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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA

MODALIDADE A DISTÂNCIA

MARIA HELENA VIEIRA RODRIGUES

A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

CONDE- PB

2013
MARIA HELENA VIEIRA RODRIGUES

A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Coordenação do Curso de Licenciatura Plena em
Pedagogia na Modalidade a Distância, do Centro de
Educação da Universidade Federal da Paraíba,
como requisito institucional para obtenção do título
de Licenciada em Pedagogia.

Orientadora: Ivana Maria Medeiros de Lima

CONDE – PB

2013
R696c Rodrigues, Maria Helena Vieira.

A contação de história na educação infantil / Maria Helena Vieira


Rodrigues. – João Pessoa: UFPB, 2014.

40f

Orientador: Ivana Maria Medeiros de Lima

Monografia (graduação em Pedagogia – modalidade a distância) –


UFPB/CE

1. Contação de história. 2. Educação infantil. 3. Aprendizagem. I. Título.

UFPB/CE/BS CDU: 373.24 (043.2)


MARIA HELENA VIEIRA RODRIGUES

A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

APROVADA EM: ____/ ____/ ____

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________

Profª. Ms. Ivana Maria Medeiros de Lima


Universidade Federal da Paraíba – UFPB

_____________________________________________________

Profª. Janilde Guedes de Lima Gomes da Silva


1º membro
Universidade Federal da Paraíba - UFPB

____________________________________________________

CONDE – PB

2013
Dedico este trabalho a todas as crianças da educação infantil, todos que
contribuíram com a construção dos conhecimentos neste curso. A ex-
secretária de educação do município de Conde e coordenadora do Polo
presencial de Conde, Elizete de Melo, que tanto se dedicou ao projeto, a
minha primeira tutora presencial Rosires, que tanto orientou a mim e
demais colegas, a todos os meus professores, tutores, colegas e a minha
querida família.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela sua sabedoria e bondade por me conceder mais uma vitória, a meus pais
Manoel e Josefa (in memória), por me ensinar em a dar os meus primeiros passos na vida , em
busca do conhecimento, todos os meus professores , especialmente a minha orientadora Ivana
Maria Medeiros de Lima , pela dedicação e compreensão na construção do TCC, a meus colegas,
especialmente a Neide Maranhão pela sua solidariedade comigo e demais colegas do curso, a meu
esposo Francisco, pela sua compreensão e apoio, quando tive que me ausentar em busca de
conhecimentos, e sem esquecer da minha querida filha Ana Hélen, pela sua boa vontade, nas horas
que mais precisei de sua ajuda na realização deste trabalho.
“o contador de história é aquele que traz o coração nas mãos”.

Maria da Penha

RODRIGUES, Maria Helena Vieira Rodrigues. A Contação de História na Educação Infantil.


2013, 40 f. Monografia. (Graduação em Pedagogia) – Universidade Federal da Paraíba - UFPB,
João Pessoa.
RESUMO

Este trabalho enfoca a contação de história na educação infantil, compreendendo que esta prática
nesta modalidade de ensino é uma forma de ampliar os conhecimentos em busca de melhores ações
educativas com as crianças, visto que a contação de história na infância poderá proporcionar a
criança oportunidades de desenvolver outras habilidades contextualizadas com a história ouvida. A
criança poderá; criar, se expressar, dramatizar, vivenciar de forma imaginária as ações dos
personagens das histórias contadas e relacionar as ações dos personagens com os fatos reais do seu
cotidiano, como forma de expressar, construir e aprender novos conhecimentos de forma coletiva. O
trabalho está dividido em seis capítulos os quais abordam o conceito de infância e o surgimento da
contação de história, a importância dessa prática na educação infantil, e na aprendizagem
significativa dessa modalidade de ensino, e a forma com se dá essa prática na escola e na sala de
aula, como também a forma do educador mediar essa ação. A metodologia adotada nessa pesquisa é
bibliográfica a luz dos autores: Silva; Hermida e Calàbria, (2009), Severino (2007), Santos (2005),
Barbosa; Santos (2009), Sisto (2005), Nascimento (2007), Otte E Kosàcs (2013), Costa; Chaves; Teixeira
(2012), Silva (2008), Silveira (2012) Gotlib (2006), entre outros.

Palavras – Chaves: Contação de História. Infância. Aprendizagem

ABSTRACT

This work focuses on storytelling in Early Childhood Education , Understanding that practice this
type of education is a way to expand knowledge in search of better educational activities with
young children , as the storytelling in childhood can provide children with opportunities to develop
other skills in context with the story heard. The child may: create , express themselves , dramatizing
, experience of imaginary shape the actions of the characters of the stories and relate the actions of
the characters with the real facts of everyday life as a way to express themselves, build and learn
new knowledge collectively. The work is divided into six chapters which dealt with the concept of
childhood and the emergence of storytelling , the importance of this practice in early childhood
education , and learning siginificativa this type of teaching , and the way it gives the practice in the
school and in the classroom class , also with the way the average educator this action. The
methodology adopted in this research is light literature of authors : Silva ; Hermida and Calàbria,
(2009) , Severino (2007) , Santos (2005), Barbosa, Santos (2009 ) , Sisto (2005) Birth (2007) , And
Kosàcs Otte (2013), Costa, Keys, Teixeira (2012), Bueno e Oliveira (2011), Silveira (2012) Gotlib
(2006), among others.

Key - Words: storytelling. Childhood. Learning.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 09

2 A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA .............................................................................. 14


2.1 Conceito e Histórico da Contação de História .......................................................... 14
2.2 A Criança e a Contação de História ......................................................................... 17

3. A CONTAÇÂO DE HISTÓRIA E A APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS ....... 21


3.1 A Sociedade e a Contação de Historia: Contos de fadas, fábulas .............................. 21
3.2 A Aprendizagem Significativa a partir da Contação de Historia ............................... 24

4. A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NO CONTEXTO EDUCACIONAL ................. 28


4.1 Contação de Historia e a Escola ............................................................................... 28
4.2 A Contação de História e os Educadores ................................................................. 31

5. METDOLOGIA ...................................................................................................... 35
5.1 Pesquisa Bibliográfica ............................................................................................. 35
5.2 Caracterização da pesquisa ...................................................................................... 35

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 37

REFFERÊNCIAS ....................................................................................................... 39
1. INTRODUÇÃO
Vivemos em uma sociedade globalizada a qual tem contribuído para que a
educação seja valorizada e se torne prioridade desde a educação infantil. Pois, esta vem
se transformando a cada dia, levando-nos a repensar e criar formas de valorização das
crianças como seres que possuem direitos e deveres. É nesse contexto que diversas
atitudes são tomadas em relação à forma de cuidar e educar nossas crianças.
Considera-se criança da educação infantil creche e pré-escolar, crianças de 0 a 5
anos de idade, mas para esta pesquisa priorizaremos as crianças da Pré-Escola, ou seja,
as que possuem de 04 a 05 anos de acordo com a Lei d Diretrizes e Bases da Educação
(1996). O ser humano em fase de crescimento físico e intelectual necessita ser cuidada e
educada pelos adultos (famílias, instituições e sociedade). Toda criança deve ser
respeitada e valorizada na perspectiva de desenvolver-se plenamente e vir a ser um
adulto responsável e autônomo.
Antigamente, as crianças eram pouco valorizadas, o conceito de infância
praticamente não existia, havia muita mortalidade infantil, fato visto pela sociedade da
época como algo divino, em outras situações as crianças eram vistas como adultos em
miniatura. Logo aos sete anos de idade começavam a trabalhar como ajudantes nas
residências de pessoas que tinham melhores condições financeiras, em troca, recebiam
alimentos e objetos pessoais, não estudavam e se vestiam como adultas, as mesmas
eram impedidas de crescer intelectualmente.
Hoje, a concepção da sociedade em relação à infância mudou, percebe-se que na
sociedade atual as crianças são mais valorizadas e respeitadas como potencial. É nesta
concepção que se tem buscado ampará-las e oferecer melhorias nesse sentido.
No Brasil diversas leis foram criadas como forma de assegurar os direitos das
crianças e adolescentes. A Constituição Federal (CF) de 1988, assegura o direito as
crianças de 0 á 6 anos de frequentar a creches e pré escolas; A LDBN/96 define a
educação infantil como a primeira etapa da educação básica, e tem por finalidade
promover o desenvolvimento integral da criança até os 5 anos de idade.
Considerando-se a infância como sendo a primeira fase da vida do ser
humano, etapa em que o mesmo encontra-se em fase de descobertas cognitivas e a
prática do lúdico como característica principal desta fase de existência.
A partir desses pressupostos resolvemos pesquisar sobre a contação de história
na educação infantil, por acreditar que a mesma trata de uma atividade que envolve a

