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OS FILÓSOFOS EGÍPCIOS:

Vozes Antigas Africanas para Estes Tempos


de Imhotep a Akhenaten

Autor
MOLEFI KETE ASANTE

Tradução [em andamento...]


ABIBIMAN SHAKA TOURÉ
CONTEÚDO

CAPÍTULOS

Cronologia dos Filósofos do Antigo Egito

Cronologia dos Filósofos do Mundo Antigo

PREFÁCIO

I. A MENTE AFRICANA

II. OS QUATRO ELEMENTOS CELESTIAIS


O INÍCIO DAS COISAS

III. IMHOTEP: A EMERGÊNCIA DA CIÊNCIA E DA RAZÃO

IV. PTAHHOTEP E A ORDEM MORAL

V. KAGEMNI:
RELACIONAMENTO E SER

VI. O SEBOYET DE DUAUF


SOBRE AMAR OS LIVROS E EDUCAÇÃO

VII. AMENHOTEP, O FILHO DE HAPU


RECOMPENSAS DA VIDA CONTEMPLATIVA

VIII. AMENEMOPE:
USANDO O TEMPO SABIAMENTE
IX. AMENMAHAT:
ESCOLHENDO AMIGOS SABIAMENTE

X. ENSINAMENTOS DE MERIKARE

XI. SEHOTEPIBRE:
UMA LIÇÃO DE LEALDADE

XII. KHUNANUP:
O CONFLITO SOCIO-ECONÔMICO

XIII. AKHENATEN:
O DIVINO ESTÁ EM TODA PARTE E EM TUDO

XIV. FAZENDO E ESCREVENDO A VERDADE:


A PALAVRA VIVA DE MAAT

BIBLIOGRAFIA

GLOSSÁRIO

ÍNDICE
Cronologia dos Filósofos do Antigo Egito

Imhotep 2700 aC
Personalidade mais antiga registrada na história que tratou de questões de
espaço, tempo, volume, natureza da doença, cuidado dos doentes e
mortalidade e imortalidade humanas.

Ptahhotep 2414 aC
Filósofo antigo Africano que produziu o primeiro ensinamento ético sobre a
vida dos idosos. Ptahhotep era um sacerdote culto de imensa influência e
poder e suas instruções ou filosofia reverberaram através dos tempos.

Kagemni 2300 aC
Considerado por alguns como o primeiro pacifista, Kagemni procurou
assegurar que os seres humanos realizassem ações corretas porque estavam
certos, e não porque buscavam vantagem pessoal. Ele viu o bom serviço como
o objeto de agradar a Deus e acreditava que é preciso ter compaixão a respeito
de todas as criaturas vivas.

Merikare 1990 aC?


Ele é chamado de filósofo da comunicação porque escreveu sobre o valor de
falar bem e a necessidade do senso comum nas relações humanas. Suas
instruções ou filosofia foram registradas e transmitidas de geração em
geração.

Duauf
A filosofia de Duauf preocupa-se essencialmente com os protocolos de viver
em sociedade. Ele pode ser chamado o primeiro intelectual na história
filosófica no sentido em que ele exorta os jovens a ler livros. Este é um
notável testemunho da antiga ênfase Africana na aprendizagem.

Amenemope 980 aC
Sua filosofia é apresentada como uma série de provérbios ou analetos que
captam o conhecimento e a sabedoria de seus dias. Amenomope é um filósofo
de boas maneiras, etiqueta e sucesso na vida.

Sohotepibre 1991 aC
Ele foi um dos primeiros filósofos aparentemente nacionalista. Sehotepibre
incentiva a lealdade, e lealdade para com o rei, usando-se como exemplo de
alguém que alcançou grandes alturas seguindo seu próprio conselho.
Amenemhat 1991 aC
Ele foi o primeiro filósofo Kemético que expressou uma visão cínica de
pessoas íntimas e amigas, alertando que um líder deve ter cuidado com as
pessoas mais próximas a ele.

Amenhotep, filho de Hapu


Ao lado de Imhotep, Amenhotep, filho de Hapu, era o mais venerado dos
antigos filósofos keméticos. No entanto, como Jesus de Nazaré, ele não
escreveu nada que tenha permanecido. Por causa de sua diligência em
ensinar Maat, no entanto, ele se tornou porém o segundo filósofo, depois de
Imhotep, a ser deificado.

