentos do povo. 633

A convergência do big data com as campanhas de marketing oferece


aos políticos ferramentas muito mais poderosas e minuciosamente
direcionadas, as quais nunca antes estiveram à sua disposição. Dessa
maneira, os anúncios já não são dirigidos ao público geral, mas a
subgrupos identi cados em busca de seu voto ou apoio nanceiro para
a campanha, apelando a cada um com uma mensagem
meticulosamente preparada e cujo discurso enderece seus anseios,
problemas, situação econômica, esperanças... Essas mensagens, que
são muito variadas e personalizadas, aparecem a cada um em cada site
visitado, nos anúncios do YouTube ou no feed do Facebook ou do
Instagram. O anúncio pode até mesmo vir do esportista, cantor ou
ator preferido bem na hora do dia em que você estiver mais
predisposto a tomar uma decisão política. Talvez esse anúncio venha
logo depois de você ter sido manipulado psicológica e
emocionalmente por uma série de postagens que já leu nas redes
sociais, a m de que você esteja o mais condicionado possível a se
decidir por um determinado candidato.

Qualquer meio massivo de comunicação que trata do tema de


mineração de dados, inteligência arti cial e propaganda política o
reduzirá sistematicamente à campanha presidencial de Donald Trump
que o levou à vitória em 2016. Na ocasião, foi a empresa inglesa
Cambridge Analytica que fez uso do big data e da inteligência arti cial
para se dirigir a candidatos indecisos em estados-chave. Contudo, foi
Obama o precursor dessas tecnologias, além de a própria Hillary
Clinton ter continuado a tática com a assistência de uma empresa
nanciada pelo  do Google.

Quando Barack Obama anunciou, em fevereiro de 2007, sua


campanha eleitoral para conseguir a nomeação do Partido Democrata,
o Google já estava em posição de oferecer uma vantagem competitiva
a qualquer um que quisesse usar seus meios de vigilância. Os métodos
de análise preditiva tão desejados pelo marketing também poderiam
ajudar Obama a ganhar as eleições de 2008. O  do Google, Erik
Schmidt, não apenas doou um milhão de dólares à campanha como
também teve um lugar fundamental na implementação da tecnologia
de vanguarda para prever a conduta dos eleitores e, como podemos
inferir, in uenciar conseguintemente os indecisos. 634 O escândalo por
causa da Cambridge Analytica, portanto, praticamente soa como
hipocrisia quando se leva em conta que a equipe de Obama coletou
dados pessoais de mais de 250 milhões de americanos, incluindo os de
comportamento, todos os quais eram recolhidos quando alguém abria
o site da campanha e as redes sociais, principalmente o Facebook, 635
até o ponto de que, segundo confessou um consultor político da
campanha, eles sabiam “em quem as pessoas votariam antes mesmo
que elas se decidissem”. 636 Na verdade, levando em conta a capacidade
de análise não somente preditiva mas também diretiva, nós bem
poderíamos dizer que o jogo era fazer com que os eleitores indecisos
se decidissem por Obama.

É mais do que indicativo que, uma vez assegurada a presidência,


Obama nomeou Schmidt como membro de seu gabinete econômico
de transição, 637 além de, quando já estava na Casa Branca, ter-lhe
concedido um acesso pouco comum aos principais responsáveis pelas
políticas públicas do governo. 638 Quatro anos depois, Schmidt se
lançou novamente à tarefa de ganhar a reeleição de Obama,
envolvendo-se na orquestração de toda uma operação para atingir
eleitores, recrutando talento digital, escolhendo quais tecnologias de
ponta deveriam ser empregadas e treinando o diretor de campanha,
Jim Messina, quanto à infraestrutura da campanha (você se lembra de
que, no capítulo anterior, nós mencionamos que a Casa Branca retirou
o processo contra o Google por espionagem? Agora ca claro por
quê...). 639 Mais ainda, o primeiro ato de Messina como chefe da
campanha foi pegar um voo para a Califórnia a m de receber
informação da parte dos s e dos executivos da Apple, do Facebook,
do Google, da Microso e da Salesforce, com o intuito de pôr as
tecnologias que haviam desenvolvido a serviço da campanha. 640

A realidade é que a campanha de reeleição de Obama, em 2012,


começou um dia após ele ter chegado à Casa Branca em 2008, criando
uma espécie de startup tecnopolítica conectada a tudo o que o Google
e o Facebook tinham para oferecer. 641 Um ano antes das eleições de
2012 entre Obama e Romney, Ravid Ghani, um cientista de dados
paquistanês e membro da campanha democrata, fez o seguinte
anúncio em sua conta de LinkedIn:

Contratação de especialistas em analítica que queiram fazer a


diferença. A campanha da reeleição de Obama está aumentando a
equipe de análise para trabalhar em problemas de mineração de
dados de grande impacto em larga escala. Temos várias posições
disponíveis em todos os níveis de experiência. Estamos buscando
especialistas em estatística, aprendizado automático, mineração de
dados, análise de texto e análise preditiva para poder trabalhar com
grandes quantidades de dados e ajudar a guiar a estratégia eleitoral. 642

Preparando-se para a reeleição, a equipe de Obama tinha a con ança


de conhecer com precisão, graças ao big data e à assistência de
Schmidt, os nomes das 69.456.897 pessoas que haviam votado nele nas
eleições de 2007. 643 Embora o voto tenho sido secreto, quando se
uniam todos os pontos oferecidos pelos dados — de comentário no
Facebook até o comportamento no dia das eleições — se podia
estabelecer um claro mapa eleitoral. A partir daí, foi elaborada toda
uma estratégia em nível atômico, ou seja, quase pessoal, para atrair
novamente cada eleitor (levando em conta que as eleições de meio de
mandato de 2010 haviam sido um fracasso para o presidente
democrata). Dessa maneira, eles poderiam direcionar a mensagem que
teria a maior probabilidade de conduzi-los a objetivos especí cos, tais
como votar em Obama, organizar-se na comunidade ou arrecadar
fundos para a campanha.

Com a ajuda do big data, os membros da equipe de Obama


conheciam, então, os medos e as ansiedades das pessoas, suas
preocupações e esperanças, de tal modo que conseguiam entrever o
que poderia levá-las a votar em Obama caso ele enviasse uma
mensagem adequada a cada uma delas. Ou seja, o que poderia
in uenciar — ou até mesmo mudar — a conduta de um eleitor: se um
eleitor potencial se importava principalmente com o estado atual da
educação, com os direitos , com a seguridade social
(aposentadoria) ou com as questões ambientais. Também conseguiam
identi car quem apoiaria o presidente incondicionalmente e quem
estava em dúvida, ou aqueles que até gostavam do presidente, mas não
costumavam ir votar no dia das eleições. Dessa maneira, elaboraram
um per l matemático de cada eleitor, agrupando, a seguir, todos
aqueles que se assemelhavam, a m de que vissem os mesmos
anúncios no Facebook ou nos sites que visitassem (através do Google
Ads). No entanto, além disso, a campanha fazia uso da inteligência
arti cial e de algoritmos dinâmicos para que o modelo fosse ajustado a
cada novo dado coletado. Ou seja, eles estavam realizando um
experimento ao vivo e em tempo real com milhões de pessoas,
especialmente com os 15 milhões que, nessa eleição, poderiam se
inclinar para um ou para outro candidato. 644

As campanhas com e-mail também foram fruto de experimentação,


com até 18 versões do mesmo conteúdo sendo enviadas a 18 grupos
dife rentes, sendo determinante o êxito da resposta na primeira hora
após o envio para que a equipe decidisse qual variante da mensagem
tinha sido a mais efetiva. 645 Inclusive, eles deram a si mesmos o luxo
de não gastar dinheiro com eleitores que eles sabiam ser apoiadores
incondicionais, contexto em razão do qual estes não precisavam ser
persuadidos. O resultado foi inesperado, tendo uma margem de 5
milhões de votos de diferença, que foi atribuída ao trabalho da equipe
de análise de dados da campanha. 646 A campanha de Obama obteve
êxito por conhecer cada uma das pessoas que precisavam ser
persuadidas, incluindo nome e sobrenome, endereço, condição
nanceira, preocupação e interesses sociais e também os interesses
mais triviais. 647 Após as eleições presidenciais de 2012, o ProPublica,
um meio de notícias independente que investiga abusos de poder
político, projetou um algoritmo para decifrar, por engenharia reversa,
o modelo político especí co da campanha de Obama. A investigação
con rmou que, como tática de campanha, os diferentes grupos
demográ cos viam diferentes anúncios de campanha provenientes de
diferentes celebridades do mundo do entretenimento e da música, de
tal maneira que a uma audiência especí ca era direcionado um cantor
ou ator com o qual ela se sentia identi cada. 648 Ou seja, a campanha
sabia até que tipo de música você escutava ou a que séries de Net ix
você havia assistido.

A campanha de Hillary Clinton não abandonou a metodologia


empregada por Obama, antes, ela construiu e elaborou toda uma
campanha com base nos alicerces herdados do presidente democrata,
apesar das acusações da candidata contra a campanha de Trump e do
uso que ele, o bilionário, fez das redes sociais. De fato, a equipe de
Hillary contratou a Groundwork, uma empresa de microtargeting
(publicidade direcionada) nanciada pelo presidente do Google, Eric
Schmidt, e liderada por Michael Slaby, que havia sido o diretor de
tecnologia da campanha de Obama em 2012. O objetivo, segundo um
informe da Quartz, era construir um sistema de dados que criaria uma
versão política dos sistemas desenvolvidos por outras empresas para
gerir seus milhões de clientes. 649 Uma vez mais, cou demonstrada a
aliança entre as gigantes de tecnologia e o Partido Democrata, já que,
segundo o próprio Schmidt, a empresa oferecia o talento necessário
para que Clinton chegasse à Casa Branca.

As campanhas de Trump e Clinton gastaram um total combinado de


81 milhões de dólares em anúncios no Facebook, segundo o
testemunho de Colin Stretch, conselheiro geral do Facebook, durante
uma audiência no Congresso. 650 No entanto, foi Trump quem
aproveitou muito melhor as plataformas digitais. Segundo Andrew
Bosworth, um dos executivos do Facebook, “Trump não foi eleito por
‘desinformação’, mas porque ele fez a melhor campanha publicitária
digital que eu já vi de qualquer anunciante. Ponto nal”. 651 Isso se
deveu, em grande parte, a Trump ter consigo uma empresa
revolucionária no manejo de dados.

Em ns de 2015, o jornal inglês e Guardian revelou que uma


empresa de dados que se dedicava à política, a Cambridge Analytica,
havia contratado acadêmicos do Reino Unido para compilar per s de
eleitores americanos no Facebook com detalhes demográ cos e
registros de todos os likes na vida digital de 40 milhões de usuários. 652
Partindo dessa informação, os cientistas desenvolveram análises
psicográ cas de mais de 40 milhões de eleitores, ou seja, estudaram
suas características psicológicas, suas atitudes, seus interesses, suas
personalidades, seus valores, suas opiniões e seu estilo de vida, para
então classi cá-los de acordo com a escala dos cinco grandes traços de
personalidade: abertura, conscienciosidade, extroversão, afabilidade e
neuroticismo. Esse foi um conceito que Aleksandr Kogan, professor de
Psicologia na Universidade de Cambridge, havia introduzido na
empresa: eles poderiam usar as redes sociais para modelar e identi car
os traços de personalidade dos usuários. Ou seja, com todos os dados
que se podiam extrair das redes sociais, a Cambridge Analytica podia
se dirigir de uma maneira muito mais precisa a cada eleitor potencial.
Kogan tinha experiência no assunto porque, em 2013, havia
colaborado com um projeto com dados fornecidos pelo Facebook
sobre 57 bilhões de conexões (amizades) dentro da rede. A partir daí,
Kogan pagou cerca de 270 mil pessoas para que realizassem um teste
de personalidade, mas sem que elas soubessem que a aplicação
permitia que ele obtivesse dados sobre o participante e sobre seus
amigos de Facebook. Foi assim que o psicólogo obteve o per l
psicológico de praticamente 87 milhões de usuários, informação que
foi logo vendida à Cambridge Analytica para campanhas de marketing
político. 653

O curioso é que essa empresa não agiu em primeiro lugar na


campanha de Trump, mas na campanha de um contendente pela
nomeação ao posto republicano: o senador Ted Cruz, que fez uso dela
para ganhar as primárias, porém, quando viu que não tinha chances de
vencer, cedeu o sistema à campanha do bilionário. Basta um exemplo
para perceber não apenas tudo o que a Cambridge Analytica sabia,
mas também até onde a empresa foi capaz de penetrar no celular de
uma pessoa. Durante a campanha de Ted Cruz, em 2015, foi realizado
um evento da Coalizão Judaica Republicana no hotel Venetian, em Las
Vegas. Os que participaram da reunião foram reconhecidos pelo
sistema da Cambridge Analytica, de tal modo que somente a eles, e
apenas enquanto estavam no hotel, foi mostrado uma série de
anúncios na internet e nas redes sociais que enfatizavam a devoção de
Ted Cruz por Israel, além de seu grande interesse pela segurança do
país. 654

Apesar do escândalo que Hillary Clinton armou, o modelo era o


mesmo que o inaugurado por Obama: uma campanha guiada por
dados. No entanto, em julho de 2019, o Facebook recebeu uma multa
de 5 bilhões de dólares por causa de uma investigação da Comissão
Federal de Comércio (), com base na qual a rede social foi culpada
por haver violado um acordo de 2012, onde lhe era exigido noti car
claramente os usuários e obter o consentimento expresso deles para
compartilhar dados. 655 Esses exemplos bastam para notar como, a
partir da campanha de Obama em 2007, o maquinário de vigilância,
extração e mineração de dados se trasladou do segmento de marketing
ao terreno político, até o ponto de que, hoje, quem não zer campanha
política no espaço público digital não tem chance política nenhuma de
vencer, já que a internet acabou transformando até mesmo a forma de
fazer política. 656 Graças à  e à mineração de dados, hoje é possível
analisar as preferências dos cidadãos numa espécie de demagogia e
populismo digitais, que deixam de lado todo tipo de discussão política
e processo racional de deliberação.

As redes sociais e a polarização do


espectro político
Entre os anos 2009 e 2012, foram levadas a cabo certas mudanças na
estrutura e nos algoritmos das redes sociais, especialmente o  do
Twitter e o botão de like do Facebook, que não apenas mudaram a
possibilidade de viralização das publicações, mas que, mais importante
ainda, recon guraram de certa maneira a natureza das relações sociais.
657
Com essas mudanças, agora é muito mais fácil espalhar uma
mentira ou uma verdade, ou atacar alguém, assim como é muito mais
fácil nos agruparmos sem querer em pequenas tribos ideológicas num
espaço público digital controlado por algoritmos e onde as vozes que
ressoavam eram ecos do que a multidão pensava e queria escutar.

Como mencionamos anteriormente, por mais público que o espaço


digital pareça, tudo o que vemos está controlado e determinado por
algoritmos que motivam a pessoa a se expor à validação social por
medo de um juízo público num circuito fechado de retroalimentação.
Assim, a aldeia global, o fenômeno do mundo cada vez mais
interconectado como resultado da propagação de novas tecnologias,
na verdade, nos levou a algo como “ilhas digitais de isolamento, que
estão à deriva e se distanciam mais umas das outras a cada dia”, 658 algo
que foi palpável nas eleições presidenciais de 2016, quando tanto os
meios de comunicação quanto a plataforma democrata estavam mais
do que certos do triunfo de Hillary Clinton. Essa percepção errada,
que ocasionou um choque mental ao vivo em mais de um jornalista
durante o anúncio dos resultados, deveu-se, em grande parte, à
vivência num mundo digital onde raramente ou nunca lhes era
mostrada uma representação realista da intenção de voto. Isso foi fruto
da personalização extrema da mineração de dados, que se re etia em
cada busca no Google, em cada compra na Amazon ou no que víamos
nas redes sociais. Consequentemente, a natureza da comunicação
política foi completamente transformada por essa combinação de
redes sociais com análise de big data, que, no lugar de ajudar o cidadão
comum a ingressar no debate público e no escrutínio da plataforma de
cada candidato, transformou-o em mero objeto de mensagens
extremamente personalizadas individualmente direcionadas, fazendo
do espaço supostamente público um espaço fechado e
supermanipulado. 659 Alguém poderá objetar a conclusão desse estudo
ao observar que, sim, nós encontramos opiniões diferentes das nossas
nas redes sociais, principalmente no Twitter. Contudo, como nota o
sociólogo Zeynep Tufekci, quando alguém se encontra com posições
contrárias, isso não ocorre no contexto de uma pesquisa onde estas são
apresentadas lado a lado, dando-nos a oportunidade de re etir, mas,
sim, numa experiência que mais se assemelha à de estar num estádio,
diante de duas equipes adversárias, onde se tem que apoiar uma e
gritar contra a outra. 660 Ser exposto a uma equipe adversária não faz
com que o indivíduo deixe seu fanatismo; em vez disso, pode reforçar
ainda mais o amor que ele tem por sua própria equipe. O mesmo
ocorre no contexto das redes sociais, quando as ideologias e as crenças
pessoais são expostas a outros pontos de vista. Contudo, a realidade
parece ser a de que as redes sociais, de fato, limitam a exposição a
outras perspectivas, especialmente o Facebook, favorecendo a
formação de grupos cujos integrantes pensam todos de modo igual. 661
A polarização ou cisão no espectro político é complexa e certamente
se deve a muitos fatores que variam de país a país. Entre os fatores que
podemos observar nos Estados Unidos, por exemplo, destacam-se a
acentuada divisão ideológica entre os partidos predominantes e entre
as zonas urbanas e rurais, 662 o problema da imigração ilegal
descontrolada, o poder das grandes corporações pelo lobby político e
pelas enormes doações a campanhas eleitorais, os meios de
comunicação extremamente partidários etc. 663 No entanto, a partir de
2010, coincidindo com a explosão das redes sociais, emerge uma nova
dinâmica social marcada por grupos que elevam o identitário à
plataforma política, mas agora o novo campo de batalha público é
principalmente a internet e as redes sociais. Nesta nova situação, a
cisão ocorre em questões que não são propriamente políticas, mas que
se tornaram políticas com o processo de desconstrução cultural: raça,
identidade de gênero, peso (ativismo gordo), indigenismo, refugiados,
meio ambiente e mudança climática, neurodiversidade, incapacidade
etc. Todas elas são frentes da chamada “justiça social”, cujo centro de
atenção política é a identidade. 664 É aí onde ca manifesto que as redes
sociais, a arma preferida do ativismo ideológico, conseguem
recon gurar, de certa maneira, a natureza das relações sociais. E não
porque esses movimentos de ativismo social digital encontrem uma
voz nessas plataformas, o que não tem nada de particular, mas porque
é a partir delas que eles podem semear o terror como força política. Tal
terror se faz presente no medo generalizado de dizer algo
politicamente incorreto, sob pena de ser publicamente condenado nas
redes por esses novos atores da política, que impõem uma nova moral
e cosmovisão, cujas consequências transcendem o digital.

Não é coincidência, portanto, que a cultura do cancelamento tenha


surgido em conjunto com as redes sociais, porque é nas redes que o
juízo público encontra uma punição expressa. Assim, o medo de
ofender ou de agredir outros simbolicamente se materializa primeiro,
logicamente, nas universidades, o berço das ideologias pós-modernas,
tanto com a criação de espaços seguros (safe spaces) quanto com essa
espécie de polícia do pensamento que são os departamentos de
diversidade, igual dade e inclusão, cuja função principal é aterrorizar
os que ainda não têm uma posição acadêmica garantida e silenciar
qualquer tipo de dissidência intelectual. 665 Partindo das universidades,
a epidemia ideológica se espalha rapidamente, graças às redes sociais,
à política, aos meios de comunicação, 666 ao mundo corporativo, 667 ao
esporte, 668 às igrejas e a qualquer outra instituição social, mas também
graças aos produtos do mercado, vítimas inesperadas da cultura do
cancelamento. 669

A loucura é tanta que não há regras. As que existem são mudadas


constantemente, de tal modo que o que alguém disser hoje pode ser
alvo de condenação amanhã. Ou, graças ao componente irracional do
politicamente correto, a mesma ideia pode ser expressa de maneira
idêntica por duas pessoas, mas ser recebida de maneira
completamente diferente dependendo da raça, do sexo ou da
identidade de gênero de quem a expressa. 670 O fanatismo é tanto que
não respeita alianças. Isso ocorre em tal medida que, como a rma o
psicólogo Jonathan Haidt, até mesmo os que se consideram de
esquerda não estão tão preocupados com os do “outro lado”, os
conservadores, pois têm pavor principalmente desse pequeno grupo
de agitadores de extrema esquerda que está à caça de qualquer tipo de
transgressão, usando as redes sociais para condenar publicamente
quem quer que ouse pecar contra a nova moral. 671 Quem vira objeto
do cancelamento perde tudo, tanto no âmbito público quanto no
privado, o que quer dizer perda do empregado, fechamento do próprio
comércio, expulsão da universidade onde ensina ou estuda, suspensão
no esporte que pratica etc.

O ponto que buscamos destacar é que, embora a polarização política


e os ataques remontem a décadas, é a partir da introdução das redes
sociais, particularmente no ano de 2010, que começa a tomar forma
um novo ativismo digital em nome da “justiça social”, que põe em
crise a maneira tradicional de fazer política e em razão do qual todos
podem ser vítimas de ataques ideológicos em rede social, de uma
empresa a um cidadão comum e normal, através de publicações que
viralizam rapidamente e chegam a cada rincão do planeta, destruindo
no caminho a vida de uma pessoa ou a existência de uma empresa.
Antes de 2009, isso jamais ocorria, o que ajuda a entender o alcance
que pode ter a mudança de um simples botão no Twitter (). Esse
medo de ser exposto em público, denunciado, demitido do trabalho ou
atacado sicamente é a principal causa da autocensura e do
silenciamento daqueles que se dão conta de que há um sério problema,
mas sobre o qual têm medo de falar.

Conclusão
O fundamento das relações humanas é a con ança, essa fé na palavra
de que o prometido será cumprido. Na história, essa con ança se
materializou no juramento, um ato originalmente político, jurídico e
religioso, ao mesmo tempo em que, segundo Paolo Prodi, é
fundacional no sistema político do Ocidente, pois, como sacramento
de poder, é a forma mais sagrada da linguagem, uma vez que se
promete que o que foi dito se tornará realidade. 672 A tecnologia,
contudo, está modi cando o fundamento político do Ocidente pelo
fato de que, segundo Zuboff, os processos da  estão substituindo as
relações humanas, de modo que a certeza oferecida pelos dados toma
o lugar da con ança entre as pessoas. 673 Não somente isso, mas, ao
exacerbar a solidão e ao gerar uma situação de descon ança, a 
prepara as condições para uma nova forma de totalitarismo. A nova
certeza prometida pelos dados e pela  para a engenharia social é um
engano, pois a suposta certeza que nos libertaria do arbítrio subjetivo
não terminaria em outra coisa senão no que Byung-Chul Han chama
de totalitarismo digital, 674 ou no que Bloom chama de poder virtual,
675
uma forma de poder que Zuboff prefere enquadrar como
instrumentarismo, ou seja, como a instrumentalização do
comportamento humano com o objetivo de modi cá-lo, prevê-lo,
monetizá-lo e de controlar o indivíduo (traduções nossas). 676 No
entanto, também estamos diante de uma tirania dos algoritmos, como
Lukacs de ne, pois a tirania é o oposto da liberdade política e o
emprego da  como técnica de reengenharia social é um perigo para o
desenvolvimento humano livre. 677

Sem dúvida, estamos diante de uma nova forma de totalitarismo,


porque essa forma de governo e controle tecnocrático dissolve tanto o
público quanto o privado, intervém em cada aspecto de nossas vidas,
vigia e controla num nível e escala jamais visto em nenhum regime
totalitário do passado e ameaça destruir todo vestígio de liberdade
humana através dos algoritmos. Se, como dizia Arendt, “o
totalitarismo descobriu um meio de subjugar e aterrorizar os seres
humanos internamente”, 678 então, a extração e a mineração de dados
pela , pelos algoritmos e pelo aprendizado de máquina poderão levar
essa realidade política a uma situação inaudita. Tanto a análise
preditiva, apresentada por Zuboff, quanto a análise diretiva, que
apontamos nesta obra, acabam por tornar realidade a insistência
totalitária no domínio da alma humana, algo que parecia inimaginável
até o advento da internet.

Embora haja diferenças signi cativas relativas ao controle dos dados


na China e nos Estados Unidos, a motivação basilar e o resultado
obtido são semelhantes. Ambos os países justi cam essas políticas com
o argumento de segurança nacional e a luta contra o terrorismo, mas,
no fundo, há uma clara intenção principal de controlar a arrecadação
de impostos, no caso dos Estados Unidos, e, no caso da China, o de
resolver problemas nacionais e otimizar a sociedade mediante a
reengenharia social através da tecnologia. No que diz respeito ao Vale
do Silício, as gigantes de tecnologias são as que controlam todos os
dados e toda a infraestrutura que os armazena e os processa, dos quais,
consequentemente, uma grande quantidade permanece dentro da
empresa por causa da vantagem competitiva que eles representam.
Assim, as agências governamentais dos Estados Unidos e de qualquer
país disposto a pagar têm acesso a uma grande quantidade de
informação, já que muitos dos dados processados são parte de um
mercado multimilionário, estando disponíveis ao maior pagador. Na
China, as empresas de tecnologia a liadas ao próprio governo são as
que realizam as operações de extração e tráfego de dados, mas os
dados, os algoritmos e a  pertencem ao governo, a m de promover
desenvolvimento de tecnologia militar. Além disso, à diferença das
empresas americanas, na China, os dados estão de tal modo
centralizados que o governo tem acesso a absolutamente tudo. 679

Alex Pentland, em sua obra Social Physics (2015), propõe uma nova
forma de governo baseada numa ciência matemática e preditiva da
sociedade, ou seja, em leis baseadas na física social, como diz o título
da obra. 680 Isso seria uma teoria de comportamento computacional,
pois, partindo dos dados, seria possível elaborar toda uma teoria sobre
a estrutura social com base em suas causas, “uma explicação
matemática de por que a sociedade reage como reage e como essas
reações podem (ou não) resolver problemas humanos”. 681 Com essas
análises matemáticas (), nós poderíamos não apenas descobrir os
“mecanismos de interações sociais” como também seria possível,
combinando as análises com a grande quantidade de dados extraídos
sobre o nosso comportamento, revelar os padrões comportamentais
que estão na origem da estrutura social, possibilitando, assim,
“desenhar melhores sistemas sociais”. 682 Assim, a inteligência arti cial
acaba transformando a política em algo arti cial como fundamento de
governo, mas com o perigo real e objetivo de que se possa até mesmo
modi car o comportamento humano mediante políticas públicas
implementadas pela , já que os dados fornecerão informação
su ciente para prever quais mudanças nas diferentes variáveis serão
capazes de obter o resultado desejado.

Além disso, a coerção não fará falta na imposição da ordem social. As


redes sociais e a pressão por elas gerada no indivíduo serão su cientes
para que todos “cooperem”. Como a rma Pentland:

Nós nos concentraremos em mudar as conexões entre as pessoas em


vez de nos concentrarmos em conseguir que cada pessoa
individualmente mude seu comportamento [...]. Nós podemos
aproveitar essas trocas para gerar pressão social por mudança. 683
Hoje, isso é possível pelo uso dos algoritmos e da , já que por meio
das redes sociais é possível controlar, manipular e direcionar a pressão
social para um objetivo determinado, à semelhança do ocorrido no
experimento do Facebook com o famoso “eu votei”, “eu me vacinei”
etc. “Saber que nossos amigos da vida real já haviam votado gerou
su ciente pressão social para convencer as pessoas a irem votar”, diz-
nos Pentland. 684

Os problemas humanos não se resolvem somente com acesso a dados


ou com uma inteligência arti cial que analise abstratamente as
possíveis soluções, pois a política depende de inteligência e sabedoria
práticas. É verdade que a  pode reconhecer padrões, mas somente a
sabedoria e a prudência política poderão resolver problemas humanos.
A pretensão de governar por algoritmos acaba transformando a pessoa
em nada mais que uma abstração. 685

O problema da privacidade também é grave. Em junho de 2018, no


caso Carpenter versus United States, a Suprema Corte dos Estados
Unidos emitiu uma decisão que parecia rea rmar o direito dos
americanos à privacidade na era digital. 686 Em decisões anteriores, a
Suprema Corte havia defendido que a Quarta Emenda não protegia
informação que nós revelássemos voluntariamente a outros, como às
empresas de telefonia (por exemplo, os números para quem nós
ligamos). 687 No entanto, quando o  obrigou a Verizon, uma
empresa de telecomunicações, a entregar informação sobre a
localização precisa de um cliente durante um período de vários meses,
o tribunal defendeu que isso não apenas era uma violação de
privacidade (Quarta Emenda), como também que essa investigação
era perigosa sem ordem judicial com causa provável, pois os dados
sensíveis transmitidos constantemente pelo celular podem ser
utilizados para determinar as relações, os hábitos e as crenças de uma
pessoa. Nesse caso particular, o  havia obtido dados de 12.898
pontos geográ cos pelos quais Timothy Carter havia passado nos
últimos 127 dias.
Quando parecia que a Suprema Corte havia reforçado o direito à
privacidade digital, diferentes agências do governo e de inteligência
encontraram uma brecha legal: comprar dados de empresas de
marketing para, então, não precisar mais pedir ordens judiciais para
vigiar toda pessoa no planeta, se assim desejarem. Como evitar essa
espionagem constante?

Em primeiro lugar, a medida mais e ciente é tomar consciência do


problema, informar-se sobre a tecnologia e agir em consequência. É a
isso que nos referimos em termos gurativos quando instamos a
desligar o celular. É necessário fechar a porta de entrada das operações
de espionagem, que estão ocorrendo constantemente não somente da
parte dos que representam esse novo “capitalismo de vigilância”, mas
também da parte das próprias agências de inteligência. Quais
dispositivos inteligentes temos no nosso lar (internet das coisas) que
são fonte de dados em transmissão constante? De quais aplicativos de
meu celular eu realmente preciso? Estou consciente de que eles estão
infestados de , que transmitem uma enorme quantidade de
informação sobre tudo o que eu faço? O uso de  (rede virtual
privada) também deveria ser algo comum e recorrente, além do uso de
aplicativos criptografados para comunicação por mensagens (Signal) e
por envio de e-mails (Proton). Mais ainda, todo usuário deveria
desativar a função de Ad  tracking em seu celular, seja i ou
Android. 688 Isso já elimina uma das principais ferramentas que os
agentes de dados utilizam para logo vincular e agregar dados de
diferentes origens à sua identidade digital, pois cada um deles vai
“marcado” por certos parâmetros de identi cação. Além disso, algo
básico é desativar de imediato qualquer permissão necessária
concedida a aplicativos (preferivelmente, eliminar todas as
permissões). Para os que quiserem ainda mais privacidade, existem
sistemas operacionais alternativos ao iOS e ao Android para
smartphones, como o Linea LineageOS, /e/, Ubuntu Touch, PureOS,
GrapheneOS etc. Ou, então, retornar ao celular clássico do início do
milênio, principalmente se for necessário para que uma criança ou
adolescente se comunique em caso de emergência.
Em segundo lugar, é mais do que necessário que medidas políticas
sejam tomadas a respeito da situação, especialmente quando se leva
em conta que, na maioria de nossos países, há um vazio legal enorme
com respeito à coleta e à venda de dados e à inteligência arti cial. É
mais do que óbvio que todo Congresso ou Parlamento deve proibir
que agências federais e agências de inteligência de dados comprem ou
obtenham dados sem ordem judicial, incluindo todo tipo de
informação con dencial sobre a localização e os afazeres da pessoa.
Em nossa opinião, para que um aplicativo seja disponibilizado em
determinada região, ele deve submeter à análise todos os  que
pretendem rastrear e obter informação dos usuários. Além disso, as
empresas que criaram o código de  devem divulgar publicamente a
quem a informação é vendida. Além do mais, isso é uma questão de
segurança nacional, tendo em conta que, para operações e ataques
militares com drones, por exemplo, são usados dados obtidos de
aplicativos, que logo são comercializados por empresas como a Locate
.

Contudo, a legislação deveria ir muito mais além. Os dados pessoais


estão disponíveis para agências de inteligência e governos porque já
foram obtidos no mercado privado. É necessário regulamentar a coleta
e a venda de dados pessoais, obrigando os aplicativos a informar aos
usuários, de maneira explícita, a quantidade de dados que são
coletados (obviamente, a coleta deveria se limitar a dados que
aperfeiçoem o produto). Além disso, é necessário exigir um
consentimento explícito, em vez de se limitar a aceitar termos de uso
de um contrato de 70 páginas, escondido em algum lugar recôndito do
aplicativo. A Apple e o Google constituem seguramente uma grande
parte do problema, pois são essas as empresas que abrem a porta para
toda uma série de desenvolvedores de aplicativos dentro de seus
sistemas operacionais (iOS e Android), os quais têm hoje praticamente
um monopólio. As duas empresas poderiam tranquilamente proibir
que fossem vendidos, na App Store e na Play Store, aplicativos que
contivessem .
Outra maneira possivelmente efetiva de impedir a coleta de dados
seria proibir anúncios baseados no comportamento das pessoas, o que
afetaria bastante não somente a comercialização de dados, mas
também a indústria do reconhecimento facial, além de todas as
tecnologias que levaram a vigilância massiva a um novo nível
imperceptível. Não obstante, enquanto isso não ocorrer, devemos estar
conscientes de que nós estamos sendo, a todo mo mento, objeto de
projetos de experimentação com o intuito de nos manipular e de
direcionar nosso comportamento a um objetivo determinado. Você
quer realmente ser livre? Desligue o celular e ligue o cérebro.

 :   :


     

E mdo janeiro de 2023, a notícia sobre a decisão dos distritos escolares
estado de Washington, .., nos Estados Unidos, rodou o
mundo: estavam processando várias plataformas de redes sociais por
“explorar o cérebro de crianças e adolescentes”. 689 A denúncia do
Distrito de Seattle, apresentada em 6 de janeiro, e uma parecida vinda
do Distrito de Kent, em 9 de janeiro, acusava a ByteDance (TikTok), a
Meta (Instagram e Facebook), o Google (YouTube) e o Snapchat de
promoverem aos jovens conteúdos nocivos, muitas vezes conducentes
ao desenvolvimento de depressão, ansiedade, distúrbios alimentares e
idealização do suicídio. 690 Ou seja, as empresas não estavam sendo
acusadas pelo conteúdo produzido pelos usuários, mas por promovê-
lo mediante algoritmo e  mesmo estando conscientes do dano que
era causado. No processo, as escolas argumentam que tiveram de arcar
com o peso das consequências manifestadas por baixo rendimento
acadêmico e problemas comportamentais, o que as fez ter de contratar
mais psicólogos e de treinar os educadores para que soubessem
reconhecer os sinais de problemas psicológicos em seus alunos. Além
disso, argumentam as escolas, as empresas de tecnologia haviam
maximizado seus lucros às custas da saúde mental dos estudantes, que
passavam quantidades signi cativas de tempo em suas plataformas.

A grande pergunta em relação a esse tema é: quem é o responsável


pelos danos causados por essas tecnologias, quando, na verdade, os
seres humanos delegaram à  os procedimentos e as decisões? Se os
algoritmos foram projetados para prender a atenção do usuário pelo
máximo de tempo possível, incluindo a exploração de suas
vulnerabilidades psicológicas, mergulhando o usuário nos estados
emocionais provocados de maneira deliberada, então, há alto grau de
culpa da parte das empresas. Isso cou claramente provado, conforme
vimos nos capítulos  e , sobre os danos cerebrais e psicológicos que
o uso excessivo do celular e de aplicativos da internet pode causar,
especialmente as redes sociais. Contudo, di cilmente o processo legal
dos distritos escolares vai para frente, já que, por exemplo, os cassinos
não têm responsabilidade legal alguma se um apostador desenvolver
adicção ao jogo e acabar perdendo tudo. 691 Para além disso, há um
elemento muito mais importante, que nos leva a concentrar toda a
atenção não na responsabilidade de empresas de tecnologia, mas, sim,
naqueles que têm a responsabilidade direta sobre suas próprias vidas e
sobre a de seus lhos.

Onde estão os pais?


A primeira coisa que vem à cabeça diante de uma denúncia assim é: e
os pais dessas crianças e jovens? Onde estão? Por acaso, não é
responsabilidade deles educar e acompanhar os próprios lhos? Se
uma babá on-line é usada para distrair a criança, o que possivelmente
vai comprometer seu desenvolvimento pessoal, de quem é a culpa?
Esses pais, por acaso, ignoram que todo ser humano precisa de
controle pessoal e prudência antes de poder navegar por conta própria
no mundo digital? Trata-se somente de ignorância ou há também um
grau de irresponsabilidade? Esses pais tentam justi car e racionalizar o
motivo de dar um celular a seus lhos? Desde já, muitos podem ser os
motivos que levam um pai a buscar a ajuda de uma babá online: pais
cansados depois de um longo dia no trabalho, mães solteiras com um
enorme fardo sobre os ombros, pais sobrecarregados pela tecnologia,
crianças imersas num ambiente escolar onde a tecnologia é
apresentada como a escapatória dos problemas socioeconômicos. No
entanto, não podemos deixar de considerar algumas falácias sacadas
na hora de justi car por que dar um celular ou iPad a uma criança ou
adolescente.

A primeira falácia que podemos mencionar tem a ver com algo muito
comum de se escutar: a importância de as crianças “aprenderem” a
usar a tecnologia desde pequenos. Muitos dizem que, se nós não os
apresentarmos às tecnologias, eles poderão car muito atrás de seus
colegas ou, então, serão deixados para trás no mercado de trabalho
quando chegar o momento. Mas isso é um equívoco. Nós já falamos
anteriormente como os próprios fundadores e executivos das gigantes
de tecnologia restringem o uso do celular a seus lhos. Além disso, é
fácil demonstrar que se trata de uma falácia quando se percebe que os
programas educativos que ensinam instrução tecnológica englobam o
uso de programas que, na verdade, são concebidos para que seu uso
seja aprendido de maneira intuitiva (sem necessidade de instrução).
Também quando se percebe que, além de tudo, esses programas
estarão totalmente obsoletos quando essas crianças e adolescentes
ingressarem no mercado de trabalho. Imagine se, sob a desculpa do
marketing do futuro, um pai permitisse que seus lhos criassem um
per l no MySpace no ano de 2004, quando ele surgiu... Por outro lado,
parece uma contradição que professores “imigrantes digitais” ensinem
tecnologias a jovens “nativos digitais”. Como poderão eles ensinar aos
jovens algo que estes sabem manusear muito melhor? A realidade é
que, se um pai quiser que seus lhos tenham grandes habilidades
tecnológicas, o melhor que poderá fazer é ensinar-lhes a pensar e a ser
extremamente criativos. Somente assim eles poderão lidar com a
grande quantidade de tecnologia no futuro e saberão adaptá-la às
circunstâncias particulares do momento.
Outra falácia comum é que as crianças e os adolescentes não têm
como se conectar com os amigos sem as redes sociais. Mas isso
também é um erro porque as redes sociais e as conexões virtuais não
dão lugar a um relacionamento real em que possamos nos conhecer.
Não podemos permitir que crianças e adolescentes substituam a
conversa direta pelas mensagens em redes sociais. Essas mensagens
são rápidas, contínuas e fazem a distância desaparecer, abrindo-lhes a
porta a uma intimidade falsa que acaba substituindo os
relacionamentos reais. Isso tem devastadoras consequências
psicológicas. Em razão desse risco potencial de rejeição, a nova
geração de adolescentes tem muito medo da intimidade e da
vulnerabilidade a que alguém se expõe quando faz uma amizade. A
consequência direta disso tem sido toda uma geração com medo do
fracasso e superprotegida por seus pais. Além disso, como não querem
fracassar, nem sequer chegam a começar nada sério. 692

Quanto mais cedo uma criança começa a utilizar o celular e a enviar


mensagens de texto, no lugar de desenvolver a fala ou a leitura, e
quanto mais ela substitui a escuta da voz humana por uma mensagem
de texto, mais socialmente inapta ela se torna, pois deixa de lado a
compreensão dos sinais sociais não verbais, tais quais a expressão
facial e a linguagem corporal. Por isso, quanto mais mensagens de
textos enviarem, menos preparadas estarão as crianças para as relações
de maior complexidade emocional. 693 Aprender a se comunicar é um
dos maiores desa os da vida, sinal de maturidade e educação. Hoje,
lamentavelmente, o sistema escolar não está desenhado para explorar
essa capacidade de saber e comunicar o que se está pensando e
sentindo, pelo contrário, estão sendo criados “espaços seguros”, nos
quais ninguém diz nada que possa ofender ou contrariar uma opinião
politicamente correta. Isso é fatal, pois uma das habilidades
fundamentais da vida é justamente saber navegar entre pessoas que
pensam de maneira diferente. O celular elimina essa possibilidade, e os
jovens aproveitam, uma vez que é possível “se conectar” e “se
comunicar” sem o risco de ferir os próprios sentimentos por causa das
reações corporais ou verbais do outro. Segundo a psicóloga Steiner-
Adair, o envio das mensagens de texto elimina justamente as lições que
os adolescentes precisam aprender: como se acalmar, como expressar
clara e respeitosamente o que você está pensando, como ver o impacto
de nossas palavras no outro, aprender a ler os sinais físicos e
emocionais da pessoa que você está ouvindo, resolver problemas
mútuos e assumir responsabilidade etc. 694 A comunicação por
mensagem de texto é a desculpa perfeita para fugir do complexo da
comunicação humana. O problema, contudo, é que quem não
aprender como se comunicar, durante essa etapa, será um inútil pelo
resto de sua vida.

