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2023
CASA NOSSA SENHORA DA PAZ – AÇÃO SOCIAL FRANCISCANA, PROVÍNCIA
FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL –
ORDEM DOS FRADES MENORES
PRESIDENTE
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
DIRETOR GERAL
Jorge Apóstolos Siarcos
REITOR
Frei Gilberto Gonçalves Garcia, OFM
VICE-REITOR
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO
Adriel de Moura Cabral
PRÓ-REITOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO
Dilnei Giseli Lorenzi
COORDENADOR DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD
Franklin Portela Correia
CENTRO DE INOVAÇÃO E SOLUÇÕES EDUCACIONAIS - CISE
Franklin Portela Correia
REVISÃO TÉCNICA
Osmair Severino Botelho
PROJETO GRÁFICO
Centro de Inovação e Soluções Educacionais - CISE
CAPA
Centro de Inovação e Soluções Educacionais - CISE
DIAGRAMADORES
Daniel Landucci
O REVISOR TÉCNICO
INTRODUÇÃO
Caro(a) estudante, paz e bem!
Os elementos que apresentamos nesta introdução são importantes para que você bem
entenda de que modo os componentes curriculares do Núcleo de Formação Geral estão
estruturados a fim de oferecer uma experiência significativa de aprendizagem, contri-
buindo, assim, para sua formação profissional.
CONECTAR
Ética e Cidadania e a interdisciplinaridade
Ao pensarmos os conteúdos e problematizações deste componente, é importante en-
tender que ele não pode ser restrito a apenas um âmbito de vivência humana, pois
tudo o que o ser humano faz tem reflexo (direto ou não) na vivência plural. Enquanto
a ética busca pensar a ação do indivíduo, pautada por valores, a cidadania amplia a
visão de mundo e tenta enxergar de que modo o individual se transforma em coletivo: a
cidadania se refere à maneira como uma comunidade possibilita a participação de seus
membros na construção de uma vivência coletiva que permita a realização humana.
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` Em todas as suas escolhas – acadêmicas ou profissionais – você traz valores
aprendidos ao longo de sua vida. Onde tais valores encontram fundamento?
1
Você traz como princípios de vida algo que sua vivência familiar e social ensi-
nou. Pode ser por meio dos livros aos quais teve acesso; pode ser por meio de
uma vivência religiosa; ou, simplesmente, por meio da convivência nos diferentes
` Você pretende fazer uma pesquisa? Sabe quais caminhos seguir e de que modo
pode evitar problemas com seu conteúdo? Uma pesquisa alcançará mais suces-
so, quanto mais responder aos anseios da sociedade. E é importante entender
que, para algumas pesquisas, é necessário submeter o projeto ao Comitê de
Ética da instituição. Ainda mais: um trabalho autoral, sabendo como se utilizar de
fontes de pesquisa, evita graves problemas, como o plágio. Estas questões são
tratadas em Iniciação à Pesquisa Científica.
` Na vida profissional, possivelmente, você vai lidar com pessoas – mesmo que
seja indiretamente. Uma reflexão sobre o espaço de vivência para todos na so-
ciedade e no ambiente de trabalho é questão de oportunidades e não de ca-
pacidades. Não falamos mais de ‘gosto’, ou ‘preferência’; a igualdade e a não
discriminação são pilares de uma concepção de cidadania. Temas como estes
são problematizados em Direitos Humanos.
DESENVOLVER
O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS
A USF adota, como diretriz pedagógica, a educação por competências. Mas, você
sabe o que é a competência, ou quando alguém pode se entender competente?
Ética e Cidadania 9
Ética – sua essência e o cotidiano
SAIBA MAIS
1 A competência trata da maneira como lidamos com as situações que nos aparecem na vida
cotidiana. Neste sentido, é competente aquela pessoa que consegue dar conta das exigên-
cias que as diferentes situações impõem.
Mas, é possível aprender sobre todas as situações que a vida – profissional ou não – vai nos
apresentar? Claro que não; não há um curso sequer que possa dar conta disso.
Quando se fala em desenvolver competências, mais do que uma prática, o que se objetiva
é ensinar um modo de compreender as situações. A pergunta que deve ser feita não é “Eu
aprendi a fazer isso?”, mas sim “Que tipo de raciocínio eu aprendi, a partir deste caso, e que
vai me possibilitar resolver outros (mesmo que não sejam iguais)?”
Conheça as competências que devem ser desenvolvidas por meio dos estudos que o
componente Ética e Cidadania incitará:
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01. Definir o que são ética e moral, estabelecendo diálogo crítico com teorias e autores.
IMPORTANTE
Releia as competências apresentadas acima. Não se trata de um ideal construído de forma ale-
atória, mas de uma proposta de formação que indica aquilo em que a USF acredita, formando
você como profissional. São competências possíveis, mas que apenas podem ser desenvolvi-
das se você se aplicar aos estudos e atividades propostos.
PRATICAR
SAIBA MAIS
Releia as competências apresentadas acima. Não se trata de um ideal construído de forma ale-
atória, mas de uma proposta de formação que indica aquilo em que a USF acredita, formando
você como profissional. São competências possíveis, mas que apenas podem ser desenvolvi-
das se você se aplicar aos estudos e atividades propostos.
