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Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR


Campos de Ji-Paraná
Departamento de Ciências Humanas e Sociais – DCHS
Curso de Pedagogia

ALIMENTAÇÃO ESCOLAR: HÁBITOS SAUDÁVEIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Apolonia Pereira Gonçalves

Professora Orientadora: Drª Isaura Isabel Conte

Ji-Paraná, RO – 2020
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Apolonia Pereira Gonçalves

ALIMENTAÇÃO ESCOLAR: HÁBITOSSAUDÁVEIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Monografia apresentada à Fundação Universidade Federal de


Rondônia - UNIR, Campus de Ji-Paraná/RO, Departamento de
Ciências Humanas e Sociais - DCHS, como requisito avaliativo
de conclusão de curso para obtenção do grau de Licenciatura
em Pedagogia, sob orientação da professora Isaura Isabel
Conte.

Ji-Paraná, RO - 2020
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Fundação Universidade Federal de Rondônia
Gerada automaticamente mediante informações fornecidas pelo(a) autor(a)
_____________________________________________________________________________

G635a Gonçalves, Apolonia Pereira.


Alimentação Escolar: Hábitos saudáveis na educação infantil / Apolonia
Pereira Gonçalves. -- Ji-Paraná, RO, 2021.

57 f. : il.
Orientador(a): Prof. PhD Isaura Isabel Conte

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Pedagogia) - Fundação


Universidade Federal de Rondônia
1.Crianças. 2.Educação infantil. 3.Hábitos alimentares. 4.Educação
alimentar. I. Conte, Isaura Isabel. II. Título.

CDU 641:37
_____________________________________________________________________________
Bibliotecário(a) Bruno Crespo Soares CRB 4/2061
3

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA-UNIR


Campus de Ji-Paraná
Departamento de Ciências Humanas e Sociais-Campus de Ji-Paraná
Curso de Pedagogia

APOLONIA PEREIRA GONÇALVES

Monografia apresentada ao curso de Pedagogia da Fundação Universidade Federal


de Rondônia – UNIR, Campus de Ji-Paraná, como requisito para obtenção do grau de
Licenciatura em Pedagogia. Aprovada pela banca em ____ de _____________de
2020

BANCA AVALIADORA

___________________________________________
Prof. Me. Neidimar Vieira Lopes Gonzales

___________________________________________
Prof. Esp. Irmgard Margarida Theobald

__________________________________________
Prof. Drª Isaura Isabel Conte
Orientadora

Ji-Paraná, RO – 2020
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DEDICATÓRIA

Esta monografia é dedicada ao meu pai, Apolonio (in memoriam),


maior exemplo de um ser humano integro e ético que sempre
acreditou na educação e nos incentivou a seguir este caminho.

A minha amada filha, Júlia que foi minha inspiração em buscar


conhecimento e compreender sobre essa temática. Amo você!
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Agradecimentos

Agradeço primeiramente а Deus, por ser essencial em minha vida, autor de meu
destino, meu guia, socorro presente nas horas de angustia.

A toda minha família, minha mãe Euza, minha filha Julia e meus irmãos, que com
muito carinho e apoio não mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa de
minha vida.

A minha orientadora, Isaura Isabel Conte por acreditar e me confiar este trabalho
aceitando me orientar. Por todo seu esforço e dedicação em me ajudar, minha
gratidão.

Também quero agradecer a todo corpo docente da Unir que demonstraram estar
comprometidos com a qualidade e excelência do ensino, transmitindo seus
conhecimentos durante estes anos da minha vida acadêmica contribuindo assim com
a minha formação.

Não poderia deixar de agradecer todos meus colegas de curso que traçaram essa
jornada comigo em especial aqueles que compartilharam diretamente seus
conhecimentos, experiências e que me incentivou a não desistir. Minha gratidão a
vocês: Lidiane Brilhante, Josiane Fernandis, Ana Paula Mota e Ângela Celestino.

A banca avaliadora composta pelas professoras Neidimar Vieira Lopes Gonzales e


Irgard Margarida Theobald, sou grata por terem aceitado o convite de trazer
contribuições significativas para meu trabalho e, por ter feito parte do meu processo
de formação acadêmica. A vocês o meu muito obrigado/a.

Por último deixo meus agradecimentos a instituição e todos os profissionais que me


receberam contribuindo para que essa pesquisa acontecesse, com o seu
profissionalismo e dedicação, dispostos a me ajudar, o que me permitiu alcançar
resultados significativos. Muito obrigada!
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Muitas das coisas que precisamos podem esperar. A criança não


pode. É exatamente agora que seus ossos estão se formando,
seu sangue é produzido, e seus sentidos estão se
desenvolvendo. Para ela não podemos responder “amanhã”.
Seu nome é “hoje”.

Gabriela Mistral
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RESUMO

A alimentação é essencial para o desenvolvimento de todo ser humano e, da criança


para que cresça com saúde não havendo dúvidas de que precisa ser adequada com
relação à quantidade e qualidade, além do respeito às diversidades
culturais/regionais. Assim, a temática deste trabalho versa sobre a alimentação
escolar das crianças, tendo como locus de pesquisa o Centro Municipal de Educação
Infantil (CMEI) Mario David Andreazza, localizada no município de Ji-Paraná – RO
tendo como objetivo compreender os hábitos alimentares das crianças da Educação
Infantil e como as mesmas influenciam umas às outras. O que justifica este trabalho
é compreender as mudanças no comportamento alimentar da criança ao ingressar na
vida escolar, pois se partiu desta inquietação. A pesquisa é de abordagem qualitativa,
sendo utilizado levantamento bibliográfico para embasamento teórico, observações
da turma de 20 crianças em atividades em sala, e, principalmente durante as refeições
na creche e, além disso, um questionário semiestruturado focalizando a professora da
turma, a duas merendeiras e a diretora. Utilizou-se como referenciais teóricos os
estudos de Santos (2018); Moura (1993); Chaves (2006); Santos; Silva, Soares
(2018); Maranhão (2010); Conte (2016); Almeida (2015) dentre outros. Constata-se
que o período da infância é a fase mais importante na formação de hábitos
alimentares, sendo estes influenciados pelo meio em que a criança está inserida e,
um desses meios, tem sido a escola. A família é a principal responsável para incentivar
os filhos a consumirem alimentos saudáveis, sendo que a escola contribui na
aquisição desses hábitos. Não cabe a escola ou instituição de educação infantil impor
hábitos considerados saudáveis, pois elas não podem obrigar as crianças a comerem
algo, quando rejeitam. A função da instituição de educação é fazer o trabalho
educativo, oferecendo alimentos variados e saudáveis (a depender do que o município
adquire, quando se tratar de esfera pública), e colocando as razões, as motivações
de hábitos saudáveis na vida das pessoas, mas, não cabe somente a ela delegar esta
tarefa. Percebe-se com evidência a influência das mídias por meio de propagandas
intervindo nos alimentos e gostos das crianças, e essas crianças na escola,
influenciam fortemente umas às outras. As políticas públicas das últimas décadas
contribuíram para a alimentação saudável na educação pública no Brasil, garantindo
maior qualidade dos alimentos oferecidos, inclusive devido a compra direta de
agricultores/as, via Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Neste
momento as políticas que viabilizavam compra de pequenos agricultores sofreram
retrocesso devido a não aposta neste importante setor, o que se constitui em enorme
desafio, pois a educação pública também tem sofrido retaliações.

Palavras Chave: Crianças. Educação Infantil. Hábitos alimentares. Educação


alimentar.
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LISTA DE FIGURAS/FOTOS

FIGURA 1- Material de Comunicação Visual ............................................................ 20

FIGURA 2 – Vista externa da Instituição .................................................................. 28

FIGURA 3 – Áreade recreação ............................................................................... 30

FIGURA 4 – Momento da refeição ............................................................................ 34

FIGURA 5 – Momento da refeição ……………………………………………………35

FIGURA 6 – Atividades lúdicas ....................................................................................... 44


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LISTA DE QUAROS

QUADRO 1: Cardápio Mensal para Educação Infantil


QUADRO 2: Relação de alunos com alergias e intolerâncias
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

LDB – Lei de Diretrizes e Bases


PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar
MS – Ministério da Saúde
FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento Humano
CNME – Campanha Nacional da Merenda Escolar
FISI – Fundo Internacional de Socorro a Infância
PRONAN – Programa Nacional de Alimentação e Nutrição
MEC – Ministério da Educação
DHAA – Direitos Humanos à Alimentação Saudável
LOSAN – Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional
SISAN – Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
PAS – Programa de Alimentação Saudável
PPP – Projeto Político Pedagógico
PBIEI –Parâmetros Básicos de Infraestrutura para a Educação Infantil
RCNEI –Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
CMEI – Centro Municipal de Educação Infantil
OPAS – Organização Panamericana da Saúde
OMS – Organização Mundial da Saúde
NUPENS – Núcleo de Pesquisa Epidemiológica em Nutrição e Saúde
USP – Universidade de São Paulo
SEMED – Secretaria Municipal de Educação
EUA - Estados Unidos da América
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 12
1 ALIMENTAÇÃO ESCOLAR ............................................................................................. 18

1.1 HISTÓRICO DA ALIMENTAÇÃO ESCOLAR NO BRASIL .................................21


1.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO...................................................................... 28

2 A QUESTÃO ALIMENTAR NA INFÂNCIA ..................................................................... 33


2.1. ALIMENTAÇÃO NA CRECHE MÁRIO ANDREAZZA ................................................... 41
2.2 O ENTENDIMENTO DO TRABALHO SOBRE ALIMENTAÇÃO NA CRECHE ............... 46
CONSIDERAÇÔES FINAIS ................................................................................................ 50
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 53
APÊNDICE .......................................................................................................................... 55
12

INTRODUÇÃO

Em todas as etapas da vida a importância em ter uma alimentação saudável e


equilibrada é indiscutível, sendo que o período da infância é a etapa que necessita de
maior atenção. É nessa fase que a criança está se desenvolvendo e uma alimentação
balanceada ajudará em seu desenvolvimento físico, cognitivo além de prevenir
diversas doenças, afirmam especialistas da área da saúde como médicos e
nutricionistas.
A alimentação é um tema de grande relevância no contexto escolar, não
somente por implicar na promoção da saúde, mas por ser ancorado em práticas que
revelam o significado de nutrir e comer, como algo que passa de geração em geração.
Santos (2008) destaca que o alimento tem estreita relação com o corpo, pois participa
de sua construção não só do ponto de vista material, mas nos aspectos culturais e
simbólicos. Assim, o alimento se diferencia de outras formas de consumo visto que
ele é incorporado no organismo, e, por isso reflete em consequências benéficas ou
maléficas. Neste sentido, é possível afirmar que os hábitos alimentares são
influenciados por aspectos biológicos, psicológicos, socioeconômicos e culturais que
determinam a construção de hábitos saudáveis ou não.
A instituição escolar é um espaço social com finalidades educativas e
formadoras e nela as crianças permanecem boa parte do tempo em diversas
atividades: passam a conviver com muitas pessoas para além de suas famílias,
aprendem, brincam, correm, pulam, consomem alimentos, compartilham preferências
e, principalmente adquirem hábitos que podem ficar por toda a vida. Logo, ao
ingressar na escola as crianças passam a socializar-se ainda mais, aumentando o
círculo de convivência e assim, sofrem influência de outras crianças e as influenciam
também.
As necessidades do organismo estão relacionadas à alimentação e ela deve
ser nutritiva. Diante disso é fundamental criar bons hábitos alimentares, pois nem tudo
o que se come, nutre. Sabe-se que, uma alimentação adequada melhora a qualidade
de vida, colabora para a promoção e proteção da saúde prevenindo também os
distúrbios nutricionais (MOURA 1993). Entretanto, é importante que esses hábitos
sejam adquiridos desde a infância, inicialmente em casa, mas podendo contar com o
auxílio da escola.
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Nesse aspecto, considera-se relevante tratar, ainda que brevemente da


infância visto que nossa temática de pesquisa diz respeito às crianças da pré-escola.
A infância é considerada a primeira etapa da vida do ser humano, é a fase em que os
cuidados e atenção da família são fundamentais para que a criança sinta-se protegida
e segura, sendo também no núcleo familiar que se inicia o processo de aprendizagem
e desenvolvimento.
O conceito de infância é um fenômeno histórico e foi entendido de diferentes
formas. Destaca-se que, conforme descreve Áries (1981), durante a Idade Média, a
criança não tinha muita importância e era vista como um adulto em miniatura, havia
pouco laços afetivos com os pais e despendiam poucos cuidados diferenciados. O
autor menciona ainda que a fase da infância era reduzida e logo os pequenos
começavam o trabalho no campo e os afazeres domésticos, para adquirir
conhecimentos com os adultos.

