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INICIAÇÃO CIENTÍFICA

NA EDUCAÇÃO BÁSICA
UMA FERRAMENTA DE ENSINO TRANSDISCIPLINAR

FRANÇOISE LIMA
TIAGO OLIVEIRA
RAPHAEL BENDER
ALENA MELO
S c i A r t
Organização
Françoise Lima

Produção de conteúdo
Françoise Lima
Tiago Oliveira
Raphael Bender
Alena Melo

Revisão Final
Elizabeth Lima

Projeto Gráfico e Diagramação


Françoise Lima

Apoio
Secretaria da Educação da Ciência e Tecnologia - Paraíba
Programa Gira Mundo
Häme University of Applied Sciences - Hamk, Finland
EEEFM Prof. Antônia Rangel de Farias - João Pessoa/PB
ECI EFM Prefeito Williams de Sousa Arruda - Campina Grande/
PB
EEEFM Professor José Baptista de Mello - João Pessoa/PB
CEEP Prof. Lourdinha Guerra - Natal/RN
SciArt
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Iniciação científica na educação básica [livro eletrônico]: uma ferramenta


de ensino transdisciplinar / Françoise Lima...[et al.]. -- Parnamirim,
RN : Ed. dos Autores, 2022.
PDF

Outros autores: Tiago Oliveira, Raphael Bender, Alena Melo


Bibliografia.
ISBN 978-65-00-38888-6

1. Abordagem interdisciplinar do conhecimento na educação 2.


Educação - Brasil 3. Educação básica
4. Pesquisa educacional I. Lima, Françoise. II. Oliveira, Tiago. III. Bender,
Raphael. IV. Melo, Alena.

22-105187 CDD-370.78
QUEM SOMOS?
Françoise Dantas de Lima é formada em
Ciências Biológicas pela Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (UFRN), mestre em
Ecologia Aquática e doutora em Sistemática e
Evolução também pela UFRN e James Cook
University, Austrália. Atua como professora de
Ciências e Biologia da educação básica pelo
governo da Paraíba, na cidade de João Pessoa.
Participa de projetos que visam a implementação
da Iniciação Científica no ensino básico, como
ferramenta de educação transdisciplinar.

Tiago Oliveira é formado em Ciências


Biológicas pela Universidade Estadual da Paraíba
(UEPB), mestre em Genética e Biologia
Molecular pela Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP). Apaixonado pela
pesquisa e ensino. Na primeira, com foco em
biologia molecular vegetal e estudos da interação
planta-patógeno. Na segunda, com foco em
metodologias ativas, em especial, a
Aprendizagem Baseada em Problemas e Projetos.
Atualmente atua como professor de Ciências e
Biologia do Estado da Paraíba. Também
apaixonado pelo estudo de línguas nórdicas.
Raphael Bender Chagas Leite é graduado em
Ciências Biológicas pela Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (2007), mestre em
Psicobiologia pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (2011) e doutor em
Neurociências pelo Instituto do Cérebro da
UFRN. Tem experiência em eletrofisiologia,
atuando principalmente nos seguintes temas:
percepção musical, memória operacional e
criatividade. Atualmente é professor da rede
básica estadual de ensino (RN) e desenvolve um
projeto de pós-doutorado no Programa de Pós-
graduação em Ensino de Ciências e Matemática.

