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INICIAÇÃO À PESQUISA

CIENTÍFICA
INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA
Guilherme Siqueira Arinelli
Mayra Moreira da Costa
Debora Meyhofer Ferreira
Andrea Helena Ferreira Braga
Rodrigo Gouvêa Taketani

2024
CASA NOSSA SENHORA DA PAZ – AÇÃO SOCIAL FRANCISCANA, PROVÍNCIA
FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL –
ORDEM DOS FRADES MENORES

PRESIDENTE
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
DIRETOR GERAL
Jorge Apóstolos Siarcos
REITOR
Frei Gilberto Gonçalves Garcia, OFM
VICE-REITOR
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO
Adriel de Moura Cabral
PRÓ-REITOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO
Dilnei Giseli Lorenzi
COORDENADOR DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD
Franklin Portela Correia
CENTRO DE INOVAÇÃO E SOLUÇÕES EDUCACIONAIS - CISE
Franklin Portela Correia

PROJETO GRÁFICO
Centro de Inovação e Soluções Educacionais - CISE
CAPA
Centro de Inovação e Soluções Educacionais - CISE
DIAGRAMADORA
Andréa Ercília Calegari

© 2024 Universidade São Francisco


Avenida São Francisco de Assis, 218
CEP 12916-900 – Bragança Paulista/SP
OS AUTORES

GUILHERME SIQUEIRA ARINELLI


Doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (Bolsista
CNPq), com estágio doutoral (Bolsista CAPES) no Departamento de Psicologia, Gra-
duate Center, da City University of New York (CUNY, EUA). Psicólogo (2014) e Mestre
em Psicologia (2017), pela PUC-Campinas. Membro da International Society for Cultu-
ral-Historical Activity Research (ISCAR), desde 2019, e responsável técnico pelo site da
seção brasileira da sociedade. Membro do grupo de pesquisa Processos de Constitui-
ção do Sujeito em Práticas Educativas (PROSPED), da PUC-Campinas, desde 2012.
Atua na área da Psicologia Escolar e Educacional com interesse em desenvolvimento
humano, processos educativos e orientação profissional. Adota como aporte teórico-
-metodológico para as pesquisas e análises realizadas a Psicologia Histórico-Cultural,
sobretudo os conceitos desenvolvidos por Lev S. Vigotski.

MAYRA MOREIRA DA COSTA


É licenciada em filosofia pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), mestre em
Lógica e Filosofia da Ciência pelo Programa de Pós - Graduação em Filosofia da Uni-
versidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e doutoranda em Lógica, Ciência, Mente e
Linguagem pelo Programa de Pós - Graduação em Filosofia da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG). Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Lógica
e Filosofia da Ciência, atuando principalmente nos seguintes temas: Introdução à Filo-
sofia Analítica, Introdução à Lógica, Lógicas Modais, Metafísica da Causalidade, Me-
tafísica do Tempo, Filosofia da Física, Modelos Causais Quânticos, Inferência Causal
Estatística e Fundamentos da Bioeconomia.

DEBORA MEYHOFER FERREIRA


Possui graduação em Engenharia Eletricista - modalidade eletrônica pela Universidade
São Francisco - Itatiba (1999) e mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade Es-
tadual de Campinas (2007) na área de telecomunicações. A licenciatura em matemática
foi concluida em 2012, assim como a Especialização em Docência no Ensino Superior.
Atualmente é professora da Universidade São Francisco nos cursos de Engenharia
Elétrica e Computação. Faz doutorado em Educação na Universidade São Francisco
na área de formação de professores - engenheiros e participa do grupo de pesquisa
HIFOPEM (Historia de Formação de Professores que Ensinam MAtemática).
ANDREA HELENA FERREIRA BRAGA
Possui graduação em Bacharelado em Química Tecnológica pela Universidade Esta-
dual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2002), mestrado em Alimentos e Nutrição pela
Universidade Estadual de Campinas (2006) e doutorado em Alimentos e Nutrição pela
Universidade Estadual de Campinas (2013). Durante a pós-graduação (2004-2010) mi-
nistrei aulas práticas de Controle de Qualidade no Programa de Estágio Docente da
UNICAMP para o curso de Engenharia de Alimentos. Faz parte do corpo docente da
Universidade São Francisco (USF) é professora de Química e Ciência dos Materiais,
Química Inorgânica Fundamental e de Globalização e Desenvolvimento Sustentável
para os cursos de Engenharia da Computação, Engenharia Química, Engenharia Me-
cânica, Engenharia de Produção e Engenharia Elétrica (desde agosto de 2014 até o
momento). Atualmente tem um projeto de pesquisa em andamento com embalagens
biodegradáveis a base polímeros naturais com apoio da USF.

RODRIGO GOUVÊA TAKETANI


Possui graduação em Microbiologia e Imunologia pela UFRJ (2001), mestrado em Ci-
ências (Microbiologia) pela UFRJ (2004) e Doutorado em Microbiologia também pela
UFRJ com estágio sanduiche na University of Groningen (Países baixos) (2007). Tra-
balhou como Pós-Doutor no Centro de Energia Nuclear na Agricultura - USP e na EM-
BRAPA Meio Ambiente onde atuou como Jovem Pesquisador (FAPESP). Atualmente,
atua como pós-doutorando em Rothamsted Research (Reino Unido). Tem experiência
na área de Ecologia Microbiana com enfase no uso de ferramentas moleculares para
avaliação da diversidade microbiana e diversidade funcional incluindo métodos aplican-
do sequenciamento em larga escala.
SUMÁRIO

[Disponível no livro completo]


Sonhando com uma viagem inesquecível: O Planejamento UNIDADE 1

SONHANDO COM UMA


VIAGEM INESQUECÍVEL: O
1
PLANEJAMENTO

INTRODUÇÃO
Trazemos, de nossa história de estudos, diferentes vivências educacionais; porém, uma
coisa é certa: quase 100% de nossa experiência vem do ensino presencial. Significa
que, durante muito tempo, entendemos que a educação apenas era possível dentro do
modelo que coloca professor e alunos em um mesmo espaço e tempo (sala de aula),
a partir do que um conteúdo era ensinado. Mas isto não tem nada de novo, já que há
séculos assim se dá.

A pergunta que fazemos, então, é: se o contexto mudou e diferentes tecnologias foram


desenvolvidas, por que continuar a realizar a educação do mesmo modo? A Universi-
dade São Francisco – USF entende que, além de importante, a mudança é necessária.
Mas, já que se trata de uma proposta diferenciada, é importante entender de que modo
é possível alcançar sucesso nos estudos por meio dela.

Iniciação à Pesquisa Científica é um dos componentes que constituem o Núcleo de


Formação Geral – juntamente com Estudo do Ser Humano Contemporâneo, Ética
e Cidadania, Direitos Humanos e Empreendedorismo Social –, que são oferecidos
integralmente a distância. Estes componentes serão trabalhados de forma interdisciplinar:
os conteúdos de cada um servirão para construir um entendimento de mundo e uma
maneira de problematizar a realidade. Eles, conjuntamente, oferecerão novas chaves
para que você possa reinterpretar a realidade.

Esta Unidade 1 tem o objetivo de apresentar alguns elementos importantes para que
você bem entenda de que modo os componentes curriculares do Núcleo de Formação
Geral estão estruturados, a fim de oferecer uma experiência significativa de aprendiza-
gem, contribuindo, assim, para sua formação profissional.

Depois disso, partiremos para uma breve introdução à história da ciência, tendo em
vista sua distinção, importância, evolução e aplicabilidade. Em seguida, atravessare-
mos o conceito, a importância e a natureza do conhecimento, por uma diferen-
ciação entre: conhecimento por contato, conhecimento por descrição, conhecimento
prático, conhecimento popular, conhecimento científico e conhecimento acadêmico. Por
fim, partiremos para uma breve apresentação da teoria tradicional do conhecimento,
atentando para o critério de justificação, característico do empreendimento científico.

Ao longo desta unidade, também abordaremos a leitura especializada de textos cien-


tíficos. Buscaremos salientar a importância da leitura para a investigação científica e
o fato de que podemos usar regras básicas de leitura para facilitar a aprendizagem e

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a melhoria da escrita, aprimorando, desse modo, nossa vida acadêmica e profissional.
Apresentaremos as etapas da leitura científica, evidenciando a necessidade de in-
terpretação adequada de resultados, argumentos e teses de textos científicos, bem
como sua análise crítica em oposição à leitura passiva ou decorada. Abordaremos, 1
além disso, o chamado método cartesiano de pesquisa, tendo em vista a ordenação
eficaz da nossa trajetória de investigação. Esses passos são alicerces fundamentais da
pesquisa científica rigorosa.

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Por fim, apresentaremos os diferentes instrumentos de divulgação científica (relató-
rios, artigos científicos, teses, dissertações e monografias) e a estrutura básica comum
a todos os trabalhos acadêmicos. Também ofereceremos uma breve introdução a mé-
todos, técnicas e regras fundamentais de análise e escrita de textos científicos.

1. INICIAÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA: INTERDISCIPLINARI-


DADE E COMPETÊNCIAS RELACIONADAS
O componente curricular de Iniciação à Pesquisa Científica é de extrema relevância
para a vida acadêmica; os conteúdos apresentados servirão de base para todo o curso
de graduação e para a sua atuação profissional futura. Podemos comparar todo o
processo de uma Pesquisa Científica a uma viagem inesquecível, ao final da qual você
será capaz de compreender as suas principais etapas e como aplicá-las, reconhecer
a importância do conhecimento científico para o desenvolvimento social e tecnológico,
aprimorar a arte da leitura, da análise e interpretação de textos, elaborar trabalhos
acadêmicos de acordo com as normas técnicas vigentes e apresentar trabalhos nas
formas escrita e oral.

Estes propósitos estão configurados através dos conteúdos e mecanismos de compreen-


são propostos, mostrando como a produção científica pode se tornar uma tarefa prazero-
sa. Dedicamo-nos a explicitar um entendimento do que seja pesquisa e seus elementos
essenciais, esforçando-nos por encaminhar você para a produção, elaboração e trans-
missão de novos conhecimentos embasados na capacidade de descoberta e criação.

