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TESE DE DOUTORADO
A PRODUÇÃO DISCURSIVA DA ALIANÇA SAÚDE-ESCOLA
Canoas, 2020
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TESE DE DOUTORADO
A PRODUÇÃO DISCURSIVA DA ALIANÇA SAÚDE-ESCOLA
CANOAS
2020
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BANCA EXAMINADORA
Canoas
2020
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AGRADECIMENTOS
RESUMO
Este estudo tem como objetivo investigar a produção discursiva em periódicos nacionais
acerca de práticas escolares vinculadas à promoção e à manutenção da saúde, buscando
mostrar suas transformações e descontinuidades ao longo do tempo. Trata-se de uma
pesquisa com metodologia de inspiração genealógica, desenvolvida em uma perspectiva
pós-estruturalista. A intenção original era trabalhar apenas com a Revista Brasileira de
Estudos Pedagógicos (RBEP), porém constatou-se que a partir dos anos 1990 esta
temática vai desaparecendo deste periódico e ganhando espaço em periódicos da área da
saúde. Assim, o material empírico é constituído por 70 artigos publicados na RBEP
entre os anos de 1944 e 2017 e outros 91 artigos publicados em periódicos da área da
saúde. Em um processo preliminar de análise, foram construídos dois eixos analíticos:
Do que é ensinado sobre saúde na escola; Dos que cuidam da saúde escolar. O primeiro
eixo, por sua vez, desdobou-se em quatro categorias de análise: higiene e eugenia;
álcool, fumo e drogas; educação sexual; alimentação e exercícios físicos. A pesquisa
mostra que estes temas fizeram-se presente ao longo do tempo, porém com
transformações em suas abordagens. O tema da eugenia desaparece desde meados do
século XX; o modo de tratar álcool, fumo e drogas, bem como a educação sexual, perde
o caráter fortemente moralista e passa a se apoiar em discursos científicos; o problema
da alimentação passa da fome para a obesidade. O segundo eixo não foi desdobrado em
categorias. Foi possível observar que o professor sempre ocupa lugar central na aliança
saúde-escola, porém os profissionais que lhe apoiam vão mudando. Se nos primeiros
anos, a figura do médico se destacava, gradativamente a tarefa passa para o enfermeiro.
De modo geral, foi possível perceber a existência de uma duradoura aliança saúde-
escola que delega à instituição escolar a tarefa de formar sujeitos prudentes, capazes de
zelar por sua saúde. Entretanto, se a aliança se mantém, as ideias sobre saúde, como e
porque preservá-la vão se transformando com o tempo.
ABSTRACT
This study has as objective to investigate the discursive production in national journals
about school practices linked to health promotion and maintenance, seeking to show its
transformations and discontinuities over time. It is a research with genealogical
inspiration methodology, developed in a post-structuralist perspective. The original
intention was to work only with the Brazilian Journal of Pedagogical Studies (RBEP),
however it was found that from the 1990s this theme has disappeared from this journal
and gained space in health journals. Thus, the empirical material consists of 70 articles
published in the RBEP between the years 1944 and 2017 and another 91 articles
published in health journals. In a preliminary analysis process, two analytical axes were
built: What is taught about health at school; Those who take care of school health. The
first axis, in turn, unfolded into four categories of analysis: hygiene and eugenics;
alcohol, tobacco and drugs; sexual education; food and physical exercises. The research
shows that these themes have been present over time, but with changes in their
approaches. The eugenics theme has disappeared since the middle of the 20th century;
the way of treating alcohol, tobacco and drugs, as well as sexual education, loses its
strongly moralistic character and starts to be supported by scientific discourses; the
problem of food changes from hunger to obesity. The second axis was not broken down
into categories. It was possible to observe that the teacher always occupies a central
place in the health-school alliance, but the professionals who support him are changing.
If in the first years, the figure of the doctor stood out, gradually the task passes to the
nurse. In general, it was possible to perceive the existence of a lasting health-school
alliance that delegates to the school the task of forming prudent subjects, capable of
caring for their health. However, if the alliance is maintained, ideas about health, how
and why to preserve it will change over time.
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE SIGLAS
1 ABRINDO A ESCRITA
que Foucault insistia: “não há um caminho a seguir, para ele não existe o caminho, nem
mesmo um lugar onde chegar e que possa ser dado antecipadamente”.
Além de Foucault, outros autores também me acompanharam ao longo desta
trajetória no Doutorado, principalmente para evidenciar as discussões mais recentes
sobre os assuntos pertinentes ao meu tema e à escrita.
2 CONCEITOS FOUCAULTIANOS
2.1 Disciplina
Segundo Foucault (2014), o poder não se detém como uma coisa, não se
transfere como uma propriedade, mas funciona como uma máquina. O poder disciplinar
funciona de forma silenciosa e permanente; é também indiscreto, onipresente, tudo sabe
e vê, controlando ou esquadrinhando os corpos continuamente, através de um olhar
calculado.
está inadequado à regra, tudo o que se afasta dela, os desvios” (FOUCAULT, 2014, p.
175). Essa sanção visava a tratar com rigor os corpos que não observavam as normas
disciplinares, que não obedeciam aos regulamentos. Foucault (2014, p. 176) argumenta
que a ordem disciplinar é “uma ordem, definida por processos naturais e observáveis: a
duração de um aprendizado, o tempo de um exercício, o nível de aptidão tem por
referência uma regularidade, que é também uma regra”. A punição em regime
disciplinar comporta uma dupla referência jurídica e natural.
O castigo disciplinar reduz os desvios; é essencialmente corretivo. A punição em
boa parte é isomorfa à própria obrigação: ela é menos a vingança da lei ultrajada que
sua repetição, sua insistência redobrada. “Castigar é exercitar” (FOUCAULT, 2014. p.
177). Para Foucault (2014), a punição, na disciplina, é um elemento de um sistema
duplo: gratificação-sanção. Desta forma, as recompensas devem ser utilizadas, assim,
evitando o castigo. O estímulo aos indolentes para a recompensa deve ser incitado. Nas
escolas, isso ocorria com evidência: os alunos eram dispostos de várias formas, como,
por exemplo, em classes decrescentes, dos melhores para os piores, sendo que, na
primeira classe, ficavam os muito bons e, sucessivamente, até a quarta classe, onde
ficavam os classificados como os piores, ainda, havia, em algumas escolas, classes ditas
vergonhosas. Isso era usado para definir o comportamento dos alunos. Os alunos eram
rebaixados ou elevados de nível, conforme seus comportamentos, deste modo,
funcionava como uma penalidade hierarquizante: “hierarquizar as competências, as
qualidades e as aptidões [...], funcionamento penal da ordenação e caráter ordinal de
sanção” (FOUCAULT, 2014, p. 178).
Segundo Foucault (2014), a arte de punir, no regime do poder disciplinar, põe
em funcionamento cinco operações bem distintas: relacionar os atos praticados pelo
sujeito, a fim de comparar, diferenciar e ter como princípio uma regra a seguir;
diferenciar os indivíduos uns em relação aos outros, para que se obtenha uma média de
comportamento; medir em termos quantitativos e hierarquizar as capacidades e o nível
de cada um, a natureza dos indivíduos; fazer funcionar a medida valorativa de forma
que a coação faça efeito; enfim, traçar o limite que diferenciará a fronteira do anormal
para o aceitável. Portanto, “a penalidade perpétua que atravessa todos os pontos e
controla todos os instantes das instituições disciplinares compara, diferencia,
hierarquiza, homogeneíza, exclui. Em uma única palavra, ela normaliza” (p. 179).
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Surge a noção de meio, onde ocorre a circulação dos indivíduos, neste, uns agem
sobre os outros, adicionalmente, aí acontecem os encadeamentos dos efeitos e das
causas. Logo, o que um fizer incidirá diretamente no outro, na vida do outro. Aparece a
noção de um poder que parece diferente da noção jurídica da soberania e de territórios, e
que é diferente também do espaço disciplinar (FOUCAULT, 2008). Aparece, então, no
final do século XVIII, o que Foucault (2002) chamou de biopoder (poder sobre a vida/o
biológico), uma tecnologia de poder que não elimina a disciplina, “não exclui a técnica
disciplinar, mas que a embute, que a integra, que a modifica parcialmente” (p. 289).
Assim, ele alerta, as disciplinas lidavam com o indivíduo e com seu corpo, enquanto a
biopolítica tinha como foco a população.
2.2 Biopolítica
O homem ocidental aprende pouco a pouco o que é ser uma espécie viva num
mundo vivo, ter um corpo, condições de existência, probabilidade de vida,
saúde individual e coletiva, forças que se podem modificar, e um espaço em
que pode reparti-las de modo ótimo. Pela primeira vez na história, sem
dúvida, o biológico reflete-se no político; o fato de viver não é mais esse
sustentáculo inacessível que só emerge de tempos em tempos, no acaso da
morte e de sua fatalidade: cai, em parte, no campo de controle do saber e de
intervenção do poder (FOUCAULT, 2017, p. 154).
Surge, então, a população para dar conta de uma dimensão coletiva que,
anteriormente, não havia sido problematizada. “É um novo corpo: corpo múltiplo, corpo
com inúmeras cabeças, se não infinito necessariamente numerável” (FOUCAULT,
2002, p. 292). Assim, a biopolítica destina-se ao controle da própria espécie e lida com
a população. Segundo Gadelha (2013), a disciplina é efetuada pelo adestramento dos
corpos individuais; já a biopolítica é efetuada pela regulação do corpo social, por uma
tecnologia previdenciária que recoloca os corpos em processo de conjunto.
A biopolítica procede por massificação e a disciplina pela individualização dos
corpos. É uma outra tecnologia de poder, não disciplinar. Ela não exclui a técnica
disciplinar, mas a embute, a integra, a modifica parcialmente. Vai utilizá-la, sobretudo,
implantando-se de certa forma nela, incrustando-se efetivamente, graças a uma técnica
disciplinar prévia (FOUCAULT, 2016). Esta tecnologia se dirige aos processos globais,
afetadas por processos de conjuntos que são próprios da vida do homem-espécie.
A biopolítica buscou racionalizar os problemas postos para a prática
governamental pelos fenômenos de um conjunto próprio de viventes, caracterizado
como população. A partir de então, produz-se de forma unida, um arsenal de aparatos
específicos que colocam em ação medidas para produzir a homeostase e otimizar a vida;
portanto, “de levar em conta a vida, os processos biológicos do homem-espécie e de
assegurar sobre eles não uma disciplina, mas uma regulamentação” (FOUCAULT,
2002, p. 294). Comparando as duas as tecnologias – disciplinar e regulamentadora –
Foucault (2002) dirá que a primeira é centrada no corpo e produz efeitos
individualizantes, ela manipula o corpo como foco de forças; é preciso tornar estas
forças úteis e dóceis ao mesmo tempo. Já a segunda agrupa efeitos de massa próprios de
uma população, procura controlar eventualidades, probabilidades desses eventos e visa
ao equilíbrio global. Regula-se para assegurar a vida, para prevenir e evitar a morte.
Portanto, essas regulações surgem no momento em que o poder intervém no
sentido de ampliar a vida: controlar os acidentes, deficiências, doenças endêmicas,
epidêmicas, taxas de natalidade, mortalidades, relações com o meio geográfico, seguros
de vida, aposentadorias.
1
A maioria das pessoas ainda imagina os seus corpos no nível molar (o autor refere o uso do termo molar
no sentido de estar relacionado à massa, agindo sobre ou por meio de grandes massas de matéria,
frequentemente em oposição à molecular), na escala de membros, órgãos, tecidos, fluxos de sangue,
hormônios e assim por diante. É sobre este corpo molar que atuamos através de dietas, exercícios,
tatuagens e cirurgias cosméticas. Este era o corpo que era o foco da medicina clínica ao longo do século
dezenove, revelado ao olhar do médico após a morte, na dissecação pós-morte, visualizado nos atlas
anatômicos, acessado em vida por uma variedade de instrumentos que ampliavam o olhar clínico e
permitiam perscrutar o interior do corpo vivente. Hoje, entretanto, a biomedicina visualiza a vida
diferentemente. A vida é entendida e sobre ela se opera no nível molecular, em termos de propriedades
dos códigos de sequência das bases de nucleotídeos e suas variações, dos mecanismos que regulam a
expressão gênica e a transcrição, da relação entre as propriedades funcionais das proteínas e suas
topografias moleculares, da função dos componentes intracelulares – canais iônicos, atividades
enzimáticas, genes transportadores, potenciais de membrana – com os seus mecanismos particulares e
propriedades biológicas (ROSE, 2011, p. 14).
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2.3.1 Norma
em outras instituições como hospitais, indústrias, prisões, quartéis. Para Foucault (2014,
p. 180), por exemplo, “estabelece-se no esforço para organizar o corpo médico e um
quadro hospitalar capazes de fazer funcionar normas gerais de saúde; estabelece-se na
regulação dos processos e dos produtos industriais”.
Ocorre igualmente nas prisões, “não pelo fato de estar fundada na privação
jurídica e na liberdade, mas porque dentro dos seus limites e ao abrigo dos seus altos
muros se repete e insiste aquilo com que se fabricam indivíduos normais” (EWALD,
1993, p. 87). A norma, todavia, não ocorre somente no interior da instituição, para
Ewald (1993, p. 83), a norma “articula as instituições disciplinares de produção, de
saber, de riqueza, de finança, torna-as interdisciplinares, homogeneíza o espaço social,
se é que não o unifica”. Além disso, vale destacar que somente a partir de um fenômeno
de normalização (irradiação da norma em todos os setores incluindo a sociedade e,
consequentemente, a população), que abarca um conjunto de indivíduos e instituições, é
que podemos pensar em uma generalização do poder disciplinar e, assim, em uma
“sociedade disciplinar”.
Segundo Foucault (2002, p. 302), “o elemento que circula do disciplinar ao
regulamentador, que se aplica ao corpo e às populações e que permite controlar, ao
mesmo tempo, a ordem do corpo e os fatos de uma multiplicidade humana é a norma”.