Alena Sousa de Melo possui graduação em


Ciências Biológicas pela Universidade Federal da
Paraíba (UFPB), é especialista em Fundamentos
d a E d u c a ç ã o - Pr á t i c a s Pe d a g ó g i c a s
Interdisciplinares pela Universidade Estadual da
Paraíba (UEPB) e mestre em Ensino de Biologia
pela UFPB. Atuou também como redatora do
componente curricular de Biologia na Proposta
Curricular do Ensino Médio do Estado da
Paraíba (PCEM), área de Ciências da Natureza e
suas Tecnologias. Atualmente é Professora
efetiva de Biologia da Rede Estadual de Ensino
da Paraíba desde 2013 até os dias atuais e
professora colaboradora na TV Paraíba Educa.
APRESENTAÇÃO
Os fenômenos biológicos, físicos e sociais estão constante e
simultaneamente ocorrendo no mundo em que vivemos. A
segmentação disciplinar tradicional parece não mais ser eficiente
para a compreensão desses fenômenos, pois promove a
fragmentação do conhecimento e dificulta a interpretação dos
p r o c e s s o s d e m a n e i r a h o l í s t i c a e c o n t ex t u a l i z a d a . A
transdisciplinaridade busca romper as fronteiras entre as disciplinas
clássicas com o objetivo de compreender o mundo presente, para o
qual um dos imperativos é a unidade do conhecimento.
A aplicação de projetos de iniciação científica (IC) na Educação
Básica através de temáticas de ordem transdisciplinar, além de
auxiliar no desenvolvimento do pensamento crítico, investigativo e
trabalho em equipe, ainda colabora com o processo de
desenvolvimento de um conhecimento holístico que permite ao
aluno avaliar o mundo que o cerca sob diferentes óticas.
Esse material foi produzido pensando em auxiliar professores da
Educação Básica a aplicar a IC no processo de ensino-aprendizagem,
visando aprimorar o letramento científico dos alunos e desenvolver
o pensamento crítico e criativo.
SUMÁRIO
➤ Multidisciplinaridade,
Pluridisciplinaridade, Interdisciplinaridade
e Transdisciplinaridade 9

➤ O que é iniciação científica? 11

➤ A importância da iniciação científica na


educação básica 12

➤ Como articular um projeto de pesquisa? 15

➤ Metodologias ativas e a IC 20

➤ Trabalhando a iniciação científica na


comunidade escolar 25

➤ Conclusões 35

➤ Referências Bibliográficas 36
MULTIDISCIPLINARIDADE, PLURIDISCIPLINARIDADE,
INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSDISCIPLINARIDADE

Para entender como a IC pode ser aplicada nas escolas através


de uma abordagem transdisciplinar, vamos primeiro entender
as diferenças entre esses importantes conceitos.

Multidisciplinaridade
Estudo de um tema por várias disciplinas ao mesmo tempo.
Entretanto, não há uma discussão integrada e cada professor
articula sua própria metodologia de ensino.

Pluridisciplinaridade
O mesmo elemento também é estudado em várias disciplinas,
com uma maior cooperação entre elas, mas ainda não há
sobreposição de saberes, nem discussão integrada dos
resultados.

9
Interdisciplinaridade
Reduz a setorização do conhecimento através da interação de
diversas disciplinas possibilitando uma compreensão mais
unificada de um tema. Nesse processo há coordenação e
reciprocidade, objetivando uma discussão geral do
conhecimento.

Transdisciplinaridade
Propõe uma integração global das várias disciplinas, na qual
fica difícil delimitar em qual momento uma começa ou
termina. É uma abordagem holística que promove a
sobreposição dos saberes visando uma compreensão unitária
da temática abordada.

É importante frisar que nenhum dos conceitos nega as


disciplinas, ou seja, são complementares à abordagem
10 disciplinar, pois nelas estão ancorados.
O QUE É INICIAÇÃO
CIENTÍFICA?
A Iniciação científica (IC) é a primeira experiência do aluno
com a produção de conhecimento através do desenvolvimento
de um projeto de pesquisa.

Essa modalidade de ensino busca uma poderosa ferramenta na


despertar o interesse do aluno para construção do letramento
metodologias científicas e técnicas científico dos alunos, integração
utilizadas na geração de novos com outros setores do
conhecimentos ou aprimoramento conhecimento, contribuindo para a
de conhecimentos prévios. Esse formação de cidadãos autônomos e
processo precisa seguir regras críticos. Sob o ponto de vista
e s p e c í fi c a s e c r i t é r i o s p r é - transdisciplinar, a IC científica
estabelecidos para que o pode promover uma visão e
conhecimento gerado seja confiável interpretação holística de
e aplicado de forma eficiente. Os fenômenos naturais, tendo o poder
projetos de IC são conduzidos por de mobilizar diversas disciplinas
um orientador, geralmente o em busca da compreensão integral
professor, que auxilia o aluno a d o p r o c e s s o e s t u d a d o . Po r
realizar questionamentos, formular exemplo, se consideramos um
hipóteses, buscar metodologias pequeno experimento sobre uma
para desenvolver sua ideia, h o r t a e s c o l a r, a p l i c a r m o s
executar e discutir os resultados. diferentes métodos para o
Esses projetos não precisam ser crescimento de vegetais, podemos
complexos nem dispendiosos. discutir não só a importância da
Utilizando a criatividade e vários ciência no processo, mas também
fenômenos que nos rodeiam, o caráter ecológico,
podemos estimular a observação e socioambiental, ético e econômico
11 experimentação científica como a partir da experiência realizada.
A IMPORTÂNCIA DA IC NA
EDUCAÇÃO BÁSICA

A pesquisa científica associada ao ensino na educação básica traz


muitos benefícios para o jovem aluno e ajuda no desenvolvimento
de diversas competências e habilidades, como pensamento crítico,
criatividade, colaboração e letramento científico. Vamos conferir
mais algumas dessas vantagens.