Um terceiro motivo pelo qual os pais racionalizam a entrega de um


celular a suas crianças é eles próprios serem vítimas da “distração
crônica” do celular. Muitos lhos estão hoje sendo criados em lares
com pais que não estão disponíveis às suas necessidades, seja porque
estão desconectados da realidade e imersos no mundo virtual, seja
porque são narcisistas e vivem apenas para si mesmos e para o
empoderamento pessoal. Um pai deve saber que car constantemente
ao celular em momentos que deveriam ser passados em família resulta
num (mau) exemplo que in uencia o comportamento dos lhos nessa
etapa tão importante para sua formação. A psicóloga clínica Steiner-
Adair con rma esse motivo, uma vez que, para ela, a razão principal
para uma criança mergulhar no mundo virtual oferecido pela internet
é o fato de seus próprios pais o conduzirem nessa direção e, em
seguida, “desaparecem”. 695 Ou seja, dar um iPad a uma criança é a
desculpa perfeita para fugir das responsabilidades paternas de educá-
la.

É fundamental educar bem os lhos desde os primeiros momentos da


vida porque isso terá um efeito vitalício no nível de atenção que
conseguirão ter durante a adolescência e a idade adulta. Pelo que
parece, a capacidade de manter a atenção durante as últimas etapas da
infância é um bom preditor do desenvolvimento futuro dessa criança.
Além disso, os dé cits de atenção iniciais de uma criança são
marcadores para diagnósticos posteriores de distúrbios de atenção. 696
O dano de não educar as crianças na atenção e na concentração,
abandonando-as à mercê do algoritmo, é um muito difícil de sanar.
Quando vive distraído no celular, um pai está inevitavelmente
educando seus lhos nessa direção. Num estudo publicado em 2016,
pesquisadores do Departamento de Psicologia e Ciências Cognitivas
da Universidade de Indiana armaram dispositivos de rastreamento
visual nas cabeças dos bebês e de seus pais para coletar dados do olhar
de ambos. Os pesquisadores provaram que o bebê segue
instintivamente o olhar de seus pais e descobriram que o fenômeno da
atenção compartilhada já se dava desde esse momento, ou seja,
quando os pais olhavam para um determinado objeto, os bebês
estendiam a duração da atenção visual ao objeto. 697 Esse é um
mecanismo fundamental para o aprendizado da fala e do
desenvolvimento de habilidades sociais. 698 O problema concernente ao
celular, então, é que os pais distraídos ao celular estão, inevitavelmente,
afetando o desenvolvimento social de seus lhos, além de os estarem
predispondo a um hábito nocivo desde uma tenra idade. Os pais que
não conseguem se concentrar transferem a seus lhos,
involuntariamente, esses mesmos problemas de atenção, segundo
a rma o psicólogo Adam Alter, especialista em adicção ao celular. 699

Outro motivo comumente apresentado é que as redes permitem seu


uso a partir dos 13 anos de idade, erro repetido, inclusive, por alguns
pro ssionais. Contudo, esse não é um motivo válido, uma vez que
levemos em conta a história por trás da origem dessa norma. No ano
de 1998, o Congresso dos Estados Unidos passou uma lei que, naquela
época, parecia acertada, mas que, no longo prazo, teve nefastas
consequências para a saúde mental dos adolescentes: foi declarado que
as empresas de internet não poderiam coletar nem disseminar
informação particular de menores de 12 anos. 700 É essa a razão por
que a maioria dos sites, aplicativos e redes sociais simplesmente
requerem, sem ter de justi car, que o usuário tenha pelo menos 13
anos de idade, o que acabou sendo entendido como uma espécie de
“maioridade” na internet. 701 Como nós já vimos, o problema é que,
nessa idade, os adolescentes ainda estão a muitos anos de desenvolver
e ativar completamente as funções do córtex pré-frontal do cérebro,
que é a região envolvida na tomada de decisões e no controle de
impulsos. No entanto, tanto a pressão social quanto a ignorância têm
levado os pais e os educadores dessas crianças a liberá-los
completamente nessa idade para usar as redes sociais (alguns,
inclusive, muito antes!), dando a desculpa de que a lei permite que
essas plataformas e esses aplicativos tenham usuários com pelo menos
13 anos de idade para baixá-los e se cadastrar nas redes.

Outro motivo para não dar um celular ou iPad aos lhos consiste no
fato de que a forma mais sólida e e caz de aprender é através da
experiência. 702 Nosso cérebro não está projetado para o virtual, razão
pela qual todo minuto que um lho passa em frente a uma tela é um
minuto que essa criança ou adolescente deixa de se envolver numa
brincadeira criativa, com a qual poderia exercitar diferentes
habilidades cognitivas e de fala — é um tempo que ela deixa de passar
lá fora com outras crianças aproveitando o dia, conversando,
inventando brincadeiras e interagindo cara a cara. É sintomático que,
com a introdução do mundo virtual, crianças e adolescentes não
estejam fazendo exercícios e desenvolvendo coordenação e força física,
que são inibidores da depressão, da ansiedade e do dé cit de atenção.
Em vez disso, com as telas, as crianças se tornam zumbis, pessoas
totalmente passivas e absortas pela dinâmica da tela, das mudanças de
cena, de cores, das luzes e dos sons, numa série de impactos visuais e
auditivos que as estimulam excessivamente, afetando seu
funcionamento cerebral até o ponto de acabarem se entediando
facilmente com a realidade estática, tornando-se nervosas e incapazes
de se concentrar. Elas são erroneamente diagnosticadas com
Transtorno de Dé cit de Atenção e Hiperatividade () e são
pesadamente medicadas, quando, na realidade, o que acontece é que
elas sofrem de excesso de tela e da consequente falta de sono. 703 A tela,
conforme demonstrou Angeline Lilland num estudo com crianças de 4
anos que assistiam Bob Esponja, tem efeitos noviços nas funções
cognitivas (especialmente na capacidade de prestar atenção, de pensar
e no autocontrole), particularmente em razão do ritmo frenético das
imagens, das cores e das mudanças de plano. 704

Tampouco é válido o argumento que defende que as crianças pelo


menos estão aprendendo algumas habilidades informáticas: o
problema não é o que se aprende, mas o que não estão aprendendo.
Como defende a psicóloga Steiner-Adair, os que vivem imersos no
mundo virtual não estão aprendendo a lidar com a frustração de
perder numa brincadeira, a ter de repensar como construir algo e
começar de novo quando nada funciona, a como trabalhar em equipe
para conseguir alguma coisa, a perder numa brincadeira e analisar
como melhorar. Todas essas são habilidades que logo se transferem a
outros cenários da vida diária. 705 Basicamente, para uma criança,
tempo no celular é o mesmo que tempo perdido.

Uma criança não nasce ansiosa com a necessidade de usar o celular e


de submergir no mundo da tecnologia. O problema é que, cedo ou
tarde, as crianças acabam entendendo o celular como algo
indispensável a suas vidas (na maioria das vezes, os pais também). O
que acontece ao longo do processo de crescimento para que, aos 12
anos, as vidas sociais das crianças migrem ao mundo digital? E, pior
ainda, não veem a fuga do mundo digital em direção à realidade como
uma opção válida e necessária, pois é nesse mundo virtual que
buscarão validação e amizades, por mais irreais e imaginárias que
possam ser. “Todo mundo usa celular e está nas redes sociais” não é
um argumento válido, mas aponta a um fato real que leva os jovens a
se sentirem forçados a escolher entre o isolamento social ou o uso
compulsivo do celular.

Qual é a solução para esse problema? Certamente, a legislação de


cada país deveria contemplar essa situação e elevar a idade mínima, a
m de que sejam os pais, não as empresas de tecnologia, que tenham
controle sobre seus lhos. Embora tampouco se trate de chegar ao
extremo chinês, com um governo que alardeia a vigilância e o
controle. Em 2013, a China declarou a adicção às redes sociais e aos
videogames como o perigo de saúde pública mais grave do momento,
706
algo exacerbado pela epidemia da solidão do lho único,
ocasionada pelas décadas de política de controle de natalidade. Como
medida preventiva, o governo chinês decidiu desligar o celular dos
usuários quando passava o limite de tempo estabelecido. Por exemplo,
pouco depois de a empresa chinesa Tencent ter anunciado
publicamente o seu programa de realidade hiperdigital centrado em
jogos de videogame, o Partido Comunista começou a controlar
rigorosamente as plataformas virtuais. Uma das medidas consistiu em
proibir que os menores de idade jogassem videogames de segunda a
quinta-feira, limitando o uso a ns de semana e somente a uma hora
por dia, entre as 20h e as 21h, de tal modo que nenhum adolescente
poderia jogar mais de 3 horas ao todo a cada semana ou fora desse
horário. Para conseguir realizar isso, o governo determinou que essas
empresas utilizassem soware de reconhecimento facial em conjunto
com a carteira de identidade nacional de cada usuário para, assim,
assegurar-se de que absolutamente ninguém conseguisse evitar o
bloqueio usando o aparelho de um maior de idade. 707

Se a solidão leva os jovens a buscarem uma escapatória nas redes


sociais e nos videogames, isso se deve, em parte, a não terem obtido
êxito em criar um ambiente de família e de amizade dentro do lar;
algumas vezes, por não haver irmãos com quem compartilhar a vida
diária, outras, porque os pais estão totalmente ausentes. Mas também é
realmente problemático quando a tecnologia transforma cada faceta
familiar, inclusive o tempo de férias, de tal modo que, embora cada um
dos membros tenha acesso constante a tudo o que quiser na internet,
estes não conseguem manter uma ligação pessoal entre si. A tecnologia
que supostamente nos “conecta” só tem conseguido desconectar cada
vez mais as famílias.

Isso nos leva, então, a considerar a responsabilidade dos pais como os


primeiros educadores de seus lhos. É realmente necessário dar um
celular aos lhos? Já desmentimos a falácia sobre a importância de
introduzir a tecnologia para que eles não quem para trás. Mas, além
disso, embora alguém instrua o lho sobre o comportamento nas
redes sociais e sobre seus perigos inerentes, ensinando-o a tomar
consciência das consequências de fazer certas publicações ou
comentários, há algo muito mais básico para se levar em conta. Todo
pai deveria limitar o acesso às redes sociais até que cada lho esteja
social e emocionalmente preparado. Mais ainda, os pais deveriam
resistir pelo máximo de tempo possível à pressão de dar um celular a
seus lhos, mas, quando nalmente o derem a eles, devem monitorá-
los, considerando que, em casos de emergência ou de necessidade, o
que se recomenda é que o celular seja o mais primitivo possível, com
capacidade somente de fazer chamadas e enviar mensagens de texto. A
idade vai depender de vários fatores, mas é melhor esperar pela
maioridade. O critério, então, não é uma idade determinada, mas
esperar e retardar o máximo possível ou, como a rma Marta Prada,
especialista em educação, “quanto mais tarde, melhor”. 708

A grande epidemia de adicção ao celular, mencionada no capítulo ,


é condicionada principalmente pelo ambiente e pelas circunstâncias da
pessoa. Os problemas familiares, o abuso psicológico, a criação em
famílias monoparentais e as adversidades sofridas pela criança na
infância são os antecedentes mais prevalentes dos comportamentos
adictivos, como tem sido demonstrado em relação ao álcool, às drogas
e ao vício em jogos e apostas. 709 O mesmo foi veri cado com relação
aos sintomas de adicção ao celular: a adversidade na infância se
correlaciona com a adicção ao celular. 710 No entanto, esses problemas
familiares não são os únicos que predispõem uma criança ou
adolescente a desenvolver problemas adictivos, pois crescer no seio de
uma família desconectada entre si é um problema grave e um novo
fator a considerar. Portanto, a forma de viver em família e o modo
como ela pode impactar negativamente o futuro da pessoa são
fundamentais.

O lugar da família é central. Isso nos deve motivar a trabalhar em


família e a criar um ambiente propício para o crescimento sadio e
estável dos lhos. Quantos pais leem para seus lhos desde cedo? Você
sabia que um bebê aprende sua linguagem de modo muito mais efetivo
mediante a interação humana, não por vídeos ou aplicativos de celular,
que são falsamente anunciados como caminhos para o sucesso? 711 Ler
livros com os lhos pequenos, por exemplo, é extremamente
importante, pois vai preparando gradualmente o cérebro e as conexões
neurais de que a criança precisa para desenvolver, nos anos seguintes,
a capacidade de leitura, compreensão, escrita e níveis mais abstratos de
raciocínio. 712 Desligar o celular e ligar o cérebro não é uma mera
recomendação. O desenvolvimento da linguagem em crianças que
aprenderam a se comunicar com seus pais é superior ao das crianças
que usaram programas e aplicativos de iPad ou o celular. Pior ainda,
uma criança ter acesso à tela contribui para um desenvolvimento
desigual do cérebro, uma vez que as atividades baseadas em tela
estimulam processos visuais que prejudicam o desenvolvimento de
outras regiões sensoriais do cérebro. 713 Algo semelhante foi observado
por um grupo de neurocientistas da Universidade da Carolina do
Norte, num estudo publicado em princípios de 2023 sobre como as
redes sociais podem estar afetando o desenvolvimento cerebral de
crianças e adolescentes. Os pesquisadores descobriram que as crianças
que não tinham o hábito de usar as redes sociais mostravam, já por
volta dos 12 anos de idade, um desenvolvimento cerebral muito
diferente do das crianças que tinham o hábito de usá-las, o que
potencialmente poderia ter consequências de longo prazo até a idade
adulta. 714 Por isso, é importante redesenhar a vida familiar e a própria
vida, não apenas para evitar problemas de comportamento ou de
desenvolvimento nos lhos, mas também porque o controle pessoal
não será su ciente para superar uma adicção ou outro problema
relacionado à tecnologia. 715

A educação e a tecnologia
Está provado que uma das melhores ferramentas para desenvolver
durante a etapa do aprendizado é a capacidade de resolver problemas,
algo que se conquista principalmente por meio do desenvolvimento de
habilidades como a criatividade e o pensamento lógico e crítico. A isso
deve ser acrescido o controle emocional, pois não saber superar as
frustrações é um dos maiores inimigos do crescimento pessoal.
Curiosamente, o uso precoce da tecnologia di culta o
desenvolvimento de todas essas habilidades. A falta de criatividade é
tanta que cou comprovado que muitos dos jovens “nativos digitais”
não conseguem transferir o conhecimento adquirido num programa
para outro similar; nesse sentido, o uso excessivo do celular desde
cedo gerou verdadeiros “inúteis digitais”. 716 Nós vimos a mesma coisa
sobre o efeito do celular e da internet nas áreas do cérebro que têm a
ver com o controle emocional.

Se prestarmos atenção no melhor tipo de educação que uma criança


ou adolescente pode receber, ela não se centra no mero conhecimento
técnico, mas nas humanidades, ou seja, em tudo aquilo que nos
distingue como seres humanos: aprender a se socializar, aprender a
falar bem e a se comunicar com perfeição, tanto pela oralidade quanto
por escrito, saber raciocinar adequadamente e trabalhar a memória,
ter criatividade e saber resolver problemas. Talvez seja por esse motivo
que os executivos das gigantes tecnológicas enviam seus lhos a
escolas que são caracterizadas por não terem tecnologia e por ainda
terem em suas paredes os clássicos quadros negros com giz, nas quais
os estudantes não portam laptops ou iPads — antes, usam somente
lápis e papel. 717 Além disso, esse modelo educativo exige que tanto os
estudantes quanto os pais assinem um contrato em que eles se
comprometem a limitar o uso de tecnologia dentro de casa. Não é
surpreendente que o tipo de educação preferida pelos executivos
rechace a própria tecnologia que eles produzem? Você não acha
insólito que os que comandam essas empresas de tecnologia assinem
um compromisso de que não se faça uso dos próprios produtos em
suas casas? Talvez a razão se encontre no fato de que eles, melhor do
que ninguém, conhecem os perigos implicados no uso indiscriminado
de tecnologia.

Mas voltemos à falácia, ao autoengano, com que muitos pais querem


convencer a si mesmos de que dar tecnologia a uma criança é bené co.
Se é prejudicial apresentar tecnologia a uma criança desde cedo, isso
seria clara mente re etido nos dados de entrada e graduação da
universidade. Curiosamente, os que se saem melhor no sistema
educativo universitário são os que foram formados nas humanidades,
e que tiveram acesso restrito à tecnologia. 718 A razão não é
principalmente o controle sobre a tecnologia, claro, mas vale a pena
notar que ela tem a ver com o simples fato de que esses estudantes
foram formados num sistema que visa ensinar: ) a pensar lógica e
criticamente, não somente a receber dados entre si; ) a falar e
escrever de modo que a comunicação seja clara e efetiva; ) a
valorizar as ideias e as ações humanas; e ) a trabalhar o autocontrole.
Todas essas características são, possivelmente, mais valorizadas do que
qualquer outra coisa na hora de escolher candidatos para um
programa universitário ou para uma vaga de empresa. Como George
Anders convincentemente demonstrou em sua obra sobre as vantagens
do estudo das humanidades, é curioso notar que, num mundo
dominado pela tecnologia, são as pessoas formadas em humanidades
as que têm mais oportunidades de trabalho, as que inventam novos
empregos e as que sabem transferir e adaptar as habilidades adquiridas
em diferentes campos. 719 Segundo dados do LinkedIn, as qualidades
mais importantes no momento de contratar alguém são ser criativo,
ter capacidade de persuasão e saber trabalhar em equipe, ou seja,
habilidades próprias das humanidades. 720 Além disso, com os
processos de automação que já estão em andamento, as qualidades que
são insubstituíveis por um robô ou pela  são as responsabilidades
sociais, conforme demonstrou David Deming num estudo publicado
em 2017. 721 Os trabalhos que envolvem rotina estão desaparecendo
num ritmo demolidor desde os anos 1980, ao passo que os trabalhos
que envolvem habilidades analíticas e sociais estão em aumento
constante desde a mesma data. Isso foi reconhecido por Brad Smith e
Harry Shun, dois executivos da Microso, num livro sobre o futuro da
tecnologia:

Com os computadores se comportando mais como humanos, as


ciências sociais e humanidades se tornarão ainda mais importantes.
Cursos de linguagens, arte, história, economia, ética, loso a,
psicologia e desenvolvimento humano podem ensinar habilidades
críticas, losó cas e baseadas na ética que serão fundamentais no
desenvolvimento e gerenciamento de soluções de . 722

É um fato que os melhores centros de formação do mundo ocidental


adquiriram seu prestígio não tanto por causa da educação tecnológica,
mas pela educação humana que transmitiam, especialmente focada no
estudo dos grandes livros de nossa civilização. 723 Por outro lado, os
institutos que têm programas educativos focados na tecnologia para
igualar, reduzir a desigualdade, democratizar o conhecimento e outros
mantras sem sentido são, em média, os centros educativos que obtêm
os resultados mais baixos e que, por estarem localizados em áreas de
menor status socioeconômico, parecem condenar os estudantes ao
fracasso. Esse foi o resultado de um estudo realizado por Susan
Neuman e Donna Celano, ao longo de 10 anos, nos Estados Unidos, o
qual comparou uma área pobre e uma área rica da Filadél a. 724 As
pesquisadoras notaram que a tecnologia era o que fazia com que a
desigualdade casse maior. No entanto, não exatamente por causa da
falta de tecnologia, como Bill Gates gostaria que pensássemos, mas
pelo contrário: nas escolas pobres, o uso da tecnologia era maior e, em
suas casas, essas crianças não tinham nenhum tipo de supervisão. 725
Nas famílias endinheiradas, pelo contrário, as crianças tinham
experiência totalmente distinta com a tecnologia, pois usavam-na
muito menos e sob supervisão dos pais. Isso nos faz pensar e
questionar a narrativa do “privilégio” pela situação nanceira. Muitas
vezes, são os próprios pais que, em sua ignorância ou
irresponsabilidade, condenam seus lhos ao fracasso.

Esse também é o caso do sistema público de Chicago, onde foram


gastos, no anos de 2012, cerca de 40 milhões de dólares em tecnologia,
mas o nível de rendimento escolar estava no chão. 726 Outro exemplo
claro do fracasso educacional em nível nacional é o do programa
kirchnerista Conectar Igualdade, na Argentina, que bem poderia ser
chamado de Conectando Ignorantes ou Formando Idiotas, se é que é
possível chamar esse projeto de formação... Ele consiste em entregar
meio milhão de laptops todo ano a adolescentes de escolas públicas,
tendo o suposto objetivo de “reduzir a desigualdade digital, educativa e
social” no país. 727 Além de ser um negócio gigante, em razão do qual o
Estado favorece certas entidades privadas, o programa está fadado ao
fracasso: mais pornogra a, mais redes sociais, mais vigilância e
controle, mais coleta de dados, e menos cérebro... Os dados
comprovam isso, bastando retroceder alguns anos e comparar os
resultados.

Em 2010, a então presidente Cristina Fernández de Kirchner


anunciou um ambicioso plano para distribuir três milhões de laptops a
todos os estudantes de ensino médio da rede pública do país (13 a 17
anos). O plano teve um custo de mais de um bilhão de dólares e foi um
fracasso total, apesar do anúncio da governante, que exaltava o projeto
como “um absoluto instrumento de igualdade para superar a
desigualdade digital”. 728 A realidade é que, desde 2010, a educação na
Argentina tem piorado cada vez mais, e os estudantes não têm
atingido os aprendizados correspondentes a seu nível escolar, razão
pela qual a situação tem estado tão catastró ca que não já há repetição
de ano porque o Ministério da Educação, “diante dos maus resultados,
exibilizou os critérios para a passagem de ano”, segundo confessou
Susana Decibe, ex-ministra da educação na década de 1990. 729 Os
números falam por si mesmos: de cada 100 estudantes que
ingressaram no ensino fundamental, somente 16 deles concluíram o
ensino médio a tempo (sem haver repetido ou abandonado a escola) e
com saberes mínimos. 730 E os outros 84 restantes de cada 100?
Provável e lamentavelmente, estão no laptop de Cristina… Esse
programa só conseguiu incentivar os estudantes a ligarem seu laptop e
a desligarem o cérebro. O resultado? Um fracasso escolar massivo. 731

O programa tecnológico que prometia igualdade só conseguiu mais


“desigualdade educativa”, conforme é demonstrado pelo relatório que
analisa justamente os dados escolares de 2009 a 2020, tempo que
coincide com a introdução do tal programa em 2010. 732 Além disso, o
fracasso da relação entre tecnologia e educação cou mais que
evidenciada quando as classes presenciais foram suspensas em 2020: a
pretensa redução da desigualdade digital fracassou absolutamente, não
somente porque um grande número de crianças não contava com
acesso à internet em seu lar, como também porque, principalmente,
quando se tem um laptop pessoal, ele contribui fortemente para que o
estudante não ligue seu cérebro. Cálculos o ciais estimam que, em ns
de 2021, cerca de 600 mil estudantes ainda não haviam retornado à
escola, pondo a Argentina entre os países com um dos maiores índices
de evasão escolar do mundo. 733 Claro, todo mundo com seu laptop…

As escolas, em vez de promover essa aliança com a tecnologia que


não leva a nenhum lado, deveriam ser parte do processo de
conscientização e trabalhar juntamente com os pais para que o
ingresso de crianças e adolescentes nas redes sociais seja retardado
pelo maior tempo possível. Por outro lado, deveriam incentivar o
desenvolvimento humano dos estudantes, algo que não se obtêm com
tecnologia. Por causa dos danos que causa, o uso das redes sociais
jamais deveria ser incentivado pelos centros educativos, os quais, além
disso, deveriam limitar ao máximo a interação com a tecnologia no
contexto escolar. Algo que parece ainda mais óbvio é a decisão de
proibir que estudantes acessem seus telefones durante a jornada
escolar. A França tomou essa decisão em nível nacional em 2018,
tendo estabelecido uma proibição que vai desde o ensino infantil até o
ensino médio (3 a 15 anos), deixando cada liceu (16 a 18 anos) em
liberdade para decidir o regulamento interno. 734 A lei se baseava em
estudos que indicavam como os celulares eram prejudiciais para os
adolescentes e como os estudantes de escolas onde os celulares não
eram permitidos obtinham os melhores resultados acadêmicos. 735

Nenhum pai quer ter lhos que sejam inúteis e não tenham opções
num futuro pro ssional controlado pela automação e pela . A única
escapatória é ligar o cérebro, aprender a se relacionar com os outros e
saber se expressar com coerência, porque essas são habilidades que
uma máquina jamais poderá replicar. Curiosamente, são essas pessoas
que levarão a tecnologia ao próximo nível, pois elas têm a criatividade
e a habilidade de pensar criticamente. Em contrapartida, quando se
inculca tecnologia numa criança desde cedo, o que ocorre é o oposto,
uma vez que, ao invés de aprender a usar as vantagens oferecidas nesse
contexto, a criança ou o adolescente se torna “tecnodependente” e,
além disso, adicto às grati cações tecnológicas. Uma criança deve
aprender a usar seu cérebro, não seu iPad.

A rebeldia como estilo de criação


Educar lhos no século  é, sem dúvida, muito mais difícil do que
em qualquer outra época. E essa a rmação não é mo tivada pela
tendência psicológica de ver a própria época como a mais difícil, 736
mas pelo fato veri cável de que muitos dos obstáculos que se
interpõem à educação de lhos nestes tempos simplesmente não
existiam há algumas décadas. Obviamente, nossos avós tiveram de
enfrentar di culdades na criação de seus lhos, mas não havia
internet, celulares, iPads, redes sociais, não existiam algoritmos que
afetavam o comportamento, nem a  ou a internet das coisas; até
meados do século , sequer havia televisão! O fato de que a
tecnologia transformou ou destruiu a dinâmica familiar basta para
con rmar as di culdades e os desa os enfrentados pelos pais de hoje.

É por isso que, em nosso parecer, a única maneira de ir contra a


correnteza e se manter rme diante de qualquer ataque ideológico ou
pressão social é ter a atitude de um rebelde. Somente se os pais
enxergarem a criação de lhos, e até a própria vida familiar, como um
ato de rebeldia é que eles terão a força para enfrentar os aspectos
desumanizadores da tecnologia, da pressão social e da pseudocultura
de morte que busca se impor. 737 Somente um ato de rebeldia dará aos
pais o argumento de que necessitam para não sucumbirem diante da
falácia de “todas as crianças têm um celular”. Somente um ato de
rebeldia lhes dará a força para se sentarem em família e começarem a
elaborar um plano de vida que ponha cada membro da família no
centro de toda decisão. Somente um ato de rebeldia os levará a
reordenar a vida pessoal para poder vivê-la ao máximo. Somente um
ato de rebeldia dará as forças para desligar o celular e ligar o cérebro.
Somente um ato de rebeldia os motivará a desligar o televisor para que
as vozes dos membros da família sejam aquelas que alegrem o lar.
Somente um ato de rebeldia os motivará a querer pensar por si
mesmos e a começar a ler bons livros, que os impulsionarão a pensar,
imaginar e aprender. Somente uma atitude rebelde os levará a
empregar o tempo não em fugir das grandes questões da vida pelo
escape mais fácil que a tecnologia oferece, mas em meditar sobre o que
signi ca viver como humano, qual é o sentido de nossas vidas, qual é o
nosso objetivo e como viver ao máximo uma vida que realmente
merece ser vivida.

Somente com essa atitude rebelde é que a família poderá criar o nível
de conectividade humana que nenhuma rede social é capaz de
alcançar. Será essa rebeldia a que dará a exibilidade necessária para
que se possa lidar com qualquer crise sem se quebrar, pois só se obtém
essa resistência passando tempo juntos, conversando, conhecendo-se
um ao outro e valorizando-se como seres humanos, dando a cada um
a atenção que merece e acima da tecnologia que desumaniza. Hoje em
dia, dar prioridade à vida familiar é um ato de rebeldia diante de um
algoritmo que busca prender nossa atenção e deixar-nos adictos a
nossos dispositivos. No entanto, esse ato de rebeldia não signi ca
rechaçar a tecnologia, mas saber usá-la na medida em que ela me
ajuda a alcançar a plenitude como ser humano, estando consciente de
que a primazia deve ser dada sempre às relações pessoais. Isso implica
estar presente para aqueles que nos rodeiam e com os sentidos alertas
às conexões que humanizam, em vez de perdidos e imersos num
mundo virtual que, em nome da conexão, desconecta-nos da
realidade.

Ser rebelde hoje signi ca apreciar o tempo com os demais,


especialmente com os membros da própria família. Somente assim se
forma uma família no pleno sentido da palavra. Somente a perspectiva
de rebeldia nos dará as forças para tomar a decisão de controlar a
tecnologia e eliminá-la quando for necessário, pois não devemos
permitir ser explorados por ela. Somente nesse ato de rebeldia
constante podemos criar um ambiente amoroso, solidário e
profundamente humano para que cada um possa crescer e se
desenvolver de maneira completa. Isso é fundamental para poder
educar os lhos no amor, levando em conta que cada um deles é único,
tem seu próprio ritmo de amadurecimento, tem sua própria
sensibilidade, distinta da dos demais portanto, e um modo de interagir
bastante pessoal. Cada criança é um mundo à parte, razão pela qual a
família deve se amoldar a essas necessidades pessoais. Mas somente os
que são rebeldes hoje se darão conta disso porque eles dedicam tempo
ao conhecimento pessoal do entorno familiar. Somente dessa maneira
os pais encontrarão as oportunidades para educar seus lhos quanto a
como se controlar, como se adaptar a distintas circunstâncias, como
colaborar no lar e, o mais importante, como tomar decisões (e que não
seja a “mãe coruja” a que tome todas as decisões graças à insegurança
que criaram na criança). No entanto, para isso, é necessário limitar o
tempo de tela para, assim, poder contar com o tempo necessário para a
atividade física, para as atividades sociais (na execução das quais eles
treinam as habilidades sociais básicas que muitas crianças já não
desenvolvem: cumprimentar, manter o contato visual, não
interromper etc.), o tempo de leitura e qualquer outro interesse ou
hobby que os lhos possam ir desenvolvendo. Além disso, esse tempo
extra é necessário para poder reforçar o autocontrole ao redor das
rotinas diárias, que podem ser entediantes, mas que são as que mais
ajudam a construir a ordem interior e exterior da criança: fazer a
própria cama, escovar os dentes, lavar o prato. As telas são um
atentado aos rituais familiares e às rotinas pessoais, uma vez que a
tecnologia facilmente desloca as relações familiares com experiências
que negam à criança a possibilidade de crescer e se desenvolver de
maneira normal. Por trás do Vale do Silício, há toda uma comprovada
ideologia transumanista como força motivadora da mudança
tecnológica atual: o ser humano é imperfeito, logo essa consciência
presa num corpo limitado deve ser libertada, seja melhorando o corpo
humano, seja substituindo-o diretamente por um corpo tecnológico.
738
Nesse sentido, a batalha cultural atual também é uma batalha em
defesa do ser humano e em defesa de tudo o que isso signi ca e
implica. Esse deve ser o fundamento na hora de decidir sobre o uso da
tecnologia: o que ou quem é o ser humano? Aonde ele vai? O que
implica ser humano? Se nosso futuro é inevitavelmente aquele em que
o mundo digital é parte de nossas vidas, então os que devem discernir
como as coisas devem acontecer somos nós, não um sistema de
inteligência arti cial, que desloca as grandes questões do ser humano
em busca de um mundo que, embora pareça matematicamente
perfeito, não dá lugar para a criatividade, o desenvolvimento e,
especialmente, as atividades que transcendem a materialidade dos
dados, que é justamente onde orescemos como seres humanos. A
inteligência arti cial não pode ditar como vamos nos relacionar
porque é algo que transcende toda métrica e quanti cação. Um ditado
popular diz que a medida do amor é amar sem medida. 739 Um sistema
de  nunca será capaz de transformar em dados essa realidade que
nos torna mais que humanos e que é a única forma verdadeira de
transcender. No entanto, para conseguir isso, será necessária uma boa
dose de rebeldia.

Alguns conselhos práticos


Este livro certamente ajudou você a ter mais consciência não somente
dos perigos implicados pelo uso desmedido do celular, mas também
do fato de que é praticamente impossível se esconder na rede. O
controle digital é a maneira mais efetiva de controle, já que ele elimina
a necessidade de contato físico após estarem estabelecidos todos os
sistemas de informação que nós mesmos alimentamos. Quanto mais
limitarmos o monitoramento, maior liberdade teremos sobre nossas
vidas.

Questione sua relação com a tecnologia. Ou seja, ponha-se a pensar


sobre essa relação. Quem controla quem?

Limite o tempo que você passa ao celular, dedicando, inclusive,


somente um horário limitado dentro de sua agenda diária. Isso é algo
que você pode fazer de maneira consciente ao exercer o autocontrole.
Se for difícil no início, saiba que já há ferramentas para bloquear o
acesso se ultrapassarmos o tempo previsto. A Apple, por exemplo,
implementou ferramentas de adesão voluntária para limitar o tempo
de tela tanto em aplicativos como nas redes sociais.

Mude a con guração de privacidade das redes sociais para restringir,


na medida do possível, os dados que possam ser coletados. Restrinja
tudo o que puder de acesso a aplicativos de parceiros ou de terceiros.
No entanto, para além de toda restrição que você possa aplicar, as
redes sociais sempre poderão coletar os dados que impliquem o uso da
plataforma, tais como o conteúdo que você lê, suas reações a cada
postagem, os cliques que dá e quanto tempo você permanece diante de
cada imagem.

Se as redes sociais o estiverem afetando psicologicamente em seus


afazeres diários, seu tempo pessoal e relações familiares, elimine-as,
pelo menos por um tempo, para poder descansar e reorganizar sua
vida, de tal modo que, se você retornar para elas, seja você quem tenha
o controle. 740

Revise todos os aplicativos do celular. Lembre-se de que você tem


dezenas de  de espionagem instalados. Elimine todos os que você
puder. Lembre-se também de que, se você tiver a possibilidade de
ingressar numa plataforma por um laptop, isso é muito mais seguro do
que entrar por um aplicativo, principalmente se você usar navegadores
que bloqueiam a espionagem (Brave, por exemplo).

Elimine toda conexão à rede dos dispositivos do lar (internet das


coisas) e desfaça-se desses dispositivos e funções que, em si, não têm
nenhuma outra nalidade senão a espionagem (Alexa).

Elimine as noti cações de aplicativos de celular e silencie todas elas.

Separe um horário diário para a leitura. Lembre-se de que o objetivo


é ligar o cérebro. Desligue o celular se você notar que não consegue
controlar o impulso de car conferindo-o a cada momento (a causa é a
necessidade de dopamina no cérebro, algo que pode ser suprido
mediante o exercício físico, que realiza uma sadia liberação desse
neurotransmissor).

Viva o realismo da experiência humana. Mude o tempo que você


gasta mal nas redes por tempo que você possa aproveitar para
atividades que lhe façam crescer: pratique um esporte, aprenda a tocar
um instrumento, a cozinhar, a cultivar seus próprios alimentos.

Se você tem uma família, comece sendo o exemplo. Os pais devem


começar a monitorar o uso do celular entre eles mesmos. A seguir, será
fundamental manter conversas com seu cônjuge, a m de que ambos
trabalhem juntos. Se você não conseguir fazer isso, todo o esforço para
melhorar a estrutura familiar será muito mais difícil. Se você notar que
seu cônjuge é adicto ao celular, é hora de lhe falar isso e de buscar
ajuda psicológica caso seja necessário.

Se ambos os pais concordam com os problemas apontados, então é


necessário ter conversas sérias com os lhos para que eles próprios
também estejam de acordo a não ter televisão em casa e a entender por
que o uso do celular está restrito aos maiores. Tenha conversas em
família sobre os problemas comportamentais, o dano cerebral e as
nefastas consequências psicológicas em adolescentes que usam redes
sociais. Leia em família seções deste livro para que seus lhos
entendam por que não é bom que usem o celular, nem que estejam
expostos a telas. Lembre-se de que, em razão do desenvolvimento
cerebral da criança até os 6 anos, o tempo diante de uma tela não pode
passar de zero minutos. Ou seja, eles nunca deveriam estar diante de
uma tela. Por isso, é uma ótima opção simplesmente não ter televisão
em casa, pois, assim, não surgem problemas entre os maiores e os
menores.

Se você não teve cuidado com o uso da tecnologia e das redes sociais
de seus lhos no passado, você deve estar atento aos sintomas de
depressão e ansiedade. Além disso, se os adolescentes já tiverem
celular, então você deve monitorar suas redes, mensagens e
publicações. Há quem diga que não se deve se intrometer na vida dos
lhos e que se deve lhes dar liberdade para estar no mundo virtual.
Isso não é somente falso, mas também tremendamente perigoso. Se
eles podem postar num espaço público que qualquer outra pessoa
possa ver, por que, então, seus pais não poderiam vê-lo também?
Quantos casos existem de cyberbullying que terminam em tragédia, de
adultos que se passam por menores, de sexting e envio de mensagens
que logo viralizarão e arruinarão suas vidas? Os perigos são tantos que
não é nenhuma loucura sugerir uma reunião familiar para conversar
sobre as razões que podem levar um lho a voluntariamente
abandonar o celular. Agora, se os lhos já tiverem desenvolvido uma
adicção, a decisão a tomar está mais do que clara...

Mantenha seus lhos com os pés no chão, ou seja, na realidade. Não


permita que eles escapem para o mundo virtual, principalmente em
jogos que lhes possibilitem assumir diferentes identidades. Mesmo que
você esteja seguro de que eles não têm problemas de depressão e
autoestima, ainda assim você deveria pôr limites às redes sociais e aos
jogos virtuais.

Estabeleça dentro de casa áreas sem tecnologia. Ou seja, seções onde


não possa haver nenhum dispositivo tecnológico. São três as áreas
recomendadas para não se ter tecnologia: o quarto, o lugar de estudo e
o lugar compartilhado com os outros para socializar.

Não permita que o celular seja usado durante a refeição, nem que a
televisão esteja ligada. Esses são momentos para se conhecer,
conversar, se inteirar do que está passando na vida dos outros
membros da família.