Ética e Cidadania 11
Ética – sua essência e o cotidiano
IMPORTANTE
Avalie suas competências, verificando:
` Habilidade – você sabe se utilizar dos conhecimentos para realizar uma prática que
seja eficiente, fazendo bem feito aquilo que se espera de um(a) bom(a) profissional?
SAIBA MAIS
Conheça mais sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável,
pesquisando em:
https://www.br.undp.org/content/dam/brazil/docs/agenda2030/undp-br-Agenda-
2030-completo-pt-br-2016.pdf
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Da Agenda 2030, foram pensados os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a partir
dos quais são delineadas áreas mais específicas para atuação das nações. São 17 ODS:
Veja que os ODS abarcam diferentes áreas e problemas que a humanidade enfrenta como
um todo. E, considerando-se que a USF objetiva oferecer uma formação integral, entende-
mos a importância de que a formação seja ampla e geral, ligada aos problemas e situações
diversas que você, como profissional, vai enfrentar. Neste sentido, os ODS devem ser trazi-
dos nas problematizações dos componentes curriculares.
SAIBA MAIS
Conheça mais sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil,
pesquisando em:
https://brasil.un.org/pt-br/sdgs
Ética e Cidadania 13
Ética – sua essência e o cotidiano
PRIMEIROS CONCEITOS
Nesta unidade, a primeira problematização a ser feita se refere ao que é, propriamente,
a ética – o que, por sua vez, nos leva a pensar sua relação com a moral. Ambos os con-
1
ceitos se relacionam à vida prática dos indivíduos, entendendo que a vida em sociedade
seja a tentativa de organizar a realidade de modo tal que permita a realização de todos.
Quase a totalidade das ações que podemos tomar tem reflexos na vida coletiva – por
isso, há uma clara necessidade de se refletir sobre as motivações e as possíveis conse-
quências das ações. Não é simples; porém, a ética, enquanto reflexão que vem sendo
desenvolvida desde séculos, apresenta ideias que podem ser aplicadas para se pen-
sar a prática. Significa que diversos pensadores contribuíram para a reflexão ética e
deixaram suas contribuições.
1. ÉTICA MORAL
14
Segundo Aristóteles (1992, p. 22), a finalidade da ética deve ser o de promover a fe-
licidade coletiva, o bem comum ou a excelência humana. Na obra Ética a Nicômaco,
Aristóteles apresenta a concepção dessa expressão empregando os seguintes termos
[...] parece que a felicidade, mais que qualquer outro bem, é tida como este 1
bem supremo, pois a escolhemos sempre por si mesma, e nunca por causa
de algo mais; mas as honrarias, o prazer, a inteligência e todas as outras
formas de excelência, embora as escolhamos por si mesmas [...], escolhe-
SAIBA MAIS
Leandro Karnal, no vídeo a seguir referenciado, comenta sobre a obra Ética a Nicômaco,
de Aristóteles, veja mais em: KARNAL, Leandro. Ética segundo Aristóteles, 2020. Vídeo (4
min. 09 seg.).
Para isso, é relevante refletir sobre os procedimentos e as virtudes que são fundamen-
tais para a realização do bem coletivo. O exercício da ética exige a busca do que os
gregos denominavam como areté, compreendida como melhor ação – portanto, um
comportamento virtuoso ou atitudes que buscam a excelência humana.
Ética e Cidadania 15
Ética – sua essência e o cotidiano
Fonte: 123RF
a felicidade coletiva por meio da reflexão
e da razão. A ética mede os elementos
favoráveis e desfavoráveis de cada ação
ou conduta, além de procurar condições
que contribuam para a convivência entre
diversos grupos e diferentes indivíduos,
dotados de morais distintas.
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que visam produzir convivência entre diferentes valores morais presentes nos indivídu-
os. Cada ação ética pressupõe a análise de quais são os impactos causados sobre dife-
rentes grupos e comunidades humanas constituídos por valores morais heterogêneos.
1
A ética parte do pressuposto de que os indivíduos, certas vezes, possuem um forte
sentimento, vontade ou impulso que surgem como um primeiro impacto quando nos en-
contramos em situações em que temos que agir de maneira imediata. Com indignação,
EXEMPLO
Quando vemos um indivíduo em condição vulnerável passar fome ou vivendo de maneira mi-
serável e decidimos oferecer alguma ajuda; ou quando vemos um idoso que tenta atravessar
a rua e de forma imediata e impulsiva, nós o auxiliamos; se somos favoráveis ou contrários ao
aborto ou legalização do uso de entorpecentes, nessas situações, agimos com gritos, gestos
bruscos de reprovação ou aceitação, visões e expressões mais singelas ou ríspidas. Todos
esses valores e comportamentos revelam o que é designado como senso moral.
SAIBA MAIS
Para saber mais a respeito da ética e o senso moral, recomendamos que você assista à aula
do professor Washington Soares, referenciada na sequência: SOARES, Washington. Ética
- Senso Moral e Consciência moral, 2020. Vídeo (6min. 13s.). Publicado na página do Prof.
Washington Soares, 2020.
