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Campus Universitário de Viana

Universidade Jean Piaget de Angola


(Criada pelo Decreto nº 44-A/01 de 6 de Julho de 2001)

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

DIREITO ADMINISTRATIVO

AUTARQUIAS LOCAIS

Grupo: 5
Licenciatura: Direito
Ano: 2º ano
Período: Diurno

Docente

Dr. Alexandre Xandy Janota

Viana, Março de 2023


Campus Universitário de Viana
Universidade Jean Piaget de Angola
(Criada pelo Decreto nº 44-A/01 de 6 de Julho de 2001)

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

DIREITO ADMINISTRATIVO

AUTARQUIAS LOCAIS

Grupo: 5
Licenciatura: Direito

Integrantes do grupo
1. Francisca Simão Gonga
2. Gideão Marcelo
3. Gisela da Costa dos Santos
4. Graciete Ana José Inácio
5. Helly Fernandes Manuel Kambovo
6. Hermenegilda Vamwetavati Popyieko
7. Idualdina Lourdes Rúben
8. Imaculada Wossimbo
9. Inês Cardoso
EPÍGRAFE

«O Poder local é a base de segurança de toda a verdadeira democracia».

(Óscar Wilde)

III
DEDICATÓRIA

Às nossas famílias pelos momentos de ausência…

IV
AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Deus pela força e coragem, por nos ter ajudado e protegido a cada dia e
dirigido para o caminho da sabedoria até o dia de hoje.

Às nossas famílias por estarem sempre presentes nos mostrando o caminho certo para o
cumprimento deste dever e nunca nos faltar o amor e a paz.

Com estima e apresso o nosso obrigado!

V
RESUMO

No contexto mais global da Administração Pública angolana, a reforma administrativa do


Poder Local impõe-se como um pilar fundamental para a melhoria da gestão do território e da
prestação de serviços aos cidadãos. Neste âmbito, as autarquias locais são um veículo de
descentralização de políticas, que visam o desenvolvimento económico e social das
populações, em que os municípios e as freguesias, no quadro do respectivo estatuto
constitucional, terão de adoptar novas regras, consentâneas com um novo tempo. Assim, o
presente trabalho propõe analisar a implementação autárquica em Angola, até ao momento.
Para tal desenvolveu-se um trabalho de carácter qualitativo, com incidência na pesquisa
bibliográfica e documental. Conclui-se que o poder local é indispensável para a melhoria da
prestação de serviços de qualidade aos cidadãos e para a sua participação na vida pública ao
nível do município. Nessa complexidade de atribuições, tarefas e dependências que o
município, enquanto órgão da administração local do Estado, assiste-se ao esforço estatal,
para se fazer sentir a actuação das autoridades administrativas locais, procurando aproximar
as autoridades locais às populações e melhorar a prestação de serviços.

Palavras-chave: Poder Local, Autarquias, Descentralização, Angola

VI
ÍNDICE

EPÍGRAFE...............................................................................................................................III
DEDICATÓRIA.......................................................................................................................IV
AGRADECIMENTOS...............................................................................................................V
RESUMO..................................................................................................................................VI
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................1
IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA........................................................................................2
OBJECTIVOS DO ESTUDO.....................................................................................................2
IMPORTÂNCIA DO ESTUDO.................................................................................................3
DELIMITAÇÃO DO ESTUDO.................................................................................................4
DEFINIÇÃO DE CONCEITOS.................................................................................................4
CAPÍTULO I: FUNDAMENTAÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA..............................................5
1. PODER LOCAL................................................................................................................6
1.1. DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA..............................................................7
1.2. INSTITUCIONALIZAÇÃO DO PODER LOCAL EM ANGOLA.................................8
1.3. PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES DO PODER LOCAL AUTÁRQUICO....................9
1.3.1. O Princípio do Estado de Direito Democrático.................................................................9
1.3.2. Princípio da Autonomia Local CRA...............................................................................10
1.3.3. Princípio da Participação.................................................................................................10
1.3.4. Princípio da Descentralização Administrativa................................................................11
1.3.5. Princípio da Desconcentração Administrativa................................................................11
1.3.6. Princípio da Subsidiariedade...........................................................................................12
1.3.7. Princípio do Gradualismo................................................................................................12
CAPÍTULO II: OPÇÕES METODOLÓGICAS DO ESTUDO...............................................14
2.1. MODO DE INVESTIGAÇÃO..........................................................................................15
2.2. HIPÓTESE.........................................................................................................................15
2.3. VARIÁVEIS DO ESTUDO..............................................................................................15
2.4. OBJECTO DE ESTUDO...................................................................................................16
2.5. INSTRUMENTOS DE INVESTIGAÇÃO........................................................................16
2.6. PROCESSAMENTO E TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO......................................16
CONCLUSÃO..........................................................................................................................17
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................18