Assim, você é convidada(o) a se aventurar nesta viagem fantástica, acreditando no futu-


ro, na ciência, no conhecimento, na pesquisa e, sobretudo, na interdisciplinaridade. Mas
como a Iniciação à Pesquisa Científica pode contribuir com esse desafio, considerando
os outros componentes do Núcleo de Formação Geral?

Em primeiro lugar, é importante considerar que a interdisciplinaridade é uma uma pos-


tura inovadora na modalidade da pesquisa científica. É pela interdisciplinaridade que
se busca superar o pensamento fragmentado e dar abertura para a riqueza e complex-
idade das relações que compõem todas as subjetividades. A partir da vivência prática
combinada a uma postura crítica e reflexiva, torna-se possível construir novos significa-
dos às fundamentações epistemológicas, ontológicas e existenciais em busca de uma
autonomia emancipatória e libertadora.

Devemos considerar também a importância da Iniciação Científica na graduação relacio-


nada às contribuições no processo interdisciplinar, uma vez que ela estimula a curiosidade
sobre diversos temas, o desenvolvimento intelectual e o senso investigativo da realidade,

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Sonhando com uma viagem inesquecível: O Planejamento

permite conhecer novas possibilidades de se inserir no mercado de trabalho, possibilita


uma formação integral e com mais qualidade, capacita para uma futura vida acadêmica e
profissional, e oportuniza contato com diferentes pesquisadores, entre outros.
1
Enfim, no Núcleo de Formação Geral, o componente Iniciação à Pesquisa Científica, por
meio da realização de pesquisa e produção científicas, traz o conhecimento interdiscipli-
nar, por meio do qual você poderá identificar evolução e engrandecimento em sua forma-
ção ética, moral, social e profissional, com benefícios para si e para toda a sociedade.

O desenvolvimento de competências
A USF adota, como diretriz pedagógica, a educação por competências. Mas, você
sabe o que é a competência, ou quando alguém pode se entender competente?

SAIBA MAIS
A competência trata da maneira como lidamos com as situações que nos aparecem na vida
cotidiana. Neste sentido, é competente aquela pessoa que consegue dar conta das exigên-
cias que as diferentes situações impõem.

Mas, é possível aprender sobre todas as situações que a vida – profissional ou não – vai nos
apresentar? Claro que não; não há um curso sequer que possa dar conta disso.

Quando se fala em desenvolver competências, mais do que uma prática, o que se objetiva
é ensinar um modo de compreender as situações. A pergunta que deve ser feita não é “Eu
aprendi a fazer isso?”, mas sim “Que tipo de raciocínio eu aprendi, a partir deste caso, e que
vai me possibilitar resolver outros (mesmo que não sejam iguais)?”

Figura 01. O desenvolvimento de competências

Fonte: Elaborado pelo autor / Imagens: Pixabay.com

Desenvolver competências é desenvolver a habilidade de resgatar esquemas mentais que


possam ser encaixados em diferentes situações. O célebre autor que grandemente tratou da
temática das competências é Philippe Perrenoud (1944-).

Para conhecer mais, assista ao vídeo Pensadores na Educação: Perrenoud e o desenvol-


vimento de competências:

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lYvoCDRCfOw

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Conheça as competências que devem ser desenvolvidas por meio dos estudos que o
componente Iniciação à Pesquisa Científica trará:

01. Compreender a importância da pesquisa e investigação científicas, vinculando


1
aprendizagem, consumo crítico e elaboração de trabalhos científicos.

02. Identificar a responsabilidade social do pesquisador, articulando cotidiano e ciência.

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03. Desenvolver espírito investigativo, criatividade e iniciativa, discriminando proce-
dimentos didáticos e metodológicos para a pesquisa científica.

04. Transferir conhecimentos da vida e da experiência científica para o ambiente de


trabalho, revelando-se profissional competente, ético e responsável.

IMPORTANTE
Releia as competências apresentadas acima. Não se trata de um ideal construído de forma
aleatória, mas de uma proposta de formação que indica aquilo em que a USF acredita, for-
mando você como profissional. São competências possíveis, mas que apenas podem ser
desenvolvidas se você se aplicar aos estudos e atividades propostos.

Diferentes objetos de aprendizagem para diferentes formas de aprender


O desenvolvimento de competências pode se dar de diferentes modos, de acordo com o
objetivo que se tem. Cada componente curricular, em cada unidade, tem objetivos especí-
ficos pensados a partir das competências estabelecidas para o profissional que está sen-
do formado – você! –, não importando a área de conhecimento. Mas, antes dos objetivos
de cada componente, temos de pensar as competências necessárias para bem cursar
um componente oferecido a distância, já que ele é diferente dos tradicionais, presenciais.

SAIBA MAIS
E você, sabe como você aprende?

Possivelmente, você já ouviu dizer que uma pessoa aprende mais ouvindo, enquanto outra o
faz escrevendo, e ainda outra, lendo e anotando.

Leia ao artigo:

Os quatro estilos de aprendizagem − ou por que alguns leem os manuais e outros não

Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/10/ciencia/1476119828_530014.html

O conhecimento - teoria e prática


A competência pode ser entendida como um conjunto de elementos que, no todo, tratam
de um saber prático; trata-se de três elementos: conhecimento, habilidade e atitude.

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Sonhando com uma viagem inesquecível: O Planejamento

Dificilmente conseguimos dizer que um profissional é competente sem ter estes elementos
como base sólida. A partir deste entendimento é que este componente curricular é
entendido e proposto com significativa importância para sua formação profissional. A USF
1 entende que ser profissional deve ser mais que ser um fazedor técnico.

SAIBA MAIS
Avalie suas competências, verificando:

01. Conhecimento – você tem os conhecimentos necessários, que possibilitarão uma vivên-
cia profissional humana e responsável consigo, com o outro e com a sociedade?

02. Habilidade – você sabe se utilizar dos conhecimentos para realizar uma prática que seja
eficiente, fazendo bem feito aquilo que se espera de um(a) bom(a) profissional?

03. Atitude – a partir do conteúdo assimilado e da boa prática desenvolvida, você se motiva
a agir de modo eficaz, buscando a melhor em cada situação?

Ao longo das unidades, as temáticas apresentadas têm sempre o objetivo de possibili-


tar uma prática profissional, carregada de sentido e que possa responder aos anseios
da sociedade, sem deixar de lado a realização pessoal. Neste sentido, pense sobre as
competências deste componente – indicadas acima –, e procure verificar se você já as
tem desenvolvidas. Inicie o curso deste componente, já tendo em mente suas compe-
tências e entendendo que elas devem ser metas a se alcançar. No final do semestre,
você terá oportunidade de se avaliar, verificando quanto aprendeu e desenvolveu, e o
que ainda restará como necessidade.

Objetivos do desenvolvimento sustentável no Brasil


No ano de 2015, pensando a necessidade de ações que pudessem melhorar a vida
no planeta como um todo, líderes mundiais se reuniram na ONU e estabeleceram a
chamada Agenda 2030 – tratou-se de um plano para erradicar a pobreza e promover o
desenvolvimento da vida humana e do planeta.

SAIBA MAIS

Conheça mais sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, pesquisando em:

Disponível em: https://brasil.un.org/sites/default/files/2020-09/agenda2030-pt-br.pdf

Da Agenda 2030, foram pensados os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a partir


dos quais são delineadas áreas mais específicas para atuação das nações. São 17
ODS:

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1

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Fonte: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs

Veja que os ODS abarcam diferentes áreas e problemas que a humanidade enfrenta
como um todo. E, considerando-se que a USF objetiva oferecer uma formação integral,
entendemos a importância de que a formação seja ampla e geral, ligada aos problemas e
situações diversas que você como profissional vai enfrentar. Neste sentido, ao longo do
semestre, os ODS serão trazidos nas problematizações dos componentes curriculares.

SAIBA MAIS
Conheça mais sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil, pesquisando
em:

Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs

Aproveite as oportunidades que forem ofertadas para o desenvolvimento deste compo-


nente: textos, fóruns, vídeos etc. Tudo é desenvolvido para seu melhor aproveitamento
e sucesso na formação profissional!

2. CONCEITO, APLICABILIDADE, EVOLUÇÃO, CLASSIFICAÇÃO


E DIVISÃO DA CIÊNCIA
Sonhar é muito bom. Principalmente quando sonhamos com uma viagem. Assim pensa-
vam Júlia, João e Pedro. Porém, ainda que todos tivessem o propósito de viajarem jun-
tos, não sonhavam com um mesmo destino. Cada um sonhava com um país diferente
do outro. Pedro estava imaginando o quanto seria divertido caminhar pelos mercados da
Turquia, enquanto Júlia pensava a maravilha que seria conhecer as pirâmides do Egito.
João, por sua vez, quase podia sentir o gosto das iguarias culinárias que eles provariam
na França. Como decidir? Pensaram em um sorteio, mas rapidamente concluíram que
não seria uma boa opção, pois alguns acabariam não se sentindo tão felizes quanto os

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Sonhando com uma viagem inesquecível: O Planejamento

outros. Além disso, nenhum deles conhecia bem nenhum desses países, e, certamente,
haveria ainda outros países extremamente fascinantes ainda não cogitados.

1 Conceito, aplicabilidade, evolução, classificação e divisão da ciência


Esses serão os temas centrais do início da nossa trajetória pelo instigante caminho da
investigação científica. Veremos, que assim como uma bem fundamentada tomada de
decisão em equipe, o conhecimento científico, diferentemente de fé, mera opinião, te-
ses mal fundamentadas, ou teorias pseudo-científicas, envolve a prática da justificação
rigorosa e a aplicação de métodos específicos de análise, interpretação e divulgação
de resultados.