A norma biopolítica é estabelecida pela média estatística das ocorrências. “Estabelecer a
norma e prescrever práticas de normalização se constituem tarefas de especialistas, não
podendo ficar a cargo de leigos” (MORAES; SARAIVA, 2012, p. 106).
A norma biopolítica visa a um grande grupo que é a população. Neste caso, a
norma será deduzida de uma multiplicidade: inicia-se pela observação de uma
população, a partir de conhecimentos científicos embasados pela estatística e
parâmetros aceitáveis para aquele grupo em termos do fenômeno de estudo
(FOUCAULT, 2008). Ela atua na gestão da vida centrada no corpo-espécie, nos
processos biológicos como nascimento, mortalidade, nível de saúde, renda, duração da
vida... A grande tecnologia de poder sobre a vida será implementada por meio de
instituições como a família, a escola, a polícia e a medicina, investindo sobre o corpo, a
saúde, as maneiras de se alimentar, de morar etc., distribuindo-se por toda a sociedade.
Já a norma disciplinar visa a decompor, classificar, comparar e hierarquizar os
indivíduos em seus mínimos detalhes. Estabelece o normal e o anormal através de um
ideal de normalidade, previamente estabelecido por um caráter primitivo descritivo da
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norma, um dado saber. “Ela decompõe em elementos que são suficientes para percebê-
los, de um lado, e modificá-los de outro” (FOUCAULT, 2008, p. 74).
Na contemporaneidade, surge uma outra modalidade de poder: o noopoder, que,
conforme Lazzarato (2006), será exercido por meio da ação à distância de uma mente
sobre outra mente, utilizando tecnologias avançadas. Noos é derivado do grego (noûs) e
significa mente ou porção racional da alma. Com base nas escritas de Tarde, Lazzarato
(2006, p. 75) comenta que, no final do século XIX, “no momento em que as sociedades
de controle começavam a elaborar suas próprias técnicas e seus próprios dispositivos, o
grupo social não se constituía mais nem por aglomeração, nem pela população, mas
pelo público”.
No noopoder, o foco está no público e não mais no corpo individual ou na
população. Está centrada no cérebro e na memória. O controle e a norma já não são
estabelecidos em ambientes de confinamento ou vigilância dos corpos, mas sim em uma
arena livre, aberta, ampla, incentivando os movimentos e a circulação. “As técnicas
disciplinares estruturam-se fundamentalmente no espaço; as técnicas de controle e de
constituição dos públicos colocam em primeiro plano o tempo e suas virtualidades. O
público se constitui através de sua presença no tempo” (LAZZARATO, 2006, p. 75).
De acordo com Moraes e Saraiva (2012, p. 106), os públicos “são formas de
subjetivações que expressam a flexibilidade e a característica de multipertencimento dos
sujeitos a vários públicos simultaneamente, porém, através de uma relação de pertença
sem vínculo de exclusividade”. Os públicos são comunicações dissipadas, virtualidades
que acionam cérebros sobre cérebros à distância, construindo efeitos e opiniões.
Portanto, é na opinião que se estabelece a norma no noopoder. Para Moraes e
Saraiva (2012, p. 109), “a norma seria a própria opinião, que, ao formar-se, torna as
opiniões divergentes no interior de um dado público de anormais”. As autoras
argumentam que o exercício do noopoder faz com que “norma” e “normal” se
constituam no mesmo movimento. A norma pode circular em três modalidades de
poder: disciplinar, biopolítico (biopoder) e noopoder. Elas não se excluem, mas se
amparam e se articulam umas às outras para um melhor efeito.
2.3.2 Risco
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Com a instituição dos seguros como uma garantia para o que pode vir a
acontecer na população, “a tecnologia de seguros precisa permear todas as instituições
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3 ESCOLA E HIGIENISMO
3.1 Escola
Existe, para muitos, uma percepção de que a escola é uma instituição
antiquíssima, isto naturaliza sua existência e apaga suas condições históricas. Conforme
Varela e Alvarez-Uría (1992, p. 68), “se a escola existiu sempre por toda a parte, não só
está justificado que continue existindo, mas também que sua universalidade e eternidade
a fazem tão natural como a vida mesma”. Esta naturalização torna qualquer
questionamento sobre sua existência e necessidade como impensável e inquestionável.
Está dada, e todos têm de passar por ela.
Varela e Alvarez-Uria (1992, p. 69), porém, argumentam que a escola “não é
eterna nem natural; é uma instituição social de aparição recente ligada a práticas
familiares, modos de educação e, consequentemente, a classes sociais”. Um conjunto de
condições de possibilidade tornou sua emergência possível, etre elas, as transformações
das percepções em relação às crianças. Na Idade Média, “a criança desde que era capaz
de valer-se por si mesmo integrava-se na comunidade e participava, na medida em que
suas forças o permitiam, de suas penalidades e alegrias” (p. 74).
Segundo Philippe Ariès, foi na Modernidade que surgiu a ideia de infância como
um tempo especial da vida (VARELA; ALVAREZ-URIA, 1992). Embora alguns
autores argumentem que já existia a noção de infância desde a Idade Média, Bujes
(2002) argumenta que foi Ariès quem apontou, por volta do século XVI, um modo novo
de significar as crianças, um novo regime discursivo sobre a infância. A autora coloca
que esse novo sentimento sobre a infância aparece inicialmente na elite da sociedade
francesa e, apenas por volta do século XVII, se estende pelas demais classes da
sociedade. A partir deste novo modo de perceber a infância, surge a necessidade de
instituições especiais para educá-las, segregando-as do mundo dos adultos.
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É o momento em que nasce uma arte do corpo humano, que visa não
unicamente ao aumento de suas habilidades, nem tampouco aprofundar sua
sujeição, mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna
mais obediente quanto é mais útil, e inversamente (FOUCAULT, 2014, p.
136).
O poder disciplinar não pode ser visto como repressivo, mas como enormemente
produtivo. “As pedagogias disciplinares são também um instrumento de primeira ordem
na construção, por um lado, de uma forma de subjetividade nova, o indivíduo, e, por
outro, na organização do campo do saber” (VARELA, 1999, p. 8).
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A classe social operária e pobre tinha de ser educada, pois eles representavam
perigo à sociedade: “o operário é ignorante e faz-se urgência instruí-lo e educá-lo; o
operário tem instintos avessos, e não há outro recurso senão moralizá-lo se queremos
que as sociedades e os estados tenham paz e harmonia, saúde e prosperidade”
(VARELA; ALVAREZ-URIA, 1992, p. 87). As escolas obrigatórias tinham como
desígnio a integração das classes trabalhadoras. Este tipo de escola fazia parte de um
programa de regeneração e de profilaxia social baseado nos positivismos evolucionistas
(VARELA, 1999). As crianças de classes populares, ditas selvagens, na escola
obrigatória, seriam civilizadas e domesticadas. Conforme Santos (2012, p. 75),
a partir dessas novas pautas de regulação social, pode-se notar que a escola
cria uma ruptura com os modos de educação das classes trabalhadoras,
provocando o que se pode chamar de uma série de conflitos e desajustes,
inclusive uma resistência à escola disciplinar, que pode ser interpretada como
falta de disciplina, anormalidade ou delinquência.
Passa-se de uma punição física sobre os corpos que representava uma vingança
do soberano, para um controle do corpo por meio de normas que visavam torná-lo
produtivo. Nas sociedades modernas, vão desaparecendo os espetáculos de poder
centrados no aniquilamento de corpos. É tempo de capitalismo. Os corpos precisam ser
valorados economicamente, investindo-os de produtividade, porque se necessita de
grandes massas de corpos hábeis para o trabalho e, ao mesmo tempo, dóceis ao poder
(PRADO FILHO; TRISOTO, 2008).
Como já vimos, para Foucault (2014), esta nova forma de lidar com o corpo está
ligada com a emergência de uma outra modalidade de exercício de poder que ele
denomina poder disciplinar. Ele manipula, treina, torna hábil multiplica a força dos
corpos. Segundo Foucault (2014), no livro Homem Máquina, Offray de La Mettrie
afirma que o corpo do homem é uma redução do materialismo da alma e, ao mesmo
tempo, uma teoria geral do adestramento. Para La Mettrie, o corpo seria assemelhado a
uma máquina e, também, não se distinguiria do corpo de um animal.
Até o século XVII, a estática da anatomia tinha primazia sobre a dinâmica da
fisiologia. O movimento das engrenagens da máquina-corpo era explicado por uma
imagem congelada (SARAIVA, 2006). Os princípios médicos inventados na Atenas de
Péricles permaneceram por mais de dois mil anos (SENNETT, 2016).
A partir de sua obra De Motu Cordis em 1628, William Harvey abalou essa
concepção. Ele “deu início a uma revolução científica que mudou toda a compreensão
do corpo, sua estrutura, seu estado de saúde e sua relação com a alma, dando origem a
um novo modelo de imagem” (SENNETT, 2016, p. 261). Harvey centrou seus estudos
na circulação sanguínea e no sistema respiratório. Esses estudos refletiram-se na
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digestiva e respiratória devem estar todas em harmonia, pois, todas em ação, produzem
a vida” (CÉSAR, 2010). Deste modo, surge o elemento saúde, para que o corpo
exercitado, minuciosamente treinado e docilizado, apresente-se produtivo no
capitalismo.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde é definida como um
completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e
enfermidade. Moulin (2011) identifica que a OMS propõe um novo ideal dificilmente
acessível, colocando a noção positiva de saúde no lugar de ausência de enfermidade ou
de uma deficiência conhecida. Conforme Quesada (2014), essa definição sofreu
numerosas críticas, principalmente por ter sido descrita como absoluto estático e
utópico. A autora relata que autores como Terris propuseram a eliminação do termo
"completo", formulando uma definição de saúde como um estado de bem-estar físico,
mental e social de um indivíduo com capacidade funcional e não apenas ausência de
afecções ou doenças. Ainda de acordo com Quesada (2014, p.25):
2
É uma abordagem das políticas em todos os setores que sistematicamente leva implicações nas decisões
em saúde, busca sinergias e evita impactos prejudiciais à saúde. Tem como finalidade melhorar a saúde
da população e a equidade em saúde. Como conceito reflete os princípios de: legitimidade,
responsabilidade, transparência e acesso à informação, participação, sustentabilidade e colaboração entre
todos os níveis de governo.
(https://www.who.int/cardiovascular_diseases/140120HPRHiAPFramework.pdf).
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melhor dizendo, a doença não seria senão uma vicissitude da saúde, ou quem sabe
elemento constituinte desta (MOULIN, 2011). Neste contexto, está inserida a interação
complexa de fatores socioeconômicos, históricos, políticos e outros determinantes da
saúde e do bem-estar (LEAHY; SIMOVSKA, 2017).
O termo promoção, quase sempre, é associado com prevenção para a
manutenção da saúde e, consequentemente, afastamento de doenças. Entretanto,
Czeresnia (2003) sinaliza que existem diferenças, atualmente, entre essas duas palavras,
quando referidas à saúde. A promoção de saúde define-se, de maneira mais ampla, do
que a prevenção, pois se refere à medidas que não são dirigidas a uma determinada
doença, ou desordem, mas que servem para aumentar a saúde e o bem-estar geral. Já, as
ações de prevenção, segundo a autora,
Para Malta et. al. (2016), a promoção da saúde, como conjunto de estratégias e
formas de produzir saúde, no âmbito individual e coletivo, visando atender às
necessidades sociais de saúde e garantir a melhoria da qualidade de vida da população,
emerge intrinsicamente marcada pelas tensões próprias à defesa de saúde (MALTA et.
al., 2016, p. 1684). Portanto Malta et. al. l (2016), nos estudos realizado sobre a revisão
da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) em 2013/14, afirmam que há
necessidade de articulação entre as políticas públicas, com imperiosa
participação social e movimentos populares, em virtude da impossibilidade do
setor sanitário responder sozinho ao enfrentamento dos determinantes e
condicionantes que influenciam a saúde, reconhecendo, a priori, que as ações
de promoção e prevenção precisam ser realizadas sempre de forma articulada
com outras políticas públicas, com as demais esferas de governo e com a
sociedade civil organizada para que se tenha sucesso (MALTA et. al.,
2016, p. 1690).
3
Sistema Único da Saúde é a denominação do sistema público de saúde no Brasil inspirado no National
Health Service Britânico (https://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_%C3%9Anico_de_Sa%C3%BAde).
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4
Conjunto de teorias, políticas e práticas que se aplicam à saúde e bem-estar da população, dizendo
respeito a: procriação, bem-estar da mãe e da criança, prevenção de acidentes, controle e prevenção de
epidemias, organização de estatísticas, esclarecimento do povo em termos de saúde, garantia de cuidados
médicos, organização da profissão médica, combate ao charlatanismo (MACHADO, 1978, p. 167).
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Galton [...] afirmava que os seres humanos, assim como os animais, poderiam
ser melhorados através da seleção artificial. Em seus estudos, Galton
procurou demonstrar que a genialidade individual ocorria com excessiva
frequência em famílias de eminentes intelectuais. Um dos objetivos de
Galton era encorajar o nascimento de indivíduos mais eminentes ou capazes,
e desencorajar o nascimento dos incapazes (MANSANERA; SILVA, 2000,
p. 119).
(FIUZA, 2016), indo ao encontro dos escritos de Galton, que visava à melhoria racial
dos seres humanos, educando para uma formação familiar para a concepção dos bens
nascidos.
Já a eugenia negativa seria um conjunto de recursos de ordem cientifica, cuja
finalidade é reduzir a reprodução dos anormais ou mal dotados e, além disso,
estabelecer meios para aumentar a reprodução dos bem-dotados. Para a realização dessa
medida, caberia a proibição de casamentos de degenerados e, em um ato mais radical,
até mesmo a esterilização dos que representavam perigo ao desenvolvimento da
sociedade ideal. Nos casos mais sérios, chegava-se à segregação dos degenerados e
criminosos (FIUZA, 2016).
