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ÉTICA E

PSICOLOGIA
MARIANA DE ARRUDA SOARES
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Olá, aluno. Com satisfação, iniciamos um ciclo elementar de estudos para
sua formação profissional. Por meio de um arcabouço teórico, abordaremos
conteúdos fundamentais, os quais possibilitarão a construção de
conhecimentos essenciais para uma reflexão crítica sobre o tema.

Inicialmente, contextualizaremos a ética em seus fundamentos históricos e


filosóficos, considerando as diferentes abordagens teóricas. Posteriormente,
refletiremos sobre a ética e embasaremos nosso conhecimento acerca dos
fundamentos da Psicologia, o que possibilitará uma articulação entre os
conteúdos.

Por conseguinte, compreenderemos a função das normas e códigos de ética


profissionais, bem como suas implicações no campo da psicologia.
Concluindo nosso estudo, explanaremos sobre a delimitação do campo de
atuação do psicólogo, as especificidades do código de ética e os
regulamentos da profissão.

Tendo em vista que as atribuições do psicólogo envolvem competências


intrínsecas à responsabilidade social, a relevância do conteúdo abordado
construirá bases para uma reflexão crítica com embasamento teórico e que
tem por característica principal a promoção da credibilidade do profissional.

Vamos juntos na construção dessa jornada!


AUTORA
A professora Mariana de Arruda Soares é

especialista em nível de residência em

interiorização da atenção à saúde com ênfase em

saúde da família pela Universidade Federal de

Pernambuco (2021) e em saúde mental, saúde

pública e dependência química pela Faculdade de Ciências Humanas –

ESUDA (2018). Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário da Vitória –

UNIVISA (2016). Em sua trajetória profissional, atuou como preceptora

voluntária do Projeto PET-Saúde interprofissionalidade CAV/UFPE (2019 a

2021). Discente voluntária no projeto de extensão “Superação: espaço

terapêutico para mães de recém-nascidos hospitalizados e de apoio ao

aleitamento materno exclusivo (ANO VI e VII)” (2019 a 2020).

Dedico esse trabalho aos alunos em processo de formação profissional, mestres


que contribuíram no desenvolvimento de meus conhecimentos, amigos que são
fonte e compartilhamento de vivências e, principalmente, a Deus, que me sustenta
com seu amor e me concede força e esperança.
Mariana de Arruda Soares
BOXES

| ASSISTA

Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple-

mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado.

| CITANDO

Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa

I relevante para o estudo do conteúdo abordado.

CONTEXTUALIZANDO

Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato;

demonstra-se a situação histórica do assunto.

| CURIOSIDADE

Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto

I tratado.

| DICA

Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma

l informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado.

I EXEMPLIFICANDO

Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto.

| EXPLICANDO

Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da

área de conhecimento trabalhada.


UNIDADE 1

BASES FILOSÓFICAS E

ANTROPOLÓGICAS DA ÉTICA

OBJETIVOS DA UNIDADE:

• Apresentar os fundamentos da Ética;

• Refletir sobre conceitos e campo de abrangência da Ética;

• Abordar as problemáticas no campo da Ética e da Moral.

TÓPICOS DE ESTUDO
Bases filosóficas e antropológicas da ética
// Bases antropológicas
// Abordagens filosóficas

Ética: campo e conceituação


// Ética: campo e conceituação

Problemas éticos e morais


Bases filosóficas e antropológicas da ética
Seção 3 de 5

De acordo com Oliveira (2015), as bases fundamentais da ética se pautam


nos princípios antropológicos e filosóficos, os quais possibilitam reflexões
sobre normas e valores relacionados aos pensamentos e comportamentos,
sejam eles individuais ou grupais, dos campos pessoais, sociais, culturais ou
profissionais.

A ética é um conceito amplo e abrangente, que envolve relações humanas e


está presente em todas as sociedades. Portanto, vale a pena compreender as
reflexões históricas dos grandes teóricos e filósofos acerca do tema.

BASES ANTROPOLÓGICAS
Moore (1975) aponta que a palavra ética tem origem grega: vem de ethos,
que significa “propriedade do caráter, valores, princípios e costumes que
orientam o comportamento humano”. Para o autor, essas significações
deram origem à tradução do termo para o latim mos, ou, no plural, mores,
que se refere à moral e se relaciona com o comportamento em si, isto é, com
o modo de ação, baseado nas regras e costumes estabelecidos por cada
sociedade.

Figura 1. Estátua de mármore do grande filósofo grego, Sócrates. Fonte: Shutterstock. Acesso em:
15/08/2021.
Sócrates (470 – 399 a.C.), filósofo ateniense, viveu durante o período clássico
na Grécia Antiga. Precursor da filosofia ocidental, incentivava as pessoas a
formarem seus próprios conceitos de pensamento sobre a ética por meio de
seu método dialético. O filósofo trabalhava em locais públicos, como praças,
ruas e ginásios, disseminando seus ensinamentos através do diálogo com a
população. Para ele, sabedoria e conhecimento eram virtudes essenciais do
ser humano. Além disso, acreditava que o indivíduo só alcança o
conhecimento pleno se seguisse um método consistente de dois momentos:

Ironia

Ao debater sobre esse tema, vale a pena considerar o exemplo de dois


indivíduos, A e B, dialogando. A faz uma pergunta, simulando não saber a
resposta, e B expõe sua opinião. A, então, contrapõe os argumentos, o que
faz com que B perceba a ilusão da sabedoria que julga ter. Assim, B reflete
sobre seu próprio conhecimento;
Maiêutica

Zen e Segarbi (2018) consideram-na um estímulo investigativo dos saberes, o


qual conduz o interlocutor a realizar novos questionamentos para alcançar o
conhecimento através de suas próprias reflexões.

Ao considerar a ética como um modo de entendimento de princípios


carregados de valores positivos,

Sócrates acreditava que o homem age de maneira correta quando conhece


e pratica o bem. A ação ou comportamento que resulta de seus princípios
éticos fazem com que o homem se sinta dono de si e, por conseguinte,
alcance a felicidade. Para o filósofo, o conhecimento, a bondade e a
felicidade estão relacionados estreitamente (VÁZQUEZ, 1968, p. 231).

Para o filósofo, o conhecimento do homem sobre si mesmo é uma virtude.


Diante desse pensamento, seu discípulo, Platão (2008), postulou suas
clássicas frases: Conhece-te a ti mesmo e Sei que nada sei. Inspirado pelas
ideias de Sócrates, o filósofo e matemático, que viveu entre 427 e 347 a.C.,
também considerava a dialética em seus ensinamentos e entendia a ética
como um objetivo último da busca pela felicidade. Constituiu toda uma
teoria do conhecimento, sob a qual referia que dois momentos eram
necessários para que o homem alcançasse o conhecimento total da
realidade:

• Doxa: refere-se ao conhecimento sensível. Platão (2008) reflete


criticamente sobre os sentidos humanos (tato, olfato, paladar, visão e
audição) e afirma que são imperfeitos. O ser humano, portanto, não
pode basear seu conhecimento nesses sentidos nem confiar
completamente nas percepções deles advindas, pois não são fontes
seguras, são limitados e produzem conhecimento superficial da
realidade concreta;
• bullet
Episteme: Zen e Secarbi (2018) afirmam que, para o filósofo, esse
momento diz respeito ao conhecimento inteligível, isto é,
fundamentado na razão. Na sua visão, é possível alcançá-lo
diretamente pelo pensamento. Assim, o ser humano só alcançaria o
verdadeiro conhecimento se saísse do campo dos sentidos e
adentrasse no campo das ideias, lugar onde reside a verdadeira
essência de todas as coisas.

Figura 2. Estátua de Platão. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 20/08/2021.


É possível ver o cristianismo como
uma base histórica da ética, visto que
a religião firmou a noção de livre
arbítrio durante a Idade Média. Sob
sua ótica, o divino (Deus) é o caminho
do bem, enquanto que a existência do
mal é condição das escolhas de cada
pessoa. A ética cristã, então, busca a
espiritualidade entendida como ações
baseadas no amor e na fraternidade.

Santo Agostinho, filósofo ocidental


que viveu entre 354 e 430, é um dos
principais pensadores do cristianismo. Sua teoria permeava o “problema do
Mal” envolvido nas “confissões”. Apesar de o mundo ser uma criação de um
ser de bondade, isto é, Deus, a existência do mal é inegável. Ele desenvolveu
o conceito de mal moral, que resulta do livre arbítrio, ou seja, das ações e
comportamentos humanos. Em outras palavras, nós criamos o mal, não
Deus. Para Agostinho, o ser humano escolhe o mal por conta de um desvio
de conduta, por desobedecer a Deus e, consequentemente, privar-se das leis
divinas. Sob essa visão, a ética é uma ação voltada para o bem e embasada
nos propósitos divinos.

Figura 3. Pintura da imagem de Santo Agostinho. Fonte: FERRARI, 2008.

Já na visão sobre ética e agir humano de São Tomás de Aquino, filósofo e


teólogo do cristianismo que viveu entre 1225 e 1274, a filosofia moral política
é muito importante, pois é a política que regula as ações da polis, ou seja, da
sociedade. Para ele, o homem, quando em comunidade, faz parte de um
grupo e nele se apoia para construir o seu sustento e viver bem.

Apesar de a sociedade evidenciar as desigualdades entre os seres humanos,


o filósofo teorizava que, perante ao criador ou à lei divina, todos são iguais;
tudo ocorre de acordo com a vontade de Deus e todo indivíduo é um fim em
si mesmo. Por entender que o Criador fez o homem à sua imagem, São
Tomás de Aquino chegou a conclusões peculiares para a época, como a ideia
de que ninguém é instrumento de outro e de que não há diferença de
natureza intelectual entre os gêneros.
A partir dessa noção de igualdade, ele introduz o Código de Direitos
Humanos, ancorado na lei natural de sua teoria. Divide esses direitos em três
classes:
-
Autopreservação
–Comungada entre todos os seres vivos, refere-se ao direito à vida;

Preservação da espécie
–Ideia ligada ao matrimônio e à constituição de família; e

Inclinação ao bem
-Remete ao conceito de racionalidade, isto é, ao conhecimento da verdade
relacionada a Deus e ao meio social.

De acordo com Boni (2018), São Tomás


de Aquino afirma que a relação entre o
homem e Deus é mútua e recíproca.
Existem, portanto, duas leis: a humana,
entendida como a boa relação entre os
homens, e a divina, que se refere à
relação de amizade e proximidade do
homem com Deus. Os aspectos éticos
fundamentais postulados pelo filósofo se
relacionam ao amor ao próximo. Tal
sentimento, em sua visão, é genuíno,
envolto de verdade, entrega e ação conduzida ao bem.

Figura 4. São Tomás de Aquino. Fonte: AdobeStock. Acesso em: 25/08/2021.


ABORDAGENS FILOSÓFICAS

As correntes filosóficas que abordam a


ética possuem diferentes origens, mas se
complementam no sentido amplo.
Aristóteles, discípulo de Platão que viveu
entre 384 e 322 a.C., foi o primeiro a
estruturar o termo. Entretanto, diverge
das ideias de seu mestre. Ele não
desconsidera a percepção pelos sentidos,
mas acredita que o mundo sensível
reflete o real. Em outras palavras, a essência das coisas reside nelas próprias.
Tudo que existe no mundo possui uma multiplicidade de significados, que se
encontram no ousía, isto é, na substância das coisas.

De acordo com Zen e Segarbi (2018), Aristóteles postulou a teoria do ato e


potência, que determina que todos os seres existem em ato, ou seja, o
estado atual do ser, e potência, que representa o estado futuro, o que o ser
poderá se tornar. Cabe ressaltar que os dois estados coexistem ao mesmo
tempo. Desse modo, o ser humano não “é”, mas “está”, e, além disso, possui
potencial de se tornar outra coisa.

EXPLICANDO
Tomemos um estudante de Psicologia como exemplo: esse estado de “estudante” é o
seu ato, sua condição atual como pessoa. No entanto, ele possui pleno potencial para
se formar em Psicologia. Portanto, sua potência consiste em “ser um psicólogo”, uma
condição diferente de estudante.

Para Aristóteles (1984), a felicidade é o objetivo da base ética da vida


humana. Para alcançá-la, o indivíduo deve sempre buscar a justa medida,
a mediana.
Figura 5. Estátua de Aristóteles. Fonte: AdobeStock. Acesso em: 20/08/2021.

O filósofo cunhou esse termo para representar o estado ideal da vida, o qual
entendia ser a busca pelo meio-termo. Em sua visão, os extremos não
passam de vícios e o ser humano deve viver na busca pelo equilíbrio, a
verdadeira virtude da vida. Portanto, agir eticamente significa orientar-se em
ações morais virtuosas, promotoras de felicidade.

Já no utilitarismo, a ética
prioriza o bem coletivo.
Nessa visão, a ação ética é
aquela cuja consequência é
a utilidade. Nessa corrente,
Stuart Mill (2020) considera
que, antes de realizar
alguma coisa, é preciso
analisá-la e verificar que seu
objetivo moral é produzir o
maior benefício ao maior
número de pessoas possível.
Figura 6. Stuart Mill. Fonte: SKOBLE, 2020.
CURIOSIDADE
De acordo com Koerich, Machado e Costa (2005), essa corrente filosófica embasou um
dos princípios da bioética, a beneficência, que diz respeito a uma ação que minimiza o
dano e beneficia o maior número de pessoas possível.

Figura 7. Emmanuel Lévinas. Fonte: CARNEIRO, 2014.

Na corrente humanista, destaca-se


o filósofo judeu, Emanuel Lévinas,
que viveu durante o período da
Segunda Guerra Mundial e criticou
o pensamento ocidental
enfatizando que este se opõe à
ética, transmite uma postura de
poder e dominação e, ainda, reflete
ações desumanas. Conforme
Nascimento (2015), o filósofo
acreditava que a ética deve ser um
princípio anterior a todas as ações
humanas. É importante que ela traduza uma relação de encontro com o
outro, pautando-se na responsabilidade e no humanismo ético. A este
princípio, Lévinas deu o nome de ética da alteridade.

Na corrente existencialista, Kierkegaard (2003)


baseia seus escritos em suas vivências e entende
a ética como um modo de existência humana.
Considera que a filosofia e o “existir concreto” são
inseparáveis: só é possível compreender a vida
real a partir de uma reflexão interior subjetiva de
cada pessoa.

Figura 8. Estátua de Søren Kierkegaard. Fonte: Shutterstock.


Acesso em: 20/08/2021.
Figura 9. Michel Foucault. Fonte:
FONSECA, 2010.
Michael Foucault, filósofo e
psicólogo, interpreta a ética
como um “modo de ser”
entendido como a relação
do “ser consigo mesmo”
em uma busca constante
da constituição de si. De
acordo com Rajchman
(1993), Foucault denominou essa relação ethos, que significa a constituição
de si enquanto sujeito. O indivíduo, então, se inquieta e reflete criticamente
sobre seus próprios valores e comportamentos com o objetivo de tomar
consciência e problematizá-los em uma elaboração ética de si mesmo.

Immanuel Kant (2013) elaborou a corrente


deontológica. O filósofo alemão entende
que, para que uma ação humana seja ética,
deve seguir um dever pautado na verdade
e em normas morais. Conforme Finkler,
Caetano e Ramos (2013), estudiosos sobre
o tema, a deontologia trata dos deveres.
Ela determina o que devemos fazer e
orienta que é preciso realizar ações
conforme o permitido e por meio de
posturas que estejam de acordo com
códigos e normas estabelecidos.

Figura 10. Immanuel Kant. Fonte: AdobeStock. Acesso


em: 20/08/2021.
Figura 11. Resumo das bases filosóficas da ética.

VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ


AGORA?
De acordo com Oliveira (2015), os fundamentos da ética se pautam em
bases antropológicas e filosóficas que possibilitam reflexões acerca das
normas e valores que permeiam os pensamentos e comportamentos
humanos nos diversos âmbitos, sejam eles pessoais, sociais ou
profissionais. Considerando as diferentes correntes filosóficas acerca da
ética, julgue as alternativas a seguir e assinale as corretas.

No utilitarismo, a ética se pauta em ações que priorizam o benefício da


coletividade e tenha um fim de utilidade para a maioria dos envolvidos.
A filosofia de Lévinas, base humanista, ressalta o poder e a dominação
como essenciais para uma atitude ética.
No existencialismo, a ética é um modo de existir. Essa corrente
considera que o modo de existência humana se relaciona à filosofia.
A ética deontológica diz respeito a deveres, mas não pode ser
associada com a postura profissional, dado que essa última deve
considerar apenas o “fazer técnico”.
Ética: campo e conceituação

O entendimento dos pressupostos filosóficos e históricos favorece a


compreensão dos conceitos relacionados à ética nos diversos campos que
envolvem o tema.

// Reflexões sobre os conceitos relacionados à ética

As teorias éticas enfatizam o caráter, ou o “jeito de ser”, como um modo


autônomo de pensamento de cada pessoa diante do mundo. Para Singer
(1994), a ética é um conjunto de valores, princípios e modos de pensar que
antecedem e orientam as ações sociais dos indivíduos. Em outras palavras, a
ética é o conjunto de constructos que o indivíduo considera como correto. O
autor entende que essa coleção de crenças, aprendida socialmente e
internalizada pelos indivíduos, serve como uma base que orienta a conduta e
o comportamento; a ela, chamou de moral. Uma maneira simples de
entendê-la envolve enxergá-la como o modo de agir das pessoas; diz
respeito ao caráter ou ao “jeito de ser” do indivíduo.
Koerich, Machado e Costa (2005) afirmam que um indivíduo é ético quando
suas atitudes se baseiam nos princípios de respeito, justiça, direito comum e
responsabilidade. Este último, por sinal, deve estar presente em todos os
âmbitos e se relacionar aos aspectos da ética da responsabilidade individual,
isto é, o comportamento singular de cada pessoa. Esses aspectos são:
responsabilidade pública, que se refere ao papel e deveres do Estado para
com os cidadãos; e responsabilidade planetária, que fala do compromisso
das pessoas frente à preservação do planeta.

Donzelli (2016) entende a moral como um conceito geral, que avalia todas as
situações e circunstâncias por meio de códigos e condutas inflexíveis, ou
seja, que independem da situação. Já a ética, em sua visão, avalia as
situações de modo singular; o indivíduo considera cada contexto ao refletir
sobre a maneira adequada de agir.

Acha e Piva (2013) ressaltam que a moral não é um conceito estático; cada
cultura e sociedade a entende de diferentes modos. O que parece correto ao
americano pode sofrer repressão do asiático, por exemplo. Também é
possível ver a moral como um constructo variável subjetivamente, pois
diferentes indivíduos, mesmo que pertencentes à mesma sociedade ou
cultura, entendem-na do seu próprio jeito.

ASSISTA
Para uma reflexão mais aprofundada sobre os conceitos de ética e
moral, vale a pena conferir uma discussão sobre o tema através dos
pensamentos do professor Clóvis de Barros e do filósofo Mário
Cortella.
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=BM9x8HdElGs
ÉTICA E CAMPOS DE ABRANGÊNCIA

Camargo (1999) diz que a ética, no campo pessoal, corresponde aos


princípios e valores de cada pessoa, dado que eles são singulares e se
constroem ao longo da vida. Estes preceitos são a base das ações e do
comportamento, pois guiam suas atitudes em todas as circunstâncias e
relações interpessoais. Já Filho e Trisotto (2003) dizem que não se pode ver a
conduta ética de uma maneira simplista, reduzida apenas à vontade do
indivíduo. Afinal, os padrões socialmente estabelecidos influenciam o modo
como as pessoas conduzem suas ações.

Portanto, é necessário reconhecer que a amplitude do campo social


influencia as questões éticas quase que intrinsecamente.

No âmbito social, embora a ética abranja as relações e condutas em


sociedade, também é possível entendê-la de maneiras diversas conforme
cada cultura, tempo e local. Valls (2000) aponta que a ética é uma condição
situacional, que diz respeito aos hábitos e comportamentos socialmente
aceitos em determinado espaço e tempo. Nesse sentido, a ética é uma
construção variável, que apresenta mudanças. Já Passos (2004) diz que a
ética profissional corresponde às normas morais que orientam a prática e
postura de um profissional em todas as esferas de atuação.