Provoca a curiosidade
O aluno com experiência em iniciação científica é
condicionado a observar mais atentamente o mundo ao
seu redor, as formas, fenômenos e comportamentos. A
prática científica os levam a fazer do cotidiano uma
constante provocação do saber.

Desenvolve o questionamento
A curiosidade começa a despertar o questionamento.
Os alunos começam a imaginar as razões por trás de tal
fenômeno ou o que faz os sistemas naturais
funcionarem de forma harmônica. Assim, eles são
levados a pensar ativamente em soluções e buscam
respostas que levem a compreensão de si e do mundo.
Obviamente o exercício de questionar transpassa as
fronteiras científicas e os fazem observar e questionar
seu próprio papel como cidadão na sociedade em que
estão inseridos.
12
13

Autonomia do pensamento e protagonismo

Quando você resolve um problema, muitas vezes se


sente orgulhoso, confiante, não é mesmo? Então, os
seus alunos também podem se sentir assim mais
frequentemente.
Durante o desenvolvimento de projetos de IC, os
alunos irão se debruçar sobre possíveis resoluções de
uma questão de ordem prática que faz parte do seu
mundo cotidiano. Ao desenvolver a habilidade de
solucionar problemas contextuais através da pesquisa
científica, os alunos ganham autoconfiança e
sistematização do pensamento.
Considerando a adolescência, fase em que a
personalidade e os comportamentos estão sendo
moldados, a habilidade de tomar decisões,
proporcionada com o método científico, tem impacto
positivo, pois confere ao adolescente sucesso nas
escolhas futuras, como carreira, decisões pessoais e
pertencimento social.
Vale salientar que a aplicação da IC no ensino básico
também prepara melhor os alunos para a universidade,
pois além de lhes serem apresentados inúmeras áreas
do conhecimento, eles já estarão familiarizados com o
método científico, podendo se destacar durante a
graduação.
Compreensão holística de fenômenos

Estamos acostumados a estudar o mundo através de


compartimentos disciplinares, o que dificulta a nossa
percepção de que os fenômenos ambientais ocorrem
de forma integrada. Não dá para apontar em qual
momento termina a física e começa a química ou a
biologia no processo de formação da chuva, por
exemplo. A natureza é uma entidade unitária e
devemos praticar a integração do conhecimento para
uma melhor compreensão do universo.
A pesquisa científica transdisciplinar proporciona ao
aluno essa percepção de integridade dos fenômenos,
pois nenhum conteúdo sozinho explicaria as causas de
determinado evento.

Promove a responsabilidade social

A prática constante da IC no ensino básico contribui


para uma formação cidadã adequada, gerando um
fluxo de conhecimentos e mudanças comportamentais
que penetram na sociedade, a qual passa a ser
constituída de pessoas portadoras de um pensamento
crítico e criativo.
Dessa forma, a médio e longo prazo, essa prática tende
a beneficiar a cooperação entre os novos cidadãos
formados e o discernimento na tomada de decisões
que afetam o coletivo.

14
Redução do negacionismo científico
Atualmente nos deparamos com um problema sério que pode
afetar a sociedade como um todo, o negacionismo científico. É
comum vermos pessoas negando a eficácia da vacina, falando
que a Terra é plana ou que não existe aquecimento global. Essa
onda de pensamento pode trazer consequências devastadoras
para a humanidade, como a volta de doenças já controladas ou
o colapso do clima no planeta. Essa condição é, dentre outros
motivos, gerada pela inabilidade de relacionar fenômenos e
concebê-los em sua integridade.
A pessoa acredita que a Terra é plana porque diz não ver a
curvatura da planeta, ou seja, não consegue sistematizar um
pensamento além do alcance de sua visão. Dessa forma,
precisamos do letramento científico para formar cidadãos
capazes de desenvolver um raciocínio transdisciplinar que atue
de forma assertiva em prol do desenvolvimento socioambiental
sustentável.