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ludicidade e gera outras atividades prazerosas, inclusive a arte de contar histórias, que
pode contribuir de forma significativa no desenvolvimento físico-psicológico e
cognitivo da criança. Então esse trabalho propõe responder a seguinte problemática:
como a contação de história na educação infantil pode ajudar na aprendizagem das
crianças?
Tratando-se da educação escolar, busca-se atualmente oferecer educação de
qualidade, com elementos básicos inovadores que possa proporcionar a criança o prazer
em aprender conforme sua fase de desenvolvimento. É nessa perspectiva que essa
pesquisa tem como objetivo geral: Analisar os benefícios da contação de história na
Educação Infantil e como Objetivos específicos: Refletir sobre a contação de história
na Educação Infantil; Discutir os benefícios que a contação de história aponta para a
Educação Infantil; e Analisar o conhecimento dos teóricos sobre a contação de história
na educação infantil.
Compreende-se que a contação de história nesta modalidade de ensino é uma
forma de ampliar os conhecimentos em busca de melhores ações educativas com as
crianças, visto que a contação de história na infância poderá proporcionar a criança
oportunidades de desenvolver outras habilidades contextualizadas com a história
ouvida. Ela poderá; criar, se expressar, dramatizar, vivenciar de forma imaginária as
ações dos personagens das histórias contadas e relacionar as ações dos personagens com
os fatos reais do seu cotidiano, como forma de expressar, construir e aprender novos
conhecimentos de forma coletiva.
Este trabalho está dividido em capítulos. O primeiro capítulo descreve sobre a
contação de história e a criança com conceitos e um breve histórico sobre os mesmos e
qual a relação entre a contação de história e a criança no meio onde ela está inserida
O segundo capítulo trata da contação de história e a sua relação com a sociedade,
qual o papel da sociedade no resgate dessa ação tão histórica e importante para o
desenvolvimento cognitivo e aprendizagem da criança, e dentro desse contexto reflete
sobre a significação da aprendizagem para as crianças a partir da contação de histórias.
O terceiro capítulo trata da escola dentro desse processo e de como a escola se
relaciona com a contação de história, como o educador promove essa arte dentro da sala
de aula e como é a sua relação com as crianças ao narrar as histórias.
No quarto capitulo enfatizamos a Metodologia, a qual utilizamos para a
realização deste trabalho abordamos as idéias de autores que tratam sobre a Contação de
historia, os quais destacam-se: Sisto,(2005), Silveira, Dias, Silva e Teixeira (2012),

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Gottlib ( 2006), Hermida, (2009), e outros que abordam o referido tema. Pois trata-se
de uma pesquisa bibliográfica. E por final temos as considerações finais onde
apontamos sugestões e propostas de estratégias para a contação de historia.
A contação de história a partir da contribuição dos autores utilizados na
construção desse trabalho monográfico nos ajuda a compreender que a contação de
história é um elemento fundamental no desenvolvimento da criança nos aspectos sociais
e educativos. Neste sentido, os autores utilizados neste trabalho, tem sua relevância
sobre o tema e compreendem da seguinte forma a contação de história:
Silveira (2012) nos traz os gêneros textuais, como elementos mediados do
processo de aprendizagem das crianças através da contação de história como fábulas e
contos, compreende o processo histórico do conceito de infância e de leitura.
Sisto (2005) nos revela a magia e o poder da contação de história de como surgiu
e as formas de como acontecia tamanha arte e de como acontece atualmente. Gotlib
(2006) em sua obra teoria do conto nos faz refletir o conceito do conto e de como inclui-
lo dentro das narrativas literárias, mostrando, a partir da contribuição de outros autores
o trajeto do conto na sociedade desde quando os adultos e crianças se reuniam ao redor
da fogueira e contavam e ouviam histórias, até a transformação em literatura.
Silva, Hermida e Calábria (2009), nos apresentam o conto como uma cultura
tradicional de um povo que se difundia com o modo de viver desse povo. Reflete
também, sobre a perca dessa tradição, tanto na sociedade como no contexto
educacional. Barbosa e Santos (2009), veem na contação de história uma prática eficaz
de se aprender, relacionando a prática pedagógica e a familiar na construção da
aprendizagem das crianças, a porta da contação de história.
Bueno e Oliveira (2011) nos permite conhecer e observar a aprendizagem das
crianças a partir da contação de história, que relaciona o real com o imaginário, onde a
criança desenvolve habilidades e constrói a sua identidade. Otte e Kovács (2013) tratam
a contação de histórias como um elemento de socialização da criança com a família,
fortalecendo o diálogo e a interação. Nascimento (2007) nos traz a contação de história
como meio de despertar as habilidades das crianças e mostra meios práticos e eficazes
de se fazer uma boa narrativa.
Percebe-se que os autores têm a contação de história como uma prática que
desperta a imaginação e o prazer de ouvir e contar e recontar as histórias contadas ou
narradas, ao falar da aprendizagem todos concorda quando se refere ao crescimento do
nível de aprendizagem e no desenvolvimento sócio cognitivo da criança.

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2. A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA E A CRIANÇA
2.1 Conceito e histórico da Contação de História.

Ao longo da história da educação vivemos procurando meios eficientes para


potencializar a qualidade do ensino e que facilite o processo da aprendizagem dos

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alunos. Meios que façam com que os alunos, principalmente da educação infantil, alvo
desse estudo, interajam com o professore e socializem os sentimentos e expressam sobre
o que está aprendendo e vivenciando em seu dia a dia. Temos como um meio muito
eficaz a contação de histórias, que busca de forma lúdica e dinamizada fazer com que o
aluno da educação infantil viagem na imaginação e desenvolva a oralidade e a
habilidade da interpretação. “Ouvir e contar histórias são atividades que, ao longo do
tempo, tem feito a alegria de muitas pessoas”. (SILVEIRA, 2012, p.167).
Contar história é uma arte popular, que expressa prazer e sentimentos ao serem
contadas e ouvidas. Então contar histórias é uma prática social, educativa e interativa
que faz com que a criança da educação infantil desenvolva a concentração e a oralidade.
Pois, o ato de contar história faz com que as crianças despertem o imaginário,
desenvolvendo as habilidades do falar e do ouvir, onde a criança e o adulto concentram-
-se, e a partir do que ouvem, imaginam e recriam novas histórias, assim as crianças que
não dominam a leitura tem na contação de história uma antecipação do concreto, o ato
de ler oralmente o que está escrito.

O ato de contar histórias é concebido por muitos contadores como algo


mágico, que envolve crianças e adultos, na mesma energia vital, na
mesma intenção de imaginar e de criar, com base no que ouvem, as
imagens construídas pela sua voz. [...] Para as crianças que ainda não
leem, ouvir a narrativa pressupõe um primeiro nível de leitura, em que o
ouvinte, conhecendo o enredo da história, passa a imaginar as cenas, as
personagens e os detalhes específicos de cada um. (SILVEIRA, 2012.
p.169).

Neste sentido a criança ao ouvir histórias desenvolve a criatividade fazendo uma


leitura imaginária do que se está ouvindo e assim podem fazer a interpretação de todo o
texto que se foi lido a ela, recriando uma história que foi por ela imaginada.
A educação infantil é o espaço onde as crianças se encontram com a mente mais
aberta e apta para a aprendizagem, entender o universo infantil e educar as crianças com
cuidado é de fundamental importância para sua formação. A contação de história nesta
fase levará a criança a desenvolver-se integralmente de forma interdisciplinar. Pois a
contação de historia é uma prática que leva a criança a usar a imaginação e se
desenvolver socialmente enquanto ser em processo de aprendizagem e descoberta.

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Compreende-se que ao ouvir histórias as mesmas viajam pelo imaginário mundo
da emoção onde a ficção se transforma em realidade Segundo Cavalcante (2002, apud
SILVEIRA, 2012, p16),

[...] ouvir história consiste numa das relações mais prazerosas,


satisfatórias de que o homem é capaz. A nossa relação de
complementaridade com o eu e o outro está posta ai, numa tentativa
maior de preencher as lacunas, de superar os conflitos, e em fim, de nos
perceber como um “ser em projeto”, em busca do “prazer-feliz” de uma
existência incompleta, mas capaz de criar sentidos, de fazer arte, de
transformar o mundo em vários universos em constelações criadoras de
magia, de sentimentos vários de humanidade.