Por fim, sobre a eugenia preventiva, Fiuza (2016) refere que pouco Kehl
descreveu. Seria a higiene da raça que se preocupa em exterminar as doenças e os males
econômicos e sociais, considerados “venenos degeneradores” para a construção de uma
nação moderna.
Entretanto, a higiene e eugenia foram disseminadas para intervir em todas as
instâncias da vida. Salubridade, conforme Foucault (2016), não é o mesmo que saúde, e
sim o estado das coisas, do meio e seus elementos constitutivos, que permitem a melhor
saúde possível. É a base material e social para garantir a saúde do indivíduo, neste
contexto:
5
Machado (1978) refere-se à tese de José Bonifácio Caldeira de Andrade Júnior, “Esboço de uma higiene
dos colégios, aplicável aos nossos” (regras tendentes à conservação da saúde e ao desenvolvimento das
forças físicas e intelectuais segundo as quais se devem regular os nossos colégios), tese à Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro, em 1855.
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Era uma velha crença do século XVIII que o ar tinha uma influência direta no
organismo, por veicular miasmas ou porque a qualidade do ar frio, quente,
seco ou úmido em demasia se comunicava com o organismo ou, finalmente,
porque se pensava que o ar agia diretamente por ação mecânica, pressão
direta sobre o corpo.
organizados e estar de acordo com a idade do aluno, obedecendo ao espaço entre cada
um e a visibilidade.
De acordo com Machado (1978, p. 301), “a presença médica não deve se
restringir ao espaço da enfermaria; seu poder de decisão e organização deve ser amplo,
ocupando toda a escola”, exercendo vigilância tanto no espaço físico, quanto no quadro
funcional, docente e discente. A higiene “propôs-se a suprir as deficiências políticas dos
diretores, ditando as regras de formação do corpo sadio do adulto e da consciência
nacionalista” (COSTA, 1989, p. 181). No contexto escolar, a partir do movimento
higiênico, segundo Costa (1989), o enquadramento disciplinar da criança teve seu
horizonte nesta sociedade ordenada conforme as aspirações médicas.
O alvo principal da atenção médica é o aluno no espaço escolar. Ao entrar na
escola, seu corpo passa a ser domínio médico, comparando-se aos demais. “Sua sujeição
a uma instância de decisão dotada de ciência é condição essencial para que a função
conhecedora e transformadora da medicina se exerça” (MACHADO, 1978, p. 301).
Aqui, me refiro a uma das condições de salubridade circulante na escola quanto à
higiene do corpo, o cuidado com o próprio corpo.
Vigarello (1996) reforça: “a limpeza escolhida como a mais antiga é a que se
refere exclusivamente às partes visíveis do corpo: o rosto, as mãos. Ser limpo é cuidar
de uma zona limitada da pele, a que emerge da roupa, a única que se oferece ao olhar”
(p. 249). No ambiente escolar, solicita-se ser higiênico, manter as unhas limpas e
cortadas, pentear o cabelo e estar com as mãos limpas antes de lanchar e depois de ir ao
banheiro, além de uma boa aparência.
A maioria das escolas tem uma maneira de padronizar a boa aparência,
solicitando o uso do uniforme, para o qual emerge o primeiro olhar. A adesão do
uniforme escolar é defendida pelos médicos, para que os alunos excluam o externo, para
cessarem as vaidades e ostentações. Ela facilita o controle do asseio e a vigilância dos
que estão inseridos naquele ambiente.
Na escola, os saberes médicos se fazem presentes em inúmeras instâncias: sobre
os corpos dos que lá circulam, com a possibilidade de controle, conhecimento e
intervenção nas diversas situações, as quais os alunos e demais corpos circulantes da
escola se apresentam, e também de um ambiente propicio a isso, propiciador de saúde
física e moral. A educação em saúde no espaço escolar vai ao encontro do biopoder
(poder sobre a vida/o biológico), uma vez sendo uma tecnologia de poder que “não
56
exclui a técnica disciplinar, mas que a embute, que a integra” (FOUCAULT, 2002, p.
289). Articula disciplina e normatizações para a vida, visando à prevenção de doenças, a
manutenção da saúde escolar e, consequentemente, populacional, evidenciando a
biopolítica, que tem como foco a população.
Apresentei, até aqui, o que Arantes (2017) designou como “genealogia tropical”
da medicalização, ao enfatizar a “brasilidade” quando se fez necessária a inserção dos
saberes da medicina no contexto urbano e social da população da época, bem como as
conexões do higienismo com a educação. Na próxima seção, desenvolvo o que vem
sendo tratado especificamente sobre a saúde na escola.
Para Melo (1987), entre as décadas de 1950 e 1960, houve um período áureo da
educação sanitária6 no Brasil que articulava saúde e educação. Isto resultou em avanços
institucionais significativos em diversos campos, como a valorização da higiene mental,
implantação de escolas maternais, creches, parques infantis, entre outros. Valadão
(2004) descreve que, na década de 1950, foi quando surgiu a ideia biologicista, sendo
introduzidos nas escolas os conhecimentos sobre o funcionamento do corpo humano,
sobre as doenças e sobre a forma de preveni-las, e ainda com recorrência às ciências
biológicas e ao uso da metáfora do corpo humano como máquina. Prevaleceram, nesse
período, os fenômenos do insucesso escolar, associados ao estado nutricional ou à
capacidade mental. Estes temas serão desenvolvidos na seção intitulada Alimentação do
escolar.
Na década de 1970, conforme Valadão (2004, p. 29), a saúde escolar “estava
fortemente identificada com o modelo que era frequentemente denominado medicina
escolar, tendo como prioridade os exames físicos em massa e o uso de fichas
padronizadas para o registro de saúde”. Em 11 de agosto de 1971, foi promulgada a lei
5.692/71 que tornou obrigatória, nas escolas brasileiras, a inclusão de programas de
saúde nos currículos das escolas de 1º e 2º graus (JUSBRASIL, 2018). Os programas de
saúde serão descritos no parecer do Conselho Federal de Educação nº 2264/74 com o
objetivo de levar a criança e o adolescente ao desenvolvimento de hábitos saudáveis
quanto à higiene pessoal, alimentação, prática desportiva, ao trabalho e ao lazer
(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2001, p. 258).
As décadas 1980 e 1990 vieram acompanhadas de mudanças no cenário
epidemiológico e político-institucional brasileiro. Nessa época, surgiu a AIDS, uma das
doenças epidemiológicas em que incitou na escola “a implantação de novos projetos
educacionais relacionados à saúde e à educação” (VALADÃO, 2004, p. 30). A partir de
então, as ações de prevenção das doenças sexualmente transmissíveis (DST), AIDS e
também drogas na rede escolar passaram a ter um papel importante na formação das
crianças e dos adolescentes. A parceria entre educação e saúde permitiu o
desenvolvimento de uma consciência crítica, favorecendo a adoção de hábitos e atitudes
6
No auge do Regime Militar, especialmente a partir de 1967, as práticas de educação voltadas para a
saúde - até então denominadas educação sanitária - receberam a denominação de educação em saúde, e as
equipes da área passaram a ser constituídas por diversos profissionais de saúde, não só por educadores
(SILVA et al., 2010, p. 2544).
60
Destarte, a estratégia de Escola Promotora de Saúde “surge no final dos anos 80,
como parte das mudanças conceituais e metodológicas que incorporam o conceito de
promoção7 da saúde na saúde pública, estendendo-o ao entorno escolar” (IPPOLITO-
SHEPHERD, 2005 p. 8). Esta estratégia “implica atividades intersetoriais entre a
instituição educativa, o setor saúde e a comunidade, com identificação das necessidades
e linhas de enfrentamento pelos próprios envolvidos” (CARDOSO et al., 2008, p. 108),
daquela comunidade local. A promoção da saúde no espaço escolar com enfoque
integral tem três componentes relacionados entre si: “Educação para a saúde com
enfoque integral, incluindo o desenvolvimento de habilidades para a vida; criação e
manutenção de ambientes físicos e psicossociais saudáveis; e oferta de serviços de
saúde, alimentação e vida ativa” (FIGUEIREDO; MACHADO; ABREU, 2010, p. 399).
Em 1996, é criada a Lei 9.394, que vem sendo constantemente atualizada. A Lei
dispõe sobre as diretrizes de base da educação e dedica-se à questões relacionadas à
saúde na educação. Oliveira (2013, p. 68) argumenta:
7
A comunidade de Saúde Pública adotou a Carta de Ottawa (Canadá, 1986), que define o conceito de
Promoção da Saúde como “o processo destinado a capacitar os indivíduos para exercerem um maior
controle sobre sua saúde e sobre os fatores que podem afetá-la [...], reduzindo os fatores que podem
resultar em risco e favorecendo os que são protetores e saudáveis [...]. A saúde se desenvolve e é gerada
no marco da vida cotidiana: nos centros de ensino, de trabalho e de recreação. A saúde é o resultado dos
cuidados que cada indivíduo dispensa a si mesmo e aos demais, da capacidade de tomar decisões, de
controlar sua própria vida e de garantir que a sociedade em que vive ofereça a todos os seus membros a
possibilidade de gozar de um bom estado de saúde” (IPPOLITO-SHEPHERD, 2005, p. 8).
61
crianças, aos adolescentes, aos jovens e aos adultos da educação pública estão unindo-se
para o desenvolvimento pleno deste público (BRASIL, 2015a).
O PSE objetiva contribuir para a formação integral dos estudantes por meio de
promoção, prevenção e atenção à saúde, ao enfrentamento das vulnerabilidades que
comprometem o pleno desenvolvimento de crianças e de jovens da rede pública de
ensino (BRASIL, 2015a). A articulação entre escola e rede básica de saúde é a base para
o PSE. Abordar a educação em saúde nas escolas a partir do PSE é um meio fecundo
para a prática desse aprendizado. A escola é o local composto por um grupo que pode
ser atingível com certa facilidade, pois as pessoas estão ali reunidas para aprender.
Segundo publicação do Ministério da Educação (BRASIL, 2017, p. 65),
“entende-se educação para a saúde como fator de promoção e proteção à saúde e
estratégia para conquista dos direitos de cidadania”. A inclusão da educação em saúde
no currículo “responderia a uma demanda social”, em um contexto no qual a tradução
da “proposta constitucional em prática requer o desenvolvimento da consciência
sanitária da população e dos governantes, para que a saúde seja um direito primordial a
todos” (BRASIL, 2017, p. 65).
A escola é um dos locais privilegiados para fazer educação em saúde. De acordo
com Precioso (2004), a OMS e outras instituições como a UNESCO recomendam que a
saúde seja ensinada nos estabelecimentos de ensino da mesma forma que outras ciências
sociais. Em países como Austrália, Dinamarca, Finlândia e Nova Zelândia, a educação
em saúde e bem-estar é disciplina obrigatória dos currículos escolares (LEAHY;
SIMOVSKA, 2017, p. 1).
Leahy e Simovska (2017), juntamente com outros pesquisadores, relatam que,
em outros países, a educação em saúde é institucionalizada de outros modos. No Brasil,
ela é ministrada em diferentes disciplinas, como Ciências, Educação Física, Filosofia,
Geografia, entre outras. Muitas vezes, utilizam-se atividades complementares como
palestras e seminários, ministrados por profissionais da saúde convidados. Além disso,
existem alguns programas em nível nacional inseridos no contexto escolar, para a
promoção da saúde populacional.
Também não podemos deixar de lado o contexto social no qual os alunos estão
inseridos. Fazer educação em saúde na escola abarcaria sujeitos na fase de formação
física, mental e social que ainda não adquiriram praxes e que são mais receptivos à
aprendizagem de hábitos e assimilação de conhecimentos (PRECIOSO, 2004). Além
63
disso, os alunos atuariam como agentes de mudança para a saúde familiar. Eles podem
contribuir com o desenvolvimento de suas competências críticas e envolver-se com o
contexto de saúde.
Nas escolas, o trabalho de promoção da saúde – com os educandos e também
com os professores – precisa ter como ponto de partida “o que eles sabem” e “o que eles
podem fazer” (BRASIL, 2015a, p. 8). Nesta concepção, é necessário desenvolver,
8
Baseado nos saberes e fazeres de Florence Nightingale, destacada enfermeira inglesa que atuou na
Guerra da Criméia (1853-1856) cuidando dos feridos e criou a primeira Escola de Enfermagem na
Inglaterra.
9
Esta fundação, que se autodenominava “benemérita”, era uma instituição de caráter científico, religioso
e filantrópico com uma organização de cunho paramilitar, uma ética religiosa e de trabalho e com forte
apelo à amizade entre Brasil e Estados Unidos. Seus fundamentos eram a superioridade da civilização
americana e a propagação de seu modelo sanitário, o que incluía a criação de hospitais, tendo como
modelo os hospitais americanos, ampliando, desta forma, sobremaneira, a área de influência dos Estados
Unidos no Brasil e na América Latina (KRUSE, 2003, p. 50).
67
[...] Eliminar atitudes viciosas e inculcar hábitos salutares, desde a mais tenra
idade. Criar um sistema fundamental de hábitos higiênicos, capaz de
dominar, inconscientemente, toda a existência das crianças. Modelar, enfim,
a natureza infantil pela aquisição de hábitos que resguardassem a infância da
debilidade e das moléstias (ROCHA, 2003, p. 40)
enfermeiro na saúde pública naquele tempo) e também nas escolas. Foi quando Paula
Souza10 propôs o curso de educador sanitário (FERRIANI, 1991). A emergência do
curso de formação de educadores sanitários buscava, “através da formação de uma nova
categoria profissional, atender a carência de enfermeiros escolares e uma demanda
profissional no setor de educação” (RACHE; SANTOS, 2013, p. 608). O treinamento
dos educadores sanitários foi instituído pela Lei n. 2121, de 30 de dezembro de 1925,
tendo início em 1926, no Instituto de Higiene, “quando se instalou o primeiro curso com
o fim de dar conhecimento de saúde pública a professores de classe” (FERRIANI, 1991,
p. 101). “Os professores, portanto, seriam os elementos chaves no processo de
educação sanitária paulista, tendo como ponto de partida a ação sobre os escolares”
(FERRIANI, 1991, p. 101).