VII
INTRODUÇÃO

A descentralização do estado, e consequente fortalecimento da governança local, tem


auxiliado estados democráticos a centrarem esforços no desenvolvimento local, através do
aumento da participação da população na tomada de decisões. A governança local aproxima
as decisões locais aos anseios e desejos dos cidadãos.

Para buscar atender as necessidades da população, a constituição implementada em


2010, prevê a descentralização do governo através da implementação das autarquias locais,
para que nesse sentido seja reforçado o papel da governança local, impulsionando a tomada de
decisão por parte da população local, trazendo benefícios específicos para cada região,
suprindo as necessidades dos cidadãos e promovendo mudanças económicas e sociais.

Apesar de o quadro constitucional angolano ter reconhecido formalmente desde 1992 os


alicerces de uma governação democrática do Estado, respeitando na sua organização a
existência de instituições locais democráticas e autónomas ass entes em princípios como
a descentralização e a autonomia, o poder autónomo dos entes de governo sub-nacional
não está ainda institucionalizado na prática. (Feijó, 2012, p. 32) 1

Em Angola, a Constituição da República de 2010 dispensou um vasto capítulo para a


caracterização do poder local, sendo estruturado, conforme artigo 213, nº1, pelas autarquias
locais, autoridades tradicionais e outras formas de participação dos cidadãos. Há uma certa
tendência de focalizar as discussões e nas autarquias, sobretudo nas eleições autárquicas. Isto
ocorre, talvez, pelo facto de ser em termos mediáticos mais atractivo e por despertar atenção
dos partidos políticos, uma vez que pode ser visto – este processo eleitoral autárquico – como
uma forma de acesso, manutenção ou partilha do poder. Entretanto, parece relevante
considerar os outros dois pilares (autoridades tradicionais e outras formas de participação dos
cidadãos) previstos na constituição, já que a sua força e democraticidade – sobretudo as
organizações locais de cidadãos – contribuem para a criação “blindagem” de um espaço
público (livre) de participação, permitindo o reforço do exercício da cidadania e com isso o
surgimento de contrapesos ao nível local.

1
Feijó, C. (2012). A coexistência Normativa entre o Estado e as autoridades tradicionais na Ordem Jurídica
Plural Angolana. Coimbra: Edições Almedina.

1
IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA

Hoje em dia, parece estar na moda falar de Poder Local, por conseguinte da
Administração Local. Mas se repararmos, falamos sempre mais da parte financeira, sem se
dar importância ao capital humano e se existem condições para serem criadas as autarquias.

A CRA de 2010, prevê que a implementação das autarquias locais passa pelo princípio
do gradualismo. Logo foi no âmbito desta questão que constatamos a existência de um
problema.

Por via de razões políticas, judiciais e materiais, foi definido que o surgimento das
autarquias locais não deveria ocorrer simultaneamente em todo território nacional, admitindo-
se mesmo certo grau de experimentação no faseamento desta nova forma de auto-
administração.

Diante desta realidade formulámos a seguinte pergunta de partida: que relevância tem
o poder local na descentralização administrativa do Estado em Angola?

OBJECTIVOS DO ESTUDO
Objectivo geral

Demonstrar os desafios das autarquias locais no desenvolvimento do país.

Objectivos específicos

1. Analisar os desafios e obstáculos que a implementação das autarquias locais apresentam


em Angola, por formas a ultrapassá-los e tornar possível a sua institucionalização
efectiva.

2. Apresentar os princípios estruturantes do poder local autárquico na Constituição da


República de Angola.

3. Fazer uma revisão sobre a institucionalização efectiva das autarquias locais na


Constituição da República de Angola.