Com o senso moral não há a necessidade de justificativa imediata, pois o conceito está
relacionado à formação e aos valores morais de um indivíduo, fundamentados em tra-
dições e costumes que originam e caracterizam comportamentos imediatos, portanto,
fundamentam o próprio senso moral. Situações que não entendemos de maneira com-
pleta ou posicionamentos tomados sem uma análise detalhada da realidade influenciam
a prática do senso moral.
Em uma de suas obras capitais para a introdução ao pensamento filosófico,
intitulada “Convite à filosofia”, Chaui (2000) escreve que esse sentimento
prova que nós somos seres morais, dotados de um senso de moralidade.
O sentimento despertado em nós prova a existência de um universo moral
e nos leva a pensar sobre o que é certo ou errado, justo ou injusto, bom ou
mau diante de situações de sofrimento e dor, principalmente quando envol-
vem crianças, seres inocentes que nos comovem por conta de sua fragilida-
de (BRAGA JUNIOR; MONTEIRO, 2016, p. 42).
Ética e Cidadania 17
Ética – sua essência e o cotidiano
EXEMPLO
Quando somos questionados sobre a legalização do aborto e caso haja um posicionamento
contra a partir de uma perspectiva de uma moral religiosa, será preciso justificar este mesmo
posicionamento para os indivíduos que nos cercam.
Figura 03. A ética visa o equilíbrio e coexistência A consciência moral é compreendida, as-
entre comportamentos morais heterogêneos sim, como a justificativa fundamentada a
partir da moral e fornece sentido às nos-
Fonte: 123RF
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[n]ossos sentimentos podem ser irracionais: eles podem ser nada mais do
que produtos do prejuízo, egoísmo ou condicionamento cultural. Em um
momento, por exemplo, os sentimentos das pessoas lhes disseram que os
membros de outras raças eram inferiores e que a escravidão era o plano de
Deus. Ademais, os sentimentos das pessoas podem ser muito diferentes 1
(RACHELS; RACHELS, 2013, p. 23).
Debates como o assunto de aborto e de legalização das drogas nos permitem, primeiro,
Nas últimas décadas, no entanto, países como Holanda, Bélgica, Espanha, Uruguai, en-
tre outros, têm concedido liberdade de uso de algumas drogas, como a maconha. Tais
posturas têm recebido adeptos mundo afora, segundo os valores da liberdade individual
e teses que amenizam os efeitos de certos entorpecentes. A partir dessa oposição de
valores morais surgem questões éticas, ou seja, reflexões, estudos e condutas em que
devemos observar, sendo possível promover o bem comum levando em consideração
a oposição entre diferentes valores morais.
PARA REFLETIR
No intuito de verificar valores morais e propiciar uma reflexão acerca de decisões éticas pos-
síveis para cada situação, observe, a seguir, outros problemas contemporâneos, de ordem
ética, que certamente produzem visões morais diferentes quando são discutidos:
` A ciência pode desenvolver, de forma autônoma, pesquisas genéticas com embriões humanos?
Ética e Cidadania 19
Ética – sua essência e o cotidiano
A ética, sob esse aspecto, afasta-nos de uma vida guiada por impulsos, caprichos e de-
sejos individuais que prejudicam o interesse coletivo. Por meio da elaboração racional
de princípios, condutas, normas, regras e leis que permitam a civilidade, a ética se torna
um elemento essencial para a construção do sentido de projetos de vida.
Devemos, neste ponto, destacar a distinção entre normas jurídicas e morais, pois am-
bas permeiam a vida cotidiana e em sociedade. As normas jurídicas são aquelas que
relacionam o indivíduo com o meio externo, ou seja, a sociedade como um todo e são
reguladas por meio de princípios e obrigações legais (constituição, leis, decretos, entre
outras normas estabelecidas coletivamente).
As normas morais pertencem ao campo mais restrito e íntimo dos indivíduos, sendo arti-
culadas com as motivações pessoais. Elas são reguladas pelas relações que concernem
aos laços familiares, comunitários, religiosos ou mesmo grupos cujas tradições e visões
de mundo representam amplo convívio, proximidade e compartilhamento de valores.
Quando, hoje, discutimos a preservação do meio ambiente, por exemplo, estamos ela-
borando um projeto de existência para as gerações futuras a partir de atitudes éticas
que são urgentes no presente. A forma como falamos, nossos gestos, propósitos pro-
fissionais, relações de trabalho e modos de agir considerados corretos estão presentes
no universo de formação das crianças e dos adultos. Todas essas ações podem ser
tidas como projetos de vida éticos, pois procuram organizar relações sociais em nome
da vida em sociedade.
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Figura 04. Mapa Conceitual
ÉTICA MORAL
1
Senso
Ciência Reflexão Problematizar Hábito Costume Tradição Valores
Variabilidade
Bem Felicidade Interesse
Comum coletiva coletivo
Senso Consciência
Moral Moral
` Filme
O filme Advogado do Diabo (1998) trata da vida profissional de Kevin Lomax, um jovem e
prodigioso advogado norte-americano. Ele se destaca por defender clientes inescrupulosos e
assassinos por meio de brechas que encontra nas leis. Ele é contratado pelo maior escritório
de advocacia de Nova York e passa a trabalhar na defesa de casos moralmente condenáveis.