Entre as décadas de 1930 e 1950, as escolas de enfermagem não obtiveram um
número suficiente de alunos, “tanto pela falta de divulgação da enfermagem como
profissão, como pela falta de reconhecimento social da importância da mesma”
(GARCIA; CHIANCA; MOREIRA, 1995, p. 75). Para Ferriani (1991, p.109), a
ausência da enfermeira nas dadas décadas aconteceu pela “não existência de escolas de
enfermagem suficientes para atender área de saúde pública e o crescimento de cargos
nos hospitais”.
A enfermagem como profissão teve um longo percurso até se consolidar.
Conforme Garcia; Chianca; Moreira (1995), nos anos 1950 o ensino de enfermagem era
indefinido entre níveis médio e superior. Na década de 1960, o Parecer 271/62 do
Conselho Federal de Educação fixou a formação do enfermeiro em três anos letivos,
com a possibilidade eletiva de cursar um quarto ano de especialização em saúde pública
ou obstetrícia. Os mesmos autores discutem as análises realizadas por Oliveira em 1981
sobre o currículo proposto no parecer 271/62, segundo este autor, o qual agravou a
situação de uma profissão que procurava se consolidar conforme as demais a nível
superior
Os objetivos educacionais, implícitos no Parecer do Relator de
Conselho Federal de Enfermagem (CFE) ao apreciar as modificações
solicitadas no Parecer original da Associação Brasileira de
Enfermagem (ABEn), afirmava que “o curso geral prepara o
enfermeiro para cuidar do doente como auxiliar do médico”, não se
justificando, segundo ele, como solicitado pela ABEn, a inclusão de
10
Geraldo Horácio de Paula Souza, diretor do Instituto de Higiene da Faculdade de Medicina de São
Paulo.
69
5 A ALIMENTAÇÃO DO ESCOLAR
11
A FAO, organização da ONU que trabalha a questão de alimentação e agricultura, trabalha com um
indicador chamado “prevalência da subalimentação” para dimensionar e acompanhar a fome em nível
internacional. Ela combina dados sobre a oferta de alimentos e outros e aplica questionários a uma
amostra da população para estimar a proporção de pessoas abaixo de um requisito de energia dietética
mínima. O mapa indica desde 1990 o número global de pessoas subalimentadas no mundo e mostra que
regiões obtiveram progressos nas proporções de pessoas subalimentadas. Quando o indicador está acima
de 5%, o país está dentro do mapa da fome. Quando está abaixo de 5%, o pais sai do mapa da fome.
(LUPION, 2017)
74
12
O conceito de Segurança Alimentar veio à luz a partir da 2ª Grande Guerra com mais de metade da
Europa devastada e sem condições de produzir o seu próprio alimento. Esse conceito leva em conta três
aspectos principais: quantidade, qualidade e regularidade no acesso aos alimentos (BELIK, 2003, p.15).
Segurança alimentar e nutricional significa garantir, a todos, condições de acesso a alimentos básicos de
qualidade, em quantidade suficiente. De modo permanente e sem comprometer o acesso a outras
necessidades essenciais. (Projeto de Lei do Senado Nº de 2006, art. 2º de autoria de Senador Pedro
Simon).
75
6 APONTAMENTOS METODOLÓGICOS
6.1 Genealogia
Foucault (2016) esclarece que “a genealogia não pretende recuar no tempo para
restabelecer uma grande continuidade para além da dispersão do esquecimento; sua
tarefa não é a de mostrar que o passado ainda está lá, bem vivo no presente...” (p. 62).
Portanto, a genealogia trata de um tipo especial de história “que tenta descrever a
gênese no tempo” (VEIGA-NETO, 2005, p. 66). Ela não busca a origem, no sentido
exato, no qual “as coisas se encontram em estado de perfeição” (FOUCAULT, 2016, p.
59). Por isso, um estudo genealógico tem de ser feito com bastante cautela, “dedicar-se
à análise meticulosa de toda a construção histórica dos saberes reconhecendo os
acontecimentos da história como fundamentais” (DINIZ; OLIVEIRA, 2014, p. 145),
para não cair no “exagero da metafísica que reaparece na concepção de que, no começo
de todas as coisas, se encontra o que há de mais precioso e essencial” (FOUCAULT,
2016, p. 59). A genealogia não tem por finalidade reencontrar as raízes de nossa
77
ininterrupta, pois é o periódico brasileiro da área de educação mais antigo que ainda está
em circulação. Outros elementos motivadores dessa escolha foram os autores e as
discussões presentes nas escritas apresentadas. A revista é uma fonte de extrema
importância para pesquisa e estudos, isto é demonstrado ao ler os diferentes autores que
se utilizaram dela. Conforme Rothen (2005) a RBEP é concomitantemente fonte de
pesquisa e objeto de estudo. Fonte de pesquisa por “fornecer os artigos e documentos
que serão estudados” e objeto “por ser um dos instrumentos utilizados pelos
escolanovistas para instaurar a sua hegemonia política e intelectual no campo
educacional (2005, p.191).
Portanto a RBEP constitui-se em um rico campo para exploração de pesquisas.
Nela estão as discussões sobre o cenário brasileiro pertinente a educação desde o ano de
sua primeira publicação, sendo
uma fonte privilegiada de estudos, pois em suas páginas conflui um
universo selecionado de pensadores, intelectuais, modelos
pedagógicos, discussões históricas, leis, análises críticas sobre as leis,
histórico de acontecimentos e fatos relevantes para o cenário
educacional. As análises que envolvem a conjuntura do momento da
escrita são profundas e amplamente debatidas pelos articuladores,
pesquisadores, e convidados de RBEP (BRAGHINI, 2005, p. 5).
Dessa forma, a RBEP apresentou-se, cada vez mais, como uma influente fonte
para desenvolver a minha pesquisa. Também, ao garimpar as pesquisas realizadas
anteriormente na RBEP, percebi que pouco foi explorado em relação aos saberes e
práticas educacionais preconizados para as escolas para a promoção e manutenção da
saúde, fortalecendo cada vez mais meu interesse na desenvoltura da pesquisa na revista.
Em um primeiro momento, a RBEP seria o único material empírico. Entretanto,
a partir dos levantamentos iniciais, verifiquei que as questões de saúde na escola já não
estavam nas páginas do periódico. Indo além, percebi que estas temáticas migravam,
nos últimos anos, para periódicos de outras áreas, principalmente com a ascensão das
revistas especializadas nas diversas áreas. Assim, para tornar o material empírico mais
consistente, busquei outras revistas que contemplassem os assuntos pesquisados, mais
precisamente, revistas especializadas de enfermagem e revistas que apresentassem
artigos sobre alimentação na escola. Isto se justifica, pois, na fase do projeto, ao fazer
79
uma rápida pesquisa na Plataforma Scielo13 por meio das palavras-chaves “saúde
escolar” constatei a presença de um número significante de títulos de artigos que
contemplavam esta busca. Esta nova busca foi necessária, tendo em vista que os temas
desta Tese apareceram de forma muito esporádica na RBEP a partir de final do século
XX. Conforme argumenta Souza (2013, p. 42), “as revistas especializadas passaram a
ascenderem nos anos de 1960 a 1990, considerando-se como um dos melhores veículos
para lidar com públicos direcionados e específicos”.
Além disso, no entendimento de Souza (2013), o uso de plataformas online
facilitou o acesso a esses periódicos, e decorre dos processos de digitalização da
produção, iniciado nos anos 1980. Então, parti para a pesquisa dos títulos dos artigos
existentes nas plataformas online, os quais vieram a apresentar-se não em uma ou duas
revistas, mas em diversas revistas, exibindo os artigos que contemplassem as palavras
chaves pesquisadas, tratando de estratégias de promoção da saúde dos alunos nas
escolas conforme escrevo na seção 7.3. Feitas as escolhas dos artigos, foi realizada a
leitura para a identificação dos temas e propósitos centrais da pesquisa, conforme já
vinha fazendo com os artigos da RBEP para ver neles as possibilidades analíticas.
Apresento, no próximo capítulo, informações referentes a RBEP pesquisadas
junto ao Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP).
13
Scielo é uma biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos
brasileiros.
80
Surge assim, no momento próprio a RBEP, para congregar os estudiosos na observação dos
fatos educacionais, exame dos princípios e doutrinas, e cuidadosa análise das mais
importantes questões de aplicação. Em suas páginas, terão acolhida artigos de colaboração,
em que se exponham e debatam opiniões. Aqui se registrarão, cada mês, resultados de
trabalhos realizados por diferentes órgãos do Ministério, dados estatísticos, os textos de lei, e
as decisões administrativas de maior relevância. Não faltarão, também, sucintos estudos de
aplicação, de modo a difundir normas de orientação pedagógica que a prática tenha
estabelecido como proveitosas, e os princípios da moderna didática sancionem como
legítimas. Apresentar-se-ão ainda notas bibliográficas, informes sobre a vida educacional nos
Estados e no estrangeiro, e a transição de artigos da imprensa, quando dedicados aos
assuntos pedagógicos do momento (RBEP, 1944, p. 6).
14
Ministro no Governo Vargas.
84
O manifesto postulava uma educação obrigatória que deveria ser, por esta razão,
antes de mais nada gratuita, cabendo ao Estado, como representante de todos os
cidadãos, assegurar esse direito, tornando a educação uma função essencialmente
pública. De acordo com o documento, a educação e o ensino devem obedecer a planos
15
Cabe destacar que boa parte dos intelectuais que constituíam o grupo fundador do ABE era composta
por engenheiros.
85
visavam a garantir uma enunciação tão explicativa quanto preditiva dos diferentes
comportamentos.
Azevedo (2010) avalia que, se a educação está vinculada de modo tão íntimo à
filosofia de cada época, e lhe define o caráter, rasgando sempre novas perspectivas ao
pensamento pedagógico, a educação nova se constituirá como uma reação categórica,
intencional e sistemática contra a velha estrutura do serviço educacional, a qual é
artificial e verbalista, e está montada para uma concepção vencida.
Para Azevedo (2010), a educação nova alarga sua finalidade para além dos
limites das classes. Com uma feição mais humana, ela assume sua verdadeira função
social, preparando-se para formar “a hierarquia democrática” por meio da hierarquia
das capacidades, recrutadas em todos os grupos sociais, que passariam a dispor das
mesmas oportunidades de educação. A oportunidade de educação atravessaria, então,
todas as classes sociais respeitando seus limites e faixa etária, todos supostamente
teriam a mesma chance de educação.
Portanto, além de científica, a Escola Nova aponta para a democracia. Ela visa a
uma educação de acordo com as aptidões naturais dos alunos. Para Azevedo et. al.
(2006), “ela tem, por objetivo, organizar e desenvolver os meios de ação durável com o
fim de dirigir o desenvolvimento natural e integral do ser humano em cada uma das
etapas de seu crescimento, de acordo com uma certa concepção do mundo” (p. 191).
Ainda no sentido de mostrar a constituição da RBEP, não poderia deixar de
tratar do INEP, órgão em que a RBEP foi implementada. Mesmo com suas reformas, a
Revista continua a pertencer a essa instituição até os dias de hoje.
7.2 O INEP
A primeira tentativa da instalação do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos
(INEP) ocorre em 1936, quando, ao reformular o Ministério da Educação e Saúde,
Gustavo Capanema cria o Instituto Nacional de Pedagogia, a partir da sugestão de
87
7.3 A garimpagem
A busca foi realizada desde a primeira publicação da revista, no mês de julho do
ano de 1944, estendendo-se até o número correspondente aos meses de
setembro/dezembro ano de 2017, quando foi publicado o volume 98, número 250. Para
uma visualização panorâmica, apresento a seguir o design da capa do primeiro e do
último número publicado.
Figura 1 - Capa da RBEP n.1 - 1944 Figura 2 - Capa da RBEP n.250 - 2017
Para seleção dos artigos que irão compor o corpus da pesquisa, analiso,
primeiramente, o sumário de cada edição, buscando identificar a partir dos títulos
aqueles que seriam relevantes para os objetivos propostos. Após, verifico, de forma
mais minuciosa, as páginas da Revista. Notei que o periódico era composto,
inicialmente, pelas seguintes seções: editorial, ideias e debates, documentação, vida
90
Posso dizer que esse tipo de garimpagem e leitura está inserido na forma de
análise documental. Para Foucault (2008), o documento não é mais, para a história, essa
matéria inerte através da qual ela tenta reconstruir o que os homens fizeram ou
disseram, o que é passado e o que deixa apenas rastros: ela procura definir, no próprio
tecido documental, unidades, conjuntos, séries e relações. Neste sentido, procurarei
descobrir, entrelaçar, romper descontinuidades, enfim analisar as ocorrências mostradas
nos artigos da RBEP ao longo dos anos de sua existência em relação à saúde no
ambiente escolar.
Ao selecionar os artigos, organizei-os em uma tabela, classificando-os por ano,
mês, volume, número e título do artigo. Cheguei a um total de 70 artigos, conforme o
Apêndice A.
A seguir apresento o gráfico realizado a partir da distribuição cronológica dos
artigos que foram selecionados conforme as temáticas de interesse para a pesquisa.
91
16
BDENF é uma base de dados bibliográficas especializada na área de Enfermagem.