A transmissão dos valores e dos conhecimentos, e de modo mais


geral, a socialização da criança, não eram portanto nem asseguradas
nem controladas pela família A criança se afastava logo de seus pais,
e pode-se dizer que durante séculos a educação foi garantida pela
aprendizagem, graças a convivência da criança ou do jovem com os
adultos. A criança aprendia as coisas que devia saber ajudando os
adultos a fazê-las (ARIÈS, 198, p. 10).

Pode-se constatar que as crianças dessa época não tinham direito a fases da
infância e antes mesmo de adquirir resistência física eram inseridas em trabalhos com
os adultos como algo natural. As crianças se transformam em adultos precocemente
e vivenciavam o que não era correspondente com a sua idade. Porém, por volta do
século XIII, o conceito da infância começou a ser colocado na sociedade. Áries (1981,
p.65) afirma que “sua evolução pode ser acompanhada na história da arte e na
iconografia dos séculos XV e XVI”.Mas, somente no século XVII, apresentou sinais
significativos quanto a sua importância.
Ocorreram várias mudanças acerca das concepções em torno da infância,
muitos e importantes pensadores deixaram suas opiniões ao longo da história da
humanidade. Cientistas que dedicam seus estudos nesta área enfatizam que a
criança está em constante transformação e as mudanças ocorrem durante todos os
períodos do ciclo de vida. Cada etapa possui suas características específicas que
podem permanecer estáveis ao longo da vida ou serem influenciadas por condições
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ou circunstâncias, dependendo do contexto em que o ser humano está inserido


(REGIS; BARURFFI, PISA, 2018).
Este trabalho visa reunir dados/informações com o propósito de responder ao
seguinte problema de pesquisa: como são os hábitos alimentares das crianças da
educação infantil e como a instituição tem trabalhado essa temática em Ji-
Paraná/RO? Assim, na perspectiva de responder a esta pergunta o objetivo geral da
pesquisa é compreender os hábitos alimentares das crianças da Educação Infantil e
como elas influenciam umas às outras.
Para nos aproximar mais do campo de pesquisa, os objetivos específicos
traçados foram: identificar o que as crianças comem, o que mais gostam e o que
rejeitam e entender o porquê; perceber como se dá a influência na alimentação entre
as crianças na Educação Infantil e, por último, perceber e analisar como e o que a
Instituição trabalha direta e indiretamente com relação aos hábitos alimentares
saudáveis.
O interesse pela temática surgiu com a entrada da minha filha, aos 3 anos e
meio de idade na pré-escola, onde foi percebível mudanças em seu comportamento
alimentar, nesse caso, afirmo que ela passou a deixar repentinamente de comer o que
antes comia e isso me intrigou. No caso de minha filha, as influências adquiridas
durante o período pré-escolar quanto ao seu hábito alimentar não foram adequadas,
pois estava deixando de consumir alguns alimentos porque os coleguinhas não
comiam, e assim, foi ficando cada vez mais difícil de reverter a situação.
Esse caso não pode ser tomado como algo isolado e, partindo dele, dessa
inquietação de perceber como isso ocorre e porque ocorre, é que pensei ser um tema
importante a ser pesquisado no curso de Pedagogia. Ademais, percebi que o curso,
ao trabalhar educação infantil pouco toca na questão da alimentação das crianças
como parte primordial de seu desenvolvimento também psíquico – que lhes dá
capacidade de aprender e ensinar. Sei que não se trata de um curso de nutrição, mas
poderíamos ter ao menos alguns textos sobre essa importante questão a serem
estudados no curso.
Entendendo a importância que a alimentação assume no espaço escolar decidi
por esta temática, pois conhecer como se dão ou são estimulados os hábitos
alimentares de crianças da educação infantil era um assunto que me inquietava há
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tempos e, passa pelo processo educativo, então é uma questão para o campo da
Educação.
Segundo Brandão (2007), não existe um único modelo para a educação, como
também não ocorre somente em espaços escolar com a figura de um profissional para
ensinar. A educação compreende processos para além da escola, podendo acontecer
na igreja, em casa, no ônibus, na rua, na família. Seja qual for o lugar, a educação
entendida num sentido amplo é todo conhecimento adquirido com a vivência em
sociedade, assim, hábitos e costumes também são aprendidos e repassados,
queiramos ou não.
A Lei de Diretrizes e Bases (LDB /93.94/1996) em seu art. 1° descreve que a
educação:

[...] abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida


familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de
ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da
sociedade civil e nas manifestações culturais.

Ainda em seu Art. 2°, esse mesmo documento responsabiliza a família e o


Estado pela educação, devendo ser “inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais
de solidariedade humana, com a finalidade do pleno desenvolvimento do educando,
preparando-o para o exercício da cidadania e para o mercado do trabalho”. Desse
modo, a preparação para a cidadania está vinculada com o acesso a informações e
reflexões que contribuem para a pessoa pensar a sociedade e pensar a si mesma em
sociedade. Assim, se ela é esclarecida a respeito da alimentação, do que implica esta
ou aquela substância nos alimentos, ela pode fazer opções, decidir e buscar
caminhos.
Metodologicamente, para o desenvolvimento do presente trabalho foram
utilizadas pesquisas bibliográficas e de campo. A pesquisa é um processo formal e
sistemático do desenvolvimento de método científico com objetivo de descobrir
respostas para problemas, permitindo obter novos conhecimentos no campo da
realidade social (GIL, 2008). A pesquisa é de cunho qualitativo que Minayo (2002, p.
21) descreve como aquela que:

[...] responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas


ciências sociais com um nível de realidade que não pode ser
quantificado. Ou seja, ela trabalha com um universo de significados
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motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a


um espaço mais profundo das relações, dos processos, e dos
fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de
variáveis (2002, p. 21).

Para coleta de dados, a pesquisa foi realizada em uma Instituição Municipal


de Educação Infantil situada no município de Ji-Paraná, tendo como participantes a
professora, a diretora, duas (02) funcionárias da cozinha e uma turma do Pré I
composta por 20 crianças com idade entre 4 a 5 anos. Vale lembrar que, através de
assinatura do termo de consentimento a instituição autorizou tomar pública a sua
identidade.
Para o desenvolvimento da pesquisa qualitativa foi necessário realizar
pesquisas bibliográfica, buscando informações fundamentadas em livros, revistas,
artigos e demais trabalhos acadêmicos que abordam o tema proposto. Sobre a
pesquisa bibliográfica Lakatos e Marconi (2003) destacam que,

A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda


bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde
publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas,
monografias, teses, material cartográfico etc., até meios de
comunicação orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais:
filmes e televisão. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato
direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado
assunto, inclusive conferencias seguidas de debates que tenham sido
transcritos por alguma forma, quer publicadas, quer gravadas (
LAKATOS, MARCONI,2003, p. 183).

No caso deste trabalho de conclusão de curso, foram utilizadas fontes


suficientes que deram suporte às escritas. Como descrito por Gil (2008), a pesquisa
bibliográfica é indispensável, pois não há outra maneira de conhecer os fatos senão
através de materiais já publicados. Ele destaca ainda pelo cuidado que se deve ter
com as fontes da pesquisa e que devem ser analisadas com profundidade para que o
trabalho não seja embasado em fontes equivocadas.
A pesquisa de campo se deu pela necessidade de verificar de perto a
alimentação das crianças. Desse modo, não haveria como compreender seus hábitos
e gostos sem estar com elas, procurando ver e ouvir o que manifestam sobre os
alimentos. Para perceber o que pensam as crianças e o que dizem ou demonstram
sobre a alimentação oferecida na creche, realizamos observações durante o mês de
maio e outubro de 2019. As observações ocorreram no período matutino (8:00 as
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11:30) e foram realizadas em sala de aula antes e após a alimentação, observando


principalmente nos horários das refeições.
Utilizamos também um questionário com questões semiestruturadas para a
professora da turma buscando identificar sobre temas e metodologias de ensino
trabalhadas com as crianças envolvendo alimentação. Com as funcionárias da
cozinha buscamos saber sobre seus trabalhos, o que compreendem sobre a
importância dos alimentos para as crianças e, o que as crianças comem ou rejeitam
mais facilmente.
Além disso, buscamos sempre estabelecer conversas com a diretora, buscando
informações sobre a qualidade dos alimentos adquiridos e se os recursos destinado
para esse fim são suficientes. Conversamos também com as crianças, na maioria das
vezes a conversa se deu após a refeição, questionado o motivo pelo qual deixou de
comer alguns alimentos e procurando saber de suas preferências alimentares e o que
gostavam de comer quando não estavam na escola. Para um melhor entendimento
sobre o estudo de campo Lakatos e Marconi (2003) explicam claramente que ela é
utilizada com o objetivo de obter informações ou conhecimentos a cerca de um
problema que procuramos respostas ou de hipóteses que queiramos comprová-las ou
descobrir novos fatos.
Assim, este trabalho encontra-se estruturado em dois capítulos, sendo que, o
primeiro trata sobre a alimentação escolar, apresentando uma retrospectiva do
processo da alimentação escolar desde 1940. Neste item é destacado também sobre
o entendimento de ter uma alimentação saudável para o desenvolvimento do ser
humano.
Na sequência, o segundo capítulo traz uma abordagem sobre a questão
alimentar na infância e a influência que o meio social em que a criança está inserida
interfere nos hábitos alimentares nessa fase. Descrevermos a contextualização da
instituição a fim de obtermos conhecimento do local da pesquisa e apresentamos os
dados obtidos com reflexão.
Por último, as considerações a que se chegaram com o estudo, às referências
consultadas e os apêndices, os quais complementam o estudo.
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1 ALIMENTAÇÃO ESCOLAR

A alimentação escolar é todo alimento oferecido durante o ano letivo nas


escolas para todos os alunos das redes pública e privada de ensino. É assegurado
pela Constituição Federal 1988, que conforme o artigo 208, inciso VII, que a educação
é dever do estado garantindo “atendimento ao educando, na educação básica, através
de programas suplementares de material didático, transporte, alimentação e
assistência à saúde” (BRASIL, 1988).
Santos et al (2018), enfatizam também que a alimentação escolar tem sido o
termo utilizado para designar as ações estratégicas que constituem o Programa
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)1 e, nesse caso, alimento tem um significado
maior do que merenda. O objetivo do PNAE é o de contribuir com a formação de
práticas alimentares saudáveis por meio de ações de educação alimentar e
nutricionais. E para alcançá-lo, busca introduzir refeições na escola com a oferta de
nutrientes necessários baseadas nas necessidades nutricionais dos educando/a.
Conforme explicado acima, podemos constatar que a alimentação escolar é um
direito assegurado por lei para todo aluno/a e criança inseridos na rede pública de
educação básica. Visa atender ao requisito principal do PNAE que é o de suprir as
necessidades do educando e incentivá-los para aquisição de hábitos saudáveis a
alimentação deve ser de qualidade. O entendimento do que é qualidade dos alimentos
para as pessoas comuns, como se diz, que não estudam essa temática é que varia
muito. Quanto menos acesso a informações seguras e educação que proporcione
uma leitura de entendimento das informações somada a criticidade, mais ludibriadas
facilmente as pessoas são, sendo que uma parcela significativa possui mais crendices
do que informações de fato sobre o tema.
De acordo com Moura (1993), a alimentação embasa-se em regras simples e
uma delas é a da qualidade, mas ela deve estar associada com a quantidade para