Deste modo compreendemos que seremos sempre um ser em constante


aprendizado e nesta trajetória descobrimos vários meios que nos permitem e nos levam
a nos descobrimos como seres constantes e em busca da felicidade e capazes de
transformamos o mundo, a partir de nossas imaginações e ações.
A contação de história pode nos proporcionar momentos de reflexão sobre a
nossa prática enquanto ser em constante aprendizado, e de como podemos tocar o
interesse das crianças para participar desse momento, ou seja, ter a contação de história
como um elemento construtor e facilitador do processo de humanização do ser.
Sendo assim a criança, um individuo em fase de descobertas e desenvolvimento,
pode ter na atividade de contar e ouvir história o sentindo é essencial para sua formação.
Segundo MELLON, (2006, p.19, apud SILVEIRA, 2012, p.168): “A sabedoria
espontânea que habita o coração de cada pessoa é a essência da vida. É na porta dessa
sabedoria que batemos durante o processo de contar histórias”. É como uma prece: as
histórias nos sustentam e nos fortalecem.
Para uma boa compreensão do ato de se contar história SISTO (2005, p.16) em
seu livro “Textos e contextos sobre a arte de contar histórias” nos diz que: “Contar
história é a possibilidade de formar leitores, num verdadeiro ato de subsistência, não só
para do já inventado, más do universo que as palavras transcriam para levitar”. Em
outro texto do mesmo livro o autor afirma “que contar história é uma arte sem lugar ás
portas do século XXI” (SISTO, 2005, p. 19). A referida afirmação constata que a
contação de história é realizada em qualquer tempo e em qualquer lugar, o que vai se
modificando é apenas o modo como se conta, como, onde quem as ouve.

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Para entender o ato de contar história na sociedade atual, se faz necessário
conhecer como surgiu e se originou a contagem de história no passado, quem contava e
para quem, e qual a importância social para os sujeitos que ouviam as histórias.
Segundo a teoria de Propp (1978 apud GOTLIB, 2006 p. 23-24):

[...] reconhece duas fases na revolução do conto. Uma primeira ,sua pré-
história, em que o conto e o relato sagrado – conto/mito/rito – se
confundiam. Entende mito no sentido de “relato sobre a divindade ou
seres divinos em cuja realidade o povo crê. “E rito, tal como costume e
segundo Engels, ou seja, como ‘atos ou ações cuja finalidade é operar
sobre a natureza e submetê-la”. Propp conclui que a maior parte dos
motivos dos contos refere-se a dois ciclos ritualísticos: o da iniciação e
o das representações da morte.

Historicamente a origem de se contar história ainda nos remete a algo


desconhecido o que se sabe, desde sempre, é que um contava e outro escutava histórias
e estórias que tratavam de assuntos sociais, culturais e faziam daquele momento um
espaço de socialização de seus conhecimentos e de suas fantasias imaginárias. Segundo
Gotlib (2006, p.6):

Embora o início de contar estória seja impossível de se localizar, e


permaneça como hipótese que nos leva aos tempos remotíssimos ainda
não marcados pela tradição escrita, há fases de evolução dos modos de
se contarem estórias. Percebe-se que segundo a autora não existe um
conceito para a história, porém para alguns autores os contos. Egípcios
– os contos mágicos – são os mais antigos: devem ter aparecido por
volta de 400 anos antes de Cristo.

Compreender historicamente o processo da criação de contação de historia a


partir de datas e números é necessário voltar ao tempo e perpassar pela nossa própria
origem enquanto existência e construção de cultura e identidade.

Enumerar as fases da evolução do conto seria percorrer a nossa própria


história, a história de nossa cultura, detectando os momentos da escrita
que a representam. O da estória de Caim e Abel, da Bíblia, por
exemplo, ou os textos literários do mundo Clássico Grego-latino: as
várias estórias que existem na Ilíada e na Odisseia, de Homero. E
Chegam os contos do oriente: a Pantchatantra (VI AC), em sânscrito,
ganha tradução árabe (VII dC) e inglesa (XVI dC); e as Mil e uma
noites circulam da Pérsia (século X) para o Egito (século XII) e para a
Europa (século XVIII). (GOTLIB, 2006, p.6).

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Deste modo o processo histórico do conto vem desde a criação do mundo que de
forma oral vem sendo reproduzido até os dias atuais, variando de acordo com o tempo e
momento em que se encontra a sociedade, seja ele político, cultural, econômico, enfim
permeia a realidade atual vivenciada.

2.2 A Criança e a Contação de História

A criança no nosso processo educacional atual é o elemento motivador principal


para que a qualidade do ensino seja valorizada e que o profissional da base no caso o
professor viva em busca de técnicas inovadoras e criativas para que despertem nelas
interesse por aprender. Porém sabe-se que nem sempre as crianças foram tratadas com
prioridade diante da sociedade. Até o século XV não se tinha um conceito de infância e
a partir do século XVII as crianças eram vistas como adultos em miniaturas, segundo
Silveira (2012, p.141):

As crianças, nesse período, eram consideradas adultos em crescimento e


tratadas como adultos pequenos, tão logo andassem e pudessem ajudar
no trabalho da comunidade onde estavam inseridos, já eram incluídos
nos afazeres e conviviam, sem diferenças significativas, com os demais.
As roupas, as comidas, as atribuições eram as mesmas dos adultos.

As crianças não tinham uma identidade que as identificassem como seres que
precisam de atenção e atividades direcionadas para se desenvolverem como sujeitos que
faziam parte da sociedade. Da mesma forma eram vistas pelo setor educacional,
conforme Silveira (2012, p.141):

Assim também eram os textos e os livros destinados aos pequenos para


que fossem alfabetizados, para que lessem. Os livros valorizados pelos
adultos eram impostos aos pequenos. Entre eles, estão aqueles que hoje
são denominados Clássicos da Literatura Infantil – os Contos de Fadas
– que, embora sejam hoje publicados visando às crianças, nas suas
primeiras publicações, os adultos eram alvo principal.

Nesse mesmo tempo na Europa as histórias narradas as beiras da fogueira, eram


ouvidas por crianças e adultos que juntos partilhavam das mesmas tarefas e dos mesmos
divertimentos. Estas narrativas eram frutos da memoria coletiva da população que com

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o passar do tempo foram publicados como textos literários com o objetivo de se tornar
um acervo cultural e não serem esquecidos pelo povo.

Esses contos, pertencentes à memoria coletiva da população, foram


coligidos por escritores e transformados em textos literários, publicados
com a intenção, entre outras, de não deixar cair no esquecimento essas
histórias que constituíam um patrimônio para o país. (SILVEIRA, 2012,
p.142).

Silveira (2012) em seu texto Literatura Infantil: Gêneros textuais em mediações


de leitura citam alguns escritores que reconheceram o valor e o poder da contação de
história em seus países. São eles: os irmãos Grimm na Alemanha, Charles Perrault na
França, Hans Christian Andersen na Dinamarca. Estes textos ficaram conhecidos como
contos de fadas e com temo foram ampliados em questão de acessibilidade para as
crianças. Mas como foi que estes contos direcionavam-se ao público infantil? Segundo
Silveira (2012) devido as Guerras que ocorriam na época na Europa havia um grande
índice de mortalidade do gênero masculino, e com isso as mães começam a ter que
trabalhar e sustentar a casa e a família, sendo assim as crianças passavam o dia na
escola de forma integral.

A partir dessas necessidades prementes, na Europa e, pela mesma razão


do trabalho materno, nos Estado Unidos, a escola passou a funcionar em
horário integral. Assim a leitura passou a constar como uma das
atividades a serem desenvolvidas no horário oposto ao horário escolar
das aulas. Como ainda não havia material especifico endereçado a
crianças, lançou-se mão dos Contos de Fadas, dos Contos da Mamãe
Gansa e das narrativas que calavam tão fundo no coração dos adultos e,
por extensão, na preferencia das crianças. (SILVEIRA, 2012, p.143).

Com o processo econômico e politico se estruturando na Europa a família se


tornou um ícone social e a criança passou a ser orientada e cuidada pela própria família
e a escola como colaboradora desse processo com um teor educativo imposto e
dominado pelo pensamento burguês.