Estabeleça como objetivo não conferir o celular quando tiver


companhia. Além de ser uma grande falta de educação e tempo
perdido, você não estará construindo uma relação pessoal com a
pessoa com quem estiver se encontrando.
Elimine a tecnologia do processo de educação de seus lhos. Isso não
apenas os deixará mais inteligentes como também lhes aumentará a
chance de desenvolver muitas das funções cognitivas e o
amadurecimento psicológico. Se a escola incentiva o uso de laptop ou
de iPads, peça uma reunião com os professores e diretores para
perguntar de que maneira o uso da tecnologia ajuda seus lhos a
serem mais fortes intelectual e psicologicamente. Pergunte-lhes como
evitam o bullying cibernético. Questione por que a versão digital é
melhor que a versão impressa. Peça-lhes artigos cientí cos que
comprovem a vantagem de usar telas (essa pergunta os fará balbuciar).
Reúna-se com outros pais e certi que-se de que seu exército seja
maior que o número de professores.

Para os que tenham desenvolvido uma adicção, a maneira mais


efetiva de superá-la é eliminar completamente o celular e fugir das
circunstâncias que em primeiro lugar nos levaram a essa situação.
Uma di culdade, contudo, está na grande diferença entre o uso da
internet e, por exemplo, uma adicção às drogas: é praticamente
impossível viver num mundo onde o digital é parte da realidade de
cada dia. Se uma pessoa que sofre de uma adicção voltar ao mundo
após um período num centro de reabilitação, ela certamente
conseguirá estabelecer os parâmetros para trabalhar, pagar suas
contas, realizar transferências bancárias, comunicar-se com amigos ou
familiares, entre outras atividades, sem precisar recorrer às drogas ou
ao álcool. O problema surge quando nos damos conta de que é
praticamente impossível realizar uma grande quantidade de tarefas
sem ter acesso à internet. Por isso, o fundamental não é evitar
totalmente a internet, mas aprender a usá-la. E isso, muitas vezes,
envolve cortar as redes sociais por um tempo ou até mesmo elim iná-
las.

:    



N óscaminho
realizamos um grande percurso ao longo destas páginas, um
que partiu de uma pergunta fundamental: a tecnologia
nos desumaniza? Hoje, a tecnologia nos é vendida por todos os lados
com a falsa ideia de que vamos atingir um estilo de vida que só ela
pode tornar possível. Esse é o engano. Se você não tiver tal produto,
não poderá ser feliz. Assim, pouco a pouco, fomos caindo num grande
engodo, em que o Facebook o aconselha com quem fazer amizade, o
Instagram indica quem você deve admirar, o TikTok sugere a nova
moda a ser seguida, a Amazon guia o que comprar, o Tinder com
quem se relacionar, o Net ix ao que assistir e o Google impõe o que
você deve pensar. 741 Uma vez dentro das redes sociais, por exemplo, os
algoritmos põem em marcha uma série de mecanismos que buscam
prender a atenção com base no que os outros usuários fazem. Ou seja,
o próprio algoritmo leva o in uencer a realizar muitas loucuras com o
intuito de atrair o aplauso e a atenção dos demais escravos da caverna
digital. E é o algoritmo que escolhe o que cada pessoa vê ou
experimenta, com o intuito de prender totalmente sua atenção, ou seja,
torná-la adicta, escrava do mundo digital. No entanto, por sua vez,
todos os usuários são vítimas de um nível de vigilância (e censura) que
nem Orwell chegou a imaginar. As redes sociais, os aplicativos, a
internet das coisas, tudo contribui com os processos de mineração de
dados que visam a algo mais do que simplesmente comercializar os
comportamentos: a própria modi cação comportamental e ideológica
do ser humano.

Os benefícios que a tecnologia nos trouxe são inegáveis, mas até que
ponto estamos dispostos a abandonar as capacidades que nos
distinguem como seres humanos? Principalmente quando levamos em
conta que muitos dos avanços tecnológicos atuais são motivados por
uma visão profundamente transumanista e negadora da realidade da
natureza humana como tal, será que a tecnologia, em vez de nos
libertar de meus afazeres diários, não estaria, antes, nos
transformando em prisioneiros de um mundo imaginário? É hora de
cada um de nós, como seres rodeados de tecnologia e condicionados
por ela, re etir sobre como as novas tecnologias estão in uenciando o
modo de agir, pensar, sentir, viver e tudo o mais que signi ca ser
humano. Com a introdução dos algoritmos e da  na vida cotidiana,
agora é possível que estes consigam não só prever o comportamento
futuro da pessoa, mas também transformá-lo e moldá-lo, tanto para
condicionar o consumo dela como para submetê-la a um determinado
paradigma ideológico. Esse é um perigo fundamental.

Na introdução, nós mencionamos como o problema central que


enfrentamos está na mudança antropológica e na consequente
destruição do ser humano, tanto pela ideologia de gênero e pelo
conseguinte reset cultural quanto pela transformação tecnológica do
ser humano, conforme proposta pelo transumanismo. Por isso, não
quero terminar esta obra sem oferecer uma re exão, que servirá para
contextualizar a problemática posta pela tecnologia no mundo de hoje.

A tecnologia e a instrumentalização do
ser humano
As tecnologias da comunicação não são meras ferramentas ou
instrumentos neutros, cujo aspecto positivo ou negativo depende do
uso e da nalidade que se lhes dê. “O meio é a mensagem”, dizia
McLuhan, 742 querendo a rmar com isso que não importa tanto o
conteúdo (positivo ou negativo) porque é o meio que termina
transformando e afetando profundamente o que ele toca: as relações
pessoais, o modo de fazer política, os espaços privado e público, o
modo de nos dirigirmos a outros, nossa percepção da realidade e
também nossa constituição cerebral e nosso bem-estar psicológico.
Isso não é uma negação de que a moralidade da tecnologia depende,
em grande parte, do uso que se lhe dê. No entanto, a re exão sobre o
que ela é deve ir ainda mais além, a m de analisar como algumas
tecnologias acabam transformando a experiência humana, pois elas
não são meros instrumentos.

Então, diante da diversidade de posições que é possível tomar em


relação à tecnologia, seja positiva, seja negativa, seja meramente
neutra, é a posição de neutralidade a que, segundo o pensador alemão
Martin Heidegger, deixa-nos mais vulneráveis à sua in uência. 743 Isso
se deve, principalmente, ao erro de considerar certas tecnologias como
algo meramente instrumental. O super cial dessa postura de
neutralidade ca em evidência quando introduzimos certos elementos
mencionados ao longo deste livro. Pensemos na internet das coisas, na
mineração de dados ou na : podemos notar que estamos falando não
mais das tecnologias como meras ferramentas, mas daquelas que
transformam o próprio ser humano em instrumentos de sua operação.

As redes sociais são um claro exemplo da instrumentalização do ser


humano. Uma experiência única na natureza, por exemplo, já não é
mais uma experiência em si mesma, algo para ser desfrutado num
momento especial, mas, sim, algo para somente ser mostrado no
Instagram. Assim, cada uma de nossas experiências é
instrumentalizada e cada busca por uma nova experiência é
transformada num meio para um m. Já não se buscam amigos, mas,
sim, seguidores que engordem os números e deem a aparência de
popularidade, mesmo sem ter nenhum contato real com eles. É
paradoxal que tanto Taylor Swi quanto Carly Rae Jepsen tenham
lançado, cada uma, dois álbuns de música pop em 2022 no mesmo dia
e com a mesma temática: a terrível solidão que elas vivenciam. 744
Também é sintomático de um problema social que ambos os álbuns
tenham sido os mais ouvidos, especialmente o Midnight, de Swi, que
superou todos os recordes do Spotify. 745 A geração que se orgulha de
ser a mais conectada é, por sua vez, a que experimenta a mais
profunda solidão, o que inclui Taylor Swi, com seus mais de 245
milhões de seguidores somente no Instagram. 746 Já no começo de
2023, o mesmo problema se repetiu: Flowers, de Miley Cyrus, está na
dianteira de todas as canções mais escutadas, com mais de 260 milhões
de reproduções em apenas um mês e com uma temática centrada na
solidão como algo bom, já que a única pessoa de que você precisa é
você mesma, razão pela qual não tem sentido se relacionar com outra
pessoa. 747 Isso é facilmente desmentido quando se nota o quanto essas
“estrelas” dependem da quantidade de seguidores que têm, sem os
quais elas não seriam nada. Embora tenha 198 milhões de seguidores
no Instagram, Miley Cyrus tem de racionalizar e justi car sua
profunda solidão.

O ser humano se reduz voluntariamente a ser um instrumento da


tecnologia. As tecnologias de monitoramento corporal acabam
quanti cando as atividades humanas e, de certa maneira, separando a
ação de seu propósito, o que torna a ação pela ação a nalidade do ato
num ciclo que nunca acaba. Isso explica o aparecimento de uma nova
forma de adicção ao exercício, que surgiu com essas tecnologias de
monitoramento (Fitbit, Garmin, Apple Watch) e que tem graves
consequências não somente na psiquê, mas também no estado
siológico da pessoa. Exercitar-se já não é mais um meio para um m,
mas um simples mover-se porque o aplicativo de monitoramento
mandou (mova-se!). Pois tudo deve ser quanti cado, inclusive eu. 748

Essa instrumentalização revela também a dependência que o ser


humano tem da tecnologia. O que querem nos vender como
“progresso” não é mais do que uma dependência em tal nível que
acaba assumindo funções cognitivas que, por sua vez, afetam essas
mesmas habilidades do ser humano. O paradoxal é que as tecnologias
que supostamente nos livrariam das cargas da vida nos “libertaram”, na
verdade, de características propriamente humanas, destruindo-as pelo
caminho: a memória, a capacidade de raciocínio, discernimento,
autocontrole e a capacidade de prestar atenção.

Uma das tarefas mais difíceis que o ser humano enfrenta é a de


conseguir cumprir o famoso “conhece-te a ti mesmo”. São tantos os
aspectos de nossa pessoa que, mesmo para nós mesmos, muitos deles
só se tornam compreensíveis com o passar dos anos. E se é tão difícil
conhecer a si mesmo, imaginemos, então, a di culdade que é conhecer
verdadeiramente outra pessoa. O projeto familiar em si é um trabalho
sempre em andamento, inclusive o casamento, porque cada
experiência e cada situação vão revelar um novo aspecto pessoal de
cada pessoa que nos rodeia. Por isso é que nós assinalamos a
importância das experiências pessoais, das conversas, da companhia e
também das discussões. A família que vai amadurecer é a que não
ceder à tentação de se tornar um instrumento e a que não fugir dos
problemas que deve enfrentar. Contudo, para isso ocorrer, é necessário
se conhecer a cada dia. E assim como a televisão tem representado um
problema sério e inegável durante três gerações, o celular representa
um problema talvez ainda maior, potencializado pelas redes sociais.

Se você quer realmente conhecer alguém, jamais poderá conseguir


isso mediante a versão arti cial que vemos no Instagram, Facebook ou
TikTok. Isso não quer dizer que todos os usuários estejam
conscientemente enganando, mas, sim, que nós sempre discriminamos
em favor de um aspecto que dá uma imagem totalmente arti cial e
super cial da pessoa. E isso não é conspiração. Consideremos o fato de
que o típico in uencer de TikTok ou Instagram segue um modelo de
atuação que vai rede nindo sua identidade de acordo com as métricas
que as próprias redes lhe apresentam. O que isso quer dizer? Que as
redes sociais permitem que um in uencer vá apresentando diferentes
versões de si mesmo para, em seguida, monitorar como os outros
reagem a essas versões, de tal modo que ela possa ir revisando sua
identidade (ou sua representação) com uma e ciência sem
precedentes. 749 Basicamente, isso é seguir o princípio do “o que
funciona”, que é ditado pelo algoritmo e, como dissemos no capítulo
, faz do in uencer mais um escravo do sistema. O algoritmo
determinará a versão nal de sua identidade que prevalecerá. A
própria identidade se transforma a serviço da tecnologia, tornando-se
mais um de seus instrumentos.

A tecnologia e o progresso
Um elemento característico da modernidade é a ausência de qualquer
fundamento para a conduta e a vida moral da pessoa. Isso nos faz
mergulhar na postura segundo a qual tudo é relativo, até mesmo a
natureza do ser humano. Prova disso é a explosão de identidades
baseadas em questões acidentais ou simplesmente ctícias em nome
da liberdade humana. Tudo é relativo, inclusive a própria
autodeterminação e a própria autopercepção, que agora, na rebelião
contra a natureza humana, são compreendidas como o auge da
liberdade humana. O progresso, então, já não pode ser concebido
como moral, exceto na medida em que apoie esse relativismo moral da
conduta. Não é sem razão que os grandes princípios morais
contemporâneos sejam a inclusão, a diversidade e a igualdade, termos
que, na verdade, signi cam exatamente o oposto, mas que, por sua vez,
cumprem uma função de ancoragem moral em que o relativo é a
norma. Mas essa âncora é uma âncora à deriva e, portanto, nunca
poderá cumprir sua função. Cedo ou tarde, quem vai chegar ao fundo
não é a âncora, mas o ser humano, em sua confusão moral que,
inevitavelmente, leva-o a uma grande confusão psicológica: ansiedade,
insegurança, medo, solidão, transtornos de identidade e, quase
inevitavelmente, manipulação e controle total. Assim, a desorientação
se transforma em norma e condição psicológica do ser humano. Esse
parece ser o grande paradoxo da modernidade: enquanto se proclama
a fé no progresso, nega-se a possibilidade de que a vida tenha um
objetivo e um sentido que nos motivem. De nitivamente, esse suposto
progresso acaba sendo uma orientação para o nada, uma espécie de
“orientação negativa” 750 característica do niilismo da cultura de morte.

O aparato político, por sua vez, parece cumprir uma nova função
moral: garantir que a âncora continue à deriva por meio da imposição
dessa nova lei tripartite da diversidade, da igualdade e da inclusão. E,
para justi car essa agenda política e ideológica, ele destrói e reescreve
o passado como intolerante e opressivo, numa espécie de atitude anti-
histórica e iconoclasta. O progresso está sempre no futuro. No entanto,
como tudo parece ser relativo, recorrem-se a dados para a
reorganização social e a solução de todo problema humano. Somente
os dados darão certeza. Mas vale a pena esclarecer que essa busca de
dados não é para se fundamentar na realidade, mas para, com base no
que for codi cado, realizar um tipo de engenharia social jamais
pensado: que a inteligência arti cial e os algoritmos decidam o que é
melhor para cada um de nós. Como a rma Nolen Gertz:
[...] os valores de e ciência e objetividade nos levam necessariamente
a julgar as tecnologias como superiores aos humanos, assim, não
somente preferimos soluções tecnológicas para nossos problemas,
como também cada vez mais passamos a ver os humanos como
ine cientes, enviesados, como problemas, os quais devem ser
substituídos por tecnologias mais con áveis. 751

O que aqueles que subordinam suas próprias vidas à política e à


tecnocracia talvez não entendam é que o resultado será tão super cial
quanto a inteligência que molda a nova ordem: uma verdadeira
política arti cial.

Possivelmente, é essa verdadeira ditadura do relativismo que motiva


o ser humano a buscar em outros mares, na tecnologia, o progresso
que parece ser impossível de alcançar por si só. Nesse caso, a
tecnologia seria vista como progresso porque ela satisfaz certas
necessidades não supridas do ser humano. Dessa perspectiva, é
verdade que a tecnologia cumpriu um papel distintivo nas diferentes
etapas da civilização. Nós falamos de Idade da Pedra, Idade do Ferro,
do Bronze, de fundição das ferramentas que ajudavam o ser humano a
alcançar algum objetivo natural. E aqui talvez esteja uma chave para
re etir sobre a tecnologia e sobre a atual manipulação do ser humano.
Historicamente, a tecnologia serviu para prover o ser humano da ajuda
necessária para conquistar um objetivo natural. Esse é o propósito da
pá e da máquina de lavar. Hoje, a tecnologia parece estar a serviço de
um mundo de necessidades que são totalmente arti ciais para o ser
humano. A televisão é um exemplo claro: que necessidade real o ser
humano tem de maratonar uma série de Net ix? Essa é uma
necessidade criada e totalmente arti cial, que visa apenas acalmar o
seu desejo de consumo, deixando de lado atividades humanas muito
mais importantes. O mesmo se aplica ao smartphone e a toda a
miríade de aplicativos que cumprem uma função muito parecida,
exacerbada ainda mais pelas redes sociais. Que necessidade real há por
trás de um adolescente passar horas e horas em frente ao TikTok?
Nenhuma. É uma necessidade arti cial e motivada pela liberação de
dopamina em seu cérebro, o que, lamentavelmente, acarreta graves
consequências psicológicas.

Nesse sentido, a tecnologia pode nos dar a falsa percepção de que o


passado é sempre inferior ao presente, consideração que, de certa
maneira, con gurou o modo de pensar do homem contemporâneo e
que, possivelmente, tem sido a raiz da aceitação acrítica de qualquer
tecnologia e do afã de incorporá-la o quanto antes. De outro modo,
não teriam explicação as grandes las e muitas horas de espera para
comprar o novo modelo do iPhone assim que ele é lançado. 752 Mais
ainda, a tecnologia atual surge dentro de um movimento mais amplo
de que a ciência moderna é apenas uma parte: a fé no progresso e na
libertação do ser humano por intermédio do domínio progressivo
tanto da natureza quanto da história. Isso teve in uência tal que não
há dúvidas de que, para a pessoa normal, a “vida moderna” equivale à
vida com tecnologia — e esta não de algum tipo qualquer, mas a que
acaba de ser lançada no mercado 753 — como se isso fosse algo
inevitável ou, pior ainda, como se limitar a tecnologia em nossas vidas
fosse pôr um freio no progresso. O problema subjacente continua
sendo esse relativismo basilar que, ao deslocar todo o objetivo da vida
humana, deixou-nos sem a possibilidade de nos perguntarmos se
havia outras variantes. 754

Além disso, a mentalidade tecnológica deixa de lado as grandes


perguntas sobre o ser humano, o porquê das coisas, o sentido de sua
existência, o que somos e para onde vamos. Toda essa re exão
losó ca foi deslocada pela pergunta “como?”. Assim, o m da
existência passou a ser “como dominar a natureza” em vez de “como
viver de acordo com ela”. Após a revolução cientí ca do século , a
natureza passou a ser vista como objeto de conquista e manipulação de
tal maneira que ela poderia ser recriada e transformada ao gosto do
homem, uma vez que este a tivesse entendido em nível atômico. O
grande perigo, contudo, era que, cedo ou tarde, o próprio ser humano
seria objeto desse processo transformativo. Assim, inevitavelmente, a
noção de uma natureza humana perdeu sentido em favor de algo
uido, mutável, em processo de evolução constante até que, no nal,
daria o salto com a tecnologia. Ela seria a salvação para superar os
elementos limitantes: a doença, a ignorância e a morte. 755 A ciência
moderna já não parece ser o conhecimento empírico com base no que
se observa, pois não há uma natureza xa que deva ser entendida. Esse
conhecimento, então, deixa de consistir em observar e se transforma
em desconstruir, provar e transformar a natureza para, assim, isolar
seus componentes e analisá-los nesse processo transformativo. 756

Consequentemente, a tecnologia parece ter deixado de ser um meio,


uma realidade subordinada à liberdade humana, para se transformar
numa força que domina o próprio homem. O progresso tecnológico
do celular parece ser um caso evidente, uma vez que a pessoa tende a
perder toda a capacidade de controlá-lo e controlar-se. E essa perda de
liberdade ocorre, em grande parte, não apenas porque a tecnologia se
insere no mundo em que vivemos como também porque começa a se
tornar parte inseparável de nossas vidas. O que começou apenas como
um luxo termina sendo entendido como uma necessidade. Uma vez
que um artefato tenha sido incorporado e tenha perdido essa
externalidade própria — consideremos como o televisor reestruturou a
vida familiar —, torna-se praticamente impossível ser capaz de julgá-
lo. Não entendemos a vida sem ele porque não percebemos que ele
acabou transformando nossos gostos, nossos costumes e nosso modo
de pensar. Quando essa relação externa com o que nos rodeia é
subvertida, nós necessariamente perdemos a liberdade e autonomia
que nos são imprescindíveis para crescer como seres humanos.

A ideologia do progresso tecnológico: o


transumanismo
Na base do transumanismo, nós encontramos o desejo de superar as
limitações humanas mediante uma solução técnica que supere a
doença, a ignorância e a morte. Esse espírito ou ideologia da superação
por intermédio da tecnologia tem raízes em algo que nós
mencionamos em outra obra como o antecedente da desconstrução do
ser humano: a perda da nalidade, ou do sentindo teleológico, a que
todos os seus atos deveriam apontar. Entre os ideólogos que, no início
da modernidade, consumaram o espírito materialista e imanente,
assentando as bases para negar a natureza humana, encontramos
Descartes e Bacon, que não somente negam o sentido teleológico da
natureza humana como também ajudaram a transformar a visão do
mundo em algo que deveria ser aproveitado ao máximo mediante
técnica. 757 O resultado desse processo culminou nos problemas
ambientais que a Agenda 2030 denuncia e na Quarta Revolução
Industrial, de Klaus Schwab, embora de uma postura também
tecnicista, pois trata de solucionar os problemas tecnológicos com
mais tecnologia. Ou seja, os problemas práticos decorrentes da
tecnologia, por mais urgentes que sejam, não levam a sérios
questionamentos sobre a tecnologia como tal, mas, sim, a buscar uma
solução mediante uma nova tecnologia (pensemos nas
inadequadamente chamadas energias verdes, os veículos elétricos, a 
etc.). Sugerem-se soluções técnicas para todo problema, de caráter
humano pessoal, social, político ou ambiental. O problema das
consequências inesperadas da tecnologia (o impacto ambiental que
possa haver, por exemplo) é que, em vez de questionarem o projeto
tecnológico, elas não fazem mais do que fortalecê-lo, devido a esta
atitude do homem moderno: “Frear já não é mais uma opção, porque
[pensa-se que] agora mais do que nunca nós precisamos da tecnologia
do futuro para nos salvarmos dos perigos atuais [da tecnologia]”. 758
Isso é algo paradigmático com a  e os algoritmos: agora que muitos
dos seus perigos e consequências se tornam palpáveis, a tendência é
reagir com mais tecnologia: algoritmos que controlam algoritmos, 
para mitigar as consequências negativas da . 759

Essa mentalidade tecnicista pode chegar a extremos preocupantes. Se


o ser humano sofre de problemas psicológicos relacionados à
identidade pessoal, promove-se uma solução técnica que o destrói. As
incorretamente chamadas terapias de a rmação não são mais do que
uma conversão e transformação do ser humano mediante
bloqueadores hormonais, hormônios sintéticos para feminilizar ou
masculinizar o corpo humano, cirurgias de amputação de genitais e
mamas, e a construção, com uso de músculos extraídos de outras
partes do corpo, de algo que tente imitar um órgão sexual. 760 Essa
mentalidade técnica está tão enraizada na cultura que há quem
defenda tais “terapias” como a grande solução aos problemas humanos
e à busca de uma identidade. Isso é, novamente, postular uma solução
técnica para um problema de cunho psicológico: acomodar o corpo
aos sentimentos — inclusive se isso implica rejeição ao próprio corpo.

Nessa mesma linha, a transformação do ser humano sugerida pelo


transumanismo é uma continuação da tentativa de escapar das
limitações humanas. Se o progresso humano é medido em termos
tecnológicos, então, o objetivo do progresso humano equivale a se
transformar em pós-humanos ou transumanos, ou seja, uma espécie
de simbiose entre o ser humano e a tecnologia. É óbvio que o que está
em jogo é a negação da realidade de uma natureza humana. E se ter
um certo corpo, ser vulnerável, a própria mortalidade em si, não forem
mais do que características históricas e contingentes do ser humano?
Se nos libertamos dessas limitações, deixaremos de ser humanos? Uma
mulher deixa de ser mulher se terceirizar sua capacidade reprodutiva,
como sugeria Shulamith Firestone? 761 E se deixarmos de discernir,
escolher, de planejar nossas vidas para, em troca, entregarmos tudo à
, como propõe Campbell? 762 O que aconteceria se nos libertássemos
do jugo da responsabilidade humana?

Nenhuma dessas perguntas é paranoia de teoria da conspiração, mas


proposições do movimento tecnoideológico conhecido como
transumanismo, que poderia ser resumido em uma pergunta: Em que
o ser humano poderia se tornar por meio da tecnologia? Isso implica a
modi cação do corpo humano mediante tecnologia como intuito de
melhorá-lo (tornando-nos espécies de ciborgues), assim como a
substituição do corpo humano por um corpo tecnológico,
possibilidade sugerida pelo inventor e futurista Ray Kurzweil. Essa
transformação se denomina singularidade, ou seja, a situação que vai
ocorrer quando o progresso tecnológico chegar a tal ponto que
mudará dramaticamente o ser humano como o conhecemos. 763 Essa
hipótese, conforme apresentada, pode se tornar realidade graças aos
avanços tanto da inteligência arti cial quanto da neurotecnologia, que
possibilitariam que certas funções fossem substituídas pela inteligência
arti cial ou por uma inteligência biológica melhorada. 764 Por isso, a
extração de dados do ser humano é tão importante para tornar esse
projeto realidade.

Por que alguém iria querer melhorar o corpo humano por intermédio
de tecnologia ou, pelo menos, fundi-lo a ela? Porque, no fundo, não se
aceita que a limitação e a imperfeição sejam parte de nossa realidade
humana. Se o ser humano é imperfeito, vulnerável e mortal, então ele
deve ser aperfeiçoado pela tecnologia, a única fonte de progresso.
Assim, o progresso do ser humano dependerá do progresso em
tecnologias biomédicas e em inteligência arti cial. Estas, por sua vez,
precisam não só da enorme coleta de amostras genéticas da população,
como também do acompanhamento do funcionamento biológico do
corpo humano mediante o monitoramento constante de seu
funcionamento orgânico, conforme sugeriu o ideólogo transumanista
Yuval Harari, no Fórum Econômico Mundial, em janeiro de 2018.
Harari questionou não apenas se haverá humanos no futuro, mas
também a possibilidade de haver duas espécies distintas de seres
humanos. 765 A “evolução por seleção natural”, disse Harari, agora seria
substituída por uma “evolução por design inteligente”, não o de um
Deus, mas “o nosso design inteligente, o design inteligente de nossas
nuvens: a nuvem da , a da Microso, essas [que são] as novas
forças motrizes da evolução”. 766

Essa é uma evolução que quer dar a entender que não tem uma
nalidade especí ca, mas que, de fato, tem uma ideia de como deveria
ser o ser humano. Rejeita-se o natural pelo fato de não ser tecnológico,
mas, por sua vez, julga-se o ser humano segundo um padrão que não
tem relação com sua natureza, nem com o que signi ca sê-lo, pois está,
antes, fundamentado num “homem tecnológico”. Ou seja, um ser
humano que ainda não existe, mas aquele em quem devemos ansiar
nos transformar, segundo exige a lógica do progresso. O paradoxo é
que os que rejeitam as limitações humanas estão também rejeitando a
possibilidade de criatividade e liberdade em troca de uma falsa
liberdade tecnológica, contexto no qual tudo será baseado em dados e
algoritmos incompreensíveis, que tiranizarão o mundo em nome da
imortalidade. O novo homem talvez não vá morrer, mas o preço será
assassinar sua própria liberdade.

A busca de sentido
Para libertar a tecnologia de toda ordem e condicionamento ético,
conforme ocorreu com o advento da modernidade, era imprescindível
abraçar um ideal de progresso e romper com o fundamento da ordem
moral e política do Ocidente. É então que emergem a ideia de
progresso e uma nova forma de conceber a tecnologia. 767 A
consequência foi a substituição histórica da ideia de tradição pela de
progresso, revolução essa que signi cou muito mais do que crer que as
coisas melhorarão no futuro. Essa mudança acabou sendo uma
inversão fundamental de orientação da vida. O ser humano desde
então passaria a derivar o sentido de sua vida não de uma tradição e
um passado, mas do futuro que ainda não existe. 768 O homem
moderno se torna um ser progressista, futurista, parecendo inevitável
que o sofrimento mais profundo de que ele possa padecer sejam o
medo do fracasso e o terror de ser deixado de fora ou para trás nesse
processo de marcha rumo ao futuro. Num mundo transformado, a
tecnologia se converte inevitavelmente na força orientadora e
inspiradora.

Essa subversão da ordem moral tem consequências inevitáveis na


ordem política: uma vez que “Deus está morto”, ou seja, uma vez ele foi
deslocado como fundamento da ordem moral e política, foi o Estado
que tomou seu lugar, como bem notou Chesterton. 769 Hoje, Deus e
Estado são substituídos pelo Google, pelos dados, pela , pela
tecnologia, pela nuvem. 770 O caso da China parece ir nesta direção: a
engenharia social mediante os dados e algoritmos, conforme vimos no
capítulo . Para o transumanismo, não é que “Deus está morto”, é que
a tecnologia em si é Deus, algo que podemos inferir das palavras de
Harari, citadas mais acima. Em nome da liberdade, o ser humano se
despojou de todo regramento moral, inclusive de sua própria natureza,
para abraçar o relativo, no entanto o resultado paradoxalmente
termina sendo o controle total, que lhe nega a própria autonomia e
liberdade. Segundo o dizer de Byung Chul-Han, “o homem não está
mais no comando de si mesmo, em vez disso, ele é o resultado de uma
operação algorítmica que o controla sem que ele perceba”. 771 “A tirania
dos algoritmos”, proposta por Miklos Lukacs. 772

Graças à própria constituição psicológica, contudo, o ser humano não


pode viver sem sentido. O progressista, então, encontrará signi cado
em seu contato com o futuro, embora este ainda não seja realidade.
Isso ocorre porque o sentido de sua vida será satisfeito pela tecnologia,
pelo menos enquanto esta for concebida como a coisa mais próxima
do futuro. É interessante como a literatura e as produções
cinematográ cas precisam se ajustar a essa visão e apresentar o futuro
como algo tecnologicamente avançado — se assim não fosse, não seria
futuro. Até mesmo o gênero apocalíptico, no qual o mundo tal como o
conhecemos foi apagado da face da terra, inclui elementos
tecnológicos que lhe dão impressão de futuro. A tecnologia é o futuro
e, como tal, portanto, é sempre concebida como algo bom porque, de
outra maneira, não seria progresso... O avançado é bom, a mudança é
boa, o tornar-se é o progresso, o que ca para trás é mau. E isso se
aplica não somente à tecnologia, mas também a outros elementos
próprios da pós-modernidade, como a busca por identidade própria,
agora baseada em características secundárias próprias do tornar-se:
não apenas há dezenas de gêneros, mas também a autopercepção em
um gênero não fecha a porta da possibilidade do gênero uido,
embora seja algo em si mesmo contraditório (sugere-se que a
identidade de gênero seja algo mais profundo, constitutivo,
aparentemente imóvel, embora, por sua vez, essa identidade possa ser
mutável...). 773 E é a tecnologia que deve auxiliar no projeto de
autoconstrução e libertação de normas heteronormativas, o qual
também toma a forma de uma ideologia política que põe aquilo que é
pessoal sob o controle do Estado, a nal, “o que é pessoal é político”. 774
Assim, a rmar a realidade da natureza humana, da identidade pessoal,
dos valores, de uma tradição, e rebelar-se contra as mudanças sociais
impostas pelo projeto secular e pelas políticas estatais é concebido
como “atraso”, retrocesso, um voltar atrás nos “direitos conquistados”,
ou seja, é algo considerado ruim e politicamente incorreto segundo a
lógica progressista. Paradoxalmente, onde tudo é relativo, a tolerância
do projeto do outro vira um princípio moral fundacional, contudo isso
ocorre somente enquanto esse projeto se encaixar dentro da orientação
progressista da vida. Do contrário, não deve ser tolerado.

Dessa perspectiva, vemos como a tecnologia não pode ser algo


meramente neutro, já que a revolução tecnológica da modernidade
está intimamente ligada a uma revolução existencial, que derrubou a
ordem existencial mediante uma revolução moral e política. Com essa
forte guinada, a tecnologia deixa de estar a serviço do ser humano e se
coloca no centro não apenas do sistema político e econômico, mas
também de toda a estrutura que pretende dar sentido e propósito à
vida do homem moderno, mesmo quando um sentido transcendente
já tenha sido eliminado e substituído por uma esfera pública neutra e
secular, até mesmo multicultural, em que as particularidades
transcendentes são relegadas à vida privada e as particularidades
imanentes se transformam em política pública. Isso é algo que ca em
evidência não apenas pela “orientação negativa” do ser humano,
mencionada mais acima, mas também pelo fato de que, com a
modernidade, acabamos deixando de lado não somente Deus como
fundamento da realidade, mas também qualquer outro tipo de âncora
fundamental: a realidade de que somos seres humanos racionais e,
juntamente com essa noção de ser humano, a noção de um padrão
racional do bem, de felicidade humana a que todo homem
naturalmente tende. Segundo Santo Tomás de Aquino, o primeiro
princípio da vida moral é buscar e fazer o bem e evitar o mal. 775 Dessa
perspectiva moral, a tecnologia nunca seria concebida sem nenhum
tipo de regra ou norma porque ela seria sempre julgada em relação ao
bem do próprio ser humano. A contemplação é concebida como um
m muito mais sublime do que o mero utilitarismo que a tecnologia
pode acarretar e que se apresenta, em sua manifestação mais baixa,
como a salvação necessária para satisfazer o prazer humano. Na
modernidade, contudo, a felicidade consiste na satisfação progressiva
do desejo, negando, como manifesta Hobbes, toda possibilidade de
alcançar um m último e um bem supremo. 776 Não é por acaso que,
nesse período, o utilitarismo como sistema moral tenha terminado se
impondo sobre qualquer outra concepção moral. O único que existe é
um movimento progressivo, que consiste em satisfazer todo desejo,
um atrás do outro. 777

Aqui é necessário notar, então, como o objetivo da vida humana já


não é a felicidade, mas o prazer efêmero e constante oriundo de
experiências que se sucedam uma após a outra. Já não existe mais o
repouso de uma felicidade que surge do contemplar, mas uma espécie
de frenesi fruto de um desejo que nunca se satisfaz, pois não há nada
que se esperar. A busca do bem, então, é substituída pela fuga do mal.
E aí se entenderá melhor a progressiva transformação para uma
orientação humana que é meramente negativa: evitar a doença, a dor e
a morte; todos esses elementos que de nem o transumanismo como
uma escapatória de nossa realidade, chegando agora a ser uma
possibilidade graças à tecnologia. O sentido da vida, então, é
tergiversado completamente pela mentalidade progressista. Agora, o
progresso será medido de maneira negativa, ou seja, em relação ao que
se entende como um triunfo sobre o mal, sobre o incômodo e sobre as
penúrias da natureza. O progresso é meramente materialista, uma
espécie de sonho americano, mas que não consiste tanto no
crescimento pessoal, mas, sim, em quão longe a pessoa está de suas
di culdades materiais. No entanto, essa “orientação negativa” da vida
característica das sociedades tecnológicas acarreta um problema
existencial aparentemente inevitável.
Como o progresso tecnológico parece haver eliminado as penúrias e
necessidades reais da vida, essa “orientação negativa” parece perder
força e, com ela, o próprio sentido da existência humana: já não há
males dos quais fugir e com cujo combate se obtenha sentido para a
frustração e para o vazio existencial do homem contemporâneo. Por
isso, como o que era entendido como “mal” foi superado, é necessário
encontrar novos males para ocuparem seu lugar e, assim, dar sentido à
existência. Talvez seja essa a razão por que os que cresceram com
absoluto conforto e num vazio existencial resultante da destruição
cultural hodierna necessitam encontrar novos monstros para darem
sentido a seu ser: o patriarcado, a crise ambiental, a mudança
climática, a superpopulação mundial, a opressão das minorias, o
racismo estrutural... 778 O progressismo, então, se rede ne nos termos
do ativismo social contra esses males dos quais se pretende fugir, todos
eles convertidos em ideologias políticas: combater a mudança
climática, salvar o planeta — o que implica não ter lhos porque são
sua maior ameaça —, dirigir um veículo elétrico, ser inclusivo, diverso
e tolerante — ou seja, ser intolerante com os que não defendem o
dogma do politicamente correto —, ser antirracista, anti-hispanidade
(no caso latino-americano), antigenocídio cultural e toda uma série de
condutas enquadradas dentro da nova moral da ideologia woke. 779

O principal problema de fundo nessa virada tecnológica do ser


humano está ncado em dois dos temas mencionados mais acima: a
ideia do progresso e a subordinação do ser humano a ele, o qual se
manifesta numa rejeição do m último e da ideia de bem, além da
inversão metafísica que leva a subordinar os ns aos meios.
Inevitavelmente, essas coisas parecem afundar o ser humano num
estado de desespero, próprio de quem se dá conta de que nada tem
sentido. Somente num contexto assim pode surgir uma caverna digital
como escapatória à dura realidade do ser humano. Hoje, o que
começou com a televisão é exacerbado com os serviços de streaming e
a possibilidade de se intoxicar maratonando uma série, com a
realidade aumentada e virtual prometida pelo metaverso, com os
videogames, que levam a pessoa a se separar completamente da
realidade e até mesmo a perder tudo por causa de uma adicção, ou
com a intoxicação psicológica das redes sociais, algo manifesto nos
altos níveis de depressão, ansiedade, angústia, solidão e danos
autoin igidos entre a população adolescente. Todos esses são sintomas
de um vazio característico de quem perdeu o sentido da vida.

Como sair disso? É hora de ligar o cérebro e começar a pensar e a


repensar por que deixamos de lado aquilo que dá um profundo
sentido a nossas vidas, por que nós caímos nessa ditadura do
relativismo, que não conseguiu nada além de esvaziar o espírito
humano e imergi-lo num estado de degra dação moral e intelectual
sem precedentes. Para isso ocorrer, contudo, é necessário se despojar
dessa atitude soberba do homem moderno, que vê com desdém o
passado e a tradição. Somente quem tiver a humildade de reconhecer
que não sabe nada poderá olhar para o passado, especialmente esse
passado que antecedeu a revolução tecnológica. Talvez os pensadores
de outrora tenham algo fundamental para nos ensinar, mas, se
quisermos nos aprofundar no pensamento deles, não os
encontraremos no Instagram ou no TikTok, mas nos livros. Somente
nos livros você vai aprender a ligar o cérebro que a tecnologia só
consegue desligar.


D emostrado,
maneira especial, devo agradecer a meus pais por terem me
com o exemplo, que era possível viver uma vida sem a
in uência da televisão, e a meus irmãos por terem me acompanhado
nessa aventura.

A toda a equipe da HarperCollins, em especial a Matthew McGhee,


por me incentivar a escrever este livro, por sua orientação,
compreensão e, em especial, por sua amizade, e a Agustín Lage, por
compartilhar sua amizade e por ter me recomendado à editora.
A Miklos Lukacs, amigo e mestre, que me fez ver a importância da
variável tecnológica.

A meus outros grandes companheiros de batalha, especialmente a


Nicolás Márquez, ao Pe. Javier Olivera Ravasi e ao Pe. Ariel Pasetti,
este que foi o primeiro a ouvir sobre o projeto que eu tinha em mente e
me deu bons conselhos.

Quero agradecer aos quase 600 autores que eu cito nesta obra. Por
tudo o que aprendi com eles e por suas contribuições sobre a
problemática das tecnologias, sem as quais este livro não teria sido
possível.

A todos os que me apoiaram comprando os meus outros livros, vocês


foram os que chamaram a atenção das grandes editoras.

A todos os meus grandes amigos que me apoiaram pelas redes


sociais, em especial aos assinantes do Patreon e do YouTube, que
tornaram possível poder continuar com este trabalho, assim como a
todos os que organizaram tours e conferências todos estes anos.
Obrigado!


, Michelle; , Anna C. K. van; ,
Mara van der; , Saskia; -, Marian J.;
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1 Marshall McLuhan, Comprender los medios de comunicación: las extensiones del ser
humano. Barcelona: Paidós, 2009, cap. 1.

2 Rana Foroohar, “Superstar companies also feel the threat of disruption”, in Financial
Times, 21 de outubro de 2018, disponível em https://www. .com/content/fd2016f4-d3a5-11e8-
a9f2-7574db66bcd5, acessado em 28 de outubro de 2023.

3 Jeff Desjardins, “How Google retains more than 90% of market share”, in Business Insider,
23 de abril de 2018, disponível em https://www.businessinsider.com/how-google-retains-more-
than-90-of-market-share-2018-4?op=1, acessado em 28 de outubro de 2023.