1 Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), popularmente conhecido como merenda escolar
é considerado um dos maiores programas na área de alimentação escolar no mundo e é o único com
atendimento universalizado. Atualmente funciona por meio da transferência de recursos financeiros em
caráter suplementar, de forma a suprir parcialmente as necessidades nutricionais dos alunos. O
Programa tem sua origem no início da década de 40 passando por diversas mudanças e somente em
1979 passou a denominar-se Programa Nacional de Alimentação Escolar. No intuito de enfatizar a
formação de hábitos alimentares saudáveis, o PNAE propõe, em sua base legal, alguns princípios,
dentre eles o respeito aos hábitos alimentares saudáveis, como as práticas tradicionais que fazem parte
da cultura e da preferência alimentar local, contribuindo para a preservação dos hábitos alimentares
regionais (FNDE, 2020).
19

proporcionar uma nutrição adequada suprindo as necessidades dos alunos, quando


se trata de escolarização. O autor deixa claro ainda, que a adequação da alimentação
é fundamental para o crescimento e desenvolvimento da criança. O mesmo autor
reforça também que a alimentação inadequada, pode resultar em uma desnutrição
decorrente da ingestão escassa de nutrientes e uma criança desnutrida tem seu
rendimento escolar prejudicado.
Vale ressaltar que, alimentos calóricos e com baixo teor nutricional ainda estão
sendo ofertados em algumas escolas através das cantinas dentro do espaço escolar.
Embora, a escola disponibiliza de uma variedade de alimentos, os industrializados
ricos em gorduras e açúcar são os preferidos das crianças. Assim, a existência de
cantinas no interior de escolas torna-se incoerente frente ao que é exigido no próprio
currículo escolar que precisa discutir e ensinar sobre a alimentação saudável, sendo
um entrave para a formação de hábitos alimentares saudáveis – o que contribui
também para o aumento da obesidade infantil (BRASIL, 2012).
Com a finalidade de propiciar saúde a partir ou com a contribuição da escola
para a adesão a hábitos alimentares saudáveis e atitudes promotoras da saúde, em
2004 o Ministério da Saúde (MS) elaborou um conjunto de estratégias intitulado ‘’Os
Dez Passos para a Promoção da Alimentação Saudável nas Escolas’’. Conforme o
documento deve-se restringir a oferta, a promoção comercial e a venda de todos os
alimentos classificados como não saudáveis. Estes abarcam os alimentos ricos em
gorduras, açucares e sal (BRASIL, 2008).
Buscando minimizar esse embate, alguns estados e municípios brasileiros
criaram leis de regulamentação destes estabelecimentos, com o objetivo de
regulamentação de alimentos que podem ou não serem vendidos nas cantinas
escolares. Dentre os estados e municípios podemos citar, por exemplo: Florianópolis
/SC, Santa Catarina/SC, Paraná/PR, Rio de Janeiro/RJ, Distrito Federal/DF, Ribeirão
Preto/SP, São Paulo/SP e Goiás/GO. De forma geral, essas medidas abordam a
proibição de bebidas alcoólicas, doces, salgadinhos industrializados e/ou fritos,
refrigerantes, sucos artificiais, proíbem também a exposição de cartazes publicitários
que estimulem a aquisição dos mesmos e refere-se também a presença obrigatória
de duas opções de frutas diariamente e a presença de mural ou material de
comunicação visual relacionados à alimentação e nutrição (BRASIL, 2012).
20

Embora medidas positivas tenham sido tomadas vale salientar que a proibição
de determinados alimentos em cantinas dentro do ambiente escolar não irá resolver
o problema de obesidade ou a falta de prática de hábitos saudáveis instantaneamente.
Faz-se necessário trabalhar em sala de aula sobre as práticas de uma boa
alimentação com os alunos e, ainda um trabalho conjunto entre a escola, proprietários
de cantinas entre outros profissionais envolvidos para que possibilitem um
entendimento e conscientização sobre o papel dos alimentos comercializados nas
cantinas para que possam de fato compreender os motivos que foram criadas
medidas para regulamentação desses estabelecimentos.
Ressalto ainda, que a referida instituição da pesquisa não possui cantina
escolar, sendo a alimentação escolar a única ofertada para os alunos e conforme
verificado durante a pesquisa é interessante afirmar que a escola está de acordo com
a proposta do Programa Nacional de Alimentação Escolar que é oferecer uma
alimentação saudável, e conforme descrito no documento nº 02/2012 –
COTAN/CGPAE/DIRAE/FNDE 2 Segundo pudemos perceber, a escola oferece
diariamente aos alunos, fruta como sobremesa ou em forma de suco natural, como
veremos no cardápio da escola no próximo capítulo.
Nas salas das crianças e no espaço da educação infantil há materiais de
comunicação visual sobre alimentação saudável que são confeccionados pelos
próprios alunos durante as aulas. Observa-se na imagem abaixo cartazes produzidos
durante o projeto sobre alimentação saudável na escola. Ressalto que todo trabalho
realizado pelos alunos fica expostos na sala de aula ou na área externa da instituição.

FIGURA 1: Material de comunicação visual.


2 Nota técnica de Regulamentação de cantinas escolares em escolas públicas do Brasil.
21

Fonte: Acervo da pesquisadora. Dados da pesquisa 2019

1.2 HISTÓRICO DA ALIMENTAÇÃO ESCOLAR NO BRASIL

Antes de ser direito garantido para os estudantes, a alimentação escolar teve


um percurso histórico iniciado por volta de 1940 com a iniciativa das próprias escolas
que se organizaram montando as “caixas escolares”, com o propósito de arrecadação
de dinheiro para alimentar os educando no período escolar. Nessa época o governo
não ofertava alimentos, mas percebeu a relevância da alimentação para a
permanência dos alunos na escola, assim, como a redução da desnutrição infantil
(CHAVES, 2006). Vale ressaltar que nesse período, não se falava ainda em
alimentação escolar e sim, merenda. O conceito foi sendo alterado devido as
discussões que foram se dando com relação ao tema, devido a sua importância no
Brasil e no mundo, inclusive nos países pobres.
Assim, na década de 1950 foi criado a Campanha Nacional de Merenda
Escolar (CNME) em combate à desnutrição no Brasil que tinha por objetivo a
implantação do programa de suplementação alimentar para escolares de baixa renda
cujo interesse se relacionava as indústrias de alimentos (SANTOS; SILVA, SOARES,
2018).

[...] desde a década de 1950, as crianças começaram a receber


alimentação no período em que estavam estudando, claro que nem
22

todas as crianças, pois o governo não estava organizado para


alimentar todos os estudantes do Brasil devido ao fato de que, no início
do programa, os alimentos eram oferecidos por organismos
internacionais, sendo assim, o Governo Federal não comprava
alimentos e, sim, recebia doações (CHAVES, 2006, p. 16).

Verifica-se nesta citação que a alimentação recebida nas escolas eram


doações, ou falsas doações internacionais, que contava com o apoio do Fundo
Internacional de Socorro à Infância (FISI), denominado hoje, Fundo das Nações
Unidas para a Infância (Unicef) (BRASIL, 2008). No entanto as doações não eram
suficientes, assim, Chaves (2006, p. 16) menciona que “o Governo optou em começar
pelo Nordeste, onde grande parte dos estudantes eram desnutridos”.
Quando mencionamos a falsa doação nos referimos ao fato de que os países
ricos, em especial, Estados Unidos, faziam a “doação” tendo como interesse
interferências variadas, desde o campo da agricultura, da cultura na formação de
hábitos alimentares e na própria educação/currículo escolar. Assim, as doações não
eram simples doações bondosas ou solidárias para com o Brasil.
Seguindo, na década de 1970, precisamente em 1979 tal campanha foi
renomeada durante o II Programa Nacional de Alimentação e Nutrição (PRONAN II),
porém, devido à gestão burocrática e centralizada houve a necessidade de
descentralizar para que os municípios tivessem autonomia, passando a ser chamado
nessa mesma época de Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Dessa
forma, em 1980 o processo de descentralização efetivou a autonomia aos municípios
(SANTOS; SILVA, SOARES, 2018).

A partir de 12 de julho de 1994, a descentralização foi instituída por


meio da Lei nº 8.913. A execução do programa passou, então, a ser
realizada mediante a celebração de convênios com os municípios, e
foi delegada às secretarias de educação dos estados e do Distrito
Federal a competência para o atendimento dos alunos pertencentes
às suas redes e às redes municipais que não haviam aderido à
descentralização. Os municípios e as secretarias estaduais e distrital
de educação passaram, desse modo, a assumir as funções
anteriormente desempenhadas pelo gerenciador do Pnae (BRASIL,
2008, p. 26).

Ainda sobre a descentralização, Brasil (2008) cita que:


23

A consolidação da citada descentralização deu-se com a Medida


Provisória nº 1.784, de 14 de dezembro de 1998, que instituiu a
transferência automática dos recursos, fato que garantiu maior
agilidade no processo de execução do programa. Nesse momento,
o programa já estava sob a responsabilidade do FNDE (BRASIL, 2008,
p. 26).

Vale ressaltar que o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação,


(FNDE), é um órgão do governo federal que foi criado em 1968, vinculado ao
Ministério da Educação (MEC) que financia e gerencia o PNAE e tem como
responsabilidade o repasse dos recursos para custear a alimentação. Esses recursos
procedem do Tesouro Nacional e estão garantidas no Orçamento da União. Vale
recordar que como prevê a Constituição Federal fica sob a responsabilidade dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, mas, se houver necessidade a
complementação financeira dos recursos é da União (BRASIL, 2008).
Contudo, é importante destacar que o organismo administrador do PNAE
comprava e distribuía os alimentos, e a partir da década de 1990 o Programa foi
descentralizado com a celebração de acordos com Estados, Distrito Federal e
Municípios para otimização do bom emprego dos recursos e, assim, os alimentos que
chegavam às instituições educacionais já eram compradas dentro do próprio estado
(a menos que não estavam disponíveis).
De acordo Chaves (2006), com a descentralização a qualidade da alimentação
escolar melhorou, pois, antes os alimentos eram em sua maioria industrializados e os
in natura, por demorar chegar ao seu destino estragavam e, mesmo muitos dos
produtos embalados chegavam com prazo de validade vencida. Com a
descentralização o programa teve de respeitar aos hábitos alimentares regionais dos
alunos enfatizando que os alimentos deveriam ser frescos, incentivando a aquisição
de produtos da sua região como incentivo da economia local para o seu
desenvolvimento.
Dessa forma somente na década de 1990, as refeições escolares passaram a
ser preparadas de acordo com os hábitos alimentares regionais e com isso, conferiu
no incentivo para aquisição de produtos locais e alimentos básicos e in natura como
meio de enfrentamento aos produtos industrializados (SANTOS; SILVA, SOARES,
2018).
Diante desses dados, torna-se evidente que um dos grandes avanços ocorridos
no Brasil nos últimos tempos foi a descentralização da alimentação escolar que além
24

de melhorar na qualidade da alimentação trouxe oportunidades e incentivos para


pequenos agricultores da região. Diante ao exposto, perguntamos à professora
envolvida na pesquisa sobre como ela percebe a alimentação escolar atualmente.

Atualmente a merenda escolar tem outro significado, antes ela era


precária, sem nenhum valor nutritivo era apenas uma forma de matar
a fome das crianças e mantê-los na escola. Agora os produtos
recebidos são in natura com uma grande variedade onde os alunos
têm a garantia de estar se alimentando com produtos de qualidade.
Hoje, além de ser requisito básico para a nutrição tornou-se um
recurso educativo que vai além de suprir as necessidades do
organismo promovendo a saúde, o crescimento, o desenvolvimento e
a aprendizagem dos alunos (PROFESSORA).