Vantagens também para os professores

A pesquisa científica associada ao ensino também é uma ótima


oportunidade para que o professor se aproprie de novos
conhecimentos e se mantenha atualizado sobre o que está
acontecendo no mundo. Ao longo de todo esse processo, o
docente irá incrementar sistematicamente o seu repertório de
habilidades profissionais de uma forma tão natural que ele
nem perceberá. A criatividade, capacidade de resolução de
conflito, espírito de liderança são dentre as características que
surgirão nesse novo professor reinventado pela prática
científica nas escolas.
Ao final de tudo, o professor entenderá que aprendeu a ensinar
a aprender.
15
COMO ARTICULAR UM
PROJETO DE PESQUISA?

A pesquisa científica busca encontrar, discutir e dialogar sobre


resultados de uma pergunta inicialmente proposta. Entretanto, é
fundamental a sistematização desse processo, desde a concepção
da ideia, coleta de dados até a conclusão final, pois raramente a
pesquisa terá êxito se for conduzida sem planejamento e de
forma aleatória.

Para um norteamento teórico-metodológico de um projeto de


pesquisa é necessário seguir o método científico, ou seja, regras
básicas usadas na condução do projeto e produção do
conhecimento. O método garante que o experimento possa ser
entendido em sua completude, replicado se necessário e, por
fim, gerar dados confiáveis.

Os temas de pesquisa podem ser escolhidos numa parceria entre


professores e alunos e podem incluir uma simples observação e
explicação de fatos do cotidiano escolar, resolução de problemas
no bairro ou cidade e até inovações tecnológicas.

16
Muitas pessoas costumam confundir os conceitos de pesquisa
científica, projeto de pesquisa e relatório de pesquisa. Vamos então
entender cada um deles.

Pesquisa científica

Conjunto de atividades que visa à construção ou


aprimoramento do conhecimento. Ela tem a finalidade
de solucionar e esclarecer as perguntas inicialmente
idealizadas e comprovar hipóteses a serem testadas ao
decorrer de um projeto de pesquisa.

Projeto de pesquisa

Objetiva documentar e planejar sobre a investigação de


um tema escolhido para pesquisar, ou seja, é
sistematizar e colocar adiante um conjunto de ideias
para execução de uma obra ou pesquisa.

Relatório de pesquisa

É o produto final de todo esse processo. Consiste em um


documento que traz os fatos resultantes de um projeto
de pesquisa. Nele deve conter todo o percurso até a
obtenção dos resultados e uma discussão embasada,
integrada e relevante. Também pode ser escrito em
formato de artigo científico.

17
Um bom projeto de pesquisa deverá:

Planejar com critério, juntamente com uma equipe,


todo o caminho a ser percorrido durante o processo de
investigação científica.

Orientar, tirar dúvidas e estimular os alunos-


pesquisadores antes, durante e após o
desenvolvimento da pesquisa.

Comunicar/divulgar os propósitos e resultados obtidos


para as diferentes comunidades científicas e/ou
escolares.

Discutir e dialogar sobre como os resultados


alcançados podem viabilizar a construção de novos
conhecimentos e integração dos saberes.

Vamos então entender as diferentes etapas da elaboração e


execução de um projeto de pesquisa.