17
LILACS - Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde, é um índice e repositório
bibliográfico da produção científica e técnica em Ciências da Saúde publicada na América Latina e no
Caribe
93
Figura 4 – Gráfico 2: Distribuição dos artigos das revistas pesquisadas por ano (1944-2017)
8 PROCEDIMENTO ANALÍTICO
Portanto, após ler e reler aqueles excertos, tentando entender o porquê deles
estarem ali, por momentos pareciam estarem emaranhados, confundiam-se,
entrelaçavam-se, davam um mesmo sentido, um mesmo enunciado aparecia por mais de
uma vez. Entretanto, aos poucos, as relações foram estabelecendo-se e percebi “que
poderia agrupar enunciados a partir de entendimento de correlações que os
aglutinavam” (SARAIVA, 2009, p. 25). Refinando o material e conseguindo, de acordo
com Saraiva (2009, p. 25,) formar “grupos e enunciar significados para essas
aglutinações. Chamando esses agrupamentos de categorias de análise”. Aos poucos e
com um melhor domínio do material, engendrei as seguintes categorias: Higiene e
Eugenia, Álcool, Fumo e Drogas, Educação Sexual, Da Alimentação e Exercícios
Físicos no âmbito Escolar; e Dos que cuidam da saúde escolar. Ademais, as categorias
devem ser entendidas “como uma maneira de lidar com a tipologia do discurso. São
recortes que imponho nas séries de enunciados, em relação a suas aproximações e
modulações” (SARAIVA, 2006, p. 145). Na tabela abaixo, apresento as categorias
criada. Destaco que no eixo 2, criei uma única categoria.
O ensino moderno da higiene visa ao melhoramento da vida humana. Assim sendo, seu
objetivo vai muito além da simples assimilação, pelos educandos, de certa soma de
conhecimentos. Sua finalidade última é a de conseguir que cada indivíduo dirija sua conduta
de maneira proveitosa à própria saúde. Por isso, a instrução e as experiências que eficazmente
contribuam para a formação de bons hábitos e de atitudes sadias, e que conduzam à
compreensão dos princípios de higiene, constituem os elementos integrantes de um programa
de educação tendente a promover o bem-estar físico e mental da infância (RBEP, 1945, p.
377).
O destino da Humanidade foi traçado até agora pela doença. É chegada a oportunidade
desse destino ser traçado pela saúde. É essa uma das funções supremas da escola municipal.
Precisamos fazer da educação uma transação de grande rendimento econômico para o
Estado, o que somente conseguiremos quando evitarmos a morte prematura — o capítulo
mais triste da história humana. Graças à educação, nos países altamente civilizados, a maior
cifra de mortes beira os 70 anos. No Brasil, ao contrário, a maior cifra de mortes ocorre nos
primeiros meses e anos da vida. A mortalidade da criança, entre nós, é elevadíssima durante
todo o período de crescimento. Em 12 anos morrem, no Brasil, para mais de 1.500.000
crianças em idade escolar, isto é, numa idade em que praticamente ninguém devia morrer
(CLARK, 1946, p. 350).
Pela eugenia e higiene se pode gerar e criar um homem perfeito e sadio, e protegê-lo contra
as doenças; sendo portanto, a conquista da saúde do corpo e do espírito a mais bela
realização humana. Com ela o engenho e o esforço humano não conhecem impossibilidades.
As causas principais de doenças e mortes, tanto de adultos como de crianças, no nosso país
são as doenças transmissíveis e a má alimentação, devidas principalmente à ignorância, às
péssimas condições higiênicas e à falta de educação geral e sanitária das massas.
(...) A um povo deseducado é difícil ensinar-lhe os preceitos gerais de boa eugenia e higiene,
por isso merecem aplausos os governos que mandam ou facilitam o funcionamento de
escolas primárias e secundárias, que irão iluminar o cérebro de crianças e jovens de nossas
cidades e sertões, facilitando os serviços de saúde e preparando os futuros trabalhadores e
homens do país (PER Y ASSUN, 1947, p 102).
8956
Considerando que a partir da década de 1990 a terminologia eugenia é retomada nos meios de
divulgação científica dentro do contexto dos atuais avanços biogenéticos, os dados
encontrados na REBEn apontam para uma lacuna no que tange a esses avanços, sugerindo
uma certa resistência da enfermagem frente a esse novo quadro da ciência. Fala-se, inclusive,
no uso mais apropriado do termo “eugenética”, que representaria a forma contemporânea da
eugenia, uma tecnociência nascida nos anos 1970, do encontro entre a genética, biologia
molecular e engenharia genética, situação não referida na revista (MAI; ANGERAMI, 2006,
p.89).
99
Os próximos excertos têm por foco a criação de hábito da higiene nos alunos e
em suas famílias. O primeiro traz uma série de orientações sobre procedimentos para
manutenção da saúde. Higienismo não diz respeito apenas à lavar-se, mas também à
adquirir outros hábitos que garantam que os sujeitos sejam sadios. Os seguintes,
publicados em anos posteriores pela RBEP, mas não muito depois do primeiro,
reforçam a ideia de que a educação está ligada com a higiene para promoção da saúde.
a) lavar as mãos com água e sabão antes das refeições; b) é proibida a leitura durante as
refeições; c) é obrigatório o uso de papel Higiênico, a ser lançado no vaso sanitário; d) é
obrigatório escovar os dentes ao menos pela manhã, ao levantar-se e à noite, ao deitar-se; e)
será de nove horas o número de heras destinadas ao sono; f) os alunos internos que, por
qualquer circunstancia, permanecerem no estabelecimento durante os dias de saída, serão
levados a passeios a praias ou ao campo, ao menos duas vezes por mês. 6 — INSTRUÇÃO
E EDUCAÇÃO DE SAÚDE Ficam instituídas, nos estabelecimentos de ensino secundário e
comercial, sob fiscalização federal, palestras de instrução de saúde, que visarão ministrar
conhecimentos úteis e criar hábitos sadios; essas palestras serão organizadas e redigidas pela
Seção de Nutrição da D. O. S. do Departamento Nacional de Saúde, ficando incumbido.; de
sua leitura os técnicos federais encarregados das inspeções (RBEP, 1947, p. 127)
Os hábitos de higiene variam, entre as crianças, segundo o tipo de educação de cada família.
O gosto pelo banho, quase unicamente de bacia ou de cuia, é muito generalizado. Muitas
crianças, a julgar pelos informes, também escovam os dentes e penteiam os cabelos com
assiduidade, tendo o costume de lavar as mãos com frequência e de “meter os pés n’água”
antes de deitar-se (AZEVEDO, 1954, p. 136).
defender” (p. 253). Mostra-se necessário defender o corpo das doenças que podem vir a
desenvolver pela falta ou ausência de hábitos higiênicos ou de higiene. Contudo, o
ensino da higiene transborda o ambiente escolar, agindo sobre as famílias. Os alunos
fazem com que esses conhecimentos cheguem aos pais e solicitam a execução da prática
de higiene no lar. Além disto, em um determinado momento, surgem as chamadas
educadoras visitadoras sanitárias, para fiscalizar se os hábitos saudáveis estão presentes
na comunidade, visando ao melhoramento da saúde. Conforme apresentam os artigos da
RBEP abaixo:
A aquisição de bons hábitos pelos escolares vai refletir-se no meio familiar, modificando-o,
para melhor. A criança, com a alegria de um novo conhecimento adquirido, ao chegar a casa,
observa os pais, solicita a mudança dêste ou daquele hábito, quer, por exemplo, dormir de
janelas abertas, insiste, teima, e com o seu poder persuasivo, consegue. Outras vezes, e
quantas! não recebem os professôres a visita dos pais de seus alunos que lhes vêm perguntar
se isto ou aquilo foi aconselhado ou ensinado na escola; ou, então, se é aconselhável a
prática dêste ou daquele hábito, porque seu filho diz ser ótimo e recomendado. É a criança
educando os adultos, é a escola, por extensão, agindo e modificando o meio em que vivem
os escolares, melhorando-o e permitindo ao próprio escolar melhor rendimento (ANTUNES,
1948, p. 219).
O melhoramento da comunidade, que a educação deve prosseguir por todas as formas, tem
de forçosamente começar pela defesa da saúde, que é a necessidade básica e a condição
essencial da vida da comunidade. A educação higiênica dos alunos, na escola, não será
eficaz se não se completar com a vigilância estrita do meio social, em que vivem, por um
corpo bem organizado de educadoras e visitadoras sanitárias (MARTINS, 1957, p. 131).
Por um longo tempo não houve publicações de artigos na RBEP sobre higiene
ou eugenia. É possível afirmar a preocupação com o envolvimento da escola e com o
desenvolvimento de hábitos de higiene continua a aparecer mesmo em revistas mais
recentes. Porém, observam-se duas mudanças importantes: os artigos que tratam do
tema tornam-se mais raros e já não estão, prioritariamente, em periódicos de Educação,
mas de outras áreas, com ênfase para a Enfermagem. Portanto, os periódicos continuam
101
É preciso ter higiene, tomar banho todos os dias, escova os dentes. Quem desrespeita normas
de higiene (mexer descuidadamente no lixo, não escovar os dentes, etc.) não cuida de sua
saúde. Ora, muitas pessoas desrespeitam normas de higiene, logo muitas pessoas não cuidam
de sua saúde (ZIEBELL; BECKER,1993 p. 610)
Voltada para o ensinamento de hábitos de higiene que deveriam se propagar para a família,
não restringindo tal preocupação ao espaço interno da sala de aula, a escola envolvia a
comunidade (MIGNOTT, 1993, p. 622).
É importante sinalizar que durante essas décadas nas quais não existiram
publicações de artigos sobre a questão da higiene na RBEP, foram oficializados
documentos quanto ao ensino sobre saúde nas escolas. Em 1971, foi promulgada a lei
5.692/71 (BRASIL, 1971), conhecida como a segunda Lei de Diretrizes e Bases da
Educação de 1971 (LDB), que instituiu temas da saúde deveriam ser desenvolvidos de
maneira compulsória nos currículos escolares de todos os estabelecimentos de ensino do
Brasil, por meio dos “programas de saúde”. Nesses programas, muitos dos especialistas
fazem-se presente, podendo atuar nas escolas. Entretanto, desde a promulgação da LDB
de 1971 até os anos 90, não existem outros documentos oficiais relevantes para tratar
deste tema. Nos anos 1990, os PCNs, conforme desenvolvi na seção 3.4, afirmaram a
educação em saúde considerada como um dos “temas transversais” que devem ser
desenvolvidos nos currículos escolares (BRASIL, 1998).
Na temática “Higiene”, foram realizadas oito atividades. Para cada uma delas, os acadêmicos
organizaram um cartaz com desenhos sobre higiene para as crianças identificarem as ações e
utensílios utilizados em diversas ações diárias como, por exemplo, ao tomar banho, ao ir ao
banheiro, antes de comer e ao escovar os dentes. O cartaz foi dividido nas ações diárias e
havia desenhos de utensílios que as crianças deveriam associar e colar junto às ações de
higiene. No caso de “tomar banho”, as crianças deveriam mencionar os utensílios
necessários como sabonete, shampoo e condicionador e descrever como se deve tomar
banho, no seu passo a passo. Essa atividade foi auxiliada pelos acadêmicos que, de maneira
lúdica, davam dicas para as crianças
102
O jogo de quebra-cabeça foi elaborado pelos acadêmicos, com dois jogos de quebra cabeças,
com nove peças cada, constituindo uma figura de ação de higiene para que as crianças
montassem o mais rápido possível do que a outra equipe. No jogo de perguntas e respostas,
as equipes eram questionadas sobre aspectos conversados no encontro anterior sobre higiene
e cada resposta correta correspondia a pontos no placar (DA SILVA et al., 2017, p. 5458).
Destaco que, conforme mostra o artigo acima, drogas eram tratadas na época
como narcótico. O termo droga só será utilizado no sentido que hoje tem mais
tardiamente.
O consumo de álcool, bem como das drogas, por suas características intrínsecas e
polissêmicas, exige um olhar multidisciplinar. A Enfermagem, cujo campo de ação vem sendo
ampliado, historicamente tem desenvolvido ações de promoção da saúde, de prevenção de
riscos, de educação, de reabilitação social, tanto nas instituições de saúde, de educação, e na
própria comunidade (LOPES et al., 2007, p. 715).
Beck (2010, p. 275), o “risco é um produto histórico [...] a imagem especular de ações e
omissões humanas” (Beck 2010, p. 275). E a escola é um local apropriado para colocar
em movimento possíveis ações preventivas baseadas na autonomia dos sujeitos
envolvidos.
[...] à escola caberá orientar o aluno em matéria de educação sexual. A sociedade humana
tem constantemente diante de si o problema de ministrar a cada nova geração a orientação
necessária acerca dos aspectos da vida que dizem respeito às relações entre os sexos. Tais
relações são de natureza complexa e variada, e acarretam atitudes e hábitos associados com o
desenvolvimento e a amizade, o noivado, o matrimônio e paternidade. Por esta razão, a
educação sexual não pode ser meramente uma série de lições em um programa de ensino —
certo número de noções a aprender. Deve, antes, ser encarada como um problema de
107
convivência, como uma fase da educação da personalidade integral dos jovens. A educação
sexual requer instrução, é claro; mas compreende mais do que instrução: é um processo
progressivo de educação, planejado com o propósito de formar na infância e na adolescência
os hábitos e atitudes desejáveis, que são necessários à formação da família e à estabilidade do
lar. A importância da educação sexual assim entendida é indiscutível. As alterações por que
passam os costumes e normas morais, os efeitos destes na posição da mulher e a mudança de
atitude social que se nota em relação ao matrimônio e ao divórcio, assim como a liberdade
cada vez maior de que gozam as novas gerações, tornam muito necessária a orientação destas
em aspecto tão importantes da vida, como seja o das relações entre os sexos. Por outro lado,
todo jovem experimenta a necessidade de compreender o desenvolvimento do seu próprio
organismo e os seus impulsos e sentimentos, e de adaptar-se ao meio social ambiente [...]. É
evidente que a escola deve assumir maior responsabilidade pela educação sexual do que o
tem feito até agora. Mediante mútua compreensão e cooperação com o lar, ela pode, pelo
menos, imprimir direção ao programa, que requer o concurso de todas as influências
formativas da personalidade. Muitos pais não somente verão com simpatia a obra que a
escola se disponha a realizar no sentido da educação sexual dos seus filhos, senão ainda
ansiarão por que ela tome a iniciativa a esse respeito. Grupos de estudos integrados por pais
de família; práticas e conferências periódicas, além de entrevistas pessoais, abrem caminho à
compreensão e ao esforço conjugado entre a escola e o lar (RBEP, 1945a, p. 389).