2
IMPORTÂNCIA DO ESTUDO
Este tema enquadra-se na recente e reavaliada discussão que a ciência política
contemporânea enfrenta em contexto africano num quadro global em que o Estado pós-
colonial admite transferir algumas das suas competências para outros níveis de organização
territorial ou funcional como forma de diminuir a incidência da centralização do poder
persistente e integrar as localidades nos processos de decisão. A governação local surge como
a construção institucional em que essa transferência de competências do centro para a
periferia ganha vida, dependendo do grau de autonomia, e permite a construção de um espaço
integrador de diversos atores (público ou privado, formal ou informal) com autonomia e
liberdade de interacção na base do pluralismo e de acomodação das diversidades internas.

Dinamizada em função do regime político e das forças políticas em presença, a


governação local revela também a forma de Estado e as concessões que este faz em matérias
da autonomia reconhecida (ou não) aos grupos diferentes e assegurar o igual acesso aos
recursos necessários na concretização das competências e a prestação responsável dos
serviços para o bem-estar dos cidadãos.

Abordando a temática da governação ao nível local, neste trabalho, a nossa análise da


governação é encarada na acepção político administrativa. O quadro de análise aqui
pretendido não visa abranger todas essas dimensões do local, contudo, analisar aspectos que
podem servir de uma melhor aproximação ao caso em estudo e aos desafios que a
descentralização do poder pode representar.

Espera-se que esse trabalho possa contribuir para discussão acerca das autarquias locais
em Angola, podendo assim, contribuir para a percepção de quanto pode ser benéfico para o
desenvolvimento social, cultural e económico do país, a inserção de atores locais na escolha
de políticas públicas.

3
DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
O presente trabalho limita-se, do ponto de vista espacial, ao território angolano do ponto
de vista teórico enquadra-se na Constituição da República de Angola (CRA, 2010),
constituído por um conjunto de normas que visam regular o exercício do poder local.

Do ponto de vista temporal, limita-se ao período decorrente de 2023, por ser um período
actual e abrangente.

DEFINIÇÃO DE CONCEITOS
a) Autarquias

Segundo Feijó e Paca (2005, p. 43)2, «autarquia significa poder absoluto. É o tipo de


governo em que uma pessoa ou um grupo de pessoas concentram o poder sobre uma nação.
Autarquia é quando o Estado tem total autonomia sobre si próprio, é auto-suficiente».

b) Poder Local

De acordo com o artigo 213º da CRA (2010), «o Poder Local é um fenómeno do âmbito
do poder político, diz respeito à organização democrática do Estado ao nível local,
sedimentada pelo princípio da descentralização político-administrativa»3.

2
Feijó, C. & Paca, C. (2005). Direito Administrativo, Introdução e Organização Administrativa. Lisboa:
Lusíada.
3
Artigo nº 213º da Constituição da República de Angola (2010). Luanda: Imprensa Nacional.
4
CAPÍTULO I: FUNDAMENTAÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA

5
1. PODER LOCAL
O poder local se encontra relacionado com a auto-determinação, e que ele deve ser
constituído por órgãos representativos das populações, e que o poder local se diferencia da
descentralização administrativa, por exemplo, o poder local não é operacionalizado por
qualquer descentralização territorial.

Segundo Feijó e Paca (2005, p. 43)4:


É necessário que a descentralização administrativa seja encarada no plano jurídico e
político, isto é, não é, pelo facto de, por exemplo, existirem autarquias locais, no plano
jurídico, que se deve aferir a existência de um verdadeiro poder local. É necessário, ainda,
apurar se no plano político, os órgãos das autarquias locais são, livremente, eleitos pela
população locais.

No plano jurídico, o poder local se funda nos princípios da autonomia local e


descentralização administrativa. Aqui é necessário não confundir as expressões autonomia
local e descentralização administrativa, pois não são expressões que se equivalem ou
sinónimas.

Atendendo a origem da palavra autarquia, é proveniente do grego autarkheia, que


significa autarcia ou autarquia, que pode ser referenciada em vários pontos de vista como
uma sociedade, ponto de vista económico, auto-suficiência, sistema económico de uma
região que vive dos próprios recursos, e dentre outros aspectos. A base da criação de uma
autarquia consiste na necessidade de uma pessoa política criar uma entidade autónoma
para realização de uma actividade pública, sendo uma delas a materialização da
descentralização administrativa. (CNC, 2010, pp. 54-55) 5

A Constituição da República de Angola define no nᵒ1 do artigo 217, que:

As autarquias locais são pessoas colectivas territoriais correspondentes ao conjunto de


residentes em certas circunscrições do território nacional e que asseguram a prossecução
de interesses específicos resultantes da vizinhança, mediante órgãos próprios
representativos das respectivas populações. 6

As autarquias locais prosseguem interesses públicos da comunidade no qual se


encontram inseridas e dotadas de poder de autoridade, quanto mais são regidas pelo direito
público, embora, também, possam praticar actos regulados pelo direito privado.