Mediante a resposta da professora a alimentação escolar é de forma geral vista


como um suporte nutricional e recurso didático contribuindo para práticas
pedagógicas, como base práticas alimentares promotoras de saúde e bem-estar dos
alunos.
Seguindo, em 2003 com a retomada do Conselho Nacional de Segurança
Alimentar como aposta do Governo Federal passou-se a articular as ações entre o
governo e sociedade civil, engajado aos movimentos sociais e militantes na luta pelo
Direito Humano à Alimentação Adequada e Saudável (DHAA). A partir disso, em 2006,
foi regulamentado a Lei Orgânica de Segurança Alimentar Nutricional (LOSAN), e com
isso, criou-se o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN)
contemplando o PNAE para a integração de estratégias que garantissem o DHAA nas
escolas. Todavia, o PNAE estruturou-se como política de segurança alimentar
nutricional, e somente em 2010 com a Emenda Constitucional 64/2010. Nesta, a
alimentação foi inscrita como um direito social regida por um conjunto de ações que
compõem o SISAN (SANTOS; SILVA, SOARES, 2018).
Esses marcos históricos apontam para os debates instaurados para a
implementação de uma política educacional voltada à alimentação, inclusive,
articulado ao Ministério da Saúde, o qual passou a recomendar o uso do “formulário
de marcadores do consumo alimentar” que é um dos instrumentos da vigilância
alimentar e nutricional que consiste numa descrição contínua que busca caracterizar
e padronizar os modos de consumo alimentar dos indivíduos de forma que indique
práticas saudáveis ou não saudáveis.
25

Nossa pesquisa mostra que este formulário é preenchido diariamente na CMEI,


durante o turno matutino e vespertino onde é registrada a quantidade de alunos
atendidos por idade, como forma de controlar o número de refeições servidas.
Conforme foi verificado, no mês de fevereiro de 2020 a instituição serviu um total de
2.239 refeições para crianças de 3 a 4 anos (PRE I) e 1.753 refeições para crianças
de 5 a 6 anos (PRE II). Esses números são referentes aos dois turnos de atendimento
escolar, totalizando assim, 3.992 refeições. Vale ressaltar que neste ano de 2020 a
instituição atende 350 crianças.
Cervato-Mancuso et. al. (2013, p. 325) destacam que o Ministério da Saúde e
o da Educação tornou-se corresponsáveis por implantar a Política Nacional de
Alimentação e Nutrição, consequentemente, de parte da Política Nacional de
Promoção de Saúde nas escolas, consonante aos critérios de execução do Programa
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), a qual objetiva a “atender as necessidades
nutricionais do aluno no período escolar e, nesse contexto, promover hábitos
alimentares saudáveis. Ademais, a alimentação escolar disciplinada pela lei nº
11.947/2009 inclui a educação alimentar e nutricional no processo de ensino e
aprendizagem que perpassa pelo currículo escolar, abordando o tema alimentação e
nutrição e o desenvolvimento de práticas saudável de vida, na perspectiva da
segurança alimentar e nutricional”.
Sabe-se que o Programa Nacional de Alimentação Escolar tem como princípio
norteador e estruturante a consolidação do direito e acesso a alimentação saudável
no contexto escolar. Entretanto, a realidade aponta para os desafios de implantar no
ambiente escolar metodologia e práticas que contemplem ações que vislumbrem o
que prevê o programa. Moura (1993, p.196) aponta que:

A merenda escolar deve estar associada a um propósito educativo,


contribuindo para a aprendizagem de nutrição, higiene e aspectos
sociais, envolvendo os professores, os alunos, os funcionários e a
comunidade.

O autor discorre que a merenda/alimentação escolar deve ser também um


recurso pedagógico para contribuir para que as crianças compreendam a importância
de alimentar-se e nutrir bem, como reconhecer a importância da higiene, sendo esta
pessoal e também dos alimentos. Sobre este assunto, foi perguntado para a
26

professora: Em relação as metodologias de ensino quais estratégias estão sendo


utilizadas para incentivar os alunos a terem uma boa alimentação?

Estamos sempre incentivando as crianças a gostar e consumir


alimentos saudáveis e a ter os cuidados com a alimentação e
higienização. Procuramos sempre unir a teoria com a prática,
trabalhando de forma lúdica para que eles possam compreender
melhor a importância dos alimentos e passam a consumi-los. Sempre
que posso trago alimentos como frutas da época da nossa região para
eles, muitos só conhecem as frutas mais comuns que encontramos no
mercado ou que é servida aqui na escola como a maçã, banana,
laranja, mamão. Recordo que uma vez trouxe manga e caju, frutas
típicas da nossa região, e muitos alunos não as conheciam e nunca
haviam comido (PROFESSORA).

De acordo o exposto pela professora, muitas vezes a falta de conhecimento


das crianças em relação aos alimentos impede de consumi-los. Desse modo, fica
sendo normal ouvir a criança dizer que não gosta de determinado alimento, sem que
ela ao menos, tenha provado. Nesse caso é fundamental que a escola possa ser um
espaço de incentivo de alimentos regionais, em especial frente a trabalhar e ofertar
frutas que se encontram facilmente.
Destaca-se em Camozzi et. al (2015) um estudo realizado no qual os autores
analisam as ações dos Programas de Alimentação Saudável (PAS). O grupo foi
organizado com diretores, coordenadores, professores, manipuladores de alimentos
e representantes do conselho escolar de seis escolas de nível fundamental de uma
capital brasileira. A partir desse estudo, com tais entrevistas pode-se dizer que a oferta
da alimentação na escola se configura como um impasse para uma prática
transformada na escola que possa vislumbrar uma nova compreensão da relevância
do ensino de hábitos saudáveis desde cedo.
Nesse estudo, os autores destacam que “As atividades promotoras da
alimentação saudável na escola estão restritas à abordagem de conteúdo específico
pelos professores e às modificações feitas no cardápio visando aumentar a aceitação
das preparações” (CAMOZZI et. Al.; 2015, p. 36). Portanto, esse estudo aponta para
a necessidade de “mudanças na formação desses atores, tornando-os ativos no
Programa de Alimentação Saudável (PAS) no espaço escolar”. Assim sendo, recai à
escola a problematização dessa temática para que haja a construção de um projeto
pedagógico que contemple tais conteúdo.
27

Buscando verificar se a escola realiza algum trabalho com as crianças voltado


para essa temática, foi perguntado para a professora: A escola realiza algum projeto
para orientar as crianças em relação a importância dos bons hábitos alimentares e,
de que maneira são feitas essas orientações? A resposta foi a seguinte:

Sim. A escola realiza projetos que envolvem todo o corpo docente e


discente e junto com a comunidade, finalizamos com exposição e
demonstração de todo o trabalho realizado durante o projeto. Um dos
projetos foi sobre alimentação saudável, onde fizemos pique-nique
durante o desenvolvimento do projeto, murais, demonstração e
degustação de alimentos e no final expomos os trabalhos
desenvolvido pelas crianças e realizamos uma feira livre para que os
alunos e todos os envolvidos pudessem prestigiar e saborear os
alimentos (PROFESSORA).

Para a professora, esse projeto foi muito satisfatório, pois as crianças precisam
desde cedo conhecer a importância dos alimentos e saber alimentar-se
adequadamente e a escola junto com os pais realizou um excelente trabalho. Ela diz
ainda, que falar e incentivar as crianças sobre a prática de alimentação saudável é
tarefa de todos os dias, na escola e em casa.
A partir da fala da professora, pode-se afirmar ainda, que a instituição tem feito
esforço no sentido de orientar sobre a alimentação e higiene, sendo perceptível que
os professores estão sempre estimulando as crianças a desenvolver bons hábitos
alimentares, ensinam a lavar as mãos antes e após as refeições, a sentar-se à mesa
e comer corretamente.
De acordo com as observações realizadas durante a pesquisa, foi verificado
que no Projeto Político Pedagógico (PPP) da instituição consta o projeto sobre
alimentação saudável que a professora mencionou. Este projeto tem como objetivo
incentivara prática de consumo de produtos saudáveis, sendo trabalhado com todas
as turmas onde as crianças aprendem de forma lúdica a conhecer e reconhecer a
importância dos alimentos para a saúde.
Cervato-Mancuso et.al (2013) realizaram um estudo exploratório em treze
escolas públicas municipais no município de Guarulhos, no qual entrevistaram
diretores e coordenadores e constataram que há a predominância de uma visão
acerca da alimentação como parte da rotina escolar vinculada às necessidades
fisiológicas. Todavia, não foi considerada como parte de uma ação pedagógica em
que há responsabilidade dos gestores. Nesse estudo, conclui-se que a alimentação
28

escolar e a formação de hábitos alimentares são temas pouco discutidos na escola e


sua equipe pedagógica.
Barbosa et.al (2013) destacam sobre a importância e a necessidade do espaço
escolar se consolidar uma nova compreensão sobre a alimentação no âmbito escolar,
sobretudo, como refeições fornecidas com qualidade e adequadas nutricionalmente.
Além disso, a escola deve ser o espaço facilitador que integra conhecimentos sobre a
educação e conhecimentos sobre nutrição com o profissional especializado, o/a
nutricionista. Deste modo, criar um espaço de formação continuada possibilita a
promoção de ações no tocante dos currículos escolares, pois ao contemplar a política
de alimentação escolar é possível qualificar os atores tanto para ações educativas que
envolvam a alimentação e todas as suas dimensões, sobretudo, a nutricional.

1.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO

As crianças pequenas foram reconhecidas como sujeitos de direitos a partir de


1988 com a Constituição Federal que conforme descrito em seu “Art. 208: O dever do
Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de [...] IV educação
infantil, em creche e pré-escola, às crianças até cinco anos de idade”. Assim, tiveram
que ser criados locais específicos de aprendizagem para crianças dessa faixa etária.
O direito à educação também é executado pela Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB), Lei 9394/96 e foi a partir da referida lei que a Educação
Infantil passou a fazer parte da primeira etapa da educação básica pois no título III,
enfatiza Do Direito à Educação e do Dever de Educar”, art. 4°, IV, determina que: “O
dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de
(...) atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos
de idade”.
Percebe-se assim, que a instituição escolhida para a pesquisa foi criada em
vinte e quatro do mês de agosto de 1992, antes da LDB, portanto. Antes disso,
funcionava como creche comunitária de integração social, atendendo a 70 (setenta)
crianças do maternal à pré-escola, sendo mantida em conjunto com o poder público
municipal, algumas empresas e a comunidade em geral. Contava com apenas três (3)
salas e dez (10) funcionários, entre professores, zeladoras/es e vigias.
29

Somente no ano de 2001, à medida que a demanda de vagas e as doações se


tornaram insuficientes, fez-se necessária a intervenção da administração municipal de
forma definitiva, passando a chamar-se CENTRO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
INFANTIL MÁRIO DAVID ANDREAZZA. O CMEI fica situado à Rua S/nº 179, Bairro
BNH.