4 Brian Dean, “Facebook demographic statistics”, in Backlinko, 5 de janeiro de 2022,


disponível em https://backlinko.com/facebook-users, acessado em 28 de outubro 2023.

5 Sarah Sluis, “Digital ad market soars to $88 billion, Facebook and Google contribute 90%
of growth”, in AdExchanger, 10 de maio de 2018, disponível em
https://www.adexchanger.com/online-advertising/digital-ad-market-soarsto-88-billion-
facebook-and-google-contribute-90-of-growth/, acessado em 28 de outubro de 2023.

6 James Vincent, “99.6 percent of new smartphones run Android or iOS”, in e Verge, 16 de
fevereiro de 2017, disponível em https://www. theverge.com/2017/2/16/14634656/android-ios-
market-share-blackberry-2016, acessado em 28 de outubro de 2023.

7 James Anthony, “74 Amazon statistics you must know: 2021/2022 market share analysis &
data”, in Finances Online, 14 de janeiro de 2022, disponível em
https:// nancesonline.com/amazon-statistics, acessado em 28 de outubro de 2023.

8 Vanessa Page, “What is Amazon web services and why is it so successful?”, in Investopedia,
12 de agosto de 2021, disponível em https://www.
investopedia.com/articles/investing/011316/what-amazon-web-services-andwhy-it-so-
successful.asp, acessado em 28 de outubro de 2023.

9 Michael J. Mauboussin, “e incredible shrinking universe of stocks”, in Credit Suisse, 22


de março de 2017, disponível em https://www.
shareholderforum.com/access/library/20170322_Mauboussin-Callahan-Majd. pdf, acessado em
28 de outubro de 2023.

10 Kevin Kelleher, “.. Companies are hoarding more and more cash overseas”, in Fortune,
5 de agosto de 2022, disponível em https://fortune.com/2022/08/05/us-companies-cash-
overseas-tax-incentives/, acessado em 28 de outubro de 2023.

11 Personagem do romance 1984, de George Orwell. Denota vigilância e controle


autoritários. Aqui, portanto, simboliza o abuso de poder por plataformas tecnológicas — .
12 Shoshana Zuboff, e age of surveillance capitalism. Nova York: Public Affairs, 2019. [Em
português, A era do capitalismo de vigilância, trad. George Schlesinger. Rio de Janeiro:
Intrínseca, 2021 — ].

13 Rod Dreher, Live not by lies: a manual for christian dissidents. Madri: Encuentro, 2021,
cap. . [Em português, Não viva uma mentira: um manual para dissidentes cristãos, trad.
Alberto Gassul. Rio de Janeiro: Alta Books, 2023 — ].

14 Shulamith Firestone, La dialéctica del sexo: em defensa de la revolución feminista.


Barcelona: Kairós, 1976, p. 222.

15 Sobre a ideologia de gênero, ver: Pablo Muñoz Iturrieta, Atrapado en el cuerpo


equivocado: la ideología de género frente a la ciencia y la losofía. 2. ed. Ontário: Metanoia
Press, 2020. Quanto ao reset cultural, eu trato do assunto em: Pablo Muñoz Iturrieta, Las
mentiras que te cuentan, las verdades que te ocultan. Ontário: Metanoia Press, 2021. A
apresentação mais completa do problema do transumanismo e das novas tecnologias é talvez:
Miklos Lukacs de Pereny, Neo entes: tecnología y cambio antropológico en el siglo 21. Cidade
do México: Kabod Ediciones, 2022.

16 Firestone sinaliza que a palavra mudança é pequena demais para uma proposta tão
grande, portanto, revolução seria uma palavra mais apropriada (Shulamith Firestone, La
dialéctica del sexo: em defensa de la revolución feminista. Barcelona: Kairós, 1976, p. 9).

17 Steven Levy, “All eyes on Google”, in Newsweek, 4 de novembro 2004, disponível em


https://www.newsweek.com/all-eyes-google-124041, acessado em 29 de outubro de 2023.

18 Pablo Muñoz Iturrieta, Las mentiras que te cuentan, las verdades que te ocultan. Ontário:
Metanoia Press, 2021, p. 249.

19 Como parte de um processo de rebranding, em julho de 2023, o Twitter passou a se


chamar .

20 Marguerite Ward & Allana Akhtar, “Bill Gates and Steve Jobs raised their kids with
limited tech: and it should have been a red ag about our own smartphone use”, in Insider, 15
de maio de 2020, disponível em https://www.businessinsider.com/screen-time-limits-bill-gates-
steve-jobs-red ag-2017-10, acessado em 29 de outubro de 2023.

21 Nick Bilton, “Steve Jobs was a low-tech parent”, in e New York Times, 11 de setembro
de 2014, disponível em https://www.nytimes. com/2014/09/11/fashion/steve-jobs-apple-was-a-
low-tech-parent.html, acessado em 29 de outubro de 2023.

22 Emily Retter, “Billionaire Tech Mogul Bill Gates Reveals he banned his children from
mobile phones until they turned 14”, in Mirror, 27 de junho de 2018, disponível em
https://www.mirror.co.uk/tech/billionaire-techmogul-bill-gates-10265298, acessado em 29 de
outubro de 2023.

23 Tim Bradshaw, “Snap’s chief Evan Spiegel: taming tech and ghting with Facebook”, in
Financial Times, 28 de dezembro de 2018, disponível em https://www..com/content/fdfe58ec-
03a7-11e9-9d01-cd4d49abe3, acessado em 29 de outubro de 2023.
24 David Gelles, “Sundar Pichai of Google: ‘Technology Doesn’t Solve Humanity’s
Problems’”, in e New York Times, 8 de novembro de 2018, disponível em
https://www.nytimes.com/2018/11/08/business/ sundar-pichai-google-corner-office.html,
acessado em 29 de outubro de 2023.

25 Adam Alter, Irresistible: ¿quién nos ha convertido en yonquis tecnológicos? Barcelona:


Paidós, 2018, p. 10. [Em português, algo como “Irresistível: quem nos transformou em
viciados?” — ].

26 Miklos Lukacs, “La tirania de los algoritmos”, in Pandemonium ¿De la pandemia al


control total?, editado por Carlos Beltramo & Carlos Polo Samaniego. Front Royal: Population
Research Institute, 2020, pp. 45–56. [Em português, algo como “Pandemônio: da pandemia ao
controle total?” — ].

27 São Simão, o estilita, foi um monge de ns do século  que passou 37 anos em penitência
sobre uma coluna próximo a Alepo, Síria. Em grego, coluna se diz στυλος (stilos), daí a alcunha
do asceta.

28 A introdução da variável tecnológica no debate público é mérito de Miklos Lukacs, o


qual, a partir de 2016, começou a alertar sobre a incidência cultural e política da chamada
Quarta Revolução Industrial.

29 Em julho de 2022, uma falha no sistema da Rogers Communications Inc. provocou o


colapso não somente da rede de internet e telefonia da empresa, mas também de todos os
serviços digitais do governo do Canadá e de companhias como a Interac, a rede interbancária
que conecta os bancos aos caixas eletrônicos e às empresas canadenses que aceitam pagamentos
com cartão de crédito. Cf. Ana Paula Barreto Pereira, “Rogers Apologizes as Network Collapse
Paralyzes Canadian Business, Consumers”, in Bloomberg, 8 de julho de 2022, disponível em
https://www.bloomberg.com/news/ articles/2022-07-08/banks-payments-hit-as-canada-s-
rogers-suffers-networkfailure, acessado em 1 de novembro de 2023.

30 Em grego, tékhnē (τέχνη) signi ca arte, habilidade, o método para fazer algo. Daí é que
vem a palavra técnico (τεχνικός), aquele que tem a habilidade de fazer alguma coisa, e a palavra
arquitetura, em referência aos princípios da construção, bem como a palavra texto, em
referência à escrita. A segunda parte, logos (λόγος), refere-se a discurso, tratado, doutrina,
teoria, ciência. Cf. Henry George Liddell & Robert Scott, Greek-English Lexicon (abridged).
Oxford: Clarendon Press, 1929, pp. 416–417, pp. 702–703.

31 Real Academia Española, Diccionario de la lengua española. 23. ed. Madri: , 2014,
disponível em https://dle.rae. es, acessado em 6 de novembro de 2023.

32 Na natureza, podemos observar uma grande quantidade de espécies que “constroem”


artefatos com grande perícia: abelhas que fazem colmeias, castores que cortam árvores para
arquitetar grandes represas, ou andorinhas que elaboram so sticados ninhos, ainda que não do
mesmo tamanho que o do joão-de-barro, cujo ninho é superior. No entanto, nenhuma dessas
espécies criou ferramentas e sistemas para facilitar a tarefa, uma vez que estas são, antes,
guiadas pelo instinto natural.

33 Aristóteles, Ética nicomáquea. Madri: Gredos, 2011, cap. , pp. 1139a5–15.
34 Ibid., cap. , pp. 1145a35–b5.

35 Ibid., cap. , pp. 1144a7–8.

36 Ibid., cap. , pp. 1139–1140.

37 Aristóteles, Física. Madri: Consejo Superior de Investigaciones Cientí cas, 2022, vol. ,
cap. 8, p. 199a15.

38 Ibid., vol. , cap. 1. Junto a isso, há uma grande discussão a respeito da duração e da
efetividade do que é produzido pelo homem e do que é produzido pela natureza; por exemplo, a
imunidade recebida de uma vacina termina perdendo efetividade em comparação com a
imunidade natural.

39 Aristóteles, “Tópicos”, in Tratados de lógica. Madri: Gredos, 2007, pp. 145a15–16;


Aristóteles, Ética nicomáquea. Madri: Gredos, 2011, pp. 1139a26-28; pp. 1141b29-32. Embora
Aristóteles não classi que a lógica dentro de nenhuma das ciências, podemos inferir que, por se
tratar da arte de pensar, ela subjaz a todas as ciências, já que é o guia do processo de
argumentação e explicação.

40 A divisão em quatro categorias é tomada de Nicholas Carr, e shallows: what the


internet is doing to our brains. Nova York: W. W. Norton & Company, 2010, p. 63.

41 “Iron Dome” (“Cúpula de Ferro” em português) é um sistema israelense de defesa


antimíssil destinado a interceptar e neutralizar foguetes de curto alcance e projéteis de artilharia
em voo, integrando a defesa aérea de Israel — .

42 Texto tem a mesma raiz que tecnologia. Ver a nota 28.

43 Miklos Lukacs de Pereny, Neo entes: tecnología y cambio antropológico en el siglo 21.
Cidade do México: Kabod, 2022, pp. 93–94.

44 William Sims Bainbridge & Mihail C. Roco, Converging technologies for improving
human performance: nanotechnology, biotechnology, information technology and cognitive
science. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, 2003.

45 Essa combinação de tecnologias se denomina , sigla que faz referência às tecnologias
baseadas na unidade de medida nano (na escala atômica), na biotecnologia, na informação e na
dimensão cognitiva. Cf. William Sims Bainbridge & Mihail C. Roco, Converging technologies
for improving human performance: nanotechnology, biotechnology, information technology
and cognitive science. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, 2003, pp. 1-3.

46 A biologia sintética se refere à construção de novas entidades biológicas e de circuitos


genéticos e ao redesenho de sistemas biológicos por meio do emprego de algoritmos evolutivos
e da combinação de diversos tecidos biológicos. Cf. Paul Oldham, “Synthetic Biology: mapping
the scienti c landscape”, in PloS One, vol. 7, n. 4, 2012, p. e34368.

47 É nesse sentido que Miklos Lukacs aponta os problemas das tecnologias convergentes
com aplicações e ns reprodutivos. Ver Miklos Lukacs de Pereny, Neo entes: tecnología y
cambio antropológico en el siglo 21. Cidade do México: Kabod Ediciones, 2022.
48 Klaus Schwab, La cuarta revolución industrial. Barcelona: Debate, 2017; Klaus Schwab &
ierry Malleret, -19: el gran reinicio. Nova York: Forum Publishing, 2020.

49 John Maynard Keynes, Essays in Persuasion. Nova York: W. W. Norton & Co., 1963, pp.
358–373. [Em português, Ensaios em Persuasão, trad. Ana Sampaio. Lisboa: Imprensa da
Universidade de Lisboa, 2019 — ].

50 Ha-Joon Chang, 23 things they don’t tell you about capitalism. Londres: Allen Lane, 2010,
pp. 72–82. [Em português, 23 coisas que não nos contaram sobre o capitalismo, trad. Claudia
Gerpe Duarte. São Paulo: Cultrix, 2013 — ].

51 Mark Aguiar & Erik Hurst, “Measuring trends in leisure: the allocation of time over ve
decades”, in Federal Reserve Bank of Boston, vol. 6, n. 2, 2006.

52 Peter Williams, Social process, and the city. Londres: Allen & Unwin, 1983.

53 O sueco Hans Rosling, um reconhecido médico, assegura que a maior invenção da


Revolução Industrial foi a máquina de lavar, introduzida em sua casa quando tinha apenas 4
anos. A máquina de lavar liberou sua mãe de uma tarefa extenuante, dando-lhe mais tempo
para ler livros para seus lhos. Cf. Hans Rosling, “e Magic Washing Machine”, in TedTalks,
2010, disponível em https://www.ted.com/talks/hans_rosling_the_magic_washing_ machine,
acessado em 10 de novembro de 2023.

54 Na Europa, a comercialização de refrigeradores elétricos começou em 1931, ao passo que,


na Argentina, os primeiros modelos chegaram ao mercado em 1937 e, no México, em 1952.

55 Platão, Fedro: obras completas, ed. Patricio de Azcárate. Madri, 1871, vol. 2, pp. 340–341.
[Tradução para o português retirada de Platão, Fedro, trad. Edison Bini e Albertino Pinheiro.
São Paulo: Folha de São Paulo, 2010. (Coleção Livros que Mudaram o Mundo) — ].

56 Antonio Alegre Gorri, “Platón, el creador de las ideas”, in Platón: diálogos, ed. Carlos
García Gual. Madri: Gredos, 2018, p. . Daí, por exemplo, a grande di culdade com que se
deparam os programas de educação virtual para crianças e adolescentes, que não conseguem
desenvolver certas qualidades humanas.

57 Inclusive, alguns, como ocorreu a Biden, para vergonha nacional leem até mesmo as
indicações dentro do texto: “[repetir duas vezes], [pausa], [repetir novamente], [ m de texto]”.

58 Ibid., p. 342.

59 Guillermo Fraile, Historia de la Filosofía: Grecia y Roma. Madri: , 1997, vol. 1, p. 414.

60 William Keith Chambers Guthrie, A History of Greek Philosophy: Plato, the man and his
dialogues, earlier period. Cambridge: Cambridge University Press, 1977, vol. , p. 58.

61 Embora os fenícios já tivessem elaborado um alfabeto muitos séculos antes disso, este não
tinha todos os sons de vogais e consonantes. Cf. John K. Papadopoulos, “e early History of
the Greek alphabet: new evidence from Eretria and Methone”, in Antiquity, vol. 90, n. 353,
2016, pp. 1238–1254; Jean Bottéro, Ancestor of the west: writing, reasoning, and religion in
Mesopotamia, Elam, and Greece. Chicago: University of Chicago Press, 2000.
62 Marshall McLuhan, Comprender los medios de comunicación: las extensiones del ser
humano. Barcelona: Paidós, 2009, p. 43.

63 Michal Ben-Shachar, “e Development of Cortical Sensitivity to Visual Word Forms”, in


Journal of Cognitive Neuroscience, vol. 23, n. 9, 2011, pp. 2.387–2.399; Alexandre Castro-
Caldas, “e illiterate brain: learning to read and write during childhood in uences the
functional organization of the adult brain”, in Brain, vol. 121, n. 6, 1998, pp. 1053–1063; Piers L.
Cornelissen, e Neural Basis of Reading. Oxford: Oxford University Press, 2010.

64 Isso também se manifesta na cultura simbólica tão característica do Medievo. Cf.: Marcia
L. Colish, e mirror of language: a study in the Medieval theory of knowledge. Lincoln:
University of Nebraska Press, 1983.

65 Maryanne Wolf, Proust, and the squid: the story and science of the reading brain. Nova
York: Harper Perennial, 2008, pp. 142–146

66 Frederick G. Kilgour, e evolution of the book. Nova York: Oxford University Press,
1998, pp. 84–93.

67 Agustín Laje, La batalla cultural: re exiones críticas para una Nueva Derecha. Cidade do
México: Harper Collins México, 2022, p. 170.

68 Nicholas Carr, e shallows: what the internet is doing to our brains. Nova York: W. W.
Norton & Company, 2010, p. 95.

69 Ibid., p. 129 e p. 146.

70 Augustín Laje, La batalla cultural: re exiones críticas para una Nueva Derecha. Cidade do
México: Harper Collins México, 2022, p. 271.

71 É notável como, na transição para a modernidade, foram perdidos os sistemas técnicos de


memorização pelos quais era possível recordar livros inteiros, como a famosa técnica do palácio
da memória. Cf. Jonathan D. Spence, El palacio de la memoria de Matteo Ricci: un jesuita en la
China del siglo . Barcelona: Tusquets, 2002. [Em português, O palácio da memória: a
história de uma viagem da Europa da contrarreforma à China da dinastia Ming, trad. Denise
Bottmann. São Paulo: Companhia das Letras, 1986 — ].

72 Marshall McLuhan, Comprender los medios de comunicación: las extensiones del ser
humano. Barcelona: Paidós, 2009, pp. 186–187.

73 Jacob Weisberg, “Weisberg: in defense of the Kindle”, in Newsweek, 20 de março de 2009.

74 Anastasia Kononova & Yi-Hsuan Chiang, “Why do we multitask with Media? Predictors
of media multitasking among internet users in the United States and Taiwan”, in Computers in
Human Behavior, vol. 50, 2015, pp. 31–41; Victoria Rideout & Michael B. Robb, e common
sense census: media use by tweens and teens. São Francisco: Common Sense Media, 2019.

75 Jean M. Twenge, “Trends in .. Adolescents’ Media use, 1976–2016: the rise of digital
media, the decline of , and the (near) demise of print”, in Psychology of Popular Media
Culture, vol. 8, n. 4, 2019, pp. 329–345; Emily A. Vogels, “Teens, social media and technology
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https://www.pewresearch.org/internet/2022/08/10/teens-social-media-and-technology-2022/,
acessado em 10 de novembro de 2023.

76 O uso de redes sociais no Chile alcançou a marca de 92,8% de sua população. No


Uruguai, 90,2% de seus habitantes são usuários ativos desse tipo de plataformas de
comunicação online. Cf. Statista Research Department, “Tasa de penetración de las redes
sociales en América Latina y el Caribe en enero de 2023, por país”, in Statista, junho de 2023,
disponível em https:// es.statista.com/estadisticas/1073796/alcance-redes-sociales-america-
latina, acessado em 10 de novembro de 2023.

77 Barbara Booth, “Internet Addiction Is Sweeping America, Affecting Millions”, in , 29


de agosto de 2017, disponível em https://www.cnbc.com/2017/08/29/us-addresses-internet-
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78 Nicholas Carr, Super ciales: ¿qué está haciendo Internet con nuestras mentes? Barcelona:
Debolsillo, 2018, cap. 7.

79 J. Firth, “e ‘online brain’: how the internet may be changing our cognition”, in World
Psychiatry, vol. 18, n. 2, 2019, pp. 119–129.

80 Arne May, “Neuroplasticity changes in grey matter induced by training”, in Nature, vol.
427, n. 6972, 2004, pp. 311–312.

81 Mark Hallett, “Neuroplasticity and rehabilitation”, in Journal of Rehabil itation Research


and Development, vol. 42, n. 4, 2005, pp. – ; Alvaro Pascual-Leone, “e plastic human
brain cortex”, in Annual Review of Neuroscience, vol. 28, n. 1, 2005, pp. 377–401.

82 Lee Osterhout, “Second-language learning and changes in the brain”, in Journal of


Neurolinguistics, vol. 21, n. 6, 2008, pp. 509–521; Jan Scholz, “Training induces changes in
white-matter architecture”, in Nature Neuroscience, vol. 12, n. 11, 2009, pp. 1370–1371; Bogdan
Draganski, “Temporal and Spatial Dynamics of Brain Structure Changes during Extensive
Learning”, in e Journal of Neuroscience, vol. 26, n. 23, 2006, pp. 6314–6317.

83 Joseph E. LeDoux, Synaptic self: how our brains become who we are. Nova York: Viking,
2002, pp. 49–64.

84 Alvaro Pascual-Leone, “e plastic human brain cortex”, in Annual Review of


Neuroscience, vol. 28, n. 1, 2005, p. 396.

85 Raymond Levy, “Aging-associated cognitive decline”, in International Psychogeriatrics,


vol. 6, n. 1, 1994, pp. 63–68.

86 Feng Zhou, “Orbitofrontal gray matter de cits as marker of internet gaming disorder:
converging evidence from a cross-sectional and prospective longitudinal design”, in Addiction
Biology, vol. 24, n. 1, 2019, pp. 100–109; Simone Kühn & Jürgen Gallinat, “Brains online:
structural and functional correlates of habitual internet use”, in Addiction Biology, vol. 20, n. 2,
2015, pp. 415–422.
87 Tomáš Paus, “Mapping brain maturation and cognitive development during Adolescence”,
in Trends in Cognitive Sciences, vol. 9, n. 2, 2005, pp. 60–68; Elizabeth R. Sowell, “In vivo
evidence for post-adolescent brain maturation in frontal and striatal regions”, in Nature
Neuroscience, vol. 2, n. 10, 1999, pp. 859–861; Elizabeth R. Sowell, “Mapping cortical change
across the human life span”, in Nature Neuroscience, vol. 6, n. 3, 2003, pp. 309–315.

88 , “Estudio preliminar: los chicos ‘gamers’ tendrían un mejor rendimiento cognitivo”,
La Nación, Buenos Aires, 24 de outubro de 2022, disponível em
https://www.lanacion.com.ar/sociedad/ estudio-preliminar-los-chicos-gamers-tendrian-un-
mejor-rendimiento-cognitivo-nid24102022, acessado em 10 de novembro de 2023.

89 Bader Chaarani, “Association of Video Gaming with Cognitive Performance among


Children”, in jama Network Open, vol. 5, n. 10, 2022, p. e2235721.

90 Ibid., p. e2235721.

91 Ben Bajarin, “Apple’s penchant for consumer security”, in Vox, 20 de abril de 2016,
disponível em https://www.vox.com/2016/4/20/11586270/apples-penchant-for-consumer-
security, acessado em 10 de novembro de 2023. Esse número de 2016 se repetiu em 2018, a
última data de publicação desses dados. Cf.: L. Ceci, “Average unlocks per day among
smartphone users in the United States as of August 2018, by Generation”, in Statista, 18 de
janeiro 2022, disponível em https://www.statista.com/statistics/1050339/average-un locks-per-
day-us-smartphone-users/#statisticContainer, acessado em 10 de novembro de 2023.

92 e  Group, “2022 mobile gaming report”, in ndp, 2022, disponível em


https://www.npd.com/industry-expertise/video-games, acessado em 10 de novembro de 2023.

93 omas D. W. Wilcockson, “Determining typical smartphone usage: what data do we


need?”, in Cyberpsychology, Behavior and Social Networking, vol. 21, n. 6, 2018, pp. 395–398.

94 Termo cunhado em Marc Prensky, “Digital natives, digital immigrants: Part 2: do they
really think differently?”, in On the Horizon, vol. 9, n. 6, 2001, pp. 1–6.

95 Naomi S. Baron, Always on: language in an online and mobile world. Oxford: Oxford
University Press, 2008, p. 204.

96 Jillian Warren, “is is how the instagram algorithm works in 2022”, in Later, 21 de junho
de 2022, disponível em https://later.com/blog/how-instagram-algorithm-works/, acessado em
10 de novembro de 2023.

97 omas D. W. Wilcockson, “Determining typical smartphone usage: what data do we


need?”, in Cyberpsychology, Behavior and Social Networking, vol. 21, n. 6, 2018, pp. 395–398.

98 Antti Oulasvirta, “Habits make smartphone use more pervasive”, in Personal and
Ubiquitous Computing, vol. 16, n. 1, 2012, pp. 105–114; Samuel M. McClure, “Separate neural
systems value immediate and delayed monetary rewards”, in Science, vol. 306, n. 5695, 2004, pp.
503–507.

99 Kep Kee Loh & Ryota Kanai, “How has the internet reshaped human cognition?”, in e
Neuroscientist, vol. 22, n. 5, 2016, pp. 506–520.
100 Eyal Ophir, “Cognitive control in media multitaskers”, in Proceedings of the National
Academy of Sciences, vol. 106, n. 37, 2009, pp. 15.583– 15.587.

101 Leo Yeykelis, “Multitasking on a single device: arousal and the frequency, anticipation,
and prediction of switching between media content on a computer”, in Journal of
Communication, vol. 64, n. 1, 2014, pp. 167– 192.

102 Kep Kee Loh & Ryota Kanai, “Higher media multi-tasking activity is associated with
smaller gray-matter density in the anterior cingulate cortex”, in PloS One, vol. 9, n. 9, 2014, p.
e106698.

103 Chris Stokel-Walker, “TikTok wants longer videos — whether you like it or not”, in
Wired, 21 de fevereiro de 2022, disponível em https://www.wired. co.uk/article/tiktok-wants-
longer-videos-like-not, acessado em 10 de fevereiro de 2023.

104 Noah Landsberg, “e ultimate TikTok video size guide for 2023”, in In uencer
Marketing Hub, 15 de dezembro de 2022, disponível em https://
in uencermarketinghub.com/tiktok-video-size, acessado em 10 de novembro de 2023.

105 Kristen Purcell, “How teens do research in the digital world”, in Pew Research Center, 1
de novembro de 2012, disponível em https://www. pewresearch.org/internet/2012/11/01/how-
teens-do-research-in-the-digitalworld, acessado em 10 de novembro de 2023.

106 M. Moisala, “Media multitasking is associated with distractibility and increased


prefrontal activity in adolescents and young adults”, in NeuroImage, vol. 134, 2016, pp. 113–
121.

107 O TikTok exige a idade mínima de 13 anos para os usuários, razão pela qual milhões de
crianças estão mentindo o próprio ano de nascimento para poder ingressar na plataforma.

108 Melina R. Uncapher & Anthony D. Wagner, “Minds and brains of media multitaskers:
current ndings and future directions”, in Proceedings of the National Academy of Sciences,
vol. 115, n. 40, 2018, p. 9889.

109 Ann Colley e John Maltby, “Impact of the internet on our lives: male and female
personal perspectives”, in Computers in Human Behavior, vol. 24, n. 5, 2008, pp. 2005–2013.

110 J. Firth, “e ‘online brain’: how the internet may be changing our cognition”, in World
Psychiatry, vol. 18, n. 2, 2019, p. 122

111 Betsy Sparrow, “Google effects on memory: cognitive consequences of having


information at our ngertips”, in Science, vol. 333, n. 6043, 2011, p. 776.

112 Linda A. Henkel, “Point-and-shoot memories: the in uence of taking photos on


memory for a museum tour”, in Psychological Science, vol. 25, n. 2, 2014, pp. 396–402. No
experimento em questão, os participantes foram levados a um museu de arte. Foi observado o
seguinte: aqueles participantes que tiravam foto de cada um dos objetos recordavam de uma
quantidade menor e de menos detalhes desses objetos, de cuja localização dentro do museu
também se esqueciam, em comparação àqueles participantes que só observavam e não
fotografavam nenhuma obra de arte.
113 Daniel M. Wegner, “Transactive memory: a contemporary analysis of the group mind”,
in Brian Mullen & George R. Goethals, eories of group behavior. Basiléia: Springer Nature,
1987, pp. 185–208; Kyle Lewis & Benjamin Herndon, “Transactive memory systems: current
issues and future research directions”, in Organization Science, vol. 22, n. 5, 2011, pp. 1254–
1265.

114 Daniel M. Wegner & Adrian F. Ward, “e internet has become the external hard drive
for our memories”, in Scienti c American, 1 de dezembro de 2013, disponível em
https://www.scienti camerican.com/ article/the-internet-has-become-the-external-hard-drive-
for-our-memories/, acessado em 12 de novembro de 2023.

115 Adrian F. Ward, “Supernormal: how the internet is changing our memories and our
minds”, in Psychological Inquiry, vol. 24, n. 4, 2013, p. 341.

116 Dois exemplos claros de como a manipulação pode afetar cognitivamente os processos
naturais de percepção de um indivíduo. Os implantes de silicone nos seios imitam qualidades
associadas ao valor reprodutivo e, portanto, impõem-se sobre os seios naturais, por mais que
esses “sinais” de fertilidade sejam enganosos. O mesmo acontece com a junk food, que age
sobre as tendências naturais relativas ao açúcar e à gordura, mas fornecem essas substâncias em
quantidades excessivas, que acabam manipulando o instinto da pessoa e tornando viciante o
seu consumo. Cf. Grazyna Jasieska, “Large breasts and narrow waists indicate high reproductive
potential in women”, in Proceedings of the Royal Society of Biological Sciences, vol. 271, n.
1.545, 2004, pp. 1.213–1.217; F. Marlowe, “e nobility hypothesis: the human breast as an
honest signal of residual reproductive value”, in Human Nature, vol. 9, n. 3, 1998, pp. 263–271;
J. F. Doyle & F. Pazhoohi, “Natural and augmented breasts: is what is not natural most
attractive?”, in Human Ethology Bulletin, vol. 27, n. 4, 2012, pp. 4–14; L. L. Birch,
“Development of food preferences”, in Annual Review of Nutrition, vol. 19, n. 1, 1999, pp. 41–
62.

117 Adrian F. Ward, “Supernormal: how the internet is changing our memories and our
minds”, in Psychological Inquiry, vol. 24, n. 4, 2013, p. 343

118 Betsy Sparrow, “Google effects on memory: cognitive consequences of having


information at our ngertips”, in Science, vol. 333, n. 6043, 2011, pp. 776–778.

119 Yifan Wang, “Short-term internet search using makes people rely on search engines
when facing unknown issues”, in PloS One, vol. 12, n. 4, 2017, p. e0176325; Benjamin C. Storm,
“Using the internet to access information in ates future use of the internet to access other
information”, in Memory, 25, n. 6, 2017, pp. 717–723.

120 Andy Clark, Natural-born cyborgs: minds, technologies, and the future of human
intelligence. Oxford: Oxford University Press, 2003.

121 Betsy Sparrow, “Google effects on memory: cognitive consequences of having


information at our ngertips”, in Science, vol. 333, n. 6043, 2011, p 778.

122 Joseph W. Alba & Lynn Hasher, “Is memory schematic?”, in Psychological Bulletin, vol.
93, n. 2, 1983, pp. 203–231.
123 Xiaoyue Liu, “Internet search alters intraand inter-regional synchronization in the
temporal gyrus”, in Frontiers in Psychology, vol. 9, 2018, p. 260.

124 Guangheng Dong & Marc N. Potenza, “Behavioural and brain responses related to
internet search and memory”, in e European Journal of Neuroscience, vol. 42, n. 8, 2015, pp.
2546–2554.

125 A busca na internet mostrou menor ativação cerebral regional na corrente ventral
esquerda, a área de associação dos lobos temporal-parietal-occipital e do córtex frontal médio,
enquanto o que foi ativado foi o córtex orbito-frontal. V. Dong e Potenza, “Internet Search and
Memory”, pp. 2549–2550.

126 Henry W. Chase, “e neural basis of drug stimulus processing and craving: an
activation likelihood estimation meta-analysis”, in Biologi cal Psychiatry, vol. 70, n. 8, 2011, pp.
785–793; Anna B. Konova, “Common and distinct neural targets of treatment: changing brain
function in substance addiction”, in Neuroscience and Biobehavioral Reviews, vol. 37, n. 10,
2013, pp. 2806–2817.

127 Morris Moscovitch, “Functional neuroanatomy of remote episodic, semantic and spatial
memory: a uni ed account based on multiple trace theory”, in Journal of Anatomy, vol. 207, n.
1, 2005, pp. 35–66.

128 Eleanor A. Maguire, “Navigation-related structural change in the hippocampi of taxi


drivers”, in Proceedings of the National Academy of Sciences, vol. 97, n. 8, 2000, pp. 4398–4403.

129 Adrian F. Ward, “Supernormal: how the internet is changing our memories and our
minds”, in Psychological Inquiry, vol. 24, n. 4, 2013, p. 343.

130 Adrian F. Ward, “One with the cloud: why people mistake the internet’s knowledge for
their own”. Tese de Doutorado, Harvard University, Cambridge, 2013, disponível em
https://dash.harvard.edu/handle/1/11004901, acessado em 12 de novembro de 2023.

131 Ibid., p. 88.

132 Kristy A. Hamilton & Mike Z. Yao, “Blurring boundaries: effects of device features on
metacognitive evaluations”, in Computers in Human Behavior, vol. 89, 2018, pp. 213–220.

133 Ibid., p. 216.

134 Matthew Fisher, “Searching for explanations: how the internet in ates estimates of
internal knowledge”, in Journal of Experimental Psychology, vol. 144, n. 3, 2015, pp. 674–687.

135 Claire Shipman, “How puberty kills girls’ con dence”, in e Atlantic, 20 de setembro de
2018, disponível em https://www.theatlantic.com/family/ archive/2018/09/puberty-girls-
con dence/563804/, acessado em 12 de novembro de 2023.

136 Jonathan Haidt, “e dangerous experiment on teen girls”, in e Atlantic, 21 de


novembro de 2021, disponível em https://www.theatlantic.com/
ideas/archive/2021/11/facebooks-dangerous-experiment-teen-girls/620767/, acessado em 12 de
novembro de 2023.
137 D. J. Kuss, “Internet addiction: a systematic review of epidemiological research for the
last decade”, in Current Pharmaceutical Design, vol. 20, n. 25, 2014, pp. 4026–4052.

138 Jean M. Twenge, “Amount of time online is problematic if it displaces face-to-face social
interaction and sleep”, in Clinical Psychological Science, vol. 6, n. 4, 2018, pp. 456–457.

139 Hugues Sampasa-Kanyinga & Rosamund F. Lewis, “Frequent use of social networking
sites is associated with poor psychological functioning among children and adolescents”, in
Cyberpsychology, Behavior and Social Networking, vol. 18, n. 7, 2015, pp. 380–385.

140 Jean M. Twenge, “Increases in depressive symptoms, suicide-related outcomes, and


suicide rates among .. adolescents aer 2010 and links to increased new media screen time”,
in Clinical Psychological Science, vol. 6, n. 1, 2018, pp. 3–17; Jean M. Twenge, “Digital media
may explain a substantial portion of the rise in depressive symptoms among adolescent girls:
response to daly”, in Clinical Psychological Science, vol. 6, n. 3, 2018, pp. 296–297.

141 National Safety Council, “Distracted driving”, in  Injury Facts, 2022, disponível em
https://injuryfacts.nsc. org/motor-vehicle/motor-vehicle-safety-issues/distracted%20-driving/,
acessado em 12 de novembro de 2023.

142 Richard J. Rosenthal & Suzanne B. Faris, “e etymology and early history of
‘addiction’”, in Addiction Research & eory, vol. 27, n. 5, 2019, pp. 437–449.

143 Stanton Peele, “Addiction as a cultural concept”, in Annals of the New York Academy of
Sciences, vol. 602, n. 1, 1990, pp. 205–220; Virginia Berridge & Griffith Edwards, Opium, and
the people: opiate use in nineteenth century England. Londres: A. Lane, 1981; Harry Gene
Levine, “e discovery of addiction: changing conceptions of habitual drunkenness in
America”, in Journal of Substance Abuse Treatment, vol. 2, n. 1, 1985, pp. 43–57.

144 Kimberly S. Young, “Internet addiction: the emergence of a new clinical disorder”, in
Cyberpsychology & Behavior, vol. 1, n. 3, 1998, pp. 237–244.

145 David N. Green eld, Virtual addiction: help for netheads, cyberfreaks, and those who
love them. Oakland: New Harbinger Publications, 1999. O instituto é o Center for Internet and
Technology Addiction, em West Hartford, Connecticut, disponível em https://virtual-
addiction.com/, acessado em 12 de novembro de 2023.

146 Martha Shaw & Donald W. Black, “Internet addiction: de nition, assessment,
epidemiology and clinical management”, in  Drugs, vol. 22, n. 5, 2008, p. 353.

147 H. Cash, “Internet addiction: a brief summary of research and practice”, in Current
Psychiatry Reviews, vol. 8, n. 4, 2012, pp. 292–298; Kimberly S. Young, “Prevalence Estimates
and Etiologic Models of Internet Addiction”, in Kimberly S. Young & Cristiano Nabuco de
Abreu (eds.), Internet addiction: a handbook and guide to evaluation and treatment. Hoboken:
John Wiley & Sons, 2011, pp. 3–17.

148 Aviv Weinstein & Michel Lejoyeux, “Internet addiction or excessive internet use”, in e
American Journal of Drug and Alcohol Abuse, vol. 36, n. 5, 2010, pp. 277–283; Megan A.
Moreno, “Problematic internet use among  youth: a systematic review”, in Archives of
Pediatrics & Adolescent Medicine, vol. 165, n. 9, 2011, pp. 797–805.
149 Susan M. Snyder, “e effect of .. university students’ problematic internet use on
family relationships: a mixed-methods investigation”, in PloS One, vol. 10, n. 12, 2015, p.
e0144005.

150 José de-Sola et al., “Prevalence of problematic cell phone use in an adult population in
Spain as assessed by the mobile phone problem use scale ()”, in PloS One, vol. 12, n. 8,
2017, p. e0181184; Marc Nahas, “Problematic smartphone use among lebanese adults aged 18-
65 years using -10”, in Computers in Human Behavior, vol. 87, 2018, pp. 348–353.

151 Barbara Booth, “Internet Addiction Is Sweeping America, Affecting Millions”, in ,
29 de agosto de 2017, disponível em https://www.cnbc.com/2017/08/29/us-addresses-internet-
addiction-with-funded-research.html, acessado em 10 de novembro de 2023.

152 Jay A. Olson, “Smartphone addiction is increasing across the world: a meta-analysis of
24 countries”, in Computers in Human Behavior, vol. 129, 2022, p. 107138; Raquel Lozano-
Blasco, “Internet addiction in young adults: a meta-analysis and systematic review”, in
Computers in Human Behavior, vol. 130, 2022, p. 107.201.

153 Barry J. Everitt, “Dopaminergic mechanisms in drug-seeking habits and the


vulnerability to drug addiction”, in Leslie Iversen, Dopamine handbook. Oxford: Oxford
University Press, 2010, pp. 389–406.

154 Adam Alter, Irresistible: ¿quién nos ha convertido en yonquis tecnológicos? Barcelona:
Paidós, 2018, pp. 55–56.

155 D. J. Kuss, “Internet addiction: a systematic review of epidemiological research for the
last decade”, in Current Pharmaceutical Design, vol. 20, n. 25, 2014, pp. 4026-4052.

156 American Psychiatric Association -5 Task Force, Diagnostic and Statistical Manual
of Mental Disorders: -5. 5. ed. Arlington, VA: American Psychiatric Association, 2013.
Desde então, foram publicados milhares de estudos cientí cos relativos à adicção à internet.
Uma busca pelo termo em estudos acadêmicos retornava mais de 10.700 resultados em ns de
2022.

157 Kenneth Paul Rosenberg & Laura Curtiss Feder, “An introduction to behavioral
addictions”, in Kenneth Paul Rosenberg & Laura Curtiss Feder, Behavioral addictions: criteria,
evidence, and treatment. Nova York: Academic Press, 2014, pp. 1–17.

158 Aiswarya Baskaran, “e role of technology companies in technology addiction”, in


Sustainalytics, 16 de julho de 2019, disponível em https://www. sustainalytics.com/esg-
research/resource/investors-esg-blog/the-role-of-technology-companies-in-technology-
addiction, acessado em 12 de novembro de 2023.

159 Jeff Orlowski, El dilema de las redes sociales. Estados Unidos: Net ix, 2020, disponível
em https://www.thesocialdilemma.com, acessado em 12 de novembro de 2023.