A filosofia deontológica se relaciona com a atuação ética no campo


profissional, como afirmam Finkler, Caetano e Ramos (2013). Entretanto, é
importante ressaltar que essa vertente da ética deve se pautar em valores,
padrões e normas éticas correspondentes aos direitos humanos e
disposições estabelecidas nos códigos de ética profissional, elaborados pelos
conselhos profissionais de classe. Estes contribuem na orientação da
adequada relação de cada profissional tanto com seus pares quanto a
sociedade.

VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ


AGORA?
Singer (1994) afirma que ética é um conceito amplo que envolve
princípios e valores que antecedem os comportamentos das pessoas em
diversos contextos. Nesse sentido, considerando a ética nos âmbitos
pessoais, sociais e profissionais, assinale a alternativa correta.

A ética é um conceito imutável, independente da sociedade.


No campo pessoal, o entendimento do indivíduo sobre ética se constrói
apenas durante a adolescência. No período da vida adulta, os conceitos
aprendidos anteriormente não se modificam.
A conduta ética no campo pessoal depende exclusivamente da vontade
do indivíduo.
A conduta ética no campo profissional deve considerar as disposições
preconizadas nos códigos de ética estabelecidos por cada categoria
profissional.
Deve-se considerar a responsabilidade ética apenas no campo
profissional, pois, só nele, o indivíduo tem autonomia para agir com
responsabilidade.
Problemas éticos e morais
No cotidiano, a ética e a moral se complementam, pois são as bases que
norteiam as posturas e atitudes humanas, revelando, assim, caráter e
virtudes perante as relações e situações. Desse modo, surgem algumas
problemáticas envolvidas nesses conceitos. Partindo desse princípio, é
possível dividir o tema em dois campos específicos: profissional e social.

// Campo profissional

Peduzzi (2003), aponta que esse campo envolve ações técnicas e éticas que
se complementam. A dimensão técnica envolve a realização de
procedimentos e condutas correspondentes às atribuições de cada
profissão. Já a dimensão ética envolve posturas que se refletem no
relacionamento com os demais membros da equipe, bem como com os
usuários e pacientes do serviço ou instituição. Além disso, ela considera
responsabilidades que vão além do saber técnico.

Arroyo (2008) considera como ética a postura do profissional que respeita a


dignidade humana, dado que cada pessoa pertence a um contexto territorial,
familiar, educacional, econômico e, em sentido mais amplo, social e cultural.
Tudo isso envolve a condição de existência de cada pessoa e impacta sua
condição pessoal, bem como sua saúde física e psicológica. Durante o
processo de promoção de cuidado, os profissionais devem considerar tais
determinantes.

Em conjunto com seus colaboradores, Montenegro (2016) aponta que o


processo de trabalho, quando pautado na ética, possibilita a evolução
harmoniosa e promotora de cuidado. Quando os profissionais são capazes
de enfrentar os conflitos de maneira equilibrada, por meio de competências
e habilidades promotoras de relações respeitosas, dinâmicas e que
preservam a autonomia, é possível considerar as funções e hierarquias
existentes nos serviços como espaços promotores de relações profissionais
pautadas no rigor ético.
No entanto, apontam os autores, problemas podem surgir nesse campo e se
relacionarem a questões de postura profissional no campo de atuação.
Destacam-se as situações que envolvem o processo de tomada de decisão
diante de casos específicos. Tais divergências entre as categorias
profissionais se relacionam a uma postura de hierarquia de saberes. Em
outras palavras, diante de demandas que envolvam decisões de todos os
envolvidos no caso, alguns profissionais julgam ter mais conhecimento que
os demais. É importante ressaltar, porém, que essa situação pode culminar
em problemas éticos.

Arroyo (2008) também colabora na discussão das atitudes dos profissionais.


Para ele, os que agem sobre bases éticas devem considerar que, em alguns
casos, seus saberes e habilidades técnicas não são suficientes para efetivar
um cuidado resolutivo e eficaz. Desse modo, é preciso levar em consideração
os conhecimentos de outras categorias de profissionais. Jamais se deve
considerar tal colaboração como evidência de uma insuficiência de saberes.
Em outras palavras, um profissional não deve julgar a si mesmo incapaz por
solicitar ajuda de outro independentemente da demanda.

Nesse sentido, Ford e seus colaboradores (2008) destacam o trabalho em


equipe baseado no modelo de cuidado interdisciplinar. Pautado em uma
abordagem sistêmica, ele considera o indivíduo em sua condição ampliada
de “sujeito inserido em contextos que perpassam sua capacidade individual”.
O modelo também envolve a reflexão entre os profissionais sobre a
importância e eficiência de uma atuação compartilhada e com olhares de
diferentes perspectivas. O contexto vai além de uma complementação
técnica; envolve um compartilhamento de valores morais e éticos
concernentes aos profissionais. Dada a importância de uma visão ampliada
do indivíduo e de uma prática pautada no compartilhamento de saberes, é
importante estimular a discussão sobre a importância da
interdisciplinaridade desde a formação acadêmica.

Conflitos de ordem ética surgem em todos os contextos profissionais. De


acordo com Kemp e seus colaboradores (2008), eles normalmente se
relacionam com posturas profissionais que não consideram certos princípios,
como:
• Pautar-se na verdade e respeitar as necessidades e autonomia
dos pacientes, entendendo que eles são sujeitos de direitos;
• Evitar danos, isto é, comprometer-se com o cuidado seguro,
pautado na prevenção de riscos e danos;
• Avaliar os limites de sua categoria profissional, realizando
procedimentos e atuando conforme as competências
concernentes à sua profissão e evitando uma atuação que
extrapole suas atribuições;
• Identificar e alertar posturas impróprias de outros profissionais,
tendo em vista a responsabilidade ética.

Nesse sentido, Bettinelli, Waskievicz e Erdmann (2003) consideram como


não humanizados as práticas ou ambientes onde o profissional não
reconhece a autonomia e corresponsabilidade do usuário/paciente no seu
cuidado. Nessa visão, ele se torna passivo às prescrições profissionais, que
podem se distanciar de suas reais necessidades.

ASSISTA
No vídeo O SUS e a humanização da saúde, Júlia Rocha, médica de família e
comunidade, expõe um relato de sua experiência e aborda a importância de práticas
humanizadas em saúde como promotoras da autonomia e efetivação ética do cuidado
garantidor da integralidade da assistência.
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=GE2v0GmESdg
Conforme a política nacional de humanização de 2013, práticas humanizadas
de cuidado no campo profissional refletem posturas éticas e responsáveis
quanto aos pacientes. Elas englobam estratégias de acolhimento e o uso de
tecnologias em saúde; mais precisamente, a tecnologia leve que compreende
a promoção de vínculo e possibilita um melhor entendimento das demandas.
Por sua característica transversal, o acolhimento pode ocorrer em todos os
âmbitos de promoção de cuidados; não apenas no setor de saúde.

// Campo social

A sociedade antecede o indivíduo. Conforme Constantino e Malentachi


(2014), a realidade social já existe quando nascemos. Portanto, somos
inseridos em uma cultura preexistente. Os autores afirmam que o meio
social envolve o cotidiano e as relações interpessoais estabelecendo uma
relação simbiótica entre ambos.

O processo de globalização, porém, transforma a sociedade atual. De acordo


com Constantino e Malentachi (2014), as pessoas experimentam novos
modos de vida, os quais apontam para uma valorização de aspectos
materiais e individuais em detrimento de relações pessoais humanos e
solidárias. Os autores ainda destacam a cultura da hiperabundância, o
hipercapitalismo, a individualidade, a ausência de significações e o excesso
do “ter” e o vazio do “ser”. Em meio a essa lógica, os indivíduos se veem em
meio a uma abundância de objetos e infinidade de serviços que possibilitam
o ilimitado.

Nesse contexto, a fragilidade ética se torna marcante. Afinal, quando os


indivíduos facilitam o consumo sem limites, a abundância de objetos e a
infinidade de serviços, a ideia de “se tornar ético” fica em segundo plano. As
pessoas experimentam novos modos de vida, os quais apontam para uma
valorização de aspectos materiais e individuais em detrimento de relações
pessoais humanas e solidárias.

Outro ponto que perpassa a ética diz respeito ao preconceito contra


indivíduos, grupos ou culturas. Para compreender o preconceito, é
necessário entender o conceito de “atitude”, baseado na psicologia social.
“Atitude” corresponde a um sistema relativamente estável que compreende
experiências e comportamentos
relacionados a um objeto ou
evento específico. Para cada
atitude existe um componente
cognitivo, afetivo e
comportamental, ou seja, de
crenças, ideias e sentimentos,
valores e afetos associados que
levam a tendências
comportamentais, a
predisposições.

O preconceito se forma pela atitude negativa do sujeito em relação a um


determinado grupo, cultura, raça ou religião. Trata-se de um fenômeno
histórico, observado em todas as sociedades e relacionado à ética e à moral.
O exemplo mais evidente é o racismo: os racistas acreditam que os membros
de determinados grupos são inferiores do ponto de vista cognitivo, social e
biológico, portanto, merecedores de hostilidade. Situações que envolvem
racismo seguem para além de uma questão ética e moral; envolvem o
entendimento irracional e a criminalidade.

VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ


AGORA?

Os problemas éticos no trabalho interdisciplinar envolvem “o fato da


equipe se constituir como um agregado de trabalhadores, onde um não
tem a compreensão do trabalho do outro, consolidando assim práticas
individualistas e descontínuas” (MONTENEGRO, 2014, p. 233). Em relação
à ética no campo profissional, considere as alternativas a seguir e
marque a correta.

Um ambiente humanizado não favorece a autonomia do usuário em


relação ao seu tratamento.
Serviços que não consideram a humanização do cuidado desfavorecem
a autonomia do paciente e podem se distanciar das reais necessidades
da demanda.
Permitir que o usuário/paciente seja corresponsável pelo seu
tratamento prejudica o cuidado, pois ele não tem autonomia para
tomar decisões sobre sua saúde.
No cuidado com o usuário/paciente, o profissional que atua em uma
equipe multidisciplinar não pode considerar a opinião dos outros
profissionais, pois isso prejudica a evolução do paciente.
O processo de trabalho pautado na ética favorece a fragmentação do
cuidado e desarmonia entre a equipe.

Agora é a hora de sintetizar tudo o que


aprendemos nessa unidade. Vamos lá?!
SINTETIZANDO

Os fundamentos históricos da ética advêm etimologicamente da sociedade


grega e perpassam por bases filosóficas introduzidas por diferentes
correntes e teóricos. A ética possibilita a compreensão dos princípios e
valores que antecedem e determinam o comportamento de indivíduos
diante da sociedade e das relações interpessoais em todos os campos do
cotidiano.

Sócrates introduziu o conceito de ética na filosofia. Por meio de seu método


de diálogo, ele incentivava as pessoas a construírem seu pensamento ético.
Seu discípulo, Platão, considerava o método dialético e entendia que a
finalidade de toda conduta ética é a felicidade. Considerando os vários
pensadores sobre o tema, surgiram diversas correntes e abordagens
filosóficas que tratam sobre a ética.

As principais abordagens são: teleologia, que entende o tema como uma


conduta virtuosa que busca a felicidade como a finalidade; utilitarismo, que
prioriza o bem coletivo e a utilidade como princípios éticos; humanismo,
onde a ética só pode ser construída na relação com o outro, ou seja, nas
relações interpessoais; existencialismo, que compreende a ética como um
modo de existência humana; e deontologia, que diz que toda ação ética deve
considerar a verdade e as normas morais estabelecidas socialmente.

No campo pessoal, a ética se constrói ao longo do tempo e traduz os valores


e princípios singulares de cada pessoa. Já o campo social reflete os hábitos e
comportamentos aceitos como corretos e virtuosos, mas reconhece que eles
mudam de acordo com o tempo e local. No campo profissional, além dos
valores dispostos no campo individual e social, a ética também deve prezar
pelas normas estabelecidas nos códigos de ética profissional de classe. Vale
salientar que problemas éticos podem surgir nesse campo, os quais se
relacionam ao processo de trabalho e às relações entre equipe e
usuário/paciente.

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UNIDADE 2

FUNDAMENTOS
REGULAMENTARES DA PSICOLOGIA

OBJETIVOS DA UNIDADE

• Apresentar as leis e normas que fundamentam a psicologia;


• Explicitar as atribuições profissionais concernentes ao
psicólogo;
• Refletir sobre o processo de profissionalização do psicólogo;
• Abordar os princípios basilares da bioética.

TÓPICOS DE ESTUDO
Leis e normas fundamentais sobre a psicologia

// Marco legislatório da profissão


// Atribuições profissionais do psicólogo

Ética profissional na atualidade


// Reflexões sobre o processo de profissionalização do psicólogo


// Princípios basilares da bioética
Leis e normas fundamentais sobre a psicologia

Em 1962, a Lei 4.119 regulamentou a profissão de psicólogo no Brasil. Desde


então, esses profissionais contribuem para o entendimento geral sobre o
comportamento humano. A psicologia possui caráter de responsabilidade
social perante indivíduos, contextos e relações. Dentre as competências
concernentes à categoria, há um caráter científico e atribuições pautadas em
fundamentos tanto teóricos quanto técnicos, os quais embasam as
intervenções e promovem credibilidade no meio profissional.

O conhecimento de todo o contexto histórico e arcabouço legal é de


fundamental importância no processo formativo dos psicólogos. Ainda, é
preciso conhecer os regulamentos sobre a profissão.

MARCO LEGISLATÓRIO DA PROFISSÃO

Seja qual for o contexto de análise, é necessário compreender a dinâmica de


hierarquias associadas às normas
e leis do país. Entendê-las ajuda o
profissional a identificar e
reconhecer a finalidade de cada
regulamento disposto. Doravante,
ele se torna capaz de
compreender o contexto
normativo promotor da
organização social.
Nesse sentido, a teoria de Hans
Kelsen (1881–1973), muito discutida no âmbito do Direito, possibilita um
entendimento didático da ordenação dessa dinâmica regulamentar. O
referido teórico buscou fundamentar a validade das normas jurídicas dentro
da perspectiva teórica do juspositivismo. Para tanto, explicitou, por meio da
ilustração de uma pirâmide, a hierarquia das regulamentações vigentes
existentes no Brasil.
EXPLICANDO
O juspositivismo é uma temática filosófica do âmbito do Direito. Os juspositivistas,
como são chamados, defendem que as leis escritas pelo Estado, isto é, União e
Federação, são a fonte única do Direito. Ainda, ele se caracteriza como um conjunto de
normas e leis, com caráter coercivo, que o Estado impõe à coletividade. Para Almeida
(2017), esses recursos legais são suficientes para fazer cumprir a manutenção da
justiça social.
CLIQUE AQUI

Hans Kelsen desenvolveu sua teoria no início do século XX, período em que o
pensamento científico se encontrava em ascensão, principalmente no que
tange à ideologia positivista, a qual se originou no período do Iluminismo e
teve como precursor o filósofo Augusto Comte durante o século XIX.

Figura 1. Hans Kelsen, jurista filósofo. Fonte: SCHMIDT, 2020, [s.p.]. (Adaptado).
EXPLICANDO
De suma importância para o desenvolvimento do
pensamento científico, o Iluminismo era uma corrente
filosófica que considerava a razão em detrimento do
pensamento religioso. Conforme Kury (2007), estimulava-se o
questionamento como uma maneira de compreensão das
coisas.
CLIQUE AQUI

Figura 2. Ilustração de Augusto Comte. Fonte: CIVITA, 1978, p. 8.

De acordo com Guimarães e Coelho (2001), o positivismo entende que todo o


conhecimento se embasa na ciência. Para essa corrente ideológica, as
metodologias sem bases científicas não possuem credibilidade. Kelsen
(2009), portanto, postula que a evolução da sociedade se dá somente por
meio da inteligência humana, que deve se embasar no conhecimento
científico existente.

Para Kelsen (2009), a vontade do Estado impõe a ordem jurídica. Em suas


palavras:
Se o Direito é concebido como uma ordem normativa, como um
sistema de normas que regulam a conduta de homens, surge a
questão: O que é que fundamenta a unidade de uma pluralidade
de normas, por que é que uma norma determinada pertence a
uma determinada ordem? E esta questão está intimamente
relacionada com esta outra: Por que é que uma norma vale, o
que é que constitui o seu fundamento de validade? (KELSEN,
2009, p. 215).

O teórico busca entender os fundamentos da ordem jurídica que preservam


o Direito como ciência, validando, assim, uma normatização universal. Em
outras palavras, o Direito é a única forma de entender a ordenação da
hierarquia das regulamentações impostas pelo Estado. Na visão do autor, é
possível entender a norma fundamental, que se encontra no topo da
hierarquia das normas regulamentares existentes, como a noção essencial
de cada pessoa em estar consciente de seu dever ético, como cidadão, de
obedecer e agir conforme os princípios promotores da ordem pública social.

Kelsen (2009) ainda infere que a Constituição Federal (CF) é a norma


superior que valida todas as outras normas do ordenamento jurídico de um
país. É possível considerá-la como a instância de mais elevada autoridade
legal, que rege a ordem social de um Estado e que possui credibilidade para
validar todas as outras normas, leis ou resoluções que o país desenvolva
posteriormente.

CURIOSIDADE
Também se denomina a Constituição Federal do Brasil como Carta Magna ou
Constituição Cidadã. Esta última se deu pelo fato de que a CF de 1988 foi a primeira a
contar com a participação da população, que, na época, lutava pela retomada dos
direitos sociais fundamentais que lhe eram restritos, dados atos militares que
governavam o Brasil. Ao entrar em vigor, a CF, além de garantir os direitos sociais
fundamentais, estabeleceu o processo de redemocratização do País.

Figura 3. Assembleia Constituinte de 1988. Fonte: CYSNE, 2008, [s.p.].

Desse modo, Gonçalves (2018), baseado na teoria de Kelsen, aponta que o


dever individual e coletivo dos seres humanos deve se pautar
fundamentalmente em seus próprios valores éticos e estar de acordo com os
princípios existentes na Constituição Federal de um país, dado que ela é o
elemento oficial de maior da ordem jurídica, administrativa e social de uma
nação.

Partindo desse entendimento, reconhece-se que as normatizações vigentes


seguem uma ordem hierárquica, como ilustra a Figura 4.

Figura 4. Pirâmide de Kelsen, hierarquia das normas. Fonte: SANTOS, 2017, [s.p.]. (Adaptado).

Entende-se, portanto, que o ordenamento jurídico oficial do Brasil provém da


CF. Ressalta-se, porém, que é possível complementar, alterar ou modificá-la
por meio de emendas constitucionais. Estas permitem que a CF se adapte
às mudanças do contexto social. Ainda, reconhece-se as leis
complementares como dispositivos legais que complementam a Carta
Magna.

Já as leis ordinárias regem o arcabouço jurídico nos diversos contextos da


sociedade. Em âmbito federal, os parlamentares da Câmara dos Deputados
(deputados federais) e do Senado Federal (senadores) aprovam as leis. No
âmbito estadual, os deputados estaduais aprovam as leis nas assembleias
legislativas. Por fim, na esfera municipal, os vereadores aprovam as leis na
Câmara Municipal, também denominada Câmara dos Vereadores.

Uma autoridade legalmente constituída, com poderes para determinar o


cumprimento de uma ordem, estabelece os decretos. São emanados por:
chefe do poder executivo, na esfera federal, ou seja, o presidente da
república; governador, na esfera estadual; e prefeito, na esfera municipal.
Nota-se que o decreto deve estar de acordo com a Lei.

Reconhece-se as resoluções como atos de efeito interno de caráter político,


processual, legislativo ou administrativo. Destaca-se as resoluções
administrativas, pois elas se caracterizam como uma ordem estabelecida
pelo responsável de um serviço público. Considerada como uma norma de
cumprimento obrigatório, ela se limita ao contexto do serviço
correspondente. Geralmente, formula-se uma resolução administrativa com
objetivos específicos. Por exemplo: para que se faça cumprir uma função ou
atribuição em consonância com o que a lei estipula.