FIGURA 2: Vista externa da instituição

Foto: acervo da instituição

Atualmente, atende cerca de 360 (trezentos e sessenta) crianças entre as


idades de 03 (três), 04 (quatro) e 05 (cinco) anos, nos período matutino e vespertino,
independente de situação socioeconômica e cultural, distribuídas em 16 (dezesseis)
turmas, contando com 33 funcionários, sendo 01 diretora, 01 coordenadora
pedagógica, 17 professores, 01 auxiliar de sala, 02 cuidadores, 01 auxiliar de portão,
01 secretária, 03 zeladoras, 02 merendeiras 01 auxiliar de serviços diversos e 03
estagiários renumerados.
O CMEI também atende crianças com deficiência, desenvolvendo diferentes
atividades comas crianças matriculados na instituição, complementando e/ou
suplementando a formação através da sala de recursos multifuncional. Sala esta, com
espaço físico, mobiliário, materiais didáticos, recursos pedagógicos e de
acessibilidade e equipamentos específicos de acordo com as necessidades das
crianças.
Quanto ao prédio escolar, segundo o PPP (2019) conta com uma área de
125.045m², sendo 102.783m² de área construída e 22.262m² de área livre. A área
30

construída é toda de alvenaria, possui 24 dependências distribuídas da seguinte


forma:
1. Oito (8) salas, contendo bebedouro, mesas e cadeiras apropriadas para
educação infantil, uma escrivaninha e um armário;
2. Uma (1) sala de movimento com parede espelhada e material para exercícios
físicos e uma TV;
3. Uma sala de recursos com dois computadores, dois notebook e vários jogos e
brinquedos educativos;
4. Uma sala de professores;
5. Uma sala de direção;
6. Uma sala de supervisão;
7. Uma sala de secretaria;
8. Um (1) laboratório de ciências com mobiliário adequado e vários materiais para
pesquisa e uma lousa digital;
9. Um laboratório de informática com dezoito (18) laptop;
10. Dois Banheiros, masculino e feminino adequado para faixa etária e
necessidades dos alunos atendidos pela instituição;
11. Dois banheiros para funcionários;
12. Uma cozinha;
13. Três depósitos, sendo um para alimentos, um para material de limpeza e outro
para material escolar.
Quanto à área externa da instituição encontra-se da seguinte maneira;
1. Um pátio coberto que serve também como refeitório;
2. Uma área reservada para piscina: 8mx4mxx50cm
3. Uma área reservada de área para parque infantil com balanços, labirinto,
carrossel e escorregador;
4. Uma área reservada ao parque infantil de grama com brinquedos
confeccionados com pneus recicláveis e playgrounds.

FIGURA : 3 Área de recreação


31

Foto: Acervo da pesquisadora. Dados da pesquisa - 2019

Conforme os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para a Educação Infantil


(PBIEI)3, a criança é o sujeito do processo Educacional e o principal usuário, portanto,
o ambiente deve proporcionar condições compatíveis com as necessidades
psicológicas, físicas, sociais e intelectuais.
Diante a afirmação, percebe-se a importância do espaço/ambiente destinados
à Educação Infantil que devem ser elaborados de forma que respeite o
desenvolvimento da criança. Contudo, devem ser vistos como suporte para possibilitar
e contribuir para a vivência e a expressão das culturas infantis, através das
brincadeiras, jogos, músicas, histórias que expressam a especificidade do olhar
infantil (BRASIL, 2006).
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) (BRASIL,
1998, p.58) destaca sobre a organização do espaço e seleção de materiais:

A organização dos espaços e dos materiais se constitui em um


instrumento fundamental para a prática educativa com crianças
pequenas. Isso implica que, para cada trabalho realizado com as
crianças, deve-se planejar a forma mais adequada de organizar o
mobiliário dentro da sala, assim como introduzir materiais específicos
para a montagem de ambientes novos, ligados aos projetos em curso.
Além disso, a aprendizagem transcende o espaço da sala, toma conta
da área externa e de outros espaços da instituição e fora dela.

3 Documento elaborado no ano de 2006 pelo MEC em parceria com educadores, arquitetos e
engenheiros tem o objetivo de refletir, planejar e construir/reformar espaços de Educação Infantil,
construindo novos olhares sobre eles e estabelecendo vínculos entre espaço físico o projeto
pedagógico das escolas e o desenvolvimento da criança.
32

Percebe-se assim, que o ambiente educativo da instituição da pesquisa foi


pensado e organizado de forma que as situações de aprendizagens proporcionem as
crianças meios para estimular sua imaginação, a curiosidade, a criatividade, a
fantasia, o brincar e a interação social.
Vale destacar aqui, que um dos espaços externos da instituição que nos
chamou a atenção foi a piscina. A piscina foi construída com recursos próprios que a
instituição angariou junto aos pais e a comunidade, por meio de festas, rifas, bazar da
pechincha etc. Ela é utilizada quinzenalmente, geralmente às sextas-feiras uma ou
duas turmas por vez.
Segundo informações obtidas na instituição, o “dia de piscina” como é chamado
pelos alunos é o momento mais aguardado por eles. A professora é responsável por
saber se os alunos vão poder usar a piscina ou não, pois se deve levar em conta a
saúde dos alunos, pois se caso algum apresentar qualquer sintoma como resfriado
fica suspenso o uso da piscina naquele dia. É a professora da turma juntamente com
um auxiliar (cuidador ou estagiário) que acompanha as crianças dentro da piscina.
Conforme mencionado pela professora, as brincadeiras preferidas das crianças são
na piscina e no espaço com areia, são brincadeiras que ajudam no desenvolvimento,
no crescimento e na coordenação motora.
33

2 A QUESTÃO ALIMENTAR NA INFÂNCIA

Este capítulo apresenta reflexões sobre práticas alimentares na fase da


infância, bem como aborda hábitos das crianças influenciados pelo meio onde está
inserida, e por isso, a importância da discussão do tema na instituição escolar. Desse
modo, são descritos os principais dados coletados durante a pesquisa com o aporte
de estudiosos sobre a alimentação de crianças.
É na infância que os hábitos alimentares se desenvolvem, sendo o aleitamento
materno a primeira prática alimentar que garante a saúde e o desenvolvimento
adequado dos indivíduos. A alimentação complementar inicia-se por volta dos seis
meses de idade, logo após o aleitamento materno, sendo que esta introdução de
alimentos deve ser realizada em tempo, quantidade e qualidade adequados a cada
fase do desenvolvimento infantil (BRASIL, 2012).
Logo nos primeiros anos de vida a alimentação da criança exige muito cuidado
dos pais, mãe e/ou responsáveis, pois são eles, os adultos que proporcionam a
alimentação saudável ou não, para suprir as suas necessidades. As crianças por si,
não sabem o que é melhor que comam, assim como a quantidade de alimentos, tudo
precisa ser ensinado a elas e, nesse caso entender de alimentação saudável e hábitos
saudáveis é imprescindível por parte dos adultos.
Segundo Silva, Costa e Giugliani (2016), as práticas alimentares dos indivíduos
tem influência de fatores de ordem genética, cultural, étnica, religiosa entre outros.
Acerca disso, a criança é sujeito em constituição e a infância é o ciclo da vida
fundamental na constituição de hábitos alimentares, sendo os pais/familiares os
sujeitos principais para prover os alimentos e transmitir experiências que servirão
como referência para o estabelecimento de hábitos alimentares, sejam saudáveis ou
não. Neste sentido, a família é primordial.

A família tem papel decisivo na forma como a criança irá aprender a


se alimentar, sobretudo pelas estratégias que os pais/cuidadores
usam para estimular a alimentação. O reconhecimento dos sinais de
fome e saciedade e a compreensão acerca da capacidade de
autocontrole da criança pequena em relação à ingestão alimentar
contribuem para a formação de um comportamento alimentar
adequado (SILVA; COSTA, GIUGLIANI, 2016, p. 54).
34

As autoras ainda salientam que os hábitos de vida dos pais, estilos parentais,
o modo como os pais e mães se relacionam com os filhos são elementos importantes
na construção de hábitos alimentares da criança. Sendo que, esses hábitos
alimentares irão repercutir de várias formas ao longo da vida do indivíduo.
Maranhão (2010) também destaca que, a maneira de cuidar e educar de cada
família através de seus conhecimentos, crenças e valores são assimilados pelas
crianças que formam seu repertório levando-os para outros espaços sociais.
Desta forma, considera-se que as práticas alimentares do indivíduo se
relacionam às decisões, sejam conscientes ou não, pois está articulado ao contexto
cultural e regional, ligadas a tradição alimentar do convívio social, as transformações
que ocorrem a partir da popularização e acesso as informações.

[...], no entanto, no campo do conhecimento da alimentação e da


nutrição, mais do que proporcionar o acesso a essas informações,
torna-se fundamental estimular a autonomia dos indivíduos a fim de
possibilitar que os mesmos atuem intencionalmente e com
independência de influências (liberdade), o que demanda um
consistente processo educativo (OLIVEIRA, OLIVEIRA, 2008, p. 497).

Desenvolver hábitos saudáveis em todas as etapas da vida é um fator


importante, independente do estado de saúde, pois acredita-se que ao desenvolver
hábitos alimentares na infância, a criança levará como repertório no decorrer da vida.
Ainda que tais hábitos estejam sujeitos a mudanças “dependendo do meio em que
esta criança estiver inserida, o desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis na
infância implica desenvolvimento da consciência” (PIASETZKI; BOFF, 2018, p. 327).
Nesse sentido, a infância é o terreno no qual a alimentação vai muito além de
ser importante para o crescimento e desenvolvimento, representa um dos principais
fatores de prevenção de doenças que, inclusive, podem desenvolver-se na idade
adulta (ROSSI; MOREIRA; RAUEN, 2008). Portanto, a família é a responsável por tal
influência sobre os modos de vida e hábitos alimentares da criança.
Da mesma maneira, considerando a obrigatoriedade do acesso à educação
escolar, a escola é a instituição que também exerce o papel na formação de prática
alimentar. Assim, devido ao fato da criança permanecer por vários anos na escola
(levando em conta o acesso e a permanência na educação básica), o contexto escolar
se configura como um espaço para ações estratégicas de educação alimentar visto
35

que há oferta de refeições – que por sua vez, faz parte do cuidado integral que inclui
as boas condições para o desenvolvimento do aprendizado.

As instituições de educação infantil que possibilitam que as crianças


interajam e tenham acesso a aprendizagens significativas e cuidados
profissionais de boa qualidade são possibilidades inegáveis de
promoção do desenvolvimento integral e relações sociais saudáveis
(MARANHÃO, 2010, p. 1).

Com a entrada da criança na escola, os hábitos alimentares sofrem a influência


do contexto escolar; “a criança realiza refeições fora de casa (alimentação escolar,
compra na cantina), o alimento passa a ter outra representação social importante
(amigos), e o ambiente escolar torna-se a principal fonte de conhecimento formal
sobre nutrição” (JUZWIAK, 2013, p. 473).
É valido ressaltar que durante a pesquisa foi notório a influência dos amigos na
hora da refeição. Por várias vezes foi possível observar que algumas crianças comiam
somente o que o outro ao lado estava comendo. Um dos alimentos mais consumidos
era o arroz, inclusive somente o arroz. Quando questionado a eles o porquê de comer
só o arroz, eles diziam que era porque o amiguinho só comia o arroz, mas que gostava
de outras coisas também, mas só comiam quando queriam.
Fica claro que a criança de idade pré-escolar adquire ou desenvolve
preferências por determinados alimentos através da imitação dos colegas. Durante as
refeições pude constatar que as crianças fazem novas descobertas, compartilham
alimentos, socializam vivências do cotidiano familiar, trazendo consigo hábitos que
irão influenciar de forma positiva ou negativamente o comportamento alimentar de
outras crianças.
Destaca-se ainda, a relutância por parte de alguns alunos em relação a
alimentos como legume e hortaliças, sem ao menos ter provado e os rejeitá-los porque
o amiguinho falou que não come ou porque comeu uma vez e não gostou. Assim,
pode-se constatar que, à hora da refeição serve como ponto de socialização e de
influenciar a criar novos hábitos alimentares ou a mudar.

FIGURA 4: Momento da refeição na creche


36

Acervo da pesquisadora. Dados da pesquisa 2019.

FIGURA 5: Momento da refeição

Acervo da pesquisadora. Dados da pesquisa, 2019.