160 Natasha Singer, “Can’t put down your device? at’s by design”, in e New York Times,
Nova York, 5 de dezembro de 2015, disponível em https://
www.nytimes.com/2015/12/06/technology/personaltech/cant-put-down-your device-thats-by-
design.html, acessado em 12 de novembro de 2023.
161 William Antonelli, “Tinder is free, but you can pay for extra features”, in Business
Insider, 5 de novembro de 2021, disponível em https://www.
businessinsider.com/guides/tech/is-tinder-free, acessado em 12 de novembro de 2023.

162 Maryam Mohsin, “10 YouTube stats every marketer should know in 2022”, in Oberlo, 17
de maio de 2022, disponível em https:// www.oberlo.com/blog/youtube-statistics, acessado em
13 de novembro de 2023.

163 Ver os testemunhos na “Introdução”.

164 Antti Oulasvirta, “Habits make smartphone use more pervasive”, in Personal and
Ubiquitous Computing, vol. 16, n. 1, 2012, pp. 105–114; Samuel M. McClure, “Separate neural
systems value immediate and delayed monetary rewards”, in Science, vol. 306, n. 5695, 2004, pp.
503–507.

165 B. F. Skinner, “Operant behavior”, in e American Psychologist, vol. 18, n. 8, 1963, pp.
503–515.

166 Kimberly S. Young, “e Research and Controversy Surrounding Internet Addiction”, in
Cyberpsychology & Behavior, vol. 2, n. 5, 1999, pp. 381–383.

167 Keith W. Beard, “Internet addiction: a review of current assessment techniques and
potential assessment questions”, in Cyberpsychology & Behavior, vol. 8, n. 1, 2005, pp. 7–14;
Min Kwon, “e smartphone addiction scale: development and validation of a short version for
adolescents”, in PloS One, vol. 8, n. 12, 2013, p. e83558.

168 Alexander Winkler, “Treatment of internet addiction: a meta-analysis”, in Clinical


Psychology Review, vol. 33, n. 2, 2013, pp. 317–329.

169 As obsessões são pensamentos que uma pessoa não consegue evitar, ao passo que uma
compulsão é um comportamento que uma pessoa não consegue controlar e que tem como
objetivo neutralizar a obsessão. Uma pessoa obcecada com a possibilidade de se contagiar com
um vírus respiratório vai manifestar uma série de comportamentos compulsivos e irracionais,
como evitar todo contato social, ver seus entes queridos através de um plástico protetor, usar
três máscaras, luvas e protetor facial etc. Cf. David A. Clark & Adam S. Radomsky,
“Introduction: a global perspective on unwanted intrusive thoughts”, in Journal of Obsessive-
Compulsive and Related Disorders, vol. 3, n. 3, 2014, pp. 265–268.

170 Robert J. Vallerand, e Psychology of passion: a dualistic model. Nova York: Oxford
University Press, 2015.

171 K. U. Petersen, “Pathological internet use: epidemiology, diagnostics, co-occurring


disorders and treatment”, in Fortschritte Der Neurologie Psychiatrie, vol. 77, n. 5, 2009, pp.
263–271.

172 Z. Lanjun, “e applications of group mental therapy and sports exercise prescriptions
in the intervention of internet addiction disorder”, in Psychological Science, vol. 32, n. 3, 2009,
pp. 738–741.
173 Katherine Schreiber & Heather A. Hausenblas, e truth about exercise addiction:
understanding the dark side of thinspiration. Nova York: Rowman & Little eld Publishers,
2015.

174 Judith Owens, “Insufficient sleep in adolescents and young adults: an update on causes
and consequences”, in Pediatrics, vol. 134, n. 3, 2014, pp. 921–932; Anne-Marie Chang,
“Evening use of light-emitting e-readers negatively affects sleep, circadian timing, and next-
morning alertness”, in Proceedings of the National Academy of Sciences, vol. 112, n. 4, 2015, pp.
1.232–1.237.

175 Arianna Stassinopoulos Huffington, e sleep revolution: transforming your life, one
night at a time. Nova York: Harmony Books, 2016. [Obra disponível em português com a
referência A revolução do sono: transforme a sua vida, uma noite de cada vez. Lisboa: Matéria-
Prima, 2017 — ].

176 Jessica C. Levenson, “e association between social media use and sleep disturbance
among young adults”, in Preventive Medicine, vol. 85, 2016, pp. 36–41. Ver também Ben Carter,
“Association between portable screen-based media device access or use and sleep outcomes: a
systematic review and meta-analysis”, in jama Pediatrics, vol. 170, n. 12, 2016, pp. 1.202–1.208.

177 Jean M. Twenge, “Decreases in self-reported sleep duration among .. adolescents
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189 Nora Kuck, “Body dysmorphic disorder and self-esteem: a meta-analysis”, in bmc
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197 Jean M. Twenge, “Increases in depressive symptoms, suicide-related outcomes, and
suicide rates among .. adolescents aer 2010 and links to increased new media screen time”,
in Clinical Psychological Science, vol. 6, n. 1, 2018, pp. 3–17; Hailey G. Holmgren & Sarah M.
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198 Georgia Wells, “Facebook knows Instagram is toxic for teen girls, company documents
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199 Phillipa Hay, “Burden and health-related quality of life of eating disorders, including
Avoidant/Restrictive Food Intake Disorder (), in the Australian Population”, in Journal of
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e Lancet Psychiatry, vol. 3, n. 4, 2016, pp. 313–315.

200 Georgia Wells, “Facebook knows instagram is toxic for teen girls, company documents
show”, in e Wall Street Journal, Nova York, 14 de setembro de 2021, disponível em
https://www.wsj.com/articles/facebook-knowsinstagram-is-toxic-for-teen-girls-company-
documents-show-11631620739, acessado em 15 de novembro de 2023.

201 Ibid.

202 Ibid.

203 Ibid.

204 Redação, “El absurdo reto viral pide que te rodees la cintura con un cable de auriculares
para mostrar tu delgadez”, in La Vanguardia, Madri, 27 de fevereiro de 2020, disponível em
https://www.lavanguardia.com/cribeo/viral/20200227/473805883951/nuevo-reto-viral-pide-
rodees-cintura-cable-auriculares-mostrar-delgadez-extrema-china-weibo.html, acessado em 15
de novembro de 2023.

205 María Ayuso, “Del ‘chicle y agua’ al ‘desafío de la cintura’”, in La Nación, Buenos Aires,
11 de outubro de 2022, disponível em https://www. lanacion.com.ar/comunidad/del-chicle-y-
agua-al-desa o-de-la-cintura-asioperan-tiktok-y-otras-redes-en-los-trastornos-de-la-
nid11102022/#/, acessado em 15 de novembro de 2023.

206 Marie Galmiche, “Prevalence of eating disorders over the 2000–2018 period: a
systematic literature review”, in e American Journal of Clinical Nutrition, vol. 109, n. 5, 2019,
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207 , “Eating disorder statistics”, in National Association of Anorexia Nervosa and
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acessado em 15 de novembro de 2023.

208 María Ayuso, “La devastadora ola de trastornos psíquicos en adolescentes”, in La Nación,
Buenos Aires, 10 de julho de 2022, disponível em
https://www.lanacion.com.ar/comunidad/jamas-pense-que-mi-hija-podia-querer-morirse-la-
devastadora-ola-de-trastornos-psiquicos-ennid08072022/#/, acessado em 15 de novembro de
2023.

209 Jacopo Pruccoli, “e use of TikTok among children and adolescents with eating
disorders: experience in a third-level public Italian Center during the --2 Pandemic”, in
Italian Journal of Pediatrics, vol. 48, n. 1, 2022, pp. 1–9.

210 Alexandra R. Lonergan, “Protect me from my sel e: examining the association between
photo-based social media behaviors and self-reported eating disorders in adolescence”, in e
International Journal of Eating Disorders, vol. 53, n. 5, 2020, pp. 485–496.

211 A compilação de estudos mais completa que eu conheço é a realizada por Jonathan
Haidt & Jean M. Twenge, “Adolescent mood disorders since 2010: a collaborative review”, in
Universidade de Nova York, setembro de 2022, disponível em
https://tinyurl.com/TeenMentalHealthReview, acessado em 15 de novembro de 2023.

212 Melissa C. Mercado, “Trends in emergency department visits for non-fatal self-in icted
injuries among youth aged 10 to 24 years in the United States, 2001–2015”, in jama, vol. 318, n.
19, 2017, pp. 1931–1933.

213 Jean M. Twenge, “Increases in depressive symptoms, suicide-related outcomes, and


suicide rates among .. adolescents aer 2010 and links to increased new media screen time”,
in Clinical Psychological Science, vol. 6, n. 1, 2018, pp. 3–17.

214 Center for Behavioral Health Statistics and Quality, “Health and safety gures”, in
National survey on drug use and health, Washington, .., 2021, disponível em
https://www.childstats. gov/americaschildren/health_ g.asp, acessado em 15 de novembro de
2023.

215 Oren Miron, “Suicide rates among adolescents and young adults in the United States,
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216 Statistics Canada, “Prevalence of fair/poor mental health and mood disorders, female
population aged 12 to 19, Canada, 2003 to 2014”, in e Health of Girls and Women in Canada,
2016, disponível em https:// www150.statcan.gc.ca/n1/pub/89-503-x/2015001/article/14324/c-
g/c-g10eng.htm, acessado em 15 de novembro de 2023; Statistics Canada, “Percentage of injury
hospitalizations due to intentional self-harm, by sex and age group, Canada, 2009–2010 to
2013–2014”, in e Health of Girls and Women in Canada, 2016, disponível em
https://www150.statcan.gc.ca/n1/ pub/89-503-x/2015001/article/14324/c-g/c-g13-eng.htm,
acessado em 15 de novembro de 2023.

217 Lukasz Cybulski, “Temporal trends in annual incidence rates for psychiatric disorders
and self-harm among children and adolescents in the , 2003-2018”, in bmc Psychiatry, vol.
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218 Emily A. Vogels, “Teens, social media and technology 2022”, in Pew Research, 10 de
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219 Jean M. Twenge & Gabrielle N. Martin, “Gender Differences in associations between
digital media use and psychological well-being: evidence from three large datasets”, in Journal
of Adolescence, vol. 79, n. 1, 2020, pp. 91–102.

220 Kathryn M. LaFontana & Antonius H. N. Cillessen, “Developmental changes in the


priority of perceived status in childhood and adolescence”, in Social Development, vol. 19, n. 1,
2010, pp. 130–147.

221 Liu yi Lin, “Association between social media use and depression among .. young
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222 Royal Society of Public Health, “Instagram Ranked Worst for Young People’s Mental
Health”, in Royal Society for Public Health, 19 de maio de 2017, disponível em
https://www.rsph.org.uk/about-us/news/instagramranked-worst-for-young-people-s-mental-
health.html, acessado em 15 de novembro de 2023.

223 Georgia Wells, “Facebook knows instagram is toxic for teen girls, company documents
show”, in e Wall Street Journal, Nova York, 14 de setembro de 2021, disponível em
https://www.wsj.com/articles/facebook-knowsinstagram-is-toxic-for-teen-girls-company-
documents-show-11631620739, acessado em 15 de novembro de 2023.

224 Peng Sha & Xiaoyu Dong, “Research on adolescents regarding the indirect effect of
depression, anxiety, and stress between TikTok use disorder and memory loss”, in International
Journal of Environmental Research and Public Health, vol. 18, n. 16, 2021, p. 8.820.

225 Mi-Mi Zhang, “Sleep disorders and non-sleep circadian disorders predict depression: a
systematic review and meta-analysis of longitudinal studies”, in Neuroscience and
Biobehavioral Reviews, vol. 134, 2022, p. 104.532.

226 Jean M. Twenge, iGen: why today’s super-connected kids are growing up less rebellious,
more tolerant, less happy — and completely unprepared for adulthood — and what that means
for the rest of us. Nova York: Atria Books, 2018, p. 168.

227 Jonathan Haidt, “e dangerous experiment on teen girls”, in e Atlantic, 21 de


novembro de 2021, disponível em https://www.theatlantic.com/
ideas/archive/2021/11/facebooks-dangerous-experiment-teen-girls/620767/, acessado em 12 de
novembro de 2023.

228 Jean M. Twenge, “Increases in depressive symptoms, suicide-related outcomes, and


suicide rates among .. adolescents aer 2010 and links to increased new media screen time”,
in Clinical Psychological Science, vol. 6, n. 1, 2018, pp. 12–13.

229 Wendy S. Salkin, “Loneliness as epidemic”, in Harvard Law, 14 de outubro de 2016,


disponível em https://blog.petrie om.law.harvard. edu/2016/10/14/loneliness-as-epidemic/,
acessado em 15 de novembro de 2023.

230 John T. Cacioppo & Stephanie Cacioppo, “e Growing Problem of Loneliness”, in e
Lancet, vol. 391, n. 10.119, 2018, p. 426.
231 Jean M. Twenge, “Worldwide Increases in Adolescent Loneliness”, in Journal of
Adolescence, vol. 93, n. 1, 2021, p. 257.

232 Esse elemento é o que distingue a solidão do isolamento social. Cf. Cacioppo &
Cacioppo, “e growing problem of loneliness”, p. 426; Christopher M. Masi, “A meta-analysis
of interventions to reduce loneliness”, in Personality and Social Psychology Review, vol. 15, n. 3,
2011, pp. 219–266.

233 John T. Cacioppo, “e profound power of loneliness”, in National Science Foundation,
3 de fevereiro de 2016, disponível em https://new.nsf. gov/news/profound-power-loneliness,
acessado em 15 de novembro de 2023; Naomi I. Eisenberger, “Does Rejection Hurt? An 
Study of Social Exclusion”, in Science, vol. 302, n. 5.643, 2003, p. 291.

234 Christopher M. Masi, “A meta-analysis of interventions to reduce loneliness”, in


Personality and Social Psychology Review, vol. 15, n. 3, 2011, p. 266.

235 Rebecca Nowland, “Loneliness and social internet use: pathways to reconnection in a
digital world?”, in Perspectives on Psychological Science, vol. 13, n. 1, 2018, pp. 70–87.

236 John T. Cacioppo, “Loneliness within a nomological net: an evolutionary perspective”, in


Journal of Research in Personality, vol. 40, n. 6, 2006, pp. 1.054–1.085.

237 Ver os dados apresentados por Christina R. Victor & Keming Yang, “e prevalence of
loneliness among adults: a case study of the United Kingdom”, in e Journal of Psychology,
vol. 146, n. 1–2, 2012, pp. 85–104; Laurie A. eeke, “Predictors of loneliness in .. adults over
age sixty- ve”, in Archives of Psychiatric Nursing, vol. 23, n. 5, 2009, pp. 387–396.

238 K. D. Williams, “Ostracism: a temporal need-threat model”, in Advances in


Experimental Social Psychology, vol. 41, 2009, pp. 275–314.

239 Em 1979, o psicólogo Michel Zeiler desenvolveu uma série de experimentos com
pombas, nos quais um botão deveria ser apertado para que recebessem comida em troca. Após
observação, Zeiler descobriu que em vez de se frustrarem e perderem o interesse quando não
recebiam nada, as pombas picavam o botão intensamente mesmo quando só se obtinha respos
ta entre 50% e 70% das vezes. Esse foi basicamente o experimento que os engenheiros do
Facebook aplicaram, exceto que suas cobaias eram centenas de milhões de seres humanos. Ver
Michael D. Zeiler, “Fixed and variable schedules of response-independent reinforcement”, in
Journal of the Experimental Analysis of Behavior, vol. 11, n. 4, 1968, pp. 405–414; Michael D.
Zeiler, “Fixed-interval behavior: effects of percentage reinforcement”, in Journal of the
Experimental Analysis of Behavior, vol. 17, n. 2, 1972, pp. 177–189.

240 Jean M. Twenge, iGen: why today’s super-connected kids are growing up less rebellious,
more tolerant, less happy — and completely unprepared for adulthood — and what that means
for the rest of us. Nova York: Atria Books, 2018, p. 77.

241 Adam Alter, Irresistible: ¿quién nos ha convertido en yonquis tecnológicos? Barcelona:
Paidós, 2018, p. 165.

242 Jean M. Twenge, iGen: why today’s super-connected kids are growing up less rebellious,
more tolerant, less happy — and completely unprepared for adulthood — and what that means
for the rest of us. Nova York: Atria Books, 2018, pp. 104–105.

243 Christiane M. Büttner & Selma C. Rudert, “Why didn’t you tag me?! Social exclusion
from Instagram posts hurts, especially those with a high need to belong”, in Computers in
Human Behavior, vol. 127, 2022, p. 107.062.

244 Jennifer L. Bevan, “Negative emotional and cognitive responses to being unfriended on
Facebook: An exploratory study”, in Computers in Human Behavior, vol. 28, n. 4, 2012, pp.
1458–1464; Lisa M. Mai, “‘I know you’ve seen it!’ Individual and social factors for users’
chatting behavior on Facebook”, in Computers in Human Behavior, vol. 49, 2015, pp. 296–302;
Sabine Reich, “Zero likes: symbolic interactions and need satisfaction online”, in Computers in
Human Behavior, vol. 80, 2018, pp. 97–102; Stephanie J. Tobin, “reats to belonging on
Facebook: Lurking and ostracism”, in Social In uence, vol. 10, n. 1, 2015, pp. 31–42.

245 Wouter Wolf, “Ostracism online: a social media ostracism paradigm”, in Behavior
Research Methods, vol. 47, n. 2, 2015, pp. 361–373; Frank M. Schneider, “Social media
ostracism: the effects of being excluded online”, in Computers in Human Behavior, vol. 73,
2017, pp. 385–393; Rebecca Smith, “Students’ perceptions of the effect of social media ostracism
on well-being”, in Computers in Human Behavior, vol. 68, 2017, pp. 276–285.

246 Michelle Achterberg, “e neural and behavioral correlates of social evaluation in
childhood”, in Developmental Cognitive Neuroscience, vol. 24, 2017, pp. 107–117; Tobias
Grossmann, “e role of medial prefrontal cortex in early social cognition”, in Frontiers in
Human Neuroscience, vol. 7, 2013, p. 340.

247 Eveline A. Crone & Elly A. Konijn, “Media use and brain development during
adolescence”, in Nature Communications, vol. 9, n. 1, 2018, pp. 1–10.

248 Adam Alter, Irresistible: ¿quién nos ha convertido en yonquis tecnológicos? Barcelona:
Paidós, 2018, p. 166.

249 Colin Blakemore & Grahame Cooper, “Development of the brain depends on the visual
environment”, in Nature, vol. 228, n. 5270, 1970, pp. 477–478.

250 Sarah-Jayne Blakemore & Kathryn L. Mills, “Is adolescence a sensitive period for
sociocultural processing?”, in Annual Review of Psychology, vol. 65, n. 1, 2014, pp. 187–207;
Anne-Lise Goddings, “e in uence of puberty on subcortical brain development”, in
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251 Eveline A. Crone & Elly A. Konijn, “Media use and brain development during
adolescence”, in Nature Communications, vol. 9, n. 1, 2018, p. 2.

252 Adam Alter, Irresistible: ¿quién nos ha convertido en yonquis tecnológicos? Barcelona:
Paidós, 2018, pp. 167–168; Andrew K. Przybylski, “Electronic gaming and psychosocial
adjustment”, in Pediatrics, vol. 134, n. 3, 2014, pp. e716–e722. Ver também Lisa Feldman
Barrett, “Amygdala volume and social network size in humans”, in Nature Neuroscience, vol. 14,
n. 2, 2011, pp. 163–164.

253 O problema da pornogra a e suas consequências foi tratado no capítulo “Pornografía e


revolución cultural”, in Pablo Muñoz Iturrieta, Las mentiras que te cuentan, las verdades que te
ocultan. Ontário: Metanoia Press, 2021, pp. 66–79.

254 J. Firth, “e ‘online brain’: how the internet may be changing our cognition”, in World
Psychiatry, vol. 18, n. 2, 2019, pp. 123–126.

255 Jean M. Twenge, “Increases in depressive symptoms, suicide-related outcomes, and


suicide rates among .. adolescents aer 2010 and links to increased new media screen time”,
in Clinical Psychological Science, vol. 6, n. 1, 2018, pp. 3–17; Jean M. Twenge, “Amount of time
online is problematic if it displaces face-to-face social interaction and sleep”, in Clinical
Psychological Science, vol. 6, n. 4, 2018, pp. 456– 457.

256 Emily B. Falk & Danielle S. Bassett, “Brain and social networks: fundamental building
blocks of human experience”, in Trends in Cognitive Sciences, vol. 21, n. 9, 2017, pp. 674–690;
R. Kanai, “Online social network size is re ected in human brain structure”, in Proceedings of
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257 R. I. M. Dunbar, “e anatomy of friendship”, in Trends in Cognitive Sciences, vol. 22, n.
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258 Kirsten P. Smith & Nicholas A. Christakis, “Social networks and health”, in Annual
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foi relacionada com um incremento no risco de mortalidade. Cf. Holt-Lunstad Julianne,
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Perspectives on Psychological Science, vol. 10, n. 2, 2015, pp. 227–237; Yang Claire Yang,
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259 J. R. Harris, “Where is the child’s environment? A group socialization theory of


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260 Lauren E. Sherman, “e effects of text, audio, video, and in-person communication on
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261 J. R. Harris, “Where is the child’s environment? A group socialization theory of


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Anderson, “e dynamics of delinquent peers and delinquent behavior”, in Criminology, vol.
36, n. 2, 1998, pp. 269–308; Ian Hay & Adrian F. Ashman, “e development of adolescents’
emotional stability and general self-concept: the interplay of parents, peers, and gender”, in
International Journal of Disability, Development, and Education, vol. 50, n. 1, 2003, pp. 77–91;
Kathryn M. LaFontana & Antonius H. N. Cillessen, “Developmental changes in the priority of
perceived status in childhood and adolescence”, in Social Development, vol. 19, n. 1, 2010, pp.
130–147.

262 Ver Urie Bronfenbrenner, La ecología del desarrollo humano: experimentos en entornos
naturales y diseñados. Barcelona: Paidós, 1987.

263 S. Choukas-Bradley & M. J. Prinstein, “Peer relationships and the development of


psychopathology”, in M. Lewis & K. D. Rudolph (eds.), Handbook of Developmental
Psychopathology. Nova York: Springer, 2014, pp. 185–204; Hay e Ashman, “e Development
of Adolescents’ Emotional Stability”, pp. 77–91.

264 Sheldon Cohen & omas Ashby Wills, “Stress, social support, and the buffering
hypothesis”, in Psychological Bulletin, vol. 98, n. 2, 1985, pp. 310–357. Contudo, o apoio das
amizades parece não ser su ciente quando a adicção à internet passa de certo limite, o qual é
sempre marcado pelo isolamento da pessoa e pela consequente percepção de solidão. Ver
Sandra Yu Rueger, “A meta-analytic review of the association between perceived social support
and depression in childhood and adolescence”, in Psychological Bulletin, vol. 142, n. 10, 2016,
pp. 1017–1067; Ella Vanderbilt-Adriance & Daniel S. Shaw, “Conceptualizing and re-evaluating
resilience across levels of risk, time, and domains of competence”, in Clinical Child and Family
Psychology Review, vol. 11, n. 1–2, 2008, pp. 30–58.

265 Chris Segrin, “Indirect effects of social skills on health through stress and loneliness”, in
Health Communication, vol. 34, n. 1, 2019, pp. 118– 124.

266 Scott E. Caplan, “Relations among loneliness, social anxiety, and problematic internet
use”, in Cyberpsychology & Behavior, vol. 10, n. 2, 2006, pp. 234–242.

267 Platão, La República: diálogos. 15. ed. Cidade do México: Porrúa, 2019, pp. 859–862.

268 Segundo Platão, o conhecimento sensível se baseia num mundo ctício que se contrapõe
ao mundo inteligível, ou mundo das ideias, de cuja experiência obtemos o verdadeiro
conhecimento.

269 Byung-Chul Han, La sociedad de la transparencia, trad. Raúl Gabás. Barcelona: Herder,
2013, p. 74. [Em português, A sociedade da transparência, trad. Enio Paulo Giachini.
Petrópolis: Vozes, 2016 — ].

270 Platão, La República: diálogos. 15. ed. Cidade do México: Porrúa, 2019, p. 860.
[Reproduzida a tradução ao português de Jacob Guinsburg, editora DifEL (Difusão Europeia do
Livro) — ].

271 Ibid.

272 Ibid.

273 Ibid., p. 861.

274 Ibid.

275 Ibid., p. 862.


276 Platão, La República: diálogos. 15. ed. Cidade do México: Porrúa, 2019, p. 860.
[Reproduzida a tradução ao português de Jacob Guinsburg, editora DifEL (Difusão Europeia do
Livro) — ]. Dessa maneira, Platão emprega a metáfora dos prisioneiros para se referir aos
que estão presos a suas percepções sensoriais e às imagens que se lhes apresentam mediante os
sentidos. Somente quando nos libertamos dos sentidos, segundo Platão, e adentramos o mundo
do inteligível é que adquirimos o conhecimento verdadeiro.

277 Pablo Muñoz Iturrieta, Las mentiras que te cuentan, las verdades que te ocultan.
Ontário: Metanoia Press, 2021, pp. 26–28.

278 Augustín Laje, La batalla cultural: re exiones críticas para una Nueva Derecha. Cidade
do México: Harper Collins México, 2022, p. 323.

279 “As imagens são menos dependentes do que as palavras da territorialidade do idioma
nacional”, diz Franco “Bifo” Berardi, Fenomenología del n. Sensibilidad y mutación conectiva.
Buenos Aires: Caja Negra, 2020, p. 154, citado por Laje, La batalla cultural: re exiones críticas
para una Nueva Derecha, p. 306.

280 Sobre as nefastas consequências da ideologia de gênero, ver Pablo Muñoz Iturrieta,
Atrapado en el cuerpo equivocado: la ideología de género frente a la ciencia y la losofía. 2. ed.
Ontário: Metanoia Press, 2020, cap. 4.

281 O cat sh faz referência a um usuário que engana outro, principalmente, em aplicativos
de encontros, tarefa para a qual utiliza uma identidade roubada (fotos) ou criada (falsas
biogra as) com o propósito de começar um relacionamento sentimental enganoso. A
motivação varia e vai desde a intenção de golpe nanceiro (como o caso do famoso Tinder
Swindler) até a intenção de ter a oportunidade de atrair alguém em razão da baixa percepção
que a pessoa (o cat sh) tem de si mesma. Cf. Krystal D’Costa, “Cat shing: the truth about
deception online”, in Scienti c American, 25 de abril de 2014, disponível em
https://blogs.scienti camerican.com/anthropology-in-practice/cat shing-the-truth-about-
deception-online, acessado em 15 de novembro de 2023; Felicity Morris, e Tinder Swindler.
Estados Unidos: Net ix, 2022, disponível em https://www.net ix.com/dk-en/title/81254340,
acessado em 15 de novembro de 2023.

282 Instagrammers revelam, por exemplo, que chegam a tirar mais de 300 capturas para
obterem nalmente a foto desejada. Julia Brucculieri, “4 instagrammers show us how many
photos they took before nailing ‘the shot’”, in HuffPost, 6 de abril de 2018, disponível em
https://www.huffpost.com/entry/ instagram-photo-camera-
rolls_n_5ac4ed48e4b063ce2e58131f, acessado em 15 de novembro de 2023.

283 Jason Murdock, “How to do the pillow face botox lter on TikTok and Instagram”, in
Newsweek, 3 de março de 2021, disponível em https://www. newsweek.com/tiktok-instagram-
how-use-pillow-face- lter-cosmetic-surgery-botox-1579502, acessado em 15 de novembro de
2023.

284 Kerry Justich, “Ashley Benson, Sophie Turner and more call out plastic surgery trends
popularized on social media with Instagram lter”, in Yahoo Life, 31 de março de 2021,
disponível em https://www.yahoo.com/lifestyle/ pillow-face- lter-plastic-surgery-trends-
194308774.html, acessado em 15 de novembro de 2023.
285 Stephanie Yeboah, “Instagram plastic surgery lters gave me the face i’d always coveted
and that’s worrying”, in Metro, 9 de fevereiro de 2020, disponível em
https://metro.co.uk/2020/02/09/instagram-plastic-surgery lters-gave-me-the-face-id-always-
coveted-and-thats-worrying-12165750/, acessado em 15 de novembro de 2023.

286 O transtorno dismór co corporal leva a pessoa a não deixar de pensar em um ou mais
defeitos que enxerga em sua aparência, que são pequenos ou totalmente inexistentes e
imaginários. Cf. American Psychiatric Association -5 Task Force, Diagnostic and Statistical
Manual of Mental Disorders: -5. 5. ed. Arlington, va: American Psychiatric Association,
2013, p. 300.7.

287 Meta, “e Impact Will Be Real”, in YouTube, 15 de junho de 2022, disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=80IIEnSNwQc, acessado em 15 de novembro de 2023.

288 Sheera Frenkel, “How Facebook is morphing into Meta”, in e New York Times, Nova
York, 31 de janeiro de 2022, disponível em https://www.
nytimes.com/2022/01/31/technology/facebook-meta-change.html, acessado em 15 de
novembro de 2023.

289 Microso, “Microso to acquire Activision Blizzard to bring the joy and community of
gaming to everyone, across every device”, in Microso News Center, 18 de janeiro de 2022,
disponível em https://news.microso. com/2022/01/18/microso-to-acquire-activision-
blizzard-to-bring-the-joyand-community-of-gaming-to-everyone-across-every-device,
acessado em 15 de novembro de 2023.

290 Dean Takahashi, “Nvidia  Jensen Huang Weighs in on the metaverse, blockchain,
and chip shortage”, in Venture Beat, 12 de junho de 2021, disponível em
https://venturebeat.com/games/nvidiaceo-jensen-huang-weighs-in-on-the-metaverse-
blockchain-chip-shortage arm-deal-and-
competition/#:~:text=I%20believe%20we’re%20right,It%20has%20real%20design, acessado em
15 de novembro de 2023.

291 Steven Ma, “e in nite possibilities of video games”, in Tencent, 17 de maio de 2021,
disponível em https://www.tencent.com/en-us/articles/2201154.html, acessado em 15 de
novembro de 2023.

292 Oh Young-jin, “Korea launches ‘metaverse’ alliance”, in e Korea Times, Seul, 18 de


maio de 2021, disponível em https://www.koreatimes.
co.kr/www/tech/2021/05/133_308975.html, acessado em 15 de novembro de 2023.

293 Nina Xiang, “TikTok parent bytedance follows meta’s footsteps down risky path toward
the metaverse”, in Forbes, 26 de abril de 2022, disponível em:
https://www.forbes.com/sites/ninaxiang/2022/04/26/tiktokparent-bytedance-follows-metas-
footsteps-down-risky-path-toward-themetaverse/?sh=68324476395e, acessado em 15 de
novembro de 2023.

294 Matthew Ball, “What the metaverse will mean”, in e Wall Street Journal, Nova York, 11
de agosto de 2022, disponível em https://www.wsj. com/articles/what-the-metaverse-will-
mean-11660233462, acessado em 15 de novembro de 2023.
295 Neal Stephenson, Snow Crash. Barcelona: Gilgamesh, 2017. Na novela, o metaverso era
um mundo virtual que afetava completamente a vida humana, um lugar para o trabalho e para
o prazer, para a arte e para o comércio. Esse mundo virtual era duas vezes maior do que o
planeta Terra e nele conviviam 15 milhões de avatares controlados por seres humanos.

296 Deborah Lovich, “What is the metaverse and why should you care?”, in Forbes, 11 de
maio de 2022, https://www.forbes.com/sites/ deborahlovich/2022/05/11/what-is-the-metaverse-
and-why-should-youcare/?sh=1581484d2704, acessado em 15 de novembro de 2023.

297 Matthew Ball, e metaverse: and how it will revolutionize everything. Nova York:
Liveright Publishing Corporation, 2022, p. 29. [Em português, A revolução do metaverso: como
o mundo virtual mudará para sempre a realidade, trad. Isadora Sinay. Rio de Janeiro: Globo
Livros, 2023 — ].

298 Esses mundos, por sua vez, podem ser habitados (os lmes da Pixar ou uma biosfera
simulada para uma aula de biologia), estar limitados a somente um usuário (Legend of Zelda)
ou compartilhados com muitos outros (Call of Duty).

299 Matthew Ball, e metaverse: and how it will revolutionize everything. Nova York:
Liveright Publishing Corporation, 2022, pp. 33–34.

300 Flight Simulator é o jogo eletrônico com maior vida. Foi lançado em 1979 e adquirido
pela Microso em 1982, tendo como objetivo pilotar um avião virtual. A última edição do jogo
é de 2022, disponível em https://www. ightsimulator.com/, acessado em 15 de novembro de
2023.

301 Chris O’Brian, “How Pixar uses  and  to create high resolution content”, in
Venture Beat, 17 de julho de 2020, disponível em https://venturebeat.com/business/ how-pixar-
uses-ai-and-gans-to-create-high-resolution-content/, acessado em 15 de novembro de 2023;
Dean Takahashi, “How Pixar made Monster University, its latest technological marvel”, in
Venture Beat, 24 de abril de 2013, disponível em https://venturebeat.com/media/the-making-
of-pixars-latest-technological-marvel-monsters-university/, acessado em 15 de novembro de
2023

302 Matthew Ball, e metaverse: and how it will revolutionize everything. Nova York:
Liveright Publishing Corporation, 2022, pp. 38–39.

303 As sessões no Zwi são realizadas com a própria bicicleta montada em um dispositivo
de treinamento que se conecta ao mundo virtual e, no momento, o percurso é realizado numa
tela, mas a empresa já avisou que está desenvolvendo seus próprios óculos de realidade virtual.
O sistema é tão real que ciclistas pro ssionais já estão usando-o para treinar, além de ter sido
an trião de vários campeonatos mundiais virtuais e patrocinador do Tour de France Femme
2022. Cf. Shane Stokes, “Zwi’s future direction: a doubling-down on project innovation and,
eventually,  headsets and ”, in VeloNews, 11 de agosto de 2022, disponível em
https://velo.outsideonline.com/gear/tech-wearables/ zwis-future-direction-a-doubling-down-
on-project-innovation-and-eventually-vr-headsets-and-ar, acessado em 15 de novembro de
2023.
304 Matthew Ball, e metaverse: and how it will revolutionize everything. Nova York:
Liveright Publishing Corporation, 2022, p. 41.

305 Ibid., p. 43.

306 Ibid., p. 49.

307 Raja Koduri, “Powering the Metaverse”, in Intel, 14 de dezembro de 2021, disponível em
https://www.intel.com/content/www/us/en/news room/opinion/powering-metaverse.html,
acessado em 15 de novembro de 2023.

308 Matthew Ball, e metaverse: and how it will revolutionize everything. Nova York:
Liveright Publishing Corporation, 2022, p. 21.

309 Sarah Perez, “Match group details plans for a dating ‘metaverse’, Tinder’s virtual goods-
based economy”, in TechCrunch, 3 de novembro de 2021, disponível em
https://techcrunch.com/2021/11/03/match-group-details-plansfor-a-dating-metaverse-tinders-
virtual-goods-based-economy/, acessado em 15 de novembro de 2023.

310 Tom Huddleston Jr., “Bill Gates says the metaverse will host most of your office meetings
within ‘two or three years’: here’s what it will look like”, in cnbc, 9 de dezembro de 2021,
disponível em https://www.cnbc. com/2021/12/09/bill-gates-metaverse-will-host-most-virtual-
meetings-in-afew-years.html, acessado em 15 de novembro de 2023.

311 Deborah Lovich, “What is the metaverse and why should you care?”, in Forbes, 11 de
maio de 2022, https://www.forbes.com/sites/ deborahlovich/2022/05/11/what-is-the-metaverse-
and-why-should-youcare/?sh=1581484d2704, acessado em 15 de novembro de 2023.

312 Even Shapiro, “e metaverse is coming. Nvidia  Jensen Huang on the fusion of
virtual and physical worlds”, in Time, 18 de abril de 2021, disponível em
https://time.com/5955412/arti cial-intelligence-nvidia-jensen-huang/, acessado em 15 de
novembro de 2023.

313 Simon Read, “Gaming is booming and is expected to keep growing. is chart tells you
all you need to know”, in World Economic Forum, 28 de julho de 2022, disponível em
https://www.weforum.org/agenda/2022/07/ gaming-pandemic-lockdowns-pwc-growth/,
acessado em 15 de novembro de 2023.

314 Cf. Matthew Ball, e metaverse: and how it will revolutionize everything. Nova York:
Liveright Publishing Corporation, 2022, pp. 67– 68.

315 Para Larry Page, cofundador do Google, o cérebro humano é um supercomputador com
os próprios algoritmos que, segundo ele, podem ser replicados pela inteligência arti cial. Essa
 seria anexada ao cérebro humano, segundo vimos mais acima o que propôs Sergey Brin, o
outro cofundador da empresa. Cf. Larry Page, “ 2007 Annual Meeting Plenary Lecture:
Larry Page”, in Google TechTalks, 16 de fevereiro de 2007, disponível em
https://www.youtube.com/ watch?v=69Rri8Bpz0o, acessado em 15 de novembro de 2023.

316 Matthew Ball, e metaverse: and how it will revolutionize everything. Nova York:
Liveright Publishing Corporation, 2022, p. 230.
317 Andrew Nartker, “How we’re testing Project Starline at Google”, in e Keyword, 30 de
novembro de 2021, disponível em https://blog. google/technology/research/how-were-testing-
project-starline-google/, aces sado em 15 de novembro de 2023.

318 Essas características permitem que os participantes sejam capturados e logo


processados, utilizando dados volumétricos em vez de um vídeo em 2.

319 Dan Berthiaume, “Amazon opens rst whole foods store with cashierless technology”, in
, 23 de fevereiro de 2022, disponível em https://chainstoreage.com/ amazon-opens- rst-
wholefoods-store-cashierless-technology?utm_source=omeda& utm_medium=email&
utm_campaign=NL_CSA+Day%20+Breaker& utm_keyword=&
oly_enc_id=0917D8539489j0E, acessado em 15 de novembro de 2023; Chris Walton, “5
Reasons why Amazon Go is already the greatest retail innovation of the next 30 years”, in
Forbes, 1 de março de 2022, disponível em https:// www.forbes.com/sites/christopherwalton/
2022/03/01/5-reasons-why-amazongo-is- already-the-greatest-retail- innovation-of-the-next-
30-years/ ?sh=4e0fe3f31abc, acessado em 15 de novembro de 2023.

320 Michael de Agonia, “Apple’s Face  [e iPhone ’s facial recognition tech] explained”,
in Computerworld, 1 de novembro de 2017, disponível em
https://www.computerworld.com/article/3235140/apples-face-id-the-iphone-xs-facial-
recognitiontech-explained.html, acessado em 15 de novembro de 2023.

321 Ver Matthew Ball, e metaverse: and how it will revolutionize everything. Nova York:
Liveright Publishing Corporation, 2022, pp. 295– 301.

322 Marcus Bonner, “Why we need to regulate digital identity in the metaverse”, in World
Economic Forum, 5 de dezembro de 2022, disponível em
https://www.weforum.org/agenda/2022/12/digital-identity-metaversewhy-we-need-to-regulate-
it-and-how/, acessado em 15 de novembro de 2023.

323 Falaremos mais sobre o deepfake no próximo capítulo.

324 Matthew Ball, “What the metaverse will mean”, in e Wall Street Journal, Nova York, 11
de agosto de 2022, disponível em https://www.wsj. com/articles/what-the-metaverse-will-
mean-11660233462, acessado em 15 de novembro de 2023.

325 Emiko Jozuka, “Beyond dimensions: the man who married a hologram”, in cnn Health,
29 de dezembro de 2018, disponível em https://edition.cnn. com/2018/12/28/health/rise-of-
digisexuals-intl/index.html, acessado em 15 de novembro de 2023.

326 Claire Shaffer, “Hatsune Miku, holographic japanese idol, makes her Coachella debut”, in
Rolling Stone, 3 de janeiro de 2020, disponível em https://www.rollingstone.com/music/music-
news/hatsune-miku-coachella-933263/, acessado em 15 de novembro de 2023.