A ciência na história do conhecimento humano


Viajar resulta na descoberta de coisas novas e na ampliação de horizontes. Assim como
em uma viagem, a trajetória científica da humanidade resultou não só na descoberta
de novos mundos, como também, na invenção de novas tecnologias e, acima de tudo,
possibilitou o aprimoramento de nossas crenças sobre o universo, através do uso da
justificação rigorosa e estruturação de métodos adequados de pesquisa.

Os resultados da ciência atingem hoje patamares inimagináveis para os seres humanos de


milênios, séculos, e até mesmo de décadas ou anos atrás. Testemunhamos, atual- men-
te uma evolução vertiginosa de avanços tecnológicos, que são apenas possíveis dada a
evolução da ciência humana em si. Desde o início da história humana, a ciência, ainda
que muitas vezes reduzida à technè, ou incluída em meio a crenças religiosas ou rituais,
permitiu-nos um maior conhecimento da realidade a nossa volta e de nós mesmos, além da
possibilidade de maior criação, intervenção, reprodução, e manipulação da natureza.

Atualmente, conseguimos distinguir claramente práticas científicas, de práticas não


científicas ou pseudocientíficas. Ciência, filosofia, e religião, por exemplo, são conside-
rados campos separados, e até mesmo opostos por algumas pessoas. Essa clara dis-
tinção, no entanto, não existia no passado. A ciência atual atingiu sua emancipação, não
se tratando apenas uma parte a ser adequada a um conjunto de crenças tradicionais ou
filosóficas. Além disso, sua classificação tornou-se cada vez mais distintamente demar-
cada, ao serem estabelecidos critérios para o desenvolvimento de estudos científicos
bem fundamentados e para a determinação de quais práticas seriam incorretas, ainda
que estas últimas possam se auto classificar muitas vezes como pesquisas científicas.

A área que estuda e visa oferecer respostas para questões como a de determinar o
que é ciência, além de outras questões relacionadas aos fundamentos das ciências e
problemas filosóficos resultantes delas, é chamada de filosofia da ciência.

Conceito, importância e a natureza do conhecimento


Denomina-se conhecimento popular, o conjunto de conhecimentos que adquirimos
informalmente, muitas vezes de forma oral, passados de geração em geração. Embora
não seja formalmente estabelecido, e o ser humano tenha ao longo da história acredita-
do em muitas falsidades por simples crendice, o conhecimento popular pode ser muito
rico e tem nos ajudado a sobreviver como espécie desde sempre. Em muitos casos, o

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conhecimento popular pode ser um bom guia sobre um determinado assunto, como, por
exemplo, sobre a cultura de uma determinada comunidade ou sobre como fazer uma
determinada atividade, um quitute, uma arte, uma caminhada, ou se uma planta en-
contrada encontrada em um local específico e em determinada quantidade pode matar 1
quando ingerida, se podemos confiar em pessoas com determinados comportamentos,
o que é essencial de se levar em uma viagem, quais épocas do ano são boas para pes-
car ou plantar, entre tantos outros exemplos.

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O conhecimento científico, diferentemente do conhecimento popular, é caracterizado
pela fundamentação em práticas científicas solidamente estabelecidas. Muitas vezes
pode vir a corroborar uma crença popular, mas também pode refutar. A principal diferen-
ça entre os dois tipos de conhecimento está no método de obtenção, processamento,
aquisição e divulgação de crenças. Enquanto o conhecimento popular não apresenta
regras procedimentais bem definidas, uma das essências do conhecimento científico é
a determinação de meios adequados de verificação e validação de hipóteses.

Ao conjunto de conhecimentos gerados através e a partir de instituições acadêmicas de


diversas áreas chamamos conhecimento acadêmico. A filosofia, por exemplo, com ex-
ceção de alguns trabalhos filosóficos mais técnicos ou fundamentais das ciências, não
é considerada uma ciência em sentido estrito. Assim como as artes, o serviço social, o
jornalismo, a história, a gastronomia, entre outras áreas do conhecimento. No entanto, to-
das elas são áreas inclusas no domínio do conhecimento acadêmico e, por isso, seguem
regras semelhantes aos das áreas consideradas como ciências no sentido mais estrito.

Por isso, em sentido lato (amplo), também podem ser classificadas como “ciências”. Por
exemplo, história e filosofia são consideradas ciências humanas e ambas estabelecem
critérios de rigor dentro de seus campos: os filósofos estudam princípios de lógica e argu-
mentação, os historiadores seguem métodos de obtenção fidedigna de dados. Todas as
áreas acadêmicas, portanto, praticam a chamada investigação científica nesse sentido.

CONHECIMENTO CONHECIMENTO CONHECIMENTO


POPULAR CIENTÍFICO ACADÊMICO

- Informal. - Formal. - Formal.


- Passado de geração em - Possui regras procedimentais - Possui regras procedimentais
geração. bem definidas. bem definidas
- É realizado no âmbito de
intiruições acadêmicas.

Fonte: Canvas

Iniciação à pesquisa científica 15


Sonhando com uma viagem inesquecível: O Planejamento

Conhecimento por contato, conhecimento proposicional e conhecimento


prático

1 Quando dizemos que conhecemos algo, podemos nos referir a diversos aspectos. Al-
guém pode dizer, por exemplo, que conhece a Índia. Isso pode significar que essa pes-
soa já foi à Índia, ou que ela conhece com detalhes fatos e tradições sobre a Índia, ou,
ainda, que ela sabe como viver na Índia.

Ao primeiro tipo de conhecimento chamamos de conhecimento por contato. Ele se


relaciona à ciência imediata de algo ou alguém, obtida através de experiência direta
com os nossos sentidos físicos. Você conhece, por exemplo, as cidades que já visitou e
desconhece aquelas para as quais nunca viajou.

O segundo tipo de conhecimento chamamos de conhecimento proposicional ou des-


critivo. Ele diz respeito ao conhecimento de proposições, isto é, ao conhecimento de
ideias expressas por frases passíveis de valor de verdade. Por exemplo, a frase “a
Índia é um país do continente asiático” expressa uma proposição verdadeira, enquanto
a frase “a Índia é um país do continente americano” expressa uma proposição falsa.
Se eu sei que a Índia é um país pertencente ao continente asiático, então eu tenho um
conhecimento proposicional sobre a Índia.

Já o terceiro tipo, o conhecimento prático, caracteriza-se pelo saber fazer algo, isto é,
relaciona-se às aptidões práticas de um sujeito em realizar uma determinada atividade.
Por exemplo: preparar uma receita, andar de bicicleta, dirigir um carro, suturar um corte,
negociar, tocar um instrumento musical, dançar, etc.

CONHECIMENTO CONHECIMENTO CONHECIMENTO


POR CONTATO DESCRITIVO PRÁTICO

- Eu conheço Paris. - Eu sei que Paris está localizada - Eu sei andar de bicicleta.
na França.

Fonte: Canvas

Definição de conhecimento
Suponhamos que alguém diga para você que a Índia é um país do continente ameri-
cano. Você sabe que ela realmente acredita nisso, pois não teria motivos para mentir.
Você verifica então em um mapa a localização continental real da Índia. Você diria
que ela apresenta conhecimento sobre a Índia, no que diz respeito à sua localização
geográfica? Muito provavelmente não. Para saber, não basta crer, essa crença precisa
também ser verdadeira.

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Digamos agora que você pergunte para uma terceira pessoa em qual continente a Índia
está localizada. Essa pessoa acredita que pode obter respostas sobre a realidade jogando
dados. Ela lança um dado e conclui pelo resultado que a Índia está situada no continente
asiático. Você diria que ela tem conhecimento sobre a localização da Índia depois disso? 1
Provavelmente também não, afinal ela só acertou por sorte. Não diríamos que ela apre-
senta conhecimento notório de onde fica a Índia. Para saber, não basta ter uma crença
verdadeira, ela também precisa ser justificada. E justificada aqui, significa bem justificada.

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Se ela concluísse que a Índia fica na Ásia, mas baseada em falsidades ou por meio de um
raciocínio inválido, diríamos que ela não está justificada, pois não ofereceu boas razões
para a conclusão, mesmo que essa conclusão consista em uma crença verdadeira.

Dessa forma, só diríamos que alguém realmente tem conhecimento sobre a localização geográ-
fica da Índia, se ela nos oferecesse uma justificação para sua crença verdadeira, por exemplo,
apresentando um mapa fiável, um livro de geografia, uma pesquisa em um site cientificamente
fundamentado, dentre outros meios de comprovação confiáveis. Isto é, ela teria razões para
acreditar que a Índia é localizada na Ásia, e é um fato que a Índia é um país asiático.

O conhecimento proposicional, deste modo, consiste em sustentar uma crença


verdadeira justificada. Chegamos, assim, à chamada teoria tradicional do conhe-
cimento, também conhecida como teoria clássica, tripartida ou platônica, por ter sua
origem atribuída a Platão em seu diálogo intitulado “Teeteto”.

Depois de muito tempo, em 1963, foi oferecido um desafio de peso a teoria clássica do
conhecimento, conhecido como problema de Gettier. Edmund Gettier em seu curto e cé-
lebre artigo “É a crença verdadeira justificada conhecimento?” oferece dois contra-exem-
plos à definição tradicional de conhecimento, onde poderíamos ter crenças verdadeira
justificadas, e ainda assim não as consideraríamos como casos de conhecimento, mos-
trando, desse modo, que a definição clássica pode talvez ser demasiadamente ampla.

De qualquer forma, o aprofundamento nessas discussões acerca da definição, natureza


e problemas sobre o conhecimento humano fazem parte de uma área de investigação
filosófica conhecida por epistemologia ou teoria do conhecimento. O epistemólogo ou te-
órico do conhecimento é o pesquisador que investiga e discute essas questões. Há ainda
outros problemas e discussões acerca da definição e natureza do conhecimento que não
teríamos como abordar aqui, dada sua amplitude. A epistemologia é uma das principais
áreas da filosofia, de forma que grande parte das filósofas e filósofos, ao longo da história
e atualmente, dedicaram-se aos seus problemas. No entanto, para o pesquisador não es-
pecializado, em geral, é suficiente levar em consideração ao menos a teoria tradicional do
conhecimento, exceto quando suas pesquisas estiverem relacionadas a essas questões
epistemológicas mais fundamentais, ficando a critério de quem se interessar pelo tema
um mergulho mais profundo pelo oceano da teoria do conhecimento.