Em um tempo em que a família se firmava em sua característica de


célula social, a criança passava a ser cuidada como um ser em formação
e que precisava de orientação. Além da família, a escola também
deveria colaborar com o processo educativo, que se baseava na
dominação e na imposição dos valores vigentes, para incutir e reforçar o
pensamento burguês. (ZILBERMAN, 2003, apud, SILVEIRA, 2012,
p.143).

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Com o passar do tempo os contos e as narrativas passaram a ser especificados
baseados na moral e nos bons costumes sociais e familiares, em que estes textos eram
feitos para as crianças e por elas interpretados oralmente, como uma forma de incentivo
ao gosto pelo mundo literário. A contação de historia para as crianças é uma forma de
aprendizagem lúdica e que desenvolvem nelas varias habilidades tanto metais como
físicas através do ato de ouvir.
Segundo Barcellos e Neves (1995, apud, BARBOSA; SANTOS, 2009, p.25)
“Além disso, a criança que ouve histórias com frequência educa sua atenção,
desenvolve a linguagem oral e escrita, amplia seu vocabulário e principalmente aprende
a procurar, nos livros, novas histórias para o seu entretenimento”. E ainda Silva,
Hermidia e Calábria (2009, p.146) dizem em seu livro que:

[...] a história a ser recontada e conduzida por caminhos diversos,


podendo a criança identificar-se com todo o conto ou com parte dele,
com um personagem ou diversos deles. O mais importante é que a
narrativa se constitui como condutora de interpretações e dos registros
afetivos que cada conto oferece.

Neste sentido o ato de contar história mantem uma relação de ajuda na


construção de identidade da criança, em que a mesma começa a querer interpretar de
forma física os personagens que elas imaginam das narrativas que ouvem. E ao
conhecer a história de cada personagem que protagoniza a história narrada elas vão se
identificando com algum de forma espontânea e naturalmente. Dentro de uma
perspectiva de formação social a contação de história contribui na socialização, na
coordenação motora, na formação de opinião crítica e pessoal, na comunicação e na
concentração, confirma Bueno e Oliveira (2011, p.09):

Certamente a contação de histórias age na formação da criança em


várias áreas. Contribui no desenvolvimento intelectual, pois desperta o
interesse pela leitura e estimula a imaginação por meio da construção de
imagens interiores e dos universos da realidade e da ficção, dos
cenários, personagens e ações que são narradas em cada história.

Bueno e Oliveira (2011, p.09) completa dizendo que:

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Outro ponto em que atua é no desenvolvimento comunicativo devido a
sua provocação de oralidade que leva a criança a dialogar com seus
colegas ouvintes e a (re) contar a história para seus amigos que não
estavam presentes naquele momento. Com isso também é desenvolvida
a interação sócio-cultural da criança ao proporcionar essa interação
entre crianças e a criação de laços sociais e formação de gosto pela
literatura e artes. A criança recebe influência até em seu
desenvolvimento físico-motor, devido à manipulação do corpo e da voz
de que faz uso ao ouvir e recontar as histórias.

Considera-se que a contação de história é uma prática que de forma lúdica e


criativa faz com que a criança se desenvolva socialmente, culturalmente e criticamente,
ou seja, ela começa a conhecer e entender diversas formas de se comunicar e vários
modos culturais que se manifestam de maneira única em cada história contada e ouvida.
Desse modo, as crianças ao ouvirem as narrativas, desenvolvem uma opinião própria
sobre o que se ouviu, e comentam sobre o que gostou e o que não gostou na história
contada.

Assim a relação da contação de história com a criança, é um meio de formação


do ser enquanto sujeito social é nas histórias contadas que as crianças podem
compreender, quando trabalhados de forma correta e coerente, as questões que
permeiam a realidade vivenciada na sociedade, dentro dos processos sociais, culturais e
políticos.

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3 A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA E A APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS

3.1 A Sociedade e a Contação de Historia: Contos de Fadas, Fábulas


Vivemos em uma sociedade capitalista que tem como maior desafio a promoção
de uma educação que valorize o sujeito e a sua cultura enquanto ser em constante
formação. A contação de história na sociedade era tida como uma cultura que de
geração em geração vinha sendo resgatada e de forma inovadora se transforma de
acordo com as mudanças que a sociedade vivencia. A sociedade aceita a contação de
histórias, porém não a estimula.
Atualmente buscar resgatar os contos de fadas e as fábulas no literário infantil é
um desafio, pois vivemos em uma sociedade globalizada onde o acesso à tecnologia está
a cada dia mais frequente e mais facilitado, ou seja, as crianças não se interessam tanto
por livros, a família não estimula as crianças a gostar de ouvir histórias. Diante a
situação social de cada família percebemos que varia o estímulo da mesma com as
crianças ao contar e ouvir histórias, pois atualmente, as crianças que vivem na classe
menos favorecida só escutam história na escola. A família neste sentido não se preocupa
em promover essa atividade.

Sabe-se que, em outras épocas, era comum que os adultos contassem


estórias para as crianças e elas se deliciavam com as sonoridades e os
embalos que os encantos dos contos lhes proporcionavam. A cultura dos
contos fazia parte da cultura imaterial da comunidade. A oralidade era
utilizada para imortalizar tradições populares, e também para transmitir
de geração em geração fatos históricos relevantes. Esses adultos podiam
ser avós, tios, pessoas idosas de respeito na comunidade e até os
próprios pais das crianças. Nesses tempos não havia tantas televisões,
videogames, jogos eletrônicos, computadores e a internet
monopolizando o lazer das crianças. A transmissão cultural via
oralidade qualificava as relações sociais, tornando-as, porque não, mais
naturais e humanas. (SILVIA; HERMIDA; CALÀBRIA, 2009, p.143).

Os autores a cima corroboram que a contação de história facilitava a


comunicação e a interação entre as pessoas, porque não existiam as tecnologias que hoje
separam as pessoas e fazem com que as crianças se distanciem mais do real, e
dificultam as relações entre elas. A contação de história era algo natural, hoje as
crianças só se socializam na escola com a mediação dos educadores.
A contação de história é uma atividade que contribui de forma significativa na
vida da criança, que de forma espontânea se desenvolve socialmente e simbolicamente,

20
ou seja, a criança começa a desenvolver sentimentos pelo que está ouvindo e pelo que se
poderá produzir após ouvir as narrativas. Esta atividade desperta na criança a emoção do
sentir, ouvir, refletir e criar usando a imaginação.

É no encontro com uma criança que os contos de fadas ganham vida,


assumindo o lugar condutor de palavras e figura que tem a capacidade
de pular do papel, tomando nas mãos, tinta e pincel, para construir
paisagens diversas, diferentes de todas e qualquer realidade. (SILVA;
HERMIDA; CALÁBRIA, 2009, P.146).

Dentro da contação de história podemos enfatizar os contos de fadas e as fábulas


que de forma enfeitada sempre busca fazer com a criança aprenda uma nova lição, ou,
que veja o mundo mais colorido e cheio de sonhos realizados.
Os contos de fadas são recriações mundo do real, de uma forma mais ilusionada,
ou seja, nos contos os animais falam, há uma relação com a mágica e a utilização de
encantamentos, enfim busca passar uma realidade de um mundo em que as crianças
acreditam que existe.
Já as fábulas possuem a finalidade de ensinar algo através de histórias que
passam lições de moral, e façam com que a criança aprenda de uma forma mais
divertida, e têm sempre como personagens principais animais fazendo papeis de seres
humanos.

Os contos de fadas tem autoria, mas a multiplicação de publicação que


são disponibilizadas para os leitores causa uma impressão de que essas
narrativas não tem autor definido – são os clássicos para crianças. Esses
contos foram escritos por diversos autores, em diferentes países e
épocas. [...] as fabulas são narrativas cujas personagens são,
principalmente, animais, que retratam os comportamentos dos seres
humanos. Trata-se de uma narrativa que visa a uma orientação
moralizante e, na sua versão tradicional, registram a “moral da história”,
em forma de proverbio, que encerra um exemplo da “sabedoria
popular” para ser observado e seguido. (SILVEIRA, 2012, P.170).

Entende-se que os contos narrados e ouvidos pela criança são por elas recriados
de uma forma mais real e concreta, ou seja, as crianças espontaneamente começam a
interpretar os contos de uma forma real em que na maioria das vezes os personagens
bons e heróis passam a ser o que elas querem ser, ter uma vida igual à deles e assim por
diante.