327 Catriona Campbell,  by design: a plan for living with arti cial intelligence. Boca
Raton: crc Press, 2022.

328 Catriona Campbell, “Tamagotchi kids: could the future of parenthood be having virtual
children in the metaverse?”, in e Guardian, Londres, 31 de maio de 2022, disponível em
https://www.theguardian.com/technology/2022/ may/31/tamagotchi-kids-future-parenthood-
virutal-children-metaverse, acessado em 15 de novembro de 2023.

329 Angélica Maria Gallón Salazar, “No tener hijos para no contribuir a la debacle
ambiental”, in El País, Madri, 25 de setembro de 2022, disponível em
https://elpais.com/america-futura/2022-09-25/no-tener-hijos-para-no-contribuir-a-la-debacle-
ambiental.html, acessado em 15 de novembro de 2023. Um relatório de 2017 recomendava
quatro ações de alto impacto com capacidade de reduzir substancialmente as emissões pessoais
por ano, entre as quais se encontrava, em primeiro lugar, não ter lhos. “Ter um lho a menos
signi caria uma redução média, nos países desenvolvidos, de 58,6 toneladas de emissões de
2 por ano”. Seth Wynes & Kimberly A. Nicholas, “e climate mitigation gap: education and
government recommendations miss the most effective individual actions”, in Environmental
Research Letters, vol. 12, n. 7, 2017, p. 74.024.

330 Del na Celichini, “Vivía con miedo de quedar embarazada. La intervención quirúrgica
anticonceptiva que eligen cada vez más mujeres jóvenes sin hijos”, in La Nación, Buenos Aires,
6 de dezembro de 2022, disponível em https://www.lanacion.com.ar/sociedad/vivia-con-miedo-
de-quedar-embarazada-la-intervencion-quirurgica-anticonceptiva-que-eligen-cada-vez-
nid06122022/, acessado em 15 de novembro de 2023. Certamente, há outras razões que se
somam a esse medo de ter lhos. Deve-se levar em conta, especialmente, o fato de que nunca
tanto membros de uma geração foram criados por pais solteiros ou divorciados. Além disso,
somam-se os problemas econômicos. Cf. Jean M. Twenge, iGen: why today’s super-connected
kids are growing up less rebellious, more tolerant, less happy — and completely unprepared for
adulthood — and what that means for the rest of us. Nova York: Atria Books, 2018, pp. 309–
312.

331 Catriona Campbell, “Tamagotchi kids: could the future of parenthood be having virtual
children in the metaverse?”, in e Guardian, Londres, 31 de maio de 2022, disponível em
https://www.theguardian.com/technology/2022/ may/31/tamagotchi-kids-future-parenthood-
virutal-children-metaverse, acessado em 15 de novembro de 2023.

332 June Sham, “How much does it cost to raise a child”, in Bankrate, 4 de agosto de 2022,
disponível em https://www.bankrate.com/insurance/life-insurance/cost-of-raising-a-child/,
acessado em 15 de novembro de 2023.

333 Brian A. M. D. Primack, “Social media use and perceived social isolation among young
adults in the ..”, in American Journal of Preventive Medicine, vol. 53, n. 1, 2017, pp. 1–8; Alan
R. Teo, “Does mode of contact with different types of social relationships predict depression in
older adults? Evidence from a nationally representative survey”, in Journal of the American
Geriatrics Society, vol. 63, n. 10, 2015, pp. 2.014–2.022.

334 Lisanne S. Pauw, “e avatar will see you now: support from a virtual human provides
socio-emotional bene ts”, in Computers in Human Behavior, vol. 136, 2022, p. 107.368. Em
nossa opinião, o único dado de valor desse estudo é a demonstração de que o ser humano, de
fato, está disposto a revelar informação pessoal e falar de suas emoções com um humano
virtual.

335 Miklos Lukacs de Pereny, Neo entes: tecnología y cambio antropológico en el siglo 21.
Cidade do México: Kabod Ediciones, 2022, p. 140.
336 José Ortega y Gasset, La rebelión de las masas. Barcelona: Planeta-Agostini, 1993, p. 17.
[Tradução tomada da edição em português, do tradutor Herrera Filho — ].

337 Pablo Muñoz Iturrieta, Las mentiras que te cuentan, las verdades que te ocultan.
Ontário: Metanoia Press, 2021, pp. 19, 26–28. Nessa obra, eu desenvolvo o conceito grego do
idiota, a pessoa ensimesmada cuja atividade jamais transcende o pessoal, sem se envolver
politicamente em sua sociedade.

338 Ibid., p. 26.

339 Hannah Arendt, e origins of totalitarianism. Nova York: Harcourt, 1985, pp. 316–317.
[Em português, As origens do totalitarismo, trad. Roberto Raposo. São Paulo: Companhia de
Bolso, 2013 — ].

340 Augustín Laje, La batalla cultural: re exiones críticas para una Nueva Derecha. Cidade
do México: Harper Collins México, 2022, p. 184.

341 Hannah Arendt, e origins of totalitarianism. Nova York: Harcourt, 1985, p. 308.

342 Ibid., p. 478.

343 Rod Dreher, Live not by lies: a manual for christian dissidents. Madri: Encuentro, 2021,
p. 31.

344 Ida Auken, “Welcome to 2030: I own nothing, have no privacy and life has never been
better”, in Forbes, 10 de novembro de 2016, disponível em
https://www.forbes.com/sites/worldeconomicforum/2016/11/10/shopping-i-cant-really-
remember-what-that-is-or-how-differently-well-live-in2030/?sh=684f0ed31735, acessado em
15 de novembro de 2023.

345 Ramin Mojtabai, “National Trends in the prevalence and treatment of depression in
adolescents and young adults”, in Pediatrics, vol. 138, n. 6, 2016, p. 1; Rebecca Nowland,
“Loneliness and social internet use: pathways to reconnection in a digital world?”, in
Perspectives on Psychological Science, vol. 13, n. 1, 2018, pp. 70–87; Amy Orben & Andrew K.
Przybylski, “e association between adolescent well-being and digital technology use”, in
Nature Human Behaviour, vol. 3, n. 2, 2019, pp. 173–182; Praveetha Patalay & Suzanne H.
Gage, “Changes in millennial adolescent mental health and health-related behaviours over 10
years: a population cohort compar ison study”, in International Journal of Epidemiology, vol.
48, n. 5, 2019, pp. 1.650–1.664; Jean M. Twenge, “Age, period, and cohort trends in mood
disorder indicators and suicide-related outcomes in a nationally representative dataset, 2005–
2017”, in Journal of Abnormal Psychology, vol. 128, n. 3, 2019, pp. 185–199.

346 Jean M. Twenge, “Worldwide Increases in Adolescent Loneliness”, in Journal of


Adolescence, vol. 93, n. 1, 2021, p. 267.

347 Jean M. Twenge, iGen: why today’s super-connected kids are growing up less rebellious,
more tolerant, less happy — and completely unprepared for adulthood — and what that means
for the rest of us. Nova York: Atria Books, 2018, p. 111.
348 Jean M. Twenge & Brian H. Spitzberg, “Declines in non-digital social interaction among
americans, 2003–2017”, in Journal of Applied Social Psychology, vol. 50, n. 6, 2020, pp. 363–
367; Jean M. Twenge, “Less in-person social interaction with peers among .. adolescents in
the 21st century and links to loneliness”, in Journal of Social and Personal Relationships, vol. 36,
n. 6, 2019, pp. 1892–1913.

349 Maria Elizabeth Loades, “Rapid systematic review: the impact of social isolation and
loneliness on the mental health of children and adolescents in the context of -19”, in
Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, vol. 59, n. 11, 2020, pp.
1218–1239.

350 J. Luby & S. Kertz, “Increasing suicide rates in early adolescent girls in the United States
and the equalization of sex disparity in suicide: the need to investigate the role of social media”,
in jama 2, n. 5, 2019, p. e193916.

351 Feifei Bu, “Loneliness during a strict lockdown: trajectories and predictors during the
 -19 Pandemic in 38,217 United Kingdom Adults”, in Social Science & Medicine, vol. 265,
2020, p. 113.521.

352 Frase cunhada por Cathy O’Neil, Weapons of math destruction: how big data increases
inequality and threatens democracy. Nova York: Crown Publishers, 2016. [Em português,
Algoritmos de destruição em massa, trad. Rafael Abraham. Santo André: Rua do Sabão, 2020 —
].

353 Um dos melhores estudos sobre o tema é o do médico Aaron Kheriaty, e new
abnormal: the rise of the biomedical security state. Washington, ..: Regnery Publishing, 2022.

354 Ver, por exemplo, Klaus Schwab & ierry Malleret, -19: el gran reinicio. Nova
York: Forum Publishing, 2020.

355 Basta repassar a série de exercícios de pandemia nas últimas décadas, os quais
funcionaram como manual de instruções: as simulações de ataques terroristas com varíola
(1999), Dark Winter (2001), Atlantic Storm (2003, 2005), Global Mercury (2003), Lockstep
(2010), Mars (2017),  (2017), Clade  (2018), Crimson Contagion (2019), Event 201
(2019). Cf. Kheriaty, e New Abnormal, pp. 36–38.

356 Rebecca Stewart, “Facebook spends on ads to celebrate the role of its communities in
lockdown”, in e Drum, 29 de abril de 2020, disponível em
https://www.thedrum.com/news/2020/04/29/facebook-spends-ads-celebrate-the-role-its-
communities-lockdown, acessado em 15 de novembro de 2023.

357 Syed Ghulam Sarwar Shah, “e -19 pandemic: a pandemic of lockdown
loneliness and the role of digital technology”, in Journal of Medical Internet Research, vol. 22, n.
11, 2020, p. e22287.

358 Verolien Cauberghe, “How Adolescents use social media to cope with feelings of
loneliness and anxiety during -19 lockdown”, in Cyberpsychology, Behavior and Social
Networking, vol. 24, n. 4, 2021, pp. 25–257.
359 Kantar, “-19 Barometer: consumer attitudes, media habits and expectations”, in
Kantar, 3 de abril de 2020, disponível em
https://www.kantar.com/inspiration/coronavirus/covid-19-barometer-consumer-attitudes-
media-habits-and-expectations, acessado em 15 de novembro de 2023.

360 Ver, por exemplo, os estudos de Valentina Boursier, “Facing loneliness and anxiety
during the -19 isolation: the role of excessive social media use in a sample of Italian
Adults”, in Frontiers in Psychiatry, vol. 11, 2020, p. 586.222; Cauberghe, “How adolescents use
social media”, pp. 25–257.

361 Um algoritmo é programado para “predizer” quem vai comprar uma  e, assim,
mostrar um anúncio sobre o último modelo a essa pessoa, não a quem não tem poder
aquisitivo. Os algoritmos que “direcionam” vão mostrar, por exemplo, diferentes notícias a uma
pessoa para motivá-la a não votar em certo candidato e, assim, convencê-la a não votar nele, ou
a apoiar o candidato contrário.

362 A Amazon, por exemplo, tem laboratórios de dados, ou seja, centros de investigação
onde cientistas de dados analisam até o mínimo detalhe os padrões de comportamento de seus
usuários e toda a experiência de compra (desde o tempo que demorou para a chegada do
pacote até o comentário que o usuário deixou) para, assim, ir aperfeiçoando o sistema com
todo novo dado que traga algo que se traduza em maiores compras.

363 Analisaremos esse caso no próximo capítulo.

364 Uma das razões para esse rápido crescimento inovador é que as aplicações da internet
podem ser desenvolvidas paralelamente em qualquer lugar do mundo.

365 Cf. Amazon, ¿Qué es la minería de datos?, disponível em https://


aws.amazon.com/es/what-is/data-mining/, acessado em 15 de novembro de 2023. Mark
Coeckelbergh concorda que a expressão “mineração de dados” é enganosa. Cf. Mark
Coeckelbergh, ai Ethics. Cambridge:  Press, 2020, p. 85. [Não disponível ainda em
português, mas existente em espanhol sob o título Ética de la inteligencia arti cial. Madri:
Cátedra, 2021 — ].

366 Essa última função acabou não sendo incluída devido ao impacto que isso teria: bastaria
apontar a câmera do celular a um desconhecido para que o buscador oferecesse toda uma série
de resultados sobre essa pessoa (nome, ocupação e qualquer outra informação disponível na
internet) se, por exemplo, ela estivesse em uma plataforma como o Facebook. Cf. Steven Levy,
In the plex: how Google thinks, works, and shapes our lives. Nova York: Simon & Schuster,
2011, p. 232.

367 Marzook Khatri, “Network amelioration, ai automation and future integration in


wireless networks”, in International Journal for Research in Applied Science and Engineering
Technology, vol. 9, n. 8, 2021, pp. 2607– 2613.

368 Hal R. Varian, “Computer mediated transactions”, in e American Economic Review,


vol. 100, n. 2, 2010, pp. 1–10; Hal R. Varian, “Beyond Big Data”, in Business Economics, vol. 49,
2014, pp. 27–31.
369 Num futuro próximo, veremos como em certos países, por exemplo, o Canadá, serão
impostos limites implementados mediante a moeda digital e o controle tecnológico, já que
assim será possível bloquear a compra de passagens de avião ou a circulação de um veículo,
caso se tenha emitido mais 2 do que o permitido.

370 Ibid., p. 4

371 Essa é a desculpa que geralmente dão os contratos de qualquer dispositivo tecnológico
que compramos, quando nos obrigam a aceitar os seus termos como condição de uso, mas é
óbvio que esses dados não bene ciam principalmente o usuário com a melhoria do produto,
pois são parte do mecanismo de data cação e comercialização do comportamento humano.

372 Josh Chin & Liza Lin, Surveillance State: China’s Quest to launch a new era of social
control. Nova York: St. Martin’s Press, 2022, pp. 125–127.

373 Hal R. Varian, “Computer mediated transactions”, in e American Economic Review,


vol. 100, n. 2, 2010, p. 5.

374 Caroline Haskins, “Walmart is facing a class action suit for allegedly violating an Illinois
Privacy Law by using surveillance cameras and clearview ai’s facial recognition database”, in
Insider, 6 de setembro de 2022, disponível em https://www.businessinsider.com/walmart-is-
facing-a-classaction-over-its-alleged-use-of-surveillance-cameras-and-clearview-ais-
facialrecognition-database-2022-9, acessado em 15 de novembro de 2023.

375 Zuboff chama essa simbiose de “ciclo de reinvestimento de valor comportamental”, pois,
nessa etapa, todos os dados de comportamento são reinvestidos na melhoria de um produto ou
serviço, em vez de serem empregados na comercialização. Cf. Shoshana Zuboff, e age of
surveillance capitalism. Nova York: Public Affairs, 2019, pp. 68–69.

376 Ibid., p. 8.

377 Certamente, em muitos casos, são campanhas comerciais legítimas, mas, em outros
casos, podem ter efeitos psicológicos predatórios, que se aproveitam da situação pessoal, da
condição psicológica, da idade etc.

378 Sarah Sluis, “Digital ad market soars to $88 billion, Facebook and Google contribute
90% of growth”, in AdExchanger, 10 de maio de 2018, disponível em
https://www.adexchanger.com/online-advertising/digital-admarket-soars-to-88-billion-
facebook-and-google-contribute-90-of-growth/, acessado em 28 de outubro de 2023.

379 Douglas Edwards, I’m feeling lucky: the confessions of Google employee number 59.
Nova York: Houghton Mifflin Harcourt, 2011, p. 291.

380 e Associated Press, “Google buys YouTube for $1.65 billion”, in nbc News, 9 de
outubro de 2006, disponível em https://www.nbcnews.com/id/ wbna15196982, acessado em 15
de novembro de 2023.

381 Daisuke Wakabayashi, “Google will no longer scan Gmail for ad targeting”, in e New
York Times, Nova York, 23 de junho de 2017, disponível em
https://www.nytimes.com/2017/06/23/technology/gmail-ads.html, acessado em 15 de
novembro de 2023.

382 Shoshana Zuboff, e age of surveillance capitalism. Nova York: Public Affairs, 2019, p.
129.

383 Kevin J. O’Brien e Claire Cain Miller, “Germany’s complicated relationship with Google
Street View”, in e New York Times, Nova York, 23 de abril de 2013, disponível em
https://archive.nytimes.com/bits.blogs. nytimes.com/2013/04/23/germanys-complicated-
relationship-with-google-street-view/, acessado em 15 de novembro de 2023.

384 Federal Communications Commission, “In the Matter of Google, Inc.: Notice of
apparent liability for forfeiture”, File No.: EB-10-IH-4055, NAL/ Acct. No.: 201232080020,
FRNs: 0010119691, 0014720239, 13 abril 2012, pp. 12–13.

385 Katie Paul, “Eric Schmidt: Obama’s Chief Corporate Ally”, in Tech Transparency Project,
26 de abril de 2016, disponível em https://www.techtransparencyproject.org/articles/eric-
schmidt-obamas-chief-corporate-ally, acessado em 15 de novembro de 2023.

386 Disponível em https://www.sidewalklabs.com/, acessado em 15 de novembro de 2023.

387 Disponível em https://www.link.nyc/, acessado em 15 de novembro de 2023.

388 Nick Pinto, “Google Is Transforming ’s Payphones into a ‘personalized propaganda
engine’”, in e Village Voice, 6 de julho de 2016, disponível em
https://www.villagevoice.com/google-is-transforming-nycs-payphones-into-a-personalized-
propaganda-engine, acessado em 15 de novembro de 2023; Mark Harris, “Inside alphabet’s
money-spinning, terrorist-foiling, gigabit Wi-Fi kiosks”, in Vox, 1 de julho de 2016, disponível
em https://www.vox.com/2016/7/1/12072122/alphabet-sidewalk-labs-city-wi -sidewalk-kiosks,
acessado em 15 de novembro de 2023..

389 Aarian Marshall, “Alphabet’s plan for Toronto depends on huge amounts of data”, in
Wired, 24 de junho de 2019, disponível em https://www.wired. com/story/alphabets-plan-
toronto-depends-huge-amounts-data, acessado em 15 de novembro de 2023.

390 Jason McBride, “How the sidewalk labs proposal landed in Toronto: the backstory”, in
Toronto Life, 4 de setembro de 2019, disponível em https:// torontolife.com/city/how-the-
sidewalk-labs-proposal-landed-in-toronto-the-backstory, acessado em 15 de novembro de
2023.

391 Shoshana Zuboff, “Toronto is surveillance capitalism’s new frontier”, in Toronto Life, 4
de setembro de 2019, disponível em https://torontolife.com/ city/toronto-is-surveillance-
capitalisms-new-frontier, acessado em 15 de novembro de 2023.

392 Alex Bozikovic, “e end of sidewalk labs”, in Architectural Records, 22 de março de
2022, disponível em https://www.architecturalrecord.com/ articles/15573-the-end-of-sidewalk-
labs, acessado em 15 de novembro de 2023.

393 Andrew Hawkins, “Alphabet’s sidewalk labs shuts down Toronto Smart City Project”, in
e Verge, 7 de maio de 2020, disponível em https://www.
theverge.com/2020/5/7/21250594/alphabet-sidewalk-labs-toronto-quayside-shutting-down,
acessado em 15 de novembro de 2023.

394 Federica Laricchia, “Mobile operating systems’ market share worldwide from 1st quarter
2009 to 4th quarter”, in Statista, 17 de janeiro de 2023, disponível em
https://www.statista.com/statistics/272698/ global-market-share-held-by-mobile-operating-
systems-since-2009/ #:~:text=Android%20maintained%20%20its %20position%20as,the%20
mobile%20operating%20system%20market, acessado em 15 de novembro de 2023.

395 Primal Wijesekera, “Android permissions remysti ed: a eld study on contextual
integrity”, apresentação realizada no  Security ‘24, Washington, .., 12–14 de agosto de
2015, pp. 499–514.

396 Chris Hoofnagle, “Facebook and Google are the new data brokers”, in Cornell Tech, 5 de
janeiro de 2021, disponível em https://www.dli.tech. cornell.edu/post/facebook-and-google-are-
the-new-data-brokers, acessado em 15 de novembro de 2023.

397 Na página principal deles, anunciam: “Nós ajudamos os melhores especialistas de


marketing do mundo a entenderem melhor seus clientes. Nossas soluções de inteligência de
clientes baseadas em dados oferecem as melhores experiências para as pessoas e mais
crescimento para as marcas”, disponível em https://www.acxiom.com/, acessado em 16 de
novembro de 2023.

398 Em inglês, soware development kits ().

399 Charlie Warzel, “e loophole that turns your apps into spies”, in e New York Times,
Nova York, 24 de setembro de 2019, disponível em https://
www.nytimes.com/2019/09/24/opinion/facebook-google-apps-data.html, acessado em 16 de
novembro de 2023.

400 Kyle Russell, “Automatic launches its , turning the car into an app platform”, in
TechCrunch+, 19 de maio de 2015, disponível em
https://techcrunch.com/2015/05/19/automatic-launches-itssdk-turning-the-car-into-an-app-
platform/, acessado em 16 de novembro de 2023.

401 Se eu ofereço um serviço de reforço escolar de matemática, em vez de gastar dinheiro


em grandes campanhas, eu agora posso mirar especi camente nos lares que têm lhos
estudantes, até mesmo em lares onde há buscas na internet para resolver problemas
matemáticos ou onde as conversas que um aplicativo grava dão informação a respeito disso.

402 Bennett Cyphers, “How the Federal Government buys our cell phone location data”, in
Electronic Frontier Foundation, 13 de junho de 2022, disponível em https://www.eff.org/pt-
br/deeplinks/2022/06/how-federal-government-buys-our-cell-phone-location-data, acessado
em 16 de novembro de 2023.

403 Disponível em https://outlogic.io/, acessado em 16 de novembro de 2023.

404 Joseph Cox, “How the .. Military buys location data from ordinary apps”, in
Motherboard, 16 de novembro de 2020, disponível em
https://www.vice.com/en/article/jgqm5x/us-military-location-data-xmode-locate-x, acessado
em 16 de novembro de 2023.

405 David Lazarus, “Shadowy data brokers make the most of their invisibility cloak”, in Los
Angeles Times, Los Angeles, 5 de novembro de 2019, disponível em
https://www.latimes.com/business/story/2019-11-05/column-data-brokers, acessado em 16 de
novembro de 2023.

406 Joseph Cox, “More muslim apps worked with -mode, which sold data to military
contractors”, in Motherboard, 28 de janeiro de 2021, disponível em
https://www.vice.com/en/article/epdkze/ muslim-apps-location-data-military-xmode, acessado
em 16 de novembro de 2023.

407 Byron Tau & Michelle Hackman, “Federal Agencies use cellphone location data for
immigration enforcement”, in Wall Street Journal, Nova York, 7 de fevereiro de 2020, disponível
em https://www.wsj.com/articles/ federal-agencies-use-cellphone-location-data-for-
immigration-enforcement-11581078600, acessado em 16 de novembro de 2023.

408 Michelle Boorstein, “Top .. Catholic church official resigns aer cellphone data used
to track him on Grindr and to gay bars”, in e Washington Post, Washington, .., 21 de julho
de 2021, disponível em https://www.washingtonpost.com/re ligion/2021/07/20/bishop-
misconduct-resign-burrill/, acessado em 16 de novembro de 2023.

409 Yves-Alexandre de Montjoye, “Unique in the crowd: the privacy bounds of human
mobility”, in Scienti c Reports, vol. 3, n. 1376, 2013.

410 Disponível em https://near.com, acessado em 16 de novembro de 2023.

411 Disponível em https://www.mobilewalla.com/mobile-data, acessado em 16 de novembro


de 2023.

412 Disponível em https://xmode.io/, acessado em 16 de novembro de 2023.

413 A Babel Street, uma empresa de venda de dados, compra todos os seus dados com a
Venntel. A Venntel, por sua vez, adquire grande parte de seus dados de sua empresa matriz, a
Gravy Analytics, a qual, por sua vez, adquire dados da Complementics, da Prediccio e da
Mobilewalla. Isso gera um mercado anual de 12 bilhões de dólares. Cf. Jon Keegan & Alfred Ng,
“ere’s a multibillion-dollar market for your phone’s location data”, in e Markup, 30 de
setembro de 2021, disponível em https://themarkup.org/privacy/2021/09/30/theres-a-
multibillion-dollar-market-for-your-phones-locationdata, acessado em 16 de novembro de
2023.

414 Affectiva, “Affectiva Introduces New Functionality to Enhance Media Analytics Insight”,
disponível em https://www.affectiva.com/news-item/ affectiva-introduces-new-functionality-
to-enhance-media-analytics-insight/, acessado em 16 de novembro de 2023.

415 Joel Reardon, “50 ways to leak your data: an exploration of apps’ circumvention of the
Android permissions system”, in  Security Symposium, Santa Clara, 2019.
416 Jon Keegan & Alfred Ng, “ere’s a multibillion-dollar market for your phone’s location
data”, in e Markup, 30 de setembro de 2021, disponível em
https://themarkup.org/privacy/2021/09/30/theres-a-multibillion-dollarmarket-for-your-
phones-location-data, acessado em 16 de novembro de 2023.

417 Miriam Ruhenstroth, “How Facebook knows which apps you use — and why this
matters”, in Mobilisicher, 1 de junho de 2022, disponível em https://
mobilsicher.de/ratgeber/how-facebook-knows-which-apps-you-use-and-whythis-matters,
acessado em 16 de novembro de 2023.

418 Charlie Warzel, “Apps are revealing your private information to Facebook and you
probably don’t know it”, in BuzzFeed, 19 de dezembro de 2018, disponível em
https://www.buzzfeednews.com/article/charliewarzel/ apps-are-revealing-your-private-
information-to-facebook-and, acessado em 16 de novembro de 2023.

419 Miriam Ruhenstroth, “How Facebook knows which apps you use — and why this
matters”, in Mobilisicher, 1 de junho de 2022, disponível em https://
mobilsicher.de/ratgeber/how-facebook-knows-which-apps-you-use-and-whythis-matters,
acessado em 16 de novembro de 2023.

420 Megha Rajagopalan, “Period tracker apps used by millions of women are sharing
incredibly sensitive data with Facebook”, in BuzzFeed, 9 de setembro de 2019, disponível em
https://www.buzzfeednews.com/article/meghara/period-tracker-apps-facebook-maya-mia-fem,
acessado em 16 de novembro de 2023.

421 Kashmir Hill, “How Target gured out a teen girl was pregnant before her father did”, in
Forbes, 16 de fevereiro de 2012, disponível em https://
www.forbes.com/sites/kashmirhill/2012/02/16/how-target- gured-out-a-teengirl-was-
pregnant-before-her-father-did/?sh=7867f0446668, acessado em 16 de novembro de 2023.

422 Shai Oster, “Chinese gaming billionaire buys .. gay dating app Grindr”, in Bloomberg,
11 de janeiro de 2016, disponível em https://www.bloomberg.com/news/articles/2016-01-
12/chinatech-billionaire-buys-control-of-us-gay-dating-app-grindr, acessado em 16 de
novembro de 2023.

423 Disponível em https://apps.apple.com/us/app/tinder-dating-new-people/ id547702041,


acessado em 16 de novembro de 2023.

424 Norwegian Consumer Council, “Out of control: how consumers are exploited by the
online advertising industry”, in Forbruker Râdet, Oslo, 2020, disponível em
https:// l.forbrukerradet.no/wp-content/ uploads/2020/01/2020-01-14-out-of-control- nal-
version.pdf, acessado em 16 de novembro de 2023.

425 Disponível em https://policies.tinder.com/privacy/intl/en#information-we-collect,


acessado em 16 de novembro de 2023.

426 Laura DeNardis, e internet in everything: freedom and security in a world with no off
switch. New Haven: Yale University Press, 2020.

427 Samuel Greengard, e Internet of ings. Cambridge:  Press, 2015, pp. -.
428 Research and Markets, “China home appliances markets, 2020-2026: subsidy by the
Chinese Government, initiatives of Chinese Companies, -19 impact”, in pr Newswire, 13
de novembro de 2020, disponível em https://www.prnewswire.com/news-releases/ china-home-
appliances-markets-2020-2026-subsidy-by-the-chinese-government--initiatives-of-chinese-
companies-covid-19-impact-301172898.html, acessado em 16 de novembro de 2023.

429 Aynne Kokas, Trafficking data: how China is winning the battle for digital sovereignty.
Nova York: Oxford University Press, 2023, p. 172.

430 Citado por Josh Chin e Liza Lin, Surveillance State: China’s Quest to launch a new era of
social control. Nova York: St. Martin’s Press, 2022, p. 92.

431 Xie Yu, “Haier bought ge Appliances for $5.6 billion. now it’s working on xing it”, in
South China Morning Post, Hong Kong, 23 de outubro de 2017, disponível em
https://www.scmp. com/business/companies/article/2116486/chinas-haier-has-plan-help-
continue-turnaround-ge-appliances, acessado em 16 de novembro de 2023.

432 Grand View Research, “Smart home market size, share & trends analysis report by
product, by protocol (Wireless Protocols, Wired Protocols), by application (New Construction,
Retro t), by region, and segment forecasts, 2022–2030”, in , 2018, disponível em https://
www.grandviewresearch.com/industry-analysis/smart-homes-industry/segmentation, acessado
em 16 de novembro de 2023.

433 Jason Cohen, “Amazon’s Alexa collects more of your data than any other smart assistant”,
in pg Mag, 30 de março de 2022, disponível em https:// www.pcmag.com/news/amazons-alexa-
collects-more-of-your-data-than-anyother-smart-assistant, acessado em 16 de novembro de
2023.

434 Leo Kelion, “Google-Nest merger raises privacy issues”, in  News, Londres, 8 de
fevereiro de 2018, disponível em https://www.bbc.com/news/technology-42989073, acessado
em 16 de novembro de 2023.

435 Shoshana Zuboff, e age of surveillance capitalism. Nova York: Public Affairs, 2019, p.
8.

436 omas Brewster, “Smart home surveillance: governments tell Google’s nest to hand
over data 300 times”, in Forbes, 13 de outubro de 2018, disponível em
https://www.forbes.com/sites/thomasbrewster/2018/10/13/smarthome-surveillance-
governments-tell-googles-nest-to-hand-over-data-300times/?sh=5a5bdc9e2cfa, acessado em 16
de novembro de 2023.

437 David E. Pozen, “e Mosaic eory, National Security, and the Freedom of Information
Act”, in e Yale Law Journal, vol. 115, n. 3, 2005, p. 628.

438 Disponível em https://www.rightstudent.com/, acessado em 16 de novembro de 2023.

439 O sistema pertence à Noel-Levitz, uma rma de consultoria em educação. , “Identify
which students are most likely to enroll with this predictive modeling tool”, disponível em
https://www. ruffalonl.com/enrollment-management-solutions/cultivating-applicants/ forecast-
plus-student-recruitment-predictive-modeling/, acessado em 16 de novembro de 2023.
440 Os engenheiros da Apple revelaram que escutavam a informação pessoal, médica, de
trá co de drogas e até mesmo pessoas tendo momentos íntimos. Tudo é registrado. Cf. Alex
Hern, “Apple contractors ‘regularly hear con dential details’ on Siri recordings”, in e
Guardian, 26 de julho de 2019, https://www.theguardian.com/technology/2019/jul/26/apple-
contractors-regularly-hear-con dential-details-on-siri-recordings, acessado em 16 de
novembro de 2023.

441 Já no ano de 2017, a empresa ree Square Market havia instalado chips em seus
empregados, o que lhes permitia entrar no edifício, conectar-se à rede e até mesmo comprar
comida. E isso não era novidade: na Suécia, os implantes de chips começaram a ocorrer lá por
2014. Cf. “Wisconsin Company ree Square Market to Microchip Employees”, in  News,
24 de julho de 2017, disponível em https://www.bbc.com/news/world-us-canada-40710051,
acessado em 16 de novembro de 2023; Jane Wake eld, “e Rise of the Swedish Cyborgs”, in
 News, 10 de dezembro de 2014, disponível em https://www.bbc.com/news/technology-
30144072, acessado em 16 de novembro de 2023.

442 Cathy O’Neil, Weapons of math destruction: how big data increases inequality and
threatens democracy. Nova York: Crown Publishers, 2016, p. 2.

443 No Canadá, a seguradora Manulife oferece gratuitamente toda uma linha de relógios de
monitoramento da Garmin — pontos vão sendo somados conforme o nível de exercício, que
podem ser convertidos em descontos no seguro anual. Disponível em
https://www.manulife.ca/personal/vitality/ rewards-and-bene ts/garmin.html, acessado em 18
de novembro de 2023.

444 Esses modelos matemáticos, portanto, levam em conta se eu dou de encontro com gente
que esteja alcoolizada ou que dirija com o celular na mão (em razão do que eles me penalizarão,
embora eu mesmo não tenha nada a ver com isso), se eu dirijo por área onde há um alto índice
de acidentes e, até mesmo, como eu estou me sentindo ao dirigir, já que algumas empresas
empregam reconhecimento facial da pessoa ao volante para analisar o estado de ânimo, se
boceja, se se distrai etc. Cf. Kristen Hall-Geisler & Jennifer Lobb, “How do those car insurance
tracking devices work?”, in .. News, 9 de março de 2022, disponível em https://www.
usnews.com/insurance/auto/how-do-those-car-insurance-tracking-deviceswork, acessado em
18 de novembro de 2023.

445 Esse é o caso das seguradoras e transportadoras, que agora podem combinar ao vivo e
em tempo real a posição geográ ca do caminhão com rastreamento de bordo e câmeras de
reconhecimento facial, que oferecem um uxo constante de dados de comportamento. Com
todos esses dados, é possível analisar minuciosamente cada motorista, as diferentes rotas,
avaliar o gasto de combustível e comparar os resultados em diferentes momentos do dia e da
noite. É possível até calcular velocidades ideais para diferentes superfícies da estrada. Cf. Aaron
Huff, “Dash cameras evolve with  for facial recognition, driver self-coaching”, in ccj, 1 de
julho de 2020, disponível em https://www.ccjdigital.com/business/article/14939758/ dash-
cameras-use-facial-recognition-driver-self-coaching, acessado em 18 de novembro de 2023.

446 Disponível em https://www.predpol.com/, acessado em 18 de novembro de 2023. Ver


Bilel Benbouzid, “To predict and to manage: predictive policing in the United States”, in Big
Data & Society, vol. 6, n. 1, 2019, pp. 1–13.
447 Essa é a razão por que Cathy O’Neil, matemática e especialista em estatística, chama os
algoritmos de algoritmos de destruição em massa. Ver exemplos do impacto nas pessoas
causado por algoritmos em aspectos laborais, nanceiros e judiciais em O’Neil, Weapons of
Math Destruction.

448 Jeff Orlowski, El dilema de las redes sociales. Estados Unidos: Net ix, 2020, disponível
em https://www.thesocialdilemma.com, acessado em 12 de novembro de 2023.

449 Ibid.

450 J. Firth, “e ‘online brain’: how the internet may be changing our cognition”, in World
Psychiatry, vol. 18, n. 2, 2019, p. 120.

451 A publicação dos Twitter Files, por parte de Elon Musk, por exemplo, revelou como um
número grande de contas tinha a visibilidade restringida porque estas eram “politicamente
incorretas” por denunciarem certas ideologias de esquerda ou ideologia trans, ou por apoiar
um candidato concreto (por exemplo, apoiar Trump) ou questionar o resultado das eleições. Cf.
Bryan Passi ume, “Twitter les explained, and what they revealed about tech censorship”, in
National Post, Toronto, disponível em https://nationalpost.com/ news/twitter- les-explained-
and-what-they-revealed-about-tech-censorship, acessado em 18 de novembro de 2023.

452 John Paul Titlow, “How Instagram learns from your likes to keep you hooked”, in Fast
Company, 7 de julho de 2017, disponível em https://www. fastcompany.com/40434598/how-
instagram-learns-from-your-likes-to-keepyou-hooked, acessado em 18 de novembro de 2023.

453 Alex Hern, “‘Never get high on your own supply’: why social media bosses don’t use
social media”, in e Guardian, Londres, 23 de janeiro de 2018, disponível em
https://www.theguardian.com/media/2018/jan/23/neverget-high-on-your-own-supply-why-
social-media-bosses-dont-use-social-media, acessado em 18 de novembro de 2023.

454 Cathy O’Neil, Weapons of math destruction: how big data increases inequality and
threatens democracy. Nova York: Crown Publishers, 2016, p. 3.

455 Aynne Kokas se distingue por a rmar claramente o elemento de manipulação que atinge
populações inteiras. Ver Aynne Kokas, Trafficking data: how China is winning the battle for
digital sovereignty. Nova York: Oxford University Press, 2023, p. 37.

456 Cathy O’Neil, Weapons of math destruction: how big data increases inequality and
threatens democracy. Nova York: Crown Publishers, 2016, p. 21.

457 Cathy O’Neil, Weapons of math destruction: how big data increases inequality and
threatens democracy. Nova York: Crown Publishers, 2016, p. 181.

458 Adam D. I. Kramer, “Experimental evidence of massive-scale emotional contagion


through social networks”, in Proceedings of the National Academy of Sciences, vol. 111, n. 24,
2014, p. 8.788.

459 Shoshana Zuboff, e age of surveillance capitalism. Nova York: Public Affairs, 2019, pp.
77–78.
460 Mark Coeckelbergh, ai Ethics. Cambridge:  Press, 2020, p. 64.

461 Já há sistemas de , por exemplo, que conseguem captar se a pessoa sofre de depressão,
informação com base na qual se pode oferecer publicidade para explorar a situação.

462 Mark Coeckelbergh, ai Ethics. Cambridge:  Press, 2020, p. 103.

463 Loti de Esteban, “Hello Barbie —  making children’s dreams come true”, in Digital
Innovation and Transformation, 17 de abril de 2020, disponível em
https://d3.harvard.edu/platform-digit/submission/hello-barbie-ai-making-childrens-dreams-
come-true/, acessado em 18 de novembro de 2023.

464 Mark Coeckelbergh, ai Ethics. Cambridge:  Press, 2020, p. 71.

465 Jae-Ho Han, “Arti cial intelligence in eye disease: recent developments, applications,
and surveys”, in Diagnostics, vol. 12, n. 8, 2022, p. e1927.

466 Ethem Alpaydin, Machine Learning. Cambridge:  Press, 2021, pp. 105–141.

467 Lukacs de Pereny, “La tiranía de los algoritmos”, in Carlos Beltramo & Carlos Polo
Samaniego, Pandemonium ¿De la pandemia al control total? Front Royal: Population Research
Institute, 2020, p. 47.

468 Yotam Mann, “ Duet”, in Experiments with Google, maio de 2017, disponível em
https://experiments.withgoogle.com/ai-duet, acessado em 18 de novembro de 2023.

469 Mark Coeckelbergh, ai Ethics. Cambridge:  Press, 2020, p. 15.

470 Nicholas Carr, e shallows: what the internet is doing to our brains. Nova York: W. W.
Norton & Company, 2010, pp. 145–146.

471 Google, “What is arti cial intelligence ()?”, disponível em


https://cloud.google.com/learn/what-is-arti cial-intelligence, acessado em 18 de novembro de
2023.

472 Catriona Campbell,  by design: a plan for living with arti cial intelligence. Boca
Raton: crc Press, 2022, p. 107.

473 Yuval N. Harari, Homo Deus: a brief history of tomorrow. Toronto: Signal, 2017, p. 393.
[Em português, Homo Deus: uma breve história do amanhã, trad. Paulo Geiger. São Paulo:
Companhia das Letras, 2016 — ].

474 Catriona Campbell,  by design: a plan for living with arti cial intelligence. Boca
Raton: crc Press, 2022, p. 106.

475 Ibid., p. 107.

476 Ainda assim, esse processo de automação deve nos levar a pensar sobre o futuro do
trabalho humano e no tipo de vida que teremos em troca.
477 Hannah Arendt, e human condition. Chicago, il.: University of Chicago Press, 1958,
p. 322. [Em português, A condição humana, trad. Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2007 — ].