Vale destacar que as refeições oferecidas pela instituição são bem aceitas pela
a maioria das crianças, pois foi notório que todos os alimentos servidos são
consumidos, embora uma minoria opte por comer apenas o arroz sendo o único
alimento que os estudantes acessam durante o período que permanecem na escola.
Como já foi mencionado no capítulo anterior, os professores têm liberdade para levar
alimentos para trabalhar com os alunos, mas, desde que sejam saudáveis.
37

Vale ressaltar que é de suma importância para o crescimento,


desenvolvimento, saúde e bem-estar da criança manter uma alimentação saudável e
equilibrada, sendo fundamental que haja uma parceria entre a escola e a família para
estimular o consumo de alimentos saudáveis. Diante do exposto Maranhão (2010)
afirma:

A saúde e o bem-estar das crianças dependem da articulação dos


cuidados realizados no domicílio com aqueles realizados no contexto
da creche e pré-escola, e isto implica um exercício diário de
comunicação entre familiares e professores, e, eventualmente, com
outros profissionais que ajudam a cuidar daquela criança: médicos,
enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas
ocupacionais, psicopedagogos e outros (MARANHHÃO, 2010, p.10).

Considera-se que internalizar conceitos e conscientizar a respeito de um estilo


de vida e alimentação saudável, são meios que podem proporcionar mudanças de
hábitos alimentares mais efetivos quando iniciados na infância. “Estudar e discutir as
questões da alimentação e estilo de vida com estudantes de Educação Básica pode
contribuir para a construção de aprendizagens inerentes ao currículo escolar numa
abordagem integral do sujeito” (PIASETZKI; BOFF, 2018).
Portanto, a escola se constitui por ser uma instituição responsável na
transmissão de conhecimento e criação de hábitos alimentares. Afirmamos com
Vestena; Scremin e Bastos (2018, p. 370) que a escola é “o ponto de partida para
novos conhecimentos, portanto, deve considerar a percepção prévia dos estudantes
sobre o mundo natural e social em que estão inseridos e isso inclui os hábitos para
uma alimentação saudável”.
Mediante ao exposto, é importante acentuar que a instituição busca
metodologias diferenciadas para que as crianças possam despertar o interesse para
a prática de hábitos saudáveis. São realizadas também três reuniões durante cada
ano letivo para os pais ou responsáveis onde são tratados assuntos que abarcam
alimentação, higiene, comportamento, saúde entre ouros. Os pais/familiares são
orientados também sobre a importância da parceria juntamente com a instituição na
vida escolar, na prática de higiene e hábitos alimentares de seus filhos.
O estudo realizado por Bento, Esteves e França (2015) mostra as percepções
de pais ou responsáveis por pré-escolares matriculados em uma creche, no que se
refere a compreensão do que eles entendiam por alimentação saudável e as
38

dificuldades enfrentadas para se ter uma alimentação adequada. Constataram que os


adultos responsáveis pelas crianças tinham a noção da alimentação saudável, mas
seus enunciados destacaram que haviam práticas alimentares inadequadas
conferindo como dificuldades na obtenção de práticas alimentares saudáveis, recurso
financeiro baixo, falta de tempo e hábito alimentar.
Concordando com o estudo de Bento, Esteves e França é fácil perceber no
nosso dia a dia o hábito alimentar inadequado, basta observamos em nossa família,
amigos ou vizinhos levando em consideração a rotina diária em dividir o tempo com
os cuidados de casa, filhos e o trabalho fora de casa. É com o tempo reduzido para
cuidar da alimentação adequada para a família ou com a impossibilidade ou mesmo,
a não prioridade que muitas vezes é dado preferência para refeições industrializadas
prontas ou semi prontas e que sejam fáceis no preparo.
Conforme ao exposto acima, Conte (2016) afirma que os alimentos prontos ou
semi prontos vieram para facilitar na hora do preparo e aos poucos vão tomando conta
do cotidiano das famílias, entretanto, essa praticidade acaba por afetar a nossa saúde.
A autora nos assegura ainda que:

Rever a forma de alimentação a fim de readequá-la a padrões mais


saudáveis com menos processados possível é possível, desde que as
pessoas estejam dispostas a mudar hábitos e se reorganizar no
tempo. A falta de tempo é uma das maiores reclamações nos dias
atuais, entretanto, há que se perguntar onde gastamos o tempo e com
o que o gastamos e assim poderemos ter como resposta ou
questionamentos do que realmente vale a pena para vivermos
melhor/com mais saúde (CONTE, 2016, p. 78).

Conversando com as crianças envolvidas na pesquisa constatou-se que a


maioria das mães prepara uma refeição adequada sendo, arroz, feijão, carne,
verduras e legumes, mas alguns relataram que não almoçam em casa devido ao fato
de terem comido na escola. Outros dizem comer de tudo o que a mãe preparou para
o almoço. Vale ressaltar que dos alunos envolvidos nesta pesquisa, quatro comem
somente arroz na escola. Um deles fala que a mãe prepara arroz, carne com batata,
feijão e macarrão, mas ele gosta só de arroz e miojo4. Duas crianças não almoçam
em casa porque dizem não ter fome quando chegam, e à tarde a mãe oferece um

4
Macarrão instantâneo ou massa instantânea, sendo um prato adotado pela culinária japonesa
constituído de macarrão pré-cozido que pode ser preparado apenas com o acréscimo de água,
conhecido no Brasil pelo nome da marca, “miojo”.
39

lanche como biscoito, bolo ou salgadinhos. A quarta criança com a qual conversamos
disse que fica com a babá e só vai para casa à noite quando a mãe chega do trabalho.
Diante ao exposto, percebe-se que essas crianças parecem não ser
incentivadas em casa a se alimentar adequadamente e a criar hábitos alimentares
saudáveis. Logo, é importante ressaltar que a família é a principal responsável pelo
bem-estar e pela educação alimentar dos filhos e incentivá-los a ingerir alimentos
saudáveis sempre que possível. Contudo, devemos levar em consideração as famílias
que por alguns motivos como horários de trabalho ou tempo são privadas de estar
com os filhos na hora das refeições.
Nesse caso, considerando a importância da alimentação, é preciso que, mesmo
os pais não estando presentes todos os horários de refeições das crianças, consigam
delegar esse cuidado a outra pessoa capaz de cumprir este papel, pois a criança, por
ela mesma, não tem condições de se alimentar de modo saudável, se não aprendeu
ou mesmo, se não tem acesso a alimentos saudáveis.
Bento; Esteves e França (2015) sustentam que os responsáveis devem ser
estimulados e sensibilizados a melhorar a alimentação e a criação de estratégias de
educação alimentar e nutricional que viabilizem os responsáveis a reconhecer e ter
uma alimentação saudável, pois suas práticas influenciam as de seus filhos. A base
da educação alimentar, via de regra, é feita pela família na maioria dos casos e,
quando as crianças frequentam creches desde bebês, essa instituição segue, na
atualidade, normativas que corroboram para a alimentação saudável, com
acompanhamento de nutricionista.
Nesse ponto, a política pública avançou bastante nas últimas décadas, mas no
momento atual, devido a cortes de recursos na educação, além de representantes do
governo declarar que a educação não é prioridade, é bastante questionável a
qualidade da alimentação oferecida nas instituições escolares. Durante as
observações foi percebido que têm faltado vários produtos no armário da cozinha e
assim, é posto em xeque as normativas do próprio governo – quando diz que se deve
garantir alimentação de qualidade.
No intuito de saber mais sobre a alimentação das crianças na creche,
perguntamos às duas merendeiras, identificadas como M1 e M2: O que as crianças
mais gostam e o que não gostam de comer?
40

M1- As crianças mais gostam de arroz, feijão, carne e macarrão. O que elas
não gostam é de verduras e legumes principalmente beterraba e cenoura.
M2 - A maioria das crianças gosta de arroz, feijão, carne e da canjiquinha
com carne que é a preferida de todos. Eles gostam também de iogurte,
biscoito e bolo, quando servimos quase todos pedem para repetir. O que eles
rejeitam são os legumes.

Conforme a resposta das funcionárias percebeu que os alunos consomem o


básico da alimentação diária, enquanto que as verduras e legumes que também são
essenciais para nutrição são rejeitados, o que nos leva a refletir sobre intervenções
que possam incentivar a consumir também esses alimentos. A M2 enfatiza que o
iogurte e biscoitos são bem aceitos pelos alunos o que nos levam a acreditar que
esses produtos por sua praticidade e por serem guloseimas preferidas pelas crianças,
são mais consumidos em casa, visto que é no convívio onde a criança está inserida
que se adquire os hábitos alimentares.
Cervato-Mancuso et.al (2013) realizaram um estudo apontando que a
alimentação escolar e a promoção de hábitos alimentares não são temas debatidos
entre os sujeitos envolvidos. Além disso, destacam que os fatores como a escola, a
rede social, condições socioeconômicas e culturais são consideradas parceiros da
família e contribuem significativamente na construção de hábitos alimentares
saudáveis das crianças. Partindo disso, buscamos informações com a professora
sobre: O que a escola consegue alterar nos hábitos das crianças?

Muitos alunos chegam aqui sem conhecer alguns tipos de legumes ou


verduras e não comem porque não conhecem o sabor. Não podemos
força-los a comer, mas devagar conseguimos fazer com que eles
provem e acabam gostando. Muitos também não têm o hábito de
tomar suco natural e quando servimos eles pedem refrigerante mas no
final acabam tomando gosto pelos sucos e frutas (PROFESSORA).

Diante a resposta acima, podemos destacar que tanto a escola quanto a


família devem incentivar a criança a consumir alimentos saudáveis. Sobre isso Conte
( 2016, p.78) menciona que

[...] ao introduzirem os alimentos às crianças, já que neste momento


inicia-se a formação dos hábitos alimentares, além da escola, aos
familiares, que são grandes influenciadores sobre a alimentação das
crianças (tios, avós, padrinhos, por exemplo) devem fornecer
alimentos saudáveis, ao invés de oferecer guloseimas, salgadinhos e
refrigerantes como forma de ‘agradar’.
41

Vale ressaltar que para a criança ter um bom desenvolvimento físico e também
escolar, precisa de uma alimentação adequada, assim, deve-se ter cuidado e
consciência do que é oferecido a ela para que futuramente não venha a sofrer as
consequências de uma má alimentação.

2.1. ALIMENTAÇÃO NA CRECHE MÁRIO ANDREAZZA

A alimentação é essencial para o desenvolvimento e manutenção para vida do


indivíduo, sendo a infância a fase em que é fundamental para aquisição de hábitos
alimentares saudáveis, cabendo aos pais e a escola incentivarem para que estes
sejam os mais saudáveis possíveis. Contudo, deve-se levar em conta algumas
situações como a falta de informação dos pais/familiares, pois muitos não tiveram
acesso à escolarização suficientemente e não conhecem a importância de uma
alimentação saudável; a situação econômica de muitas famílias é de extrema pobreza
limitando a alimentação adequada e saudável; o cotidiano da família e a influência da
mídia é um dos fatores que mais contribuem para o consumo de alimentos que
oferecem produtos com mais praticidade e sem valor nutritivo levando a uma
alimentação desequilibrada.
As crianças, por serem influenciadas mais facilmente acabam sendo vítimas
dessas propagandas, pois os produtos vêm com estímulos de músicas e danças,
crianças felizes e lindas, poderes sobrenaturais ao ingerir certo produto, crescer fortes
e saudáveis, além disso, incentivo com brindes, brinquedos, atrativos nas embalagens
que desperta nas crianças a curiosidade e o desejo em consumir o produto. Os
alimentos industrializados não têm limites de propaganda enquanto há pouco
investimento em propagandas que divulguem uma alimentação saudável, que
estimulem o consumo de verduras, legumes, feijão, frutas, bem como, outros
alimentos que são ricos em nutrientes.
Buscando colaborar para a população aderir uma alimentação saudável foi
elaborado pelo Ministério da Saúde do Brasil em parceria com Organização Pan-
Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) e a NUPENS
(Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde) da Universidade de São
Paulo (USP) o Guia Alimentar para a População Brasileira, que tem o objetivo a prática
42

alimentar adequada vinculada aos aspectos biológicos e sociais do indivíduo, sendo