21
Os contos e as fábulas acabam que por interagir com a vida social da criança em
que, na fase infantil estão construindo a sua identidade e conhecendo o seu espaço
cultural com seus costumes e tradições ali existentes.
Segundo Silva; Hermida e Calábria (2009, p.148):

Quando uma criança se identifica com uma história especifica é


porque essa história oferece instrumentos ligados a sua própria
experiência de vida. Não é por acaso que ocorre essa escolha, pois
há um percurso que merece ser observado frente a preferencia de
um conto ofertados aos pequenos:
a) Primeiro, a criança se identifica com a história em si, quando
passa a perceber de forma inconsciente que ali há alo da sua
própria história;
b) Em seguida ela passa a se perceber nas emoções das narrativas,
identificando características dos personagens que estão impressas
nelas mesmas;
c) Por ultimo, o desfecho da história é o irá oferecer-lhe a
possibilidade de criar novos significados a sua própria história de
vida pela via do final feliz (ou mesmo pela espera de um não
apresentado no conto).

A contação é vista como uma arte popular que era contada a partir da realidade
vivenciada no momento em que a sociedade se encontrava. Desse modo, de acordo com
Costa, Chaves e Teixeira (2012, p.95): “A arte se faz essencial ao desenvolvimento da
criança e na forma de perceber e se expressar com e no mundo que a circunda.” Assim
sendo a contação de história uma arte, ela também é essencial para o desenvolvimento
da criança. Podendo a criança ter conhecimento sobre outras culturas e poder de pensar
e interpretar com um olhar mais critico.

Essa arte amplia o universo literário, desperta o interesse pela leitura e


estimula a imaginação através da construção de imagens interiores.
Narrar uma historia será sempre um exercício de renovação da vida, um
encontro com a possibilidade, com o imaginário e o desafio de, em todo
tempo e em todas as circunstâncias de construir um final a maneira de
cada leitor. (BUENO; OLIVEIRA, 2011, p.04).

Portanto compreender a relação entre a contação de história e a sociedade se faz


necessário entender o atual modelo de educação em que vivemos como também o meio
social que o cerca. Segundo Bueno e Oliveira (2011, p.05),

22
Em uma sociedade tecnológica como a sociedade atual, contar e ouvir
histórias são uma possibilidade libertária de aprendizagem e uma atividade
de suma importância na construção do conhecimento e do desenvolvimento
ético e significativo da criança.

.
Assim podemos dizer que a sociedade atual não valoriza essa prática cultural
como algo que auxilie na promoção de uma transformação social e educativa do ser
infantil, como também em sua autonomia enquanto ser em constante aprendizado e
formador de opinião.

3.2 A Aprendizagem Significativa a Partir da Contação de História


O processo de aprendizagem da educação infantil se a partir de níveis e estágios
de aprendizagem¹1 que levam com que a crianças se desenvolvam de forma correta e
sem ultrapassar ou “queimar” nenhum nível, pois cada um dos níveis ou estágios de
aprendizagem pelos quais a criança passa é de suma importância para que ela absorva
de forma mais prática e rápida o que se está sendo ensinado.
Com a contação de história a criança aprende muito mais do que meramente só
ouvir história ela aprende a se socializar como o meio onde está inserida e se
desenvolve como um ser cultural e construtor de conhecimento. O ato de contar
histórias contribui simbolicamente no desenvolvimento e na ampliação das habilidades
que a criança possui: a de ouvir, falar, interpretar, socializar, entre outras.
Segundo Morin (2001, p.11 apud BARBOSA; SANTOS, 2009), “A missão
desse ensino é transmitir não o mero saber, mas uma cultura que permita compreender
nossa condição e nos ajude a viver, e que favoreça ao mesmo tempo, um modo de
pensar aberto e livre”. Abramovich (2003, apud, OTTE; KOVÀCS, 2013, p.03) também
vem partilhar dessa perspectiva quando ele afirma que:

[...] entende que ouvir e ler histórias é também desenvolver todo o


potencial crítico da criança. É poder pensar, duvidar, se perguntar,
questionar... É se sentir inquieto, cutucado, querendo saber mais e
melhor ou percebendo que se pode mudar de idéia... É ter vontade de
reler ou deixar de lado de uma vez [...].

De acordo com a leitura lida e ouvida e de como ela é narrada é que a criança
despertará o interesse de ouvir histórias e de recontá-las, fazendo com que se permita,

1 Para maior compreensão e aprofundamento consultar a obra de Emília Ferreiro e Jean Piaget.

23
de forma espontânea e natural, entender e participar de forma ativa do processo de
contação de história, em que ela poderá se questionar e questionar a quem está lendo
como e aonde acontece a história, para que ela possa recriá-la em sua imaginação.

[...] É através de uma história que se pode descobrir outros lugares,


outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outras regras, outra ética,
outra ótica[...] É ficar sabendo história, geografia, filosofia, direito,
política, sociologia, antropologia, etc [...] sem precisar saber o nome
disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula... Porque, se tiver,
deixa de ser literatura, deixa de ser prazer, e passa a ser didática, que é
outro departamento (não tão preocupado em abrir todas as comportas da
compreensão do mundo) (ABRAMOVICH 2003, apud, OTTE;
KOVÀCS, 2013, p.03).

Significantemente o processo de contação de história faz com que a criança


tenha um desenvolvimento pessoal e emocional que servirá de apoio por todo a sua
vida. Pois aprender a se relacionar e a comunicar-se de forma expressiva e
educadamente com o outro é algo que precisamos para bem viver em contato com o
como toda a sociedade da qual fazemos parte.
A contação de história desenvolve nas crianças além de várias outras habilidades
o sentimento, a afetividade, a criança sente prazer em ouvir uma história ou a recontá-la
oralmente na sua prática de socialização.

A literatura é importante para o desenvolvimento da criatividade e do


emocional infantil. Quando as crianças ouvem histórias, passam a
visualizar de forma mais clara sentimentos que têm em relação ao
mundo. As histórias trabalham problemas existenciais típicos da
infância como medos, sentimentos de inveja, de carinho, curiosidade,
dor, perda, além de ensinar infinitos assuntos (CARUSO, 2003 apud,
OTTE; KOVÀCS, 2013, p.04).

Neste sentido contar histórias é uma fonte de prazer e estímulo ao


desenvolvimento da criatividade, da criticidade e da aprendizagem. A criança ao ser
motivada a ouvir histórias desenvolverá o gosto por livros infantis que façam com que
elas possam olhar e recontar as histórias ouvidas e vistas por elas de uma maneira
própria, usando a criatividade e a sua criticidade para promover a socialização e a
interação com o contexto em que está inserida.
A contação de história é um elemento pedagógico que fortalece a prática do
ensino e da aprendizagem tanto para quem narra como para quem ouve. Deste modo,

24
vendo os contos de fada como “suporte metafórico”, Silva, Hermida e Calàbria (2009,
p.154), nos afirmam que:

Os contos de fadas ao mesmo tempo em que divertem, também


proporcionam momentos de aprendizagem, ajudando as crianças e os
adultos a perceberem o mundo do qual fazem parte, funcionando como
suportes metafóricos para uma construção simbólica desse mundo.

Assim os contos auxiliam em uma criação de um mundo fortemente feliz onde


tudo acaba bem, podendo assim os humanos ser mais felizes, onde as crianças
vivenciam uma realidade simbolizada pelos contos de fada, que direta ou indiretamente
promove a execução do processo pedagógico. “Sendo assim, podemos considerar os
contos de fadas como um instrumento pedagógico valioso, pois além de prazeroso,
auxilia no processo de simbolização vivenciada pela criança”. (SILVA; HERMIDA;
CALÀBRIA, 2009, p.154):
Fazer com que a criança sinta-se motivada a ouvir a contação de história e a
recriá-la a partir do que ela ouviu, de forma coerente e autônoma é necessário que ela
que tenha liberdade de expressão formada dentro de um processo dialógico em que a
criança participe ativamente das atividades direcionadas desenvolvendo assim a
oralidade e a imaginação.

Não existe uma receita pronta quando a construção é conjunta, quando


a criança participa autenticamente do processo e sua voz é escutada,
sendo por si mesmo, um sujeito ativo do processo educativo. O mais
importante é o processo de realização da conquista do conhecimento
de forma a considerar a criança não como receptora ou
decodificadora, mas como sujeito de processo, assim como mais
importante do que o conto de fadas é o ato de conta-lo e reconta-lo,
com criatividade e afetividade. (SILVA, HERMIDA; CALÀBRIA,
2009, p.155).