SAIBA MAIS
O célebre artigo de Gettier, com tradução para o português de Célia Teixeira, pode ser aces-
sado neste link:

Disponível em: http://www.criticanarede.com/html/epi_gettier.html.

Iniciação à pesquisa científica 17


Sonhando com uma viagem inesquecível: O Planejamento

GLOSSÁRIO
Epistemologia: Palavra de origem grega. ἐπιστήμη, epistéme: conhecimento. λόγος, lógos:
1 discurso, estudo. Equivalente à chamada teoria do conhecimento, consiste em estudos acer-
ca do conhecimento em sentido amplo, desde a sua natureza, passando pelos seus tipos,
definição, problemas, e relações com outras disciplinas. É considerada uma das áreas fun-
damentais da filosofia.

Figura 02. Diagrama de Euler-Venn representando a teoria


tradicional do conhecimento

Crenças Crenças
Conhecimento
verdadeiras justificadas

Figura 03. Diagrama de Euler-Venn representando o contexto do


problema de Gettier para a teoria tradicional do conhecimento.

Crenças Crenças
Conhecimento
verdadeiras justificadas

Crenças verdadeiras
justificadas que não são
conhecimento

Fonte: Elaborado pela autora.

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3. IMPORTÂNCIA DA LEITURA
Depois de refletirem mais um pouco, Júlia, João e Pedro concluíram que era cedo demais
para decidir. A melhor opção seria obter mais conhecimento sobre os países cogitados e 1
outros possíveis destinos, compartilhar essas informações obtidas uns com os outros, dis-
cutir os prós e os contras de cada opção, e, somente depois disso, chegar a um veredito.

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Os viajantes reuniram-se para decidir… Por onde começar a busca pelo destino ines-
quecível? Qual ferramenta usar? Como descobrir o que é importante? Enquanto Pedro
e Júlia continuavam pensando, João fazia uma busca rápida na internet: “Vejam! Neste
vídeo há várias informações sobre a Índia! Vamos assistir!”. Pedro e Júlia sentaram-se
ao lado de João e todos começam a assistir ao vídeo. No entanto, não conseguiram
entender coisa alguma: as pessoas no vídeo falavam outro idioma!

Regras básicas para facilitar a aprendizagem


A leitura especializada de textos científicos exige que sigamos certas regras, distinguin-
do-se de outros tipos de leituras, como a leitura de romances, poesias, cartas, entre
outros. Embora estes tipos possam, em alguns casos, ser objetos de uma investigação
científica e, por isso, não é raro que venham receber o mesmo tratamento que daría-
mos aos textos escritos com propósitos exclusivamente científicos ou acadêmicos, na
maioria dos casos, a leitura desses tipos de obras literárias não exigirão o mesmo tipo
de esforço ou técnicas necessárias na leitura científica.

Muitas vezes, a leitura especializada demandará familiaridade e conhecimento de pres-


supostos ou domínio de ferramentas, de acordo com cada área de investigação. Por
exemplo: princípios de estatística clássica, conhecimento de termos e nomenclaturas ca-
nônicas, familiaridade com certos ingredientes, literatura e estilo de texto, conhecimento
de lógica proposicional, princípios de cálculo, disciplinas técnicas específicas, introduções
às noções básicas, noções de cartografia, leitura de um determinado idioma, etc.

SUGESTÃO DE LEITURA
Se a leitura for difícil, não desanime, siga essas regrinhas básicas que visam facilitar a leitura
e o entendimento da obra:

- Sublinhe as informações importantes (um marca-texto também ajuda!).

- Utilize linhas verticais nas margens quando os parágrafos forem muito extensos ou quando
quiser ressaltar afirmações já sublinhadas.

- Utilize asteriscos e/ou outros sinais na margem quando desejar colocar uma informação em
evidência.

- Enumere afirmações ou proposições que apresentem uma ordem sequencial; anote suas
dúvidas na própria obra.

Iniciação à pesquisa científica 19


Sonhando com uma viagem inesquecível: O Planejamento

O método cartesiano
Figura 04. Retrato de René Descartes O método de Descartes é um ótimo guia para
1
(1596-1650) por Frans Hals pesquisadores iniciantes: partimos do simples ao
complexo, ao invés de avançar etapas e tentarmos
entender textos mais difíceis e complexos, sem o
arcabouço necessário para isso. Não raramente,
precisaremos também reler um texto mais de uma
vez, para de fato compreendê-lo. Assim como em
um percurso de viagem, não podemos pular etapas
do caminho, e precisamos ter paciência e perseve-
rança para chegarmos ao nosso destino da melhor
forma possível. Há muitas tarefas que precisamos
fazer antes das outras, sem perder de vista onde
queremos chegar.

René Descartes foi um filósofo do século XVII mui-


to importante para o desenvolvimento da ciência
moderna. A adoção contemporânea do método car-
Descrição: retrato de Rená Descartes (1596-
1650), por Frans Hals Fonte:Wikimedia tesiano, exatamente como apresentado por ele na
Commons sua época (1637), seria um tanto defasada. Desde
a publicação de seu método, muitas discussões,
especialmente críticas contra o racionalismo advindas da vertente empirista, foram le-
vantadas. Não obstante, sua relevância para a metodologia científica, com as devidas
adaptações, faz-se ainda presente e pode ser particularmente útil para nos auxiliar na
organização das nossas leituras especializadas, especialmente a terceira parte: orde-
nar os objetos dos mais simples de se conhecer aos mais complexos. As outras partes,
que também serão muito úteis a qualquer pesquisador são as seguintes: aceitar como
verdadeiro somente o que for evidente (primeira parte); dividir as dificuldades em par-
celas (segunda parte); e fazer revisões completas (quarta parte).
Figura 05. Gráfico sobre o método de Descartes

O método de Descartes
1 Aceitar como 2 Dividir as
verdadeiro dificuldades

1 2
somente o que em parcelas
eu conhecer
de forma
evidente

4 3
4 Fazer 3 Ordenar os
pensamentos dos
revisões
objetos mais
completas
simples de conhecer
aos mais
complexos

20
É importante salientar que partir do mais simples ao mais complexo não significa partir
do que exige menos esforço. Muitas vezes, para o desenvolvimento pleno de habilidades
básicas, precisaremos nos empenhar com afinco, constância, paciência e dedicação,
entendendo que adquirir esses pré-requisitos leva tempo. 1
Quais conteúdos básicos você precisará dominar agora? Isso dependerá muito da sua
área de pesquisa e tema específico a ser investigado. Durante a graduação, nos di-

Universidade São Francisco


ferentes cursos, grande parte dos componentes curriculares já estão organizados de
acordo com essa ordem na grade curricular. Além disso, durante a pesquisa e revisão
bibliográfica, o estudante fica ciente de quais são as línguas mais importantes para
acesso ao conteúdo de seu tema de pesquisa, quando necessário, ou outras habilida-
des que possam vir a ser demandadas.

EXEMPLO
Se Pedro, João e Júlia decidem ir à Grécia, não faz sentido para eles aprenderem hindi ou
mandarim, dado que o objetivo deles é entender o básico do idioma do país de destino.

Níveis de leitura
Na obra Como ler livros: o guia clássico da leitura inteligente (1972), escrito por Morti-
mer Adler e Charles Van Doren, encontramos um ótimo guia para o direcionamento da
leitura acadêmica especializada. Ainda que limitado à ótica clássica ocidental e euro-
centrada, se tivermos em mente essas considerações e com as devidas atualizações, o
trabalho de Adler e Doren pode auxiliar sobremaneira o processo de leitura especializa-
da, principalmente através da distinção entre níveis de leitura.

São eles: o nível de leitura elementar, o nível de leitura inspecional, o nível de leitu-
ra analítica, e o nível de leitura sintópica. Eles são cumulativos, isso significa que o
último nível englobará todos os antecedentes, sem anulá-los.

Figura 06. Quatro passos para os níveis de leitura

PASSO 1. LEITURA ELEMENTAR PASSO 2. LEITURA INSPECIONAL

O que a frase diz? Qual o tipo e gênero da obra?


Sobre qual assunto se trata?
Qual á a sua estrutura?

Iniciação à pesquisa científica 21


Sonhando com uma viagem inesquecível: O Planejamento

PASSO 3. LEITURA ANALÍTICA PASSO 4. LEITURA SINTÓPICA

O que está sendo defendido na obra? Quais relações e interações podem


1
resultar dessa obra?
Qual é a estutura completa dessa
defesa?

Leitura Elementar
Também chamada de leitura básica ou inicial, a leitura elementar consiste no primeiro
nível de leitura dos indivíduos. Corresponde, desse modo, à alfabetização e capacidade
de decodificar símbolos através da formação e compreensão primária do significado de
palavras e frases. A pergunta-chave deste nível é: o que diz a frase?

Consiste em uma fase de leitura mais instrumental e menos ativa. Embora devamos
considerar os trabalhos de grandes educadores, como Paulo Freire, demonstrando que
mesmo o processo de alfabetização não precisa ser passivo e alienado da realidade.
Mesmo assim, nesta fase, os leitores iniciantes ainda não dominam outras habilidades
que proporcionarão uma maior capacidade crítica. Todos os leitores, do iniciante ao
mais experiente, precisam dominar este nível elementar de leitura.

EXEMPLO
Mesmo leitores experientes podem vir a se encontrar somente no nível elementar de leitura,
quando, por exemplo, estiverem aprendendo um novo idioma.