478 Pablo Muñoz Iturrieta, Las mentiras que te cuentan, las verdades que te ocultan.
Ontário: Metanoia Press, 2021.

479 A variável tecnológica que, como sempre denuncia Miklos Lukacs, não pode car de
fora de nenhuma análise atual.

480 Murray defende, por exemplo, que a ideologia política do Google é a da esquerda
libertária. Ver Douglas Murray, e madness of crowds: gender, race and identity. Londres:
Bloomsbury, p. 110. [Em português, A loucura das massas: gênero, raça e identidade, trad.
Alessandra Borrunquer. Rio de Janeiro: Record, 2020 — ].

481 Juan Manuel de Prada, “Educación para la esclavitud”, in abc, Madri, 17 de julho de
2006, disponível em https://www.abc.es/opinion/abci-educacion-para-esclavitud-
200607170300-1422484724626_noticia.html, acessado em 18 de novembro de 2023.

482 World Economic Forum, “New vision for education: fostering social and emotional
learning through technology”, in Davos, 2016, disponível em
https://www3.weforum.org/docs/WEF_New_Vision_for_Education.pdf, acessado em 18 de
novembro de 2023.

483 Ibid., p. 14.

484 Disponível em https://whipsaw.com/project/versame-starling, acessado em 18 de


novembro de 2023.

485 Disponível em https://www.empatica.com, acessado em 18 de novembro de 2023.

486 World Economic Forum, “New vision for education: fostering social and emotional
learning through technology”, in Davos, 2016, disponível em
https://www3.weforum.org/docs/WEF_New_Vision_for_Education.pdf, acessado em 18 de
novembro de 2023.

487 Disponível em https://www.kidaptive.com/, acessado em 18 de novembro de 2023.

488 World Economic Forum, “New vision for education: fostering social and emotional
learning through technology”, in Davos, 2016, p. 15, disponível em
https://www3.weforum.org/docs/WEF_New_Vision_for_ Education.pdf, acessado em 18 de
novembro de 2023.

489 Disponível em https://eonreality.com/, acessado em 18 de novembro de 2023.

490 World Economic Forum, “New vision for education: fostering social and emotional
learning through technology”, in Davos, 2016, disponível em
https://www3.weforum.org/docs/WEF_New_Vision_for_Education.pdf, acessado em 18 de
novembro de 2023.
491 Disponível em https://eonreality.com/platform/, acessado em 18 de novembro de 2023.

492 World Economic Forum, “New vision for education: fostering social and emotional
learning through technology”, in Davos, 2016, p. 15, disponível em
https://www3.weforum.org/docs/WEF_New_Vision_for_Education.pdf, acessado em 18 de
novembro de 2023.

493 Disponível em https://www.civitaslearning.com/, acessado em 18 de novembro de 2023.

494 World Economic Forum, “New vision for education: fostering social and emotional
learning through technology”, in Davos, 2016, disponível em
https://www3.weforum.org/docs/WEF_New_Vision_for_Education.pdf, acessado em 18 de
novembro de 2023.

495 Disponível em https://www.affectiva.com/, acessado em 18 de novembro de 2023

496 Disponível em http://www.affectiva.com/news-item/smart-eye-extends-use-of-affectiva-


emotion-ai-for-qualitative-research-with-conversational-engagement-and-valence-metrics,
acessado em 18 de novembro de 2023.

497 A expressão deepfake era o nome de um usuário do Reddit que subia esses tipos de
vídeos, combinando o deep learning [aprendizado profundo] com o fake [falso]. Cf. Samantha
Cole, “We are truly fucked: everyone is making -Generated fake porn now”, in Motherboard,
25 de janeiro de 2018, disponível em https://www. vice.com/en/article/bjye8a/reddit-fake-porn-
app-daisy-ridley, acessado em 18 de novembro de 2023.

498 Rana Ayyub, “I was the victim of a deepfake porn plot intended to silence me”, in
HuffPost, 21 de novembro de 2018, disponível em https://www.
huffingtonpost.co.uk/entry/deepfake-porn_uk_5bf2c126e4b0f32bd58ba316, acessado em 18 de
novembro de 2023.

499 Catherine Stupp, “Fraudsters used ai to mimic ’s voice in unusual cybercrime case”,
in e Wall Street Journal, Nova York, 30 de agosto de 2019, disponível em https://www.wsj.
com/articles/fraudsters-use-ai-to-mimic-ceos-voice-in-unusual-cybercrimecase-11567157402,
acessado em 18 de novembro de 2023.

500 Zack Sharf, “Anthony Bourdain Doc recreates his voice using arti cial intelligence and
10-plus hours of audio”, in IndieWire, 15 de julho de 2021, disponível em
https://www.indiewire.com/features/general/anthony-bourdain-doc-arti cial-intelligence-
recreate-voice-1234651491, acessado em 18 de novembro de 2023.

501 Shruti Agarwal, “Protecting world leaders against deep fakes”, in cvpr Workshops, 2019,
pp. 38–45, https://openaccess.thecvf.com/content_
CVPRW_2019/papers/Media%20Forensics/Agarwal_Protecting_World_
Leaders_Against_Deep_Fakes_CVPRW_2019_paper.pdf, acessado em 18 de novembro de
2023.

502 Em inglês, generative adversarial network ().


503 Bobby Chesney & Danielle Citron, “Deep fakes: a looming challenge for privacy,
democracy, and national security”, in California Law Review, vol. 107, n. 6, 2019.

504 Sean Maher, “Deep fakes: seeing and not believing”, in Michael Filimowicz (ed.), Deep
Fakes. Abingdon: Routledge, 2022, pp. 5–6.

505 Emily Grumbling & Anne Johnson, “Implications of arti cial intelligence for
cybersecurity: proceedings of a workshop”, in Engineering National Academies of Sciences and
Medicine (ed.), Deep Fakes. Washington, ..: National Academies Press, 2019, pp. 54–60.

506 Aynne Kokas, Trafficking data: how China is winning the battle for digital sovereignty.
Nova York: Oxford University Press, 2023, pp. 108–109.

507 Stephanie Kampf & Mark Kelley, “A new ‘arms race’: how the .. Military is spending
millions to ght fake images”, in cbc News, 18 de novembro de 2018, disponível em
https://www.cbc.ca/news/ science/ ghting-fake-images-military-1.4905775, acessado em 18 de
novembro de 2023. A lei é a S. 2065, Deepfake Report Act of 2019.

508 Michael Filimowicz, Deep fakes: algorithms and society. Abingdon: Routledge, 2022, p.
.

509 Jon Boone, “Indian couple accused of faking photo of summit at Mount Everest”, in e
Guardian, Londres, 29 de junho de 2016, disponível em
https://www.theguardian.com/world/2016/jun/29/mount-everest-summit-india-couple-
morphed-photos, acessado em 18 de novembro de 2023.

510 Shoshana Zuboff, e age of surveillance capitalism. Nova York: Public Affairs, 2019, p.
8.

511 Ibid., p. 214.

512 aler e Sunstein, por exemplo, propõem que seja explorada a psicologia por trás do
processo de decisão, de forma que a pessoa que condicionada a tomar uma decisão especí ca,
mas isso sem ter que coagi-la. Cf. Richard H. aler & Cass R. Sunstein, Nudge: improving
decisions about health, wealth, and happiness. New Haven & Londres: Yale University Press,
2008, p. 6. [Em português, Nudge: como tomar melhores decisões sobre saúde, dinheiro e
felicidade, trad. Ângelo Lessa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2019 — ].

513 Rod Dreher, Live not by lies: a manual for christian dissidents. Madri: Encuentro, 2021,
p. 148.

514 Segundo Zuboff, novamente, esses processos que forçam nossa conduta têm em vista
“objetivos comerciais”. Cf. Shoshana Zuboff, e age of surveillance capitalism. Nova York:
Public Affairs, 2019, p. 220.

515 Byung-Chul Han, Psicopolítica, trad. Alfredo Bergés. Barcelona: Herder, 2014, p. 25.
[Em português, Psicopolítica, trad. Marcelo Liesen. Belo Horizonte: Âyiné, 2018 — ].

516 Essa é a visão proposta por Alex Pentland, Social physics: how social networks can make
us smarter. Nova York: Penguin Books, 2015.
517 Respectivamente, essas empresas são um re exo e uma versão chinesa do Google, da
Amazon e do Facebook/Instagram/Twitter.

518 Mark Coeckelbergh, e political philosophy of ai. Medford: Polity Press, 2022, p. 5.

519 Kelley Cotter & Bianca C. Reisdorf, “Algorithmic knowledge gaps: a new dimension of
inequality”, in International Journal of Communication, 2020, p. 745.

520 Patel conta que as buscas para tarefas escolares nas noites de domingo os zeram
perceber como poderiam analisar a conduta de cada usuário. Cf. Steven Levy, In the plex: how
Google thinks, works, and shapes our lives. Nova York: Simon & Schuster, 2011, pp. 45–46.

521 “Uniting and strengthening America by providing appropriate tools required to


intercept and obstruct terrorism”, in  Patriot Act, 2001, pp. 107–156, disponível em
https://www. govinfo.gov/app/details/PLAW-107publ56, acessado em 18 de novembro de 2023.

522 Um livro que relata como, a partir de 11 de setembro de 2001, as práticas de vigilância
foram intensi cadas e os obstáculos legais existentes até então foram retirados é: David Lyon,
Surveillance aer September 11. Malden: Polity Press, 2003. Ver também Shoshana Zuboff, e
age of surveillance capitalism. Nova York: Public Affairs, 2019, p. 115.

523 Michael E. Belko, “Government venture capital: a case study of the InQ-Tel model”, in
Air Force Institute of Technology, 2004.

524 Milton Mueller, Will the internet fragment? Sovereignty, globalization and cyberspace.
Cambridge: Polity Press, 2017.

525 A Defense Advanced Research Projects Agency () [Agência de Projetos de


Pesquisa Avançada de Defesa] é de onde saíram invenções que hoje são parte de nossas vidas: o
mouse (1964), a internet (1969), o  (1983), o drone (1988), Siri (2003, vendida à Apple em
2008). Cf. Jane McCallion, “10 Amazing  Inventions”, in ITPro, 15 de junho de 2020,
disponível em https://www.itpro.com/technology /34730/10-amazing-darpa-inventions,
acessado em 18 de novembro de 2023.

526 John Markoff, “Pentagon plans a computer system that would peek at personal data of
Americans”, in e New York Times, 9 de novembro de 2002, disponível em
https://www.nytimes.com/2002/11/09/us/threats-responses-intelligence-pentagon-plans-
computer-system-that-would-peek.html, acessado em 18 de novembro de 2023.

527 Se o terrorismo como conceito é ambíguo e continua inde nido desde 2001, quando
Bush declarou a guerra contra o terrorismo internacional, mais difícil ainda é estabelecer o que
se entende por um “padrão de comportamento terrorista”. Ver Pedro Baños, Así se domina el
mundo: desvelando las claves del poder mundial. Barcelona: Ariel, 2017, cap. 4.

528 Lembremo-nos de que a primeira rede social surgiu em 1997 (Six Degrees). Cf. Chenda
Ngak, “en and now: a history of social networking sites”, in cbs News, 6 de julho de 2011,
disponível em https://www.cbsnews. com/pictures/then-and-now-a-history-of-social-
networking-sites/11/, acessado em 18 de novembro de 2023.
529 John Horgan, “.. never really ended creepy ‘Total Information Awareness’ Program”, in
Scienti c American, 7 de junho de 2013, disponível em
https://blogs.scienti camerican.com/cross-check/us-never-really-ended-creepy-total-
information-awareness-program, acessado em 20 de novembro de 2023; Shane Harris, “Total
Recall”, in Foreign Policy, 19 de junho de 2013, disponível em
https://foreignpolicy.com/2013/06/19/ total-recall/, acessado em 20 de novembro de 2023.

530 A Advanced Research and Development Activity (), programa de Atividade de


Pesquisa e Desenvolvimento Avançados, só em 2002 recebeu 64 milhões de dólares. Cf. Mark
Williams Pontin, “e total information awareness project lives on”, in mit Technology Review,
26 de abril de 2006, disponível em https://www.technologyreview. com/2006/04/26/229286/the-
total-information-awareness-project-lives-on/, acessado em 20 de novembro de 2023.

531 Shane Harris, “Total Recall”, in Foreign Policy, 19 de junho de 2013, disponível em
https://foreignpolicy.com/2013/06/19/total-recall/, acessado em 20 de novembro de 2023.

532 John M. Simpson, “Lost in the cloud: Google and the  Government”, in Consumer
Watchdog, janeiro de 2011, disponível em https://consumerwatchdog.org/privacy/lost-cloud-
google-and-us-government/, acessado em 20 de novembro de 2023.

533 Jennifer Valentino DeVries, “Google’s Sensorvault is a boon for law enforcement. is is
how it works”, in e New York Times, Nova York, 13 de abril de 2009, disponível em
https://www.nytimes.com/2019/04/13/technology/google-sensorvault-location-tracking.html,
acessado em 20 de novembro de 2023.

534 Jennifer Valentino DeVries, “Tracking phones, Google is a dragnet for the police”, in e
New York Times, Nova York, 13 de abril de 2019, disponível em
https://www.nytimes.com/interactive/2019/04/13/us/google-location-tracking-police.html,
acessado em 20 de novembro de 2023.

535 Spencer Ackerman & Sam ielman, “ Intelligence Chief: we might use the internet of
things to spy on you”, in e Guardian, Londres, 9 de fevereiro de 2016, disponível em
https://www. theguardian.com/technology/2016/feb/09/internet-of-things-smart-home-
devices-government-surveillance-james-clapper, acessado em 20 de novembro de 2023.

536 A empresa Venntel, que, por sua vez, compra dados da Gravy Analytics, tem contratos
atuais (assinados em 2021) com várias agências federais, dentre as quais estão: , , ,
,  e . Os dados públicos estão disponíveis em
https://www.fpds.gov/ezsearch/fpdsportal?
indexName=awardfull&templateName=1.5.3&s=FPDS.GOV&q=Venntel&x=0&y=0, acessado
em 20 de novembro de 2023. O  também assinou contrato com a Venntel em 2020 para
poder entrar em sua base de dados e realizar buscas. Cada pacote de 12 mil buscas custou 20
mil dólares. Cf. , “Contract with Venntel”, disponível em https://vault.i.gov/contract-with-
venntel/contract-with-venntel-part-01-of-01/view, acessado em 20 de novembro de 2023.

537 Joseph Cox, “Customs and border protection paid $476,000 to a location data rm in
new deal”, in Motherboard, 25 de agosto de 2020, disponível em
https://www.vice.com/en/article/k7qyv3/customs-border-protection-venntel-location-data-dhs,
acessado em 20 de novembro de 2023.
538 Byron Tau & Michelle Hackman, “Federal agencies use cellphone location data for
immigration enforcement”, in Wall Street Journal, Nova York, 7 de fevereiro de 2020, disponível
em https://www.wsj.com/articles/ federal-agencies-use-cellphone-location-data-for-
immigration-enforcement-11581078600, acessado em 20 de novembro de 2023.

539 O  tem feito negócios com a Venntel desde, pelo menos, 2017. Cf. site disponível em
https://www.dhs.gov/sites/default/ les/2021-12/Venntel%20Contract%20Document-ocr-
_0.pdf, acessado em 20 de novembro de 2023.

540 Byron Tau, “ used cellphone location data to try to nd suspects”, in e Wall Street
Journal, Nova York, 19 de junho de 2020, disponível em https://www.wsj.com/articles/irs-used-
cellphone-location-data-to-try-to- nd-suspects-11592587815, acessado em 20 de novembro de
2023.

541 Disponível em https://www.babelstreet.com/, acessado em 20 de novembro de 2023.

542 Byron Tau, “Academic project used marketing data to monitor Russian Military Sites”, in
Wall Street Journal, Nova York, 18 de julho de 2020, disponível em
https://www.wsj.com/articles/academic-project-used-marketing-data-to-monitor-russian-
military-sites-11595073601, acessado em 20 de novembro de 2023.

543 Disponível em https://www.babelstreet.com/platform/babel-x, acessado em 20 de


novembro de 2023.

544 Disponível em https://www.babelstreet.com/commercial/critical-


infrastructureprotection, acessado em 20 de novembro de 2023.

545 Byron Tau, “Academic project used marketing data to monitor Russian Military Sites”, in
Wall Street Journal, Nova York, 18 de julho de 2020, disponível em
https://www.wsj.com/articles/academic-project-used-marketing-data-to-monitor-russian-
military-sites-11595073601, acessado em 20 de novembro de 2023.

546 Disponível em https://www.babelstreet.com/platform/babel-synthesis, acessado em 20


de novembro de 2023.

547 Jessica Murphy, “Trudeau vows to freeze anti-mandate protesters’ bank accounts”, in bbc
News, Londres, 15 de fevereiro de 2022, disponível em https://www.bbc.com/news/world-us-
canada-60383385, acessado em 20 de novembro de 2023.

548 Charles Levinson, “rough apps, not warrants, ‘Locate ’ allows federal law
enforcement to track phones”, in Protocol, 5 de março de 2020, disponível em
https://www.protocol.com/government-buying-location-data, acessado em 20 de novembro de
2023.

549 Joseph Cox, “How the .. Military buys location data from ordinary apps”, in
Motherboard, 16 de novembro de 2020, disponível em
https://www.vice.com/en/article/jgqm5x/us-military-location-data-xmode-locate-x, acessado
em 16 de novembro de 2023.
550 Joseph Cox, “Military unit that conducts drone strikes bought location data from
ordinary apps”, in Motherboard, 4 de março de 2021, disponível em
https://www.vice.com/en/article/y3g97x/location-dataapps-drone-strikes-iowa-national-guard,
acessado em 20 de novembro de 2023.

551 “Secret Service Aims to wart Credit Card Skimming”, in United States Secret Service,
16 de fevereiro de 2018, disponível em https://
www.secretservice.gov/press/releases/2018/02/secret-service-aims-thwartcredit-card-
skimming, acessado em 20 de novembro de 2023.

552 É o direito protegido pela Quarta Emenda da Constituição dos Estados Unidos, embora
não con gure uma violação de privacidade, desde a sentença Suprema Corte dos Estados
Unidos vs. Miller, em 2015, se as agências federais usarem dados obtidos por terceiros, como
Google, Facebook ou empresas de marketing, e se o usuário houver dado prévio consentimento
quando aceitou os termos de uso de uma aplicação ou serviço. Cf. “Fourth Amendment”, in
Constitution Annotated, disponível em
https://constitution.congress.gov/constitution/amendment-4/, acessado em 20 de novembro de
2023; “United States v. Miller, et al.”, in Civil Rights Division, 24 de agosto de 2015, disponível
em https://www. justice.gov/crt/case-document/united-states-v-miller-et-al, acessado em 20 de
novembro de 2023.

553 Ver link disponível em https://www.anomalysix.com/, acessado em 20 de novembro de


2023.

554 Byron Tau, “.. Government Contractor Embedded Soware in Apps to Track Phones”,
in Wall Street Journal, Nova York, 7 de agosto de 2020, disponível em https://www.wsj.com/
articles/u-s-government-contractor-embedded-soware-in-apps-to-trackphones-11596808801,
acessado em 20 de novembro de 2023.

555 Byron Tau, “.. Government contractor embedded soware in apps to track phones”, in
Wall Street Journal, Nova York, 7 de agosto de 2020, disponível em
https://www.wsj.com/articles/u-s-government-contractor-embedded-soware-in-apps-to-
track-phones-11596808801, acessado em 20 de novembro de 2023.

556 Joseph Cox, “.. special operations command paid $500,000 to secretive location data
rm”, in Motherboard, 30 de março de 2021, disponível em
https://www.vice.com/en/article/z3vjxj/ anomaly-6-six-special-operations-command, acessado
em 20 de novembro de 2023.

557 Sam Biddle & Jack Poulson, “American phone-tracking rm demo’d surveillance powers
by spying on  and ”, in e Intercept, 22 de abril de 2022, disponível em
https://theintercept.com/2022/04/22/anomaly-six-phone-tracking-zignal-surveillance-cia-nsa/,
acessado em 20 de novembro de 2023.

558 Disponível em https://zignallabs.com/, acessado em 20 de novembro de 2023.

559 Sam Biddle & Jack Poulson, “American phone-tracking rm demo’d surveillance powers
by spying on  and ”, in e Intercept, 22 de abril de 2022, disponível em
https://theintercept.com/2022/04/22/anomaly-six-phone-tracking-zignal-surveillance-cia-nsa/,
acessado em 20 de novembro de 2023.

560 Byron Tau, “.. Government Contractor Embedded Soware in Apps to Track Phones”,
in Wall Street Journal, Nova York, 7 de agosto de 2020, disponível em https://www.wsj.com/
articles/u-s-government-contractor-embedded-soware-in-apps-to-trackphones-11596808801,
acessado em 20 de novembro de 2023.

561 Timothy Williams, “Facial recognition soware moves from overseas wars to local
police”, in e New York Times, 12 de agosto de 2015, disponível em
https://www.nytimes.com/2015/08/13/us/facial-recognition-soware-moves-from-overseas-
wars-to-local-police.html, acessado em 20 de novembro de 2023.

562 Natasha Singer, “Why Apple and Google’s virus alert apps had limited success”, in e
New York Times, 27 de maio de 2021, disponível em https://
www.nytimes.com/2021/05/27/business/apple-google-virus-tracing-app.html, acessado em 20
de novembro de 2023.

563 Swikar Oli, “Canadas public health agency admits it tracked 33 million mobile devices
during lockdown”, in National Post, Toronto, 24 de dezembro de 2021, disponível em
https://nationalpost.com/news/canada/canadas-public-health-agency-admits-it-tracked-33-
million-mobile-devices-during-lockdown, acessado em 20 de novembro de 2023.

564 Bobby Allyn, “Trump signs executive order that will effectively ban use of TikTok in the
..”, in , Washington, .., 6 de agosto, 2020, disponível em
https://www.npr.org/2020/08/06/900019185/trump-signs-executive-order-that-will-effectively-
ban-use-of-tiktok-in-the-u-s, acessado em 20 de novembro de 2023; Mansoor Iqbal, “WeChat
revenue and usage statistics (2022)”, in Business of Apps, 6 de setembro, 2022, disponível em
https:// www.businessofapps.com/data/wechat-statistics/, acessado em 20 de novembro de
2023.

565 A Índia fez o mesmo com 59 aplicativos de empresas chinesas, incluindo o TikTok e o
WeChat. Cf. Zak Doffman, “New TikTok ban suddenly hits millions of users as serious
problems get worse”, in Forbes, 30 de junho de 2020, disponível em https://www.forbes.com/
sites/zakdoffman/2020/06/30/tiktoks-worst-nightmare-has-just-cometrue/?sh=58c217765681,
acessado em 20 de novembro de 2023.

566 Bobby Allyn, “Class-Action lawsuit claims TikTok steals kids’ data and sends it to
China”, in , Washington, .., 4 de agosto de 2020, disponível em https://www.npr.
org/2020/08/04/898836158/class-action-lawsuit-claims-tiktok-steals-kids-data-and-sends-it-to-
china, acessado em 20 de novembro de 2023.

567 Bobby Allyn, “.. Judge halts Trump’s TikTok ban, the 2nd Court to fully block the
action”, in , 7 de dezembro de 2020, disponível em https://www.npr.
org/2020/12/07/944039053/u-s-judge-halts-trumps-tiktok-ban-the-2nd-courtto-fully-block-
the-action, acessado em 20 de novembro de 2023; Tali Arbel & Matt O’Brien, “Biden backs off
on TikTok ban in review of Trump China moves”, in  News, 10 de fevereiro de 2021,
disponível em https://apnews.com/article/donald-trump-jen-psaki-
ca5e68d8b23cb26a0e964b3ea5fe826d, acessado em 20 de novembro de 2023.
568 A única exceção são as agências de segurança encarregadas de alguma investigação. Cf.
David Ingram, “Biden signs TikTok ban for Government devices, setting up a chaotic 2023 for
the App”, in  News, 30 de dezembro de 2022, disponível em https://www.nbcnews.
com/tech/tech-news/tiktok-ban-biden-government-college-state-federal-security-privacy-
rcna63724, acessado em 20 de novembro de 2023.

569 Kataballa Roberts, “Major Texas University blocks students from using TikTok on
network”, in Epoch Times, 18 de janeiro de 2023, disponível em
https://www.theepochtimes.com/us/major-texas-university-blocks-students-from-using-tiktok-
on-network-4993371, acessado em 20 de novembro de 2023.

570 James Hale, “Chinese tech giant ByteDance reportedly working to bring TikTok’s
operations stateside”, in TubeFilter, 29 de maio de 2020, disponível em
https://www.tube lter.com/2020/05/29/bytedance-tiktok-operations-china-us/, acesso em 20 de
novembro de 2023.

571 Eric Geller, “Trump signs order setting stage to ban Huawei from ..”, in Politico, 15 de
maio de 2019, disponível em https://www.politico.com/story/2019/05/15/trump-ban-huaweius-
1042046, acessado em 20 de novembro de 2023.

572 Diane Bartz & Alexandra Alper, “.. bans new Huawei,  equipment sales, citing
National Security risk”, in Reuters, 30 de novembro de 2022, disponível em https://
www.reuters.com/business/media-telecom/us-fcc-bans-equipment-sales-imports-zte-huawei-
over-national-security-risk-2022-11-25/, acessado em 20 de novembro de 2023.

573 Aynne Kokas, Trafficking data: how China is winning the battle for digital sovereignty.
Nova York: Oxford University Press, 2023.

574 Lyombe Eko, “Google this: the Great Firewall of China, the  wheel of India, Google
Inc., and internet regulation”, in Journal of Internet Law, vol. 15, n. 3, 2011, pp. 3–14.

575 Em 2017, por exemplo, o governo assumiu participação em empresas de tecnologia —


especi camente, em Alibaba, Tencent e Weibo Corp. — como uma maneira de controlar a
liberalização do setor tecnológico. Cf. Li Yuan, “Beijing pushes for a direct hand in China’s Big
Tech Firms”, in e Wall Street, Nova York, 11 de outubro de 2017, disponível em https://
www.wsj.com/articles/beijing-pushes-for-a-direct-hand-in-chinas-big-tech rms-1507758314,
acessado em 20 de novembro de 2023.

576 Aynne Kokas, Trafficking data: how China is winning the battle for digital sovereignty.
Nova York: Oxford University Press, 2023, pp. 56–57.

577 A falta de regulamentação se deve principalmente ao fato de que o governo dos Estados
Unidos deu prioridade ao crescimento tecnológico.

578 Aynne Kokas, Trafficking data: how China is winning the battle for digital sovereignty.
Nova York: Oxford University Press, 2023, p. 2.

579 Pengyu Chen, “Population genetic analysis of modern and ancient  variations yields
new insights into the formation, genetic structure, and phylogenetic relationship of Northern
Han Chinese”, in Frontiers in Genetics, vol. 10, 2019, p. 1.045.
580 Alex Stone & Peter Wood, China’s Military-Civil Fusion Strategy. Montgomery: China
Aerospace Studies Institute, 2020, p. 8.

581 , “Chinese tech giants submit ‘top secret’ algorithms to Beijing regulator”, in r , 16 de
agosto de 2022, disponível em https://www.r .fr/en/science-and-technology/20220816-chinese-
tech-giants-submit-top-secret-algorithms-to-beijing-regulator, acessado em 20 de novembro de
2023.

582 Na China, o aplicativo usa o mesmo logo, mas tem outro nome: Douyin (抖音). Cf. Zak
Doffman, “Yes, TikTok has a serious China problem: here’s why you should be concerned”, in
Forbes, 9 de julho de 2020, disponível em
https://www.forbes.com/sites/zakdoffman/2020/07/09/tiktok-serious-chi na-problem-ban-
security-warning/?sh=1f23c841f22a, acessado em 20 de novembro de 2023.

583 Administração do Ciberespaço da China (disponível em http://www.cac. gov.cn/,


acessado em 20 de novembro de 2023), citado em Aynne Kokas, Trafficking data: how China is
winning the battle for digital sovereignty. Nova York: Oxford University Press, 2023, p. 4.

584 Jack Nicas, “Apple’s compromises in China: 5 takeaways”, in e New York Times, 17 de
maio de 2021, disponível em https://www.nytimes. com/2021/05/17/technology/apple-china-
privacy-censorship.html, acessado em 20 de novembro de 2023.

585 Apple Support, “Learn more about iCloud in China Mainland”, 26 de maio de 2020,
disponível em https://support.apple.com/enca/
HT208351#:~:text=iCloud%20in%20China%20mainland%20is,and%20 comply%20
with%20Chinese%20regulations, acessado em 20 de novembro de 2023. [ é a sigla em
inglês do nome do provedor do serviço de big data na China, que signi ca Guizhou-Cloud Big
Data — ].

586 Trefor Moss, “Tesla to store China data locally in new data center”, in e Wall Street
Journal, Nova York, 26 de maio de 2021, disponível em https://www.wsj.com/articles/tesla-to-
store-china-data-locally-in-new-datacenter-11622015001, acessado em 20 de novembro de
2023.

587 Paulius Masiliauskas, “How to Access WhatsApp in China in 2023”, in Cybernews, 16 de


dezembro de 2022, disponível em https://cybernews.com/ how-to-use-vpn/unblock-whatsapp-
in-china/, acessado em 20 de novembro de 2023.

588 Aynne Kokas, Trafficking data: how China is winning the battle for digital sovereignty.
Nova York: Oxford University Press, 2023, p. 45.

589 É importante notar que, na China, é necessária uma autorização do governo para se
obter um número de celular, o que signi ca ser fotografado (e, em alguns casos, submeter-se a
escaneamento de reconhecimento facial) e ter seus dados biométricos coletados. Além disso,
esse número é conectado às redes sociais da pessoa, de modo que o governo passa a ter acesso a
todo tipo de informação gerada por cada indivíduo. Cf. Gelles, “Google  Sundar Pichai:
technology doesn’t solve humanity’s problems”, in e New York Times, Nova York, 8 de
novembro de 2018, disponível em https://www.nytimes.com/2018/11/08/business/sundar-
pichai-google-corner-office.html, acessado em 29 de novembro de 2023; Ryan Gallagher,
“Google plans to launch censored search engine in China, leaked documents reveal”, in e
Intercept, 1 de agosto de 2018, disponível em https://theintercept.com/2018/08/01/google-
china-search-engine-censorship/; James Griffiths, “China is rolling out facial recognition for all
new mobile phone numbers”, in cnn Business, 2 de dezembro de 2019, disponível em
https://edition.cnn.com/2019/12/02/tech/china-facial-recognition-mo bile-intl-hnk-
scli/index.html, acessado em 20 de novembro de 2023.

590 Adam Jourdan, “Tim Cook and Mark Zuckerberg meet with Chinese President Xi
Jinping in Beijing”, in Insider, 30 de outubro de 2017, disponível em
https://www.businessinsider.com/tim-cook-and-mark-zuckerberg-meetwith-china-president-
xi-jinping-in-beijing-2017-10#:~:text=SHANGHAI%20
%E2%80%94%20Apple%20CEO%20Tim%20Cook,broadcaster%20
China%20Central%20Television%20reported, acessado em 20 de novembro de 2023.

591 Madhumita Murgia & Yuan Yang, “Microso worked with Chinese Military University
on arti cial intelligence”, in Financial Times, 10 de abril de 2019, disponível em
https://www..com/content/9378e7ee-5ae6-11e9-9dde7aedca0a081a, acessado em 20 de
novembro de 2023.

592 Ryan Gallagher, “How .. tech giants are helping to build China’s surveillance state”, in
e Intercept, 11 de julho de 2019, disponível em https://theintercept.com/2019/07/11/china-
surveillance-google-ibm-semptian/, acessado em 20 de novembro de 2023.

593 Jyh-An Lee, “Forced technology transfer in the Case of China”, in Boston University
Journal of Science and Technology Law, vol. 26, n. 2, 2020, pp. 324–352.

594 Aynne Kokas, Trafficking data: how China is winning the battle for digital sovereignty.
Nova York: Oxford University Press, 2023, pp. 18–19.

595 Art. 38 da “Lei de Segurança Nacional de Hong Kong”, 2020, in Aynne Kokas,
Trafficking data: how China is winning the battle for digital sovereignty. Nova York: Oxford
University Press, 2023, p. 66.

596 Lizhi Liu, “e rise of data politics: Digital China and the world”, in Studies in
Comparative International Development, vol. 56, n. 1, 2021, p. 56.

597 Sarah McKune & Shazeda Ahmed, “e contestation and shaping of cyber norms
through China’s internet sovereignty agenda”, in International Journal of Communicatio, vol.
12, 2018, pp. 3.835–3.855.

598 Sheena Chestnut Greitens, “Surveillance, security, and liberal democracy in the post-
 world”, in International Organization, vol. 74, n. S1, 2020, pp. 169–190.

599 Antoaneta Roussi, “Resisting the Rise of Facial Recognition”, in Nature, vol. 587, n.
7.834, 2020, pp. 350–353, disponível em https://www. nature.com/articles/d41586-020-03188-2,
acessado em 20 de novembro de 2023.

600 John Aglionby, “African Union accuses China of hacking headquarters”, in Financial
Times, 29 de janeiro de 2018, disponível em https://www. .com/content/c26a9214-04f2-11e8-
9650-9c0ad2d7c5b5, acessado em 20 de novembro de 2023.
601 Paul Bischoff, ”Surveillance camera statistics: which cities have the most 
cameras?”, in Comparitech, 11 de julho de 2022, disponível em
https://www.comparitech.com/vpn-privacy/the-worldsmost-surveilled-cities/, acessado em 20
de novembro de 2023.

602 Nectar Gan, “China is installing surveillance cameras outside people’s front doors... and
sometimes inside their homes”, in cnn Business 28 de abril de 2020, disponível em
https://edition.cnn.com/2020/04/27/asia/cctv-cameras-china-hnk-intl/index.html, acessado em
20 de novembro de 2023; Aaron Sarin, “China in the age of surveillance”, in Quillette, 25 de
setembro de 2022, disponível em https://quillette.com/2022/09/25/china-in-the-age-of-
surveillance/, acessado em 20 de novembro de 2023.

603 Bianji Liang Jun, “Facial recognition used to analyze students’ classroom behaviors”, in
People’s Daily Online, 19 de maio de 2018, disponível em
http://en.people.cn/n3/2018/0519/c90000-9461918.html, acessado em 20 de novembro de 2023.

604 Liu Caiyu, “Chinese schools monitor students activities, targeting truancy with
intelligent uniforms”, in Global Times, 20 de dezembro de 2018, disponível em
https://www.globaltimes.cn/page/201812/1132856.shtml, acessado em 20 de novembro de 2023.

605 Bischoff, “Surveillance camera statistics: which cities have the most  cameras?”, in
Comparitech, 11 de julho de 2022, disponível em https://www.comparitech.com/vpn-
privacy/the-worldsmost-surveilled-cities/, acessado em 20 de novembro de 2023.

606 Umberto Bacchi, “‘I know your favourite drink’: Chinese smart city to put  in charge”,
in Reuters, 3 de dezembro de 2020, disponível em https://www.reuters.com/article/china-tech-
city/i-knowyour-favourite-drink-chinese-smart-city-to-put-ai-in-charge-idUSL8N2IJ24L,
acessado em 20 de novembro de 2023.

607 Josh Chin & Liza Lin, Surveillance State: China’s Quest to launch a new era of social
control. Nova York: St. Martin’s Press, 2022, p. 7.

608 Redação, “Quiénes son los uigures, la etnia que China está deteniendo en campamentos
de reeducación”, in bbc News Mundo, 31 de agosto de 2018, disponível em
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-45368245, acessado em 20 de novembro
de 2023.

609 Josh Chin & Liza Lin, Surveillance State: China’s Quest to launch a new era of social
control. Nova York: St. Martin’s Press, 2022, pp. 4–6.

610 Yael Grauer, “Revealed: Massive Chinese Police Database”, in e Intercept, 29 de janeiro
de 2021, disponível em https://theintercept. com/2021/01/29/china-uyghur-muslim-
surveillance-police/, acessado em 20 de novembro de 2023.

611 Josh Chin & Liza Lin, Surveillance State: China’s Quest to launch a new era of social
control. Nova York: St. Martin’s Press, 2022, pp. 92–93.

612 Ibid., p. 97.


613 Gustavo Pacheco, “Jerónimo, el joven que ensena marxismo en TikTok para derrocar a
las ‘Fake News’”, in Milenio, 13 de setembro de 2020, disponível em
https://www.milenio.com/virales/tik-tok-jeronimo-zarco ensena-marxismo-comunismo,
acessado em 20 de novembro de 2023.

614 Junxi Qian, “Deciphering the prevalence of neighborhood enclosure amidst post-1949
Chinese cities: a critical synthesis”, in Journal of Planning Literature, vol. 29, n. 1, 2014, pp. 3–
19.

615 Jie Yang, “e politics of the Dang’an: spectralization, spatialization, and neoliberal
governmentality in China”, in Anthropological Quarterly, vol. 84, n. 2, 2011, pp. 507–533.

616 O conceito arquitetônico do panóptico foi projetado em 1784 por Samuel Bentham, um
engenheiro mecânico inglês, enquanto trabalhava em Krichev, na atual Bielorrússia. Quem
popularizou o conceito, contudo, foi seu irmão, Jeremy Bentham, que lhe roubou a ideia e
desenhou uma espécie de prisão circular com uma torre no centro, que dava a impressão de os
presos serem constantemente vigiados. Michel Foucault adotou esse desenho do panóptico para
explicar a função da disciplina e do castigo na manutenção da ordem social. Mais recentemente,
Byung-Chul Han elaborou o conceito de panóptico digital. Cf. Michel Foucault, Vigilar y
castigar: nacimiento de la prisión. Buenos Aires: Siglo , 2002; Byung-Chul Han,
Psicopolítica, trad. Alfredo Bergés. Barcelona: Herder, 2014.

617 Rogier Creemers, “China’s chilling plan to use social credit ratings to keep score on its
citizens”, in cnn, 27 de outubro de 2015, disponível em
https://www.cnn.com/2015/10/27/opinions/china-social-credit-score-creemers/index.html,
acessado em 20 de novembro de 2023.

618 Por décadas, a China só permitia ter um lho, o que levou a abortos forçados de milhões
de mulheres. No ano de 2016, diante da catástrofe populacional que se previa, o governo
aumentou o limite a dois lhos por casal, mas, diante da gravidade do problema, elevou o limite
novamente, em 2021, a três lhos. Cf. Stephen McDonell, “China allows three children in major
policy shi”, in bbc News, Londres, 31 de maio de 2021, disponível em
https://www.bbc.com/news/world-asia-china-57303592, acessado em 20 de novembro de 2023.

619 Aynne Kokas, Trafficking data: how China is winning the battle for digital sovereignty.
Nova York: Oxford University Press, 2023, p. 64.

620 Jack Karsten & Darrell West, “China’s social credit system spreads to more daily
transactions”, in Brookings Institution, 18 de junho de 2018, disponível em
https://www.brookings.edu/articles/chinas-social-credit-system-spreads-to-more-daily-
transactions, acessado em 20 de novembro de 2023.

621 Charlie Campbell, “How China is using ‘social credit scores’ to reward and punish its
citizens”, in Time, 2019, disponível em https://time.com/collection/davos-2019/5502592/china-
social-credit-score/, acessado em 20 de novembro de 2023.

622 Fan Liang, “-19 and health code: how digital platforms tackle the pandemic in
China”, in Social media + Society, vol. 6, n. 3, 2020, pp. 1–4.
623 Samantha Hoffman, “Engineering global consent: the Chinese Communist Party’s data-
driven power expansion”, in Australian Strategic Policy Institute, 14 de outubro de 2019,
disponível em https://www.aspistrategist. org.au/engineering-global-consent-the-chinese-
communist-partys-data-driven-power-expansion/, acessado em 20 de novembro de 2023.

624 Adam Green eld, “China’s dystopian tech could be contagious”, in e Atlantic, 14 de
fevereiro de 2018, disponível em https://www.theatlantic.
com/technology/archive/2018/02/chinas-dangerous-dream-of-urban-control/553097/,
acessado em 20 de novembro de 2023.