O sexo deveria, então, ser tratado como uma prática associada ao casamento,
com forte orientação moralizadora. Segundo Foucault (1984, p. 28)
[...] para ser dita "moral" uma ação não deve se reduzir a um ato ou a
uma série de atos conformes a uma regra, lei ou valor. É verdade que
toda ação moral comporta uma relação ao real em que se efetua, e uma
relação ao código a que se refere; mas ela implica também uma certa
relação a si; essa relação não é simplesmente "consciência de si", mas
constituição de si enquanto "sujeito moral", na qual o indivíduo
circunscreve a parte dele mesmo que constitui o objeto dessa prática
moral, define sua posição em relação ao preceito que respeita,
estabelece para si um certo modo de ser que valerá como realização
moral dele mesmo; e, para tal, age sobre si mesmo, procura conhecer-
se, controla-se, põe-se à prova, aperfeiçoa-se, transforma-se
(FOUCAULT, 1984, p. 28).
junho de 1977 (PLANALTO, 1977). Até então, o Brasil reconhecia apenas o desquite,
que consistia na dissolução do laço matrimonial, porém sem que houvesse a dissolução
do vínculo jurídico, não sendo possível um novo casamento. Além da escola, a
educação sexual deveria estender-se às famílias. Todavia, as famílias, de acordo com
Costa (1989, p. 194), “estavam longe de corresponder à representação da família
imprudente que não se dava conta de que os filhos cresciam e que, não mais sendo
crianças, precisavam ter a sexualidade controlada e dirigida para a utilidade e o bem
comum”. Portanto, este papel já era assumido pela maior parte dos núcleos familiares.
dessa aprendizagem sobre a sexualidade, sugerindo que seja incentivada pelo professor.
Um dos itens dos deveres dos professores estipulados naquela década nas Diretrizes
para uma Política Educacional em Sexualidade reforçava a importância do uso de
estratégias educacionais no ensino da educação sexual:
Fazer uso de estratégias educacionais que transcendam o mero
informar e sejam capazes de promover: uma reflexão crítica de valores
e atitudes, que possibilite escolhas livres, conscientes e responsáveis;
uma vivência que leve o educando à participação e à cooperação, em
oposição a uma postura individualista; e uma atitude crítica do próprio
adolescente que determine não só a contemplação passiva da
realidade, mas promova uma ação dinâmica sobre ela (BRASIL,
1994).
O professor é mais uma vez tido como o principal educador quanto a educação
sexual, pois conforme Brasil (1994), o tema em questão deveria:
Restringir, ao máximo, as intervenções de pessoas estranhas ao
cotidiano escolar (palestras, conferências, campanhas) que, por serem
episódicas e desprovidas de continuidade, embora possam ter um
impacto imediato c alterar momentaneamente a percepção do
problema com base nas repercussões emocionais, raramente
modificam atitudes e condutas (BRASIL, 1994).
palco para a estratégia para prevenção desta patologia e os laços entre educação e saúde
forma mais uma vez fortalecidos.
Por outro lado, a escola significa um local importante para se trabalhar conhecimentos,
habilidades e mudanças de comportamentos. Ela representa um contexto propício e
adequado para o desenvolvimento de ações educativas, atuando nas diferentes áreas do saber
humano. E, neste sentido, mais do que nunca, há de se investir nas questões da sexualidade e
das DST-HIV/ AIDS, entre outras, desmistificando, porém, preconceitos e tabus existentes,
bem como crenças, valores e mitos estereotipados na educação das pessoas, ao longo dos
tempos. Isto exige, portanto, estratégias pedagógicas apropriadas, visando a integração da
família e da comunidade neste processo.
Nos últimos tempos, os escolares têm bombardeado seus professores ou similares, à busca de
informações e esclarecimentos sobre as questões da sexualidade e do sexo frente às DST-
AIDS entre outros problemas correlatos. Por sua vez, muitas escolas tem buscado a equipe
multidisciplinar para dar assessoria a estes programas. Embora havendo importância e
avanço neste intento escolar, ainda há muito o que se fazer. [...] Neste contexto, a atuação do
enfermeiro como educador e assessor é de considerável relevância, contando com o apoio da
interdisciplinaridade (OLIVEIRA; BUENO, 1997, p, 72)
[...] No começo da epidemia, a educação era voltada ao temor da AIDS. Desta forma, havia
necessidade de chamar a atenção da população para a situação de fatalidade eminente. Este
fato permanece atualmente, por não existir ainda vacina para a prevenção e tão pouco,
medicação para o combate do HIV. O processo educativo voltado para o medo, marcou a
primeira década da doença, quando se pensava em atingir o povo, de imediato, alertando a
todos contra o perigo da morte, enquanto estratégia de “choque”. Todavia, hoje, por já existir
número considerável de casos de HIV/AIDS na sociedade, as pessoas passaram a enfrentar o
preconceito, além do temor já existente, em relação ao doente e à doença. Essa realidade
tornou-se evidente na comunidade em geral e obviamente, passou a ser vivenciada também,
dentro ou próximo do ambiente familiar. Desta maneira, os últimos tempos passaram a exigir
uma pedagogia apropriada, voltada fundamentalmente, para a prevenção, para a não
discriminação e para a solidariedade humana. Isto implica em considerar, de forma relevante,
os preceitos preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no sentido de
trabalhar a valorização da vida, tendo em vista, a busca de melhores condições para a
prevenção, manutenção e restauração da saúde, dentro de uma visão totalizadora do ser
humano e do resgate à cidadania (OLIVEIRA; BUENO, 1997, p,72 - 74).
O artigo descreve como era feita a educação nas escolas aos alunos quando se
instalou a AIDS no final dos anos 1980 no Brasil, doença até então desconhecida e, à
época, fatal. Educavam por meio do medo, instalando um “pânico moral” que, segundo
Cohen (1972), consiste em considerar alguma coisa, uma pessoa ou um grupo de
113
pessoas como uma ameaça aos valores e interesses sociais. O HIV/AIDS era
apresentado como ameaça à população por tratar-se de um fato novo e sem o
conhecimento necessário para a cura. Ao mesmo tempo, defende que seja necessário
mudar este enfoque, desmistificando preconceitos e buscando promover mudanças de
comportamento.
Nos livros didáticos, como vimos com Contenças (1999), as expressões metafóricas são
mudadas para adequar o modelo elaborado pelos cientistas ao modelo pedagógico e dele obter
adesão dos alunos e do professor na situação de ensino. O tema HIV/Aids nos livros didáticos
foi por nós escolhido para o exame das figuras de retórica após uma sondagem com 30 alunos
do ensino médio entre 15 a 19 anos de idade, na cidade de Bandeirantes, Paraná, em 2005. O
objetivo era conhecer, entre os temas de seus livros didáticos de ciências e de biologia, os que
mais geravam dúvidas e/ou curiosidade entre os alunos de ensino médio (BELLINE;
FRASSON, 2006 p. 330).
Nessa perspectiva, a enfermeira deve esclarecer sobre as mudanças ocorridas, o que favorece
a aceitação desses, em meio às transformações da adolescência, reduzindo sentimentos de
vergonha e constrangimento em relação ao corpo. Esse fato pode incidir na prevenção as
DST/HIV/AIDS na medida em que o adolescente desenvolve a auto-estima e percebe com
mais atitude seu contexto de vulnerabilidade. Diante do contexto descrito, acreditamos que
enfermeiro deve dialogar abertamente sobre o assunto, não de forma moralista, mas
respeitando as diferenças culturais e os direitos sexuais e reprodutivos dos adolescentes e
expondo as repercussões da vivência da sexualidade. Sendo a enfermeira integrante da
equipe de saúde da família e tendo como espaço de atuação a escola, deve abordar junto a
sua clientela as questões sexuais muito além do aspecto biológico, e reconhecendo outros
fatores que incidem na antecipação da vida sexual, considerando o contexto socioeconômico
114
[...] As capacitações do programa de orientação sexual (POS) são organizadas a partir de duas
lógicas distintas, mas, complementares: a racionalidade médica que fornece os saberes
considerados necessários à formação dos estudantes e a lógica da afetividade, que incentiva os
professores a buscar e acessar a subjetividade dos adolescentes, fazendo com que os alunos
aprendam “no emocional” (ROSISTOLATO, p. 369, 2009).
Por acreditar que a educação é muito mais que transmissão de conhecimentos, foi
disponibilizada, aos discentes, a autonomia de escolher como preferem e com quem
gostariam de aprender sobre Infecção Sexualmente Transmissível, pois o educando, que
exercita sua liberdade, ficará tão mais livre quanto mais eticamente vai assumindo a
responsabilidade de suas ações. Dessa maneira, se oportuniza, de forma efetiva, a educação
em saúde. É nesse contexto que a escola se torna um local privilegiado, pois é o local onde
os adolescentes passam a maior parte de seu tempo, podendo ser bem aproveitado pelos
profissionais da educação e da saúde para atividades de educação em saúde e promoção do
autocuidado: é nesse espaço que os adolescentes poderão reconhecer o valor da saúde
(CORTEZ; DA SILVA, 2017 p.3648).
O excerto instiga o aluno fazer escolhas quanto ao que, qual assunto e por quem
gostaria de ser ensinado para a prevenção das IST, engendrando sujeitos prudentes
quanto a sua saúde e também com a saúde de outros. Conforme Saraiva (2013, p. 172)
um sujeito prudente é capaz de cuidar de si e de gerir seus riscos.
Como excertos dos artigos das revistas apontaram, ao longo do tempo foram
implantadas mudanças quanto as nomenclaturas relacionadas as doenças sexualmente
transmissíveis. O artigo anterior mostra que o termo DST no ano de 2016 passa a ser
denominada IST (infecção sexualmente transmissível). A nova denominação é uma das
atualizações da estrutura regimental do Ministério da Saúde por meio do pelo Decreto
nº 8.901/2016 publicada no Diário Oficial da União em 11.11.2016, Seção I, páginas 03
a 17 (BRASIL, 2016). Pois é no corpo que a doença se instala, “a doença, referenciável
no quadro, aparece através do corpo. Neste ela encontra um espaço cuja configuração é
inteiramente diferente: espaço dos volumes e das massas” (FOUCAULT, 2015, p. 9).
116
Podendo ela mostrar-se através do corpo ou permanecer nele de forma oculta, invisível
por tempo indeterminado. Todavia, é através do corpo se dá a chegada ao que vem a
adoecer, e a qualquer momento mostra a doença através dos saberes de especialistas os
quais investigam, manipulam e examinam o corpo. No entanto, um corpo com alguma
infecção transmissível pode apresentar-se por longo tempo invisível na doença, assim
afirma Benzaken (2016):
a) Existe uma elevada proporção de desnutridos entre os escolares, que deve traduzir um
estado de desnutrição também existente nos demais elementos da família;
b) Os diferentes autores sugerem medidas supletivas que se enquadram, seja na administração
118
aos escolares do copo de leite ou sopa, esta chamada "sopa escolar", ou ainda de outros tipos
de merenda; acordes nesse suplemento, alguns o pedem como medida para minorar os efeitos
da fome relativa durante o período horário de estudo; outros indo além. Como medida de real
suprimento alimentar. O efeito educativo é também focalizado como de primordial
importância;
c) Focalizam vários autores as medidas mais apropriadas para a realização, seja do suprimento
de merenda ou de um programa mais vasto, como o do estabelecimento de refeitórios
escolares;
d) Das discussões havidas, a propósito dos vários trabalhos apresentados, ressalta a extrema
necessidade de preparar pessoal adequado, seja para a direção dos refeitórios ou fiscalização
da alimentação entre os escolares como ainda, e mais importante, a realização do ensino
adequado da melhor forma de se alimentarem as famílias. Donde cuidar-se da intensificação
do preparo de profissionais destinados a estes misteres, a saber: nutricionistas e auxiliares de
alimentação, sem contar com o preparo da população; em geral, e, em especial, das donas de
casa e das cozinheiras. A fim de não haver confusões possíveis sobre a competência e deveres
das diferentes classes de profissionais, conviria o estabelecimento de uma comissão composta
de elementos de vários setores do país, a fim de que se estabeleçam os mínimos exigíveis para
o exercício de cada uma das profissões enumeradas. Não deseja o Congresso o
estabelecimento de padrões rígidos, mas simplesmente que se tracem as normas contendo os
mínimos acima referidos, deixando, a cada região, a liberdade de organizar, acima desses
mínimos, o que mais convier ao bom preparo dos respectivos profissionais;
e) Sendo, o problema alimentar, parte integrante do grande problema médico-social e
sanitário, convém que todas as medidas, a serem tomadas, o sejam, dentro do âmbito de
atuação dos Departamentos de Saúde, especialmente no setor da educação sanitária, uma vez
que o problema alimentar não se destaca do problema global da higiene e é dependente das
condições econômico-sanitárias existentes (RBEP, 1945b, p. 284).
de mistura com outros alimentos, sob a forma de mingaus, doces, pores, etc.;
b) carne, de preferência fresca. 100 a 200 gramas diárias por aluno podendo ser substituída
ao menos uma vez por semana, por peixe, fígado, miolo ou galinha;
c) queijo, ao menos uma vez por semana, sabendo-se que 100 gramas de queijo fresco não
curado, tipo Minas equivalem a um litro de leite e a 125 gramas de carne fresca e com
maior valor nutritivo;
d) ovos, três no mínimo, por semana para cada aluno;
e) pão, no mínimo, dois de 100 gramas por dia, servido com manteiga, podendo ser
também utilizada a broa de milho e alimentos feitos com outras farinhas como pudins e
biscoitos; utilizar também o aipim, a batata doce ou inhame, o angu e pão integral, se
possível:
f) manteiga, duas vezes por dia. no mínimo, nos termos do item e;
g) feijão: preto, mulatinho, manteiga, branco ('variando):
h) arroz, de preferência não descortizado, isto é, não polido, para que não perca elementos
nutritivos (tipo Iguape), duas vezes por dia. Outros cereais como milho (sob a forma de
angu, canjica, sopa, bolo, farinha), aveia, trigo, etc, e massas alimentícias: uma vez por dia.
i) verduras, em duas refeições, a escolher: abóbora, agrião, alface, acelga, bertalha,
cenoura, chicória, chuchu, couve, espinafre, quiabos, rabanetes, repolho, tomate, vagem.
etc. Onde não haja perigo de contaminação, uma das refeições conterá verduras cruas
(salada com suco de limão), depois de cuidadosamente lavadas ou após imersão rápida em
água quase fervente;
j) frutas, ao menos em duas refeições, a escolher: abacate, abacaxi, banana, mamão,
manga, melancia, laranja, lima, tangerina, etc.;
k) doces de frutas ou de leite, uma vez por dia, em uma das refeições;
1) a água potável deverá ser higienicamente pura.