A obra apresenta uma série de dilemas éticos e morais a respeito do trabalho e vida pessoal do
personagem. Após assistir ao filme, tente identificar três aspectos morais presentes no filme e
qual a decisão ética foi tomada pelo personagem principal.
` Texto Complementar
Indicação do livro A Política, de Aristóteles.
Ética e Cidadania 21
Ética – sua essência e o cotidiano
O que Aristóteles define como Zoon Politikon (animal político) está relacionado à no-
ção de que a política é um elemento natural e vivido de forma intensa e social na cidade
(Pólis em grego). Portanto, a política é o fundamento para a existência da vida moral e ética
1 dos sujeitos, pois a existência é dada em sociedade e será por meio dela que juízos, costumes,
tradições, regras e leis que constituem o convívio comum serão fundados.
Caso de aplicação 1
Um exemplo para você analisar como a moral esteve arraigada na vida dos indivíduos pode
ser verificado, a partir do fato histórico no qual, até aproximadamente a década 1960, a
maioria das sociedades possuía a visão de que as funções sociais das mulheres deveriam
se resumir aos cuidados domésticos. Ainda hoje é possível ver alguns grupos sociais defen-
dendo tal postura. No entanto, com o desenvolvimento do mercado de trabalho, a ascensão
de movimentos feministas e maior conscientização da sociedade, as mulheres passaram a
ocupar lugares importantes no meio social, como no mercado de trabalho, política e meios de
comunicação. Diferentemente de anos atrás, nos dias atuais é impossível imaginar empre-
sas, universidades e emissoras de rádio e TV sem elas, ainda que visões machistas predo-
minem em muitos setores da sociedade.
Com isso, vemos que a moral está sempre em transformação, de forma que é modificada ou
varia de acordo com o período histórico, ou conforme cada sociedade ou geração.
Com base no exposto, elabore um breve texto relatando outros exemplos de transformações de
visões morais na sociedade. Explique como é possível observar a moral nessas transformações.
Selecione uma matéria de jornal e revista para fundamentar a sua pesquisa. Pense em questões
em torno do mercado de trabalho, política, meios de comunicação ou mesmo educação.
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visando ao bem comum e à Eudaimonia, palavra que em grego clássico se relaciona à
felicidade e promoção da excelência humana realizada de modo coletivo.
O ethos é a morada do animal e passa a ser a «casa» (oikos) do ser huma-
no, não já a casa material que lhe proporciona fisicamente abrigo e proteção, 1
mas a casa simbólica que o acolhe espiritualmente e da qual irradia para a
própria casa material uma significação propriamente humana, entretecidas
por relações afetivas, éticas e mesmo estéticas que ultrapassam suas fina-
Aristóteles, portanto, atribui à ética a busca do equilíbrio, considerando que desse equi-
líbrio será possível produzir a felicidade, a excelência humana, a justiça e a virtude entre
os membros que constituem uma sociedade. Logo,
[t]oda arte e toda investigação, bem como toda ação e toda escolha, visam
a um bem qualquer, e por isso foi dito, não sem razão, que o bem é aquilo a
que as coisas tendem. Mas entre os fins observa-se uma certa diversidade:
alguns são atividades, outros são produtos distintos das atividades das quais
resultam; e onde há fins distintos das ações, tais fins são, por natureza, mais
excelentes do que as últimas (ARISTÓTELES, 1979, p. 49).
2.2 O HEDONISMO
Do grego hedonê (prazer), o hedonismo expressa um modelo de ética que tem como
principal objetivo para a vida (ou como suprema norma moral) a busca da felicidade e a
exaltação do prazer. Essa modalidade de ética foi pensada pela primeira vez pelo filósofo
grego Epicuro (341–270 a.C.) e influenciou pensadores romanos da Antiguidade conhe-
cidos como estoicos, entre eles Cícero (106 -43 a.C.), Lucrécio (94-50 a.C.), Horácio (65
a.C-8 d.C.), Sêneca (4 a.C. - 65 d.C.) e o imperador-filósofo Marco Aurélio (121-180 d.C.).
Epicuro partia da ideia de que a verdadeira virtude estava na realização dos prazeres.
Não devemos tomar o epicurismo ou o hedonismo de forma vulgar, pois não se reduzem
a uma satisfação cega e sem reflexão sobre os prazeres. O prazer deve trazer o bem-es-
tar. Epicuro fundou um grande jardim na periferia de Atenas, lugar que ficou conhecido
como “O Jardim de Epicuro”. O local foi resultado de uma mudança de postura, em que
o filósofo viu a necessidade de se distanciar dos problemas da cidade da pretensão de
promover a virtude no espaço público. A política é fonte de avareza e corrupção.
Ética e Cidadania 23
Ética – sua essência e o cotidiano
GLOSSÁRIO
1 O jardim reunia discípulos (escravos e cidadãos livres) que procuravam a virtude no equilíbrio
entre os diferentes prazeres – nas bebidas, amizades, sexo, banquetes e afins. Não se deve
concentrar o prazer em apenas uma única atividade (caso contrário, produzirá o vício), mas
equilibrar os diferentes prazeres fornecidos pelo corpo.