Por fim, têm se as portarias, documentos referentes aos atos


administrativos por qualquer autoridade pública. Seu conteúdo pode se
referir a: recomendações; normas de execução de serviços; nomeações;
demissões; e punições, entre outros.

Entender a pirâmide de Kelsen, que ilustra a hierarquia das regulamentações


oficiais que regem a dinâmica social de um país, auxilia a compreensão tanto
das normatizações existentes quanto da autoridade que cada ordenamento
exerce no contexto social em questão. Ainda, promove-se uma reflexão que
parte da esfera ampla para o contexto profissional dos psicólogos.

A psicologia se constituiu oficialmente como profissão no Brasil no início da


década de 60, por meio da Lei 4.119, de 27 de agosto de 1962. Tal marco
legislativo dispõe sobre os cursos de formação em psicologia e regulamenta
a profissão do psicólogo.

DICA
A psicologia perpassa por diversos contextos e âmbitos da sociedade.
Considerando uma postura ética e a hierarquia jurídica do país, o profissional
deve fundamentar a prática de acordo com o âmbito legal. Assim, recomenda-
se a consulta das leis e regulamentações em sites oficiais sempre que
necessário. Ainda, quando for preciso a consulta de um marco legislativo, isto é,
leis, orienta-se a pesquisa no endereço eletrônico oficial.
CLIQUE AQUI
De acordo com a Lei 4.119/1962, a formação em psicologia se dá nas
faculdades de filosofia, por meio das modalidades bacharelado, licenciado e
psicólogo. Os requisitos para início do curso de bacharel são: idade mínima
de 18 anos e conclusão no ensino secundário, isto é, ensino médio. Ao
formando que concluir o curso nessa modalidade, concede-se o título de
bacharel em psicologia. Para o ingresso na modalidade de licenciatura e
psicólogo, exige-se o diploma de bacharel em psicologia. Concede-se, então,
os diplomas de licenciado em psicologia e psicólogo no ato da formação.
Ressalta-se que, independentemente da modalidade de formação, deve-se
registrar o diploma no Ministério da Educação e Cultura (MEC) a fim de
efetivar o profissional.

Conforme essa lei, os bacharéis em psicologia são capazes de ensinar em


cursos de nível médio. Já ao licenciado, cabe o direito de lecionar psicologia.
O psicólogo, por sua vez, pode tanto ensinar psicologia nos diversos cursos
quanto exercer a profissão.

As funções do profissional psicólogo se referem à utilização de métodos e


técnicas psicológicas que objetivam: diagnóstico; orientação e seleção, seja
profissional ou psicopedagógica; solução de problemas de ajustamento; e
colaboração com outras ciências no tocante a assuntos relacionados à
psicologia.

Ainda, a referida lei observa quanto aos


serviços clínicos, também conhecidos nas
instituições de ensino como clínica escola.
Tais serviços, obrigatórios nas faculdades
que ofertam cursos de psicologia e
orientados e dirigidos pelo Conselho dos
cursos superiores, aplicam-se à educação
e o trabalho, sendo abertos ao público na
condição gratuita ou remunerada às
pessoas que solicitarem o serviço.

Posteriormente, promulgou-se o Decreto


53.464, de 21 de janeiro de 1964, que
regulamenta a Lei 4.119/1962. Suas
principais complementações se referem à
determinação de que o exercício da profissão se realiza livremente em todo
o País, desde que observadas as disposições legais. Em outras palavras,
torna-se necessário que a atuação profissional do psicólogo esteja de acordo
com a regulamentação.

Podem exercer a profissão de psicólogo no Brasil:

® Quem possui diploma de psicólogo expedido por faculdade de filosofia


oficial.
® Diplomados em psicologia em outros países, desde que tenham seus
diplomas validados conforme a legislação brasileira em vigor.
® Portadores de diploma ou possuidores de certificado de especialista
reconhecidos legalmente.
® Doutores em psicologia, psicologia educacional, filosofia, educação,
pedagogia, que tenham defendido tese sobre assuntos relacionados a
psicologia.

Ainda, pessoas que se enquadravam em certas condições antes de 5 de


setembro de 1962, data em que a Lei 4.119/1962 entrou em vigor, também
podiam exercer a função de psicólogo no Brasil. São elas:

® Funcionários públicos efetivos promovidos a cargos ou funções com


denominação de psicólogo, psicologista ou psicotécnico.
® Militares portadores de diploma conferido por curso criado pela
Portaria 171, de 25 de outubro de 1949, do antigo Ministério da Guerra.
® Pessoas que exercem atividades profissionais de psicologia aplicada
por mais de cinco anos.

Ressalta-se que os profissionais psicólogos podem: dirigir serviços de


psicologia em órgãos públicos ou privados; lecionar disciplinas de psicologia
nos diversos níveis de ensino existentes; supervisionar profissionais e alunos
no campo da psicologia; realizar assessoramento técnico em órgãos e
estabelecimentos públicos ou privados; e efetuar perícias e pareceres
psicológicos.

A Lei 5.766 de 20 de dezembro de 1971 foi outro importante marco legal. Ela
criou o Conselho Federal de Psicologia (CFP) e os Conselhos Regionais de
Psicologia (CRP). Dotados de personalidade jurídica de direito público,
possuem autoridade administrativa e financeira e autonomia para orientar,
disciplinar e fiscalizar o exercício profissional da categoria, zelando pelos
princípios éticos e disciplinares da profissão.

Dentre as atribuições concernentes ao CFP, reconhece-se a elaboração de


regimento próprio e a aprovação dos regimentos dos CRPs. Ainda, destaca-se
as funções de expedir resoluções necessárias referentes às competências e
atribuições do psicólogo e em conformidade com as leis vigentes; e elaborar
e aprovar o código de ética profissional da referida categoria. Ainda, o CFP
exerce poder consultivo e de tribunal superior de julgamento sobre condutas
éticas e recursos deliberativos advindos dos CRP e divulga os relatórios das
atividades realizadas pelo órgão, bem como a relação dos psicólogos
registrados.

Aos conselhos regionais competem atribuições equivalentes ao conselho


federal. Entretanto, a jurisprudência regional se insere em sua respectiva
área de competência, ou seja, na região em que exerce sua função.

Para a atuação profissional, exige-se como pré-requisito a inscrição do


psicólogo no conselho de classe, realizada por meio do CRP estabelecido no
território que abrange a área de atuação do profissional. O psicólogo deve
comprovar sua formação profissional por meio de documentação emitida
por instituição de ensino superior, bem como as demais exigências
constantes na lei. 4.119/62. Ainda, deve provar que não está impedido de
exercer a profissão e goza de boas reputação e conduta pública.

No tocante ao poder fiscalizatório dos


conselhos, esses versarão sobre as infrações
cometidas pelos profissionais. São elas:
transgressão ao código de ética profissional;
atuação profissional mesmo quando impedido
por quaisquer motivos legais ou éticos;
conceder benefícios ao cliente de maneira ilícita;
praticar, durante o exercício profissional,
contravenções ou atos criminosos; e estar
inadimplente. As punições para tais infrações
incluem: advertência; multa; censura;
suspensão; ou cassação do exercício profissional, concedida mediante
aprovação do CFP.

Em 17 de julho de 1977, o Decreto 79.822 entra em vigor regulamentando a


lei discutida anteriormente. Dente as principais alterações, o decreto
vinculou os conselhos federal e regional ao Ministério do Trabalho. Torna-se
possível, então, a proposição de alterações da legislação do exercício
profissional do psicólogo e da instituição ou modificação do modelo da
carteira de identidade profissional da categoria. Expede-se os registros
profissionais nas categorias de psicólogo e psicólogo especialista.

O profissional que atua em mais de uma jurisdição deve se inscrever em


ambas. Tomemos o exemplo de um psicólogo atuante no estado de
Pernambuco e inscrito no conselho regional do estado que iniciará seus
atendimentos no estado da Paraíba. Ele deverá solicitar sua inscrição no CRP
do estado da Paraíba. Ao psicólogo devidamente inscrito no conselho
regional de sua respectiva jurisdição competirá o pagamento de anuidade,
com prazo máximo até o último dia do primeiro trimestre de cada ano,
sendo a primeira anuidade paga no ato da inscrição no CRP.

No dia 25 de setembro do ano de 2008, promulgou-se a Lei 11.788, que


dispõe do estágio de estudantes e dá outras providências. Considerado
como ato educativo e de caráter supervisionado no ambiente de trabalho, a
finalidade do estágio é a preparação dos estudantes para o aprendizado das
competências e práticas concernentes à atividade profissional. O estágio
supervisionado é aquele que dispõe do acompanhamento de um professor
orientador vinculado à instituição de ensino, bem como um supervisor no
campo prático vinculado ao serviço em que ocorre a atividade.

O estágio se configura como componente no projeto pedagógico dos cursos


superiores e pode ser obrigatório ou não. Em conformidade com as
diretrizes curriculares do curso, o estágio obrigatório é aquele requisitado
como carga horária necessária para a aprovação no curso e obtenção do
diploma. Já o não obrigatório pode ser dispensado a depender da intenção
do estudante.
O estágio não gera vínculos empregatícios de qualquer ordem e tem como
requisitos mínimos: comprovação da matrícula em curso devidamente
regulamentado; e celebração de termo de compromisso entre o aluno, a
instituição de estágio e a instituição formadora. As atividades desenvolvidas no
estágio devem ser compatíveis com as dispostas no termo de compromisso
efetivado no ato do acordo, bem como com as atribuições da atividade
profissional da categoria.

Dentre as principais obrigações das instituições de ensino para com a


efetivação dos estágios e o compromisso com o estudante, estão: celebração
de compromisso de estágio que esteja em conformidade com as
competências e proposta pedagógica do respectivo curso de formação;
avaliação das instalações da instituição onde acontecerão as atividades de
estágio, tendo em vista que elas devem oferecer condições adequadas de
atuação conforme preconiza a Lei; indicação de professor orientador que
acompanhará e avaliará as atividades do estudante durante o período de
estágio; estipulação de prazo e periodicidade da apresentação de relatório
das atividades desenvolvidas no estágio; e elaboração de normas e
instrumentos avaliativos das atividades.

Dentre as principais obrigações da parte concedente, ou seja, instituição ou


serviço público ou privado, onde ocorrerá o estágio, têm-se: celebração de
termo de compromisso entre a instituição de ensino e o estudante;
instalações adequadas para o desenvolvimento das atividades de
aprendizagem; indicação de profissional do quadro da instituição que
supervisionará as atividades do estudante e deverá possuir formação e
experiência correspondente ao curso do estagiário; e contratação de seguro,
em favor do estagiário, contra acidentes pessoais ocorridos durante o
desenvolvimento das atividades de aprendizagem no serviço.

Das responsabilidades do estagiário: deverá cumprir jornada de atividades e


carga horária acordada conforme termo de compromisso; poderá receber
bolsa, benefícios ou auxílios conforme acordado entre as partes envolvidas,
mas que não caracterizarão vínculo empregatício; aos estágios com duração
igual ou superior a um ano, será assegurado ao estagiário período de
recesso de 30 dias, preferencialmente concedidos durante suas férias
escolares e permanecendo a remuneração, quando for o caso. No caso de
estágios com duração inferior a um ano, os dias de recesso serão
proporcionais.

De acordo com a Lei 11.788/2008, em seu art. 15, “a manutenção de


estagiários em desconformidade com esta Lei caracteriza vínculo de
emprego do educando com a parte concedente do estágio para todos os fins
da legislação trabalhista e previdenciária”.

Diagrama 1. Síntese do marco legislatório que institui a psicologia como profissão no Brasil.
ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS DO PSICÓLOGO

O CFP enviou oficialmente essas atribuições ao Ministério do Trabalho em 17


de outubro de 1992 a fim de integrar a Classificação Brasileira de Ocupações
(CBO). O documento na íntegra encontra-se disponível no site oficial do CFP.

A CBO representa uma listagem das possíveis profissões reconhecidas pelo


Ministério do Trabalho e Emprego. Para cada ocupação, existe um código
nacional específico de identificação. Atualizada periodicamente, essa lista
serve como referência para cadastro administrativo das categorias
profissionais nos serviços e instituições, sejam públicas ou privadas. O
governo utiliza as informações empregatícias relacionadas à CBO do
profissional para atribuir benefícios, como os de seguridade social, e direitos
trabalhistas, quando cabíveis.
Pautado no respeito, integridade e dignidade, o psicólogo pode atuar em
diversos âmbitos sociais: saúde; justiça; educação; segurança; e organizações
empresariais. As atribuições de competência dizem respeito à compreensão
do comportamento humano, seja tanto no nível individual ou coletivo quanto
no contexto pessoal, familiar ou social. Ao aplicar conhecimento técnico e
teórico da psicologia, o profissional busca identificar e intervir nos
determinantes que influenciam a conduta humana.

Quanto à produção de
conhecimento científico na área
da psicologia, o profissional
contribui por meio da
observação, análise e descrição
dos processos de
desenvolvimento cognitivo e
comportamental humano. Essas
competências auxiliam o
tratamento, pois favorecem a
produção de intervenções,
psicodiagnósticos, aplicação de
técnicas, promoção de saúde mental, prevenção de agravos e
encaminhamentos para atendimento apropriado. Ainda, incentivam
condutas que promovem um cuidado resolutivo conforme a necessidade de
cada caso. Ressalta-se, porém, a importância de se considerar a influência de
fatores relevantes, como condições hereditárias, psicológicas, sociais ou
ambientais, pois elas se relacionam com o funcionamento intrapsíquico e
relacional entre o indivíduo e o meio.

A pesquisa científica em entidades devidamente reconhecidas, como


instituições acadêmicas e governamentais, permitem ao psicólogo elaborar e
adaptar instrumentos e técnicas psicológicas. Ainda, ele pode compartilhar
experiências e conhecimentos no campo científico e para a população em
geram, visto o compromisso social da profissão.

As funções do psicólogo se desenvolvem de forma individual ou com o


auxílio de equipes, seja no meio público ou privado. Já a atuação profissional
evolui especificamente no contexto clínico e nos ambientes de trabalho,
trânsito, educacional, jurídico, esporte, social e licenciatura, seja no ensino
médio ou superior.
Psicólogo clínico
A psicologia clínica se relaciona à área da saúde e envolve a compreensão
dos processos intrapsíquico e interpessoal, seja em caráter preventivo ou
curativo. É possível realizá-la de modo individual ou em equipes
multiprofissionais. Nessa especialidade de cuidado, o psicólogo deve se
fundamentar em uma abordagem teórica que embase tanto suas
intervenções quanto todo o processo psicoterapêutico, seja ele individual ou
de ordem grupal. Detalhadamente, as atribuições clínicas envolvem:
avaliação e diagnóstico psicológicos; entrevistas; orientação; observação;
testes; e dinâmicas. O atendimento psicoterapêutico serve para indivíduos
das mais diversas faixas etárias, bem como para famílias, casais e gestantes.
Compete ao psicólogo atuar em situações de agravo ou fragilidade
emocional, físico ou mental.

Psicólogo do trabalho
No trabalho em equipes multiprofissionais, o psicólogo participa e colabora
nas tomadas de decisão quanto às condutas a serem adotas
interdisciplinarmente pela equipe. Ele também participa na elaboração de
pesquisas, execução, coordenação e acompanhamento de qualificação ou
treinamento de equipes, bem como dissemina conhecimento em saúde
mental em diversas instituições, sejam elas formais ou informais. Além disso,
nota-se que, em conjunto com uma equipe multiprofissional, o psicólogo
colabora com o planejamento da política de saúde e coordena e supervisiona
atividades de estágio na área da psicologia. Ainda, ele também promove
atividades culturais, de lazer e de reinserção social de indivíduos egressos de
instituições psiquiátricas.

Compete ao psicólogo do trabalho atuar nas organizações, individualmente


ou em equipe multiprofissional. Seu objetivo é compreender as relações
intra e interpessoais dos envolvidos a fim de intervir, embasado nos
conhecimentos da psicologia. Esse profissional colabora com as ações
administrativas da organização em que atua por meio do planejamento,
elaboração e avaliação dos processos de trabalho. Para tanto, ele descreve
os comportamentos requeridos para o desempenho dos cargos e funções
existentes na organização. Com seus conhecimentos e técnicas no processo
de recrutamento e seleção de pessoal, assessora a administração
organizacional na identificação do candidato que melhor se adeque às
competências do cargo.
É o psicólogo do trabalho que elabora, executa e avalia treinamentos e
capacitações da área de Recursos Humanos. Ele estrutura os instrumentos
avaliativos necessários para o processo de promoção ou construção do
plano de carreira dessa área. Além disso, promove programas e projetos
organizacionais, define requisitos e critérios de produtividade, remuneração,
incentivo e que favorecem a identificação de necessidade e promoção de
qualidade de vida do trabalhador. Finalmente, ele promove pesquisas, emite
pareceres, facilita processos de intervenção em grupo, atua em situações de
conflitos e participa nos processos de admissão, qualificação, preparo para
aposentadoria e desligamento.

Psicólogo do trânsito
O psicólogo do trânsito desenvolve pesquisas quanto ao comportamento
humano no trânsito e realiza exames psicotécnicos para indivíduos que se
propõem ao processo de habilitação automotiva. Ele também participa na
elaboração e implantação de sistemas de sinalização de trânsito e atua em
equipes multiprofissionais a fim de desenvolver estratégias de prevenção de
acidentes de trânsito. Além disso, esse profissional elabora projetos
promotores de educação no trânsito, avalia os fatores envolvidos em
ocorrências de acidentes e sugere estratégias atenuantes. Finalmente,
também é função sua emitir laudos e pareceres solicitados pelo Poder
Judiciário.

Psicólogo educacional
Já o psicólogo educacional atua nas instituições educacionais. Ele colabora
com a compreensão comportamental do processo de ensino-aprendizagem,
tanto de educandos quanto de educadores e auxilia o desenvolvimento das
relações intra e interpessoais, considerando as dimensões socioeconômicas,
políticas e culturais. Ademais, realiza intervenções, pesquisas, diagnósticos
individuais ou grupais e participa na elaboração de planos e políticas
educacionais que visam à efetivação e qualidade do ensino.

Ao compartilhar seus conhecimentos de psicologia, os psicólogos


educacionais contribuem com os educadores, permitindo-os refletir sobre
seus papeis e compromisso profissional de suas próprias competências.
Além disso, esses psicólogos promovem estratégias tanto de relações e
dinâmicas interpessoais harmônicas no ambiente educacional quanto as
preventivas de identificação, orientação e resolução de problemas que
interferem no processo de aprendizagem, direcionando, assim, as
intervenções aos alunos, equipe e familiares.

Participar de modo interdisciplinar no planejamento político pedagógico


curricular da instituição de ensino também é função desse tipo de psicólogo.
Ele direciona seu olhar para os aspectos cognitivos, comportamentais e
psicossociais do desenvolvimento humano. Além disso, ele desenvolve
programas de orientação profissional e diagnostica dificuldades de
aprendizagem dos alunos, buscando uma articulação com os educadores e
realizando encaminhamentos necessários conforme os casos.

Psicólogo jurídico
Compete ao psicólogo jurídico atuar no âmbito judicial, auxiliando no
planejamento e execução de políticas relacionadas aos direitos humanos,
bem como na prevenção da violência e promoção da cidadania. Ele também
contribui com o assessoramento da formulação de leis compartilhando seus
conhecimentos psicológicos no campo do Direito e avalia condições
emocionais e intelectuais de indivíduos envolvidos em processos de adoção,
guarda e crimes.

Esse profissional atua como perito judicial, elaborando laudos, relatórios e


pareceres que servem de subsídios ao processo judicial nas diversas varas,
quando solicitado por autoridade jurídica competente. Ele também participa
de audiências com vistas a esclarecer aspectos técnicos relacionados a
documentos psicológicos existentes nos autos dos processos.