Leitura Inspecional
A leitura inspecional, também, chamada de pré-leitura, consiste em folhear a obra (ou
passar as páginas de um texto digitalizado) de forma sistemática, observando a parte mais
superficial do livro (ou de outros tipos de obras) em um curto período de tempo. Tratar-se-á
de um primeiro contato interessado com a obra e não apenas um folhear mecânico, desinte-
ressado. Lemos as informações básicas, os sumários, resumos, prefácios, etc. Nesta fase,
podemos ter de dedicar ainda algum tempo substancial para a aquisição de informações
adicionais, como o contexto histórico da obra ou demais dados que possam ser relevantes
para esse primeiro contato. Além disso, também realizamos uma leitura rápida, sem apro-
fundamento, afim de ter uma visão geral da obra. Podemos aplicar técnicas de leitura dinâ-
mica, mas mesmo aqueles que não têm domínio de tais técnicas, não terão dificuldades em
realizar esta fase. Ela não consiste em ler apenas algumas partes selecionadas, mas antes
em uma familiarização geral e superficial com toda obra, em um curto período de tempo.

Este nível envolverá mais de uma pergunta-chave, entre elas: qual o tipo e gênero da obra?
Sobre qual assunto trata? Quais são as informações básicas? Qual é a sua estrutura?

22
Leitura Analítica
Ao contrário da leitura inspecional, a leitura analítica, consiste na melhor leitura pos-
sível em um período ilimitado de tempo. Este tempo, poderá variar, dependendo da 1
obra, do contexto, e do arcabouço do leitor, mas nunca se limitará a uma leitura rápida e
superficial. Nesta etapa, será demandada a capacidade interpretativa adequada e revi-
sões elaboradas por parte do leitor. Trata-se de uma atividade complexa, na qual o leitor

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precisará se utilizar de técnicas rigorosas de avaliação argumentativa e assimilação de
conteúdo. Aqui, a leitura ativa e nossa capacidade crítica serão essenciais. Buscamos,
desse modo, entender a obra de forma completa e adequada, consistindo assim, numa
leitura efetiva e aprofundada.

Leitura Sintópica
A leitura sintópica, também chamada de leitura de controle, consiste no nível de leitura
mais complexo de todos. Aqui vamos além da obra em causa e a relacionamos a outras
obras. Por isso, ela nos exige a leitura de vários livros e diferentes tipos de textos cien-
tíficos ou acadêmicos. Essa relação não consiste na mera comparação, mas no desen-
volvimento de uma análise mais completa, que irá além daquelas contidas nas próprias
obras lidas. É também nesse nível que nossa capacidade de leitura ativa e crítica pode
alcançar sua plenitude. Ela permite uma ampliação de perspectiva, na medida em que
consideramos distintos trabalhos, argumentos e teses, muitas vezes contrárias, seme-
lhantes, complementares, ou distintas em determinados aspectos. Consideramos ainda
como pertencente a esta fase a discussão com pares, que torna nossa pesquisa ainda
mais dinâmica e qualificada, através da troca de argumentos, informações e aprendiza-
gens. Grupos de estudos e de discussão podem fazer toda a diferença neste nível e na
pesquisa dos estudantes em geral.

SAIBA MAIS
No canal do youtube Três Vias – Estudos Clássicos, encontramos uma resenha completa
da obra Como ler livros: o guia clássico da leitura inteligente (1972) de Adler e Van Doren.

Confira a playlist de vídeos no seguinte endereço:

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Q6FihxE27Rw&list=PLeWztMx2J49Hee-


ceDQLQ1oc0OUcJzHnVt&ab_channel=Tr%C3%AAsVias-EstudosCl%C3%A1ssicos

Método SQ3R
O método SQ3R (também chamado de técnica SQ3R), foi criado pelo psicólogo edu-
cacional Francis Pleasant Robinson, em 1946. Ele consiste em um método de estudo e
leitura, que, assim como os apresentados anteriormente, é divido em fases ou etapas, au-
xiliando, desse modo, os estudantes na obtenção de um melhor aproveitamento durante
seu processo de pesquisa. A sigla SQ3R vem das seguintes palavras da língua inglesa:

Iniciação à pesquisa científica 23


Sonhando com uma viagem inesquecível: O Planejamento

S: Survey (levantamento)

Q: Question (pergunta)
1
3 R: Read (leitura), Recite (repetição), Review (revisão)

Vejamos com mais detalhes cada uma dessas fases.

Levantamento (Survey)
Na fase de pesquisa, você vai fazer uma análise de todo o material que precisa estudar.
A ideia é ter uma visão geral do conteúdo. Essa etapa não deve tomar muito do seu
tempo, não é esse o objetivo. Aqui você não se aprofundará em ponto algum. Mas,
compreenderá melhor a estrutura do texto, como ele foi formulado e está dividido. Faça
um panorama dos elementos estruturais e essenciais do texto, como:
` Títulos;

` Capítulos;

` Exercícios;

` Figuras;

` Legendas;

` Gráficos;

` Termos destacados;

` Primeiro e último parágrafos.

Pergunta (Question)
Nesta fase, o elemento central é o questionamento. Formule perguntas relevantes tanto
para o seu entendimento do texto, como para a compreensão da sua importância, das
suas relações, contexto e demais características pertinentes:
` Qual a principal ideia do texto?

` O que eu já sei sobre o assunto?

` Quais conceitos são importantes?

` Que relações podem ser feitas?

` Eu concordo com isso?

` O que? Como? Quando? Quem? Onde?

24
Leitura (Read)
Aqui, ao contrário da primeira etapa do método, a leitura precisa ser atenta e será
mais demorada. Faça uma análise robusta e completa. Atente-se aos detalhes. Essa é 1
uma fase de aprofundamento.
` Grife palavras-chave;

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` Procure as respostas das questões pensadas na fase anterior;

` Elabore novas perguntas;

` Responda os exercícios;

` Releia as legendas e estude gráficos e tabelas;

` Preste atenção em palavras em itálico, negrito ou sublinhadas;

` Leia mais de uma vez as partes mais complexas.

Repetição (Recite)
Você pode sim ler os trechos mais importantes em voz alta, fazendo comentários ou
elaborando perguntas e respostas com suas próprias palavras. Utilizamos, assim, o
chamado aprendizado quádruplo: ver, escrever, falar e ouvir. Crie nesta fase:
` Mapas mentais;

` Resumos;

` Flash cards;

` Quadros comparativos;

` Fluxogramas.

Revisão (Review)
A etapa final do Método SQ3R é a de revisão. Nela você vai rever o que foi feito até
agora. Você não vai ler todo o livro ou apostila novamente, mas, sim, o material criado
a partir das fases anteriores. Reveja os grifos, os mapas mentais, os resumos, etc. Aqui
também é hora de testar seus conhecimentos e a efetividade do método na sua preparação:
` O conteúdo está claro para mim?

` Consigo identificar os pontos-chave do assunto?

` Consigo responder às perguntas que formulei?

Iniciação à pesquisa científica 25


Sonhando com uma viagem inesquecível: O Planejamento

Figura 07. Método SQ3R segundo Francis Robinson

1
S EXAMINAR

S
Survey

Q PERGUNTAR

Q
Question

R LER

R
Read

R RECITAR

R
Recite

R REVISAR

R
Review

4. TÉCNICAS PARA A LEITURA E REDAÇÃO CIENTÍFICA


Júlia, João e Pedro perceberam que para entender certos conteúdos são necessários
pré-requisitos. Não podemos pular etapas, mesmo que isso implique em um maior es-
forço e dedicação. Além disso, concluíram que há diferentes tipos de conteúdo e que
eles deviam ser discutidos, relacionados e ponderados em conjunto.

Cada um procurou informações sobre a viagem e possível destino de forma diferente.


Um consultou vídeos em uma plataforma de transmissão, enquanto outro consultou
livros e opiniões de amigos, e outro achava que as melhores fontes de pesquisa sobre
viagens seriam blogs e redes sociais. Começaram a falar todos ao mesmo tempo, e,
então, se deram conta de que deveriam organizar e planejar entre eles como seria essa
pesquisa, ao invés de simplesmente pesquisarem de forma aleatória, buscando en-
tender as diferenças entre os tipos de instrumento de obtenção de informação e como
essas informações poderiam ser aproveitadas por eles.

26
Instrumentos de divulgação científica: artigos científicos, teses,
dissertações e monografias
Há diversos tipos de trabalhos acadêmicos e publicações científicas. Abaixo listamos 1
os principais, tendo sobretudo como base a norma 14724 da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT) (2001):

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Relatório de Iniciação científica: documento que apresenta o resultado de uma pes-
quisa desenvolvida durante um curso de graduação no ensino superior. Deve ser feita
sob a orientação de um(a) professor(a) qualificado(a).

Monografia: apresenta o resultado de estudo desenvolvido durante a graduação, como


efeito e em conformidade com os conteúdos ministrados no curso. É feita sob coorde-
nação de um(a) orientador(a) e exigida, em muitos cursos, como requisito obrigatório
para a obtenção da colação de grau.

Dissertação: apresenta os resultados de um trabalho desenvolvido em nível de pós-


-graduação. Esse resultado pode ser de caráter experimental ou expositivo. Deve evi-
denciar conhecimento de literatura sobre um tema delimitado, capacidade de sistema-
tização, interpretação e análise. É feita sob a coordenação de um(a) orientador(a) que
deve possuir título de doutor(a), sendo um requisito obrigatório para a obtenção do título
de mestre.

Tese: apresenta os resultados de um trabalho desenvolvido em nível de pós-gradua-


ção. Esses resultados podem ser de caráter experimental ou expositivo. Deve consistir
em uma investigação original e oferecer uma contribuição relevante para a área de
estudo em que se enquadra, além de evidenciar conhecimento de literatura sobre o
tema delimitado, capacidade de sistematização, interpretação e análise. É feita sob a
coordenação de um(a) orientador(a) doutor(a) e é requisito obrigatório para a obtenção
do título de doutor.

Artigos científicos: Confere a ampliação da divulgação dos resultados de pesquisa à


esfera pública. São publicados como partes componentes de um periódico acadêmico
nacional ou internacional ou de um compêndio. Uma boa revista seleciona seus artigos
publicados através de pareceres duplamente anônimos oferecidos por pares qualifica-
dos na área.