A aprendizagem significava não é apenas da criança que ouve, mas também do


narrador que ao ver a criança se desenvolvendo de forma criativa e crítica, a partir do
que ele narrou, se sentirá motivada a continuar pela procura de novas formas de
narração para chamar a atenção das crianças e as tornar sujeitos participantes do
processo de ensino e aprendizagem onde ambos aprendem e ensinam de forma criativa e
prazerosa. Assim nos afirma mais uma vez os autores Silva, Hermida e Calàbria (2009,
p.155):

25
A discussão do conto com as crianças devem buscar o posicionamento
e a participação efetiva delas, problematizando e buscando formular
perguntas geradoras para a discussão do texto narrado e possibilitando
a construção de novos textos com finais criados pelas crianças. A
ligação desse momento com as possibilidades de
interdisciplinaridades, de trabalhar diversas temáticas a partir de um
conto, é possível e conduz a uma ação pedagógica prazerosa. A
produção de novos contos, através da visão e da criatividade da
criança, motiva a construção e fortalecimento do sujeito leitor e
construtor de textos.

A contação de história, portanto, é uma forma de tornar a criança um ser mais


dinamizado com a sua realidade e de forma imaginária promover um espaço de diálogo
onde tanto o ouvinte como o narrador possam se expressar. Significativamente a
aprendizagem se dá em comunhão com o momento e o espaço onde a contação está
sendo feita, onde a imaginação tenha o poder do encantamento e da transformação
social. Pois a criança deve ser valorizadas por suas habilidades e ampliadas, tornando
possível a realização de sua aprendizagem por si só através de seu próprio interesse.

26
4. A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NO CONTEXTO EDUCACAIONAL
ESCOLAR
4.1 A contação de história e a escola

A contação de histórias no contexto educacional é algo de suma importância


para o processo de aprendizagem das crianças da educação infantil, pois a escola como
instituição que tem como objetivo o ensino e aprendizagem, no contexto humano e
social, entendemos que é a responsável pelo suporte pedagógico ação de contar história.
Para se contar história é necessário um espaço adequado que contribua para que
os alunos façam sua imaginação aflorar, para que seja possível realizar um processo de
mão dupla, onde o aluno que ouve a narrativa possa participar ativamente de forma oral
aos questionamentos da pessoa que lê a narrativa, ou seja, do professor contador de
histórias.
Tendo a contação de história como um ato cultural a sala de aula, como um
espaço socialização e facilitador da aprendizagem, promove a construção de uma prática
construída pelas próprias crianças, que de acordo com Kramer (2006, p.16, apud,
BRANDÃO, 2009, p.245): “[...] as crianças produzem culturas e são produzidas na
cultura em que se inserem (em seu espaço) e que lhes é contemporânea ( de seu
tempo)”.
Brandão (2009, p.245) complementa no sentido de ter a escola com espaço de
promoção das diversas linguagens que expressam cultura e pode sem trabalhadas na
contação de história:

Com isso, entende-se que a ação pedagógica precisa favorecer a


experiência das crianças com todas as manifestações de cultura:
música dança literatura, teatro, artes plásticas, entre tantas outras
expressões, como possibilidades de compreender o seu ser e estar no
mundo. No entanto, se faz necessário refletirmos sobre como a escola
tem garantido o acesso da criança a estas múltiplas linguagens.

Faz-se necessário a existência de meios e recursos eficazes que leve o aluno a


participar, interagir e interpretar o enredo das histórias e fazer relação com sua vida
cotidiana e das pessoas o seu convívio, curando-se de situações desagradáveis da sua
vida. E contribuir na realização de novas atividades lúdicas, é nessa compreensão que o
educador deve atuar como mediador no processo de contação de história de forma

27
abrangente e criativa, com recursos necessários, outras linguagens são desenvolvidas
ênfase na aprendizagem.
Por se tratar de uma atividade lúdica que trabalha diversas áreas do
conhecimento, e envolve outras linguagens além da oral, considera-se pertinente os
diversos recursos e diversas formas de desenvolver as linguagens que são exploradas
podendo contribuir na aprendizagem das crianças. Nos contos de fadas e por meio das
fábulas, as crianças ao ouvir, desenvolvem tanto a linguagem oral, corporal e a visual.
Movidos pela emoção a criança interpreta os personagens de forma lúdica e
prazerosa, as mesmas ao seu modo, usam sua criatividade. Praticando o que
apreenderam da história ouvida, as crianças se enchem de ideias ao ouvir uma história,
deste modo, diversas outras atividades surgem no contexto lúdico no momento em que
uma história é contada e ouvida.
A escola é um espaço em que a prática deve ser um elemento mediador da ação
com o educador e o aluno. Neste sentido podemos dizer que a escola deveria promover
mais espaço tanto físico como pedagógico na arte de contar histórias onde a criança
pudesse se sentir livre e autônoma ao interpretar e socializar uma história por ela ouvida
ou até mesmo criada.
Compreendendo que para o processo de aprendizagem se desenvolver de forma
positiva obtendo resultados favoráveis a aprendizagem das crianças, deve-se ter um
espaço adequado e favorável ao desenvolvimento cognitivo da criança, permitindo que a
mesma possa se sentir a vontade e ter liberdade para pensar, imaginar e criar e recriar as
histórias contadas e narradas, a sala de aula deve ser um espaço que favoreça e dê
suporte no processo pedagógico na realização da contação história como um espaço que
faça parte da história contada.
A contação de história na sala de aula é uma forma mais lúdica e dinâmica de
fazer com que a aula seja menos fadigada e cansativa e o aprendizado se torne mais
eficiente.
O processo de ludicidade é um ponto de suma importância para que a contação
de história em sala de aula seja mais emocionante e façam com que as crianças
interajam mais de forma participativa.

A ludicidade tem um papel de destaque no desenvolvimento cognitivo e


social da criança. Enquanto as crianças brincam, se desenvolvem e se
socializam, colocando-se diante da descoberta do seu verdadeiro papel
na sociedade através do narrar, do brincar e do jogo simbólico. Esse

28
envolvimento afetivo com a ludicidade contribui de forma efetiva para a
aprendizagem da leitura e escrita de forma prazerosa e significativa para
o mundo infantil. (SILVA; HERMIDA; CALÀBRIA, 2009, P.153).

A contação de história na sala de aula quando bem contada e explorada tem


relevância para todos que fazem parte do processo educativo. Para que a aprendizagem
aconteça é necessário que o espaço da sala de aula ofereça condições físicas para
locomoção das crianças, onde as mesmas possam criar seus espaços, a partir do
entendimento das histórias contadas, ou seja, onde elas possam interpretar oralmente,
fisicamente, através de encenação da história contada.
Dentro dessa perspectiva se faz preciso que o professor crie um espaço que
promova a contação de história na sala de aula fazendo com a criança se sinta a vontade
para se expressar e participar desse momento tão rico e prazeroso para todos que fazem
parte do processo educativo e da aprendizagem.

Certamente, o professor que tem por objetivo oferecer a seus alunos


uma educação que os preparem para a vida, precisa fazer com que sua
sala de aula seja um espaço promotor de aprendizagens significativas. A
contação de histórias, quando trabalhada de forma adequada, contribui
para que as crianças desenvolvam e ampliem habilidades essenciais
para sua vida pessoal e estudantil, pensa-se que esta é indiscutivelmente
uma prática digna de ser utilizada pelos professores dos anos iniciais.
(BARBOSA; SANTOS, 2009, p.32).

Dentro dessa perspectiva a contação de história também contribui para que a


criança possa conhecer e compreender mais sobre a sua realidade, o seu dia a dia,
fazendo uma relação entre a história contada e as práticas que elas fazem no seu
cotidiano. Assim complementa ainda Barbosa e Santos (2009, p.32):

Valorizando a ideia que a criança, ao escutar histórias de seu interesse,


é levada a fazer associações e relações desta com fatos e situações do
cotidiano, percebe-se que o ato de contar histórias possibilita que a
mesma tenha uma maior e melhor compreensão do mundo. Isto
facilitará e proporcionará a ela o desempenho de papéis sociais de
forma autônoma e crítica.