2 - PROIBIÇÕES E RESTRIÇÕES
É vedado o uso de qualquer bebida alcoólica. É' desaconselhável o uso de refrigerantes que
não sejam legítimos de frutas. No preparo dos alimentos, evitar o uso das gorduras
concretas chamadas "compostos". É desaconselhável o uso de condimentos, tais como
pimenta do reino, mostarda, etc. (RBEP, 1947, p. 127).
E ainda as revistas sinalizavam esse tipo de educação não precisaria ficar restrita
às escolas, mas os professores, como um dos principais educadores para a saúde,
deveriam aliar-se às famílias, compartilhando esses saberes.
alimentação e exercícios físicos. Esta questão aparecerá mais adiante, como um forte
aliado para a saúde quando implementado junto a alimentação.
Do valor higiénico dos exercícios e da necessidade de lhes estender a prática habitual por
todas as escolas; da importância do esforço muscular, indispensável à saúde e à formação da
personalidade, pelos seus efeitos biológicos, psicológicos e morais, como por seus efeitos
sociais; da apreciação estética do corpo, tal qual é no estado de natureza, como o de um belo
animal, forte e ágil, quase não se cuidava, e, quando se animava alguém a enveredar por
esses assuntos, era sempre a um pequeno público que se dirigia, mais para despertar a
consciência do alcance desses problemas do que para analisá-los com rigor e apontar-lhes
soluções (RBEP, 1960, p. 21).
[...] Certamente, a educação física que é educação pela atividade neuromuscular, estimulada
e disciplinada segundo planos racionais de movimentos e exercícios, tem seus objetivos
específicos como sejam a saúde, o desenvolvimento físico, a robustez, a agilidade, a graça e
a beleza das formas como dos movimentos (euritmia) (AZEVEDO,1960, p.26).
A educação física teve uma longa trajetória para ser instituída, consolidando-se
justamente no meado dos anos 1960. É na primeira LDBEN, promulgada em 1961, que
a educação física torna-se obrigatória nas escolas.
O artigo a seguir, extraído de uma das edições do ano do 1965 da RBEP, mostra
a educação física no ensino médio favorece a formação de hábitos, o que traria
benefícios para o restante da vida tanto em relação à saúde física, quanto mental.
Por isso, à Educação Física, no Curso Médio, além de outros resultados alcançados, visa,
principalmente, à formação de hábitos que, persistindo, depois, pela vida adiante,
contribuirão para conservar a destreza e saúde física, bem como atitudes físicas e mentais
próprias (RBEP, 1965, p. 105).
122
As edições dos anos 1960 não apresentam artigos que contemplem o tema
alimentação. Portanto, é possível afirmar que o tema da desnutrição já não ocupa um
lugar tão privilegiado como nas décadas anteriores, cedendo espaço para os exercícios.
No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, a RBEP volta a publicar sobre
esta temática e também foi encontrado um artigo na Revista Brasileira de Enfermagem
sobre a alimentação escolar, enfatizando os efeitos da desnutrição nas crianças durante a
fase de aprendizado indo ao encontro dos estudos de Collares e Moysés (1997) que trata
“das relações entre desnutrição e fracasso escolar” apresentados no capítulo 5. O
excerto do artigo de 1983, expõe as consequências da desnutrição infantil para a fase
adulta, podendo engendrar sujeitos pouco produtivos por não desenvolver capacidades e
evolução intelectual suficiente.
Trata-se, agora, não de fornecer alimentos para combater a nutrição, mas adotar
medidas que tornem contribuam para a redução da obesidade. O excerto abaixo,
extraído de um artigo publicado na Revista de Nutrição, em 2010, mostra a proibição de
alimentos considerados de oferta inadequada para as crianças nas escolas. Cabe
observar que a preocupação com a qualidade dos alimentos a serem oferecidos aos
alunos já se fazia presente em 1947, mesmo que naquela época a preocupação fosse a
desnutrição. Algumas restrições anteriores se mantêm, porém, também surgem
inovações. Em especial, observamos a ampliação das restrições. No início do século
XXI, a publicidade surge como um incentivador à ingestão inadequada de alimentos,
produzindo a necessidade de regular as ações publicitárias.
Reconhece-se que o problema da obesidade em escolares não será resolvido apenas com a
proibição de alimentos calóricos nas escolas ou com a limitação da publicidade. Faz-se
necessária a ação conjunta de pais, professores, profissionais da saúde, proprietários de
cantinas escolares, legisladores e publicitários, entre outros, para promover ambientes e
estratégias propícias à promoção de hábitos alimentares saudáveis, e para incentivar
também a prática de exercícios físicos entre os escolares. (GABRIEL et al., 2010 p. 197)
Foi promulgada, em 2006, a Portaria Interministerial n.º 1.010, que institui as diretrizes
para a Promoção da Alimentação Saudável nas Escolas de educação infantil, fundamental e
nível médio das redes públicas e privadas em todo o Brasil (32). Suas diretrizes baseiam-se
nas ações de educação alimentar e nutricional, estímulo à produção de hortas escolares,
implantação de boas práticas de manipulação, monitoramento da situação nutricional e
regulamentação do comércio de alimentos: restrição ao comércio no ambiente escolar de
alimentos e preparações com altos teores de gordura saturada, gordura trans, açúcar livre e
sal, com incentivo ao consumo de frutas e hortaliças.
Em todo o mundo, as escolas têm sido os alvos de propostas para combater a obesidade
infantil, sendo fundamental que as avaliações futuras dessas políticas possam medir a
eficácia em longo prazo das políticas de alimentação escolar no combate, tanto da
inadequação da ingestão alimentar, quanto nos índices de sobrepeso e obesidade (REIS et
al., 2011, p. 625).
Como crianças com sobrepeso têm maior probabilidade de se tornarem obesas na idade
adulta, é essencial que sejam desenvolvidas políticas públicas voltadas para a prevenção da
obesidade e a redução dos índices de obesidade na população pediátrica. A escola é o local
ideal para a implementação dessas políticas, porque a maioria das crianças passa grande parte
do tempo na escola. Além disso, o ambiente escolar tem influência sobre a saúde, pois as
escolas fornecem aos estudantes as ferramentas necessárias para que eles entendam as
orientações de saúde divulgadas pelos diversos meios de comunicação. A escola também
exerce um papel fundamental no desenvolvimento psicológico e emocional das crianças, e
pode incluir as informações mais atualizadas sobre saúde no currículo tradicional ou em
disciplinas específicas (como educação física ou nutricional) voltadas para a promoção da
saúde (SILVEIRA et al., 2011. p. 383)
Embora não seja tão simples como parece ser, é importante que o tema alimentação
componha o projeto pedagógico das escolas, direcionando atividades transdisciplinares
entre os docentes e demais profissionais na escola, promovendo atividades integradoras da
ação escolar e atividades fora da escola que ampliem a percepção e a leitura desse tema por
parte dos estudantes (BARBOSA et al., 2013, p. 943)
escolar, deve-se citar o Programa Saúde na Escola (PSE), lançado em 2007 pelos
ministérios da Saúde e da Educação, tendo como proposta contribuir para a formação dos
estudantes da rede pública de ensino mediante ações integradas e articuladas entre as
escolas e as equipes de saúde, no âmbito da Atenção Básica.
[...] O PSE tem papel fundamental no fortalecimento de ações que vinculem a saúde, a
educação e outras redes de serviços sociais ao enfrentamento de vulnerabilidades – como
a obesidade – que comprometem a saúde de crianças e adolescentes em idade escolar.
(BATISTA et al., 2017, p. 570)
O artigo também sinaliza que a prevenção da obesidade nas escolas deveria ser
pautada por políticas públicas incentivando a prática de atividade física junto com a
alimentação saudável. No excerto também aparece o PSE como um programa existente
no âmbito de políticas públicas no Brasil desde o ano de 2007. Este programa insere-se
nas escolas através de profissionais de saúde, principalmente o enfermeiro. Prevenir a
obesidade está posto na IX ação do conjunto das doze instituídas pelo PSE, assim
descrita: “Promoção da alimentação saudável e prevenção da obesidade infantil”
conforme citado na seção 4.1. Entretanto, apesar do PSE tratar da alimentação saudável,
não faz referência à prática de exercícios físicos.
Deste modo, é possível afirmar que os discursos sobre saúde, os quais circulam
nos periódicos, visam a constituir “mecanismos de poder que penetram nos corpos, nos
gestos, nos comportamentos” (FOUCAULT, 2016, p. 242). Visam produzir um sujeito
autônomo, um cuidador de si, capaz de se autovigiar e se autogovernar tanto para os
benefícios orgânicos como para uma moral, revertendo esses benefícios a sua saúde e
daqueles com quem convive, disciplinado para os benefícios ao corpo e por conseguinte
da população. Evidenciando as biopolíticas, por um biopoder que age sobre a espécie
humana, com objetivo de assegurar sua existência (FOUCAULT, 2016).
128
e) Na escola primária, o melhor agente de educação da saúde é a própria professora que, para
isso, deve ter tido a necessária aprendizagem no seu curso de formação regular ou em curso de
emergência;
f) A educação sanitária cabe realizar a educação da saúde, quando para isso não estejam
preparadas as professoras, a quem sempre orientará nessa matéria, mesmo quando tenham,
estas, feito cursos regulares ou de emergência, nos termos da conclusão anterior;
g) As organizações escolares que mais se prestam à educação da saúde são aquelas nas quais se
põe em prática o principio de "aprender fazendo";
129
A Medicina humanizou a escola primária, pois, se hoje em dia, as crianças são instruídas por
métodos suaves e sua saúde física é cuidada com o máximo carinho, tudo isso se deve aos
educadores médicos que, como fisiólogos, psicólogos, psiquiatras e clínicos investigaram as
necessidades do corpo, as inclinações da alma e o desenvolvimento da inteligência infantil.
Deve-se-lhes a profunda modificação nos métodos pedagógicos do mundo inteiro. Essa
verdade é ainda mais patente nos Jardins de Infância, outrora simples centros de preparação
para a escola primária, hoje, verdadeiros laboratórios de medicina preventiva e educativa, onde
não só se constrói o arcabouço das nações sadias, como se assegura à criança perfeita iniciação
na vida moderna (CLARK, 1947, p. 15).
destaca que a saúde do aluno deve ser acompanhada durante toda sua vida escolar por
médicos e, uma figura nova, dentistas. O segundo excerto apresenta a aliança entre o
professor e a medicina.
O prof. Alcides Lintz, que desde estudante, se destacou sempre na profissão como elemento
de vanguarda, tão ousado que, começando eu minhas atividades docentes, ao tempo da
reforma Rivadavia, tive-o como dos primeiros alunos inscritos no primeiro curso equiparado
que eu ousava fazer em concorrência com o catedrático de Fisiologia — teve oportunidade
de verificar, quando chefe do serviço médico escolar, a necessidade da existência de uma
caderneta, onde se possa inscrever a vida clínica de cada indivíduo, desde o nascimento até,
pelo menos, a maioridade. Daí o insistir, de quando em vez, e agora com maior intensidade,
pela criação de uma "caderneta de saúde" que poderia até ser erigida ao papel de "caderneta
de cidadania", tal como a esboçara vagamente o presidente Washington Luis.
Nessa caderneta tudo seria inscrito. Ali constariam todas as ocorrências, desde o nascimento,
para o qual a caderneta valeria como o documento hábil de prova de idade. O crescimento da
criança, as doenças, os tratamentos, as intervenções cirúrgicas, quando houvesse. Tudo, pois,
quanto pudesse ocorrer na vida sanitária de um indivíduo (MEDEIROS, 1946, p. 403).
momento o contato dos alunos com a vida real e utilizando a influência reciproca dos filhos
sobre os pais (RBEP, 1947, p. 287).
Deveria o futuro mestre ser preparado em Biologia para conhecer as repercussões que os
problemas de crescimento, os distúrbios glandulares e certas doenças podem trazer ao
trabalho escolar, e estar capacitado para realizar diagnósticos simples sobre visão e audição,
doenças infantis mais comuns, seus sintomas e formas de contágio (100%, 96%).
Estar igualmente preparado para conhecer os efeitos da fadiga sobre o trabalho escolar, a
higiene do prédio e do aluno, a formação de hábitos higiênicos, ter as noções de puericultura
necessárias para orientar os pais, conhecer praticamente socorros urgentes e orientação da
alimentação infantil (100%, 98%). Como se vê, são abrangidos assuntos de Higiene,
Socorros urgentes, Puericultura. (aliás, a denominação Biologia Educacional não aparece no
currículo de Cursos de Formação de professores, a não ser no Brasil e em Honduras) (RBEP,
1962, p. 129).