Dado o dever do psicólogo de promover saúde mental a quem necessitar, ele


poderá atender ou orientar os envolvidos nos processos judiciais, sejam eles
vítimas, familiares, réu ou até mesmo detentos. Esse profissional elabora e
executa programas e tarefas socioeducativas em estabelecimentos
institucionais ou penais e assessora autoridades jurídicas. Por fim, também
participa no desenvolvimento de políticas penais e treinamento de pessoal
que as executa.
Psicólogo do esporte
Já o psicólogo do esporte observa e diagnostica as características
psicológicas dos esportistas. Ele também desenvolve estratégias e técnicas
psicológicas que auxiliam na contribuição de otimização e melhoria do
desempenho esportivo, técnico e interpessoal. Ademais, orienta e oferece
atendimento psicológico, seja individual ou grupal, presta assessoramento e
acompanha as variáveis psicológicas que possam interferir no desempenho
esportivo dos atletas.

O profissional também realiza pesquisas e elabora programas e estudos


buscando o bem-estar dos esportistas. Além disso, também emite pareceres.
Quando necessário, realiza encaminhamento para outros profissionais, dada
a complementaridade de intervenções multiprofissionais. Por fim, ele poderá
ministrar aulas de psicologia no esporte nos cursos de psicologia e educação
física.

Psicólogo social
Ao psicólogo social, cabe a compreensão sócio-histórica do indivíduo,
promovendo estudos, pesquisas e intervenções em caráter psicossocial. Ele
diagnostica, planeja e executa programas sociais e assessora órgãos e/ou
entidades públicas ou privadas na elaboração de projetos e programas
sociais.

Finalmente, para que o professor de psicologia lecione no ensino médio,


deverá possuir no mínimo o diploma de bacharel em psicologia. Caso queira
lecionar no nível superior de ensino, precisará do diploma em licenciatura ou
de psicólogo. Independentemente do nível, porém, compete-lhe lecionar
conteúdos teórico-práticos relacionados ao campo da psicologia e em
conformidade com o projeto pedagógico do curso ao qual leciona.
Finalmente, ele também supervisionará estágios no âmbito interno ou
externo à instituição de ensino superior.
Ética profissional na atualidade

O conceito da ética perpassa os contextos pessoal, social e profissional. Ao


longo do tempo, promove diferentes modos de reflexão variantes de acordo
com os costumes sociais e condutas humanas. Assim, entende-se que o
contexto ao qual nos vemos inseridos sofre impactos condizentes tanto com
o processo evolutivo quanto o de desenvolvimento científico e tecnológico da
atualidade. Portanto, vale a pena promover uma reflexão acerca das
condições relacionadas com o processo profissionalizante do psicólogo
desde os primórdios até os tempos atuais, entendendo as condições éticas
envolvidas nesse seguimento.

Salienta-se que o compromisso ético da psicologia se baseia no que


preconiza a declaração universal dos direitos humanos. Isso significa que se
deve reconhecer: dignidade humana; direitos igualitários e inalteráveis;
liberdade; justiça; e respeito.

Além disso, dado que uma das atribuições do psicólogo é a realização de


pesquisas nos mais variados âmbitos de atuação, vale a pena entender os
fundamentos da bioética, caracterizada como um campo científico
intrinsecamente relacionado aos processos de pesquisa.

Apesar de estabelecida no ano de 1927, com o passar do tempo, a bioética se


estabeleceu como essencial na contemporaneidade, pois remete ao caráter
de responsabilidade individual, ambiental e coletivo.

REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE PROFISSIONALIZAÇÃO


DO PSICÓLOGO

O período entre 1833 e 1890 compreende a pré-profissionalização da psicologia, visto que a


psicologia não era uma prática reconhecida no Brasil. Com a chegada da família real e,
posteriormente, a independência do Brasil, o século XIX trouxe mudanças e evoluções
sociais ao País. De acordo com Pessotti (1988), estabeleceu-se o interesse dos estudantes
de medicina pelo conhecimento da psicologia, bem como a aplicação desses saberes nos
problemas sociais e psiquiátricos.
Massimi (1990) aponta que, durante o século XIX, a psicologia se relacionava
a outros campos de saberes, como filosofia, medicina e teologia. Além disso,
ela se vinculava às discussões sobre a subjetividade ou o comportamento
humano. Como conta Anastasi (1965), porém, ao final desse século, com o
advento do positivismo, a psicologia se estabelece como ciência no meio
internacional e se direciona ao método experimental de compreensão dos
processos cognitivos, que resultam em descrições gerais, isto é, sem
considerar características individuais.

Anastasi (1965) ainda afirma que, no início do século XX, constituiu-se o


interesse pelas diferenças individuais na psicologia. No entanto, as
características da ciência experimental ainda se faziam presente. Surgem,
então, os primeiros testes e escalas de inteligência e, nos Estados Unidos,
cria-se o termo quociente de inteligência (QI).

Pereira e Pereira Neto (2003) consideram o período entre os anos de 1906 e


1975 como de profissionalização da psicologia. Para os autores, a educação e
a medicina promoveram esse processo no Brasil e, em 1906, criou-se o
primeiro laboratório de psicologia experimental no Rio de Janeiro,
denominado Laboratório da Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro -
RJ. Atrelado às atividades do curso de medicina, desenvolvia-se atividades de
psicologia experimental, testes e psicoterapia nesse lugar. Ainda, como
aponta Penna (1992), ele atendia necessidades práticas e sociais
relacionadas às pesquisas científicas. Essas práticas recebiam influência da
filosofia positivista e da medicina em suas dimensões mensurativas,
classificatórias e adaptativas.

Vale salientar que, nessa época, não se via a psicologia como ciência. Não
havia nenhum profissional psicólogo e as práticas psicológicas realizadas
pertenciam ao campo da medicina. Em outras palavras, as atividades
psicológicas inicialmente exercidas no Brasil se subordinavam a esse campo.
Mesmo nessas condições, o século XX foi fundamental para o
reconhecimento do papel que a psicologia poderia desempenhar, pois
propulsionou a implantação da psicologia como profissão oficial.

A partir de 1930, a psicologia deixa de subordinar à medicina e começa a


mostrar sua relevância científica. Como diz Pessotti (1988), ela passa a
mostrar sua relevância científica e se consagra como disciplina obrigatória
nos cursos de licenciatura em filosofia, ciências sociais e pedagogia. No ano
de 1946, a formação de psicologia se institui no Brasil por meio do Decreto
9.092. Penna (1992) aponta que o psicólogo deve frequentar os três
primeiros anos dos cursos de filosofia, biologia, fisiologia, antropologia ou
estatística e, posteriormente, especializar-se em psicologia. Somente após
essa formação, ele poderia exercer a profissão de psicólogo. No ano de 1957,
a formação dedicada exclusivamente à psicologia estabeleceu-se nas
instituições de ensino superior tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo.

No mercado de trabalho, a psicologia começa como um campo de atuação nas áreas da


educação e do trabalho. Neste último, apontam Pereira e Pereira Neto (2003), ela foca nos
processos de promoção de desempenho e recrutamento e seleção, dada a industrialização
da época. Os autores ainda mencionam que, em 1962, o Parecer 403 do Conselho Federal
de Educação estabeleceu currículo e período mínimo dos cursos de psicologia no País e a Lei
4.119/1962 regulamentou a psicologia como profissão oficial no Brasil.

Para os autores, a década de 1970 concluiu o processo de profissionalização


da psicologia e definitivamente estabeleceu-a como profissão no Brasil. O
primeiro Encontro Nacional de Psicologia no País ocorreu em São Paulo e
possibilitou discussões acerca da necessidade da instituição de conselhos
profissionais, definidos por meio da Lei 5.766/1971, que dispõe sobre a
criação do Conselho Federal de Psicologia e conselhos regionais de
psicologia. No ano de 1975, a resolução CFP 8 instituiu o primeiro código de
ética do psicólogo.

Apesar de a psicologia se instalar no campo da educação e do trabalho no


início, a década de 80 viu o campo ampliar sua atuação para a área clínica
nos centros urbanos, graças ao estabelecimento da psicoterapia. Afinal, na
época, ofertava-se os cursos de psicologia apenas em algumas capitais do
País. No entanto, direcionava-se tais práticas para uma classe média alta,
vista como a elite social da época.

Da década de 1970 para os dias atuais, reconheceu-se a credibilidade e


autonomia da profissão de psicólogo no campo profissional, pois ela tem
caráter ético e compromisso individual e social. Desde a implantação dos
cursos superiores de psicologia, observou-se o crescente número de
psicólogos no País. Além disso, é possível notar o quão numerosas e diversas
são as demandas nesse campo. Tais constatações legitimam a ampliação dos
âmbitos de atuação profissional que se estendem para as diversas áreas da
sociedade na atualidade.

PRINCÍPIOS BASILARES DA BIOÉTICA


Reconhecida como campo teórico, científico e acadêmico, a bioética se
relaciona com a prática profissional em todos os contextos. Entretanto, nota-
se um contato especial com a saúde e as pesquisas científicas. Afinal, ela
detém um processo de desenvolvimento social e profissional que demanda
modos de atuação condizentes com as variações sociais e pautados na
responsabilidade com a proteção e preservação da vida.

Essa ciência se conecta intrinsecamente com as posturas éticas e morais dos


profissionais, bem como com seus comportamentos, atitudes, posturas e
condutas práticas no contexto de atuação. De acordo com Rego, Palácios e
Siqueira-Batista (2009), a bioética se pauta em princípios fundamentais e
absolutos, os quais todo profissional deve considerar durante as discussões,
decisões e procedimentos, prezando sempre pela responsabilidade e defesa
do bem
humano e
social.

Diagrama 2.
Síntese dos
princípios da
bioética.
Koerich, Machado e Costa (2005) detalham os princípios:

Beneficência

Relacionada com a promoção do bem e redução do mal. Por meio de análise


e avaliação prévia dos riscos e benefícios que resultam da atuação do
profissional, ele definirá sua conduta intervindo da maneira que melhor se
adeque à promoção de benefícios e redução dos danos e riscos, seja ao
indivíduo ou o coletivo atendido;

Não maleficência

Refere-se ao comprometimento do profissional de analisar, avaliar e evitar


qualquer atuação cuja finalidade seja a promoção do mal, dano ou agravo a
outrem;

Autonomia

Diz respeito ao poder de decisão do indivíduo ou coletivo atendido sobre si


mesmo. Em outras palavras, esse princípio aponta para a garantia do direito
de liberdade na tomada de decisão sobre o aceite ou a recusa de
procedimentos. Entretanto, ressalta-se que, em situações que o bem público
se sobrepõe ao individual, é possível violar eticamente este princípio; e

Justiça ou equidade

Atrelado à distribuição adequada de benefícios. Em outras palavras, deve-se


disponibilizar mais recursos àquele que mais precisa.

A Figura 5 ilustra a diferença entre igualdade e equidade.


Figura 5. Conceitos de igualdade e equidade. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 06 set. 2021.

A ideia de igualdade remete à distribuição igualitária para os indivíduos ou


coletivos. Nessa modalidade, não se considera as necessidades das pessoas.
Já na ótica da equidade, a noção de justiça e direito prevalece e a distribuição
dos benefícios se pauta no que os indivíduos precisam de fato. Isso
possibilita uma distribuição equânime entre os envolvidos.
Agora é a hora de sintetizar tudo o que
aprendemos nessa unidade. Vamos lá?!

SINTETIZANDO
A compreensão da legislação que regulamenta e institui a psicologia como
profissão em nosso País contribui para o entendimento da importância
dessa ciência nos contextos individual e social. A regulamentação
profissional deve sempre se alinhar ao marco jurídico que fundamenta a
ordem pública do país. A teoria de Hans Kelsen, que trata sobre a hierarquia
das normas jurídicas, favoreceu o entendimento dinâmico da justaposição
das normas comuns.

As principais ocorrências do reconhecimento da psicologia como profissão


no Brasil ocorreram em meados da década de 1970. Destaca-se: instituição
dos cursos de psicologia no ensino superior; reconhecimento da área como
profissão oficial no país; e vinculação ao Ministério do Trabalho dos
Conselhos Federal e Regionais de Psicologia, que exercem total
jurisprudência perante a categoria profissional.

A psicologia compõe o catálogo brasileiro de ocupações e integra um


conjunto de atribuições, as quais se deve observar durante a atuação
profissional, seja no nível individual ou coletivo e nos diversos âmbitos, como
clínica, saúde, assistência social, justiça, educação, esporte, segurança,
organizações empresariais e instituições de ensino.

Dentre as principais atribuições dos psicólogos, têm-se: competência para a


observação, análise, compreensão e descrição do comportamento humano;
realização de estudos e pesquisas científicas; participação em nível
multiprofissional na construção das políticas públicas, intervenções,
avaliação psicológica, psicodiagnósticos e emissão de documentos
psicológicos; aplicação de técnicas e testes; promoção de saúde mental;
prevenção de agravos; e encaminhamentos para atendimento apropriado.

A compreensão dos princípios basilares da bioética é fundamental. Afinal, as


práticas profissionais em psicologia devem se fundamentar na ética e o
profissional deve ter competência para atuar com seres humanos. Esse
campo científico preconiza que toda conduta profissional deve se pautar na
proteção e responsabilidade para com a vida e o contexto socioambiental.

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SCHMIDT, V. Hans Kelsen: um grande jurista filósofo. Jus.com.br, [s.l.], 11


nov. 2020. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/87054/hans-kelsen-um-
grande-jurista-filosofo>. Acesso em: 23 set. 2021.
UNIDADE 3

SISTEMATIZAÇÃO SOBRE ÉTICA E

PSICOLOGIA

OBJETIVOS DA UNIDADE
• Explicitar o surgimento e a finalidade do código de ética profissional;
• Refletir sobre a ética na formação e atuação profissional do psicólogo;
• Abordar as questões éticas no contexto da avaliação psicológica e da
psicologia da saúde.

TÓPICOS DE ESTUDO
Códigos de ética profissional
// Surgimento do código de ética profissional
// Finalidade do código de ética profissional

Interfaces entre a ética e a psicologia


// Ética na formação e nos campos de práticas do psicólogo
// Ética na atuação profissional do psicólogo

Reflexões sobre ética no contexto de atuação do psicólogo


// A ética no contexto da avaliação psicológica
// Reflexões sobre ética e psicologia da saúde
Códigos de ética profissional
Os códigos de ética profissional são instrumentos
que visam orientar as condutas e posturas dos
profissionais em relação aos seus pares, aos pa
cientes e para com a sociedade em geral. Todas as
categorias profissionais oficialmente
regulamentadas possuem um código de ética
específico.

Os princípios, direitos e deveres preconizados


nesses códigos devem ser observados e
considerados pelos profissionais de cada categoria
desde o período de formação acadêmica e em todos os momentos e
contextos que os profissionais estiverem expostos em suas práticas.

SURGIMENTO DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL

Ao adentrarmos na discussão sobre os códigos de ética profissional, faz-se


necessário explicitar sobre a definição de profissão, que pode ser
caracterizada como um conjunto de conhecimentos, saberes e atribuições
específicas que possibilitam uma atuação direcionada através de condutas
inerentes à categoria.

Os conhecimentos e saberes específicos de cada profissão são adquiridos


através de um processo formativo em um sistema formal de ensino. A
formação possibilita o desenvolvimento de qualificações, habilidades e
práticas que orientam a atuação dos profissionais.
Quadro 1. Esquema das características principais do conceito de profissão.

Essa dinâmica entre formação e atuação profissional engloba a


essencialidade dos Códigos de Ética de cada categoria profissional, tendo em
vista que esses orientam as condutas e são autarquias com autonomia para
fiscalização da atuação dos profissionais em todos os contextos de atuação,
além de servirem de base para o controle público no sentido de oferecer
parâmetros que apontam as posturas consideradas positivas nas práticas
profissionais (ALMEIDA, 1996).
O código de ética profissional pode ser definido como um instrumento que
estabelece os princípios, valores, deveres e responsabilidades de cada
profissional em sua respectiva categoria, bem como estabelece o que é
vedado e as devidas punições caso ocorram faltas éticas cometidas pelos
profissionais.

O conteúdo do código de ética profissional deve ser produzido de modo a


considerar as necessidades dos indivíduos e coletividades que serão
assistidos pelos profissionais em questão, bem como estar embasado no
compromisso e responsabilidade social de cada profissão. O conteúdo do
código de ética profissional é formulado por um conselho de ética formado
por profissionais alinhados na responsabilidade ética, e geralmente
escolhidos pela respectiva categoria profissional.

Apesar de não serem considerados como lei, todos os códigos de ética


profissionais estão de acordo com as legislações e regulamentações vigentes
no Brasil, bem como consideram o conteúdo preconizado na Declaração
Universal dos Direitos Humanos, tendo em vista que as relações humanas
existem no contexto de qualquer atuação profissional.

FINALIDADE DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL

Um código de ética profissional tem como finalidade o estabelecimento de


padrões esperados de atuação dos profissionais, bem como visa promover a
autorreflexão desses acerca de sua atuação, considerando sua
responsabilização quanto às suas condutas práticas no exercício profissional.

O objetivo essencial de um código de ética profissional é de assegurar um


padrão de conduta profissional pautado em valores que fortaleçam o
reconhecimento social da categoria profissional, através de normas que
consideram o respeito aos direitos fundamentais do ser humano. As normas
estabelecidas nos códigos de ética devem estar em consonância com as
mudanças sociais (CFP, 2003).

O código de ética profissional pode ser definido como um instrumento de


caráter orientador que contempla os princípios, deveres e responsabilidades
do profissional diante de sua atuação. Além de estabelecer as condições do
que é vedado, ou seja, das condutas consideradas como faltas éticas,
proibidas por cada categoria profissional.

As condutas vedadas são estabelecidas por cada profissão, geralmente se


referem a questões sobre sigilo, respeito, promoção da autonomia do
assistido, responsabilidade durante as intervenções e procedimentos,
propaganda sobre os serviços ofertados, realização de práticas que não são
consideradas como atribuições da classe profissional, dentre outras
questões.

Diagrama 1. Esquema das características principais de um Código de Ética Profissional.

Os códigos de ética profissional estão geralmente alinhados com resoluções,


notas técnicas e outros instrumentos normativos estabelecidos
pelo Conselho Federal de Psicologia e Regionais da referida profissão.
Sendo assim, para evitar irregularidades ou faltas éticas quanto à sua
conduta, o profissional deve considerar em sua atuação o código de ética e
todos os instrumentos regulamentares oficiais emitidos por sua categoria
profissional.
DICA
O Conselho Federal de Psicologia não reconhece algumas práticas
profissionais como atribuições dos psicólogos. Sendo assim, torna-se
importante que o profissional, antes de ofertar um serviço, certifique-se
junto às resoluções e notas emitidas pelos órgãos oficiais, ou através de
contato com o Conselho Regional ao qual está vinculado, se tais práticas
são ou não permitidas.

VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ


AGORA?

O código de ética profissional é um instrumento cuja característica é


orientar os profissionais quanto a condutas profissionais. Em relação ao
código de ética profissional, considere as alternativas e marque a
CORRETA.

Possibilita a autorreflexão exigida de cada profissional sobre seus


deveres e responsabilidade na atuação profissional.
Possibilita a autorreflexão exigida de cada profissional sobre os
procedimentos técnicos da profissão.
Possibilita a fiscalização da profissão e tem poder jurídico policial
punindo irregularidades.
Interfaces entre a ética e a psicologia

A psicologia é uma ciência ampla que possui como finalidade a compreensão


do comportamento humano. Desse modo, os profissionais psicólogos
exercem uma atuação pautada no entendimento dos fatores e situações que
influenciam as condutas humanas e alteram sua dinâmica funcional,
resultando em sofrimento, prejuízos funcionais, entre outros agravos à
saúde.

Sendo assim, os psicólogos promovem intervenções que objetivam a


promoção de qualidade de vida para indivíduos e/ou grupos. Essas
intervenções precisam estar pautadas em normas éticas preconizadas em
todos os serviços, contextos e âmbitos de atuação e devem ser observadas
por todos os profissionais da categoria.

ÉTICA NA FORMAÇÃO E NOS CAMPOS DE PRÁTICAS


DO PSICÓLOGO

O processo formativo do psicólogo


perpassa por uma construção que
engloba diversos temas, teorias e técnicas
que promovem um arcabouço de
conhecimentos essenciais para o fomento
necessário a uma atuação resolutiva no
cuidado com indivíduos.

Durante a construção desses conhecimentos, a ética deve ser considerada


como conceito fundamental e norteador das experiências, desde as vivências
no campo acadêmico até as práticas nos variados campos profissionais.
Torna-se de essencial importância que o estudante de psicologia considere a
essencialidade dos valores morais e éticos como norteadores de sua
formação e atuação.