4
Feijó, C. & Paca, C. (2005). Direito Administrativo, Introdução e Organização Administrativa. Lisboa:
Lusíada. p. 43.
5
Centro Nacional de Aconselhamento (CNC). Boletim informativo, Descentralização Administrativa e
Autarquias Locais. Luanda: NCC, 2010.
6
CRA – Constituição da República de Angola, 2010.
6
1.1. DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
A descentralização administrativa é a transferência de poderes e recursos do governo
central para entidades territoriais (região/província, município, aldeia) e funcionais distintas
do Estado. Pode incidir sobre os aspectos «administrativo, político, financeiro, etc. A ideia do
poder local não é inteiramente nova, na medida em que ela foi consagrada nas constituições
de 1975 e 1992 definindo-se, ainda que de maneira pouco clara, os seus órgãos e alguns dos
seus princípios.

Mas a Constituição de 2010, inovou nesse sentido e definiu claramente as condições da


sua organização e implementação, ao afirmar que a organização democrática do Estado
ao nível local estrutura-se com base no princípio da descentralização político-
administrativa que compreende formas organizativas do poder local” e que estas
compreendem as autarquias locais, as instituições do poder tradicional e outras
modalidades específicas de participação dos cidadãos, nos termos da lei. (Artigo 213º da
CRA, 2010).7

Para além disso, definiu os seus princípios estruturantes, pois que, «a República de
Angola é um Estado unitário que respeita na sua organização os princípios da autonomia
dos órgãos do poder local e da desconcentração e descentralização administrativas» (Artigo
8º da CRA, 2010).8

Mas esses princípios estão igualmente associados a outros princípios fundamentais


consagrados na constituição, o que é fundamental estabelecer os devidos esclarecimentos
dessa complementaridade, na descrição e análise dos princípios do poder local.

O princípio do Estado de direito e democrático (art.º 1 da CRA) é fundamental para a


própria materialização do poder local, pois define a ordem jurídica global da organização
do poder político e a submissão ao primado da legalidade ao consagrar o Estado
democrático de direito e consequentemente, o pluralismo de expressão e de organização
política, ou ainda, a democracia representativa e participativa, apela ao princípio da
participação dos cidadãos na gestão administrativa. 9

O princípio da participação dos cidadãos na gestão administrativa é corolário do


princípio do Estado de direito e democrático, pois este serve de fundamento para a ideia de
que, os cidadãos participam na tomada de decisões administrativas não só através da eleição
dos seus representantes, mas também através de esquemas estruturais e funcionais.

7
Artigo nº 213º da Constituição da República de Angola (2010). Luanda: Imprensa Nacional.
8
Artigo nº 8º, idem.
9
Artigo nº 1º , idem.

7
Essa questão é ilustrada particularmente em dois artigos da 199º e 200º da CRA (2010),
cuja reprodução textual do nº 2 do artigo 200º, estabelece claramente que «os cidadãos têm
direito de ser ouvidos pela administração pública nos processos administrativos susceptíveis
de afectarem os seus direitos e interesses legalmente protegidos».10

Os enquadramentos que aludimos deste conceito visam uma contextualização em


função da realidade que a prática institucional denota no presente estudo de caso.

1.2. INSTITUCIONALIZAÇÃO DO PODER LOCAL EM ANGOLA


Como já foi referido, a CRA/2010 avança substancialmente quanto aos preceitos
relativos ao poder local. O tema (poder local) não se fixa às autarquias, que parece ser a maior
atracção actualmente no país.

Segundo Feijó (2005, p. 45)11:


O poder local é configurado pela Constituição como uma garantia constitucional, na
medida em que a sua previsão constitucional se materializa em manifestações concretas
de um núcleo essencial do poder local tutelado, tais como: (...) o direito a existência, a
garantia de órgãos representativos dotados de competências autárquicas, a garantia de
prossecução de interesses próprios das populações, o direito a uma organização própria, o
direito a competências próprias para, através dos órgãos representativos livremente
eleitos, prosseguiremos interesses próprios das populações, a autonomia administrativa e
financeira.