18
PROJETO Respostas pro-
DE PESQUISA visórias às per-
gunta inicial-
mente formulada.
Ao final do exper-
imento, as hipó-
teses serão nega-
das ou compro-
vadas. HIPÓTESES
Levantamento de
informações prévias
sobre o tema para
embasar a proposta
da pesquisa. Leitura
de artigos, livros,
material da internet,
etc.
REFERENCIAL
É uma apresentação
TEÓRICO geral sobre o assun-
to que se pretende
investigar. Uma
primeira delimi-
tação dentro de
uma área de
pesquisa.
INTRODUÇÃO
Exposição sucinta
das razões de
ordem teórica e
prática que tornam
importante a real-
ização da pesquisa.
JUSTIFICATIVA
Demonstram a
finalidade do
trabalho de pesqui-
sa, o que se quer
alcançar ao final do
projeto. Há o objeti-
vo geral e os espe-
cíficos.
Descreve o que OBJETIVOS
será feito (métodos)
e como será feito
(técnica) para se
obter os resultados
esperados, ou seja,
como os objetivos
estabelecidos serão
alcançados
METODOLOGIA Consiste na
distribuição das
diversas etapas da
pesquisa ao longo
do tempo. Geral-
mente é apresenta-
do em formato de
tabela. CRONOGRAMA
Lista de todas as
fontes de pesqui-
sa usadas para
embasar o que
foi escrito e
discutido. Devem
ser listadas em
ordem alfabética.
CONCLUSÕES
As lições científicas, sociais e
BIBLIOGRAFIA filosóficas que foram aprendi-
das após análise e discussão
dos resultados. Deve promover
19 a reflexão e crítica acerca de
determinado tema.
METODOLOGIAS
ATIVAS E A IC
Diante das novas demandas mais à escolarização formal.
educacionais, um conceito Moran (2015) ressalta que a
passa a ser recorrente no sociedade do conhecimento se
tocante aos processos de ensino baseia nas competências
e aprendizagem: metodologias cognitivas. Tais competências
ativas, definidas por Moran e exigem plena interação com o
Bacich (2018) como sendo objeto do estudo, de forma
aquelas que “dão ênfase ao colaborativa, participativa e
papel protagonista do aluno, ao criativa. No ensino de Ciências,
seu envolvimento direto, o engajamento de estudantes
participativo e reflexivo em deve ser facilitado por meio de
todas as etapas do processo, metodologias que dialogam
experimentando, desenhando, com o modo com o qual os
criando, com orientação do estudantes criam redes de
professor ” e que oferecem interações, seja no ambiente
situações de aprendizagens, nas físico, presencial, ou no
quais o estudante conduz seu ambiente virtual, online. A
ritmo de aquisição do simples disposição dos
conhecimento. Sobretudo em mobiliários de uma sala de aula
uma sociedade que está a cada pode favorecer ou dificultar o
dia mais conectada em espaços fluxo de colaboração entre os
virtuais, os espaços de estudantes.
20 aprendizagem não se limitam
Dentro do conceito de metodologias ativas, podem ser
organizadas modalidades de ferramentas que trazemos
aqui como sugestão:

Gamificação

Atividades que utilizem a dinâmica ou a linguagem dos


jogos, com sistemas de desafios e recompensas são
ferramentas que envolvem e motivam os estudantes. A
utilização de jogos muitas vezes pode intimidar o
professor que não tenha familiaridade com a ferramenta,
ou que sintam-se desencorajados por acreditar que são
atividades que demandam tempo e recursos. Contudo, o
professor não precisa necessariamente produzir jogos.
Lançar um desafio ou promover atividades que exijam a
mecânica utilizada em algum jogo, ou estimular que
estudantes confeccionem jogos relacionando cotidiano e
ciência pode ser extremamente estimulante.

O Quizizz e o Kahoot são exemplos de plataformas online


com jogos educacionais. Ao clicar na imagem você será
redirecionado para a página oficial das plataformas de
jogos. Fonte: Quizizz e Kahoot, respectivamente.

21
Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP)
e Aprendizagem Baseada em Problemas
(ABPr)

A Iniciação Cientifica necessita que os estudantes se


identifiquem com a Ciência. Contudo, não basta ter o
interesse se o estudante não compreendeu os processos que
levam às soluções de problemas em Ciências. Dessa forma,
o letramento científico pode ser promovido por meio de
questões problematizadoras e da elaboração de projetos
com vistas à solução de problemas encontrados no contexto
escolar ou da comunidade, e que sistematizem todos os
passos necessários para ser viabilizado. O estudante vai ter
então que aprender na prática a metodologia científica e se
perceber como atuante nas decisões e dilemas éticos no
fazer científico.

Nesse contexto, As ABP e ABPr são metodologias de ensino


que promovem a construção do conhecimento através de
um processo investigativo que visa responder uma
pergunta, problema ou desafio.

22
Aula invertida

A aula invertida, como o nome sugere, estabelece um


modelo no qual a aula expositiva não deve preceder o
aprendizado. Essa abordagem pode convergir com o
ensino híbrido, no qual o estudante pode ter acesso
prévio aos materiais (vídeos, infográficos, roteiros,
textos, artigos, entre outros) que serão discutidos em
aula. A ideia é que após a consulta, em sala os
conhecimentos sejam colocados em prática e o professor
ganha o papel de orientador na elaboração e condução de
projetos e percursos de aprendizagem.