Khun-Anup 2040-1650 aC
Esta é mais uma história de um homem ordinário que é confrontado pelo
dilema do que fazer quando um homem rico rouba seus bens. No caso de
Khun-Anup, ele desafia o homem rico perante os magistrados e depois de um
período considerável, ele é capaz de ganhar seu caso.

Akhenaton 1300 aC
Ele foi chamado o Pai do Monoteísmo por causa de sua insistência de que
Aton era o único Deus. Como herdeiro de Amen como a Deidade Suprema, a
escolha de Akhenaton do pequeno sacerdócio de Aton como a divindade
nacional criou uma crise nacional em Kemet.
Cronologia dos Filósofos do Mundo Antigo

Thales 600 aC
Filósofo grego chamado Pai da Filosofia Ocidental. Thales estudou na África
e aprendeu com os sacerdotes no Egito.

Confúcio (Kung Fu Tzu) 551-479 aC


Ele foi responsável por moldar a civilização chinesa em geral e exercer uma
grande influência no desenvolvimento filosófico do conceito de humanismo.
Ele transformou-o na força motriz da filosofia chinesa. Ele acreditava que o
homem poderia fazer o caminho, Tao, grande – e não que o caminho poderia
tornar o homem grande. Uma boa sociedade era baseada em relacionamentos
bons e harmoniosos. Para este fim, ele defendeu um sistema de regras por
virtude e exemplo moral. Nobreza era uma questão de caráter, e não de
sangue.

Isócrates 550 aC
Fundador da escola jônica depois de estudar em Kemet.

Sócrates 480 aC
Filósofo grego que é creditado com o início de sua própria escola filosófica.
Platão, seu maior aluno, registrou sua sabedoria em uma série de diálogos.

Buda (Sidarta)
Príncipe real que se tornou um monge para se livrar dos desejos da terra.

Mo Tzu 479-438 aC
Seu sistema ético baseou-se na retidão que ele atribuiu à vontade do céu e
para ele a vontade do céu determina tudo. Ele condenou veementemente as
cerimônias musicais, funerais e a crença no destino, ou seja, o destino que foi
promovido pela escola de Confúcio. A vida moral é impossível por causa dos
benefícios que ela traz. Os pais e filhos de outras pessoas devem ser tratados
como se fossem seus. Essa foi a doutrina da distinção moral.

Tzu 298-238 aC
Ele ensinou a doutrina da natureza maligna natural do homem e a
necessidade de seu controle através da lei e regras de confiabilidade. Ele
acreditava na bondade do homen, mas apenas como resultado de sua
atividade. Em sua advogação do controle, construiu-se para o autoriaritismo
que resultou na ditadura de 221-206 aC.
Mêncio 371-289 aC
Ele estudou com o neto de Confúcio, Tzu-su. Seus ensinamentos foram
derivados de Confúcio. Mas em natureza humana – declarou que a natureza
humana é orignariamente boa. Ele construiu sua filosofia sobre esse princípio
e foi o primeiro a fazê-lo. O amor é uma qualidade moral inata porque o
homem é bom. Mêncio insistiu que a prática do amor deve começar com a
família e se opõe à ideia do amor universal. Mêncio disse que as pessoas
tinham o direito de se revoltar – uma forte crença na democracia política.

Platão 430 aC
Famoso estudante de Sócrates, que é muitas vezes chamado o maior filósofo
grego.

Aristóteles 390 aC
Estudante de Platão, responsável por escrever muitos livros sobre retórica,
ética e política.
Prefácio