A reflexão alarga-se aos mais variados pilares do poder local, considerando que as
autarquias podem não adicionar muito ao desenvolvimento dos municípios e do país,
sobretudo quanto à qualidade de vida dos cidadãos, se não assentarem, entre outros, na
participação popular e no controle social e judicial da governação, que são dados por uma
sociedade civil orgânica e por instituições funcionais, adequadas à cultura e mais resistentes
ao vírus da corrupção e às tentativas de liquidação do espaço público.

Conforme a CRA artigo 217, nº.1 (2010):


As autarquias locais são pessoas colectivas territoriais correspondentes ao conjunto de
residentes de certas circunscrições do território nacional e que asseguram a prossecução
de interesses específicos resultantes da vizinhança, mediante órgãos representativos das
respectivas populações. As autarquias não são um fim em si mesmo e a sua
institucionalização não é, por si só, a garantia da melhoria da qualidade de vida dos
cidadãos.

10
Artigo nº 199º e 200º da Constituição da República de Angola (2010). Luanda: Imprensa Nacional.
11
Feijó, C. & Paca, C. (2005). Direito Administrativo, Introdução e Organização Administrativa. Lisboa:
Lusíada. p. 45.

8
Considera-se que é importante constatar que existem alguns elementos a ter em conta
neste conceito, designadamente: território, comunidade de residentes, interesse local,
personalidade jurídica, poderes públicos autónomos e representatividade democrática.

Segundo Alexandrino (2010, p. 2)12, «território é uma forma específica de organização


territorial diferente do Estado, pessoa colectiva pública assente no território».

Em virtude do que foi abordado institucionalização do poder local em Angola, a sua


principal função do território é determinar os interesses locais, que variam de autarquia para
autarquia.

1.3. PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES DO PODER LOCAL


AUTÁRQUICO
O poder local autárquico estrutura-se com base em sete (7) princípios constitucionais, a
saber:

1.3.1. O Princípio do Estado de Direito Democrático

De acordo com o artigo 2.º, nº. 1 da CRA (2010) 13, A República de Angola é um Estado
democrático de direito que «tem como fundamentos a soberania popular, o primado da
constituição e da lei, a separação de poderes e interdependência de funções, a unidade
nacional, o pluralismo de expressão e de organização política e a democracia representativa
e participativa».

O princípio do Estado de Direito Democrático, baseia-se no princípio da soberania


popular, pelo qual o povo é titular do poder constituinte, é o ente que legitima todo o poder
político. Configura-se, assim, a exigência que todas e cada uma das pessoas participem de
forma activa na vida política do país.

12
Alexandrino, J. M. (2010). Tratado de Direito Administrativo Especial, Vol. IV. Coimbra: Almedina. p.2.
13
Artigo nº artigo 2.º, nº. 1 da Constituição da República de Angola (2010). Luanda: Imprensa Nacional.

9
1.3.2. Princípio da Autonomia Local CRA

Nos termos do artigo 214, nº. 1 da CRA (2010) 14, «a organização democrática do
Estado a nível local estrutura-se com base no princípio da descentralização político-
administrativa, que compreende a existência de formas organizativas do poder local, nos
termos da presente Constituição».

A República de Angola é um Estado unitário que respeita, na sua organização, os


princípios da autonomia dos órgãos do poder local e da desconcentração e descentralização
administrativas, nos termos da Constituição e da lei.

1.3.3. Princípio da Participação

Os cidadãos devem intervir de forma permanente e estrutural e não estar a sua


participação reservada apenas ao momento eleitoral. A participação constitui pressuposto e
condição para uma governação democrática.

Segundo, Sousa e Matos (2013, p. 153)15, «este princípio abarca dois subprincípios que
aparecem frequentemente autonomizados: o princípio da colaboração da administração
pública com os particulares e o princípio da participação dos particulares na formação das
decisões que lhes digam respeito».

Funcionalmente, este princípio decorre da necessidade de regular em lei o direito de


audiência de particulares relativamente às decisões administrativas que lhes digam respeito.
Por isso, no diploma sobre as Normas do Procedimento e da Actividade Administrativas
encontramos consagrados: a colaboração com os particulares (prestar informações e
esclarecimentos, receber sugestões e informações), da participação, a audiência dos
interessados, o direito à informação sobre o andamento dos processos em que sejam
directamente interessados.