Em virtude dessa realidade, a inserção do enfermeiro no ambiente escolar deve ser regular e
sistematizada, permeada pela realidade da instituição de ensino em seu aspecto mais amplo,
a partir da perspectiva de planejar atividades de PS que supram as necessidades dos alunos,
familiares, professores e funcionários, a partir de uma metodologia interativa, que seja capaz
de construir redes de cooperação entre todos .
O estímulo da PS desde a infância aumenta a possibilidade de serem adultos saudáveis. A
assunção dessa proposta avançada de saúde pode e deve ser estimulada pelo enfermeiro por
meio de sua participação em redes sociais de apoio intersetoriais e que agreguem uma equipe
interdisciplinar para desenvolver ações comprometidas com propostas de mudanças nos
modelos de ensino e técnico-assistencial. São necessárias discussões dos diversos atores
sociais subsidiadas pelos seus saberes teóricos e práticos referentes à PS para atuar na
melhoria da qualidade de vida e de saúde da população.
É fato, que esforços devem ser apoiados e empreendidos com vistas a estimular as iniciativas
existentes e facilitar o intercâmbio entre as escolas e outros serviços e, assim, promover a
saúde, desenvolver estilos de vida saudáveis e orientar sobre condutas de PS. Afinal, a
escola, enquanto espaço de intercâmbio, de convivência, de troca de experiências e formação
de cidadãos, é considerada um dos cenários privilegiados da PS, além de fortalecer seus
atores sociais e enriquecer ações locais ( COSTA et al., 2013, p. 513).
população que o cerca. Ferriani (1991) argumenta como se fez importante a inserção do
enfermeiro nos programas de saúde escolar ao constatar como
foi importante e imprescindível uma postura do enfermeiro docente
quanto à saúde escolar, não somente técnica, mas essencialmente
política, em outras palavras, a compreensão do processo saúde-
doença, enquanto condição de vida; a compreensão da necessidade de
articulação e integração da universidade com os órgãos prestadores de
serviço; a compreensão do ensino, enquanto possibilidade de
transformação da realidade, a compreensão da presença contínua do
docente com os serviços, nas discussões e encaminhamento das
questões dentre outras (FERRIANI, 1991, p. 168).
[...] o enfermeiro pode atuar como educador, levando a educação em saúde para estes
escolares através do Programa Saúde na Escola (PSE), que surgiu como uma política Inter
setorial entre o Ministério da Saúde e Educação, com a finalidade de prestar atenção integral
à saúde da criança e adolescente e todos aqueles inseridos na rede básica de ensino junto à
Estratégia Saúde da Família (ESF), instituído pelo Decreto Presidencial nº 6.286/2007. No
Art. 70 do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, espera-se que o enfermeiro
atue como “educador” não somente para os membros da equipe de enfermagem, mas
também para os seus clientes. Levando essa conduta para o ambiente escolar, o enfermeiro
irá atuar da mesma forma, porém com uma realidade diferente e utilizando meios criativos
para que as crianças internalizem as informações transmitidas (NASCIMENTO et al., 2016,
p. 43).
Esse estudo ressalta a importância da Enfermagem na interação com outras áreas da saúde,
para a concretização de cuidados e orientações voltados ao saudável desenvolvimento
cognitivo e comportamental do ser humano. Destaca-se a necessidade da presença do
enfermeiro no ambiente escolar, pois esse, em sua formação, adquire habilidades em práticas
educativas em saúde que podem contribuir para o desenvolvimento das crianças. Salienta-se
que tais aportes podem envolver tanto os aspectos cognitivos, quanto os emocionais, criando
parcerias com os demais profissionais da área da educação e da saúde. Desse modo, a
Enfermagem também participa de abordagens que possam garantir uma qualidade de vida
melhor para crianças no ambiente escolar, assim como, posteriormente, em sua vida adulta
(DOS SANTOS et al., 2017, p. 3982).
Por reunir a maioria dos adolescentes de um país, o ambiente escolar representa um espaço
privilegiado para o desenvolvimento dessas ações. A promoção da saúde na escola constitui
uma iniciativa de caráter mundial que possibilita uma maior interação entre os professores e
profissionais de saúde para ações intersetoriais e colaborativas que lidem com situações de
vulnerabilidade à saúde do adolescente, incluindo apoio e cooperação dos pais e
138
Para encerrar essa categoria, não poderia deixar de apresentar, conforme o que
vem sendo mostrado pelos artigos das revistas, o professor como o ator fundamental no
processo de educação em saúde. Mesmo com transformações de seu papel e da entrada
de outros profissionais na escola, o professor permanece central para este processo. Ele
está lá para ensinar e para ser ensinado sobre os cuidados com saúde. Por isso, se faz
importante a aliança entre o professor e o profissional de saúde, seja ele quem for, para
a promoção da saúde e a prevenção de doenças.
Percebe-se a educação em saúde na escola como um investimento econômico
para um posterior retorno. Conforme Lima (1985, p. 48) “o meio do homem é o meio
social e os limites de seu corpo se estendem nos meios de transformação de seu meio
ambiente, isto é, seu corpo é meio de produção enquanto meio de manipulação
adequada de meios de produção”. Assim, a educação em saúde na escola, de acordo
com os artigos das revistas, ensina para a saúde a fim de que os corpos produzam saúde,
previnam-se do que possa causar o adoecimento e os capacita para governar o completo
bem-estar do corpo. Afinal, os corpos sadios são corpos produtivos e corpos que não
oneram o sistema de saúde.
Nesta categoria percebem-se alguns deslizamentos importantes sobre a
responsabilidade da educação em saúde. Primeiramente, na década de 1940, artigos
mostram o professor como quem cuida e ensina sobre saúde nas escolas, ele é tomado
como um exemplo, um modelo a ser seguido pelos alunos. O médico aparece na função
de colaborador do professor nas escolas. Em um segundo momento, na década de 1950,
os artigos das revistas apresentam outros profissionais da saúde inseridos no contexto
escolar para cuidar e ensinar. Surgem então o dentista, o assistente social e o
enfermeiro, mas em uma abordagem mais de cuidado do que de educação. Tornam a
mostrar o professor como quem ensina sobre saúde e destaca a importância de aprender
sobre saúde no seu momento de formação. Nos anos 1980, os artigos das revistas
voltam a mencionar a figura do enfermeiro para assegurar o máximo de saúde do
escolar juntamente com professores e com demais profissionais de saúde e também com
a comunidade, parecendo apontarem o enfermeiro nas atividades cuidativas e educativas
em saúde nas escolas, a presença do médico nas escolas deixa de ser mostrada pelos
artigos das revistas.
139
E, finalmente, os artigos das revistas dos anos 2000 apontam o enfermeiro como
peça fundamental para cuidar e ensinar sobre saúde nas escolas, principalmente com o
advento do PSE. No entanto, não podemos deixar de mencionar ser notável ao analisar
os artigos das revistas pesquisadas, que a figura do professor perpassa a todas essas
épocas aprendendo, ensinando e cuidando sobre a saúde nas escolas. Portanto, nas
escolas a aliança entre professores e profissionais de saúde se faz importante no
contexto da promoção de sujeitos responsáveis e saudáveis, tanto no cuidado de si
quanto no cuidado dos outros.
140
11 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foucault tinha como ideia deixar nesta caixa de ferramentas o que poderia ser
utilizados por outros para fabricar outras possibilidades de saberes, nunca deixando de
lado o poder, pois é no poder que há resistência, permitindo o engendramento de novos
enunciados, de outros valores de outros modos de se comportar e ser.
Elegi como tema de minha pesquisa de doutorado a articulação entre saúde e
escola, visando a contemplar uma relação com minha formação em Enfermagem.
Utilizei como material empírico artigos publicados em periódicos. Inicialmente me vali
dos artigos da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (RBEP), a qual se constituiu
como o principal material de pesquisa. Entretanto, os artigos desse periódico
gradativamente deixaram de tratar do tema da saúde. Neste momento, percebi que seria
necessário complementar com outra fonte. Precisamente, utilizei para a pesquisa artigos
das revistas de enfermagem e sobre nutrição na escola. Meu objetivo foi investigar
como vêm sendo engendrados os saberes e as práticas educacionais preconizados para
as escolas para a promoção e manutenção da saúde, a partir de uma metodologia de
inspiração genealógica.
141
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sexualmente transmissível
Intervenções 2017 BDEnf Rev enferm UFPE on line., Recife,
multidisciplinares: 11(10):3980-4, out., 2017
capacitação de professores
173
em educação e saúde
Intervenção educativa sobre o 2017 BDEnf Rev enferm UFPE on line., Recife,
mosquito aedes aegypti em 11(10):3771-7, out., 2017
escolares: possibilidade para
a enfermagem no contexto
escolar
Educação em saúde para 2017 BDEnf Rev enferm UFPE on line., Recife, 11
aspectos nutricionais como (2):765-777, fev., 2017.
forma de prevenir alterações
cardiovasculares: relato de
experiência.
Saúde na escola: 2017 BDEnf Rev enferm UFPE on line., Recife, 11
contribuições (1):24-30, jan., 2017.
fenomenológicas a partir da
percepção do aluno
adolescente.
Validação de álbum seriado 2018 BDEnf Rev. Latino-Am. Enfermagem
para a promoção do controle 2018;26:e2998
de peso corporal infantil
Acesso à alimentação 2007 Scielo Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(5):1217-
escolar e estado 1226, mai, 2007
nutricional de
escolares no Nordeste
e Sudeste do Brasil,
1997
Programa de 2008 Scielo COMUNICAÇÃO SAÚDE EDUCAÇÃO v.12,
alimentação escolar no n.27, p.823-34, out./dez. 2008
município de João
Pessoa – PB, Brasil: as
merendeiras em foco*
Estado nutricional e 2008 Scielo Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife, 8 (4):
consumo alimentar de 435-443, out. / dez., 2008
adolescentes da rede
pública de ensino da
cidade de São Mateus
do Sul, Paraná, Brasil
Avaliação da 2008 Scielo Ciênc. Agrotec., Lavras, v. 32, n. 6, p. 1879-
alimentação escolar 1887, nov./dez., 2008
oferecida aos alunos
do ensino fundamental
das escolas municipais
de lavras, MG
Descrição das noções 2008 Scielo Ciência & Educação, v. 14, n. 3, p. 451-66, 2008
conceituais sobre os
grupos alimentares por
professores de 1ª a 4ª
série: a necessidade de
atualização dos
conceitos
Estado Nutricional y 2010 Scielo Revista Chilena de Pediatría - Noviembre-
Conductas Asociadas Diciembre 2010
a la Nutrición en
Escolares
Cantinas escolares de 2010 Scielo Rev. Nutr., Campinas, 23(2):191-199, mar./abr.,
Florianópolis: 2010
existência e produtos
comercializados após
a instituição da Lei de
Regulamentação
Projeto “a escola 2010 Scielo Rev. Nutr., Campinas, 23(1):37-47, jan./fev.,
promovendo hábitos 2010
alimentares
saudáveis”:
comparação de duas
estratégias de
educação nutricional
no Distrito Federal,
175
Brasil
Escola: lugar de 2013 Scielo Ciência & Saúde Coletiva, 18(4):979-985, 2013
estudar e de comer
Percepção de 2014 Scielo Saúde Soc. São Paulo, v.23, n.2, p.604-615,
estudantes de escolas 2014
públicas sobre o
ambiente e a
alimentação disponível
na escola: uma
abordagem
emancipatória
Frequência de adesão 2014 Scielo Ciência & Saúde Coletiva, 19(5):1589-1599,
aos “10 Passos para 2014
uma Alimentação
Saudável” em
escolares adolescentes
Excesso de peso e 2015 Scielo Ciência & Saúde Coletiva, 20(8):2411-2422,
variáveis associadas 2015
em escolares de Itajaí,
Santa Catarina, Brasil
177
Avaliação das Boas 2015 Scielo Ciência & Saúde Coletiva, 20(7):2267-2275,
Práticas em unidades 2015
de alimentação e
nutrição de escolas
públicas do município
de Bayeux, PB, Brasil
Impacto do Projeto de 2015 Scielo Revista de Enfermagem Referência - IV - n.° 5 -
Intervenção na 2015
Obesidade Infantil no
primeiro ciclo de um
agrupamento de
escolas
Cardápios escolares 2015 Scielo Rev. Nutr., Campinas, 28(3):277-287, maio/jun.,
em Santa Catarina: 2015
avaliação perante a
regulamentação do
Programa Nacional de
Alimentação Escolar
Promoção da 2015 Scielo Cad. Saúde Colet., 2015, Rio de Janeiro, 23 (1):
Alimentação Saudável 32-7
na Escola: realidade
ou utopia?
As cantinas escolares 2015 Scielo Rev. Nutr., Campinas, 28(1):29-41, jan./fev.,
do Distrito Federal, 2015
Brasil e a promoção da
alimentação saudável
Perfil alimentar de 2016 BDEnf Rev. enferm. UFPE on line; 10(5): 1724-1729,
estudantes de uma maio 2016. ilus
escola estadual
Educação e promoção 2016 BDEnf Rev. iberoam. educ. invest. enferm.(Internet);
da saúde de bons 6(2): 47-53, Abr.2016.
hábitos alimentares em
crianças pré-
escolares. Uma
experiência
educacional
Fatores associados à 2017 Scielo Cad. Saúde Pública 2017; 33(10):e00061016
adesão à alimentação
escolar por
adolescentes de
escolas públicas
estaduais de Colombo,
Paraná, Brasil
Disponibilidade de 2017 Scielo Cad. Saúde Colet., 2017, Rio de Janeiro, 25 (3):
alimentos na 348-354
alimentação escolar de
estudantes do ensino
fundamental no
178
âmbito do PNAE, na
cidade de Codó,
Maranhão