Eu escrevi este livro para os milhões de pessoas que estão interessadas


em descobrir o conhecimento dos caminhos antigos. No entanto, não é
necessário ter conhecimento da língua Egípcia para ler este livro e beneficiar-se
da extensa sabedoria de um povo antigo, cuja civilização durou mais que
qualquer outra. Destina-se ao pesquisador com a intenção de descobrir as
primeiras reflexões da humanidade. Assim sendo, este livro não foi escrito para
o intelectual, embora se espere que todos o considerem recompensador. Escrito
para o público popular, é essencialmente sobre os fundamentos do pensamento
Africano e, portanto, do pensamento mundial.
Este é um livro sobre como os antigos Egípcios na África tentaram
ordenar suas vidas, se curar, e viver com seus companheiros humanos em uma
sociedade integrada de louvor e honra à Deidade Suprema. Este não é um livro
sobre as condições materiais do Antigo Egito. Como há uma preponderância de
obras que lidam com a natureza dos achados arqueológicos, a proveniência de
pirâmides e templos, a natureza dos tesouros de Tutancâmon e coisas
semelhantes, tentei deliberadamente me concentrar nos dons éticos e
intelectuais dos antigos. Nesta linha de trabalho, estou seguindo o caminho
traçado pelo eminente erudito da filosofia antigo-Egípcia, Maulana Karenga,
que escreveu um importante trabalho sobre a ética Maátiana.
A antiguidade da filosofia Africana é única e permanece na sua
dimensão fundamental porque a sua antiguidade está muito além da de outras
filosofias. Enquanto civilizações como a Suméria e a Minóica produziam
cerâmica, vasos e afrescos durante o período das primeiras dinastias Egípcias,
apenas o Egito produziu um corpo de trabalho consistente o suficiente nos
aspectos éticos, espirituais e morais a ser chamado de filosofia. Seria muito mais
tarde – quase dois mil anos, antes que os Gregos influenciados pelos Egípcios
desenvolvessem sua própria filosofia.
Eu achei bastante notável descobrir nas filosofias antigo-Egípcias as
concepções Africanas das origens dos pensamentos e idéias. Como essas formas
antigas impactam nossa própria vida contemporânea mostra a importância dos
princípios humanos fundamentais. Um grande número de livros foram
publicados nos últimos anos sobre o assunto da Mente Africana com a intenção
de demonstrar as áreas onde a Mente Africana pode ser delineada a partir da
Mente Européia. The Mind of Africa [A Mente da África], de Willie Abraham,
continua sendo o padrão pelo qual todos os outros são julgados. Foi a intenção
de Abraham demonstrar a complexidade das idéias Africanas e mostrar que
elas não eram simplesmente a imitação de idéias européias. Ele argumentou
com sucesso quanto a maneira única como os Africanos responderam ao
universo. Outros livros assumiram esta idéia, e avançaram a compreensão das
bases éticas e sociais do Povo Africano.
Esses livros foram úteis. Infelizmente, muitas vezes não foram à antiga
fonte dos modos de pensar Africanos, às proposições meta-teóricas e às
respostas filosófico-mitológicas e mitopoéticas que os Africanos deram ao
ambiente, visto e não visto, aos seres humanos, vivos e mortos. Meu objetivo,
portanto, é apresentar ao leitor as primeiras respostas às principais questões da
experiência do mundo: nascimento, vida, morte, o bom, o justo e o belo.
A maior parte do que aparece neste livro eu apresentei em palestras
públicas, seminários e aparições especiais, notadamente em palestras na
Marquette University, na University of Iowa, e nas palestras de Annenberg na
Howard University. No entanto, este é um novo empreendimento destinado a
elucidar e avançar nossa compreensão em um nível elementar sobre o
pensamento dos antigos Egípcios, examinando os textos que lançaram as bases
de grande parte do que hoje é chamado tradicional na África e moderno tanto
na África como no Ocidente.
Nós só temos que olhar para o ambiente físico e material em que
vivemos para ver quão grandemente fomos influenciados por esses primeiros
Africanos. Em toda parte, as evidências da forma piramidal ou da forma tekenu
– como nos obeliscos ou nas fachadas dos edifícios – falam de algo muito antigo
e profundamente Africano. Entretanto, meu propósito não é provar nenhum