1.3.4. Princípio da Descentralização Administrativa

Nestes termos, conforme Branca (2013, p. 72)16, «o Estado não é o único a prosseguir o
interesse público. Existiram outras pessoas colectivas públicas, distintas do Estado ex. as
Autarquias Locais, que prosseguem fins específicos dos cidadãos nela residentes».
14
Artigo 214, nº. 1 da Constituição da República de Angola. (2010). Luanda: Imprensa Nacional.
15
Sousa; M. R. de & Matos, A. S. de – Direito Administrativo Geral: Introdução e Princípios Fundamental. 1ª
ed., Lisboa: Dom Quixote, 2013. ISBN 972-20-2672-0. p. 153.
16
Branca, R. (2013). O poder local e autarquias na constituição da república de Angola. Universidade
Agostinho Neto, Faculdade de Direito, Centro de Excelência em Políticas Públicas e Governação Local. p. 72.
10
De acordo com Branca, o Estado admite e reconhece a existência de outros entes
públicos com plena eficácia de satisfazer as necessidades da colectividade. A
descentralização, corresponde a qualquer transferência de atribuições da organização
administrativa do Estado, para outros organismos administrativos, sendo um simples
instrumento de desoneração do Estado e da repartição e especialização de tarefas entre a sua
administração directa e uma variedade de entes administrativos por ele criados encarregues da
realização de actividades administrativas.

De acordo com o artigo 213, nº. 1, da CRA (2010) 17, «o Estado na sua organização
administrativa deve respeitar o princípio da descentralização político-administrativa; é,
portanto, a CRA que obriga a institucionalização das autarquias locais, como forma de
organização política e administrativa do Estado)».

O princípio da descentralização administrativa, não pode ser entendido num sentido


meramente formal, ou seja, não basta que, para além do Estado, outras pessoas colectivas
exerçam a função administrativa, é necessário que, essas pessoas colectivas e os seus órgãos
sejam investidos pela lei de atribuições e competências, que permitam efectivamente a
aproximação às populações e que lhes sejam afectados os recursos humanos e financeiros
necessários, para que possam prosseguir aquelas atribuições e exercer aquelas competências.

1.3.5. Princípio da Desconcentração Administrativa

«Na Estruturação dos órgãos de uma pessoa colectiva, de deve existir uma repartição
de competências entre superiores hierárquicos e subalternos. A Administração é
desconcentrada quando, aos órgãos inferiores são conferidos poderes decisórios». (Feijó,
2012, p. 45)18

A desconcentração é o modelo em que, por razões de descongestionamento, ou outros


motivos, se permite que determinadas entidades, por via originária ou derivada, exerçam
determinadas funções ou poderes. A desconcentração ocorre na mesma pessoa colectiva em
que há uma repartição em os vários órgãos as competências entre superiores hierárquicos e
subalternos.

17
Artigo 213, nº. 1, da Constituição da República de Angola. (2010). Luanda: Imprensa Nacional.
18
Feijó, C. (2012). A Coexistência Normativa entre o Estado e as Autoridades Tradicionais na Ordem Jurídica
Plural Angolana. Dissertação de Doutoramento em Direito Público, na Faculdade de Direito de Universidade
Nova de Lisboa, Edições Almedina S.A. p. 45.

11
1.3.6. Princípio da Subsidiariedade

Segundo Alexandrino (2010, p. 8)19, «estabelece que qualquer ente público deve
satisfazer o interesse da colectividade desde que em melhor posição para o fazer; com este
princípio podemos diferenciar o que é de interesse nacional e o que é de interesse local».

Entretanto, este princípio possibilita ainda determinar o órgão que melhor poderá
solucionar um dado problema.

1.3.7. Princípio do Gradualismo

Pestana (2014, p. 81)20, refere ao gradualismo geográfico que, em seu entender, é


contrário aos princípios da universalidade (artigo 22, CRA) e da igualdade (artigo 28º, CRA)
e a toda a letra e espírito da CRA que são contra o desenvolvimento separado e afirmam a
necessidade de um “desenvolvimento sustentado e harmonioso” do país (artigos 89, 91 e
outros da CRA) que beneficie todos os cidadãos sem nenhum tipo de discriminação.