Por se tratar de um campo de conhecimento científico relacionado à


compreensão do comportamento humano, durante o processo de formação
do psicólogo, devemos considerar que os direitos humanos possibilitam a
garantia do compromisso social da profissão (NÓRTE; MACIEIRA; RODRIGUES,
2010).

No entanto, para que os estudantes considerem os aspectos éticos, faz-se


necessário que esses sejam discutidos na graduação através da exposição
das principais premissas estabelecidas sobre o tema. Desse modo, o
Conselho Federal de Psicologia, para estimular a reflexão sobre ética,
publicou no ano de 2003 uma cartilha que aborda o tema de maneira
transversal: “Os direitos humanos na prática profissional de psicólogos”.

A referida cartilha trata sobre questões éticas nos campos de atuação da


psicologia e fundamentará nossa discussão. Os conceitos explanados nessa
discussão propõem superar as desigualdades e segregação social, bem como
promover um relacionamento social salutar entre os indivíduos e as práticas
profissionais em psicologia nos diversos âmbitos em que se insere.

Esse processo de atuação deve considerar a subjetividade individual e


coletiva, a promoção dos direitos humanos de modo a dirimir qualquer
forma de violação. Assim, é importante que os profissionais se voltem para
uma reflexão crítica de seu papel na promoção de práticas comprometidas
com a garantia da saúde, autonomia dos sujeitos e coletividades,
estimulando o compromisso profissional e de cidadania.

Os conceitos envolvidos entre o campo da ética e os âmbitos da prática


psicológica devem ser fomentados desde o momento da graduação, para
que os formandos possam construir um arcabouço de conhecimentos que
possibilitem a discussão e reflexão acerca da associação entre os princípios
éticos e as atribuições da categoria, antes mesmo de estarem atuando
profissionalmente.

No âmbito judiciário, a psicologia jurídica se apresenta historicamente como


responsável pela produção de intervenções, avaliação e emissão de
pareceres e laudos técnicos solicitados por juízes e/ou promotores de justiça
ao profissional psicólogo. Geralmente as demandas são de ordem criminal,
guarda, tutela, curatela, casos relacionados à violência contra crianças,
adolescentes, mulheres, idosos, entre outras, nas diversas varas de justiça.
Vale salientar que os documentos resultantes de avaliação psicológica,
atendimentos, entrevistas, visitas ou qualquer outra intervenção que o
psicólogo produza em seu exercício profissional no campo judiciário não
deve ser de ordem decisória, ou seja, não deve impor que seja tomada
nenhuma decisão contra ou em favor de qualquer sujeito envolvido, pois
cabe ao psicólogo apenas realizar as práticas condizentes com sua atribuição
e, no mais, recomendar ou sugerir alguma conduta no âmbito da psicologia.
O poder de decisão ou definição de ordens oficiais cabe apenas ao juiz,
promotor de justiça ou autoridade solicitante.

Coimbra et al. (2002) fazem uma crítica


apontando que as solicitações judiciárias à
psicologia jurídica, na maioria das vezes,
estão remetidas a determinados
segmentos sociais, a classe média baixa,
visada como indivíduos potencialmente
perigosos. Outra colocação apontada pelos
autores sobre a atuação da psicologia
jurídica são as recorrentes solicitações de
“situações-problemas” relacionadas ao
comportamento dos indivíduos.

A psicologia no âmbito judiciário geralmente tem sido relacionada aos


conceitos de normal e patológico e se constitui com um modo de
entendimento e intervenção no campo da adequação e ajustamento do
comportamento humano. Nesse sentido, Foucault (2021), aponta que os
discursos da psicologia no âmbito jurídico têm a possibilidade de influenciar
uma decisão de justiça de maneira direta ou indireta.

Tomando como premissa o que foi citado anteriormente, cabe ao


profissional psicólogo, utilizar-se de seu senso crítico, ético e técnico no
momento de avaliação e produção de intervenções e documentações que
serão construídas e emitidas ao âmbito judiciário. Nesse ponto, cabe frisar
que é fundamental considerar os princípios dos direitos humanos nessas
práticas.

As questões éticas e relacionadas aos direitos humanos na área clínica estão


relacionadas à promoção de autonomia, qualidade de vida, acolhimento,
respeito e garantia de sigilo. A psicologia clínica tem por finalidade
compreender o ser humano nas suas dimensões psíquica, emocional e
comportamental.

Ser psicólogo é estar disposto a promover as condições necessárias, em vários


contextos, para que as pessoas possam expor seus conflitos intrapsíquicos e
emocionais e a partir disso conseguir promover a elaboração dos mesmos.

Entretanto, na prática psicológica faz-se necessário que o profissional


mantenha um trabalho pessoal de suas demandas emocionais e pessoais, de
modo a elaborar possíveis conflitos ou alterações que possam influenciar em
sua atuação com os pacientes.

O psicólogo, no momento da sua atuação, deve despir-se psicologicamente e


emocionalmente das suas convicções e certezas e observar o contexto a
partir do olhar do outro, caso contrário, poderá incorrer grandes riscos desse
profissional promover exclusão e segregação, aumentando assim o
sofrimento da pessoa atendida. Vale frisar que uma atuação crítica em
psicologia clínica não pretende pautar-se em uma neutralidade, mas sim
priorizar o dinamismo, a ciência, a ética, moral e a compreensão do quadro
psicopatológico do indivíduo.

O psicólogo não deve atuar de maneira engessada em técnicas


automatizadas, mas sim desenvolver suas intervenções de modo a entender
o sofrimento psíquico, considerando que cada sujeito está imerso em um
contexto social, cultural, ideológico e biológico. A atuação na clínica deve
estar embasada em uma abordagem teórica específica de formação. Dentre
as principais abordagens clínicas, podemos citar a abordagem
psicanalítica, humanista e a terapia cognitivo-comportamental.

A abordagem psicanalítica tem como precursor Sigmund Freud, que se


utilizou de suas experiências com pacientes, em sua análise dos próprios
sonhos e em sua vasta leitura de várias ciências e humanidades para
construir a sua teoria (a psicanálise). As maiores contribuições de Freud para
a teoria da personalidade são a exploração do inconsciente e o
entendimento de que as pessoas são motivadas, primariamente, por
impulsos dos quais elas têm pouca ou nenhuma consciência.

Para Freud, o desenvolvimento da personalidade seria fruto de fontes de


tensão, a personalidade se desenvolve como um processo de aprendizagem
de novas formas de reduzir a tensão dentro do aparelho psíquico. Os
instintos e as pulsões são os elementos básicos da personalidade, as forças
motivadoras que impulsionam o comportamento e determinam o seu rumo
(SCHULTZ; SCHULTZ, 2016).

Os instintos estão sempre influenciando o nosso comportamento, possuem


como finalidade satisfazer as necessidades e, assim, reduzir a tensão
psíquica, enquanto o indivíduo busca recuperar e manter uma situação de
equilíbrio fisiológico para manter o corpo livre de tensão.

A teoria topográfica, primeira proposta por Freud, era constituída por três
sistemas: o consciente, o pré-consciente e o inconsciente, que interagiam
entre si em todos os momentos. Na década de 1920, Freud introduziu um
modelo estrutural do aparelho psíquico (personalidade) a partir das inter-
relações entre Id, Ego e Superego. Aqui o inconsciente passa a ser uma
qualidade atribuída às instâncias psíquicas, de modo que o Id é totalmente
inconsciente, o Ego e Superego possuem partes inconscientes e conscientes.

Quadro 2. Síntese das instâncias Id, Ego e Superego.

Para a psicanálise, a personalidade se forma com base nos relacionamentos


constituídos ao longo do desenvolvimento na infância e adolescência. Se
constitui como um conjunto pessoal de atributos de caráter, um padrão
consistente de comportamento que define cada pessoa como indivíduo
singular.

Para Freud, o desenvolvimento da personalidade se dá a partir de estágios


ou fase psicossexuais que ocorrem ao longo do desenvolvimento, em faixas
etárias específicas. Todos os indivíduos passam pelos
estágios oral, anal, fálico, período de latência e genital, nos quais a
gratificação dos instintos do Id depende da estimulação das áreas
correspondentes do corpo. Em cada fase do desenvolvimento existe um
conflito que precisa ser resolvido antes que a criança passe para o próximo
estágio.

Como uma crítica à psicanálise, surge a perspectiva humanista, que entende


o ser humano como um todo, entendendo que a existência humana
acontece em um contexto de relação e interação interpessoal. Seus
principais autores são Carl Rogers e Abraham Maslow. É uma abordagem
que acredita no livre-arbítrio, na possibilidade de escolha. A psicologia
humanista nasce para enunciar questões presentes na vida cotidiana das
pessoas sobre o sentido da existência. Ou seja, a psicologia humanista se
interessa pelos valores e ressalta a experiência humana.

Nos anos de 1950, embasada nos princípios do humanismo e como


alternativa à psicanálise, surgiu a abordagem centrada na pessoa, que
valorizava fatores inespecíficos das psicoterapias, como a pessoa do
terapeuta, a empatia, o calor humano e a autenticidade e foi desenvolvida
por Carl Rogers. A ideia central da abordagem de Rogers é a de que há uma
tendência inerente em todos os seres humanos a se desenvolver em uma
direção positiva, o que ele chamou de tendência atualizante.

Rogers desenvolveu o conceito de “autoconceito”, que seria um padrão


organizado e consistente de características percebidas em cada um desde a
infância. Indivíduos bem ajustados psicologicamente teriam autoconceitos
realistas. Para ele, a angústia psicológica advém do impasse ou desarmonia
entre o autoconceito real (o que se é de fato) e o ideal para si (o que se
deseja ser). Por isso, o cliente deve determinar o conteúdo e a direção do
tratamento, não cabe ao terapeuta direcionar as escolhas do cliente, mas
dirigir o cliente para uma maior liberdade e maior autonomia. Nessa
abordagem o diagnóstico psicológico não é importante, pois o cliente é um
companheiro existencial, não um objeto a ser diagnosticado e analisado.

Na abordagem centrada na pessoa de Rogers, o psicólogo deve possuir três


atitudes básicas (compreensão empática, aceitação
incondicional e congruência), que são o caminho necessário e suficiente
para o experienciar-se do cliente. Sentindo-se aceito e aceitando-se,
sentindo-se compreendido e compreendendo-se, o cliente experiencia-se
congruentemente e pode “ser o que realmente se é” (ROGERS, 1973, p. 152).

Quadro 3. Três atitudes básicas do terapeuta de acordo com Rogers. Fonte: MORENO, 2018, n.p.
(Adaptado).
Abraham Maslow, psicólogo, em sua teoria de motivação e como o criador da
“pirâmide das necessidades”, propõe que a vida humana não está restrita ao
ajustamento e à realização de necessidades atuais, pois se lança sempre no
sentido de crescimento pessoal. A visão de Maslow considera o que o ser
humano possui de melhor, sua capacidade potencial para o
desenvolvimento.

O ser humano, ao voltar-se para seu interior (Self), entende seus valores e
identifica sua capacidade de crescimento. Maslow reconhece que o ser
humano tem potencial da autorrealização, do crescimento projetivo de si,
capacidade de escolha, decisão, vontade, autonomia e responsabilidade,
visão de futuro e desenvolvimento autopessoal (MASLOW, 1970).

Figura 1. Hierarquia das necessidades de Maslow.

A terapia cognitiva surgiu nos anos de 1960, como uma proposta de Aaron
Beck para o tratamento da depressão. Após anos de pesquisas, Beck
concluiu que a forma como o indivíduo interpreta os fatos influencia seus
sentimentos e comportamentos. Uma mesma situação produz sensações
distintas em diferentes pessoas. Atualmente, a TCC é utilizada com grande
êxito nos diversos transtornos psiquiátricos e sofrimento psíquico.

Rangé (2011) ressalta que o indivíduo em sofrimento psicológico tem sua


capacidade de percepção de si, dos outros e do mundo prejudicada pelas
distorções de conteúdo de pensamento específico de sua patologia. Nos
estados depressivos, são essas distorções cognitivas que influenciam na
visão negativa do indivíduo em relação a si, aos outros e ao ambiente. Essa
dinâmica é denominada como tríade cognitiva.

Diagrama 2. Tríade cognitiva.

EXPLICANDO
A tríade cognitiva consiste em uma interpretação negativa do paciente sobre si
mesmo, seu futuro e suas experiências. É uma sintomatologia característica do
diagnóstico de depressão. O primeiro componente da tríade consiste em uma
visão crítica negativa de si mesmo como defeituoso, inadequado, indesejável.
No segundo componente, o paciente percebe o mundo como perigoso e hostil.
No terceiro componente, o paciente antecipa que suas dificuldades ou
sofrimentos presentes se prolongarão ao longo do tempo. Prevê sofrimentos,
frustrações e privações incessantes.

A terapia cognitivo-comportamental possui como princípio promover a


psicoeducação às pessoas que estão em sofrimento psíquico. De acordo com
Beck (2013), para o entendimento da cognição do paciente, o psicólogo
precisa elaborar conceituação cognitiva que consiste em analisar
pensamentos, crenças, estratégias compensatórias e padrões de
comportamento de cada paciente. O terapeuta procura auxiliar o paciente a
obter uma reformulação funcional do pensamento e no sistema de crenças
do paciente – para produzir uma mudança emocional e comportamental
duradoura e salutar ao indivíduo.

A conceitualização cognitiva é um elemento fundamental no tratamento em


terapia cognitivo-comportamental. O terapeuta cognitivo precisa dominar
essa habilidade para que o tratamento seja eficaz. Esse posicionamento é
ratificado em Rangé (2011), às condições fundamentais para elaborar uma
conceitualização cognitiva envolvem o diagnóstico clínico do paciente, a
identificação dos pensamentos automáticos, sentimentos e comportamentos
frente às situações vivenciadas, crenças nucleares e intermediárias,
estratégias compensatórias de conduta que o indivíduo utiliza para evitar ter
acesso a suas crenças negativas; dados relevantes da história de vida do
paciente que contribuíram para formação ou fortalecimento dessas
cognições.
Quadro 4. Modelo de conceitualização cognitiva. Fonte: RANGÉ, 2011, n.p. (Adaptado).

Portanto, o objetivo da conceitualização cognitiva é melhorar o resultado do


tratamento, auxiliando o terapeuta na escolha das intervenções e atividades
a serem realizadas. A conceitualização cognitiva considera as características
individuais de cada paciente, acontece do primeiro ao último atendimento, à
medida que aparecem novos dados, terapeuta e paciente colaborativamente
modificam e refinam sua formulação, confirmando algumas hipóteses e
abandonando outras. A solicitação periódica de feedback do paciente como
rotina no tratamento facilita que essas avaliações críticas e necessárias
correções de rumo sejam efetuadas o mais precocemente possível.

A terapia cognitivo-comportamental é estruturada e se baseia no empirismo


colaborativo, é voltada para a resolução de problemas atuais através do
estabelecimento de metas e objetivos para o tratamento. A TCC é de duração
breve, geralmente de 10 a 20 sessões, podendo esse tempo ser estendido
nos casos de transtornos de personalidade, e possibilita a reestruturação
cognitiva do paciente.

Diante do exposto, a terapia cognitivo-comportamental tem por objetivo


corrigir as distorções do pensamento, e em um nível mais profundo da
cognição, as crenças intermediárias e centrais. No entanto, a cognição não
tem um modelo linear, existe uma interação recíproca de pensamentos,
sentimentos, comportamentos, fisiologia e ambiente, quando um destes é
modificado, todos os outros também são.

Beck (2013) ressalta que o modelo cognitivo propõe que o pensamento


disfuncional, que influencia o humor e o comportamento do paciente, é
comum a todos os transtornos psicológicos. Quando as pessoas aprendem a
avaliar seu pensamento de forma mais realista e adaptativa, elas obtêm uma
melhora no seu estado emocional e no comportamento. É necessário que o
terapeuta cognitivo tenha o entendimento das distorções cognitivas e dos
consequentes comportamentos mal adaptativos do paciente.

De modo geral em todas as abordagens clínicas, a prática do profissional


psicólogo deve ser pautada e orientada através das normas do código de
ética profissional do psicólogo. É necessário que o psicólogo exerça uma
determinada postura, firmada em condutas éticas, tais como: sigilo das
informações compartilhadas; respeito à demanda, subjetividade e valores do
paciente. São necessárias também atribuições a respeito da escuta clínica,
observação, domínio referente às intervenções e aplicações de técnicas e
procedimentos fundamentados teoricamente.

ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO PSICÓLOGO


Desde a academia, é importante que o estudante conheça as resoluções que
se relacionam aos temas de direitos humanos emitidas pelo conselho da
categoria. Nesse sentido, trataremos sobre duas resoluções emitidas pelo
Conselho Federal de Psicologia – CFP que se relacionam com o referido tema.
São as resoluções nº 01/1999 que estabelece normas de atuação para
psicólogos(as) em relação à orientação sexual, bem como a resolução nº
18/2002 que estabelece normas de atuação para o profissional de psicologia
com relação a preconceito e discriminação racial.

A resolução nº 01/1999 estabelece que os psicólogos possuem o dever de


atuar de acordo com os princípios éticos da psicologia, sem discriminação e
promovendo intervenções que assegurem o bem-estar das pessoas. Devem
contribuir, através dos saberes da psicologia, com a promoção de discussões
críticas e reflexões sobre o preconceito, discriminação e estigmatização
contra as pessoas que apresentam comportamentos ou práticas
homoeróticas.

O psicólogo deve recusar qualquer prática ou pronunciamento que possa


favorecer a patologização ou ação coercitiva aos homossexuais, bem como
participar de eventos ou prestar serviços em instituições que proponham
tratamento e cura para homossexuais.
A resolução nº 18/2002 estabelece que os psicólogos devem atuar em
consonância com os princípios éticos da profissão, contribuindo, através dos
saberes da psicologia, com a promoção de reflexões sobre a eliminação do
preconceito e racismo. Devem atuar de modo a evitar qualquer tipo de
prática, instrumento ou técnica psicológica que possa criar, manter ou
reforçar estigmas, preconceito de raça ou etnia, discriminação ou
estereótipos, não sendo conivente com qualquer prática que se configure
como crime de racismo, bem como deverá se recusar a participar de eventos,
pronunciamentos ou prestar serviços em instituições de natureza
discriminatória.

ASSISTA
Para uma reflexão mais aprofundada sobre os princípios éticos e o exercício
profissional da psicologia, vale conferir uma discussão sobre o tema através de um
vídeo emitido pelo CRP-12 (Santa Catarina), desenvolvido pela Comissão de Ética e
Comissão de Orientação e Fiscalização. O vídeo trata sobre as questões éticas
relacionadas ao registro documental, elaboração de documentos psicológicos,
atendimento psicológico online e relação com a justiça.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=9EA0_To6WEo

Vale frisar que no tocante à atuação do psicólogo, faz-se necessário que as


questões éticas sejam consideradas não apenas no que é preconizado no
código de ética profissional e nas resoluções oficiais dos conselhos, mas que
esteja relacionado com os conceitos e posturas apreendidas no processo
humanização, ou seja, no decorrer do desenvolvimento do indivíduo em seu
meio social, pessoal, formativo e constitutivo de sua personalidade e de suas
ações. Desse modo, a atuação profissional do ponto de vista ético deve
também estar vinculada aos valores e princípios morais que constituem o
campo pessoal do indivíduo.
VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ
AGORA?

Considerando o que foi estudado sobre as abordagens psicológicas no


campo da psicologia clínica, relacione cada conceito com sua respectiva
abordagem.

1. Terapia cognitivo-comportamental
2. Abordagem centrada na pessoa
3. Abordagem Psicanalítica

Instintos e impulsos
Conceitualização Cognitiva
Tendência atualizante
Reflexões sobre ética no contexto de
atuação do psicólogo
Seção 4 de 4

A atuação do psicólogo está regida por normas, saberes, técnicas e teorias


que orientam sua prática e fornecem subsídios para uma atuação efetiva. O
psicólogo possui um campo de atuação vasto, atuando nos âmbitos da
educação, esporte, trânsito, judiciário, saúde, comunitário/social, bem como
em estudos e pesquisas no campo científico. Os princípios e conceitos da
ética devem ser observados em todos esses contextos de atuação, tendo em
vista a responsabilidade profissional que rege a categoria.