ponto, exceto apresentar ao leitor as maravilhosas alegrias de conhecer filósofos
antigo-Egípcios, de modo que seus nomes se tornarão tão familiares para você
quanto os nomes de Sócrates, Platão, Confúcio, Aristóteles e Mêncio...
Qualquer discussão sobre a filosofia Egípcia deve começar com uma
descrição adequada da posição social, geográfica e política do Egito dentro do
contexto da África. O Egito está na África e sua história e cultura durante o
período de suas maiores conquistas estavam intimamente ligadas ao restante do
continente. Não é verdade, como os eurocentristas continuam argumentando,
que o Egito estava simplesmente localizado na África, mas era realmente parte
da realidade social do Oriente Próximo. Na verdade, alguns dos autores, como
Charles F. Aling no Egypt and Bible History [História do Egito e da Bíblia]
(1992) argumentam que o Egito é um lugar diferente de outras partes da África.
Este, é claro, é um ponto de vista anti-Africano da história e cultura Egípcia.
Ao colocar o Egito no Oriente Próximo, os eurocentristas tentam isolar a
antiga civilização do resto da África. Eles argumentam que as cataratas – como
escreveriam, “cataratas intransponíveis” – impediram os Egípcios de interagir
com o resto da África. Além disso, o Deserto do Saara era tão difícil de cruzar
que quase nenhum Africano o atravessou e a maior parte do contato,
argumentam, entre o Egito e outras Nações, foi com o Oriente Próximo e não
com outras partes da África. Esta é uma posição patentemente falsa que não
tem base em fatos; é simplesmente a imaginação do erudito eurocêntrico que
cria um sentido tão equivocado da realidade Africana do Egito.
As cataratas no rio Nilo foram as primeiras áreas de tráfego na história
registrada. Como outras pessoas em outros lugares, quando os Antigos
Africanos chegaram às cataratas, eles simplesmente saíram de seus barcos e os
carregaram em volta das rochas. Quer os Africanos estivessem vindo do sul ou
do norte, podiam carregar seus barcos e equipamentos. Assim, as cataratas não
eram barreiras para os Antigos. Além disso, o Saara sempre foi uma vasta área
de interação social e econômica. Estas não podem ser vistas como barreiras; na
verdade, elas eram a verdadeira razão pela qual as pessoas podiam se unir. O
Egito foi o lugar para muitas culturas Africanas, onde se juntam como uma só –
uma fusão do melhor que a África poderia oferecer naquele momento.
Havia vários centros de aprendizado e conhecimento no Antigo Egito.
Entre os lugares mais seletos de filosofia e comentários sobre ética social e
metafísica estavam o Templo de Bast em Bubástis, o Templo de Ptah em Mênfis,
o Complexo Sakara, o Labirinto em Faium, o Templo de Het Heru em Dendera,
o Osirieon em Abidos, o Ramesseum, o Templo de Amen em Karnak, o Templo
de Heru em Edfu, o Templo de Khnum em Assuão, o Oráculo de Amen no
Oásis de Siwa e o Templo de Auset em Philae. Os Antigos Africanos do Vale do
Nilo acreditavam que o conhecimento era o caminho para a vida e o caminho
para a vida levava diretamente ao divino. O conhecimento interior veio da
busca pelo divino e a sabedoria foi o resultado do conhecimento interior.
Um relato do pensamento humano mais antigo sobre a natureza do
universo, as relações humanas, o bem e o mal, o belo, a ordem e a harmonia, o
comportamento ético, a fonte das coisas – em efeito, filosofia – nos leva tão
perto quanto podemos chegar às nossas origens intelectuais. Aqui, não estou
interessado no impacto que a África teve na Europa, ou do Antigo Egito sobre a
Grécia, mas sim na descrição e explicação da visão Africana da realidade
apresentada nos escritos dos primeiros pensadores. Esta orientação é necessária
para arrancar o estudo do Antigo Egito das garras daqueles que o vêem apenas
em relação à Grécia.
O Egito é muito mais antigo como uma civilização de pensadores do que
a Grécia. Antecede a Grécia não apenas em termos políticos, mas é milhares de
anos anterior em termos do desenvolvimento da ciência, método, teoria e
filosofia. Somente quando isso é claramente visto e compreendido, podemos
entender que a África é a mãe de toda a filosofia – e que os antigos pensadores
do Vale do Nilo têm contribuído ao mundo com um corpo cheio de trabalhos