O gradualismo geográfico conduz, em teoria e na prática, à bifurcação do Estado e serve


como “desculpa” para a não dissipação da nebulosa que existe sobre o processo e sobre o
modelo a adoptar.

O gradualismo geográfico é contrário aos princípios constitucionais, mormente:

a) Ao princípio da universalidade, segundo o disposto no art. 22º CRA que estabelece


que, todos os cidadãos gozam dos mesmos direitos, das liberdades e das garantias
constitucionalmente consagradas; 21
b) Ao princípio da igualdade (art. 23º CRA) 22, todos são iguais perante a Constituição e a
lei, não podendo, ninguém ser prejudicado, privilegiado, privado de qualquer direito
ou isento de qualquer dever em razão da sua ascendência, sexo, raça, etnia, cor,
deficiência, língua, local de nascimento, religião, convicções políticas, ideológicas ou
filosóficas, grau de instrução, condição económica ou social ou profissão;
c) Ao princípio da participação na vida pública (art. 52º CRA), todo o cidadão tem o
direito de participar na vida política e na direcção dos assuntos públicos, directamente
ou por intermédio de representantes livremente eleitos; 23
d) Ao direito ao sufrágio (art. 54º CRA), todo o cidadão, maior de 18 anos, tem o direito
de votar e ser eleito para qualquer órgão electivo do Estado e do poder local e
desempenhar os seus cargos ou mandatos, nos termos da Constituição e da lei; 24

19
Alexandrino, J. M. (2010). Tratado de Direito Administrativo Especial, Vol. IV. Coimbra: Almedina. p.8.
20
Pestana, R. (2014). Constituição Portuguesa Anotada – Tomo III. Coimbra: Coimbra Editora.
21
Artigo 22º, da Constituição da República de Angola. (2010). Luanda: Imprensa Nacional.
22
Artigo 23º, Idem.

23
Artigo 52º, da Constituição da República de Angola. (2010). Luanda: Imprensa Nacional.
24
Artigo 52º, idem.
12
e) A necessidade promoção de desenvolvimento sustentado e harmonioso do país,
assegurando a justa repartição do rendimento nacional, a preservação do ambiente e a
qualidade de vida dos cidadãos (art. 91º nº 2 CRA).25

Então, em nossa opinião, recusado o gradualismo geográfico por ser contrário a


Constituição e conduzir a bifurcação do Estado a implementação das autarquias tem que ser
universal, simultânea em todo o território o que não exclui a possibilidade de um gradualismo
funcional, avançar gradualmente na transferência de competências a todas as autarquias. Isto
não significa um igualitarismo na distribuição de recursos, pois nesse caso, o princípio da
igualdade se deve associar o princípio da equidade.

25
art. 91º nº 2, idem.
13
CAPÍTULO II: OPÇÕES METODOLÓGICAS DO ESTUDO

2.1. MODO DE INVESTIGAÇÃO


No que diz respeito à pesquisa com base nos procedimentos técnicos, o presente
trabalho enquadrou-se na pesquisa bibliográfica, documental, descritiva e exploratória com
abordagem qualitativa.

Assim, a pesquisa qualitativa concentrou-se em elementos textuais que compreendem


relações entre conceitos e termos referentes ao objecto de estudo.

14
2.2. HIPÓTESE
A problemática levantada sobre as alterações verificadas na CRA, em relação ao poder
local cinge-se essencialmente na ordem sistemática, na elevação da dignidade constitucional
do poder local, na valorização das autarquias locais, na previsão expressa do município como
autarquias, apesar de admitir criação de autarquias supra-municipal, na elevação do princípio
da autonomia local a limite material do poder de revisão constitucional e na
institucionalização efectiva das autarquias locais obedecendo ao princípio do gradualismo.

Para tentar dar-lhe resposta formulámos as seguintes hipóteses:

 Hipótese 1: O papel do Poder Local e a sua forma de actuação são importantes para a
concretização das políticas públicas.
 Hipótese 2: A existência de um poder local activo e com protagonismo são
características positivas e inovadoras, reflectindo-se no tratamento dado a
determinados problemas, sem ter que esperar longamente pela resolução do Poder
Central.

2.3. VARIÁVEIS DO ESTUDO


Foram definidas as seguintes variáveis:

- Variável independente: foram consideradas como variáveis independentes as


seguintes: Constituição da República de Angola e Ordenamento Jurídico Angolano.