Epicuro buscava a chamada ataraxia, conceito que representa o equilíbrio entre os pra-
zeres em seu jardim em meio à natureza e distante dos problemas da cidade. O filósofo
e poeta romano Horácio (65 a.C. – 8 d.C.), inspirado no epicurismo, concebe o “Carpe
diem quam minimum credula póstero” (ao qual traduzimos ao português como Aprovei-
ta o dia e confia o mínimo possível no amanhã), concepção incorporada pelo Arcadismo
(movimento literário do século XVIII).
GLOSSÁRIO
O Arcadismo foi um movimento literário desenvolvido na Europa, durante o século XVIII. Ca-
racterizou-se por valorizar a vida humana em meio à natureza, ou seja, a existência bucólica
exercida com simplicidade. No Brasil, o movimento se deu em Minas Gerais também, no sé-
culo XVIII, e se envolveu com o movimento da Inconfidência Mineira. Seus principais autores
foram Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa e Basílio da Gama.
2.3. O CONTRATUALISMO
A partir dos séculos XVI e XVII, com a ascensão da Modernidade, surgiram novas mo-
dalidades de ética com objetivo de atender a novas demandas que surgiam com a
nova sociedade e formas de pensamento. Entre as transformações que constituem a
Modernidade estão o surgimento de uma sociedade capitalista e o fortalecimento da
burguesia, industrial e de defesa da liberdade econômica e política.
24
Temos como exemplos de contratos: leis, pactos sociais, documentos e impostos. Por
meio da existência do contratualismo, é possível notar como a sociedade moderna ga-
rante a sobrevivência de trocas comerciais, acordos políticos ou relações sociais de
qualquer espécie. O contratualismo é, à vista disso, uma forma moderna de ética que 1
visa consolidar relações sociais racionais, seguras e legitimadas por meio de pactos,
contratos ou acordos considerados legais.
Na obra Fundamentação metafísica dos costumes (1785), Kant valoriza a razão moder-
na aplicada ao direito e à ética, responsável por se opor à tradição maquiavélica fun-
damentada na teleologia (nos fins). Kant estabelece a deontologia (do grego deon, que
significa obrigação ou dever moral) (conferir texto complementar e mapa mental) como
ciência do dever. Isto é, obrigação racional que deve ser realizada, necessariamente, a
todo custo, independentemente das consequências, pois considera que tudo que tem
origem na razão seria benéfico ou positivo à humanidade.
Kant foi o mais importante pensador alemão a se declarar Iluminista, de modo que ali-
mentava grande crença nos benefícios da razão humana. Dessa forma, importam os
meios racionais ou mesmo os meios se confundem com os fins, pois confia que a razão
conduziria a humanidade ao bem e à verdade, não podendo ela ser questionada.
Ética e Cidadania 25
Ética – sua essência e o cotidiano
Caso de aplicação 2
O que fazer?
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2.6. A ÉTICA DO DISCURSO (J. HABERMAS)
Durante o século XX, novos dilemas éticos permitiram o surgimento de novas pers-
pectivas conceituais ou, ao menos, a verificação de questões pertinentes ao diá-
logo consensual e racional, consumo e relação com outras culturas, considerando 1
a expansão da globalização.
Observarmos, assim, que uma sociedade é constituída por uma pluralidade de vozes, de
modo que uma ação racional é consolidada de maneira coletiva e não individual, desde que
haja sensibilização e afeto em relação à condição e às percepções daqueles que se apresen-
tam a nós como diferentes.
2.7 RELATIVISMO
O relativismo é um princípio que passa a ser promovido, principalmente entre o final do
século XIX e durante o século XX. Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão, é conside-
rado um dos principais teóricos dessa perspectiva. Na Antropologia norte-americana
do século XX, os pensadores denominados como culturalistas (Franz Boas e Clifford
Geertz) desenvolveram o chamado relativismo cultural.
Ética e Cidadania 27
Ética – sua essência e o cotidiano
2.8. FUNDAMENTALISMO
O fundamentalismo ocorre para quem os conceitos, profissões de fé, doutrinas políti-
cas ou deveres morais devem ser extraídos de uma fonte tida como superior e externa
(Estado, religião, líder, imposições do mercado) ao ser humano. Isso significa afirmar
que o indivíduo se submete a uma ordem superior à sua própria vontade, pois a julga
racionalmente correta e inquestionável. Muitas vezes, o fundamentalismo é visto como
obediência cega diante da autoridade de um terceiro. Do ponto de vista da religião, co-
nhecemos os chamados fundamentalistas religiosos.
28
Caso de aplicação 3
Investigue duas reportagens ou matérias em jornais e revistas recentes que ilustrem esta si-
tuação. Em seguida, faça uma análise desses materiais levando em consideração conceitos
éticos em torno do utilitarismo e relativismo. Aponte quais as soluções éticas poderiam ser
tomadas a respeito disso.