A ÉTICA NO CONTEXTO DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

O psicólogo pautado em uma atuação ética atua de modo a refletir para que
suas intervenções possam promover o bem-estar aos indivíduos. No âmbito da
avaliação psicológica, a atuação do psicólogo também deve estar em
consonância com o que é preconizado no código de ética da categoria
profissional.
As condutas éticas profissionais do psicólogo no âmbito da avaliação
psicológica envolvem a prestação de serviços utilizando conhecimentos e
técnicas reconhecidas pelo Conselho Federal de Psicologia, bem como
fundamentadas na ciência psicológica, o fornecimento de informações,
resultados do serviço que será prestado, de modo a transmitir apenas o
necessário para tomada de decisões relacionadas ao usuário ou beneficiário
atendido.

O psicólogo deverá zelar pela guarda, empréstimo, comercialização,


aquisição e doação de material privativo do psicólogo, bem como emitir
documento fundamentado teórico, técnico e cientificamente nos
conhecimentos e saberes da psicologia, preservando em todos os casos o
sigilo das informações.

Ao psicólogo é proibido no contexto da avaliação psicológica qualquer tipo


de interferência na validade e fidedignidade dos instrumentos e técnicas
psicológicas; adulteração dos resultados ou emissão de declarações, avaliar
pessoas ou situações em que existam vínculos pessoais ou profissionais
estabelecidos, e de modo algum poderá divulgar, ensinar, ceder, emprestar
ou vender a leigos instrumentos e técnicas psicológicas que permitam ou
facilitem o exercício ilegal da profissão (CFP, 2005).

No entanto, apesar de essas condutas estarem expostas no código de ética


do psicólogo, na prática, elas podem não ser de fácil execução no contexto
da avaliação psicológica, tendo em vista que nesse âmbito de prática são
comuns situações desafiadoras e dilemas éticos que fazem com que o
psicólogo reflita sobre sua conduta de ação.

São exemplos dessas condições desafiadoras os contextos em que se


utilizam testes psicológicos projetivos em processos seletivos, tendo em vista
que esses foram estruturados para a área clínica, avaliação psicológica para
redesignação de sexo, cirurgias bariátricas, questões que estão estritamente
relacionadas com a autonomia do indivíduo e devem ser consideradas como
dever reflexivo de responsabilidade do psicólogo (MUNIZ, 2018).

Diante do exposto, pode-se observar que as discussões sobre ética devem


perpassar pelos contextos sociais antes mesmo de que o indivíduo esteja em
processo de formação profissional. A necessidade de uma formação ética
permanente, para além de uma formação profissional, deve estar presente
nos mais variados espaços da sociedade, devendo ser discutida desde o
processo formativo na educação básica, estendendo-se ao contexto
comunitário e familiar ao longo do desenvolvimento do ser humano,
promovida através de ações em caráter de políticas públicas no âmbito da
educação, saúde, assistência social, de modo a informar e estimular uma
consciência social crítica sobre ética, tornando os indivíduos atores críticos
no contexto da cidadania.

REFLEXÕES SOBRE ÉTICA E PSICOLOGIA DA SAÚDE

A atuação profissional do psicólogo no âmbito da saúde está inserida em


práticas de ordem individual e grupal, no âmbito da atenção Primária,
Secundária e Terciária através de práticas de prevenção, promoção e
recuperação da saúde. Essas práticas devem sempre estar em consonância
com as necessidades dos indivíduos. Desse modo, a psicologia da saúde
deve considerar os fatores que influenciam a saúde das pessoas através do
diagnóstico dos Determinantes Sociais da Saúde - DSS.

Nesse sentido, Buss e Pellegrini (2006) consideram importante o


entendimento da influência dos Determinantes Sociais da Saúde (DSS)
definidos como os fatores sociais, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e
comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e
seus fatores de risco na população.

A análise dos DSS é importante, pois a promoção da saúde deve ser


entendida em um contexto de multifatorialidade que compõe os fatores que
contribuem para o surgimento de uma doença. A estruturação desses
fatores causadores de patologias ocorre de modo sinérgico, ou seja, dois
fatores estruturados aumentam o risco da doença mais do que faria a sua
simples soma.

O estado final provocador da doença é, portanto, resultado da associação de


múltiplos fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, psicológicos,
genéticos, biológicos, físicos e químicos (ROUQUAYROL, 2013).

Os fatores sociais são amplos, envolvendo diversos sistemas. No tocante aos


fatores socioeconômicos, pode-se observar que os grupos sociais
economicamente privilegiados estão menos sujeitos à ação dos fatores
ambientais que podem estimular a ocorrência de doenças que são mais
prevalentes nos grupos economicamente desprivilegiados.

Quanto aos fatores socioculturais, podemos citar as questões relacionadas a


situações promotoras de preconceitos e discriminação, bem como hábitos
culturais, crendices, comportamentos e valores que podem contribuir para a
difusão e manutenção de doenças.

Os fatores psicossociais promotores de vulnerabilidade ou patologias


envolvem situações de marginalidade, ausência de apoio ou instabilidade
nas relações sociais, familiares e comunitárias, desconexão em relação à
cultura de origem, desemprego ou condições de trabalho estressantes,
promiscuidade, condições econômicas, ausência de cuidados afetivos na
infância ou no decorrer do desenvolvimento. Estes estímulos têm influência
direta sobre o psiquismo humano, com consequências na saúde física e
mental.

Sobre os fatores ambientais podemos considerar o ambiente físico que


envolve o homem e condiciona o aparecimento de doenças cuja incidência
tornou-se crescente a partir da urbanização e da industrialização. As doenças
cardiovasculares, as alterações mentais e o câncer pulmonar estão também
associados a fatores do ambiente físico. Os fatores genéticos estão
relacionados com a suscetibilidade das pessoas em desenvolver doenças,
embora isso permaneça na fronteira de pesquisa genética.

Todos esses fatores mencionados anteriormente compõem os


Determinantes Sociais da Saúde, isto é, os DSS incluem as condições macro
que são de ordem socioeconômica, cultural e ambiental de uma sociedade, e
relacionam-se com as condições de vida e trabalho de seus membros, como
habitação, saneamento, ambiente de trabalho, serviços de saúde e educação,
incluindo também as redes e relações sociais e comunitárias.

Os DSS não determinam, mas influenciam o estilo de vida e a condição de


saúde dos indivíduos. A sensação de pertencimento a grupos sociais,
excluídos da maioria dos benefícios da sociedade, pode gerar sofrimento e
sentimentos de inferioridade e discriminação e isso contribui para a
influência dos padrões de saúde e doença dos indivíduos.

A análise dos DSS deve considerar o contexto amplo/macro/distal e em um


contexto mais específico/micro/proximal. Devemos também definir,
implementar e avaliar políticas e programas que pretendem interferir nessas
determinações segundo Bastitella (2007, p.69).

Por fim, devemos fazer com que a sociedade se conscientize do


grave problema que as iniquidades de saúde representam, não
somente para os desfavorecidos, como também para a sociedade
em seu conjunto, buscando com isso conseguir o apoio político
necessário à implementação de intervenções.

Os pesquisadores Dahlgren e Whitehead propõem um esquema que permite


visualizar as relações hierárquicas entres os diversos determinantes da
saúde, para a promoção da saúde e a diminuição da possibilidade do
surgimento de agravos ou de doenças, faz-se necessário conhecer as
condições de vida e trabalho dos diversos grupos populacionais e estão
ilustrados na Figura 2.
Figura 2. Modelo de Dahlgren e Whitehead sobre Determinantes Sociais de Saúde. Fonte:
MUNHOZ, 2021, n.p

Considerando o exposto, a atuação ética do psicólogo da saúde envolve,


dentre outras atribuições, o princípio ético da responsabilidade, entendendo
que o reconhecimento das necessidades dos indivíduos e coletividades
permite o alinhamento de atuações voltadas às práticas resolutivas e
promotoras de saúde e qualidade de vida para as pessoas.

VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ


AGORA?
Os Determinantes Sociais da Saúde podem ser considerados como
fatores que influenciam o surgimento de doenças em indivíduos e
população. Conforme o que foi estudado sobre os Determinantes Sociais
da Saúde, considere as alternativas e marque a(s) CORRETA(s) sobre os
fatores que contribuem para o processo saúde doença:
Fatores sociais, econômicos, culturais.
Fatores ergométricos e judiciais.
Fatores étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais.

Agora é a hora de sintetizVamos lá?!


SINTETIZANDO

Os códigos de ética profissional são instrumentos que surgem com a


finalidade de orientar as condutas profissionais de cada categoria.
Estabelecem princípios, deveres e responsabilidades dos profissionais que
devem estar em consonância com suas práticas, bem como reforçam o
compromisso social das profissões.

Como conceito de profissão, pode-se entender como um conjunto de


saberes e atribuições específicas desenvolvidas a partir de um processo
formativo e possibilitam o desempenho de competências e habilidades no
exercício profissional. A autorreflexão ética de cada profissional deve
contemplar os princípios e valores éticos pessoais e as normas preconizadas
no âmbito de sua categoria profissional.

A psicologia como categoria profissional reconhecida oficialmente possui


como competência primordial atribuições referentes a intervenções
relacionadas ao comportamento de indivíduos e grupos. Assim, os psicólogos
pautados na responsabilidade ética preconizada na profissão devem buscar
o entendimento das condições de vida e das necessidades das pessoas,
podendo assim, em todos os campos, promover práticas resolutivas de
cuidado.

Desde o processo formativo, e durante toda a atuação, o psicólogo deve


considerar as orientações éticas da sua profissão, utilizando esses saberes
nos campos de práticas. A atuação ética no âmbito da psicologia clínica deve
orientar o psicólogo a estar pautado nos princípios de responsabilidade,
sigilo e promoção de autonomia e qualidade de vida para os atendidos. Vale
salientar que atuação clínica deve estar embasada em uma abordagem
psicológica específica.
A ética no contexto da atuação do psicólogo no judiciário perpassa por
questões de sigilo, de reflexões quanto aos direitos humanos observando
criteriosamente vieses que possam direcionar para uma patologização ou
criminalização das pessoas atendidas, bem como o compromisso com as
sugestões que lhe competem durante a emissão de documentos
psicológicos.

No contexto da avaliação psicológica envolvem conhecimentos e aplicação


de instrumentos e técnicos específicos, bem como a produção de
documentos psicológicos que devem estar embasados nos princípios éticos
da profissão. Na psicologia da saúde, o psicólogo deve considerar os
determinantes sociais de saúde que influenciam o surgimento e a
manutenção das condições de saúde e doença, de modo que possam
promover intervenções preventivas de tratamento e reabilitação de acordo
com as necessidades das pessoas e grupos e de modo a promover qualidade
de vida. Vale salientar que é vedada qualquer prática profissional que possa
promover condutas preconceituosas, negligentes, discriminatórias ou de
segregação a qualquer pessoa, ou grupo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, J. L. T. Desafios éticos na formação de profissionais auxiliares


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pessoal de nível médio para a saúde: desafios e perspectivas. Rio de Janeiro:
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ROUQUAYROL, M. Z.; FILHO, N. A. Epidemiologia & Saúde. 7. ed. Rio de


Janeiro: MEDSI, 2013.
UNIDADE 4

RESOLUÇÕES ORIENTADORAS DA

ATUAÇÃO EM PSICOLOGIA

OBJETIVOS DA UNIDADE
• Explanar sobre os princípios fundamentais do código de ética
profissional do psicólogo;
• Discutir sobre as responsabilidades fundamentais do psicólogo;
• Identificar as especialidades que compete a psicologia;
• Descrever sobre as normas de produção de documentos psicológicos.

TÓPICOS DE ESTUDO
Código de ética profissional do psicólogo

// Princípios do código
// Responsabilidades fundamentais do psicólogo

Produção de documentos e especialidades em psicologia


// Resolução sobre as especialidades em psicologia


// Resoluções sobre a produção de documentos psicológicos
Código de ética profissional do psicólogo
Desenvolvido pelo XIII plenário do Conselho Federal de Psicologia (CFP) em
agosto de 2005 e aprovado pela Resolução CFP nº 010/2005, o Código de
Ética Profissional do Psicólogo passou a vigorar no dia 27 de agosto daquele
ano, com efeito de cumprimento obrigatório por todos profissionais. Vale
ressaltar que este é o terceiro instrumento da profissão.

PRINCÍPIOS DO CÓDIGO

As profissões se caracterizam por saberes éticos, teóricos e técnicos específicos que


ordenam as atribuições e práticas dos profissionais da categoria no atendimento das de
Um código de ética profissional estabelece os padrões esperados de cada
profissional quanto às suas práticas por meio dos preceitos preconizados
pela profissão e das demandas e condições éticas presente na sociedade. O
objetivo de tal documento é orientar a categoria e estimular a autorreflexão
de cada profissional quanto à postura. O instrumento também estabelece
condições de responsabilização pessoal e, coletivamente, sobre condutas e
possíveis consequências dos psicólogos no exercício da profissão.

Vale salientar que não se pode entender o código de ética do psicólogo como
um simples compilado de normas; trata-se de um instrumento que assegura
o padrão de condutas que deve ser respeitado por todos da categoria,
constituindo-se como um instrumento composto por princípios que
fundamentam a conduta de cada profissional nos diversos contextos de
atuação.
Todo código de ética possui uma determinação histórica, isto é, embasa-se
em preceitos. No caso da psicologia, ele se fundamenta nos princípios
estabelecidos na declaração universal dos direitos humanos, de 1948, e
considera os valores sociais e saberes da psicologia.

Há que se reconhecer o caráter social


do código de ética. Afinal, trata-se de
um instrumento que compreende tanto
ao contexto social do tempo em que foi
produzido quanto ao desenvolvimento
do campo da psicologia e à necessidade
dos profissionais e entidades
representantes de possuir um
documento que atendesse a evolução
do contexto institucional legal do
país. Ele não possui normas fixas.
Portanto, faz-se necessário uma reflexão contínua de adequação que
acompanhe as mudanças pelas quais nossa sociedade passa ao longo do
tempo. Seu processo de construção, que viu a contribuição de profissionais e
membros gerais da população, deu-se por meio de discussões sobre ética,
compromisso e responsabilidade.

Na elaboração do código, buscou-se valorizar os princípios fundamentais da


psicologia em relação a Sociedade, psicologia, entidades representativas da
profissão e no campo científico. Além disso, ele visa a abrir espaços de
discussão dos limites, interesses e direitos do psicólogo e sua relação tanto
com a sociedade quanto com os demais profissionais e usuários do serviço.

Essa instituição levou em consideração a inserção do psicólogo nos múltiplos


contextos de práticas e entendeu que eles podem promover desafios e
dilemas de atuação. O compromisso social da profissão foi considerado
durante a formulação do código de ética do psicólogo de modo que este seja
um instrumento capaz de: mostrar à sociedade os deveres e
responsabilidades do profissional; estabelecer diretrizes para a formação e
atuação em psicologia; e ampliar e fortalecer o significado social da
profissão.
Os princípios fundamentais do psicólogo, constantes no código de ética
profissional, relacionam-se à promoção do respeito, liberdade, dignidade,
igualdade e integridade ao ser humano durante a atuação em psicologia. Ao
psicólogo cabe o cuidado com a saúde e promoção de qualidade de vida aos
indivíduos e grupos de modo a eliminar, no âmbito de sua prática
profissional, qualquer situação de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.

O profissional deve se manter atualizado às dinâmicas sociais relacionadas à


realidade política, social, econômica e cultural, de modo que possa atuar com
responsabilidade. Ademais, deve aprimorar suas capacidades
constantemente, zelando pelo reconhecimento científico da psicologia e
contribuindo para que a população tenha acesso informativo sobre os
conhecimentos pertinentes aos serviços e aos padrões éticos da psicologia.

Uma de suas responsabilidades é o zelo pelo respeito à profissão, rejeitando


qualquer situação em que a psicologia seja desrespeitada. O psicólogo deve
considerar as relações hierárquicas e de poder nos âmbitos em que atua,
bem como posicionar-se de modo crítico e de acordo com as condições
dispostas no código de ética.
Quadro 1. Princípios fundamentais do código de ética profissional do psicólogo.
RESPONSABILIDADES FUNDAMENTAIS DO
PSICÓLOGO

Existem deveres éticos fundamentais no âmbito da atuação do profissional,


independentemente do contexto no ele se insere. Desse modo, é preciso que
ele reflita sobre os deveres éticos durante todas as situações e condutas
relacionadas ao exercício profissional.

São deveres fundamentais do psicólogo:

Conhecer o conteúdo do código de ética profissional que rege sua profissão de


modo a divulgar, cumprir e fazer cumprir suas diretrizes;
Estar comprometido com a profissão em todos os contextos de trabalho,
respeitando seu regime ético;
Ser coerente com suas habilidades e conhecimentos de modo a assumir atividades
às quais esteja qualificado pessoal, teórica e tecnicamente para atuar;
Observar se as condições de trabalho são dignas e apropriadas para sua prática.
Em outras palavras, se as condições físicas dos espaços de atuação condizem com
os princípios e diretrizes éticas;
Garantir respeito ao sigilo, autonomia e dignidade humana perante as práticas
ofertadas.
Entretanto, deve-se reconhecer outras funções igualmente importantes para
este profissional. Por exemplo, é imprescindível que o psicólogo se apresente
para o trabalho em situações de calamidade pública ou de emergência,
mesmo sem remuneração. Esse preceito está de acordo com o humanismo
preconizado na declaração universal dos direitos humanos.

Outro ponto importante diz respeito ao acordo de prestação de serviço. É


preciso pautá-lo no respeito, ou seja, considerando as condições existentes e
com valores de custo justo. Fornecer informações concernentes ao
atendimento e aos resultados à pessoa atendida e, caso necessário, ao seu
responsável também. Quando solicitado a informar os resultados
decorrentes da prestação de serviços, o psicólogo deve transmitir apenas o
necessário para o processo de tomada de decisão do usuário e beneficiário;
não se permite informar detalhes além, tendo em vista o caráter de sigilo na
qual se pauta a atuação do psicólogo.
O psicólogo também deverá fornecer, quando solicitado, encaminhamentos
e documentos relativos aos serviços prestados aos usuários, tendo em vista
a garantia da continuidade do cuidado. No tocante aos materiais privativos
do psicólogo, como testes, inventários e protocolos, ele deve zelar para que a
aquisição, doação, empréstimo, comercialização, guarda e divulgação sejam
feitas conforme os princípios do código de ética.

É de suma importa basear-se no


respeito, consideração e
solidariedade ao trabalho dos
psicólogos e demais
profissionais, bem como prestar
colaboração sempre que possível
e dentro dos princípios éticos.
Quando o profissional inicial não puder dar continuidade ao atendimento,
deve sugerir serviços de outros, repassando ao substituto todas as
informações necessárias. Ainda, ao constatar falta de ética e consideração
aos preceitos constantes no código ou nas demais regulamentações e
legislações, bem como transgressão ou exercício ilegal ou irregular da
psicologia, o profissional deve levar o fato ou situação ao conhecimento das
instâncias competentes a categoria profissional: Conselho Federal de
Psicologia ou respectivo Conselho Regional de Psicologia de abrangência do
seu território de atuação.
Quadro 2. Deveres fundamentais do psicólogo de acordo com o código de ética profissional do
psicólogo.

Ao psicólogo, ficam proibidas algumas condutas, tendo em vista os princípios


éticos. Essas vedações dizem respeito a qualquer prática do exercício
profissional que envolva conivência com situações de: negligência;
exploração; violência; discriminação; crueldade; ou opressão a qualquer ser
humano. Ainda, o profissional é proibido de induzir pessoas a convicções,
sejam elas de ordem política, moral, filosófica, ideológica, religiosa ou, até
mesmo, preconceituosa, independentemente do contexto de seu exercício
profissional.
É vedada ao psicólogo a utilização dos conhecimentos da psicologia em
caráter de castigo, violência ou tortura. Ele não poderá atuar em instituições,
serviços ou se associar e fazer parcerias profissionais com pessoas ou
organizações que favoreçam ou pratiquem o exercício ilegal da psicologia ou
de qualquer outra profissão. O caráter de responsabilidade do psicólogo
também perpassa pela observância de seus pares, ou seja, dos demais
profissionais. Assim, cabe a ele a intolerância para com as práticas que
envolvam faltas éticas, violação de direitos, crimes ou contravenções. Caso
essas situações ocorram, é seu dever informar à instância competente da
profissão, para que elas procedam conforme as regulamentações
estabelecidas oficialmente.