Estrutura de um trabalho científico

De acordo com a ABNT (2011), um trabalho acadêmico, que vise ser apresentado a
uma banca institucional examinadora, como uma monografia, dissertação, tese entre
outros, deve ser estruturado em uma parte externa e uma parte interna. A parte inter-
na, por sua vez, é dividida em elementos pré-textuais, elementos textuais e elementos
pós-textuais. Há elementos obrigatórios para qualquer produção, enquanto outros são
opcionais. Vejamos uma breve descrição de cada um deles:

` Elemento obrigatório da parte externa:


Capa: deve conter nome do autor, título, subtítulo (quando houver), número do volume
(quando houver mais de um), local (da instituição), ano da entrega.

Iniciação à pesquisa científica 27


Sonhando com uma viagem inesquecível: O Planejamento

` Elemento opcional da parte externa:


Lombada: parte da capa, reúne as margens internas das folhas.

1 ` Elementos pré-textuais obrigatórios:

Folha de rosto: deve conter nome do autor, título, subtítulo (quando houver), número do vo-
lume (quando houver mais de um), tipo de trabalho (tese, dissertação, monografia, ou outros),
objetivo (relatório ou grau pretendido), nome da instituição, área de concentração, nome do(a)
orientador(a) e coorientador (quando houver), local, ano de entrega e dados de catalogação.

Folha de aprovação: deve conter nome do autor, título, subtítulo (quando houver), número
do volume (quando houver mais de um), tipo de trabalho (tese, dissertação, monografia, ou
outros), objetivo (relatório ou grau pretendido), nome da instituição, área de concentração
e data de aprovação. Deve conter ainda os nomes, titulação e respectivas assinaturas dos
membros da banca examinadora.

Resumo na língua vernácula: apresentação clara e concisa dos principais pontos do traba-
lho, oferecendo uma visão geral do seu conteúdo.

Resumo em língua estrangeira: versão do resumo em idioma estrangeiro.

Sumário: lista enumerada das partes textuais e pós-textuais do trabalho (introdução, con-
clusão, capítulos, seções, subseções, referências, entre os outros elementos que o compu-
serem), seguindo a paginação e a ordem de apresentação.

` Elementos pré-textuais opcionais:

Errata: lista de erros contidos no trabalho após impressão e respectivas correções.

Dedicatória: breve homenagem ou dedicação do trabalho, direcionada a uma pessoa, grupo


de pessoas, entre outros.

Agradecimentos: texto contendo os agradecimentos do autor àqueles que contribuíram


com a elaboração do trabalho de forma relevante.

Epígrafe: citação com indicação de autoria.

Listas de ilustrações: lista ordenada de ilustrações, com respectivos nomes, títulos e nú-
meros das páginas em se encontram no trabalho.

Lista de tabelas: lista ordenada de tabelas, com respectivos nomes e números das páginas
em que se encontram no trabalho.

Lista de abreviatura e siglas: lista em ordem alfabética das abreviaturas e siglas utilizadas
no trabalho, com as respectivas palavras correspondentes.

Lista de símbolos: lista ordenada de símbolos e respectivos significados.

` Elementos textuais obrigatórios:

Introdução: apresenta os objetivos e razões da pesquisa ou estudo realizado, introduzindo


os pontos centrais que serão abordados.

Desenvolvimento: apresenta o detalhamento do estudo realizado. É dividido em capítulos,


seções e subseções.

28
Conclusão: apresenta as conclusões da pesquisa.

` Elemento pós-textual obrigatório:

Referências: lista ordenada das fontes utilizadas como referência no trabalho, contendo 1
suas identificações individuais de acordo com as normas da ABNT.

` Elementos pós-textuais opcionais:

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Glossário: lista de palavras ou expressões de uso técnico com significado restrito e suas
respectivas definições.

Apêndice: texto complementar elaborado pelo autor.

Anexo: texto complementar não elaborado pelo autor.

Índice: lista de palavras, frases ou expressões, que remete às informações contidas no trabalho.

Interpretação e análise de argumentos


Independentemente da área, tipo de pesquisa, ou tipo de instrumento de divulgação,
todo texto acadêmico ou científico envolve justificação adequada. Assim, tanto para
compreendermos, quanto para escrevermos textos científicos, precisamos dominar a
análise argumentativa. Desse modo, seremos capazes de interpretar e avaliar se um
argumento a favor de uma determinada tese é válido, sólido e cogente, ou seja, além
de válido e sólido suas premissas são mais plausíveis que a conclusão. Além disso,
seremos capazes de construir argumentos com essas mesmas qualidades, já que po-
demos aplicar as mesmas técnicas e princípios à nossa própria escrita científica.

Há diferentes tipos de argumentos, mas podemos definir qualquer um deles como um


conjunto de proposições em que se pretende justificar uma delas, a conclusão, com
base na outra ou nas outras, as premissas. Uma proposição, por sua vez, pode ser
definida como a ideia passível de valor de verdade (isto é, que pode ser ou verdadeira
ou falsa) expressa por uma frase com sentido. Frases que não são nem verdadeiras
nem falsas, como frases interrogativas, imperativas, sem sentido, entre outros casos,
não expressam proposições.

Exemplos:
Quadro 01. Exemplos de frases que expressam ou não expressam proposições

FRASES EXPRESSAM PROPOSIÇÕES?


Duendes existem. Expressa proposição.
Deus existe? Não expressa proposição.
Deus existe. Expressa proposição.
Açaí, guardiã, zum de besouro, um ímã. Não expressa proposição.
O amor não é uma ilusão. Expressa proposição.
Siga em frente. Não expressa proposição.
O amor é uma ilusão. Expressa proposição.
Fonte: Elaborada pela autora

Iniciação à pesquisa científica 29


Sonhando com uma viagem inesquecível: O Planejamento

Interpretação de argumentos
Após identificarmos o argumento que pretendemos analisar, sua interpretação envolverá
1 três etapas básicas: 1) identificação do problema; 2) identificação de premissas e con-
clusão; 3) estruturação do argumento na forma canônica. Vejamos cada uma delas.

01. Na etapa de identificação do problema devemos identificar o problema sobre


o qual o argumento em causa se coloca como uma posição justificada. Identifica-
mos, desse modo, a questão problema, cuja conclusão do argumento visa respon-
der e as premissas justificar.

EXEMPLO
Em filosofia da religião e teologia, tanto os argumentos a favor da existência do Deus teísta,
quanto os argumentos contrários à existência do Deus teísta pretendem responder a questão
de saber se Deus existe.

02. Na etapa de identificação de premissas e conclusão, identificamos qual a


proposição que o argumento visa defender, a conclusão, e quais são as proposi-
ções usadas para justificá-la, as premissas. Nesta fase, é de suma importância
que o investigador adote princípios da boa interpretação argumentativa, como o
princípio de caridade argumentativa, segundo o qual devemos oferecer a melhor
interpretação possível e adequada do argumento em análise, não cometendo, con-
trariamente, a falácia do espantalho, onde ataca-se o argumento de um opositor
através do uso de uma interpretação inadequada e piorada (mais facilmente refutá-
vel) dele. Grande parte dos argumentos têm premissas implícitas, sendo uma parte
muito importante da análise identificá-las.

GLOSSÁRIO
Falácias: argumentos que parecem ser cogentes, mas não são. Um argumento falacioso
pode, desse modo: a) parecer ser um argumento válido, mas não ser; b) parecer ter premis-
sas verdadeiras, mas não ter; ou c) parecer ter premissas mais plausíveis que a conclusão,
mas não ter.

03. Na etapa de estruturação do argumento em sua forma canônica, reescrevemos


o argumento de forma ordenada, com premissas numeradas e separadas em linhas,
seguidas pelo indicador de conclusão (logo) e pela conclusão. Nesta fase, é impor-
tante acrescentarmos as premissas implícitas e excluirmos os chamados ruídos: pa-
lavras, sentenças, ou expressões logicamente irrelevantes para o argumento.

EXEMPLO
Um dia, Júlia e Pedro discutiam sobre a existência de sentido na vida, e Júlia apresentou o
seguinte argumento:

30
“Eu não acho que há um sentido na nossa vida, por mais que eu tente, às vezes, e não estou
dizendo que não vale a pena viver. Eu amo a vida! Mas se há sentido na vida, como pode
haver tanto absurdo no mundo?”
1
A estruturação do argumento de Júlia na forma canônica seria o seguinte:

Premissa 1: Se há sentido na vida, então não haveria absurdos no mundo.

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Premissa 2: Há absurdos no mundo.

Logo,

Conclusão: Não há um sentido na vida.

Análise Argumentativa
A análise lógica de argumentos consiste em três fases cumulativas: análise de valida-
de, análise de solidez e análise de cogência.

Um argumento válido é um argumento em que é impossível ou improvável (a depender


do tipo de argumento) que suas premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa.

Existem diversos tipos de argumentos, como os argumentos dedutivos formais, dedu-


tivos informais, abdutivos, indutivos, causais etc. Cabe aos investigadores identificar o
tipo de argumento e regras válidas de acordo com o sistema lógico, matemático, técni-
co, entre outros que forem relevantes, de acordo com a sua área de pesquisa, problema
investigado e estrutura geral do argumento. No entanto, podemos definir um argumento
de forma generalizada em que a conclusão se segue das premissas, ainda que em al-
guns casos garantam apenas uma conclusão muito provável, mas não totalmente certa,
como ocorre nos casos de argumentos dedutivos.

Um argumento ser válido é uma condição necessária para que ele seja um bom argu-
mento, mas não suficiente. O seguinte argumento, por exemplo, é válido:

Premissa 1: Se dermorgorgons existem, estamos perdidos.

Premissa 2: Dermorgorgons existem. Logo,

Conclusão: Estamos perdidos.