intelectuais e criativos – muito antes de Tales, Anaximandro e Anaximenes de
Mileto, e Heráclito de Éfeso, ou Isócrates, o Jônico, que veio a estudar com eles
no 6º século aC.
Quando os Gregos encontraram o Egito, a sede da sabedoria e do
conhecimento antigos, os antigos filósofos Egípcios já refletiam sobre a natureza
das relações humanas e o significado da vida por vários milhares de anos. De
fato, há alguma indicação de que eles haviam comunicado seu pensamento,
certamente em termos reais, a Creta antes da explosão de Santorini. Os Gregos
eram meras crianças em termos dos anos que gastaram em reflexão. No entanto,
é importante apontar exatamente o que os primeiros Gregos acrescentaram à
educação que receberam dos Antigos Africanos no Egito.
As obras desses primeiros pensadores Africanos foram referidas pelo
termo Egípcio seboyet, uma palavra normalmente traduzida como “instrução”
ou “sabedoria”, e indicava um modo de pensamento discursivo que teve sua
origem no Reino Antigo. Os Gregos, por outro lado, séculos depois, escreveram
sobre esses primeiros pensadores africanos como physiologoi, um nome que eles
também usavam para se referir aos jônios na Grécia, que eram considerados
observadores da natureza. Porém o seboyet está mais facilmente relacionado
com a palavra Grega sophia, sabedoria. Talvez seja por isso que muitos
egiptólogos europeus ainda se referem ao seboyet como Literatura da Sabedoria.
Na medida em que os Gregos chamavam seus fisiológicos jônicos
‘observadores da natureza’ – eles demonstraram uma apreciação do sistema de
observações naturais que levaram ao desenvolvimento de ciências e tecnologias
na África Antiga. De fato, o sistema de observação que levou à astronomia, ao
calendário, à medição e à medicina originou-se entre os Egípcios.
Tales, o primeiro dos filósofos Milesianos, foi para o Egito no curso do
comércio, mas permaneceu no Egito por tanto tempo que ele trouxe de volta a
Mileto um conhecimento de geometria, matemática e filosofia. Ele aprendeu
com os Egípcios o método básico para medir a terra e o método de triangulação
que o ajudaram a criar um método para determinar a distância que um navio
percorria no mar. Sua reputação, depois de estudar no Egito, era que ele era um
bom filósofo e uma pessoa igualmente astuta, ganhando uma fortuna em azeite
de oliva.
Quase todos os Classicistas Ocidentais consideram a civilização Grega
como antecessora da cultura Ocidental. Pode-se, no entanto, argumentar que
isso é mais apropriação do que fato, mas esse não é meu propósito. Gostaria de
dizer que, embora os europeus Ocidentais reivindiquem a Grécia antiga, ela
continua sendo uma sociedade notavelmente diferente da maioria da Europa
quando você a estuda. Quase se pode afirmar que está mais próximo das
sociedades Africanas do que das europeias. Mas como eu disse, esse não é meu
propósito. Só levanto isso para dizer que, ao estudarmos os filósofos Egípcios,
devemos lembrar que os Afrocentristas fazem a afirmação de Cheikh Anta Diop
de que o Antigo Egito é para a África o que a Grécia é para a Europa. No
entanto, sabemos que, como todas as outras culturas têm sua individualidade, o
Antigo Egito tinha uma cultura que não era a mesma que a Núbia, Shilluk,
Shona ou Akan, e assim por diante. O Egito existia dentro do contexto de seu
próprio mundo político, geográfico e mitológico. Na medida em que existem
semelhanças com aquelas sociedades contíguas ao Egito ou com o grau de
aparente influência em outras partes da África – produzidas por devotos dos
sacerdotes, conquistas, migrações ou respostas semelhantes ao meio ambiente –
estamos ressaltando a imensidão da dívida que é devida aos filósofos Egípcios.
Em 1995, convenci o estudioso africano Théophile Obenga, do Congo-
Brazzaville, a se juntar a mim na Temple University e a ensinar a língua e a
cultura antigo-Egípcias. Eu havia estudado a língua por vários anos e tinha
seguido o curso da Universidade de Chicago – além do meu próprio trabalho
com culturas cognatas no Vale do Nilo. Quando o professor Obenga teve que
voltar para casa a convite do Presidente Lissouba, do Congo, comecei a ensinar
Egípcio Médio. Posso dizer com segurança que é quase impossível discutir, com