Estudos de caso

Estudos de caso são muito utilizados como ferramentas


em cursos de graduação da área de saúde e ciências da
natureza. Na educação básica, essa ferramenta também
pode ser utilizada para promover o Letramento
Científico. Como exemplo, pode-se utilizar problemas
ambientais como temas geradores para iniciar uma
situação investigativa, ao passo que os estudantes vão
relacionando os problemas com fatores de ordem política
e social. Dessa forma, os alunos podem aprofundar o
conhecimento sobre o tema/problema e gerar
embasamento para debater seus futuros projetos de
pesquisa.

23
As categorias listadas são algumas das diversas modalidades
que podem ser incluídas nos planos de aula que se pretendem
alcançar a Iniciação Científica como um dos Eixos
Estruturantes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). É
relevante esclarecer que não existe fórmula pronta ou currículo
pré-estabelecido que venham a assegurar a aprendizagem dos
estudantes. A variedade de métodos e o acompanhamento do
professor ao longo do processo serão determinantes para que o
desenvolvimento integral dos estudantes corresponda com as
aprendizagens essenciais que se deseja desenvolver.

As ferramentas digitais têm sido importantes aliadas na


aplicação de metodologias ativas, pois se traduz numa
linguagem objetiva, dinâmica e familiarizada pelos alunos.
Dessa forma, diversos aplicativos e plataformas digitais vem
sendo desenvolvidos para auxiliar professores no processo de
ensino-aprendizagem. Alguns deles:

Algumas dicas de aplicativos e plataformas que podem auxiliar os professores e alunos na


construção do conhecimento. São jogos, quizzes, provas virtuais, banco de dados, etc. Ao
clicar em qualquer imagem você será redirecionado para a página oficial das plataformas
dos aplicativos.

24
TRABALHANDO A
INICIAÇÃO CIENTÍFICA
NA COMUNIDADE ESCOLAR

Quando falamos em Iniciação Científica, tendemos a imaginar


um estudante de jaleco branco em uma bancada usando
elaborados equipamentos científicos. No entanto, essa é uma
imagem idealizada e que muitas vezes nos distancia ainda mais
das atividades científicas e acabamos por deixar esses assuntos
para especialistas. Por outro lado, durante as aulas de ciências
da natureza, muitos jovens no ensino básico tendem a repetir a
pergunta “onde vou usar isso na minha vida?”.

Vivemos numa sociedade cada vez mais dependente de ciência e


da tecnologia e é fundamental desenvolvermos habilidades que
nos possibilitem utilizar minimamente os conceitos do campo
da ciência para não ficarmos perdidos em meio às informações
complexas do progresso científico e tecnológico. Diminuir o
distanciamento entre as pessoas e a ciência é necessário para
construirmos uma sociedade em que seus cidadãos possam
compreender minimamente os processos de produção de
conhecimento e estejam conscientes a como novas tecnologias
são geradas, entendendo seus impactos na sociedade e na
natureza. Mas como diminuir esse distanciamento considerando
nossas dificuldades sociais e econômicas?

25
Saindo do convencional!!!

Propostas como STEM - sigla em inglês para Ciência,


Tecnologia, Engenharia e Matemática; STEAM – que incorporou
as artes ao acrônimo; Ciência, Tecnologia, Sociedade, Ambiente
(CTSA); e a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP), como
mencionado anteriormente, são algumas dessas tendências
educacionais. No entanto, cada uma delas tem suas
peculiaridades e, na maioria das vezes, pode ser necessária uma
abordagem personalizada para cada contexto escolar. O mais
importante é deixarmos claro que quando abordamos a ciência,
em qualquer contexto que seja, não estamos tratando de um
amontoado de fatos científicos divididos, guardados em gavetas,
que precisam ser memorizados para uma prova. Por isso,
devemos proporcionar aos estudantes a exploração de diversas
situações, a identificação de problemas, formulação de hipóteses
e a extração de dados, além de permitir que eles se expressem
por meio das inúmeras formas disponíveis nos tempos atuais.

26
INICIAÇÃO CIENTÍFICA NA PRÁTICA

Além da motivação para atividades científicas, o segundo


ponto de destaque é a idealização do cientista totalmente
paramentado e com equipamentos de última geração. Na
escola, podemos usar fita métrica, termômetros caseiros,
balanças de cozinha ou até sucatas velhas para
desenvolver atividades científicas completas e de boa
qualidade.