625 Há uma tradução para o inglês do comunicado do Partido Comunista Chinês sobre a
reforma cultural em “Central Committee of the Chinese Communist Party Decision
Concerning Deepening Cultural Structural Reform”, 26 de fevereiro de 2014, disponível em
https://chinacopyrightandmedia.wordpress.com/2011/10/18/central-committee-of-the-
chinese-communist-party-decision-concerning-deepening-cultural-structural-reform/,
acessado em 20 de novembro de 2023.

626 Cathy O’Neil, Weapons of math destruction: how big data increases inequality and
threatens democracy. Nova York: Crown Publishers, 2016, p. 180.

627 Robert M. Bond, “A 61-million-person experiment in social in uence and political


mobilization”, in Nature, vol. 489, n. 7415, 2012, pp. 295–298. O experimento foi composto por
dois grupos de controle de cerca de 600 mil pessoas e um grupo experimental composto por 61
milhões de usuários.

628 Andrew Hutchinson, “Facebook launches new stickers to encourage -19


vaccination on Instagram, Facebook and WhatsApp”, in Social Media Today, 7 de abril de 2021,
disponível em https://www.socialmediatoday.com/news/facebook-launches-new-stickersto-
encourage-covid-19-vaccination-on -instagr/598015/, acessado em 20 de novembro de 2023.

629 É interessante que, antes de assumir a presidência, Biden adicionou à sua equipe uma
grande quantidade de executivos e gerentes do Facebook. Cf. Nancy Scola & Alex ompson,
“Former Facebook leaders are now transition insiders”, in Politico, 16 de novembro de 2020,
disponível em https:// www.politico.com/news/2020/11/16/the-biden-teams-tug-of-war-over-
facebook-436672, acessado em 20 de novembro de 2023.

630 Donald P. Green & Alan S. Gerber, “Introduction to social pressure and voting: new
experimental evidence”, in Political Behavior, vol. 32, n. 3, 2010, pp. 331–336. Já se havia
demonstrado que a pressão social é o melhor mobilizador. Ver Alan S. Gerber, “Social pressure
and voter turnout: evidence from a large-scale eld experiment”, in e American Political
Science Review, vol. 102, n. 1, 2008, pp. 33–48.

631 Bond, “Social in uence and political mobilization”, p. 295.

632 Consideremos que, no ano 2000, Bush venceu no estado da Flórida por 537 votos e que
foi esse estado o que determinou quem foi o presidente. Cf. Robert M. Bond, “A 61-million-
person experiment in social in uence and political mobilization”, in Nature, vol. 489, n. 7415,
2012, p. 296.
633 Cathy O’Neil, Weapons of math destruction: how big data increases inequality and
threatens democracy. Nova York: Crown Publishers, 2016, pp. 180–181.

634 Eamon Javers, “Obama-Google connection scares competitors”, in Politico, 10 de


novembro de 2008, disponível em https://www.politico.com/story/2008/11/obama-google-
connection-scares-competitors-015487, acessado em 22 de novembro de 2023.

635 Daniel Kreiss & Philip N. Howard, “New challenges to political privacy: lessons from the
rst .. presidential race in the Web 2.0 era”, in International Journal of Communication, vol.
4, n. 20, 2010, pp. 1032–1050.

636 Sasha Issenberg, e victory lab: the secret science of winning campaigns. Nova York:
Crown, 2013, p. 271.

637 Javers, “Obama-Google connection scares competitors”.

638 Katie Paul, “Eric Schmidt: Obama’s Chief Corporate Ally”, in Tech Transparency Project,
26 de abril de 2016, disponível em https://www.techtransparencyproject.org/articles/eric-
schmidt-obamas-chief-corporate-ally, acessado em 15 de novembro de 2023.

639 Joshua Green, “Messina consults jobs to Spielberg in craing Obama’s campaign”, in
Bloomberg, 14 de junho de 2012, disponível em https://www.
bloomberg.com/news/articles/2012-06-14/obama-s-messina-taps-googles-schmidt-for-
wisdom-on-winning-race, acessado em 22 de novembro de 2023.

640 Joshua Green, “Messina consults jobs to Spielberg in craing Obama’s campaign”, in
Bloomberg, 14 de junho de 2012, disponível em https://www.
bloomberg.com/news/articles/2012-06-14/obama-s-messina-taps-googles-schmidt-for-
wisdom-on-winning-race, acessado em 22 de novembro de 2023.

641 Dan Balz, “How the Obama campaign won the race for voter data”, in e Washington
Post, Washington, .., 28 de julho de 2013, disponível em
https://www.washingtonpost.com/politics/howthe-obama-campaign-won-the-race-for-voter-
data/2013/07/28/ad32c7b4ee4e-11e2-a1f9-ea873b7e0424_story.html, acessado em 22 de
novembro de 2023.

642 Citado por Cathy O’Neil, Weapons of math destruction: how big data increases
inequality and threatens democracy. Nova York: Crown Publishers, 2016, p. 188.

643 Sasha Issenberg, “How Obama’s team used big data to rally voters”, in mit Technology
Review, vol. 116, n. 1, 2013, p. 41.

644 Sasha Issenberg, “How Obama’s team used big data to rally voters”, in mit Technology
Review, vol. 116, n. 1, 2013, pp. 42–44.

645 Dan Balz, “How the Obama campaign won the race for voter data”, in e Washington
Post, Washington, .., 28 de julho de 2013, disponível em
https://www.washingtonpost.com/politics/howthe-obama-campaign-won-the-race-for-voter-
data/2013/07/28/ad32c7b4ee4e-11e2-a1f9-ea873b7e0424_story.html, acessado em 22 de
novembro de 2023.
646 Joshua Green, “Google’s Eric Schmidt invests in Obama’s big data brains”, in Bloomberg,
31 de maio de 2013, disponível em https://www. bloomberg.com/news/articles/2013-05-
30/googles-eric-schmidt-invests-inobamas-big-data-brains, acessado em 22 de novembro de
2023.

647 Jim Rutenberg, “Data you can believe in: the Obama campaign’s digital masterminds
cash in”, in e New York Times, 20 de junho de 2013, disponível em
https://www.nytimes.com/2013/06/23/magazine/the-obama-campaigns-digital-masterminds-
cash-in.html, acessado em 22 de novembro de 2023.

648 Lois Beckett, “Obama’s microtargeting ‘nuclear codes’”, in ProPublica, 7 de novembro de


2012, disponível em https://www.propublica.org/article/ obamas-microtargeting-nuclear-codes,
acessado em 22 de novembro de 2023.

649 Adam Pasick & Tim Fernholz, “e Stealthy, Eric Schmidt-Backed Startup that’s
working to put Hillary Clinton in the White House”, in Quarts, 9 de outubro de 2015,
disponível em https://qz.com/520652/groundwork-eric-schmidt-startup-working-for-hillary-
clinton-campaign, acessado em 22 de novembro de 2023.

650 Kurt Wagner, “Donald Trump and Hillary Clinton Spent $81 million on Facebook ads
before last year’s election”, in Vox, 1 de novembro de 2017, disponível em
https://www.vox.com/2017/11/1/16593066/trump-clinton-facebook-advertising-money-
election-president-russia, acessado em 22 de novembro de 2023. Um dado interessante é que,
enquanto Hillary culpava as operações do Kremlin por seu fracasso eleitoral, os dados do
Facebook, Twitter e Google revelaram outra realidade: o conteúdo das contas controladas pela
Rússia foi apenas uma gota no oceano em comparação a todos os outros anúncios e publicações
pagos por Hillary e Trump e vistos pelas pessoas em diferentes plataformas.

651 Anônimo, “Facebook ad campaign helped Donald Trump win election, claims
executive”, in bbc, Londres, 8 de janeiro de 2020, disponível em
https://www.bbc.com/news/technology-51034641, acessado em 22 de novembro de 2023.

652 Harry Davies, “Ted Cruz using rm that harvested data on millions of unwitting
Facebook Users”, in e Guardian, Londres, 11 de dezembro de 2015, disponível em
https://www.theguardian.com/us-news/2015/dec/11/ senator-ted-cruz-president-campaign-
facebook-user-data, acessado em 22 de novembro de 2023.

653 Carole Cadwalladr, “‘I made Steve Bannon’s psychological warfare tool’: meet the data
war whistleblower”, in e Guardian, Londres, 18 de março de 2018, disponível em
https://www.theguardian.com/news/2018/ mar/17/data-war-whistleblower-christopher-wylie-
faceook-nix-bannon-trump, acessado em 22 de novembro de 2023.

654 Harry Davies, “Ted Cruz using rm that harvested data on millions of unwitting
Facebook Users”, in e Guardian, Londres, 11 de dezembro de 2015, disponível em
https://www.theguardian.com/us-news/2015/dec/11/ senator-ted-cruz-president-campaign-
facebook-user-data, acessado em 22 de novembro de 2023.

655 Juliana Gruenwald Henderson & Peter Kaplan, “ imposes $5 billion penalty and
sweeping new privacy restrictions on Facebook”, in Federal Trade Commission, 24 de julho de
2019.

656 Augustín Laje, La batalla cultural: re exiones críticas para una Nueva Derecha. Cidade
do México: Harper Collins México, 2022, p. 329.

657 Jonathan Haidt & Tobias Rose-Stockwell, “e dark psychology of social networks”, in
e Atlantic, dezembro de 2019, disponível em https://
www.theatlantic.com/magazine/archive/2019/12/social-media-democracy/600763/, acessado
em 22 de novembro de 2023.

658 Mostafa El-Bermawy, “Your lter bubble is destroying democracy”, in Wired, 18 de


novembro de 2016, disponível em https://www.wired. com/2016/11/ lter-bubble-destroying-
democracy/, acessado em 22 de novembro de 2023. A expressão aldeia global é de Marshall
McLuhan & Bruce R. Powers, La aldea global: transformaciones en la vida y los medios de
comunicación mundiales en el siglo xxi. Barcelona: Gedisa, 2015.

659 D. Kinkead & D. M. Douglas, “e Network and the demos: big data and the epistemic
justi cations of democracy”, in Kevin Macnish & Jai Galliot (eds.), Big data and democracy.
Edimburgo: Edinburgh University Press, 2020, pp. 127–129.

660 Zeynep Tufekci, “e Road from Tahrir to Trump”, in mit Technology Review, vol. 121,
n. 5, 14 de agosto de 2018, pp. 15–16.

661 Matteo Cinelli, “e echo chamber effect on social media”, in Proceedings of the
National Academy of Science, vol. 118, n. 9, 2021, p. e2023301118.

662 A guinada conservadora do Partido Republicano e a guinada à esquerda socialista do


Partido Democrata tornaram incompreensível a ideia de democrata conservador e patriota ou
de um republicano progressista. Hoje seria vão esperar que um democrata se manifestasse
abertamente contra as políticas identitárias e o politicamente correto, como de fato ocorreu na
campanha presidencial de Bill Clinton em 1992, que, mesmo durante sua presidência, defendeu
o casamento entre um homem e uma mulher, codi cando-o em lei federal, em 1996, no Ato de
Defesa do Casamento (Defense of Marriage Act), que foi abolido por Biden em 2022 em favor
de uma nova lei, o Ato de Respeito pelo Casamento (Respect for Marriage Act).

663 Jonathan Haidt & Sam Abrams, “e top 10 reasons American Politics are so broken”, in
e Washington Post, Washington, .., 7 de janeiro de 2015, disponível em
https://www.washingtonpost. com/news/wonk/wp/2015/01/07/the-top-10-reasons-american-
politics-areworse-than-ever/, acessado em 22 de novembro de 2023; Jennifer McCoy &
Benjamin Press, “What happens when democracies become perniciously polarized?”, in
Carnegie Endowment for International Peace, 18 de janeiro de 2022, disponível em
https://carnegieendowment.org/2022/01/18/what-happens-when-democracies-become-
perniciously-polarized-pub-86190, acessado em 22 de novembro de 2023.

664 O Facebook, por exemplo, negou publicamente que as redes sejam a causa primária da
polarização. Contudo, o artigo deixa totalmente de lado essa nova forma de ativismo digital,
que sinaliza um novo tipo de polarização, marcada por divisões que têm a ver com a
identidade. Cf. Pratiti Raychoudhury, “What the research on social medias impact on
democracy and daily life says (and doesn’t say)”, in Meta Newsroom, 22 de abril de 2022,
disponível em https://about..com/news/2022/04/what-the-researchon-social-medias-impact-
on-democracy-and-daily-life-says-and-doesnt-say/, acessado em 22 de novembro de 2023.

665 Schlosser, “I’m a liberal professor, and my liberal students terrify me”, in Vox, 3 de junho
de 2015, disponível em https://www.vox. com/2015/6/3/8706323/college-professor-afraid,
acessado em 22 de novembro de 2023.

666 Matt Taibbi, “e American Press is destroying itself ”, in Racket News, 12 de junho de
2020, disponível em https://www.racket.news/p/the-news-media-is-destroying-itself, acessado
em 22 de novembro de 2023.

667 Vivek Ramaswamy, Woke, Inc.: Inside Corporate America’s Social Justice Scam. Nova
York: Center Street, 2021.

668 Basta se lembrar dos “escândalos” provocados pelos jogadores da  que se negaram a
se ajoelhar diante do slogan do  em 2020, os lamentos pela proibição de qualquer insígnia
 na Copa do Mundo do Catar em 2022, ou dos pedidos para que se expulsasse Ivan
Provorov da , jogador do Filadél a Fliers, por não querer usar a insígnia multicores alusiva
ao movimento  em janeiro de 2023.

669 Assim, por exemplo, a Quaker teve que rebatizar a linha de produtos alimentícios Aunt
Jemima por empregar “estereótipos raciais”. Cf. Samantha Kubota, “Brand formerly known as
Aunt Jemima reveals new name”, in nbc News, 9 de fevereiro de 2021, disponível em
https://www.nbcnews.com/ business/business-news/brand-formerly-known-aunt-jemima-
reveals-newname-n1257206, acessado em 22 de novembro de 2023.

670 Um homem não pode explicar algo a uma mulher porque isso é mansplaining, mas não
há problema se uma mulher explica algo a um homem... Se um professor branco reprovar um
negro num exame, isso é racismo, mas, se o negro atear fogo à universidade em resposta, é
“justiça social”. Um homem não pode opinar sobre o aborto porque não tem útero, mas se for
um transexual a fazê-lo, tudo bem, embora ele também não o tenha.

671 Jonathan Haidt, “Yes, social media really is undermining democracy”, in e Atlantic, 28
de julho de 2022, disponível em https://www.theatlantic.com/ideas/archive/2022/07/social-
media-harm-facebook-meta-response/670975/, acessado em 22 de novembro de 2023.

672 Paolo Prodi, Il sacramento del potere: il giuramento politico nella storia costituzionale
dell’Occidente. Bolonha: Il Mulino, 1992, p. 522.

673 Shoshana Zuboff, e age of surveillance capitalism. Nova York: Public Affairs, 2019, p.
351.

674 Byung-Chul Han, Psicopolítica, trad. Alfredo Bergés. Barcelona: Herder, 2014, p. 88.

675 Peter Bloom, Monitored: business and surveillance in a time of big data. Londres: Pluto
Press, 2019, pp. 46–50.

676 Shoshana Zuboff, e age of surveillance capitalism. Nova York: Public Affairs, 2019, p.
352.
677 Lukacs de Pereny, “La tiranía de los algoritmos”, in Carlos Beltramo & Carlos Polo
Samaniego, Pandemonium ¿De la pandemia al control total? Front Royal: Population Research
Institute, 2020, pp. 45–56.

678 Hannah Arendt, e origins of totalitarianism. Nova York: Harcourt, 1985, p. 325.

679 Josh Chin & Liza Lin, Surveillance State: China’s Quest to launch a new era of social
control. Nova York: St. Martin’s Press, 2022, p. 107.

680 Alex Pentland, Social physics: how social networks can make us smarter. Nova York:
Penguin Books, 2015, p. 91.

681 Ibid., p. 6.

682 Ibid., p. 7.

683 Ibid, p. 69.

684 Alex Pentland, Social physics: how social networks can make us smarter. Nova York:
Penguin Books, 2015, p. 152.

685 Allison Stanger, “Consumers vs. citizens in democracy’s public sphere”, in


Communications of the , vol. 63, n. 7, 2020, p. 29.

686 Supreme Court Of e United States, Carpenter v. United States, outubro 2018,
disponível em https://www.supremecourt.gov/opinions/17pdf/16-402_ h315.pdf, acessado em
22 de novembro de 2023.

687 Ver Smith v. Maryland, 442 .. 735, pp. 743–44, 1979; United States v. Miller, 425 ..
435, 1976.

688 Ver como desativar essa função de rastreio em https://www.eff.org/


deeplinks/2022/05/how-disable-ad-id-tracking-ios-and-android-and-whyyou-should-do-it-
now, acessado em 24 de novembro de 2023.

689 Eilis O’Neill, “Seattle sues social media over youth mental health”, in npr, 16 de janeiro
de 2022, disponível em https://www.npr. org/2023/01/16/1149423335/encore-seattle-sues-
social-media-over-youthmental-health, acessado em 24 de novembro de 2023.

690 “Denúncia do Distrito Escolar de Seattle”, disponível em https://


storage.courtlistener.com/recap/gov.uscourts.wawd.317950/gov.uscourts. wawd.317950.1.0.pdf,
acessado em 24 de novembro de 2023; “Denúncia do Distrito Escolar de Kent”, disponível em
https://storage.courtlistener.com/recap/gov.uscourts.wawd.317992/
gov.uscourts.wawd.317992.1.0.pdf, acessado em 24 de novembro de 2023.

691 Julian Shen-Berro, “As Seattle schools sue social media companies, legal experts split on
potential impact”, in Chalkbeat, 17 de janeiro de 2023, disponível em
https://www.chalkbeat.org/2023/1/17/23554378/ seattle-schools-lawsuit-social-media-meta-
instagram-tiktok-youtube-google-mental-health, acessado em 24 de novembro de 2023.
692 Os dados sobre superproteção, insegurança e falta de conexão com o mundo real são
devastadores para a geração que surgiu com a chegada do iPhone. Ver Jean M. Twenge, iGen:
why today’s super-connected kids are growing up less rebellious, more tolerant, less happy —
and completely unprepared for adulthood — and what that means for the rest of us. Nova York:
Atria Books, 2018, cap. 6.

693 Cf. Catherine Steiner-Adair, e big disconnect: protecting childhood and family
relationships in the Digital Age. Nova York: Harper Collins, 2013, p. 202.

694 Catherine Steiner-Adair, e big disconnect: protecting childhood and family


relationships in the Digital Age. Nova York: Harper Collins, 2013, p. 203.

695 Ibid., p. 18.

696 Russell A. Barkley, “Behavioral inhibition, sustained attention, and executive functions:
constructing a unifying theory of ”, in Psychological Bulletin, vol. 121, n. 1, 1997, pp. 65–
94.

697 Chen Yu & Linda B Smith, “e social origins of sustained attention in one-year-old
human infants”, in Current biology, vol. 26, n. 9, 2016, pp. 1235–1240.

698 P. Mundy & L. Newell, “Attention, joint attention, and social cognition”, in Current
Directions in Psychological Science, vol. 16, 2007, pp. 269–274.

699 Adam Alter, Irresistible: ¿quién nos ha convertido en yonquis tecnológicos? Barcelona:
Paidós, 2018, p. 34.

700 “Children’s Online Privacy Protection Act”, 15 ... 6501-6505, 1998, disponível em
https://www.c.gov/legal-library/ browse/rules/childrens-online-privacy-protection-rule-
coppa, acessado em 24 de novembro de 2023

701 Julie Jargon, “How 13 became the internet’s age of adulthood”, in e Wall Street Journal,
Nova York, 18 de junho de 2019, disponível em https://www.wsj.com/articles/how-13-became-
the-internets-age-of-adulthood-11560850201, acessado em 24 de novembro de 2023. Inclusive,
há especialistas que ignoram o motivo da limitação de idade e recomendam que uma criança
espere até completar 13 anos para poder abrir uma conta nas redes sociais.

702 Marta Prada, Educar sin pantallas. Madri: Oberon, 2022, p. 23.

703 Eddy Cavalli, “Screen Exposure exacerbates  symptoms indirectly through
increased sleep disturbance”, in Sleep Medicine, vol. 83, 2021, pp. 241–247.

704 Angeline S. Lillard & Jennifer Peterson, “e immediate impact of different types of
television on young children’s executive function”, in Pediatrics, vol. 128, n. 4, 2011, pp. 644–
649.

705 Catherine Steiner-Adair, e big disconnect: protecting childhood and family


relationships in the Digital Age. Nova York: Harper Collins, 2013, pp. 54–55.
706 Adam Alter, Irresistible: ¿quién nos ha convertido en yonquis tecnológicos? Barcelona:
Paidós, 2018, p. 180.

707 Brenda Goh, “ree hours a week: play time’s over for China’s young video gamers”, in
Reuters, 31 de agosto de 2021, disponível em https://www.reuters.com/world/china/china-rolls-
out-new-rules-minors-online-gaming-xinhua-2021-08-30/, acessado em 24 de novembro de
2023; Zen Soo, “Parents in China laud rule limiting video game time for kids”, in e
Associated Press, 20 de setembro de 2021, disponível em https:// apnews.com/article/lifestyle-
technology-business-health-games-ba88276e6f9089a3b9bc65fc19cc0880, acessado em 24 de
novembro de 2023

708 Marta Prada, Educar sin pantallas. Madri: Oberon, 2022, p. 71.

709 Genevieve F. Dash, “Childhood maltreatment and disordered gambling in adulthood:


disentangling causal and familial in uences”, in Psychological Medicine, vol. 52, n. 5, 2022, pp.
979–988; Hailey Walters & erese A. Kosten, “Early life stress and the propensity to develop
addictive behaviors”, in International Journal of Developmental Neuroscience, vol. 78, n. 1,
2019, pp. 156–169. Os mecanismos psicológicos que podem estar envolvidos e explicar o risco
do desenvolvimento de comportamentos adictivos na idade adulta são muitos. Por exemplo, há
evidência de que as adversidades durante a infância podem aumentar a susceptibilidade a um
número de psicopatologias, tais como sintomas de transtornos depressivos, transtornos de
ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático. Cf. Christyn L. Dolbier, “Adverse childhood
experiences and adult psychopathological symptoms: the moderating role of dispositional
mindfulness”, in Journal of Contextual Behavioral Science, vol. 21, 2021, pp. 73–79.

710 M. Green, “Smartphone Addiction risk, depression psychopathology, and social anxiety”,
in Analysis and Metaphysics, vol. 19, 2020, pp. 52–58; Meng Xuan Zhang & Anise M. S. Wu,
“Effects of childhood adversity on smartphone addiction: the multiple mediation of life history
strategies and smartphone use motivations”, in Computers in Human Behavior, vol. 134, 2022,
p. 107.298.

711 Patricia K. Kuhl, “Brain mechanisms in early language acquisition”, in Neuron, vol. 67, n.
5, 2010, pp. 713–727.

712 Lydia H. Soifer, “Development of oral language and its relationship to literacy”, in Judith
Birsh & Suzanne Carreker (eds.), Multi-sensory teaching of basic language skills. Baltimore:
Paul H. Brooks, 2019, cap. 3.

713 Catherine Steiner-Adair, e big disconnect: protecting childhood and family


relationships in the Digital Age. Nova York: Harper Collins, 2013, p. 82.

714 Maria T. Maza, “Association of habitual checking behaviors on social media with
longitudinal functional brain development”, in jama Pediatrics, vol. 177, n. 2, 2023, pp. 160–
167.

715 Se um membro da família se encontra em uma situação adictiva, de ansiedade ou


depressão por causa das redes sociais, é praticamente impossível superar essa nociva tendência
se não forem alterados o entorno e o estilo de vida, algo com o qual todos os membros do lar
devem se comprometer.
716 Por exemplo, estudantes que têm bloqueio ao passar do Paint ao Photoshop, uma vez
que não percebem que, embora um ícone mude de lápis para caneta, a função é a mesma. Isso
se deve ao não desenvolvimento de habilidades muito básicas de resolução de problemas. Cf.
Joe Clement & Matt Miles, Screen schooled: two veteran teachers expose how technology
overuse is making our kids dumber. Chicago: Chicago Review Press, 2018, p. 52.

717 Esse é o caso da Waldorf School em Mountain View, California. Cf. Ibid., p. 174.

718 Valerie Strauss, “Why we still need to study the humanities in a  world”, in e
Washington Post, Washington, .., 18 de outubro de 2017, disponível em https://
www.washingtonpost.com/news/answer-sheet/wp/2017/10/18/why-we-stillneed-to-study-the-
humanities-in-a-stem-world/, acessado em 24 de novembro de 2023.

719 George Anders, You can do anything: the surprising power of a “useless” liberal arts
education. Nova York: Little, Brown and Company, 2017.

720 Paul Petrone, “e skills companies need most in 2019: and how to learn them”, in
LinkedIn, 31 de dezembro de 2018, disponível em https://www.
linkedin.com/business/learning/blog/top-skills-and-courses/the-skills-companies-need-most-
in-2019-and-how-to-learn-them, acessado em 24 de novem bro de 2023.

721 David J. Deming, “e growing importance of social skills in the labor market”, in
National Bureau of Economic Research, 2017, disponível em
https://www.nber.org/digest/nov15/growing-importance-social-skills-labor-market, acessado
em 24 de novembro de 2023.

722 Microso, e future computed: arti cial intelligence and its role in society. Redmond:
Microso Corporation, 2018, p. 18. [Em português, sem tradução indicada, Brad Smith &
Harry Shum, O futuro computadorizado: inteligência arti cial e seu papel na sociedade,
Washington, d.c.: Microso, 2018, disponível em
https://news.microso.com/cloudforgood/_media/ downloads/the-future-computed-
portuguese.pdf, acessado em 24 de novembro de 2023 — ].

723 Louis Menand, “What’s so great about great-books courses?”, in e New Yorker, 13 de
dezembro de 2021, disponível em https://www.newyorker. com/magazine/2021/12/20/whats-
so-great-about-great-books-courses-roosevelt-montas-rescuing-socrates, acessado em 24 de
novembro de 2023.

724 Susan B. Neuman & Donna Celano, “Don’t level the playing eld: tip it toward the
underdogs”, in American Educator, vol. 36, n. 3, 2012, pp. 20–21; Susan B. Neuman & Donna
Celano, Giving our children a ghting chance: poverty, literacy, and the development of
information capital. Nova York: Teachers College Press, 2012.

725 A referência a Bill Gates não é por acaso. Sua fundação tem nanciado instituições e
pesquisas nas universidades por dois motivos. Primeiro, para promover o uso da tecnologia (e
vender seus produtos). Segundo, para incentivar a adoção de padrões nacionais e programas
universais de educação para, assim, não ter de lidar com nenhuma escola, distrito ou país em
particular na hora de vender seus produtos. Nos Estados Unidos, sua fundação gastou mais de
200 milhões de dólares para pressionar o Departamento de Educação e estados especí cos a
adotarem um padrão nacional único, o Common Core. Cf. Bill Gates, “Education 2.0”, in
GatesNotes, 8 de março de 2012, disponível em https://www.gatesnotes.com/Education-2;
Lyndsey Layton, “How Bill Gates pulled off the swi common core revolution”, in e
Washington Post, Washington, .., 7 de junho de 2014, disponível em
https://www.washingtonpost.com/politics/ how-bill-gates-pulled-off-the-swi-common-core-
revolution/2014/06/07/ a830e32e-ec34-11e3-9f5c-9075d5508f0a_story.html, acessado em 24 de
novembro de 2023.

726 Nick Pandolfo, “As some schools plunge into technology, poor schools are le behind”,
in e Hechinger Report, 24 de janeiro de 2012, disponível em https://hechingerreport.org/as-
some-schools-plunge-into-technologypoor-schools-are-le-behind/, acessado em 24 de
novembro de 2023.

727 Disponível em https://www.argentina.gob.ar/educacion/progresar, acessado em 24 de


novembro de 2023.

728 La Nación, “Cristina Kirchner: ‘Me siento la Sarmiento del Bicen tenario’”, in La Nación,
Buenos Aires, 6 de abril de 2010, disponível em https://www.lanacion.com.ar/cultura/cristina-
kirchner-me-siento-la-sarmiento-del-bicentenario-nid1251253/, acessado em 24 de novembro
de 2023.

729 Alejandro Radonjic, “Nuevo informe de Argentinos por la Educación: ‘Todos pasan?’”,
in El Economista, Buenos Aires, 15 de junho de 2022, disponível em
https://eleconomista.com.ar/actualidad/nuevo-informe-argentinos-educacion-todos-pasan-
n54024, acessado em 24 de novembro de 2023.

730 Ivana Templado, “Evidencia sobre desigualdad educativa en la Argentina”, in Argentinos


por la Educación, 2021, pp. 1–9.

731 Esse conceito se refere a uma situação generalizada na qual não se atingem os índices
mínimos de conhecimento escolar. Ver Ricardo Baquero, “Desarrollo psicológico y
escolarización en los enfoques socioculturales: nuevos sentidos de un viejo problema”, in
Avances en Psicología Latinoamericana, vol. 27, n. 2, 2009, pp. 263–280.

732 Ivana Templado, “Evidencia sobre desigualdad educativa en la Argentina”, in Argentinos


por la Educación, 2021, pp. 1–9.

733 Alejandro Horvat, “Catástrofe educativa: la pandemia generó una deserción escolar
crítica en la Argentina”, in La Nación, Buenos Aires, 9 de dezembro de 2021, disponível em
https://www.lanacion.com.ar/ sociedad/catastrofe-educativa-la-pandemia-genero-una-
desercion-escolar-critica-en-la-argentina-nid09122021/, acessado em 24 de novembro de 2023.

734 Camille Calvier, “Les téléphones portables seront interdits dès la rentrée scolaire”, in Le
Figaro, Paris, 20 de julho de 2018, disponível em https://www.le garo.fr/actualite-
france/2018/07/30/01016-20180730ARTFIG00201-les-telephones-portables-seront-interdits-
des-la-rentree.php, acessado em 24 de novembro de 2023.

735 Louis-Philippe Beland & Richard Murphy, “ Communication: Technology, Distraction
& Student Performance”, in Labour Economics, vol. 41, 2016, pp. 61–76; Jeffrey H. Kuznekoff &
Scott Titsworth, “e impact of mobile phone usage on student learning”, in Communication
Education, vol. 62, n. 3, 2013, pp. 233–252.

736 As lembranças negativas se desvanecem com o tempo, de tal modo que as lembranças
positivas do passado têm mais força conforme a pessoa vai envelhecendo, não porque seja
comum escutar um idoso a rmando que “tudo era melhor antes”. Cf. Susan Turk Charles,
“Aging and emotional memory: the forgettable nature of negative images for older adults”, in
Journal of Experimental Psychology, vol. 132, n. 2, 2003.

737 A ideia de paternidade como ato de rebeldia eu tomo de um livro “profético” publicado
em 1982 por Neil Postman, La desaparición de la niñez. Barcelona: Círculo de lectores, 1988.
[Em português, O desaparecimento da infância, trad. Suzana Carvalho e José Laurentino de
Melo. Rio de Janeiro: Graphia, 2005 — ].

738 Nolen Gertz, Nihilism and technology. Londres: Rowman & Little eld International,
2018, pp. 24–25.

739 A frase original é de São Bernardo de Claraval, Tratado sobre el amor a Dios. Bogotá:
San Pablo, 1997, cap. 1.

740 Não vou desenvolver os argumentos para isso porque eles já foram magistralmente
desenvolvidos em Jaron Lanier, Diez razones para borrar tus redes de inmediato. Barcelona:
Debate, 2018.

741 Estou parafraseando e ampliando a ideia de Frank Pasquale, e blackbox society: the
secret algorithms that control money and information. Cambridge: Harvard University Press,
2015, p. 15.

742 Marshall McLuhan, Comprender los medios de comunicación: las extensiones del ser
humano. Barcelona: Paidós, 2009, cap. 1.

743 Martin Heidegger, “e question concerning technology”, in Martin Heidegger, e


question concerning technology and other essays. Nova York: Harper & Row, 1977, p. 4.

744 Katie Goh, “Taylor Swi and Carly Rae Jepsen are ushering in the lonely girl era”, in i-D,
24 de outubro de 2022, disponível em https://i-d.vice.com/ en/article/wxn775/taylor-swi-
carly-rae-jepsen-loneliness, acessado em 27 de novembro de 2023.

745 “Taylor Swi breaks two records with ‘Midnights’, becoming the most-streamed artist on
Spotify”, in Spotify, 22 de outubro de 2022, disponível em https://newsroom.spotify.com/2022-
10-22/taylor-swi-breakstwo-records-with-midnights-becoming-the-most-streamed-artist-on-
spotify/, acessado em 27 de novembro de 2023.

746 Disponível em https://www.socialtracker.io/instagram/taylorswi/, acessado em 27 de


novembro de 2023.

747 Ver Jacob Bixenman, Miley Cyrus: Flowers, Estados Unidos: YouTube, 2023, disponível
em https://www.youtube.com/watch?v=G7KNmW9a75Y, acessado em 27 de novembro de
2023.
748 “A crença na mensurabilidade e na quanti cabilidade da vida domina toda a era digital”,
a rma Han, algo que termina numa mera técnica de autocontrole e autovigilância. Byung-Chul
Han, Psicopolítica, trad. Alfredo Bergés. Barcelona: Herder, 2014, p. 91.

749 Chris Bail, Breaking the social media prism: how to make our platforms less polarizing.
Nova Jersey: Princeton University Press, 2022, pp. 127–128.

750 Arthur M. Melzer, “e problem with the ‘problem of technology’”, in Arthur M. Melzer
em Technology in the Western Political Tradition. Ithaca: Cornell University Press, 1993, p. 298.

751 Nolen Gertz, Nihilism and technology. Londres: Rowman & Little eld International,
2018, p. 3.

752 Brett Molina, “iPhone 13: yes, people still wait in line to get the new iPhone”, in usa
Today, 4 setembro de 2021, disponível em https://www.
usatoday.com/story/tech/2021/09/24/iphone-13-here-consumers-line-up get-apples-new-smart
phone/5841673001/, acessado em 27 de novembro de 2023.

753 Eu me lembro quando as lojas abriram, no nal de 2020, no Canadá, e eu fui substituir a
bateria de meu laptop, que não estava mais carregando, e vi uma jovenzinha que teve um acesso
de raiva e ataques de nervos na loja porque o único modelo de MacBook Air disponível era do
ano anterior: todo o estoque havia se esgotado em razão do ensino ter passado a ser remoto. E
não lhe bastou o vendedor explicar que a experiência de uso do modelo de 2019 era tão boa
quanto a de 2020.

754 Langdon Winner desenvolve a ideia de que a tecnologia é aceita sem nenhum tipo de
questionamento porque ela é concebida como condição para o progresso social. Cf. Langdon
Winner, Tecnología autónoma: la técnica incontrolada como objeto del pensamiento político.
Barcelona: Gustavo Gili, 1979.

755 Eu explico todo o processo de desconstrução do ser humano e de sua natureza em Pablo
Muñoz Iturrieta, Las mentiras que te cuentan, las verdades que te ocultan. Ontário: Metanoia
Press, 2021, cap. 2, pp. 30–57.

756 Arthur M. Melzer, “e problem with the ‘problem of technology’”, in Arthur M. Melzer
em Technology in the Western Political Tradition. Ithaca: Cornell University Press, 1993, p. 297.

757 Pablo Muñoz Iturrieta, Las mentiras que te cuentan, las verdades que te ocultan.
Ontário: Metanoia Press, 2021, p. 25.

758 Arthur M. Melzer, “e problem with the ‘problem of technology’”, in Arthur M. Melzer
em Technology in the Western Political Tradition. Ithaca: Cornell University Press, 1993, p. 311.

759 O exemplo mais claro é o de deepfakes: algoritmos e  para detectar vídeos, vozes e
imagens criadas por . Cf. “Stopping deepfake news with an ai algorithm that can tell when a
face doesn’t t”, in e International Society for Optics and Photonics, 20 de julho de 2020,
disponível em https://spie. org/news/stopping-deepfake-news-with-an-ai-algorithm-that-can-
tell-when-aface-doesnt- t, acessado em 27 de novembro de 2023.
760 Ver Pablo Muñoz Iturrieta, Atrapado en el cuerpo equivocado: la ideología de género
frente a la ciencia y la losofía. 2. ed. Ontário: Metanoia Press, 2020, cap. 4.

761 Shulamith Firestone, La dialéctica del sexo: em defensa de la revolución feminista.


Barcelona: Kairós, 1976, p. 207. Tema que é aprofundado por Lukacs de Pereny, Neo entes:
tecnología y cambio antropológico en el siglo 21. Cidade do México: Kabod Ediciones, 2022.

762 Catriona Campbell,  by design: a plan for living with arti cial intelligence. Boca
Raton: crc Press, 2022.

763 Ray Kurzweil, La singularidad está cerca: cuando los humanos transcendamos la
biología. Berlim: Lola Books, 2020.

764 Murray Shanahan, e technological singularity. Cambridge:  Press, 2015, pp. –
.

765 Yuval N. Harari, “Will the Future Be Human?”, in World Economic Forum, 24 de janeiro
de 2018, disponível em https://www.weforum.org/events/ world-economic-forum-annual-
meeting-2018/sessions/will-the-future-be-human, acessado em 27 de novembro de 2023.

766 Ibid.

767 Arthur M. Melzer, “e problem with the ‘problem of technology’”, in Arthur M. Melzer
em Technology in the Western Political Tradition. Ithaca: Cornell University Press, 1993, pp.
299–300.

768 A virada proposta por Descartes, por exemplo, implicava uma rejeição total ao passado.
Ver René Descartes, Meditationes de prima philosophia. Notre Dame: University of Notre
Dame Press, 1990.

769 A rmava com aquela graça inigualável: “Uma vez que Deus tenha sido abolido, o
governo se transforma em Deus”. G. K. Chesterton, Christendom in Dublin, ed. James V. Schall.
São Francisco: Ignatius Press, 2001, Collected Works, vol. , p. 57.

770 Segundo Gertz, o Google é a prova de que, embora o homem moderno se despoje de
todo sentido e nalidade, ele ainda não escapou realmente da dependência de uma fonte
externa de signi cado. Cf. Nolen Gertz, Nihilism and technology. Londres: Rowman &
Little eld International, 2018, p. 10.

771 Carles Geli, “In Orwell’s ‘1984’ society knew it was being dominated. Not today”, in El
País, Madri, 7 de fevereiro de 2018, disponível em https://
english.elpais.com/elpais/2018/02/07/inenglish/1517995081_033617.html, acessado em 27 de
novembro de 2023.

772 Lukacs de Pereny, “La tiranía de los algoritmos”, in Carlos Beltramo & Carlos Polo
Samaniego, Pandemonium ¿De la pandemia al control total? Front Royal: Population Research
Institute, 2020.

773 Judith Butler, uma ideóloga de gênero, sugere que a uidez de identidades de gênero
impede a con rmação da existência de gêneros essenciais ou naturais. Cf. Judith Butler, Gender
trouble: feminism and the subversion of identity. Nova York: Routledge, 1990, p. 138. [Em
português, Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade, trad. Renato Aguiar.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003 — nt].

774 Ver Kate Millett, Política sexual. Madri: Cátedra, 1969.

775 Tomás de Aquino, Summa theologiae, 3. ed. Torino: Edizioni San Paolo, 1999, –, q. 94,
a. 2, p. 955.

776 omas Hobbes, Leviathan, ed. Richard Tuck. Cambridge: Cambridge University Press,
1996, p. 46.

777 Assim, a moral utilitarista é a única válida porque parte da possibilidade de quanti car a
satisfação hedonista ou de poder realizar um cálculo matemático para justi car qual decisão se
deve tomar diante de um dilema: o comércio de órgãos, a venda de crianças por parte de pais
pobres etc.

778 E aqui ca mais claro como o ativismo da justiça pós-moderna e os movimentos da nova
esquerda tiraram proveito político de um problema que é profundamente cultural e que tem
um pano de fundo psicológico, fruto da orientação negativa e progressista do ser humano.

779 Algo que, em inglês, é de nido como virtue signaling, ou seja, a expressão pública de
opiniões e sentimentos com a intenção de demonstrar o bom caráter e consciência social da
pessoa.

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