Quanto à produção ou emissão de documentos psicológicos, o psicólogo


deve se respaldar técnica e cientificamente para tal feito, não sendo possível:
interferir na fidedignidade ou validade dos documentos; alterar resultados;
ou fazer declarações falsas. Na prestação de serviços, o profissional não
pode se vincular a serviços que não regulados oficialmente ou que ofereçam
práticas cujo meio, procedimentos ou técnicas não estejam
regulamentados ou reconhecidos pela profissão.

EXEMPLIFICANDO
A direção de uma instituição que oferta atendimento para pessoas usuárias de
substâncias psicoativas emite um comunicado à equipe multiprofissional
informando que passará a ofertar um método de castigo aos beneficiários que
recaírem ao uso de substâncias psicoativas. Considerando esse caso, a partir
desse momento, o psicólogo atuante na equipe multiprofissional deve se
recusar a atuar na instituição, bem como informar aos órgãos oficiais
competentes sobre o início da promoção das práticas de castigo, consideradas
inadmissíveis.

No exercício profissional e nos casos que envolvem perícia, avaliação ou


parecer, o psicólogo não pode intervir nas situações onde haja vínculos,
sejam eles interpessoais, pessoais, profissionais, atuais ou anteriores com a
pessoa atendida, familiar ou terceiro. Afinal, esses vínculos podem interferir
negativamente nos objetivos do serviço prestado, bem como afetar a
qualidade do trabalho ou a fidelidade aos resultados da avaliação.
Na relação com a pessoa atendida, o psicólogo não pode prolongar
desnecessariamente a prestação de serviços, desviar ou induzir pessoas e
organizações a recorrerem a seus serviços, sob qualquer justificativa, visando
benefício próprio. Além disso, ele também não pode prestar serviços para
organizações concorrentes, dado que tais situações podem resultar no
acesso de informações privilegiadas, suscitando prejuízos para as partes
envolvidas. Em nenhuma hipótese o psicólogo pode receber valores,
vantagens ou benefícios, sob qualquer modalidade de pagamento ou
concessão de benefício, por encaminhamento de serviços.

EXEMPLIFICANDO
Não se pode estabelecer nenhum meio de encaminhamento de pacientes
para outro profissional ou instituição baseado em remuneração,
porcentagens, vantagens ou comissões por pessoa encaminhada.

Quanto à exposição nos meios de comunicação, o psicólogo não pode expor


dados referentes aos serviços prestados, resultados de tratamento ou de
avaliação psicológica. Afinal, a divulgação pública desses procedimentos
remete à quebra de sigilo e outra série de fatores, inclusive de
constrangimento a pessoa envolvida. Considerando os princípios éticos da
congruência, o psicólogo deve analisar a política, missão e normas da
empresa, instituição ou serviço ao qual presta atendimento, dado a
observância de que, caso os princípios do serviço de atuação não sejam
compatíveis com as regulamentações, o psicólogo deve se recusar a atuar.

Sobre a remuneração pelo trabalho prestado, deve-se: considerar um preço


justo; estipular o valor de acordo com o serviço; e comunicar ao paciente
antes do início do tratamento. Em todos os casos e independentemente do
valor acordado, deve-se preservar a qualidade da prestação de serviço. Ao
participar de greves ou paralisações, o psicólogo deve informar previamente
aos usuários do serviço afetado, bem como garantir a permanência do
atendimento às demandas emergenciais.

Tratando-se do relacionamento com profissionais de outras categorias, é


importante que o psicólogo encaminhe demandas quando elas extrapolam
seu campo de atuação. Ele deve só disponibilizar informações pertinentes ao
bom desenvolvimento do tratamento, assegurando a responsabilidade do
sigilo. Vale a pena ressaltar que, ao receber tais informações, o outro
profissional deve resguardar a garantia do sigilo. Ainda, os profissionais ou
serviços aos quais se encaminhem as demandas devem estar oficialmente
habilitados e qualificados.

Destaca-se quatro ocasiões em que um psicólogo deve intervir nos


serviços de outro:

1
Casos caracterizados por risco ou emergência: é importante que o
profissional que realizar o atendimento emergencial informe sobre o
atendimento ao primeiro o mais breve possível;
2
Casos em que o profissional de referência solicite;
3
Casos em que os serviços pelo profissional de referência estiverem
interrompidos, suspensos ou finalizados, seja por ele ou pelo paciente;
4
Casos em que o atendimento seja ofertado por equipe multiprofissional.
Em situações que exigem atendimentos psicológicos não eventuais, a
menores de idade ou interdito, necessita-se autorização de um responsável
legal. Na inexistência de um, deve-se informar o atendimento às autoridades
competentes, como o Ministério Público e o Conselho Tutelar. Se forem
necessários encaminhamentos, o psicólogo deverá garanti-lo, tendo em vista
o princípio da integralidade. Vale salientar que ele deve comunicar aos
responsáveis ou autoridades o conteúdo estritamente essencial para a
garantia do cuidado, resguardado o sigilo das demais informações.

Durante sua atuação, o princípio mais importante a se observar é o da


garantia do sigilo. É dever do psicólogo respeitar a intimidade e
confidencialidade das informações prestadas pelo paciente, grupos ou
organizações. Entretanto, em casos que configuram conflitos entre o dever
do sigilo e os princípios éticos, o profissional pode decidir sobre a quebra do
princípio, visando o menor prejuízo possível; deve prestar informações
estritamente necessárias, apenas. Isso também vale para ocasiões em que
seja solicitado ao psicólogo depor em juízo.

Quanto à observação ou registro documental sobre as práticas realizadas


durante o exercício profissional, o psicólogo deve observar as normas
existentes no código de ética profissional da categoria. Além disso, deve
informar o paciente, grupo ou instituição sobre os meios de registro das
atividades em que participar. Já nas atividades em equipe multiprofissional, o
psicólogo deve registrar apenas o que for necessário ao alcance dos
objetivos do tratamento.

Nos casos em que haja interrupção do exercício profissional, é importante


garantir o destino seguro e confidencial dos arquivos referentes à prática.
Ademais, nas situações que envolvam demissão, exoneração ou
aposentadoria, o psicólogo deve lacrar ou garantir o repasse dos materiais
ao substituto, tento em vista a garantia da promoção do cuidado. Se houver
extinção do serviço de atuação, o profissional deve informar ao respectivo
Conselho Regional de Psicologia, que dará providências quanto ao destino
dos materiais e arquivos, garantindo a segurança e confidencialidade.

Caso o psicólogo participe na produção de conhecimentos científicos e


tecnológicos, deve avaliar os riscos e benefícios de todos os procedimentos
do estudo, bem como garantir que, na divulgação dos resultados, observe-se
a preservação da identidade dos
participantes envolvidos. Utilizará o
termo de consentimento livre e
esclarecido, que garante a
participação voluntária e o
anonimato dos envolvidos, bem
como o livre acesso aos resultados
decorrentes das atividades, caso
eles desejam.

Os psicólogos no exercício da
docência ou supervisores, devem
exigir que os estudantes observem
o disposto no código de ética
profissional do psicólogo. Torna-se fundamental que eles zelem pelos
instrumentos e técnicas psicológicas, cuidando para que não haja divulgação,
empréstimo ou comercialização desses, fato que acarretaria na facilitação da
disseminação de conhecimentos psicológicos a leigos ou a promoção de
exercício ilegal da psicologia. Só se deve zelar pela disseminação do
conhecimento científico e do papel social da psicologia ao participar de
eventos públicos, na imprensa ou acadêmicos.

Na promoção de seus serviços, o psicólogo deve informar nome completo,


número de registro no respectivo Conselho Regional de Psicologia (CRP).
Além disso, deve divulgar apenas títulos ou qualificações profissionais que
possua e que sejam reconhecidas e regulamentadas pela psicologia. Em
nenhuma hipótese utilizará o preço dos serviços como forma de propaganda
ou autopromoção em detrimento de outros profissionais, bem como não
garantirá previsão de resultados ou sensacionalismo ou fará referências a
atribuições características de outras categorias profissionais.
Quadro 3. Proibições na atuação do psicólogo de acordo com o código de ética profissional do
psicólogo.

Quanto às consequências de faltas éticas ou transgressões, serão


caracterizadas como infração disciplinar, podendo o psicólogo sofrer
penalidades legais ou regimentares de advertência, multa, censura pública,
suspensão do exercício profissional até 30 dias, podendo caracterizar a
cassação do exercício profissional, essas duas últimas penalidades são de
competência de decisões ad referendum do Conselho Federal de Psicologia.
Quadro 4. Possíveis penalidades do exercício profissional do psicólogo de acordo com o código de
ética profissional.
Caso haja necessidade de alteração do disposto no código de ética
profissional do psicólogo, considerar-se-á o disposto pelo Conselho Federal
de Psicologia, pela categoria profissional. Ainda, é preciso consultar os
Conselhos Regionais de Psicologia.
Produção de documentos e especialidades
em psicologia
Seção 3 de 3

A psicologia é uma categoria profissional que perpassa por diversos âmbitos.


Torna-se essencial, portanto, que os psicólogos construam conhecimentos
específicos e focados nas demandas que se apresentam nos diversos
contextos. Assim, se apresentam as especialidades.

A produção de documentos essenciais durante o exercício profissional do


psicólogo é uma atribuição da psicologia. Esses documentos resultam da
atuação profissional no contexto de:

• Avaliação psicológica;
• Atuação multiprofissional;
• Perícias;
• Atendimentos individuais ou compartilhados;
• Visitas domiciliares.

É de essencial importância que o psicólogo conheça as resoluções que


tratam sobre as características e especificidades da elaboração e emissão
desses instrumentos.
RESOLUÇÃO SOBRE AS ESPECIALIDADES
EM PSICOLOGIA

A resolução CFP nº 013/2007 instituiu tanto o título de especialista em


psicologia quanto as normas e procedimentos desse registro. O profissional
recebe o título pode aprovado, mediante análise documental, no prazo
máximo de 60 dias pelo CFP e respectivos CRPs. Note, porém, que ele só é
conferido ao psicólogo que esteja no pleno gozo de seus direitos
profissionais e devidamente inscrito no Conselho de Classe há pelo menos
dois anos. Após a concessão de título de especialista, o respectivo CRP
registrará a especialidade na carteira de identidade profissional do psicólogo.

EXPLICANDO
Entende-se por “estar em pleno gozo dos direitos profissionais” o psicólogo que:
estiver com os pagamentos das anuidades do conselho de classe devidamente
regulamentadas; não estiver com inscrição cancelada no conselho de classe; não
estiver em penalidade de suspensão, cassação ou inadimplente em relação a pena de
multa; e não estiver em processo ético disciplinar estabelecido pelos conselhos da
respectiva categoria profissional.

O profissional que desejar título de especialista pode utilizar como requisito:


período de experiência profissional por vínculo empregatício ou como
profissional autônomo na área pretendida, com no mínimo dois anos de
atuação e aprovação no exame teórico e prático promovido pelo CFP; e
conclusão de cursos regulares de especialização em instituições
regulamentadas pelo Ministério da Educação e credenciada ao CFP ou por
pessoa jurídica habilitada para esta finalidade, ao qual o núcleo formador
esteja credenciado ao CFP. Ressalta-se que, nesses dois últimos casos, a
instituição ou núcleo formador deve ter pelo menos uma turma com curso já
concluído.

O psicólogo pode manter até duas especialidades, mas ambos os casos


exigem documentação comprobatória para concessão do título. Vale
salientar que o título de especialista ao psicólogo é conferido como ordem de
maior dedicação do profissional na referida área de especialidade e não
pode ser considerada como requisito condicional ao exercício da
profissão.

EXPLICANDO
Para o exercício profissional, os requisitos mínimos exigidos ao psicólogo são:
graduação completa no curso de formação superior em psicologia realizado por
instituição formadora oficialmente regulamentada; e registro no conselho de classe
profissional da referida categoria. O título de especialista é conferido como
qualificação profissional adicional de formação.

O CFP institui 11 especialidades em psicologia e cada uma possui definições


e atribuições específicas. Vale salientar que o órgão pode criar novas
especialidade sempre que houver justificativas sociais e científicas.
O psicólogo especialista em psicologia escolar/educacional atua no
âmbito da educação formal, realizando pesquisas, diagnóstico e intervenção
de prevenção ou correção individual ou em grupo. Para tanto, leva em
consideração as características do entorno envolvido no processo de ensino
aprendizagem: corpos discente e docente; currículo; normas da instituição;
material didático; e demais elementos do sistema. O psicólogo também
participa na elaboração, implantação, avaliação e reformulação de currículos,
projetos pedagógicos, políticas e desenvolvimento de procedimentos
educacionais. Além disso, promove um clima educacional funcional, visando
ao alcance dos objetivos educacionais.

Ainda, este especialista auxilia na orientação de programas direcionados ao


ensino do indivíduo com necessidades especiais e atua de modo
interdisciplinar, com vistas à promoção da integralidade no cuidado nas
demandas relacionadas ao desenvolvimento humano, nos processos de
orientação profissional, adaptação do indivíduo ao contexto do trabalho,
relações interpessoais e à integração família-comunidade-escola. Por fim, ele
atua em pesquisas e estudos e utiliza, em sua prática, instrumentos e testes
psicológicos adequados e fidedignos a fim de fornecer subsídios para
planejamento, ajustes, orientações, monitoramento e avaliação dos
programas e atividades, visando à efetividade no âmbito
escolar/educacional.

O psicólogo especialista em psicologia organizacional e do trabalho atua


em atividades, análise e
desenvolvimento tanto do
contexto organizacional
quanto das ações humanas
nas organizações, assim
como no desenvolvimento
das relações em equipe.
Quanto à saúde do
trabalhador, o especialista
intervém no
desenvolvimento, análise,
diagnóstico e orientações dessas demandas a fim de promover a prevenção,
promoção e reabilitação da saúde dos indivíduos.
Ele orienta a respeito dos aspectos psicossociais que impactam a saúde e
segurança do trabalho, promovendo, assim, melhores condições ao
trabalhador. Além disso, realiza estudos, pesquisas e consultoria, utilizando
métodos e técnicas da psicologia aplicada ao trabalho, como entrevistas,
testes, provas e dinâmicas de grupo. Seu objetivo central é subsidiar
atividades de planejamento e desenvolvimento de ações destinadas a
equacionar relações de trabalho, produtividade, aspectos motivacionais,
estímulo à criatividade e realização pessoal dos indivíduos e grupos inseridos
nas organizações a fim de promover a qualidade de vida no trabalho.

Ressalta-se que este especialista participa dos processos de admissão,


promoção, desligamento, demissões e preparação para aposentadoria
auxiliando no processo de adaptação. Finalmente, ele também acompanha a
elaboração da política de recursos humanos e atua na resolução de: conflitos
organizacionais e de condições de trabalho; treinamentos; análise de
ocupações e profissiográficas; e acompanhamento de avaliação de
desempenho de pessoal, atuando em equipes multiprofissionais.

O psicólogo especialista em psicologia de trânsito atua no campo dos


processos psicológicos, psicossociais e psicofísicos relacionados aos
problemas de trânsito e seus impactos no campo afetivo, cognitivo e
comportamental tanto dos indivíduos quanto grupos. Ele intervém na
análise, diagnóstico e cuidado dessas demandas. Além disso, elabora e
implanta ações de engenharia e operação de tráfego, bem como atua no
desenvolvimento de ações socioeducativas com pedestres, condutores e
instituições relacionadas ao trânsito e dos diferentes níveis de ensino.

Em seu âmbito de atuação, o psicólogo do trânsito participa individualmente


ou como integrante de equipes multiprofissionais no planejamento e
desenvolvimento de pesquisas científicas com o objetivo de promover o
desenvolvimento e implementação de políticas ou programas nos campos da
segurança no trânsito, as quais podem ser estendidas para as áreas
intersetoriais como saúde e educação. As referidas ações devem considerar
os fatores que influenciam os riscos no trânsito de modo a sugerirem
condições de evitar ou diminuir suas incidências.
Ainda, este especialista realiza processos avaliativos em candidatos à carteira
nacional de habilitação, bem como elabora e emite documentos psicológicos
resultantes dos processos. Os documentos psicológicos nesse âmbito se
referem a relatórios psicológicos, pareceres psicológicos e laudos
psicológicos. Vale salientar que o especialista participa de estudos e
pesquisas científicas acerca do entendimento dos efeitos de substâncias
psicoativas e seus efeitos psicológicos no comportamento e cognição do
indivíduo no contexto do trânsito. Finalmente, ressalta-se que esse
profissional pode prestar consultoria ou assessoria sobre trânsito e
transporte aos serviços ou instituições públicas ou privadas.

No contexto judiciário, surge a figura do psicólogo especialista em


psicologia jurídica. Dentre suas atribuições, destaca-se a participação no
planejamento e execução de políticas relacionadas a: cidadania; prevenção
de violência; e promoção e garantia dos direitos humanos. Além disso,
fundamentado nos saberes da psicologia, ele auxilia a formulação de leis.

Este especialista intervém nas condições de personalidade do indivíduo,


sejam elas cognitivas ou emocionais, no tocante ao conteúdo de processos
jurídicos relevantes. Nesses casos, o psicólogo especialista utiliza métodos e
técnicas da psicologia a fim de coletar dados e compreender fatores
psicológicos. Seu objetivo é fornecer subsídios de colaboração às demandas
existentes nos processos judiciais em suas diferentes varas, bem como em
programas socioeducativos e de prevenção à violência. O resultado dessas
intervenções resulta em documentos específicos, como relatórios
psicológicos, laudos e pareceres psicológicos.

É possível descrever as atividades desenvolvidas por este especialista como:


orientações psicológicas; encaminhamentos, quando necessário, de
demandas ou de casos para demais serviços ou setores; atividades
educativas; assessoria ou consultoria aos demais profissionais do judiciário
sobre assuntos relacionados à psicologia; participação em audiências,
colaborando no esclarecimento de aspectos psicológicos. Finalmente,
destaca-se que ele realiza pesquisas e estudos sobre assuntos pertinentes ao
campo do direito e relacionados à área da psicologia.

Na área da psicologia do esporte, a


competitividade e a busca constante
por superação de limites físicos e de
desempenho são constantes. Nesse
sentido, o psicólogo especialista no
esporte realiza intervenções com
atletas, treinadores e demais
indivíduos a fim de alcançar esses
objetivos. O especialista auxilia no
favorecimento de condições psíquicas
aos indivíduos para que eles maximizem seu desempenho e otimizem sua
performance na execução de atividades esportivas, garantida a manutenção
e promoção da saúde mental. Além disso, intervém-se com foco no
comportamento e cognição dos indivíduos por meio do diagnóstico psíquico.
Para tanto, utiliza-se: métodos e técnicas interventivas; atendimentos
individuais ou em grupo, seja de modo particular ou atrelado a equipes
multiprofissionais; promoção de atividades educativas; promoção de saúde e
qualidade de vida.

O especialista também auxilia os processos de reabilitação e orientação


psicológica dos indivíduos, bem como de seus pais ou responsáveis.
Ademais, participa de treinamentos e orientação quanto a categorias ou
modalidades esportivas aos atletas. Em outras palavras, ele tem efeito
significativo nos aspectos relacionados à carreira esportiva dos indivíduos,
em seu desenvolvimento e nas relações, tanto interpessoais quanto sociais.
Finalmente, colabora no bom desenvolvimento das relações interpessoais
das equipes nos ambientes esportivos.