KANT MAQUIAVEL
Deontologia Teleologia
CALCULISMO E JOGO
IMPORTAM OS FINS
DE FORÇAS
MEIOS MAIS
DEVER MORAL
IMPORTANTES QUE
RACIONAL
OS FINS
` Filme
Um mercado Relativista
O filme The Corporation (2003) mostra três exemplos impactantes do relativismo
aplicado ao cenário empresarial. Podemos destacar, primeiramente, a Monsanto
(uma das maiores empresas produtoras de sementes e derivados de leite do mundo
Ética e Cidadania 29
Ética – sua essência e o cotidiano
e que tem atuação no Brasil). Para aumentar a produtividade de vacas leiteiras nos
EUA e, consequentemente, os seus lucros, a Monsanto é acusada de ter aplicado
1 nesses animais hormônios que significativamente elevaram o nível de produção.
No entanto, sem se importar com os impactos causados sobre as vacas e os con-
sumidores, descobriu-se que os hormônios, na verdade, facilitam a proliferação de
bactérias que levam os animais à morte. O produto contaminado é ingerido pelos
clientes, sem que a Monsanto preocupe-se com as suas condições.
` Texto Complementar
Maquiavel nunca escreveu a expressão “os fins justificam os meios”, porém, sua
obra permite relacioná-la com essa ideia, pois julga que, para consolidar o poder,
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o governante tudo pode e deve, como: matar, mentir, agir com hipocrisia, demitir,
distorcer informações, ser amado pelo povo e ser temido pelos inimigos, tornar ini-
mizades em novos amigos ou oposto, promover e buscar ora a guerra, ora a paz. 1
Tudo isso segundo a situação, interesse e conveniência.
Com a ética de Maquiavel considera-se que ela visa fins, o que é designado com
a palavra teleologia (do grego telos, que significa fim, finalidade, objetivo; e logos:
discurso, razão ou racionalidade). Sendo assim, a teleologia representa o estudo dos
fins ou das finalidades, sendo um modelo ético em que fins, resultados ou consequên-
cias são calculados pelo indivíduo, podendo ser utilizado em qualquer meio possível.
Na realidade, o ser humano, na visão de Sartre, nasce “condenado a ser livre”, de maneira
que suas escolhas o tornam livre para a todo instante modificar o seu ser (SARTRE, 1984,
p. 9). Isso significa que o indivíduo é construído e se constrói por meio do seu vínculo com a
realidade, com o mundo à sua volta.
Sartre afirma, nessa direção, a liberdade como sinônimo de fazer escolhas e tomar
decisões. Nossas escolhas e decisões modelam quem somos, são atitudes livres, cuja
origem é particular a cada indivíduo. O resultado dessa liberdade (nossas escolhas e
decisões) é a constituição de tudo aquilo que somos e que podemos vir a ser.
Com a afirmação de que o ser humano se caracteriza pela liberdade, Sartre se opôs
à noção de natureza humana, entendida como elemento determinista ou fatalista,
cuja defesa limita a liberdade humana e condena os indivíduos a pensarem que não
são o resultado de suas próprias escolhas. O autor também se contrapôs à tradi-
Ética e Cidadania 31
Ética – sua essência e o cotidiano
Sartre considera que a humanidade vive condenada à liberdade. Posto de outro modo, ser
livre expressa que a todo instante estamos fazendo escolhas ou projetamos nossa subjetivi-
dade no mundo a partir de nossas decisões.
` Cada escolha (ou projeto que façamos) não se realizará no futuro tal como o
planejamos originalmente no presente. Isso porque nossas escolhas e liberda-
des se encontram em uma relação de tensão com o mundo a nossa volta, pois há
nele incontáveis subjetividades dos outros que estão também promovendo esco-
lhas, ações livres e tomadas de decisões que se chocam com nossos próprios pro-
jetos. Por isso, o filósofo afirma em diferentes obras que “o inferno são os outros”.
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Na perspectiva ética existencialista, a angústia e a náusea têm origem no fenômeno
que Sartre define como nadificação. Este conceito implica na noção de que o que
somos é resultado das decisões que conduziram a resultados diferentes ao espera-
do, além de elementos que limitaram nossas escolhas e nos conduziram ao fracas- 1
so. Cada decisão, cada escolha exercida por um sujeito está em relação de tensão
com as liberdades dos outros indivíduos. As liberdades e as escolhas presentes e
exercidas por todas as demais subjetividades entram em contradição ou oposição
Em outras palavras, a nadificação diz respeito a tudo aquilo que barra ou limita a liberdade,
são ações diferentes daquelas que planejamos ou mesmo desvios que a liberdade opera
sobre a realidade na qual estamos inseridos, transformando-a.
Embora até aqui o pensamento ético de Sartre pareça ser pessimista, visto que a nadifi-
cação produz resultados diferentes aos projetados por nossa liberdade e fazer escolhas
ocasiona em náusea e angústia, porque decidir significa abandonar outras possibilida-
des de vida, o filósofo afirma ser o existencialismo uma posição ética humanista e
otimista (SARTRE, 1984, p. 3-32). De acordo com o existencialismo, a liberdade é ta-
manha que, apesar da tensão com as escolhas dos outros e os permanentes riscos de
nadificação, somos suficientemente livres para contornar e superar fracassos, desvios
e a concorrência que travamos com as decisões dos outros.