Não basta um argumento ser válido para ser um bom argumento, ele também precisa
ser sólido. Um argumento sólido é um argumento válido com todas as premissas
verdadeiras. Na fase de análise de solidez, questionamos a verdade das premissas de
um argumento. Isso cabe tanto para os argumentos que estão sendo desenvolvidos por
nós, quanto para os argumentos elaborados por outros sob a nossa análise. Há evidên-
cias ou justificativas suficientes para garantia da verdade das premissas? Houve uma
coleta de dados rigorosa? Há de fato conexão causal entre os eventos ou apenas uma
correlação probabilística? Foram usados instrumentos de medição adequados?

Iniciação à pesquisa científica 31


Sonhando com uma viagem inesquecível: O Planejamento

Assim, podemos sempre questionar a verdade das premissas dos argumentos contidos
em um texto, considerando-as como conclusões de outros argumentos sustentados por
premissas adicionais. Somente axiomas ou postulados não necessitam de premissas
1 adicionais para se sustentarem, já que não exigem demonstração, mas não podemos
considerar o que quisermos como axiomas. Além disso, seria impossível, em grande
parte dos trabalhos, oferecer justificativas para todas as premissas pressupostas. Por
isso, geralmente podemos parar naquelas que são amplamente aceitas, pouco questio-
náveis ou inquestionáveis, como no caso dos axiomas, de evidência fatual suficiente ou
na aplicação de uma regra de acordo com um determinado sistema lógico ou matemá-
tico. A própria investigação sobre o quão questionável ou importante é uma premissa
consiste em uma parte crucial da investigação científica.

GLOSSÁRIO
Axiomas: também chamados de postulados, axiomas são proposições que não exigem demon-
stração, isto é, são postuladas como verdadeiras, ou, ao menos, inquestionáveis no contexto
de uma determinada teoria. Por exemplo, os axiomas da geometria euclidiana são distintos dos
axiomas das geometrias não euclidianas, mas em todos os casos são inquestionáveis dentro
do sistema teórico que compõe. A partir dos axiomas de uma determinada teoria, derivamos os
seus teoremas. Algumas vezes, os axiomas de um sistema teórico não são explícitos ou con-
sensuais, existindo trabalhos cujo objetivo é definí-los e fazê-los claros ou explícitos.

Esta etapa da análise permite, portanto, a construção de uma argumentação sólida, for-
temente fundamentada, bem como uma análise da solidez dos argumentos defendidos
nas obras pesquisadas.

A última etapa da análise de um argumento consiste na determinação da cogência do


argumento. Um argumento cogente é um argumento sólido com premissas mais plau-
síveis que a conclusão. Se as premissas de um argumento não são mais plausíveis do
que a sua conclusão, ele acaba por ter o efeito inverso ou nulo. Um bom argumento, além
de válido e de ter premissas verdadeiras, também deve ter premissas que apoiem efeti-
vamente a conclusão. Se usamos premissas pouco plausíveis em relação à conclusão,
podemos levar as pessoas a discordarem de uma proposição que elas estariam até mais
aptas a concordar antes da nossa argumentação. O objetivo da nossa argumentação é
oferecer boas razões para concordarem com uma determinada ideia, e não o oposto.

EXEMPLO
Considere o seguinte argumento oferecido por Júlia contrário à existência de Deus:

Premissa 1: Se Deus existisse, então não haveria mal no mundo.

Premissa 2: Há mal no mundo.

Logo,

Conclusão: Deus não existe.

32
Pedro não concorda com Júlia, mas não pode dizer que o argumento de Júlia é inválido, pois é im-
possível as premissas serem verdadeiras e a conclusão falsa. Tampouco pode argumentar que as
premissas são menos plausíveis que a conclusão. Na verdade, para ele, elas parecem muito mais
palusíveis do que a conclusão. Resta, neste caso, oferecer argumentos a favor de teses contrárias 1
às premissas do argumento de Júlia, questionando, desse modo, a solidez do argumento. Ele
poderá portanto, oferecer tanto um argumento defendendo que a existência de Deus é compatível
com a existência de mal no mundo, ou um argumento a favor de que não há de fato mal no mundo.

Universidade São Francisco


A estratégia que foi adotada por Pedro, também usada por muitos defensores da existência de
Deus, foi atacar a primeira premissa do argumento de Júlia. Assim, ele tentou mostrar a ela que
ainda que Deus exista, pode haver mal no mundo. Esse mal, de acordo com Pedro, não é devido
a Deus e sim às escolhas humanas. Deus, sendo sumamente bom, concedeu o livre-arbítrio ao
ser humano, que muitas vezes opta por praticar o mal.

A análise adequada de argumentos é um componente essencial da investigação científi-


ca, através dela somos aptos a construir objeções, críticas, adaptações, corroborações, e
avaliações de resultados de forma rigorosa e fundamentada, de acordo com cada tipo de
pesquisa. Outros princípios da boa análise e escrita argumentativas, além das já citadas,
são a clareza, coesão e concisão. Um fator crucial da publicação científica é que ela seja
transmissível. Além disso, a análise deve ser eticamente guiada e intelectualmente ho-
nesta. Devemos visar o oferecimento de argumentos cogentes e evitar o uso de falácias.

Capa
Parte externa
Lombada

Folha de rosto
Errata
Folha de aprovação
Dedicatória
Agradecimentos
Epígrafe
Elementos
Resumo na língua vernácula
pré-textuais
Resumo em língua estrangeira
Lista de ilustrações
Lista de tabelas
Lista de abreviaturas e siglas
Parte interna Lista de símbolos
Sumário

Introdução
Elementos
Desenvolvimento
textuais
Conclusão

Referências
Glossário
Elementos
Apêndice
pós-textuais
Anexo
Índice

Obrigatório Opcional

Iniciação à pesquisa científica 33


Sonhando com uma viagem inesquecível: O Planejamento

Estrutura do trabalho acadêmico. Esquema modificado de ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA


DE NORMAS TÉCNICAS (2011), p. 5.

1 CONCLUSÃO
Júlia, Pedro e João decidiram trabalhar em equipe, dividindo o trabalho de investigação
entre eles. Enquanto Júlia pesquisava sobre os possíveis destinos nas redes sociais,
Pedro verificava vídeos em plataformas de transmissão, e João, por sua vez, preferiu
consultar amigos e agências de viagens pessoalmente. Decidiram também que, depois
de suas pesquisas individuais, se reuniriam novamente para analisar os argumentos
desenvolvidos por eles com base nos materiais e fontes consultadas.

Nesta unidade, vimos que a ciência e a evolução do conhecimento humano sempre


estiveram conectadas. Verificamos também que um dos principais aspectos do conhe-
cimento científico diz respeito à justificação de nossas crenças e à possibilidade de
revisão destas, através de metodologias específicas. Além disso, exploramos breve-
mente os diversos tipos de conhecimento e suas relações.

Apresentamos alguns métodos gerais de investigação científica e leitura, nomea-


damente, a primeira parte do método cartesiano e o guia clássico de Adler e Do-
ren, atentando para a necessidade de uma interpretação contemporânea e atualizada.
Também chamamos a atenção para a distinção entre a leitura passiva e leitura ativa.

Além da apresentação de diferentes tipos de textos acadêmicos e científicos, tam-


bém apresentamos a estrutura de um trabalho científico, de acordo com as nor-
mas técnicas vigentes, e as regras básicas da interpretação rigorosa: reconstrução
textual (identificação do problema, teses e argumentos), estruturação argumentativa na
forma canônica, exclusão de ruído, análise de validade, solidez e cogência, princípio de
caridade argumentativa, honestidade intelectual e não uso de argumentos falaciosos.

LINKS:

ITEM 2. Conceito, aplicabilidade, evolução, classificação e divisão da ciência

No site Crítica na Rede, os estudantes podem encontrar um vasto material de qualidade


sobre filosofia da ciência e epistemologia, além de outros textos muito interessantes e úteis:
http://www.criticanarede.com

ITEM 3. Importância da leitura

No site do Instituto Pró-livro temos acesso aos dados das pesquisas Retratos da Leitura, com
indicadores dos hábitos de leitura dos brasileiros desde 2001:
https://www.prolivro.org.br/

Além deste e outros projetos, o Instituto também oferece, através da Plataforma Pró-Livro,
um mapeamento de ações de fomento à leitura realizadas em território nacional:
http://plataforma.prolivro.org.br/sobre-plataforma.php

34
ITEM 4. Técnicas para a leitura e a redação científica
No seguinte link temos acesso ao clássico e excelente Guia de falácias, de Stephen Downes:
https://criticanarede.com/falacias.html
1

Universidade São Francisco


FILME OU DOCUMENTÁRIOS:

ITEM 2. Conceito, aplicabilidade, evolução, classificação e divisão da ciência

COSMOS de Carl Sagan. Ed. Comemorativa de 25 anos. Vol. 1. Coleção Superinteressante


vídeo. Direção: Adrian Malone. Produção: Gregory Andorfer & Rob McCain. Intérprete: Carl
Sagan. [S.1]: Abril, 2005. 1DVD (178 min), son., color.

Na série “Cosmos” de Carl Sagan, somos apresentados ao fabuloso universo da pesquisa


científica, desde a antiguidade até finais do século XX. Em sua nave espacial, Sagan, um dos
maiores divulgadores científicos que já existiu, nos leva por uma jornada pelo cosmos, mos-
trando como a evolução do conhecimento científico humano nos proporcionou uma maior
compreensão de nós mesmos e do universo ao nosso redor, possibilitando a elaboração de
teorias, invenções e descobertas impressionantes.

ITEM 3. Importância da leitura

CENTRAL do Brasil. Direção: Walter Salles Júnior. Produção: Martire de Clermont-Tonnerre


e Arthur Cohn. Intérprete: Fernanda Montenegro, Marilia Pera, Vinicius de Oliveira, Sônia
Lira, Othon Bastos, Matheus Nachtergaele et al. Roteiro: Marcos Bernstein, João Emanuel
Carneiro e Walter Salles Júnior. [S. l.]: Le Studio Canal; Riofilme; MACT Productions, 1998. 5
rolos de filme (106 min), son., color., 35 mm.