O microscópio de sucata

Para ilustrar, apresentaremos aqui uma atividade


realizada no CEEP Prof. Lourdinha Guerra em
Parnamirim, no Rio Grande do Norte. Em 2018, durante
um componente eletivo chamado Sucata Científica, foi
realizada uma atividade de construção de microscópios
com sucatas. A atividade era realizada em grupos e usava
leitores de DVD quebrados, pequenas caixas de madeira,
tampas de garrafa PET, alguns parafusos e muita
criatividade para transformar câmeras de telefones
celulares em verdadeiros microscópios. Ao final das
primeiras aulas de construção, cada grupo de 6
estudantes tinha um equipamento investigativo portátil e
podiam utilizar nas aulas da escola e levar para casa
quando terminavam as atividades escolares.

27
O mundo microscópico aos alcance dos
nossos olhos

Atividades investigativas podem ser conduzidas como


utilizar o equipamento criado para comparar os sistemas
de cores de telas eletrônicas, o RGB (sistema de cores
aditivas que utiliza o Vermelho, o Verde e o Azul), com
os sistemas de impressão com pigmentos CMYK
(sistema de cores subtrativas formado por Ciano,
Magenta, Amarelo e Preto); atividades que buscam a
visualização de estruturas microscópicas vegetais, como
as células de uma cebola; além de uma série de atividades
exploratórias para encontrar microrganismos em
diferentes substratos, além da produção de meios de
cultura para a proliferação e estudo de espécies de
protozoários e metazoários.

Passo a passo para construção do microscópio de sucata.

28
Ao final do projeto, cada grupo de estudantes poderá criar seu
próprio portfólio do mundo microscópico. O registro das
imagens é extremamente fácil, pois o microscópio é feito
utilizando as câmeras dos telefones, podendo registrar fotos e
vídeos. Alguns exemplos das imagens registradas estão
apresentados na figura abaixo.

Exemplos de imagens obtidas com microscópio de sucata. A – Células da


planta aquática elódea (Elodea canadenses); B – Protozoários sésseis,
encontrados ficados às folhas da elódea; C - Potozoário de vida livre,
encontrado em água de aquário; D – Exoesqueleto de microcrustáceo
encontrado em água de aquário; E – Células sanguíneas humanas; F –
Neurônios do cérebro de um rato. Percebam que de A a D, o material foi
coletado e visualizado sem muito preparo, porém E e F foram imagens
obtidas a partir de lâminas histológicas preparadas em laboratório, com
devida coloração artificial.

29
O envolvimento da família

Um dos pontos importantes desse projeto é a interação


com as famílias. Uma vez que os estudantes levam seus
microscópios para casa, as famílias foram integradas
aos projetos, muitas vezes sendo público de
demonstrações feitas pelos estudantes, ou até mesmo
participando ativamente das investigações em casa. A
aproximação da família nas atividades proporcionadas
pela escola é uma grande ajuda no processo educativo
de maneira geral, uma vez que a educação não é um
procedimento limitado à escola, mas sim
responsabilidade de toda a comunidade.

Atividades como essa fortalecem o protagonismo científico dos


estudantes, permitindo que eles transitem pelas suas próprias
curiosidades e dúvidas. Outras tantas possibilidades existem, como
atividades de fisiologia animal com termômetros caseiros,
investigação sobre metabolismo vegetal com fitas métricas,
construção de terrários, aquários, entre muitas outras maneiras de
iniciar em ciência com poucos recursos financeiros e muita
criatividade.

30
A transdisciplinaridade e a IC nas comunidades
escolares

A transdisciplinaridade trabalha a plenitude do conhecimento,


permitindo que o aluno compreenda sua realidade de forma
holística, dando sentido à sua realidade de modo a perpassar as
diferentes disciplinas.

Considerando a transdisciplinaridade como uma metodologia que


vai além da colaboração entre disciplinas em um determinado
programa de ensino, de que forma professores podem romper os
limites da disciplina e trabalhar o conhecimento científico de
forma integrada?

A princípio, os professores precisam estar cientes de que cada vez


mais habilidades sofisticadas são exigidas no mercado de
trabalho, e que profissionais considerados eficientes devem
possuir, além de diferentes competências técnicas e habilidades
subjetivas, conhecimentos sobre áreas adjacentes a sua profissão.