O psicólogo especialista em posologia clínica atua na promoção de saúde


de indivíduos e grupos de modo a compreender as demandas emergentes
nos casos. Por meio de métodos e técnicas da psicologia, ele intervém de tal
maneira que garante ao indivíduo uma conscientização dos aspectos
referentes ao seu processo de adoecimento e colaboração no tratamento
terapêutico. Portanto, o especialista objetiva uma reestruturação da
dinâmica de percepção do indivíduo a respeito das situações ao ponto de
obter uma evolução positiva em seu quadro de saúde.

Aqui, cabe um ponto de atenção: é preciso considerar a história de vida dos


indivíduos e compreender a influência dos determinantes sociais que
impactam na situação de sofrimento emergente na clínica psicológica,
objetivando intervir na promoção, diagnóstico, reabilitação e manutenção da
saúde mental das pessoas.

No contexto clínico, o especialista deve:


observar o comportamento do
indivíduo; compreender suas demandas;
efetuar o diagnóstico psíquico; e atuar
em demandas de sofrimento mental,
cser_educacional ou quadros
psicopatológicos por meio de
entrevistas, avaliação psicológica e
técnicas de reestruturação cognitiva,
entre outros métodos psicológicos.
Ainda, é possível realizar: psicoterapia
individual, de casal, infantil ou familiar;
orientação de pais; aconselhamento
psicológico; e psicoterapia lúdica. O
especialista também pode atuar em equipes multiprofissionais,
principalmente no âmbito da saúde, em serviços hospitalares ou
ambulatoriais.
O contexto hospitalar também faz parte das especialidades em psicologia.
O psicólogo especialista em psicologia hospitalar atua tanto na
modalidade individualizada ou em equipes multiprofissionais na perspectiva
interdisciplinar. No nível secundário, o faz por meio da atuação ambulatorial
e, no terciário, em hospitais de alta complexidade. Além disso, participa de
estudos e pesquisas científicas em centros específicos ou nas instalações
hospitalares e pode exercer a docência em instituições de ensino superior.
Este especialista desenvolve atividades e intervenções aos pacientes,
acompanhantes, familiares e profissionais da equipe. Seu principal objetivo é
a promoção de saúde mental, emocional e bem-estar, bem como uma
harmonia nas relações interpessoais inerentes ao processo de trabalho.

Suas atividades possuem efeito significativo sobre saúde mental, reações


emocionais de instabilidade relacionadas ao processo de adoecimento, de
internação hospitalar, procedimentos e exames invasivos, procedimentos
cirúrgicos, prognósticos desfavoráveis, entre outras situações
desencadeadoras de alterações psíquicas e aparecimento de sofrimento
mental. Dentre elas, destaca-se: escuta terapêutica; acolhimento;
orientações; avaliação; e acompanhamento de intercorrências. O especialista
também atua no processo relacional entre médico/paciente, paciente/família,
e paciente/paciente, mantendo em mente a promoção de harmonia nas
interações relacionais.

A atuação psicológica hospitalar pode ser desenvolvida na modalidade de


atendimento psicoterapêutico ambulatorial, individual ou em grupos,
atividades de promoção de educação em saúde em grupo nos diferentes
setores e enfermarias de modo individualizado ou em equipes
multiprofissionais, avaliação diagnóstica, consultoria e assessoria para
assuntos referente aos saberes da psicologia.

O psicólogo especialista em psicopedagogia foca nos processos de


aprendizagem e processamento cognitivo. É possível entender a dinâmica
cognitiva do indivíduo por meio de: métodos psicológicos observacionais;
entrevistas; aplicação de testes; inventários; técnicas; psicodiagnóstico; e
acompanhamento psicopedagógico. É importante considerar durante o
processo avaliativo, as condições de vida, de saúde, genéticas, familiares e
sociais. A partir dessa análise, reconhece-se que o especialista se baseia em
dados e resultados capazes de promoverem um processo de aprendizado
adaptativo e efetivo ao ensino proposto, o que favorece a construção de
conhecimentos do indivíduo.

A integração do aluno ao contexto escolar e na relação de seus pares,


professores e demais colaboradores do âmbito escolar pode apresentar
dinâmicas instáveis; em outras palavras, pode ser tanto harmônica quanto
fragilizada e promotora de alterações emocionais nos indivíduos. Diante
dessa premissa, há que se considerar uma atribuição do especialista: a
capacidade de promover uma dinâmica relacional favorável ao processo de
ensino aprendizagem. Cabe ao profissional identificar problemáticas
relacionadas ao contexto familiar, socioeconômico e cultural ao qual o
indivíduo pertence, bem como observar dinâmicas do ensino, interações
relacionais, indicadores de aprendizagem e de ensino, índices de evasão e
reprovação escolar a fim de intervir em tais demandas. Ainda, ele pode
executar programas, projetos pedagógicos, oficinas relacionais, rodas de
diálogos, instrumentais de avaliação de satisfação para todos que compõem
o contexto escolar.

A psicomotricidade se relaciona com a noção de espaço, coordenação


motora, ritmo e equilíbrio. O indivíduo que possui alguma alteração que
causa prejuízos funcionais ou laborais relacionados a esses aspectos,
necessita de intervenção. O psicólogo especialista em
psicomotricidade atua justamente nessa perspectiva por meio da
prevenção, promoção e reabilitação da saúde, atrelado ao desenvolvimento
motor. Considera-se a promoção da autonomia como principal objetivo da
psicomotricidade.

O especialista também planeja projetos e programas de desenvolvimento


psicomotor, intervenções clínicas no contexto da saúde e educação,
avaliação e elaboração de parecer técnico em clínicas de reabilitação
psicomotora. Além disso, realiza assessoria, consultoria e auditoria nos
assuntos relacionados à psicomotricidade e atua no desenvolvimento
esportivo, no auxílio em atividades preparatórias para práticas esportivas.
Tais intervenções focam nos aspectos cognitivos, afetivos e emocionais com
vistas à promoção de desempenho e saúde mental.
Ele atua com indivíduos em todas faixas etárias, desde bebês e crianças, na
promoção de seu desenvolvimento psicomotor ou que estejam acometidos
por comprometimento motor ou atrasos no desenvolvimento global, até
indivíduos que apresentem necessidades especiais ou deficiências,
sensoriais, motoras, físicas, da percepção, cognitivas e relacionais. Ele
também orienta e acolhe os familiares com vistas ao manejo de atividades
que estimulem o desenvolvimento da motricidade e na observação de
possíveis adversidades.

A psicologia social perpassa por um contexto ampliado de condições,


relacionadas diretamente à saúde mental dos indivíduos. Nesse sentido,
o psicólogo especialista em psicologia social deve ter esse entendimento e
sempre considerar a influência dos determinantes sociais de saúde no
processo de promoção do sofrimento e patologias mentais em seu exercício
profissional. Este especialista busca compreender os impactos sociais e
culturais na dimensão subjetiva dos indivíduos. Essa análise se dá por meio
de perspectivas teóricas específicas da psicologia, cuja finalidade é a de
problematizar os aspectos relacionados ao surgimento do sofrimento mental
e propor intervenções capazes de intervir de modo efetivo nesses aspectos e
promover saúde.
Este profissional atua em diversos setores da sociedade civil, como saúde,
educação, justiça e assistência social. Seu objetivo é planejar e executar
intervenções, projetos, programas e políticas, estudos e pesquisas científicas
relacionadas ao fatores sociais e impactos no comportamento humano com
foco em possibilitar a promoção de saúde mental ao indivíduo em seu
contexto social.

Por fim, a ciência da neuropsicologia estuda as implicações entre a relação


do sistema nervoso e o comportamento humano. O psicólogo especialista
em neuropsicologia atua por meio de intervenções neuropsicológicas de
diagnóstico das funções psíquicas e suas implicações na personalidade,
comportamento, cognição e sistema nervoso e funcionamento cerebral
humano. Ele realiza acompanhamento e tratamento neuropsicológico em
indivíduos de todas as faixas etárias, utilizando-se de conhecimentos e
técnicas das neurociências com metodologias específicas e instrumentos
padronizados, considerando particularidades de cada caso.

As funções avaliadas por este especialista são: atenção; percepção; memória;


linguagem; raciocínio; aprendizagem; processamento da informação
neuronal; e funções motoras. Por meio de intervenções, emite-se laudos
psicológicos em suas finalidades propostas a depender de cada demanda. O
profissional atua particularmente ou em equipes multiprofissionais,
objetivando a coleta de dados para entendimento das demandas, elaboração
de diagnósticos neuropsicológicos, com vistas ao tratamento, reabilitação,
prevenção ou promoção de desenvolvimento neuropsíquico.

Ainda, destaca-se que as intervenções neuropsicológicas auxiliam no


fornecimento de dados para hipóteses diagnósticas, processo de tomada de
decisões para as escolhas de tratamento medicamentoso, cirúrgico e de
reabilitação, bem como, por meio de estudos e pesquisas científicas, auxilia
na produção de materiais interventivos na área.

RESOLUÇÕES SOBRE A PRODUÇÃO DE


DOCUMENTOS PSICOLÓGICOS

produção de documentos psicológicos é uma constante no exercício profissional do


psicólogo. Pensando em uma uniformização da estrutura e finalidade de tais instrumentos, o
Conselho Federal de Psicologia instituiu a Resolução CFP nº 06/2019 para dispor sobre o
assunto.

Compreende-se a atuação em psicologia como de ordem ampla; ela


perpassa por diferentes contextos. Para produzir documentos psicológicos
de modo uniforme, é preciso considerar os princípios éticos que norteiam a
prática profissional da categoria, bem como a utilização de métodos, técnicas
e instrumentos concernentes à ciência psicológica. Os psicólogos devem
estar cientes do que preconiza a Resolução CFP nº 06/2019, visto que a não
observância dessas disposições pode acarretar em falta ético-disciplinar,
cabendo penalidades.

Estes documentos psicológicos são a comunicação oficial escrita decorrente


da prestação de serviços do profissional do psicólogo. As modalidades de
documentos psicológicos podem ou não decorrer de um processo de
avaliação psicológica. No entanto, todos devem ter finalidades específicas, as
quais devem ser observadas. Além disso, é condição primeira que exista uma
solicitação para elaboração do documento advinda: do próprio paciente; dos
responsáveis, em casos de menores de idade ou interditos; por solicitação de
outro profissional ou de equipe multidisciplinar; ou de autoridades, as quais
geralmente fazem parte do poder judiciário.

Outra condição necessária à elaboração de documentos psicológicos se


refere à autorização prévia do paciente: este precisa estar ciente não só dos
procedimentos aos quais se submeterá, mas também do objetivo do
trabalho. Além disso, deverá ter uma devolutiva ao final das intervenções e
ter acesso ao documento produzido pela atividade do profissional; tal
devolutiva perpassa pelo paciente e também para a pessoa que solicitou o
atendimento. Por exemplo: se um psiquiatra solicitar um parecer psicológico
para um paciente, ao final das intervenções, o psicólogo realizará uma
entrevista devolutiva dos resultados identificados tanto para o paciente
como para o psiquiatra que solicitou o serviço. Torna-se obrigatório,
portanto, que o psicólogo mantenha protocolo de entrega do documento,
em que conste assinatura de quem o receber.
A produção de documentos
psicológicos exige uma
estrutura padronizada, que não
pode ser considerada estática,
mas que deve seguir um
modelo uniforme de estrutura.
A linguagem utilizada no corpo
do texto deve ser condizente
com a escrita gramatical
formal, sendo produzida de
modo coeso e coerente, claro, objetivo e impessoal. Em outras palavras, o
psicólogo deve produzir o texto na terceira pessoa do discurso. Considera-se
a exposição do discurso literal do paciente como desnecessária e vetada,
tendo em vista as condições éticas da garantia do sigilo.

Outro ponto importante a considerar se refere à pessoa a quem se destina o


documento; profissionais de outras categorias podem não ter conhecimento
sobre determinados termos técnicos privativos da psicologia. Nesses casos, é
necessário descrevê-los breve e sucintamente a fim de evitar interpretações
errôneas por parte de quem receber os instrumentos.

Durante a elaboração do documento psicológico, o profissional deve


considerar todas as premissas éticas estabelecidas no código de ética
profissional do psicólogo, bem como embasar suas intervenções nos saberes
teóricos da psicologia e na utilização de métodos e técnicas científicos da
profissão. Também é importante observar as condições de desenvolvimento,
história de vida, contexto familiar e social nas quais o indivíduo se insere,
tendo em vista que essas condições exercem impacto na saúde mental das
pessoas.

O Quadro 6 descreve as finalidades de cada documento psicológico.

Quadro 6. Finalidade dos documentos psicológicos de acordo com a Resolução CFP 06/2019.
A declaração psicológica, documento mais sucinto que existe na área,
destina-se a fins de comprovação de atendimento. Nela, consta: nome da
pessoa atendida; acompanhante, quando for o caso; data; horário; e local
onde se realizou a intervenção. Pode ser emitida também para informar
sobre período de acompanhamento, isto é, para alegar o tempo decorrido
que o psicólogo presta serviços a uma determinada pessoa ou instituição.
São vetadas a descrição de sintomas ou estado psicológico do paciente.

O relatório possui duas modalidades:

Psicológico
Produzido em particular pelo psicólogo;

Multiprofissional
Produzido em conjunto com profissionais de outras categorias, mas que
constituem uma mesma equipe.

Em ambas as modalidades, o documento expõe dados sobre a condição


psicológica do paciente, considerando seu histórico de vida, condições socais
e contexto no qual se insere. Ele também deve apresentar resultados dos
métodos e técnicas utilizados. Ressalta-se que não se pode descrever o
discurso do paciente de modo literal, salvo quando tal descrição se justifique
tecnicamente.

Nessa modalidade de documento, embasados nos resultados dos


procedimentos realizados, o profissional pode recomendar intervenções,
encaminhamentos e sugestões terapêuticas. As particularidades referentes
ao relatório multiprofissional, se referem à descrição do nome e categoria de
todos os profissionais que participaram das intervenções. Além disso,
destaca-se que os procedimentos realizados pelo psicólogo devem vir em um
subtópico separado das demais categorias e, na parte da análise,
recomenda-se que os profissionais façam em separado, identificando o
nome e a categoria profissional.

O parecer psicológico requer uma solicitação prévia. Ele se destina a


esclarecer uma dúvida ou problemática que interferem na decisão do
solicitante. É, portanto, uma resposta a uma consulta. O autor do parecer
precisa ter um conhecimento amplo sobre a demanda solicitada e, ao final
da análise, deve emitir parecer indicativo ou conclusivo da demanda. Vale
salientar que o parecer psicológico não resulta de intervenções psicológicas,
mas destina-se a esclarecimento pontual de uma questão.

Os documentos resultantes de um processo de avaliação psicológica são:

L A U D O P S I C O LÓ G I C O
Deve apresentar os procedimentos e conclusões decorrentes das
intervenções avaliativas da demanda solicitada. Ademais, é importante que
conste no documento: descrição das intervenções; diagnóstico; prognóstico;
hipótese diagnóstica; evolução do caso; orientação ou sugestão de projeto
terapêutico; e encaminhamentos necessários quando a demanda exigir.

AT E S TA D O P S I C O LÓ G I C O
Destina-se a alegar a condição mental do paciente, ratificando incapacidades
e aptidões. Pode ser utilizado com fins comprovativos e justificativos ou para
solicitar afastamentos ou dispensas laborais. O documento deve restringir-se
à informação solicitada, limitando-se a descrever o fato constatado. Além
disso, é importante padronizá-lo em texto corrido, evitando espaços em
branco que possam dar margem para riscos de alteração ou adulteração das
descrições.

Nos documentos psicológicos, o profissional deve destacar ao final do texto


que o documento não pode ser utilizado para fins diferentes do
estabelecido. Além disso, deve também ressaltar a responsabilidade de
resguardar o sigilo a que receber o instrumento e enfatizar que se trata de
um documento extrajudicial.

Toda e qualquer modalidade de documentos psicológicos deve ser


encerrada com: indicação do local; data de emissão; carimbo que conste
nome completo e número de inscrição profissional dos profissionais;
enumeração de todas as laudas, rubricadas da primeira até a penúltima; e
assinatura do profissional na última página.

O Quadro 7 descreve a estrutura de cada documento psicológico.


Quadro 7. Estrutura de construção dos documentos psicológicos de acordo com a Resolução CFP
06/2019.
Os documentos emitidos pelo psicólogo e o material utilizado nas
intervenções devem ser guardados pelo prazo mínimo de cinco anos, o qual
poderá ser ampliado nos casos previstos em lei. A guarda dos documentos e
dos materiais das referidas intervenções são de responsabilidade do
psicólogo e da instituição onde se prestou os serviços. Além disso, a validade
das descrições e resultados existentes nos documentos psicológicos devem
considerar: a normatização vigente na área em que o profissional atua; a
finalidade e objetivos dos procedimentos utilizados; as conclusões expostas;
a natureza dinâmica da subjetividade psíquica do indivíduo; a dinâmica do
trabalho realizado; e a necessidade de atualização contínua das informações.
Não há um prazo de validade estática para todos os casos. Nesse sentido,
prevalecem, para esta determinação, o entendimento da natureza do que se
avalia, a dinamicidade dos fenômenos psicológicos e os determinantes e
condicionantes sociais que exercem influência na saúde das pessoas.

Agora é a hora de sintetizar tudo o que


aprendemos nessa unidade. Vamos lá?!

SINTETIZANDO

O código de ética profissional do psicólogo dispõe sobre os fundamentos


que embasam eticamente a atuação do psicólogo e descreve os princípios e
normas fundamentais das posturas e condutas consideradas como positivas
no tocante ao exercício profissional do psicólogo nos diferentes âmbitos.

O referido instrumento tem como finalidade dispor sobre os deveres do


psicólogo que visam a garantir a promoção de uma atuação responsável,
dinâmica e comprometida com as demandas individuais e sociais. Também
são esplanadas as vedações do exercício profissional do psicólogo, bem
como as possíveis penalidades as quais podem vigorar em casos de faltas
éticas e disciplinares.

Considerando que o campo de atuação da psicologia contempla todo o


contexto social, o Conselho Federal de Psicologia estabeleceu, em resolução,
as competências, atribuições e condições necessárias aos títulos e
modalidades de especialidades da categoria profissional, sendo essas:
psicologia escolar/educacional; psicologia organizacional e do trabalho;
psicologia de trânsito; psicologia jurídica; psicologia do esporte; psicologia
clínica; psicologia hospitalar; psicopedagogia; psicomotricidade; psicologia
social; e neuropsicologia.
A atuação em psicologia requer o registro por escrito dos serviços prestados.
Desse modo, objetivando tanto uma padronização quanto especificidades da
produção de documentos psicológicos, o Conselho Federal de Psicologia
estabeleceu, em resolução, sobre os princípios fundamentais na elaboração
de documentos psicológicos: modalidades; conceito; finalidade; estrutura;
guarda e condições de guarda; destino; prazo de validade do conteúdo dos
documentos psicológicos, quais sejam; declaração; atestado psicológico;
relatório psicológico e multiprofissional; laudo psicológico; e parecer
psicológico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Conselho Federal de Psicologia. Resolução nº 010/2005. Código de


ética profissional do psicólogo, 2005. Disponível em:
<https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-
psicologia.pdf>. Acesso em: 23 out. 2021.

BRASIL. Conselho Federal de Psicologia. Resolução nº 013/2007. Institui a


consolidação das resoluções relativas ao título profissional de especialista
em psicologia e dispõe sobre normas e procedimentos para seu registro.
Disponível em: <https://site.cfp.org.br/wp-
content/uploads/2008/08/Resolucao_CFP_nx_013-2007.pdf>. Acesso em: 23
out. 2021.

BRASIL. Conselho Federal de Psicologia. Resolução nº 06/2019. Orientações


sobre elaboração de documentos escritos produzidos pelo psicólogo no
exercício profissional. Disponível em: <https://site.cfp.org.br/wp-
content/uploads/2019/09/Resolu%C3%A7%C3%A3o-CFP-n-06-2019-
comentada.pdf>. Acesso em: 23 out. 2021.

ONU – Organização das Nações Unidas. Declaração universal dos direitos


humanos. Resolução 217 A (III). Assembleia geral das Nações Unidas, Paris,
10 dez. 1948. Disponível em:
<https://www.ohchr.org/EN/UDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf>.
Acesso em: 20 out. 2021.

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