Compreende-se também que, aquele que conta a história também está apto a
aprender e isso faz com que a prática se torne mais prazerosa e torna o professor um

29
elemento formador, pois os alunos que gostam de ouvir e futuramente também lerão
histórias,
Considerando que o contador, através da leitura expressiva, estimula na
criança, com espontaneidade e encantamento, o gosto pela leitura, nota-
se que o professor contando histórias, durante sua prática educativa,
atua como um agente formador de alunos leitores, proporcionando e
permitindo que eles se tornem sujeitos ativos e responsáveis pela
construção de seus conhecimentos. (BARBOSA; SANTOS, 2009,
p.32).

A aprendizagem das crianças é elemento norteador no processo educativo, a


contação de história auxilia e muito no crescimento e na qualidade deste elemento.
Compreendendo o espaço como um elemento importante no processo de contação de
história, precisam-se formular meios que facilitem e promovam a contação de história
de forma lúdica e informativa, onde as crianças sejam capazes de transformar os contos
e as fábulas em um universo repleto de produção e transformação, no qual as crianças
sejam as protagonistas da produção de conhecimento e da realidade social em que estão
inseridas.

4.2 A Contação de História e os Educadores

Para se contar história na educação infantil se faz necessário que o narrador faça
a mediação entre o aluno e a narrativa a ser contada. O processo metodológico para
contar histórias tem sua relevância, pois dependo da maneira como se conduz esse
processo, é que a criança irá sentir prazer e vontade de participar ativamente em
conjunto com todos. Desse modo cabe ao educador, mediar de forma criativa o
momento da contação de história.

O ser criativo perpassa por uma atividade consciente do que quer fazer
ou encontrar nele uma solução ou forma de expressão. A criatividade é
um potencial intrínseco ao ser humano, e sua existência é inerente a ele,
porém deve ser cultivada através de problemáticas e temas que
incentivem o pensamento do estudante. (COSTA; CHAVES;
TEIXEIRA, 2012, P.97).

Afirma também SISTO (2005, p.30):

O exercício da escolha requer o exercício prévio de definição de


critérios, metodologias e objetivos que vão orientar a própria escolha.
Esse é um trabalho de pesquisa: ler muitas histórias, procurar, procurar,

30
até que apareçam aquelas que no digam coisas de uma forma toda
especial.

Sendo o processo de narrar história uma arte, é necessário que o educador,


profissional mediador, esteja preparado fisicamente, metodologicamente,
pedagogicamente e sentimentalmente para a realização desse momento. Pois sendo
assim as crianças irão despertar o interesse e prazer por ouvir histórias.

Contar histórias é uma arte. Muitas pessoas têm um dom especial para
esta tarefa. Mas isso não significa que pessoas sem esse dom
excepcional não possam tornar-se bons contadores de histórias. Com
algum treinamento e alguns recursos práticos qualquer pessoa é capaz
de transmitir com segurança e entusiasmo o conteúdo de uma história
para pequenos. (OTTE; KOSÀCS, 2013, p.05).

NASCIMENTO (2007, p.8), também afirma a importância da preparação do


mediador.

O narrador e a sua familiaridade com as histórias também são


importantes. Ao narrar um conto maravilhoso, por exemplo, é
muito mais importante conhecer e ser capaz de visualizar o
cenário em que ele se desenvolve do que saber as palavras exatas.
Saber de onde vem a versão que se está narrando é bom, mas
melhor ainda é saber trabalhar, criativamente, com os elementos
fornecidos pela narrativa, e ser capaz de levar o público a se
identificar e se interessar por ela. A escolha do repertório é
fundamental para um contador de histórias.

Os educadores devem receber uma formação que os ajude na narração de


histórias, pois, para se narrar um a história é necessário que o mediador desse processo
esteja preparado e domine o que está fazendo. A preparação sonora e a interpretação
corporal são de importantes para que a contação ocorra de forma desenvolta e positiva,
aos ouvidos e olhares das crianças.

É preciso esclarecer que existem diferenças entre contar, ler e


representar histórias, embora todas elas envolvam uma preparação e
uma performance mais ou menos elaborada. A forma como se vai
trabalhar depende de nossos gostos, de nosso estilo, de nosso objetivo...
e, antes de tudo, de nossa sensibilidade. De qualquer forma, o narrador
se beneficiará do domínio de algumas técnicas de voz e expressão
corporal, bem como –mais uma vez –do conhecimento profundo da
história e dos personagens. A sutileza é sempre preferível ao exagero.
(NASCIMENTO, 2007, p.9).

31
Sisto (2005, p.45-46) nos traz como três elementos que auxiliam na contação de
história a voz, os gestos e o olhar.

O contador de histórias deve encarar a voz como um prolongamento do


corpo, como um membro a mais. Com a voz também se toca, se tateia,
se abraça, se soca, se afaga, se acaricia... [...] a arquitetura do corpo é
hereditária, e todo o arsenal de gestos que usamos no nosso dia-a-dia é
marcado cultural e socialmente... [...] o contador de história tem um
olhar diagnostico que e múltiplo:1)olha para o publico; 2) olha para
dentro dele mesmo; 3) olha para as imagens mentais da história que ele
está contando.

Pensando em potencializar a qualidade da contação de história seria necessário


que tivessem à disposição dos educadores cursos preparatórios que estabelecessem uma
ordem e uma maneira mais eficaz para a construção de uma metodologia que favoreça
tanto o narrador como o ouvinte que depois se tornará o próprio narrador.
Um aspecto essencial para que a contação de história seja positiva é a forma de
como o narrador prepara a sua dramatização. Para isso ele tem que conhecer o texto a
ser narrado.
Como um colecionado que conhece a fundo cada peça de sua coleção, o
contador de historia há de reconhecer cada parte da estrutura de uma
história que ele conta. É a familiaridade, pelo estudo, com as partes do
conto que vai permitir trabalhar uma história com coloridos diferentes
para cada movimento. [...] perceber um história, como se percebe a
batida do coração e os estímulos nervosos do cérebro, não é apenas
decodifica-la, é recheá-la de vida e de humanidade. E a arte tenta, a todo
o momento, reencontrar essa fonte original. (SISTO, 2005, p.30-31).

O mediador, facilitador do processo de contação de história tem que se mostrar


motivado para passar para os seus ouvintes a magia e o poder da imaginação, aguçar a
imaginação a criatividade e a participação das crianças no momento é função do
narrador. Ele tem que passar o sentimento de prazer, não só passar como também sentir
o prazer ao realizar a narração. Pois dessa forma as crianças se sentiram mais a vontade
a intervirem de forma a somar ao que está sendo narrado.
Considerando o papel do educador de suma importância nesse processo de
mediação do conhecimento e de construção do ato social de se relacionar, afirmamos
que o ato de contar e ouvir história tem significativamente um teor sentimental e
expressivo.
Segundo Kramer et al, (2009, p.85):

32
A dinâmica do trabalho do professor é sustentada principalmente pelas
relações que estão estabelecidas com as crianças e entre elas. Para se
construa um ambiente de confiança, cooperação e autonomia, as formas
de agir dos professores precisam estar pautadas por firmeza, segurança
e uma relação afetiva forte com as crianças.

O que a autora nos transmite significa que o educador deve gostar do que faz
como também está preparado para executar a atividade de forma segura e precisa,
passando para os alunos o real sentido do que está sendo narrado, criando e fortalecendo
laços afetivos com os seus alunos.
A formação do educador tem que ser contínua, pois à medida que a sociedade
muda também muda os costumes e os valores que são ensinados as crianças, dentro de
um aspecto social, podem dizer que a escola atualmente é responsável pela educação
moral e social da criança, é quem forma para vida e para a sociedade, seja para a
humanização como para o mercado de trabalho no modelo tecnicista.

33
5. METODOLOGIA

5.1 Pesquisa Bibliográfica

Esta pesquisa é de teor bibliográfico que traz como contribuição para elaboração
desse trabalho os pensamentos dos seguintes autores: Silva; Hermida e Calàbria, (2009),
Severino (2007), Santos (2005), Barbosa; Santos (2009), Sisto (2005), Nascimento (2007),
Otte e Kosàcs (2013), Costa; Chaves; Teixeira (2012), Bueno e Oliveira (2011), Silveira
(2012) e Gotlib (2006).