um direito básico que atenda às necessidades especiais e ser acessível fisicamente
e financeiramente (BRASIL, 2014).
Este guia é para toda a população brasileira, almejando sua utilização em todos
os lugares como nas escolas, nas residências, hospitais, centros de assistência social
e em qualquer espaço que promova a saúde das pessoas, sendo os profissionais de
cada área fundamentais para divulgar o material e colaborar para que as pessoas
compreendam o conteúdo.
Dessa forma para que a alimentação proporcione uma nutrição adequada e
bem-estar, deve embasar-se em qualidade, quantidade, variedade e adequação. Mas,
sabemos também, que grande parte da população não adere a essas referências, pois
as condições socioeconômicas nem sempre permitem, determinando assim, a
precariedade da alimentação em termos quantitativos e qualitativos (MOURA 1993).
Segundo Almeida (2015), é de grande importância que a criança tenha uma
alimentação rica em nutrientes e balanceadas caloricamente, sendo essencial para
aquisição de hábitos alimentares saudáveis. Uma boa alimentação facilita na
promoção da saúde desenvolvimento físico e funcional. Vale ressaltar, que essa fase
da vida a população infantil se encontra sujeita a vários agravos nutricionais, pois
facilmente substituem alimentos saudáveis por alimentos sem valor nutritivo como:
doces, salgadinhos gordurosos e industrializados acarretando assim níveis de
desnutrição e/ou obesidade. Assim, a participação da escola na alimentação infantil é
fundamental para tentar corrigir o desequilíbrio no consumo de nutrientes.
Conforme citado acima é interessante destacar que a alimentação oferecida no
CMEI Mario David Andreazza é de grande valor nutritivo, pois é servida diariamente
uma refeição rica em proteína, carboidratos, vitaminas, etc. Esta alimentação é
preparada de acordo com o cardápio feito pelo nutricionista do Município. Tudo é
pensado de acordo com necessidades das crianças envolvidas, pois a instituição
recebe alunos com problemas de saúde diversos como, alergias, intolerância a lactose
entre outras.
Observa-se no quadro 1 que a instituição obedece todas as normas exigidas
pela Secretaria Municipal de Educação. O quadro mostra o cardápio da semana
oferecido para a Educação Infantil, ofertando alimentos saudáveis como forma de
promover hábitos saudáveis.
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QUADRO 1: Cardápio para Educação Infantil


1ª e 3ª
Semana Segunda feira Terça feira Quarta feira Quinta feira Sexta feira

Arroz, feijão Macarronada c/


Vitamina de Carne ao molho frango e Polenta Biscoito de
LANCHE fruta ou canjica + abobora legumes Carne moída maisena
Pão c/ margarina Farofa Salada variada feijão Leite c/
Salada variada Sobremesa: Suco de fruta achocolatado
Suco de fruta Fruta
2ª e 4ª
semana Segunda feira Terça feira Quarta feira Quinta feira Sexta feira

Arroz, feijão
Iogurte Arroz Canjiquinha c/ Frango c/ Bolo simples
LANCHE Biscoito de Peixe ao molho carne em cubos cenoura (c/ aveia)
maisena Sobremesa: Salada variada Salada variada Leite com
Fruta Sobremesa: Sobremesa: achocolatado
fruta fruta
Fonte: a pesquisadora

Conforme o exposto acima a CMEI Mario David Andreazza oferece para seus
alunos uma alimentação variada, saudável, equilibrada e nutritiva. É servida
diariamente, por exemplo, arroz, feijão, carne, legume, verduras e frutas.
Sobre o que é oferecido para as crianças na escola, foi questionado a
professora sobre o cardápio escolar. Perguntamos o seguinte: Consideram o cardápio
adequado e atrativo para as crianças e o por quê?

Sim. Porque o cardápio passado pela nutricionista é feito de forma


agradável, bem variado e colorido. A maioria das crianças são atraídas
pela combinação e variedade dos alimentos, claro que temos aqueles
alunos que tem o hábito de consumir só o básico (arroz, feijão,
macarrão), mas com o tempo e com muita paciência muitos
conseguem ser atraídos também (PROFESSORA).

Através da resposta, fica evidente que as crianças são atraídas pelas cores e
variedades dos alimentos. Sobre isso, uma das merendeiras ressaltou que, “aprendi
muitas coisas fazendo a comida, seguindo o cardápio, fazendo as misturas de
legumes nos alimentos cozidos e crus, aprendi a entender que as combinações que
deixam o prato atrativo e colorido que as crianças gostam”.
Vale ressaltar, que todos os envolvidos no processo de ensino estão atentos
com a alimentação das crianças, pois muitas crianças requerem cuidados especiais
com a alimentação devido a problemas de saúde. Assim, o quadro abaixo mostra
44

alguns alimentos que essas crianças não podem consumir e o que nos chama a
atenção é que de quatorze crianças, sete são intolerantes a lactose. O campo da
nutrição foge a nossa alçada, mas evidentemente fica como pergunta: o que é que
está causando tanta intolerância a lactose nesse momento nessas crianças. O que
isso nos aponta?
QUADRO 2: Relação de alunos com alergias e intolerâncias
ALUNO ALERGIAS INTOLERANCIAS
A.F.O. Conservantes _
A.A.F. _ Lactose
B.C.G. _ Lactose
C.F.O. Conservantes _
D.S.L. Produtos industrializados Lactose
D.C.S. Pão, salgados e refrigerantes _
D.G.S. Maionese e ketchup Lactose
E.V.S.O. Tomate _
E.G.T.D. Cafeína Lactose
G.L.B. Uva, abacaxi, limão e outros _
G.T.M. Glúten, soja Lactose
G.M.P. Castanha _
H.B.S. Chocolate _
H.G.G. _ Lactose
Fonte: a pesquisadora, 2019.

É importante ressaltar que o cardápio escolar deve ser elaborado por


nutricionista, respeitando os hábitos alimentares locais e culturais, atendendo as
necessidades nutricionais e específicas de cada um, conforme percentuais mínimos
estabelecidos no artigo 14 da Resolução nº 26/20135. O que podemos perceber é que
a instituição se preocupa com cada uma das crianças, mas a escola deve se perguntar
de onde vem tantas doenças e tanta intolerância a lactose tão precocemente nas
crianças? De modo geral, o que as crianças tem consumido no seu dia-a-dia?
Sabe-se que durante o período em que as crianças estão na escola tem-se um
controle e cuidado do que é consumido por elas, mas em casa a maioria das crianças
consome o que é mais atrativo aos seus olhos, ou motivados pelas propagandas
enganosas. Diante deste apontamento, Conte (2014) traz uma importante contribuição
enfatizando que as propagandas transformam alimentos em mercadorias e produtos
(com vida própria) fazendo com que o valor monetário/comercial se sobressaia a todos
dos outros aspectos.

5 Dispõe sobre a oferta da alimentação nas escolas que deverão ter seus cardápios elaborados pelo
responsável técnico (nutricionista).
45

As propagandas publicitárias têm como objetivo aumentar a venda de produtos


e as crianças são o alvo das indústrias alimentícias pôr as verem como influenciadores
na hora da decisão de compras dos pais. Conte (2014, p. 118) aponta que “produto é
algo que uma pessoa qualquer adquire e, no caso de ser alimentício, ele tem a função
de saciar a fome, independentemente de ser saudável e nutritivo”. Isso leva aos pais
fazer as vontades de seus filhos, muitas vezes pela praticidade ou pela sedução que
o produto/mercadoria oferece o que acarreta consumo exagerado de produtos sem
valor nutritivo, o que possa talvez, responder as perguntas enunciadas acima.
Vale destacar aqui, que em dezembro de 2019 a Agencia Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) aprovou a resolução RDC/332 estabelecendo que os alimentos
industrializados no Brasil devem eliminar o uso de gorduras trans até o ano de 2023,
gradativamente. Essa resolução é dividida em etapas, sendo o primeiro momento a
limitação se dará para uma tolerância de até 2% desse tipo de gordura, até julho de
2021. Após esse período, toda a indústria terá até janeiro de 2023 para banir
totalmente o uso do ingrediente dos produtos.
As gorduras trans estão presentes em alimentos que são os preferidos pelas
crianças como sorvete, biscoitos recheados, salgadinhos, chocolate, pipocas de
micro-ondas entre outros. Esse ingrediente é adicionado aos alimentos
industrializados para realçar o produto e aumentar o tempo de prateleira sendo o
responsável por alguns riscos de saúde como por exemplo elevar o colesterol ruim no
organismo e diminuir o colesterol bom.
Vale afirmar que, a instituição contribui de forma prazerosa para o
desenvolvimento da criança, pois além de seguir um cardápio saudável é trabalhado
com as crianças metodologias voltado para a educação alimentar. Os professores
trabalham de forma lúdica atividades como contação de história, fazem salada de
frutas, demonstração e degustação de frutas, reconhecimento de verduras,
piqueniques, relação das frutas com as formas, cores e sabores.
Durante as observações foi possível perceber o interesse e a participação das
crianças pelo assunto – Alimentos. Algumas crianças relatavam como as mães
higienizam as frutas e verduras, falavam das frutas preferidas e que sempre tem em
casa e as que não têm porque não gostam e das frutas e verduras que não conheciam.
Durante a explicação da professora sobre a importância de cada alimento as crianças
46

ficavam empoladas para comê-los ficando claro que quando eles diziam não gostar
do alimento é porque na verdade ainda não tinham provado.
A participação na sala das crianças durante atividades foi fundamental para a
pesquisa, confirmando que as crianças precisam ser motivadas a consumirem
alimentos saudáveis para aquisição de hábitos, sendo um passo importante para
serem adultos conscientes com o seu bem-estar e sua saúde, vinculada a boa
alimentação. Abaixo, seguem imagens que mostram a crianças desenvolvendo
atividades relativas a aprendizagem sobre alimentação e hábitos saudáveis.

FIGURA 5: Atividades lúdicas

Fonte: Acervo da pesquisadora. Dados da pesquisa 2019

2.2 O ENTENDIMENTO DO TRABALHO SOBRE ALIMENTAÇÃO NA CRECHE

O alimento é fundamental para que o indivíduo se mantenha vivo e saudável,


mas para isso, além de ser nutritivo, ele deve ser seguro. Os alimentos exigem muito
cuidados, desde a escolha e o fornecimento de matéria-prima até sua produção e
consumo. Moura (1993) destaca que esses cuidados remetem a quatro aspectos
importantes: higiene do ambiente, higiene das pessoas, higiene dos alimentos e modo
de preparo.
Assim, as instituições que trabalham com alimentação devem preocupar-se
com todos os fatores que podem interferir em sua qualidade. Nesse contexto, as
merendeiras possuem um papel importante na escola, são elas as responsáveis em
preparar a alimentação de qualidade no sentido do aproveitamento máximo do que é
disponibilizado e também nas combinações dos tipos de alimentos e da aparência –
para ser atrativa às crianças. Não podemos esquecer a aparência, pois os alimentos
47

que são mercadorias nas prateleiras dos supermercados são cuidadosamente


atrativas e encontram-se na altura dos olhos dos pequenos. Além disso, as cores das
embalagens são vivas, com destaques em figuras, muitas vezes de super-heróis que
mexem com os seus imaginários.
Diante de necessidade das crianças consumirem os alimentos na instituição de
educação infantil, perguntamos às merendeiras sobre o preparo dos alimentos: Como
entende o seu trabalho em preparar a alimentação para as crianças?

M1- Entendo que ao preparar a alimentação para as crianças é preciso


muito amor e atenção, seguir todas as regras que contém no cardápio
para as crianças obter saúde e aprender comer os alimentos que não
comem em casa.

M2 – É de muita responsabilidade, desde que armazenamos ao


preparo, tudo tem que ser feito com muito cuidado e capricho pois
quem vai comer são crianças então tem que estar tudo bem gostoso.