Professores que têm baixa habilidade como usuário de


tecnologias, por exemplo, têm se deparado com crescente
dificuldade em transformar sua prática de ensino e se adequar aos
desafios dos novos paradigmas da educação.

31
Uma possível estratégia que o professor poderia adotar em uma
perspectiva transdisciplinar através da iniciação científica seria a
abordagem dos objetivos de desenvolvimento sustentáveis
(ODS) da Organização das Nações Unidas. Os 17 objetivos da
ONU e suas 169 metas fazem parte da agenda 2030 e foram
estabelecidas em 2015 visando estimular a proposição de
soluções para questões que abrangem o desenvolvimento social,
econômico e cuidados com meio ambiente.

Nessa perspectiva, os ODS são interessantes objetos de estudos


que além de possibilitarem a integração de conhecimentos,
permite aplicar o modelo pedagógico da aprendizagem baseada
em projetos e problemas (ABP), comentado no tópico anterior
(Metodologias Ativas e a IC).

Os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU. Ao clicar na imagem


você será redirecionado para a página oficial que explica cada um dos objetivos.
Fonte: Nações Unidas Brasil.

32
A abordagem dos ODS como objeto de estudo tem sido aplicada
em escolas do mundo inteiro. Ao utilizar os ODS como
norteador, essas metodologias são capazes de despertar e
desenvolver competências e habilidades nos alunos para a
resolução de problemas do mundo real em escalas locais e
globais.

A exposição de “problemáticas abertas” estimula os alunos a


identificar o problema de forma clara e autônoma e possibilita
desenvolver seu raciocínio crítico na determinação de hipóteses
e parâmetros para sua resolução, considerando múltiplas
possibilidades de caminhos.

“Problemáticas fechadas” e enviesadas, ou seja, que direcionam


os alunos a únicas possibilidades de resolução podem ser menos
motivadoras, pois limitam a criatividade e as habilidades
individuais dos alunos, assim como a troca de experiências e o
efetivo aprendizado.

33
É de fundamental necessidade que o aluno amplie sua
percepção de pertencimento ao mundo que o cerca e se
enxergue como parte importante (e não apenas
expectador) dos fenômenos científicos que ocorrem
corriqueiramente onde ele está inserido.

Para isso, o professor precisa dar espaço para as ideias dos


seus estudantes e se portar como um tutor, ligando os
estudantes às informações relevantes para os projetos,
facilitando o processo de desenvolvimento, levando à
reflexão e facilitando as ações dos estudantes rumo a suas
metas.

Nesse sentido, o professor-mediador do processo de


ensino -aprendizagem deve permitir que o aluno
identifique problemáticas significativas de forma autônoma
e que ele proponha possíveis soluções. Novamente, o
professor nesse contexto deve ensinar as mais diversas
formas de aprender.

34
CONCLUSÕES

Considerando a exploração e o pesquisas e coleta de informações


desenvolvimento de múltiplas a serem utilizadas no processo de
habilidades e competências dos tomada de decisões que possam
alunos, a ABP através da IC contribuir para a solução do
pressupõe a integração de problema. Uma vez encerrado o
múltiplos conhecimentos ou processo de pesquisa, os alunos
disciplinas. A aplicação de debatem e analisam os caminhos
múltiplas perspectivas de que eles seguiram para chegar a
conhecimento na solução de uma conclusão, buscando validar
problemas possibilita uma melhor suas hipóteses iniciais e
c o m p r e e n s ã o d o s d e s a fi o s consolidar o que foi aprendido.
apresentados aos alunos. O Ao final desse processo, alguns
estudante, por exemplo, ao resultados positivos poderão ser
depreender sua responsabilidade observados, como agregação de
sobre a solução de uma novos conhecimentos, reforço da
problemática, poderá se sentir prática autorreflexiva no processo
mais motivado enquanto de aprendizagem autodirigida,
articulador de uma proposta desenvolvimento de diversas
desafiadora para o grupo do qual habilidades socioemocionais,
faz parte. Uma vez consciente de como a colaboração, além do
sua responsabilidade, o estudante pensamento crítico-científico e o
assume a postura de aprendiz aperfeiçoamento de habilidades
auto-orientado na realização de de processamento metacognitivo.
35
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
➤ BENDER, William N. Aprendizagem Baseada em Projetos:
educação diferenciada para o século XXI. Porto Alegre: Penso,
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