5.2 Caracterização da Pesquisa

Realizar uma pesquisa requer muita atenção e domínio do que se está


pesquisando, ou ao menos saber o que se quer alcançar com a pesquisa sobre
determinado assunto. O pesquisador tem a oportunidade de conhecer melhor o tema e se
aprofundar ainda mais no objeto de estudo.
Compreendendo que a pesquisa é uma forma de aprender e descobrir o que não
sabemos e nem conhecemos, a temos como uma prática de absorção de conhecimento,
que segundo Selttiz et al. (1995, p.5, apud, MARCONE; LAKATOS, 2011, p.2) “A
finalidade da pesquisa é descobrir respostas para questões, mediante a aplicação de
métodos científicos”.
A pesquisa como elemento de compreensão de um objeto de estudo é algo
fundamental no clareamento das ideias e na construção de um trabalho científico. A
pesquisa bibliográfica é uma referência que utilizamos para teorizar e afirmar conceitos
anteriormente já estudados. Segundo Severino (2007, p.122):

A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro


disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos
impressos, como livros, artigos, teses e etc.Utiliza-se de dados ou de
categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e
devidamente registrados.

E nos afirma ainda Marcone e Lakatos (2011, p.57):

A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda


bibliografia já tornada pública em relação ao tema se estudo, desde

34
publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas,
monografias, teses, material cartográfico etc., até meios de
comunicação orais: rádios, gravações em ita magnética e audiovisuais:
filmes e televisão. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato
direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado
assunto, inclusive conferencias seguidas de debates que tenham sido
transcritos por alguma forma, quer publicadas quer gravadas.

Ao tratar de uma pesquisa bibliográfica como um elemento fundamentador


teórico, para que junto com outros autores enriqueça e reafirmem o que o pesquisador
está querendo informar em sua pesquisa, Lima e Mioto (2007, p.44) compreende que:

Ao tratar da pesquisa bibliográfica, é importante destacar que ela é


sempre realizada para fundamentar teoricamente o objeto de estudo,
contribuindo com elementos que subsidiam a análise futura dos dados
obtidos. Portanto, difere da revisão bibliográfica uma vez que vai além
da simples observação de dados contidos nas fontes pesquisadas, pois
imprime sobre eles a teoria, a compreensão crítica do significado neles
existente.

Desse modo a pesquisa bibliográfica é uma fonte que contribui com o


pensamento do pesquisador a construir um texto reflexivo ou analítico. “Os textos se
tornam fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das
contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dos textos”. (SEVERINO,
2007, P.122).
Com o avanço da tecnologia, outro meio de realizar a pesquisa bibliográfica é
através da Internet, visto que a mesma dispõe de uma diversidade de acervo relacionado
à educação, pois segundo Santos (2005, p.42):

A Internet possibilita a utilização de uma variedade de técnicas na busca


de informações para realização da pesquisa bibliográfica. Dentre as
técnicas de busca mais comuns, está a localização de materiais
bibliográficos recuperados através do nome do autor, título ou assunto
das obras.

Assim compreendemos que a tecnologia também tem a sua função e a sua


importância acerca da pesquisa, e contribui muito, pois é prática, rápida e facilita a
pesquisa.

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A pesquisa bibliográfica é feita a partir da reflexão, análise e compreensão de
outros autores, onde o pesquisador pode se aprofundar e relacionar o seu pensamento
com os demais.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreendendo que a contação de história é uma arte de origem popular e que


há muitos anos vem contribuindo com interação e a socialização entre as pessoas, que
ao se encontrar ao redor de uma fogueira contavam histórias que relembravam o
passado, servindo várias vezes como lição de moral, percebemos a partir dessa pesquisa
bibliográfica, a mesma é uma atividade de grande importância para o contexto
educacional brasileiro, principalmente na educação infantil, em que as crianças irão
possuir o primeiro contato com o universo escolar, pois a contação de história exerce a
capacidade de despertar nas crianças a vontade de aprender de uma forma mais
prazerosa e espontânea.
Nota-se que esta aprendizagem se dá a partir de uma coletividade, pois em sala
de aula as crianças interagem umas com as outras, onde a contação de história é
reproduzida e recriada da maneira que elas entendem e socializam esse entendimento.
Neste ponto, tendo como aporte teórico autores que estudam o universo literário
infanto-juvenil, percebeu-se que a contação de história não ajuda somente o
desenvolvimento da criança no aspecto educacional, mas também, no social e
emocional.
Os autores apresentados nesta pesquisa nos faz entender que a contação de
história é uma atividade que, ano após ano, vem ganhando novas formas de ser
realizada, antes era só uma roda em torno à uma fogueira, hoje, ganha maior dimensão
no espaço educacional, como também no social, através das pessoas que
voluntariamente fazem crianças felizes em alguns hospitais, algumas instituições
filantrópicas com o simples ato de contar uma história. Percebeu-se que os autores
defendem a contação de história como algo mágico, onde os personagens ganham
formas e vidas, e quem conta as histórias demonstram prazer, alegria e muito amor, pois
a contação de história também é um ato de amor e gesto de carinho e afeto.
Mesmo diante da dimensão relatada podemos dizer que muito ainda tem de ser
feito, pois vivemos em uma sociedade cercada pelas tecnologias e facilmente acessada
pelas crianças, onde a mesma contribui para desvalorização dessa atividade tão
importante para o desenvolvimento cognitivo da criança deste modo, muitas crianças só
tem a oportunidade de ouvir histórias quando estão no âmbito escolar.
Para melhorar a contação de história deve-se:
 Buscar formação continuada específica para os contadores de história;

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 Introduzir a contação de história periodicamente na sala de aula com
atividades lúdicas, diversificadas e interdisciplinares;
 Planejar e organizar com atenção cada atividade que envolva a contação
de história;
 Explorar e utilizar os recursos disponíveis na escola, nos momentos da
contação de história;
 Inovar a metodologia com diversos gêneros textuais e materiais
adequados à faixa etária do publico expectador;
 Organizar bem o espaço do cantinho da leitura com cartazes atrativos e
vários gêneros literários, colocar tapetes, travesseiros, bichinhos de
pelúcias, em fim, preparar o espaço e torná-lo atrativo e aconchegante
para os alunos da educação infantil;
Dentro deste cenário a escola tem que buscar meios que promovam a prática da
contação de história em sala de aula, tornando-a mais interessante e despertando a
curiosidade das crianças a aprender a ter mais criatividade e imaginação para criar e
recriar as histórias ouvidas. A escola tem que dar meios para que os
professores/contadores de história preparem as crianças como seres sociais que
busquem a interação e o trabalho coletivo entre elas, em que a socialização e a
humanização sejam valorizadas. Os contos de fadas e as fábulas são maneiras lúdicas
nas quais as crianças podem conhecer os problemas sociais, as decepções, as alegrias,
tirando lições de vida.
Sendo assim, a escola em seu setor pedagógico deve criar meios de incluir no
currículo atividades que promovam a contação de história como proposta pedagógica a
ser trabalhada em sala de aula, através de um projeto de leitura, que incentive a
educação infantil a ouvir história e recriá-las de acordo com o seu potencial,
promovendo a interação com os colegas na escola. Outra atividade, que o setor
pedagógico deveria promover seriam rodas de contação de histórias que ajudassem as
crianças a compreender de forma mais divertida a narrativa.
Assim como o setor pedagógico a escola também deve dar subsídios ao
educador, para que ele possa realizar o seu trabalho de forma mais lúdica e dinâmica,
com a utilização de fantoches, dramatizações e apresentações sobre a história que está
sendo contada, pois o visual chama a atenção das crianças e faz com que as mesmas
assimilem a cena visualizada por elas, despertando o imaginário da criança.

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Diante do que fora pesquisado, entende-se que a contação de história acontece
de forma espontânea e que contribui na aprendizagem das crianças da educação infantil,
sendo necessário que todo o corpo envolvido na escola e na realização desta ação
participe e planeje de forma coletiva, tendo como objetivo promover um ensino de
qualidade e que priorize o bem estar da criança, desenvolvendo a sua aprendizagem e
habilidades como ouvir, falar, socializar, a comunicar-se e a ter mais expressões críticas
e construtivas.
Portanto a contação de história é um elemento de suma importância para o
universo infantil, que começou a ter destaque dentro da sociedade que vivemos, pois a
partir delas, as crianças são capazes de pensar, agir, criar e questionar sobre a situação
em que vive. Sabendo que as crianças desenvolverão sua criatividade, oralidade,
sociabilidade e interatividade.

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REFERÊNCIAS

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histórias para crianças dos anos iniciais. Revista FACEVV, Vila Velha, n.03, jul./dez.,
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