Percebe-se que as trabalhadoras entendem a importância do seu trabalho, pois


como enfatizaram, o cardápio é pensado na saúde de quem irá consumir os alimentos.
Dessa forma, as merendeiras possuem um papel muito importante dentro da
instituição podendo também ser consideradas como promotoras no processo de
educação alimentar. São elas que conhecem o estoque de gêneros alimentícios da
escola e fazem a escolha daqueles que estão em condições de serem servidos de
acordo com o cardápio.
Vale ressaltar, que o convívio com os alunos e a rotina de todos os dias em
preparar as refeições permite uma relação de afeto e assim, uma provável
preocupação com a saúde dos escolares da instituição. Partindo disso, fizemos a
seguinte pergunta às merendeiras: Quanto tempo trabalha na instituição e se gosta
do que faz?

M1-Trabalho há 15 anos como merendeira, gosto muito de cozinhar


para as crianças, aprendi muitas coisas fazendo a comida seguindo o
cardápio fazendo as misturas de legumes nos alimentos cozidos e cru.
Aprendi a entender as combinações que deixam o prato colorido que
as crianças gostam.

M2 – Estou aqui há 17 anos e amo cozinhar principalmente para as


crianças, do mesmo jeito que faço aqui para eles faço em casa para
meus filhos. A gente aprende muito cozinhando para eles, quando a
gente gosta do que faz sai tudo perfeito.
48

Ficou claro nas falas das entrevistadas, que cozinhar é uma atividade
prazerosa, logo, elas gostam do que fazem, principalmente por ser para crianças. Foi
visível também sobre o entendimento que elas têm sobre preparar uma alimentação
seguindo as orientações do cardápio feito pela nutricionista. Assim, seguimos com a
seguinte pergunta: O que você entende em preparar uma alimentação adequada?

M1 – Uma alimentação adequada é quando ela tem todos os


nutrientes necessários pra criança crescer com saúde e feita com
todos os cuidados que aprendemos durante o tempo que trabalho
aqui.
M2 – A alimentação adequada começa pela higiene e cuidados na
hora de fazer. Os alimentos têm que estar todos bons e limpos tem
que ter de tudo um pouco, vitaminas, proteínas, minerais, tudo que vai
nutrir a criança.

É importante que manipuladores de alimentos conheçam as regras de uma


alimentação segura e adequada. Pode-se constatar que as funcionárias conhecem as
regras de manipulação, relacionando a importância do valor nutricional dos alimentos
com o fator sanitário. Segundo as merendeiras, elas já participaram de palestras sobre
cuidados com a alimentação e sempre participam de formação continuada junto com
os professores quando a secretaria municipal de educação oferece.
Apesar das melhorias significativas na oferta da alimentação escolar no que diz
respeito à qualidade nutricional dos alimentos disponibilizados, durante a pesquisa foi
notório o desperdício de alguns alimentos por parte das crianças, por isso foi
perguntado sobre o que é feito com a sobra dos alimentos.

M1 - A sobra dos alimentos é descartada em um vasilhame e cedido


para alimentação de porcos onde é recolhido todos os dias no período
da tarde.

M2 – quando vamos servir a merenda já deixamos duas bacias


separadas, uma é para as crianças colocar os pratos e outro as sobras
dos alimentos que eles mesmos descartam, daí à tarde um senhor de
um sítio próximo vem buscar para alimentar porcos.

Sobre o desperdício, a professora relatou que ainda não teve como evitar, mas
acredita que com o tempo isso se resolva, pois esse desperdício não é acarretado
pela quantidade que é servido nos pratos e sim por falta de apetite de algumas
crianças ou pelas suas preferências alimentares. Contudo, devemos estar atentos, se
49

esse desperdício for excessivo pode comprometer o principal objetivo das refeições
em contexto escolar que se refere à nutrição dos alunos e junto a isso, se é uma
questão educacional, não pode deixar de ser trabalhada.
O que podemos destacar é que lidar com criança frente à alimentação não é
como lidar com adulto, que sabe da sua importância e sua necessidade. Como não
se sabe ao certo se as crianças comem em casa, se insiste para que comam algo
para não ficarem com fome logo em seguida, e assim, algumas talvez não tenham
fome, outras podem estar empolgadas para brincar com brinquedos ou com seus
colegas.
É oportuno salientar que as refeições são servidas na área externa da
instituição, o que nos leva a entender que esse pode também ser um dos motivos que
induz os alunos a não comerem acarretando assim, ao desperdício. Foi possível
perceber que o espaço externo quando bem organizado torna-se atrativo para as
crianças e rico em oportunidades como, interação com o meio, com os colegas, com
a natureza e com os objetos/brinquedos que estão dispostos no espaço tornando a
vontade de brincar mais importante do que a necessidade de comer.
50

CONSIDERAÇÔES FINAIS

Esta pesquisa buscou averiguar os hábitos das crianças em idade pré-escolar


bem como compreender como são adquiridos e qual as influencia que podem sofrer
nessa fase. Os resultados que apresentamos não são fechados, pois se trata de uma
questão que fica entre meio uma necessidade básica e vários fatores subjetivos;
desde a influência da família, do esforço da instituição, da interferência dos colegas,
das propagandas etc.
Vale ressaltar, que a alimentação teve um percurso histórico no Brasil, desde
1940 até os dias atuais, passando por constantes transformações o que tem
contribuído para a melhoria da oferta de alimentos nas escolas. De merenda ela vira
alimentação escolar na compreensão de que cumpre com um papel importante que é
nutrir bem e servir como elemento pedagógico também. O Pnae que regulamenta a
compra direta de produtores dos próprios municípios, preferencialmente sendo
agroecológicos e que garante um salto de qualidade, mas infelizmente esse programa
está em risco devido a opção que o governo atual fez em favor do agronegócio/em
detrimento da agricultura familiar.
Buscando beneficiar o agronegócio, foi liberado o uso de mais de trezentos
tipos de agrotóxicos desde o início do mandato do atual presidente da República,
nitidamente beneficiando grandes corporações do ramo dos venenos,
comprometendo a qualidade dos produtos/alimentos e colocando em risco a saúde da
população, em especial as crianças a quem o trabalho se refere. Vale salientar, que a
agricultura familiar/camponesa é responsável pela produção de 70% dos alimentos
consumidos no Brasil (CONTE, 2014), então, isso mostra que quem alimenta o país
não é o agronegócio. Este produz produtos (envenenados) para exportação. Como
falar de alimentos seguros se agrotóxicos banidos da Europa e EUA (Estados Unidos
da América) passam a ser usados no Brasil? Assim, quando falamos em alimentos
seguros para a alimentação das crianças, não basta relacionar os alimentos apenas
com higiene, se estão contaminados. Voltamos à pergunta que já deixamos
anteriormente: de onde vem tão alto grau de alergias e intolerâncias nas crianças
pesquisadas?
A alimentação escolar tornou-se direito garantido em lei para todos os alunos
de rede pública e ao regulamentarem o fornecimento desses alimentos; os programas
51

de alimentação escolar objetiva uma alimentação saudável em termos nutricionais


para os alunos durante a permanência na escola, auxiliando para o crescimento,
desenvolvimento, aprendizagem e rendimento escolar e ainda promover hábitos
alimentares saudáveis, além de movimentar a economia local levando em
consideração os hábitos e produção agrícola in natura de cada região.
Ao vivenciar essa temática na escola, fica claro que o objetivo do programa
está sendo efetivado, pois a instituição busca da melhor forma possível oferecer a
seus alunos uma alimentação saudável, rica em nutrientes essenciais para suprir as
necessidades do educando. Ficou claro também, que a escola sozinha não dará conta
de orientar práticas alimentares saudáveis nas crianças, a escola precisa da ajuda
dos pais para incentivar seus filhos a estarem consumindo alimentos saudáveis,
sendo que são eles os primeiros responsáveis em ofertar alimentos saudáveis aos
seus filhos.
Por meio do questionário feito para a professora e para as merendeiras, ficou
evidente o conhecimento sobre a importância da alimentação escolar para os alunos.
A professora trabalha e orienta seus alunos a consumir alimentos saudáveis, e tendo
também suporte da instituição para trabalhar com essa temática. As merendeiras
também têm um bom entendimento sobre o cuidado com o preparo dos alimentos
para oferecer uma alimentação segura e adequada para as crianças.
Vale destacar, que os pais são a referência para os filhos. Não adianta querer
que os filhos tenham hábitos saudáveis se os pais não os têm. São nos primeiros anos
de vida que boas práticas alimentares se desenvolvem e por mais que na fase adulta
forem retirados ou incluídos alimentos o que ele desenvolveu na infância irá ter um
peso bastante significativo.
Nesse contexto, é importante salientar que os hábitos são adquiridos na
infância e que estes vão sofrer alterações através do meio em que estiver inserido. A
criança ao ingressar na escola passará a conviver com outras pessoas, com hábitos
diferentes assim, passará a assimilar também os costumes, hábitos dessas pessoas
(amigo) seja eles bons ou ruins. Dessa forma, cabem aos pais, os responsáveis
principais pela educação dos filhos intervirem e continuar conversando sempre que
possível.
Contudo conclui-se que os hábitos alimentares saudáveis devem começar
desde cedo, para que a criança possa desfrutar de alimentos que beneficiem seu
52

desenvolvimento e sua saúde. É importante mostrar a elas que os alimentos devem


ser consumidos sem desperdício, pois o que sobre em alguns pratos, faltam em
outros, em países como o Brasil e, isso é uma questão de consciência. As crianças
têm uma grande influência umas sobre as outras enquanto coletas, e assim, a escola
precisa perceber esse grau de influência para talvez fizer ações pontuais com certas
crianças no sentido de fazer com que aumentem a diversidade no cardápio e, não a
diminuam.
Por fim, observou-se que o professor é um estimulador de hábitos alimentares
saudáveis e o docente como influenciador deve ser capacitado, orientado e apto para
realizar ações que contribuem para mudanças no comportamento alimentar dos
alunos.
Assim, sugere-se a inserção de conteúdos que trate do contexto alimentação,
como abordado anteriormente, e o curso de Pedagogia no qual estudei não abarca
em suas disciplinas o assunto da pesquisa. Neste caso é de fundamental importância
a inclusão de estudos que contemplem alimentação na educação infantil que,
possibilitem aos acadêmicos e futuros pedagogos a refletir e compreender os motivos
de determinados hábitos e comportamentos infantis em relação aos alimentos. Se a
escola é um dos grandes espaços influenciadores das crianças, os profissionais que
atendem as crianças devem estar preparados/as e, assim, conhecer minimamente
sobre alimentos saudáveis.
53

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Estefanini Líbia Siqueira Teixeira de et al. Alimentação em unidades de


educação infantil: planejamento, processo produtivo, distribuição e adequação da
refeição principal. O mundo da saúde, São Paulo, 2015.

ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro:


Guanabara, 1981

BARBOSA, Najla Veloso Sampaio et al. Alimentação na escola e autonomia - desafios


e possibilidades. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 18, n. 4, p. 937-
945, Apr. 2013.

BENTO, Isabel Cristina; ESTEVES, Juliana Maria de Melo; FRANÇA, Thais Elias.
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APÊNDICES
56

Questionário aplicado a Professora

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA


CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE JI-PARANÁ
Departamento de Ciências Humanas e Sociais – DCHS

Nome:
1. O que entende sobre alimentação saudável? Liste alguns alimentos que são
consumidos na instituição.

2. O que poderia ter no cardápio que ainda não tem?

3. O que vai ao cardápio que você considera não ser saudável?

4. O que a escola consegue alterar nos hábitos das crianças?

5. Em relação às metodologias de ensino quais estratégias estão sendo utilizadas


para incentivar os alunos a terem uma boa alimentação?

6. A escola realiza algum projeto para orientar as crianças em relação a importância


dos bons hábitos alimentares e de que maneira são feitas essas orientações?

7. Consideram o cardápio adequado e atrativo para as crianças e o por quê?

QUESTIONÁRIO aplicado as Merendeiras


57

Nome:
1.Quanto tempo trabalha e se gosta do que faz?

2.Como entende o seu trabalho em preparar a alimentação para as crianças?

3.O que as crianças mais gostam e o que não gostam?

4.Qual e o básico da alimentação que a instituição recebe para as crianças?

5.O que e feito com a sobra dos alimentos?

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