Neste premiadíssimo longa-metragem, acompanhamos a história do encontro entre Josué,


um menino de 9 anos, e Dora, uma professora aposentada que ganha dinheiro escrevendo
cartas para analfabetos na Estação Central do Brasil, localizada na cidade do Rio de Janeiro.
O filme mostra a importância do acesso à leitura e à escrita, e como esse direito básico está
ainda ausente para a camada mais pobre da população brasileira, além de abordar outros
temas de grande relevância social com devido cuidado e de forma artisticamente impecável.

CURIOSIDADE
O ator que interpretou Josué no filme Central do Brasil, Vinícius de Oliveira, conheceu o dire-
tor Walter Salles enquanto trabalhava como engraxate e oferecia seus serviços a ele, na fila
de uma lanchonete. Walter Salles, então, o convidou para participar da seleção de elenco do
filme e Vinícius foi o escolhido entre 1.500 candidatos. Desde então, ele matém uma carreira
sólida como ator, participando de diversos filmes e produções televisivas.

ITEM 4. Técnicas para a leitura e a redação científica

DOZE HOMENS E UMA SENTENÇA. Título original: “Twelve Angry Men”. Direção: Sidney
Lumet. Produção/Distribuição: Fox/MGM. Elenco: Henry Fonda, Lee J. Cobb, Ed Begley, E.G.

Iniciação à pesquisa científica 35


Sonhando com uma viagem inesquecível: O Planejamento

Marshall, JackWarden, Martin Balsam, John Fiedler, Jack Klugman, Edward Binns, Joseph
Sweeney, George Voskovec, Robert Webber. EUA. 1957. Drama. DVD. 96 min.

1 O clássico Doze Homens e uma Sentença é um ótimo filme para exemplificar a importância
da justificação e análise argumentativa. O filme conta a história de um julgamento em um
tribunal de Nova Iorque, onde a maioria dos jurados não está disposta a ponderar rigoro-
samente sobre suas crenças, com exceção de um deles. Teve três indicações ao Oscar e
ganhou um Leão de Ouro no Festival de Berlim. Há uma versão mais recente (1997) dirigida
por William Friedkin.

TEXTO COMPLEMENTAR (LIVRO OU ARTIGO):

ITEM 2. Conceito, aplicabilidade, evolução, classificação e divisão da ciência

O’BRIEN, D. Introdução à Teoria do Conhecimento. Tradução de Pedro Serras Pereira. Revi-


são científica de Aires Almeida. Lisboa: Gradiva, Junho de 2013.

Esta é uma excelente introdução à teoria do conhecimento. Ela é indicada aos estudantes
de nível superior, mas também será uma leitura gratificante para o público em geral. Através
do uso de exemplos do cotidiano, em especial do cinema, O’Brein apresenta uma das áreas
mais vastas da filosofia de forma leve e interessante, ainda que rigorosa.

ITEM 3. Importância da leitura

FREIRE, P. A Importância do ato de ler: em três artigos que se completam (1981). São Paulo:
Cortez Editora, 2021.

Neste livro temos acesso a uma parte do pensamento, filosofia e prática de um dos principais
educadores do mundo. Paulo Freire salienta, nesta obra, a importância da leitura nas nossas
vidas, mostrando como a leitura crítica, ativa e dinâmica concede-nos maior liberdade e ca-
pacidade de criação frente à realidade.

ITEM 4. Técnicas para a leitura e a redação científica

WESTON, A. A arte de argumentar. 2 ª edição. Tradução: Desidério Murcho. Lisboa: Gradiva,


2021.

Esta é uma ótima obra para o aprendizado da arte da argumentação. Seu estudo e leitura é
recomendada aos estudantes de todas as áreas de conhecimento. Com ela, aprendemos a
analisar, elaborar e redigir textos argumentativos de forma rigorosa e completa. O livro abran-
ge distintos tipos de argumentos, cobrindo diversos casos e particularidades que possam
surgir ao longo de uma investigação científica.

CASOS DE APLICAÇÃO:

ITEM 2. Conceito, aplicabilidade, evolução, classificação e divisão da ciência

Com o advento da internet e o uso massificado de redes sociais para envio e obtenção de in-
formações, as chamadas fake news, que estiveram de um modo ou de outro sempre presentes

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na cultura humana, tomaram proporções alarmantes e catastróficas. Afim de diminuir o efeito
da disseminação de crenças sem fundamento, principalmente em tempos de epidemia, foram
criados diversos recursos para checagem de notícias, tanto por parte de pesquisadores dentro
da academia, com a criação de programas de computador, entre outros recursos de pesquisa 1
e verificação, como por orgãos governamentais (como, por exemplo o site do governo do Esta-
do de São Paulo: https://www.saopaulo.sp.gov.br/coronavirus/sem-fake-news/), e também por
agências de notícias (como podemos encontrar, por exemplo, no site de notícias “g1”: https://

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g1.globo.com/fato-ou-fake/). Esses mecanismos representam ótimos exemplos da importân-
cia da fundamentação científica e da verificação de fatos para a construção de um corpo de
crenças não somente sólido, mas também salutar para a população humana, garantido, além
disso a soberania política dos cidadãos.

ITEM 3. Importância da leitura

> O que gosta de fazer em seu tempo livre


(% de sempre) Leitor x Não leitor
Base: Amosta Leitor (4.270) / Não leitor (3.806)
P.08) Quais das atividades que eu vou ler o(a) sr. (a.) realiza no seu tempo livre? O(a) sr.(a.)------------
sempre, às vezes ou nunca?

2019 LEITOR NÃO LEITOR


Assiste a televisào 66 68
Usa a Internet 75 56
Escuta música ou rádio 65 55
Usa WhatsApp 68 55
Assiste a vídeos ou filmes em casa 60 41
Escreve 60 31
Reúne-se com amigos ou familia ou sai com amigos 49 40
Usa Facebook,Twttter ou Instagram 50 38
Lê jornais, revistas ou noticias 33 15
Pratica esportes 30 20
Lê livros em papel ou Ilvros digitais 40 7
Passeia em parques e praças 25 17
Desenha, pinta,faz artesanato ou trabalhos manuais 22 11
Joga games ou videogames 19 12
Vai a bares, restaurantes ou shows 13 14
Vai a cinema, teatro,concertos, museus ou exposições 8 3
Não faz nada, descansa ou dorme 17 18
MÉDIA DE ATIVIDADES POR ENTREVISTADO 7,0 5,0

Fonte: Adaptado de FAILLA, Z. (org.). Retratos da leitura no Brasil 5. Rio de Janeiro: Editora Sextante,
p. 222, 2021.

Iniciação à pesquisa científica 37


Sonhando com uma viagem inesquecível: O Planejamento

Este gráfico evidencia como o hábito de leitura está correlacionado a um leque mais amplo
de diferentes atividades praticadas em tempo livre pelos entrevistados do projeto Retratos da
Leitura, mostrando como a leitura tem implicações diretas na qualidade de vida das pessoas
1 e como a falta dela limita as possibilidades de ações dos indivíduos.

ITEM 4. Técnicas para a leitura e a redação científica

No seguinte recorte de reportagem, encontramos um exemplo claro do uso de uma falácia


chamada argumentum ad hominem ofensivo, através da qual ataca-se a pessoa de forma
ofensiva, desviando, desse modo, o foco da discussão. É considerada uma falácia da rele-
vância, dado que a higiene bucal do jornalista é totalmente irrelevante no contexto argumen-
tativo. Ainda assim, essa falácia pode ter efeito e convencer muitas pessoas.

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, publicou nesta quinta-feira (23) dois vídeos atacando
o jornalista Marco Antonio Villa, comentarista da jovemPan e colunista de ISTOÉ. Na gravação, o
ministro não cita diretamente o nome de Villa, mas o acusa de espalhar mentiras e o chama de "boca
de esgoto". Weintraub diz que o alvo de suas críticas foi demitido e recontratado da jovemPan, como
ocorreu com Villa no ano passado, e cita uma frase dita por Villa após seu afastamento da rádio.

"O que você pode esperar de uma pessoa que ninguém quer sentar perto dela, todo mundo quer
distância. Será que é só essa coisa carregada ou tem a fama de mau hálito também? Se for mau hálito,
eu não vou lá enquanto ele estiver", afirma o ministro.

"Mas para as próximas pessoas que quiserem passar pelo suplício de uma entrevista, assim tenta
usar um 'produtinho' aí, que talvez melhore. Não sei se vai ser o suficiente, ô boca de esgoto",
sugeriu Weintraub mostrando a embalagem de um enxaguante bucal. "Se não conseguir, aqui ó, água
sanitária", conclui.

Fonte: WEINTRAUB ataca Marco Antonio Villa: “Boca de esgoto”. Isto é, São Paulo, 23 de jan. de 2020. Disponível
em: <https://istoe.com.br/weintraub-ataca-marco-antonio-villa-boca-de-esgoto/>. Acesso em: 13 de abr. de 2022.

38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARDER, M., DOREN, C. Como ler livros: o guia clássico da leitura inteligente (1972). Tradução de
Edward Wolff e Pedro Sette-Câmara. São Paulo: Editora É Realizações, p. 39, 2010. 1

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. ABNT NBR 14724: informação e

Universidade São Francisco


documentação: trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2011.

DESCARTES, R. Discurso sobre o método (1637). Tradução de Monica Stahel. São Paulo: Martins Fontes,
2001.

GETTIER, E. É a Crença Verdadeira Justificada Conhecimento? In Crítica, 2005. Tradução de Célia Tei-
xeira. Disponível em: http://www.criticanarede.com/html/epi_gettier.html. Acesso em: 19 fev. 2022.

O’BRIEN, D. Introdução à Teoria do Conhecimento. Tradução de Pedro Serras Pereira. Lisboa: Gradiva,
Junho de 2013.

PLATÃO. Teeteto – ou sobre o conhecimento. Belém: Universidade Federal do Pará, 1988

Iniciação à pesquisa científica 39

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