Na visão de Sartre, por sermos livres e por tomarmos decisões a todo instante, temos
condições de superar as limitações com as quais nossa liberdade se depara. É nesse
sentido que o existencialismo é considerado um humanismo, posto que apresenta oti-
mismo com a capacidade que possuímos de projetar a liberdade de modo a nos tornar
seres em constante adaptação e transformação à medida que estamos no mundo e em
contato com os outros.
Ética e Cidadania 33
Ética – sua essência e o cotidiano
tal como quando escolhemos estudar e nossa profissão auxilia a vida de outros sujeitos,
passamos a nos dar conta de como nossas decisões influenciam e são influenciadas
pelas escolhas dos outros.
1
Max Weber (1864-1920), no início do século XX, foi outro pensador importante a tecer
relações entre ética e responsabilidade. Nos seus dois ensaios publicados em 1919,
Ciência como Vocação e Política como Vocação, o autor diferencia os conceitos que
definiu como ética da convicção e ética da responsabilidade. Para ele,
[...] toda atividade orientada pela ética pode subordinar-se a duas máximas
totalmente diferentes e irredutivelmente opostas. Ela pode orientar-se pela
ética da responsabilidade ou pela ética da convicção. Isso não quer dizer
que a ética da convicção seja idêntica à ausência de responsabilidade e
a ética da responsabilidade à ausência de convicção. Não se trata eviden-
temente disso. Todavia, há uma oposição abissal entre a atitude de quem
age segundo as máximas da ética da convicção - em linguagem religiosa,
diremos: “O cristão faz seu dever e no que diz respeito ao resultado da ação
remete-se a Deus” - e a atitude de quem age segundo a ética da responsa-
bilidade que diz: Devemos responder pelas consequências previsíveis de
nossos atos (SROUR, 2000, p. 50)
A ética da convicção diz respeito a um dever moral que por ser considerado racional
deve ser realizado independentemente das consequências. Weber remete à deontolo-
gia criada por Kant (1724-1808 d.C.), no final do século XVIII (ver mapa mental), para
conceber a ética da convicção.
EXEMPLO
Imagine um médico que cria como valor moral jamais mentir por considerar que dizer a verda-
de é sempre a atitude mais racional e razoável. No entanto, suponha um paciente em estado
terminal que pergunta qual é a sua condição após a análise de um exame. Certamente, o
paciente receberá as palavras mais pessimistas e desagradáveis anunciadas pelo médico
que prometeu jamais mentir. Dirá as verdades que podem ser desconcertantes, levando o
paciente ao desespero e lágrimas. Weber afirma que a ética da convicção possui aspectos
negativos, porque os meios se confundem com os fins, ou seja, o dever se torna mais rele-
vante do que as consequências, ao passo que elas podem ser desastrosas.
34
Sabendo que são palavras mentirosas, porém confortáveis ao paciente, elas poderiam
motivar seu paciente a não desistir e a aceitar a gravidade de sua doença. Na ética da
responsabilidade, os fins são mais relevantes que os meios.
1
SAIBA MAIS
UM POLÍTICO não pode fugir das responsabilidades dos seus atos, 2019. Vídeo (2min 37s).
Publicado pelo canal Café Filosófico CPFL.
No século XVIII, Adam Smith conseguiu demonstrar, na sua A riqueza das nações, que
o lucro não é um acréscimo indevido, mas um vetor de distribuição de renda e de pro-
moção do bem-estar social. Com isso, logrou expor pela primeira vez a compatibilidade
entre ética e atividade lucrativa (MOREIRA, 1999, p. 28).
Para Smith (1996), o mercado deveria funcionar segundo preceitos éticos individualis-
tas, o que designou como “mão invisível”, a partir da qual o
[...] indivíduo procura, na medida do possível, empregar seu capital em fo-
mentar a atividade nacional e dirigir de tal maneira essa atividade que seu
produto tenha o máximo valor possível [...]. Geralmente, na realidade, ele
não tenciona promover o interesse público nem sabe até que ponto o está
promovendo. Ao preferir fomentar a atividade do país e não de outros países
ele tem em vista apenas sua própria segurança; e orientando sua atividade
de tal maneira que sua produção possa ser de maior valor, visa apenas a
seu próprio ganho e, neste, como em muitos outros casos, é levado como
que por mão invisível a promover um objetivo que não fazia parte de suas
intenções (SMITH, 1996, p. 438).
O autor supracitado cria a percepção de que a economia é uma esfera ética à medida que
o mercado, aparentemente caótico, é, na realidade, organizado e produz as espécies e
quantidades de bens que são mais desejados pela população. Quanto mais egoísta e
competitivo for um indivíduo e quanto mais obtiver riquezas por meio de seu trabalho,
Ética e Cidadania 35
Ética – sua essência e o cotidiano
Figura 08. Monumento de Adam Smith na indiretamente ele contribuirá com o progresso de
Royal Mile de Edimburgo outros indivíduos competitivos, por meio da com-
pra de outros serviços ou mercadorias, de modo
Fonte: 123RF
1 que ocorre o progresso coletivo.
Caso de aplicação 4
Os desequilíbrios sobre o clima causados pela ação humana foram estimulados pelos lucros
das grandes multinacionais.