- Variável dependente: foi considerada como variável dependente: Autarquias locais


em Angola.

2.4. OBJECTO DE ESTUDO


O presente estudo tem como objecto de pesquisa: Autarquias locais no contexto
angolano.

2.5. INSTRUMENTOS DE INVESTIGAÇÃO


O presente estudo consistiu numa pesquisa qualitativa, apoiada nas fontes escritas.
Deste modo, a sua técnica e o seu instrumento de pesquisa baseou-se na análise documental,

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que consistiu na interpretação dos instrumentos jurídicos que elencam os requisitos
indispensáveis para as Autarquias locais no contexto angolanos. Os instrumentos foram ainda
a bibliografia especializada que liga ao objecto de estudo da presente pesquisa, que são
Autarquias locais no contexto angolanos.

2.6. PROCESSAMENTO E TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO


Primeiramente, far-se-á a revisão da bibliografia sobre o tema escolhido, no sentido de
se identificar os resultados já conseguidos pelos autores que publicaram trabalhos relevantes
para o nosso objecto de estudo. Para tal, utilizar-se-á o processador de texto Microsoft Word
2016, a digitação do trabalho.

A seguir, serão consultados os dispositivos jurídicos aplicáveis as Autarquias locais no


contexto angolanos, que serão interpretados com base na literatura consultada e
contextualizados com situações concrectas da realidade angolana.

CONCLUSÃO

Em virtude dos factos narrados, concluiu-se que a presente pesquisa versou em síntese
a estrutura da organização administrativa do Estado angolano a luz da CRA de 2010, que veio
trazer um paradigma de governação diferente em relação ao que vigorava antes da entrada em
vigor da actual CRA. Para tal, foi necessário estudar e compreender a conceitualização da
Administração Pública, vista no sentido subjectivo, cuja finalidade é a satisfação, em nome da

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colectividade, de necessidades colectivas. Foram analisados, também, os princípios que
conformam a organização e as actividades administrativas.

Noutra vertente, a CRA firmou o princípio da autonomia local como pilar da


organização democrática do Estado. Portanto, o poder local é concebido com base em três
estruturas: as autarquias locais, as autoridades tradicionais e outras modalidades específicas
de participação dos cidadãos.

Portanto, o pleno exercício da descentralização administrativa territorial e não


institucional em Angola, reforçará a democracia representativa e participativa, no âmbito da
administração local, adequando-se as exigências da CRA e demais legislação próprias de um
Estado democrático e de direito e, atento ao princípio do gradualismo geográfico dado a
especificidades das várias circunscrições territoriais a implementação das autarquias locais, de
cujos órgãos são eleitos pelos cidadãos residentes nas suas respectivas áreas, para que,
conhecendo e vivendo os problemas dos cidadãos, certamente deverão utilizar os meios e os
recursos mais adequados para resolução dos mesmos, dispondo para o efeito de autonomia
administrativa, nas vertentes de gestão, regulamentar e financeira e amoldando de património
próprio e recursos financeiros provenientes na arrecadação de impostos locais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Alexandrino, J. M. (2010). Tratado de Direito Administrativo Especial, Vol. IV. Coimbra:


Almedina. p.2.

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Branca, R. (2013). O poder local e autarquias na constituição da república de Angola.
Universidade Agostinho Neto, Faculdade de Direito, Centro de Excelência em Políticas
Públicas e Governação Local. p. 72.

Centro Nacional de Aconselhamento – (2010). Boletim informativo, Descentralização


Administrativa e Autarquias Locais. Luanda: NCC.

Constituição da República de Angola (2010). Luanda: Imprensa Nacional.

Feijó, C. & Paca, C. (2005). Direito Administrativo, Introdução e Organização


Administrativa. Lisboa: Lusíada. p. 43-45.

Feijó, C. (2012). A coexistência Normativa entre o Estado e as autoridades tradicionais na


Ordem Jurídica Plural Angolana. Coimbra: Edições Almedina.

Pestana, R. (2014). Constituição Portuguesa Anotada – Tomo III. Coimbra: Coimbra Editora.

Sousa; M. R. de & Matos, A. S. de. Direito Administrativo Geral: Introdução e Princípios


Fundamental. 1ª ed., Lisboa: Dom Quixote, 2013. ISBN 972-20-2672-0. p. 153.

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