qualquer esclarecimento, os filósofos Egípcios sem algum conhecimento da
linguagem clássica. Não é necessário que cada leitor se torne um especialista,
mas é importante ver a conexão entre pensamento e cultura, entre linguagem e
ação, e a interação entre idéias e motivos, e assim por diante. Na verdade,
encorajo o ensino desta língua Africana clássica a todas as crianças Africanas do
continente e da diáspora, o mais cedo possível.
Um dos principais estudiosos Afrocêntricos em estudos Egípcios antigos
é Maulana Karenga, que produziu a discussão mais detalhada da ética
Kemética até hoje. Seguindo seu trabalho anterior na tradução dos principais
documentos para o inglês a partir do Mdw Ntr, Karenga introduziu a idéia de
uma palavra viva, uma filosofia vital dos antigos Egípcios de tal forma que não
foi alcançada por ninguém mais. Sua concentração na tradição da justiça social
dos Antigos Africanos é seu dom intelectual para entender a cultura do Antigo
Egito. O trabalho inicial, Selections from the Husia: Sacred Wisdom of Ancient
Egypt [Seleções para o Husia (?): Sabedoria Sacrada do Egito Antigo], foi um
presente para leitores e estudiosos que esperavam por uma tradução mais
legível de alguns dos textos importantes. Usando o Reino Antigo e o Período
Final como seus principais pontos cronológicos, Karenga nos provê com as
palavras de Khun-Anup, Ptahhotep, Khety e Kagemni. Estamos, ao mesmo
tempo, na presença dos maiores filósofos da antiguidade primitiva.
No entanto, por todo o valor das Selections from the Husia, é o Maat, The
Moral Idea in Ancient Egypt: A Study in Classical African Ethics [Maat, A
Ideia Moral no Antigo Egito: Um Estudo Ético na África Clássica], de Karenga –
que é seu trabalho de assinatura na Tradição Antiga. Todas as futuras
discussões sobre a ética Africana serão vistas à luz das mudanças de Karenga
sobre a discussão do Antigo Egito, de monumentos de pedra a idéias
intelectuais. Analisando o Maat como uma ideia moral desde o seu início,
Karenga mostra como isso impactou tudo na vida do Egípcio. É claro, O Sebait,
O Livro de Khun-Anup, As Declarações de Inocência e a Declaração de Virtude,
entre outros, são os principais livros discutidos em conexão com a idéia de
Maat.
Embora não seja intenção deste volume discutir a emergência da filosofia
Egípcia na era-comum, deve-se notar que a chamada Sabedoria Hermética –
atribuída a uma série de escritos conhecidos como Corpus Hermeticum – teve um
impacto significativo no Renascimento Europeu. Dizem que esses escritos
foram colecionados e coletados de vários autores Africanos, mas geralmente
apresentados como o trabalho da figura mítica Hermes Trismegistus, uma fusão
das culturas Egípcia e Grega.
Apresentarei algumas discussões sobre os conceitos fundamentais de
acordo com minha orientação para os filósofos. No entanto, a maior parte do
trabalho deste livro será dedicado aos filósofos que viveram bem antes do
tempo geralmente dado para o Corpus Hermeticum.

Uma palavra de cautela

Uma vez que muitos dos nomes dos textos foram confundidos por
escritores e acadêmicos anteriores, eu contarei com os textos, quando possível,
como o árbitro final dos nomes dos documentos. Isso é necessário para os textos
atuais, não por textos que não são existentes. Por exemplo, o texto às vezes
chamado de Instruções de Khety foram chamados de Instruções de Duauf e as
Instruções de Duauf, o Filho de Khety. Isso pode significar que as instruções são
compostas por Khety e destinadas a Duauf ou que as instruções são escritas por
Duauf, que é filho de Khety. O texto diz simplesmente: “Instrução que um
homem chamado Duauf, o filho de Khety, compôs para seu filho, chamado
Pepi”. Embora Khety seja citado ao lado de Ptahhotep como um grande escriba,
é Duauf quem deve ser creditado com a composição.
O leitor encontrará um glossário no final do livro que ajudará com os
nomes, eventos e conceitos discutidos no livro. Destinado como uma ajuda para
aqueles novos para a literatura Egípcia, este glossário de termos não é exaustivo
– mas, tomado ao lado da bibliografia, proporcionará aos leitores uma excelente
oportunidade para compreender os principais elementos da filosofia antigo-
Egípcia.

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