Sugestões de leitura:
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3.4 A REGRA SOCIAL E OS VALORES DO INDIVÍDUO
Hannah Arendt (1906-1975), filósofa alemã, concebeu o conceito de banalidade do mal,
descrito na obra Eichmann em Jerusalém – um relato sobre a banalidade do mal (1963).
O livro apresenta uma importante reflexão sobre limites e tensões da relação entre regras 1
coletivas e valores individuais, que pode ser traduzida nas seguintes questões:
` É ético obedecer a leis quando elas podem produzir algum malefício a outros
humanos?
Hannah Arendt foi convidada pela revista The New Yorker para acompanhar o processo
e julgamento, em Israel, de Adolf Eichmann, um oficial nazista responsabilizado por
operações de extermínio de milhões de civis prisioneiros durante a Segunda Guerra
Mundial, que foi capturado na Argentina, em 1961, e julgado em Jerusalém.
Hannah Arendt descreve o oficial como um sujeito medíocre, pois ele renunciou pensar
ou refletir nas consequências dos seus atos. Eichmann, obediente às regras impos-
tas coletivamente, mas sem pensar criticamente sobre elas, conduziu ao extermínio
milhares de pessoas. Em virtude dessa observação, Hannah Arendt (1999, p. 144-5)
pondera que, na banalidade do mal, verifica-se a renúncia da humanidade, a ausência
de reflexão sobre os próprios atos, promovendo a falta de responsabilidade, isto é, não
se medem as consequências das ações.
A banalidade do mal ilustra que, muitas vezes, a obediência mais fiel às leis poderia
criar reflexos contra a própria humanidade, porque distancia o indivíduo da responsa-
bilidade com os outros semelhantes, tornando-o adepto de atitudes desumanas. Não
esqueçamos que os campos de concentração, de forma sistemática e organizada, pro-
moviam o trabalho escravo e o extermínio de humanos.
A banalização do mal surge quando outros indivíduos são tratados de forma irresponsável,
quando avaliados como meros números, ou são desumanizados por uma ordem legal que
pode ser considerada cega.
Ética e Cidadania 37
Ética – sua essência e o cotidiano
Deontologia Teleologia
MEIOS MAIS
DEVER MORAL REFLEXÃO E CÁLCULO
IMPORTANTES IMPORTAM OS FINS
RACIONAL SOBRE RESULTADOS
QUE OS FINS
CERTEZA NAS
CONFIANÇA É RESPONSÁVEL PORQUE
CONSEQUÊNCIAS MEDE AS CONSEQUÊNCIAS
NA RAZÃO MEDE PRÓS E CONTRAS
BENÉFICAS
` Filme
38
` Texto Complementar
A Reforma Protestante, segundo Weber, deu origem à ascese, entendida como a busca
constante do domínio e controle do próprio corpo, disciplina rígida diante das paixões,
visando finalmente ao controle sobre a natureza por meio da ação metódica e calculada.
Diferentemente do catolicismo (que na Idade Média negava o trabalho como fonte de
riquezas), a conduta de vida protestante, sobretudo a calvinista, desenvolveu uma ética
que prevê a racionalização da atividade mundana e, portanto, que se realiza por meio
do trabalho rígido e do negócio (negação do ócio), enquanto formas de demonstração
a si mesmo de que se é um escolhido por Deus, ou seja, um predestinado à salvação.
O ponto central da análise que Weber realiza sobre a ética do trabalho é a de que
indiretamente, ou seja, sem o saber, os protestantes inventaram as práticas racio-
nalizadoras que foram incorporadas pelo capitalismo. Certamente, indivíduos de
outras religiões e até mesmo ateus teriam percebido o rápido progresso econômico
dos fiéis puritanos e começaram a imitar a ética do trabalho, mas agora sem a sua
religiosidade original. Pode-se dizer que as práticas econômicas adotaram a ética
do trabalho, mas o vínculo entre a religiosidade e a racionalidade evaporou-se.
Ética e Cidadania 39
Ética – sua essência e o cotidiano
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: um retrato sobre a banalidade do mal. São Paulo, Companhia
das Letras, 1999.
1
ARISTÓTELES. A política: 2. ed. Rio de Janeiro: Aguilar, 1973.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Livro I. São Paulo: Abril Cultural, 1979. (Coleção Pensadores).
BRAGA JUNIOR, Antonio Djalma; MONTEIRO, Ivan Luiz. Fundamentos da ética. Curitiba: InterSaberes, 2016.
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Barcarolla e Discurso Editorial, 2009.
MOREIRA, Joaquim Manhães. A ética empresarial no Brasil. São Paulo: Pioneira Cengage, 1999.
RACHELS, James; RACHELS, Stuart. Os elementos da filosofia moral. Porto Alegre: AMGH, 2013.
SARTRE, Jean Paul. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Abril, 1984. (Col. Os Pensadores).
SARTRE, Jean Paul. O Ser e o Nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Petrópolis: Editora Vozes, 1997.
SMITH, Adam. A riqueza das nações. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1996.
VAZ, Henrique Claudio de Lima. Escritos de filosofia II: ética e cultura. São Paulo: Loyola, 1988.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1999.
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